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SEMINÁRIO SOBRE SERVIÇOS EDUCATIVOS NOS MUSEUS

(Museu Carlos Machado, 17-20/3/2003)

I N T E R C ÂM B I O
P R O F I SS I O N A L D O S
MUSEUS DOS
AÇORES
C OM A A SS O C I A Ç Ã O
DE M U S E ÓLO G O S DA
C ATA LU N H A
(1–13/VI/2002)

Aspectos de
inovação
observados a
nível dos
serviços
educativos

Maria Cristina Gonçalves

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Introdução

Em Janeiro de 2002, a DRaC promoveu a candidatura do projecto de


intercâmbio profissional com a Associação de Museólogos da Catalunha
intitulado “Museus, Região e Identidade” junto da Agência Nacional para os
Programas Comunitários SÓCRATES e LEONARDO DA VINCI, a qual foi aprovada em
Abril com uma subvenção destinada à viagem aérea Lisboa – Barcelona e estada
dos dez participantes. Todas as despesas da viagem não contempladas no apoio
financeiro concedido foram assumidas pelos mesmos.
De acordo com a duração e as datas definidas na candidatura, os
intercâmbios decorreram no período compreendido entre os dias 1 e 13 de
Junho de 2002, inclusive, abrangendo o projecto a duração de seis meses
(entrega de trabalhos e relatórios de execução material e financeira).
Participaram nos intercâmbios, na qualidade de beneficiários do projecto,
responsáveis e técnicos superiores dos seguintes organismos: DRaC; Museu de
Angra do Heroísmo; Museu Carlos Machado; Museu das Flores; Museu da
Graciosa; Museu da Horta; Museu do Pico; e Museu de S. Jorge.
As actividades realizadas consistiram essencialmente em visitas a
diversos museus de Barcelona e da Região Autónoma da Catalunha, na
apresentação de palestras pelos participantes açorianos sobre o
património/museus regionais, e nos encontros entre profissionais de
Museologia.

I - Realidade museológica catalã

O sistema administrativo da Catalunha compreende as seguintes


instâncias:
 Administração estatal espanhola (Justiça, Defesa, etc.);
 Administração central – “Generalitat”;
 Administração provincial – “Diputaciós”;
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 Administração local – “Ajuntaments”.


Os museus dependem destas diferentes tutelas e de entidades privadas,
sendo frequentemente geridos em regime de consórcio entre várias entidades.
No dia 10 de Junho mantivemos uma reunião no Serviço de Museus da
Direcção Geral do Património Cultural – Departamento de Cultura da
Generalitat (Governo da Catalunha), instalado no Palau Moja (La
Rambla/Portaferrissa) –, com a Chefe de Serviço, Fina Parés i Rigau, a Chefe de
Secção de Documentação e Protecção, Rosa Maria Montserrat i Mestre, e Joan
Rosas i Reverte, da área da Gestão.
Primeiramente, a Senhora Fina Parés apresentou-nos a forma como o
Serviço de Museus se encontra organizado - em três secções (Gestão,
Informação, Difusão e Exposições) – e as respectivas competências.
Sob o ponto de vista legislativo, a Lei 17/1990, de 2 de Novembro, de
Museus, constitui um marco de referência, ao estabelecer o regime aplicável a
todos os museus e ao criar o Registo de Museus da Catalunha. De acordo com
este diploma, os museus nacionais, que têm por principal missão patentear uma
visão global da Catalunha nos respectivos âmbitos disciplinares, estendendo o
seu serviço a todo o país, encabeçam a articulação do sistema museológico
catalão. Assim, cada um dos três museus nacionais instituídos – Museu
Nacional de Arte da Catalunha, Museu de Arqueologia da Catalunha e Museu
da Ciência e da Técnica da Catalunha – pode ter diversas secções, com o duplo
objectivo de, por um lado, criar uma configuração descentralizada da sua
estrutura e, por outro, articular diversas redes temáticas afins sob a sua
coordenação. Qualquer tipo de museu poderá ser declarado como “secção de
um museu nacional”, não perdendo por isso a sua autonomia, mas passando a
dispor de uma ligação estreita com o dito museu nacional e de apoio técnico e
financeiro do mesmo. Este modelo tem sido desenvolvido especialmente pelo
Museu Nacional da Ciência e da Técnica. A estrutura organizativa dos museus
da Catalunha integra cinco grandes categorias, definidas a partir da sua
relevância para o património cultural do país:
 Museus nacionais (sob a tutela da Generalitat);
 Museus de interesse nacional (apoio preferencial da Generalitat);
 Museus comarcais e locais (a lei prevê ajudas específicas para estes
museus e para os seguintes, estabelecendo a criação de serviços de apoio,
tais como centros de apoio técnico destinados a contribuir para o
desenvolvimento de cada museu);
 Museus monográficos;
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 e, ainda, outros museus (privados, fundações, etc.).


O diploma contempla igualmente a criação da Junta de Museus da
Catalunha, que tem por objectivos a coordenação superior entre os diversos
museus do país e a fixação das prioridades tornadas necessárias, sendo a sua
comissão executiva formada por técnicos designados pelas referidas
instituições, a fim de garantir a independência e o critério científico da gestão.
O Decreto 35/92, de 10 de Fevereiro, de desenvolvimento parcial da Lei
anterior, regulamenta as condições de protecção dos museus, a difusão, a
documentação dos fundos e o Registo de Museus da Catalunha – hoje em dia,
existe um inventário oficial dos museus catalãos, adstrito ao Departamento de
Cultura da Generalitat).
Teoricamente, a cultura foi totalmente transferida para o governo catalão,
aquando da instauração da autonomia. Após a publicação da Lei 17/1990, a
Generalitat passou a dar o contributo principal aos três museus nacionais e
apoio técnico aos outros museus.
A Catalunha possui uma vasta experiência de trabalho em rede e de
cooperação, independentemente das instâncias administrativas a que os
museus, arquivos ou bibliotecas pertencem. Além da coordenação assegurada
pelo Serviço de Museus, os museus nacionais assumem-se como museus piloto,
dando formação e apoio aos museus mais pequenos da sua área temática.
Quatro dias antes, estivéramos reunidos na Diputació de Barcelona/Àrea
de Cultura/Oficina de Patrimoni Cultural. Daniel Solé procedeu a uma
apresentação subordinada ao tema “Administração e Museus na Catalunha”,
aprofundando a acção da Deputação no âmbito dos museus locais, dos arquivos
e do património cultural.
Com a transferência de poderes resultante da instauração do regime
democrático, as instituições de âmbito nacional (catalão), antes sob a alçada,
passaram para a tutela do Governo da Catalunha. Uma das áreas mais
desenvolvidas actualmente é a dos museus – a Deputação passou do apoio aos
seus próprios museus ao apoio a outros museus (locais).
Há cerca de dez anos, os museus da província de Barcelona começaram a
tratar o património cultural dos respectivos municípios na globalidade,
difundindo-o e promovendo-o. Segundo Daniel Solé, para que funcionem bem,
estes organismos devem ser independentes. O responsável pelo departamento
de cultura da Deputação tem que tornar claro que o trabalho entre as
instituições deve ser conjunto, de acordo com as respectivas capacidades e
valências.
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Objectivos da Oficina de Património Cultural – de todos os objectivos, o


mais importante é a cooperação (e também coordenação). Há que cooperar com
os museus locais e não dar-lhes ordens de cima para baixo. Por vezes, estes dão
ideias. Há que confrontar ideias com os vizinhos e contactar outras plataformas
mais altas para apreender o que se passa no mundo.
Rede de Museus Locais
A Rede de Museus Locais, cujo texto do protocolo de adesão foi
aprovado pela Comissão de Governo da Deputação de Barcelona em Junho de
2001, é a estratégia de colaboração e apoio que a Oficina de Património
Cultural pôs em marcha com o objectivo de oferecer um conjunto de serviços
aos museus locais da província de Barcelona.
Redes de tipo triangular – consistem na assinatura de um convénio entre
cada município e a Deputação e na relação com outros municípios/museus
locais  cooperação.
Pretende-se que este conjunto de serviços possa gerar, em termos de
igualdade e sem subordinação, benefícios mútuos, mediante economias de
escala, e potenciar o livre intercâmbio de recursos técnicos e de públicos,
respeitando o grau de autonomia próprio dos equipamentos culturais.
Os serviços oferecidos aos museus locais abrangem as seguintes áreas:
 Documentação das colecções;
 Conservação e restauro de bens;
 Armazenagem comum de infra-estruturas museológicas;
 Central de empréstimo de equipamento técnico – conservação
preventiva, painéis e expositores
 Central de compras e contratações conjuntas;
 Assessoria e estudos;
 Formação e reciclagem profissional;
 Produção e gestão de exposições itinerantes;
 Difusão e comunicação;
 Comercialização.
No total, até ao início de 2002 tinham assinado o acordo de adesão 29
“ajuntaments”, em representação de 37 museus locais. Pelo património, meios,

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visitantes, público potencial e recursos que gerem, representam, sem dúvida, o


maior museu da Catalunha.
A Rede de Museus Locais pretende ser, em suma, uma central de
assistência técnica útil aos museus locais da província de Barcelona, com o
objectivo de colaborar na consolidação de padrões de qualidade que situem
aqueles equipamentos na frente da oferta cultural.

II - Serviços educativos

Nesta área, gostaria de destacar as seguintes experiências:


 Museu de História da Catalunha - Na recepção efectuada pelo Director, o
historiador Jaume Sobrequés i Callicó, foram apresentados o projecto do
Museu, aberto ao público em 1996 no antigo Depósito Geral de Comércio do
porto de Barcelona (Palau de Mar), e as suas opções estratégicas, tendo em
conta a função que lhe é atribuída pelo Governo da Generalitat, do qual
depende directamente. De acordo com o seu decreto de fundação, configura-
se essencialmente como um espaço de comunicação e de difusão da história
da Catalunha. Nesse sentido, as exposições, de carácter permanente ou
temporário, e, em geral, os programas, serviços e actividades de difusão
ocupam um papel central na actividade da instituição.
No respeitante à política de exposições temporárias, o programa expositivo
do MHC articula-se em torno de quatro ciclos temáticos.
As actividades de extensão cultural estruturam-se em três blocos básicos:
- actividades gerais, relacionadas com a exposição permanente (cursos,
seminários, visitas guiadas publicações, conferências,...);
- actividades relacionadas com as exposições temporárias;
- e as actividades dirigidas a determinados sectores de público
(grupos escolares, grupos de jovens e de terceira idade).
Segundo o Programa de Actividades Educativas referente a 2002-2003, o
MHC permite descobrir o passado de uma maneira interactiva e
emocionante. A exposição permanente mostra a evolução dos modos de
vida que existiram naquele território, desde a Pré-História até à actualidade
mais imediata, através de inúmeras reproduções de objectos, documentos e
reconstruções baseadas na informação histórica, com o suporte de elementos
interactivos manuais, informáticos e audiovisuais. A história torna-se, assim,
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próxima, lúdica e mais compreensível.


As propostas educativas do museu dirigem-se a todos os níveis e grupos
educativos, tanto da educação formal como da não formal. O programa
contempla activitades para a educação infantil, primária e secundária
obrigatória e pós-obrigatória, tentando ajustar os conteúdos e os
procedimentos às características de cada fase educativa e aos objectivos
curriculares dos diferentes ciclos de cada fase. As propostas dirigidas à
educação de adultos e às pessoas com necessidades educativas especiais
estão igualmente orientadas para alcançar a diversidade de necessidades de
ambos os grupos, com activitades criadas expressamente para o efeito e
outras adaptadas às próprias especificidades.
As actividades apresentam-se sob a forma de narração de contos, itinerários
e visitas guiadas, ateliers, jogos de simulação e teatralização ou sessões de
trabalho com “gente grande”, que, com o apoio de materiais didácticos,
articulam a descoberta das diferentes épocas históricas e temáticas das
ciências sociais, sendo concebidas pelo serviço educativo e conduzidas por
educadores especializados do museu. Para a sua realização, além de se
marcar a visita com antecedência, por via telefónica, deve-se fazer o
pagamento da actividade correspondente mediante transferência bancária.
A captação de novos públicos, assim como a fidelização do que já tem, é um
dos objectivos básicos do actual museu. Nesse sentido, o MHC encarregou
uma empresa alheia ao Museu e à administração da qual depende uma
exaustiva e sistemática análise de público a cinco níveis diferentes, sendo o
quinto, respeitante ao não-público dos museus, efectuado conjuntamente
com o Departamento de Cultura da Generalitat, o MNAC, o MAC, o MAG,
o MNACTEC e o MNAT. Contactar com a sensibilidade sempre mutante e
em transformação do público significa, pois, abrir um campo de
experimentação museológica, dentro do qual se encontram em lugar
proeminente a exposição e a difusão, ambas fortemente relacionadas.
Quer na preparação das exposições (museografia, etc.), quer na difusão
(visitas guiadas, ateliers, etc.), o Museu recorre à adjudicação de serviços a
empresas especializadas.

 O Museu (local) Torre Balldovina, situado na cidade de Santa Coloma de


Gramenet, nos arredores de Barcelona, foi criado em 1986 pelo respectivo
Ajuntament. O edifício onde está actualmente instalado integra uma torre de
defesa medieval restaurada, em torno da qual se organizam os diferentes
espaços, nomeadamente a exposição permanente.
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Após a visita à exposição permanente e aos restantes serviços, o director,


Ramon Sagués, apresentou o projecto do museu, que consiste em explicar o
rio, a montanha e a povoação em três momentos históricos fundamentais. A
equipa é reduzida. O serviço de visitas guiadas é assegurado por uma
empresa externa. Em termos de orçamento, a maior dotação vem do
Ajuntament, mas este museu também recebe apoios da Diputació de
Barcelona, estando integrado na Rede de Museus Locais, e da Generalitat,
nomeadamente através da articulação temática e da cooperação técnica
facultada pelo Museu de Arqueologia da Catalunha. Na sua relação com a
cidade, este museu tem sectores específicos de público, aos quais se dirige:
escolas; artistas; entidades cívicas; emigração; etc.
O museu intervém igualmente na gestão do património imóvel da cidade,
dedicando especial atenção à Torre Balldovina e aos sítios arqueológicos do
Molí d’en Ribé e do povoado ibérico Puig Castellar. A visita ao Puig
Castellar permitiu-nos tomar conhecimento do projecto global de
intervenção que o Ajuntament, através do museu, aí iniciou, dentro das
novas correntes de investigação e valorização do património, com o
objectivo de garantir a sua conservação e difusão e convertê-lo num
elemento dinâmico de cultura. Os meios de interpretação dos vestígios, do
seu contexto temporal e da própria actividade do arqueólogo, colocados no
local, são extremamente versáteis e apelativos.
Em suma, a qualidade dos meios de divulgação que este museu local
apresenta ao público, com diferentes níveis de informação, e o seu
programa de actividades constituem aspectos deveras interessantes a
registar. A colaboração de diferentes instituições, administrações e
entidades contribuirão decisivamente nesse sentido.

 Museu Marítimo de Barcelona (MMB). Após a recepção pelo director,


houve uma reunião com a Dr.ª Olga López i Miguel, responsável pelo
Centro de Documentação Marítima para apresentação do MMB, que está
instalado nas Reales Atarazanas (estaleiros), um conjunto edificado único no
âmbito da arquitectura gótica civil e utilizado desde o século XIII na
construção de navios para a coroa catalano-aragonesa. Inaugurado pela
Deputação de Barcelona em 1941, o MMB reúne nas suas colecções modelos
de diversas embarcações, figuras de proa, pinturas, instrumentos de
navegação, mapas e cartas náuticas, etc., que constituem o meio para ilustrar
a evolução da marinha num contexto geográfico e cronológico amplo, com
especial enfoque na marinha catalã. Em 1993 foi criado um consórcio
autónomo público, denominado Drassanes de Barcelona, para a sua
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administração, no qual participam o município, a Autoridade Portuária, e a


Deputação de Barcelona. Deste modo, verifica-se uma maior autonomia e
eficácia na gestão, apesar desta se reger pela legislação da administração
pública catalã, quer em termos de um volume mais significativo de verbas
disponíveis, quer em termos da capacidade de adjudicação e aquisição de
bens e serviços. Em virtude das obras de restauro que estão a decorrer no
edifício, o percurso da exposição permanente encontrava-se então
parcialmente alterado. Assim, a visita guiada pela Dr.ª Olga López centrou-
se nos serviços internos do museu, entre os quais destacaremos o
Departamento de Educação – Centro de Recursos Educativos do Mar
(CREM).
No contacto que mantivemos com a sua responsável, Mireia Mayola, esta
esclareceu-nos que, para fazer face à nova realidade educativa que
apresentam as escolas e outros sectores da sociedade, o MMB reconverteu o
seu Departamento de Educação no CREM, com os seguintes objectivos, que
são no fundo os objectivos essenciais do serviço educativo de qualquer
museu, independentemente da sua temática:
- Reflectir sobre a função da educação nos museus num momento em
que tanto o conceito de educação como o de museu está sujeito a
inúmeras variações;
- Facilitar o trabalho dos docentes e dos profissionais de educação no
âmbito da cultura marítima, para dar a conhecer aos estudantes a
importância que o mar teve na história da Catalunha;
- Apoiar os docentes na concepção de créditos de síntese, créditos
variáveis e outras fórmulas de trabalho relacionadas com o património
marítimo;
- Implicar o educador/professor no museu, facto essencial para
aumentar a qualidade da visita e o seu aproveitamento;
- Fomentar o gosto pelo património marítimo a partir do programa de
actividades pedagógicas.
Concretamente, além de estruturar e por em funcionamento o programa
pedagógico do museu, composto por actividades concebidas para
estudantes de diferentes níveis de ensino, desde a educação infantil até ao
bacharelato/nível 4, sem esquecer a educação para adultos, cuja difusão é
feita através do Programa de actividades pedagógicas, enviado anualmente
(no mês de Setembro) a todas as escolas da Catalunha, o CREM presta
diversos serviços, conforme nos foi descrito e exemplificado:

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- Serviço de formação e de assessoria para docentes – a assessoria para a


elaboração de projectos e actividades faz-se mediante reuniões e
encontros entre os professores e a equipa de educação do MMB, por
marcação prévia, havendo também o objectivo de realização de cursos
destinados à formação de docentes;
- Serviço de consulta e empréstimo de materiais pedagógicos para
facilitar a concepção e realização de actividades sobre temas de cultura
marítima, por parte dos educadores, tanto dentro como fora do Museu
– publicações (livros, artigos, dossiers pedagógicos), material gráfico e
audiovisual (vídeos, diapositivos, fotografias), objectos (reproduções
de peças, jogos e as maletas pedagógicas);
- Maletas pedagógicas – de empréstimo gratuito, estas maletas
extremamente apelativas e didácticas, conforme constatámos, podem
ser úteis para preparar ou aprofundar, na escola, a visita ao Museu ou
ainda para trabalhar aspectos do património marítimo dos quais não
se guardem testemunhos naquele mas que tenham sido de declarada
importância na história marítima:
- Maleta infantil sobre o mar – através do conto “La Nora i en
Martí”, leva-se o mundo do mar aos mais pequenos, sendo a
Nora uma menina de etnia africana, como reflexo das
diversas minorias étnicas existentes actualmente em
Barcelona por via da emigração (Educação infantil e 1.º ciclo
da educação primária);
- Maleta dos piratas – para conhecer o fenómeno da pirataria
ao longo dos tempos e em diferentes áreas, principalmente
no Mediterrâneo (séculos XV e XVI) e no Atlântico (séculos
XVII, XVIII e XIX). (Educação primária e Ensino Secundário);
- Maleta da emigração – propõe-se o trabalho deste tema de
grande actualidade, mas que vem de longe, não apenas na
perspectiva do país receptor de emigrantes (as centenas de
marroquinos que todos os anos tentam chegar às costas do
sul de Espanha em embarcações de todo o tipo), como
também na perspectiva dos milhares de catalãos que não há
muito tempo embarcavam nos transatlânticos rumo ao Novo
Mundo (Ensino Secundário e Bacharelato);
- Maleta de poesias e melodias sobre o mar;
- Maleta da pesca;

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- Maleta “Pa, oli i vi: viure i sentir la Mediterrània” – dieta


mediterrânica;
- Maleta “O mar de Babel” – para conhecer as famílias
linguísticas que coexistem no Mediterrâneo, através de um
conto e cinco lendas que, como estão escritas nos diversos
alfabetos da bacia mediterrânica, terão de ser traduzidas com
a ajuda de Raimundo Lúlio;
- Maleta “Mediterrâneo: sociedade e religiões”;
- Etc.
- Boletim O Pirata – publicação trimestral distribuída gratuitamente
por todos os centros escolares e museus da Catalunha. Com este
boletim, o CREM pretende fazer chegar às escolas e aos profissionais
da educação em geral as suas reflexões em torno do trabalho do
património marítimo com os escolares e, por outro lado, recolher as
propostas envolvendo a cultura marítima que se realizem nos centros
educativos, numa cadeia de diálogo que pode ser benéfica tanto para
os docentes como para os próprios educadores de museus;
- Coordenação do programa pedagógico do Porto de Barcelona – a
instâncias da Autoridade Portuária de Barcelona, o CREM tem a seu
cargo as actividades pedagógicas que se realizam no porto, editando
um guia de actividades conjuntamente com o do MMB;
- Programa de actividades educativas para outros sectores de público –
considerando que a educação é, actualmente, uma actividade que as
pessoas realizam de maneira continuada e constante, não se
confinando apenas ao mundo escolar, o CREM organiza ainda
actividades lúdico-educativas para diferentes sectores de público,
como jogos de pista, ateliers para famílias, actividades de animação
para os visitantes de fim-de-semana, etc. As últimas Jornadas anuais
de Museus e Educação, realizadas pelo Museu Marítim/CREM nos
dias 16 e 17 de Outubro de 2002, foram, aliás, dedicadas à temática das
actividades familiares nos museus, constituindo uma preocupação
actual de diversas grandes instituições de carácter museológico
espanholas e francesas.
Embora o CREM conte com pessoal contratado em empresas
especializadas para a realização de visitas guiadas e das actividades
de animação, ficou evidente para todos os participantes no
intercâmbio que o gosto, a imaginação e o empenho pessoal colocados

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pela coordenadora em todos os trabalhos que este departamento


desenvolve contribuem decisivamente para a notável dinâmica do
mesmo.
A visita guiada ao Museu terminou, com a Dr.ª Olga López e o responsável
pela área da Investigação, na embarcação “Santa Eulália”, uma escuna de
três mastros datando de 1918 e adquirida pelo MMB em 1997, que se
encontra no porto de Barcelona. Após os trabalhos de restauro, a
embarcação, além de poder ser visitada, ficou em perfeitas condições de
navegabilidade. Hoje, é o navio símbolo do MMB e um elemento chave em
todos os programas de tipo educativo e nas actividades pedagógicas (de
ensino - aprendizagem) directamente ligadas ao mar Mediterrâneo. De
acordo com o CREM, este veleiro é o melhor lugar-instrumento para
transmitir, através da experiência na primeira pessoa, mas também da
assimilação de conteúdos de tipo teórico necessários para o
desenvolvimento da actividade, aspectos relacionados com o trabalho dos
marinheiros e a vida em alto mar, o respeito pelo património, pelo meio
ambiente, por meios de vida já desaparecidos e o reforço de sentimentos tais
como a importância do trabalho em grupo.

 Museu da Ciência e da Técnica da Catalunha (MNACTEC), em Terrassa.


Classificado como museu nacional, tem como principais objectivos a
conservação, o estudo e a difusão do património industrial da Catalunha.
Como os vestígios do passado e os elementos ainda activos que configuram
esse património estão dispersos pelo país, em resultado da implantação
territorial das diversas indústrias, a sua preservação e musealização carece
ser feita in situ. Daí nasceu o Sistema do Museu da Ciência e da Técnica da
Catalunha, no qual cada museu explica uma parte do território ou um
aspecto da industrialização na Catalunha. A vinculação entre os diversos
elementos do dito Sistema realiza-se, tal como estabelecido na Lei de
Museus de 1990, mediante alguns programas: programa de inventário e
documentação; programa de restauro e conservação preventiva; programa
de difusão; programa de pesquisa; programa de aquisições; etc.
Em Terrassa, cidade industrial por excelência, a antiga fábrica têxtil
Aymerich, Amat i Jover, construída em 1909 e considerada um dos edifícios
fabris mais belos da Europa, constitui actualmente a célula central do
MNACTEC, patenteando as seguintes exposições permanentes:

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- Enérgeia – permite compreender a importância da utilização, ao longo


dos tempos, das diferentes fontes energéticas, abordadas tanto do
ponto de vista técnico como do ponto de vista histórico.
- A Fábrica Têxtil – este percurso ilustra a grande mudança produzida
pela industrialização, que, durante o século XIX, teve lugar na Europa,
acabando com a sociedade estritamente agrícola. Passagem pelos
espaços energéticos originários da antiga fábrica – carvoeiras,
caldeiras, chaminé, máquina a vapor – e pelo espaço fabril onde é
reproduzido o processo industrial completo da lã e é reconstituído o
ambiente de uma fábrica têxtil de começos do século XX no seu
contexto original.
- O Transporte – a história do automóvel, através de uma colecção de
veículos (automóveis, camiões, motores, aviões, motos e bicicletas) e
de uma maqueta ferroviária.
- O Homo Faber – inaugurado no ano 2000, este percurso expositivo
mostra-nos a evolução da ciência e da técnica desde a revolução
neolítica até aos inícios da Revolução Industrial.
A peça símbolo do MNACTEC é, sem dúvida, a enorme máquina a vapor,
conhecida localmente como “burra”.
Num ponto do circuito de uma das exposições permanentes, é possível
observar, através de uma ampla janela, a oficina de restauro, o que revela ao
visitante a relação entre os serviços internos e os espaços/serviços públicos
do Museu.
O Museu dispõe de um programa de exposições temporárias que se
organiza por ciclos, tal como nos casos do MHC e do MMB.
No âmbito dos serviços educativos, além das visitas guiadas e dos meios
multimédia existentes no âmbito de alguns dos percursos, o MNACTEC
oferece as seguintes demonstrações, aos fins-de-semana, feriados e por
marcação prévia:
- Projecção tridimensional sobre os locais e os museus mais
significativos do património industrial da Catalunha;
- Jaula de Faraday – descargas eléctricas no núcleo da electricidade da
exposição “Enérgeia”;
- Funcionamento dos mecanismos da máquina a vapor;
- Funcionamento de máquinas de fiar e de tecer;

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- Maqueta ferroviária – trama complexa de vias, por onde circulam


comboios em miniatura, e de sinalizações.
O Museu oferece ainda a grupos (escolares e entidades), através de
marcação prévia, visitas guiadas por actores de teatro contratados à
exposição A Fábrica Têxtil. Também se pode acompanhar estas visitas com
representações teatrais, sem marcação, em alguns domingos e dias feriados
durante o ano.
 Museu da Pele de Igualada e Comarcal de Anoia (visita guiada pelo técnico
Joan Vivancos). A criação e localização de um museu da pele na cidade de
Igualada justificam-se pela marcada relação que esta população manteve,
desde as suas origens históricas, com os diferentes ofícios vinculados à pele.
Hoje em dia, pelas suas características e estruturação, o Museu converteu-se
num conjunto único na Península Ibérica e de vanguarda a nível europeu,
integrando o sistema temático do Museu da Ciência e da Técnica da
Catalunha.
Este museu, também designado Museu da Pele da Catalunha, constitui o
pilar fundamental do planeamento museológico de Igualada e o respectivo
conteúdo apresenta-se distribuído por três espaços ou âmbitos:
- o antigo curtidouro de “Cal Granotes” (construção pré-industrial do
século XVIII, situada junto da acéquia, onde, com o devido tratamento
museográfico, se tenta explicar o antigo sistema marroquino de curtir
vegetalmente as peles);
- a fábrica de têxteis “Cal Boyer” (edifício da chaminé), que corresponde
ao o segundo espaço, abordando duas temáticas - “A pele na História”
e “Um universo de pele” (diversidade de usos da pele e a utilidade
dos objectos feitos de pele, a partir de um conjunto de cenografias, e
cinco módulos interactivos que mostram algumas das suas
propriedades, como o tacto, o som, a resistência e a impermeabilidade)
- e, ainda a evolução técnica recente da produção de couro, isto é, a
industrialização da pele.
- o terceiro e último espaço, ainda no corpo antigo da fábrica,
representa a continuação natural do itinerário que se inicia na “Cal
Granotes” e, ao mesmo tempo, o fim do trajecto do Museu.
O corpo novo da “Cal Boyer” – edifício dos armazéns e oficinas – alberga a
recepção, a sala de exposições temporárias, o auditório e a Secção “O
Homem e a Água”.

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Em geral, a museografia tenta superar esquemas estritamente técnicos ou


tipológicos, históricos ou localistas em excesso, a favor de planeamentos
mais universais. De salientar o aproveitamento das grandes janelas da
fábrica com a colocação de painéis de imagens fixas ampliadas e iluminadas,
ilustrando fases do processo de transformação da pele em couro.
O serviço educativo organiza, além dos ateliers da pele e da água, visitas
teatralizadas ao antigo curtidouro de “Cal Granotes”, com o objectivo de
fazer o público vivenciar os costumes e as condições de trabalho dos antigos
curtidores (insalubres e deveras impressionantes).
Verificámos que este projecto não só representa um dos aspectos mais fortes
da identidade histórica de Igualada como serve os interesses da comunidade
actual, que nele se revê, participando activamente nas suas actividades e no
seu enriquecimento. Trata-se de uma experiência valiosa, a reter para os
museus industriais da Região – Museu da Indústria Baleeira, Fábrica
Baleeira do Boqueirão (Santa Cruz das Flores), etc.

 No alto do Parque de Montjuïc, o Palau Nacional, construído aquando da


Exposição Internacional de 1929 e actualmente em processo de reabilitação
arquitectónica, alberga a sede do Museu Nacional de Arte da Catalunha
(MNAC), o qual compreende também o Museu de Arte Moderna (Parque
da Cidadela). Fomos recebidos pelo Director Geral do Museu, Eduard
Carbonell Esteller, nas instalações provisórias onde se encontrava a
trabalhar junto com a equipa técnica. Começou por nos referir que a origem
da instituição se situa nos finais do século XIX. «Os fundos iniciais das suas
colecções procedem da recuperação de obras de arte afectadas pela
“desamortização” dos bens eclesiásticos, recolhidos pelas instituições e a
sociedade civil. Esta vontade de recuperação e salvaguarda do património
artístico também definirá a evolução posterior do Museu e o seu carácter
diferente do de outros museus europeus, cujos fundos artísticos procedem
normalmente de colecções reais ou do Estado. O carácter protector da arte
de um território, de um país, deve-se à recuperação levada a cabo a partir de
1907 pelo Instituto de Estudos Catalãos e a antiga Junta de Museus de
Barcelona [...] da arte das igrejas dos Pirenéus e fundamentalmente das
pinturas murais românicas, não esquecendo, todavia, a arte móvel românica
e gótica.»1

1
- Traduzido do texto de Eduard Carbonell, publicado sob o título “El Museu Nacional d’Art de
Catalunya”, na revista Barcelona: metròpolis mediterrània, N.º 55 (Edição especial “Patrimonio, museos
y ciudad” / ICOM – Barcelona), Julho de 2001, p 11.
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Com a Lei de Museus de 1990, o Museu d’Art de Catalunya converte-se


num museu nacional e é estabelecido um consórcio como nova figura
jurídica do mesmo. Este consórcio é formado pelo Governo da Catalunha e
pelo município de Barcelona, sendo administrado por um patronato no qual
também intervêm, de acordo com os Estatutos aprovados em Maio de 2001,
o Ministério da Cultura espanhol e as empresas patrocinadoras. Os «novos
estatutos significam uma mudança na estrutura de gestão do Museu, que
passa a ser uma entidade pública sujeita a direito privado. [...] O orçamento
anual resulta das contribuições do município [...] e da Generalitat [...] e dos
recursos próprios gerados pelo Museu (mais de 30% do orçamento)»2. A
título de exemplo, o novo regime jurídico permite a cobrança de verbas a
outras entidades, mesmo sendo públicas, para a realização de estudos e
trabalhos de restauro.
Após as obras de reconstrução do edifício, cuja conclusão estava prevista
para o Outono de 2003, o MNAC apresentará um discurso da história da
arte desde o Românico até à década de 1950, aproximadamente,
consolidando os seus serviços e a sua actuação, tanto internos como
externos. O respectivo plano funcional foi-nos explicado pelo Dr. Eduard
Carbonell a partir da análise das plantas do piso 1 e do piso 2.
Como Museu Nacional, deverá ser o eixo central do discurso da história da
arte catalã no território, mediante a relação a estabelecer com os restantes
museus de arte e em particular com os “museus secção”. Até ao momento, já
haviam sido celebrados protocolos de colaboração com três museus, estando
outros em preparação. Esta organização dos museus cobrindo todo o
território realiza-se em função das colecções que cada um alberga, para
enriquecer e complementar a leitura do património que integra a história da
arte catalã. Na agenda informativa, editada quadrimestralmente, são
incluídas as actividades a desenvolver pelos “museus-secção” – Biblioteca-
Museu Victor Balaguer; Museu Cau Ferrat de Stiges e Museu Comarcal de la
Garrotxa.
O Departamento de Educação dispõe de programas especialmente
concebidos para avançar no conhecimento de novas propostas pedagógicas
que facilitem a observação e suscitem a criação de outras abordagens.
Exemplos disso serão o programa “O Museu - espaço comum de
integração”, dirigido às pessoas ou aos grupos que sofrem algum tipo de
exclusão por razões sociais, físicas ou psicológicas e que dificilmente
consideram o Museu como uma referência pessoal, e o programa “O Museu

2
Ibidem, p.12.
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acolhe”, atento às propostas pedagógicas externas relacionadas com a Arte e


a educação artística.
Entre as actividades preparadas para diversos tipos de público, reveste-se
de especial interesse a actividade “Una Hora, un Tema” – conversas sobre as
colecções do Museu e a arte catalã a cargo de jovens investigadores, os quais
dão a conhecer o fruto dos seus trabalhos de pesquisa ao cidadão
interessado em temas relacionados com o património artístico e ao estudante
universitário que deseje aumentar os seus conhecimentos. São ainda de
destacar as actividades preparadas pelo Serviço Educativos para as crianças
aos Domingos – a título de exemplo, uma baseada nos animais fantásticos
do bestiário representado na Arte Românica e outra tendo como
personagem central o aprendiz de pintor Guilebert de Foixà numa
conhecida oficina de um mestre da Barcelona medieval.

 O Museu de Arte Contemporânea de Barcelona (MACBA), instalado num


edifício da autoria do arquitecto norte-americano Richard Meier e
inaugurado em 1995, é gerido por um consórcio entre a Generalitat, o
município de Barcelona e a Fundació Museu d’Art Contemporani e
desempenha uma função semelhante à do Centro de Arte Moderna (CAM),
em Lisboa. Os programas do respectivo Serviço de Educação também
contêm propostas diversificadas, tentando abranger novos segmentos de
público, com recursos adaptados aos diferentes níveis de ensino, a fim de
trabalhar tanto na aula, como no próprio museu ou na Internet. São de
destacar os recursos on-line.
Na deslocação que efectuámos a Figueres, no norte da Catalunha, e a
Girona, acompanhados por Joan Vicens, em representação da Associação de
Museólogos de Girona, visitámos ainda três museus que importa mencionar:
 Em Figueres, pudemos observar no Teatre-Museu Dalí, um dos três
centros museológicos geridos pela Fundação Gala – Salvador Dalí,
inaugurado em 1974, um amplo leque de obras que ilustram a trajectória
artística de Dalí (1904-1989), desde as suas primeiras experiências artísticas
e as suas criações no âmbito do surrealismo até às obras dos últimos anos
da sua vida.
O Teatre-Museu Dalí deve ser contemplado como um todo, como a obra de
Salvador Dalí, já que todo ele foi concebido e desenhado pelo artista para
oferecer ao visitante uma verdadeira experiência no sentido de entrar no
seu mundo, cativador e único, embora não deixando de incluir obras de
outros artistas, tais como El Greco, Marià Fortuny (catalão) e Marcel
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Duchamp. Naturalmente, é enorme a afluência de visitantes nacionais e


estrangeiros.
De seguida, deram-nos a conhecer a colecção Dalí.Joies, que está exposta de
forma permanente numa dependência semelhante a uma casa-forte do
Museu.
«Sense una audiència, sense la presència d’espectadors, aquestes joies
no complirien la funció per a la qual van ser creades. L’espectador,
per tant, és l’artista final. La seva vista, el cor, la ment – amb una
major o menor capacitat per entendre la intenció del creado - dóna
vida a les joies.» (Salvador Dali)
Na verdade, a observação destas jóias num interior negro-cofre,
nomeadamente da “El cor reial” (o coração real), cujo coração central de
rubis é animado por um mecanismo como se tivesse vida, e da “L’ull del
temps” (o olho do tempo), constituem momentos deveras impressionantes
da visita ao museu, pois significam o alcance do sublime artístico e
simbólico.

 O Museu de Arte de Girona (MD’A) encontra-se instalado no palácio


episcopal, um dos edifícios mais nobres do casco histórico da cidade, junto à
catedral. Fomos recebidos pelo Director, Josep Manuel Rueda, que nos falou
da criação e gestão do actual MD’A. Constituído em 1980, graças a um
convénio firmado pela Deputação e o Bispado de Girona, teve a sua origem
em duas importantes colecções – o fundo de arte do antigo Museu
Provincial e o acervo do Museu Diocesano. Em 1992, a Deputação de Girona
transferiu a sua parte na gestão para a Generalitat.
De seguida, a conservadora Carme Martinell guiou-nos a visita ao longo da
exposição permanente, cujo percurso apresenta as obras dispostas
cronologicamente, desde o período pré-românico até à actualidade, e integra
diferentes manifestações artísticas. No âmbito do dito percurso, podem
“ver-se”, através do sentido do tacto, obras representativas dos vários
períodos. Na recepção faculta-se o folheto informativo em Braille, o que
demonstra, além do elevador, a preocupação com a adaptação do Museu aos
públicos invisual e deficiente motor.
O MD’A organiza exposições temporárias sobre diferentes períodos e
temáticas relacionados com as suas colecções, a cidade e a região
envolvente.

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As actividades realizadas abrangem também conferências, seminários,


ateliers educativos, jogos de pista, para crianças e famílias aos fins-de-
semana, e ciclos de cinema, teatro, música e poesia no Verão (“Noites no
Museu”, no pátio), sempre que possível associados ao espírito do Museu e
da cidade de Girona. O MD’A edita não só um calendário trimestral de
actividades, como um boletim informativo igualmente trimestral, com os
apoios do Bispado, da Deputação de Girona e da Generalitat.
À semelhança da maioria dos museus visitados e de diversos museus em
Portugal, este Museu divulga uma peça em cada mês do ano –
normalmente, trata-se de uma peça que, estando em reserva, acaba de ser
objecto de restauro, de uma doação ou de um depósito recente.

 Museu do Cinema – Colecção Tomàs Mallol (MC). Tal como nos museus
anteriores, fomos primeiramente recebidos pela Senhora Gemma Carbó,
Chefe de Comunicação e do Serviço Educativo, que nos contextualizou
acerca da origem e formas de gestão do Museu. A construção do edifício foi
da responsabilidade do município de Girona. Na fundação criada para gerir
o MC participam o município, o respectivo Director e a família proprietária
da colecção. O quadro de pessoal conta com seis funcionários especializados
e todo o restante pessoal provém de empresas contratadas para a realização
de diversos serviços:
- Restauro;
- Divulgação;
- Temas educativos e ou animação.
“O cinema antes do cinema” constitui verdadeiramente a temática deste
Museu, cujos conteúdos nos oferecem uma viagem bastante lúdica através
das tentativas realizadas pela humanidade, ao longo dos séculos, para criar
imagens em movimento. Nesta colecção, uma das mais reconhecidas a nível
internacional, pudemos manipular inúmeros inventos (réplicas)
surpreendentes, divertidos e poéticos e observar projecções e cenografias
que fascinaram os nossos antepassados, partindo da câmara obscura (século
IX) até ao cinematógrafo (August e Louis Lumière, França, 1895).
A exposição permanente termina num pequeno auditório com a projecção
de uma selecção das imagens mais impressionantes, a nível mundial, desde
a invenção do cinematógrafo até à actualidade.
Além da exposição permanente, o MC conta com um Instituto de Estudos e
um Serviço Educativo, os quais organizam as seguintes actividades:
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exposições temporárias; projecção de filmes e de preparação de filmes


(“making of”), mostrando o trabalho do director, dos actores, da cenografia
e imagens das rodagens; sessões monográficas; debates; ateliers de animação
da imagem; e cursos de Verão.
A proposta educativa “La magia de la animación” consiste em quatro maletas
pedagógicas, para trabalhar a história das imagens em movimento, que
permitem levar o MC a qualquer escola/local onde se queira conhecer e
desfrutar o mundo da imagem.
Todos os espaços do MC, começando pela recepção e pela loja, transmitem
um ambiente moderno, lúdico e algo fantástico, de acordo com a temática
abordada.
Finalizamos esta comunicação, salientando os aspectos de maior
inovação observados no decurso do contacto com a realidade museológica
catalã:
 Assinalável experiência de trabalho em rede, independentemente das
tutelas a que pertencem os museus, arquivos ou bibliotecas.
 A cooperação entre as diferentes instâncias administrativas – Generalitat,
deputações provinciais e municípios -, instituições e entidades privadas,
traduzindo-se em apoio técnico e financeiro, contribui decisivamente para a
melhoria da qualidade dos serviços prestados ao público e dos meios de
divulgação dos museus – ex. Museu local de Torre Balldovina.
 As redes temáticas decorrentes da aplicação da Lei 17/1990, de 2 de
Novembro, de Museus, segundo a qual os museus nacionais encabeçam a
articulação do sistema museológico catalão.
 A Rede de Museus Locais, como estratégia de colaboração e apoio que a
Deputação de Barcelona/Oficina de Património Cultural pôs em marcha
com os objectivos de oferecer um conjunto de serviços aos museus locais da
respectiva província e de contribuir para a consolidação de padrões de
qualidade que situem aqueles equipamentos na frente da oferta cultural – a
itinerância de exposições e eventos passou a ser comum entre os museus.
 Pelo facto de funcionarem em regime de consórcios autónomos públicos, os
museus de grande e média dimensão, como o MMB e o MNAC, adquiriram
maior autonomia e eficácia na gestão, quer em termos de um volume mais
significativo de verbas disponíveis, quer em termos da capacidade de
adjudicação e aquisição de bens e serviços.
 A política que o município de Barcelona/Instituto de Cultura desenvolve, a
partir da sua concepção do que é um museu – oficina de conteúdos ou
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centro emissor de cultura de qualidade, espaço de comunicação que faz


viver experiências únicas aos seus diferentes utilizadores e centro prestador
de serviços, de acordo com o espírito da sua temática.
 Em resultado das novas formas de gestão referidas, baseadas
fundamentalmente na cooperação inter-institucional e na abertura à
participação do sector privado, a maioria dos museus contrata hoje em dia a
prestação de serviços, a nível da concretização de projectos educativos e de
animação, de visitas guiadas, de marketing, etc., junto de empresas
especializadas existentes no mercado, o que significa uma contribuição
efectiva para o desenvolvimento económico do país.
Os excelentes resultados deste intercâmbio profissional devem-se em
grande parte à organização e acompanhamento facultados pela Associação de
Museólogos da Catalunha, representada pelo seu Presidente, Dr. Carles Marfà i
Riera, havendo que agradecer especialmente o apoio e a disponibilidade
pessoais de Daniel Solé e de Joan Vicens, e ao acolhimento encontrado nos
museus que visitámos.

Angra do Heroísmo, 14 de Março de 2003

Maria Cristina Gonçalves

Bibliografia consultada

Carbonell, Eduard. 2001. “El Museu Nacional d’Art de Catalunya”, Barcelona:


metròpolis mediterrània, N.º 55 (Edição especial “Patrimonio, museos y
ciudad” / ICOM – Barcelona): 11-13.
Centro de Recursos Educativos do Mar do Museu Marítim de Barcelona. 2002.
Programa de actividades pedagógicas
Mascarell, Ferran. 2001. “Los museos de Barcelona (1975-2000). Noticia de 25
años de programas”, Barcelona: metròpolis mediterrània, N.º 55 (Edição
especial “Patrimonio, museos y ciudad” / ICOM – Barcelona): 4-10.
Quaderns del Museo d’Història de Catalunya, N.º1, Ano 1, Maio de 2001.
Barcelona, Departamento de Cultura da Generalitat de Catalunya: 1-13
Interca

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