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FUNCHAL

O Funchal foi, no decurso dos séculos XV e XVI, o principal centro do arquipélago.


Desde os primórdios da ocupação da ilha que o lugar como vila e desde 1508 como
cidade foi o centro de divergência e convergência dos interesses dos madeirenses. À sua
volta anichou-se um vasto hinterland agrícola, ligado por terra e mar. O povoado,
traçado por João Gonçalves Zarco, começou por ser a sede da capitania do mesmo nome
mas, a riqueza do vasto hinterland projectou-o para ser a primeira e única cidade e porto
de ligação ao mundo. Machico perdeu a batalha, porque os seus capitães não foram
capazes de acompanhar o ritmo dos funchalenses.

O progresso e importância do Funchal foi rápido. De vila passou a cidade e sede do


primeiro bispado e, depois arcebispado, das terras atlânticas portuguesas. Tudo isto
levou a que no terreno evoluí-se o traçado urbanístico e a construção de imponentes
edifícios. As palhotas, dispostas de modo anárquico, vão dando lugar a casas
assoalhadas, alinhadas ao longo de arruamentos paralelos à costa e em torno da praça
que domina o templo religioso. O capitão, de Santa Catarina, avançou encosta acima até
se fixar no alto das Cruzes, no espaço dominado pelo actual Museu da Quinta das
Cruzes. Do outro lado, no Cabo do Calhau, surgiu o burgo popular, dominado pelo mar
e pela rua que o ligava a ermida de Nossa Senhora da Conceição de Baixo. Foi a partir
daí que avançou aquilo a que mais tarde veio a ser a cidade. Do nicho do cabo do
Calhau, passou-se a Ribeira Santa Maria (hoje de João Gomes) e aos poucos
conquistou-se espaço aos canaviais para traçar ruas e erguer casas de sobrado. O próprio
duque, D. Manuel, deu o exemplo, doando em 1485 o seu chão de canaviais, conhecido
como campo do Duque, para nele ser traçada uma praça, construir-se a igreja, Paços do
Concelho, de tabeliães e Alfândega. Ligando tudo isto estava a Rua dos Mercadores,
hoje da Alfândega, donde partiram novos arruamentos que deram espaço e vida ao
quotidiano dos mercadores. São exemplo disso a Rua do Sabão, João Esmeraldo...

Perante nós estão dois percursos convergentes. Dum lado o capitão que avança pelo
extremo ocidental do vale até ao alto das Cruzes e depois desce até à cidade manuelina.
Do outro os companheiros do navegador, a gente obreira, que mantêm o convívio com o
mar, avançando ao longo da linha da água ao encontro da cidade dos mercadores e
artesãos.

A visita poderá iniciar-se no cabo do Calhau, hoje considerado a zona Velha da


Cidade. Do largo, que domina a Capela do Corpo Santo, uma construção do século XV,
alvo de inúmeras alterações, onde se assentou a confraria de S. Pedro Gonçalves Telmo
- santo padroeiro dos homens do mar -, é possível visualizar algumas habitações térreas,
próximas daquelas palhaças do século XV. Ao fundo a fortaleza de São Tiago,
construída no período da dominação filipina para remate da cortina da muralha que
defendia a cidade. Hoje aberga um Museu de Arte Contemporânea.

A viagem avança ao longo da Rua de Santa Maria que desemboca no Largo da Feira.
Aqui ficou, por algum tempo, o centro de atenções do primitivo povoado: o poço de
abastecimento de água, a primeira igreja paroquial de Nossa Senhora do Calhau,
destruída pela aluvião de 1803, e o hospital da Misericórdia. Hoje, restam apenas
vestígios do poço.

Ultrapassada a ribeira através da ponte, outrora de madeira mas agora de alvenaria,


encontramo-nos no Largo do Pelourinho. Aqui começou a cidade dos mercadores com a
primeira alfândega, mandada erguer em 1477 pela Infanta Dona Beatriz. Daqui partiu a
Rua Direita(coincidindo com actual traçado das ruas Direita e Ferreiros) e, depois, a dos
mercadores que ligou o largo ao novo centro da cidade: a Praça do Campo do Duque. A
primitiva Alfândega desapareceu, o pelourinho foi apeado em 1835 e o que lá existe
agora é uma cópia recente de 1992.

Passada outra ponte e avançando pela Rua da Alfândega chega-se ao Largo dos
varadouros, fronteiro ao mar e à Praça Cristóvão Colombo. Esta praça foi construída em
1992 no espaço onde outrora existiu a Casa de João Esmeraldo que, segundo a tradição,
foi morada de Cristóvão Colombo nos anos(1478-1481) que por cá passou. Hoje,
todavia é sabido que a casa em 1495 ainda estava em construção, sendo portanto
posterior à primeira permanência do navegador na ilha.

Adiante, na mesma rua, está a Alfândega do Funchal, a nova construída a partir de


1508. O edifício actual resulta do restauro feito para adaptação à Assembleia Legislativa
Regional. Salvou-se o que ainda restava da época manuelina: as Salas dos Contos e do
Despacho com tecto hispano-árabe e arcarias góticas. A capela anexa da invocação de
Santo António é construção de 1714, feita por ordem do Dr. João de Aguiar, Juiz
desembargador.

Continuando o percurso chegamos ao final da Rua e depara-se perante nós o portão


principal do Palácio de S. Lourenço, actual residência do Ministro da República para a
Madeira. É a expressão do poder dos capitães e, depois, dos representantes do poder
central. A construção do primitivo baluarte é da primeira metade do século XVI, mas
em 1566, em face do assalto dos corsários huguenotes, reconheceu-se a inoperância do
mesmo, tendo-se avançado com a sua total transformação a cargo dos fortificadores
Mateus Fernandes e Jerónimo Jorge, dando-lhe a forma do desenho traçado em 1654 (?)
por Bartolomeu João. No conjunto existente merece a nossa atenção, no torreão leste, as
armas manuelinas em cantaria da ilha e, no primeiro piso deste, a sala gótica com
abóbada de nervuras assentes, com cinco tramos e fechada por uma Cruz de Cristo.
Ainda, à entrada são de registar os retratos das autoridades da ilha: os capitães do
Funchal, os capitães e governadores gerais e os governadores civis.

Subindo a Avenida Zarco, deparamo-nos com a estátua de João Gonçalves Zarco da


autoria do escultor madeirense, Francisco Franco. O monumento foi pensado para a
comemoração do quinto centenário do descobrimento da ilha, que teve lugar em 1922,
mas só foi inaugurado em 28 de Maio de 1934.

Em frente no fim da Avenida Arriaga, ergue-se a Sé Catedral, mandada construir por D.


Manuel para servir de sede a paróquia e, depois, ao bispado do Funchal. O novo templo
foi sagrado em 12 de Junho de 1514, todavia, os trabalhos só ficaram concluídos em
1518. No interior merecem a nossa atenção os retábulos do altar mor, o cadeirado, onde
estão esculpidas cenas bíblicas e da vida madeirense, e o tecto em cedro da terra.
Subindo a rua de João Tavira chega-se à do Bispo onde, no antigo Paço Episcopal, se
encontra instalado desde 1955 o Museu de Arte Sacra. O edifício primitivo é do século
XVI e aí funcionou até 1910 o Paço Episcopal, passando no período de 1913 a 1941 a
liceu. Do recheio deste museu de arte sacra, proveniente das igrejas de toda a ilha,
chama a atenção do visitante a importante colecção de pintura, escultura flamenga,
ourivesaria oriunda das diversas igrejas da ilha.

Pintura: S. Tiago Menor, Descida da Cruz, S. Joaquim e Santa Ana, S. Nicolau,


Adoração dos Reis Magos, Anunciação.

Escultura: Deposição do Túmulo, A Virgem e o Menino, Sta Isabel, Nossa Senhora de


Luz.

Ourivesaria: A Cruz processional do Funchal oferecida pelo rei D. Manuel a Sé.

Continuando a visita pela rua das Pretas chegámos ao princípio da Calçada de Santa
Clara, onde se situa um importante núcleo museológico da cidade. Primeiro o Museu
Municipal, onde é possível tomar contacto com o meio natural madeirense. No rés-do-
chão deste antigo palácio da família Ornelas, funciona o Arquivo Regional da Madeira,
o principal repositório da documentação histórica do arquipélago.

Próximo está a Casa Museu Frederico de Freitas, constituída á base do espólio legado á
região por este benemérito advogado. A Casa da Calçada, como é conhecida, apresenta
ao público uma variada colecção de mobiliário, artes decorativas, uma rara colecção de
azulejos e gravuras madeirenses.

No cimo da calçada fica o Convento de Santa Clara(1495), no sítio onde Zarco havia
construído a capela de Nossa Senhora da Conceição de Cima. Na igreja, alvo de
inúmeras transformações ao longo dos séculos, são de realçar o túmulo de Martim
Mendes de Vasconcelos com arcaria gótica(impropriamente atribuído a João Gonçalves
Zarco), os azulejos hispano-mouriscos do coro. Sob o pavimento da capela mor estão as
sepulturas de João Gonçalves Zarco e seus descendentes.

Próximo do Convento está o Museu da Quinta das Cruzes, instalado em 1953 na casa
que terá sido a residência dos capitães do Funchal. Do conjunto merecem a nossa
atenção o museu, propriamente dito e o parque arqueológico, constituído de pedras de
armas, lápides comemorativas e elementos arquitectónicos de edifícios que foram
destruídos. Do seu recheio destacamos o mobiliário (armários e arcas feitos na ilha com
a madeira das caixas de açúcar do Brasil) e os presépios.

Seguindo pela Rua das Cruzes deparamo-nos no seu termino, na Rua da Carreira, com a
Capela de S. Paulo. Um singelo templo religioso construído por Gonçalves Zarco em
1425. Da primitiva construção resta o tecto de alfarje da capela-mor, o arco gótico e a
pia em mármore. Foi junto desta capela que Zarco ergueu em 1469 o seu hospital.

Descendo a Ribeira de S. João eis-nos na Rotunda do Infante, dominada pela esfera


armilar e o monumento ao Infante D. Henrique. O conjunto evoca os descobrimentos
portugueses. A estátua de Leopoldo de Almeida foi inaugurada a 28 de Maio de 1947.

No morro sobranceiro, conhecido como o parque de Santa Catarina, é visível a capela


que deu nome ao parque, construída em 1425 por Constança Rodrigues, mulher de João
Gonçalves Zarco. Próximo, está a estátua de Cristóvão Colombo, inaugurada em 12 de
Outubro de 1968.

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