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TÍTULO

Do Éden à Arca de Noé. O Madeirense e o Quadro Natural

Colecção Documentos 8

AUTOR
Alberto Vieira

EDIÇÃO
CENTRO DE ESTUDOS DE HISTÓRIA DO ATLÂNTICO
SECRETARIA REGIONAL DO TURISMO E CULTURA
Rua dos Ferreiros, 16.5 9000-Fuilchal- MADEIRA

Telef.: (35191)229635 Fax.: (35191)230341

Emsil: celia@nesos.net /lURL: http:/Iwww.nesos.net littp://www.celia-madeira.net/

TIRAGEM:
1000 exemplares

CAPA:
W. Combe, 1821, Colecção Museu Frederico de Freitas

IMPRESSÃO:
O LIB€ARl, Einpresas de Ai-tes Gráficas, Lda.

Deposito Legal: 136068199


Região Autónoima da Madeira

Secretaria Regional do Turisino e Cultura

Centro de Estudos de História do Atlântico


1999
INDICE GERAL

23 A ECONOMIA DA MADEIRA E A EVOLUÇÃO DO QUADRO NATURAL


37 Cientistas Estrangeiros na Madeira séculos XVI- XX

47 O MADEIRENSE E A DEFESA DO MEIO NATURAL


55 Cronologia
56 Bibliografia

OLHARES CRUZADOS

73 l.ACUARELAS, ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA SÉCS.


XVIII-XIX

2.DOCUMENTOS E ESTUDOS

2.1. TESTEMUNHOS

87 Francisco Alcoforado[séc. Xv]


90 Rcgiincnto Novo das Madeiras para a Ilha da Madeira[l562]
98 Gaspar Fr~ituoso[l522-159I]
116 Alvará pelo qual Sua Magestade Manda dar os Meios e Modos de Estabelecer
o Povo e Conservar o Doininio da Ilha do Porto Santo[1770]
11 9 Rcgimento da Agricultura[l77 I ]
122 lastruções de Agricultura do Corregedor Aiitonio Roiz Velozo de Oliveira, 1792
125 Bernardino José Pero da Camara [I8 161
129 Paulo Dias de Alineida [I8171
133 Projecto sobre o Restabelecimento dos Arvoredos e sua Competente ~ c o n o m i a
na Madeira( 1822)
137 Correio da Madeira (1 849)
139 Isabella de França [1853-18541
149 Manuel Braz Sequeira [I9131
160 J. Henriques Camacho [I9191
172 Regime Pastoril Ilha da Madeira
175 Fernando Augusto da Silva: O Revestimelito Florestal do Arquipélago da
Madeira[] 9461
216 Eduardo de Campos Andrada C19541
230 Eduardo de Campos Ai-idrada: memoraiidum [I9551

2.2. A LITERATURA E O MEIO NATURAL: PROSA

235 Introdução
237 Bibliografia

241 Francisco Travasses Valdez [1825-18921


242 Raiiiiundo António Bulhão Pato [L 829- 19121
243 Aiitónio da Costa de Sousa Macedo [1824-18921
243 Acúrcio Garcia Rainos [1834-?]
245 Joaquim Guilher~neGomes Coellio (Júlio Diilis)[1839- 187 11
246 Manuel Teixeira Gomes [ I 860- 19411
247 Raul Gerinano Brandão [1867- 193I]
251 Virginia Castro e Alilieida [1874-19461
253 Marqiiez de Jacome Corseia [1882/1937]
258 José Maria Ferreira de Castro [1898-19741
262 Ailtónio Assis Esperança [1892-19751
264 Fernando Augusto da Silva [1863- 19491
271 Hugo Rocha [1906-?]
273 Luis Teixeira [I 904- 19781
274 Henrique Galvão [1895- 19701
275 Edinundo Tavares [1892-19831
280 J. Vieira Natividade [1899-19681
284 Eduardo Nunes C19 10-19571
291 Maria Lainas [I 893-1983]
298 Horácio Bento de Gouveia [1901-19831
2.3. A LITERATURA E O MEIO NATURAL: POESIA

305 Introdução

COLECTÂNEA DE POEMAS

309 Manuel Thoinas [I6351


311 Troilo de Vasconcelos da Cunha [I 654- 17291
31 1Francisco Manuel Álvares de Nóbrega[l804]
312 Manuel Gomes Pais(gomes Pais)[?-18901
313 João Fortunato de Oliveira [1828-18781
314 João da Câmara Leme I-lornem de Vasconcelos (João da Câmara Leine) [l 829-
19021
315 Carlos Olavo Correia Azevedo
316 Bulhão Pato [I8701
318 Luís Anlónio Gonçalves de Freitas [I858 19041
318 Pe Jacinto da Conceição Nunes. [1860-19541
319 Maria Eugénia Rego Pereira [ I 875-1947]
319 António Pimenta de França
320 Augusto Correia de Gouveia (A. Correia de Gouveia) [I8801
320 Pe Eduardo Clemente Nunes Percira [I8871
321 João Vieira da Luz [I8961
321 Julia Graça de França e Sousa (Uma Mulher) [I8971
322 Carlos Maria de Olivcira [ I 898- ]
322 Edmundo Alberto de Bettencourt [I 899-1
323 Armando Santos
323 Fernando Acácio de Gouveia
324 Leandro de Sousa
324 Gertr~idesMarceliana Rodrigues Câmara (Gerina) [I91O]
325 Alberto Figueira Gomes 119 121
326 Secundino Teixeira (Dino) [ I 9261
327 Manuel Gonçalves
327 Baptista dos Santos
329 Ana Bela A. Pita da Silva

330 ~ N D I C EDAS ILUSTRAÇÕES


A Historiografia tem propiciado nos últimos anos uma grande abertura na temáti-
ca e na forma de abordagem dos diversos aspectos da História. A História d o
Ambiente ou Eco História ganhou um grande destaque, nomeadamente na
Historiografia norte-americana. Na verdade, foi aí que o novo domínio encontrou
maior número de adeptos e especialistas. Na Europa, depois de alguns pioneiros
estudos de F. Braudel e Emanuel Le Roy Ladurie, só nos últimos anos parece ter
retomado o interesse pelo estudo da evolução do quadro natural e da inter-acção com
o Homem. Aqui, para além da Inglaterra assinalamos a Finlândia, Itália e Espanha'.
A leitura de alguns dos títulos mais destacados desta bibliografia, como sejam os
textos de A. Crosby', Donald Worster', R. Nash', J. Donald Hughes' e R. A. Grove6,
despertou em nós o entusiasmo pelo estudo da temática, ao mesmo tempo que nos
incutiram a curiosidade pela melhor elucidação das informações avulsas que encon-
tramos em quase todos sobre o papel específico da Madeira. Foi na verdade a última
situação que nos levou a definir um projecto de investigação em que se pretende
aclarar e fundamentar as referências com uma abordagem exaustiva da inter-acção
do madeirense com o natural.
A ilha ficou como um marco da intervenção do homem no quadro natural. A densa
florestal desapareceu num ápice por força da necessidade das culturas que alimenta-
ram a dependincia do mercado madeirense a Europa. A cana de açúcar teve na
Madeira a primeira experiência em larga escala e rapidamente são visíveis OS efeitos
do iiiipacto ecológico. Por outro lado, a permanente vinculação da ilha ao mundo
colonial britânico desde a segunda metade do século XVII fez com que a Madeira se
tornasse numa das peças cliaves da História da Ciência. Ein pouco tempo a ilha trans-
foimou-se num laboratório vivo que atraiu cientistas ingleses, franceses e alemães.
Eis os inotivos que dão suporte a um considerivel núniero de questões sobre O
devir histórico madeirense e que permitem usar as diversas fontes docuinentais na
construção de uma diferente visão da História da ilha. Ein certa medida é a oportu-
nidade de dar voz ao quadro natural e através das suas míiltiplas nlanifestações com
evidências e testemi~rihoshistóricos tomá-lo iiiteligivel. Mas isto não se resuiiie ape-
nas a urna História do Ambiente que se preocupe com a relação do Hoinein coin O
quadro natural quc o envolve, iiein tão pouco uma História da Ciência que se dedique
liminarmente aos nomes dos cientistas e As suas descobei-tas.A envolvência da ilha
leva-lios a atender aos dois aspectos eiii siiiiultâileo e a procurar eiiteilder, não ape-
nas o papel da ilha, mas fundainentalniente o que derivou deste protagoiiisino para o
próprio arquipélago.
A História do ambiente é sem dúvida uma criação do mundo científico e utiiver-
sittírio americano e por isso teve aí desde a origein uma valorização inexcedível. A
década de sessenta foi o inomento ideal para o nascimento, contribuitido para isso
alguns trabalhos cntão publicados que hoje são um marco do alerta para a situação
ern que o Homein estava iiiterviiido e destruindo o meio natural. São dois os livros
que se assumem coino o desperiar das consciêmias dos cidadilos e políticos para esta
cruzada. Eiii 1962 Rache1 Carsori publicou "Siieiit Spring", coiisiderado o verdadeiro
alerta para os efeitos do "DDT" sobre a Natureza e ficou como o aviso As autoridades
e motivo de reflexo de jovens de gerações de académicos. Seis anos depois se juntou
o texto de Paul Ehrlich: T/?e Populntion Bomb7. N&o obstante a Eco I-Iistória ser
simultânea c0111 a afiri~~açao do moviinento ambieiltalista não pode nein deve ser
confundida com a História do ambientalisinoB.
O ambiente não foi apenas inotivo de denuncia pública, iiias também de reflexa0
filosófica e historiográfica. E é precisamente neste campo que ganhou forma o novo
domínio historiogrifico. Na década de setenta para além de se assistir As reedições
de clássicos do século XXX, como Henry David Thoreau e Ralph Aldo E~nerson~, é
de salientar a publicação de novas reflexões. O ciclo inicia-se em 1935 com Paul
Sears ein Dese~tso11 fhe MOI-che prossegue na década de cinquenta. Primeiro em
1957 c0111 "Nature and tlie American" de Hans I-Iiiiit, que foi secuiidado com
"Conservatioii and the Gospel of Efficiency" de Sainuel P. Hays(1959). Nos anos
iinediatos assiste-se a urna maior precisão teinitica:1963: Mrin cn7d Natzrre in
America de Arthur A. Ekirch Ji:; 1967: Wilderrzess and t1ze American Mind de R.
Nash; In the Hozrse ofStone ozr Light: A Hziman History oh the Granel Cunj~onde J .
Donald Wuglies; 1970: Tlze Gueening of America de CliarIes A. Reich; 1972.
Colzrn?bian Excl?nnge de A. Crosby; 1973: Anlericarz Enviro171ne1ztulis117 de Dona1
Worster"'.
O inoviinento ganhou fortes raizes nos ineios acadétilicos" e, por inicialiva de R.
Nasli, na Universidade de Califórnia, Donald Worster lia dc Yale e Brmdeis no
E-Iawaii, a disciplina entrou 110s currículos de ensino. Foi neste contexto que a
História do ambiente lançou as raízes iiistitlicionais e acadéinicas, sendo de realçar a
criação ein 1976 da "Ainerican Society for Eiivironmental History" e a revista
"Enviroiimental RevicwM1? coino os mecanismos mais importantes de afirinaçlio de
uina interpretação ecológica da História". O recoiiheciincnto deilnitivo de
"Environmei1tal History" esiU patente na mesa redonda organizada eiii 1990 por "Tlie
Journal of Aiiiericari History". Estava lançada a senientc que rapidaiiiente iria fruti-
ficar. Eiiq~iantona América crescia a coiisciência aiiibieiitalista, fruto dos alertas para
a destruição da Natureza, iia Europa a Geo-Histbria, que a Escola dos Aiinales era a
principal promotora, deseinbocava ilo mesmo ruino e na clara definiçâo a valoriza-
ção da nova disciplina. Assiin, uin niiniero dos A~iiiolcvde 1974 dedica atençao cspe-
cial ao terna. Por outro lado F. Bi-a~idel,utn dos expoentes iuáxiinos, pode ser con-
siderado o pai no coiitineiite e~irope~i.
Um dos aspectos mais evideiites do novo movimento liistoriográfico Iòi o cruza-
iiiento com as solicitaçòes da sociedade. Ein 1970 tiveinos a priiiieira coii~eiiioi-aç8o
do dia da terra e a criação da EPA - Eni~i1.oi71i7ei7tr11 Pi.cliectin//ilgc?iic:ji.Est avainos
' na
época de ouro dos iiioviiiientos ecológicos1.'.Foi tainbérii a d~ividalevantada sobre ti
liistoricidade do moviiiieiito ecológico que levoli ao novo olhar sobre o passado
humano e a interacção coin o ineio iiaturalI5. Os estudos históricos acabara111 por
provar que a ideia ele preservação do meio anibieiite iião s~irgi~i apenas após a scglin-
da Gucrra Mundial1".Taiiibéiii ficou claro que a ideia de ecologia é anterior ao
aparecimento da palavra oecologiír I'. Descobri~i-seo movimento aiiibientalista de
finais do século passado e priilcípios do nosso, beiii coiiio o priiiiciro anibientalista
radical na iig~irade .lohn Evelyn ( 1 620-1 706) lu. Os trinta anos cpie se succderaiii U
dkcada de setenta forain cruciais para a afirmaç5o da Eco I-Iistória, deste niodo o
aiiibieiitalisiiio deixou de ser Liina religião para se ass~imircomo Lima aclivietacle
profissional orientada de acorclo com os ditames da ciêricial".
De acordo com J. Doiiald I-luglies "Eiivironinenta1 Iiistory, as a s~il-ject,is tlie
st~idyof Iiow Ii~iinanstiave ielated, to the tiatural world thro~ighiiiiie. As a inctticid,
it is Lhe applicatioii 01. ecological piiiiciples to Iiisiory"'". Para Donsild Worster "its
principal peal becanie of decpening our ~iiiderstancliiigoi' how li~iiiiansIiave been
affected by their iiatiiral envirotieriital tlirough tiiiie and, coiiversely, how they liave
af'fected tliat eiiviroment and witli that re~ults"~l.E W. Beiiiarl precisa q ~ i ca
"Environmei-ital Iiistory deals with tlie various dialog~iesover tiine betwccii peoplc
and the rest of iiature, focusing oti recipocal iiiipacts"". Poderi referenciar-sc ainda
a pigiiia na Internet ela Forest I-iistoi-y Society (D~~rlia~ii-North Caroliiia) ondc encoti-
traiiios a mais intuitiva deliniqão e objecto que nos oçiipa: "Uriclerstanding tlie past
JS Joachim Radltau, i pcrgunta sobre o q ~ i eé a i-lislbria
for its iiiipact on tlie fiit~ire"~'.
do Meio Ainbiente responde que a nova cliscipliiia "investiga como el ser Iiuiiinno
iiiismo lia influiclo eii estas condicioi~esy cóiiio reaccionó aiite Ias altera~ioiies."'~.
A História do Ainbierite tein demoiistrado 110síiltiinos arios Liiiia tendência para a
especializaç8o. Alg~iinasáreas leii~hlicasda História passaraili a lhzer parte clo seu
repertório, revelando-se Liina iinportante faceta p1iii~idiscipliiiai..Assiin aos tenias
tradicionais, como a Agric~ilt~ira, Arq~ieologia,Floicsia, Arte c Literatura juiita-se
outros co~iioo Clima.
O clima é considerado Liiiia das evidências do iiilpacto negativo das questões
ecológicas. A História do clima é o ineio de averig~iara forma de interveiição do
homeiil no quadro iiatural e dos efeitos secundários. Depois do celebrado estudo dc
E. le Roy Ladurie" sucederam-se trabalhos de grande impacto: Raymond Bradley e
Philip D. Jones (1992), F. M. Cha~iibers(1993), Richard 14. Grove (1997), H. Lamb
(1982, 1995) e T.M. L. Wigley (1981).
O ramo da Arqueologia do meio ambiente coineçou após a I1 Guerra Mundial e
ganhou notoriedade na década de setenta. De acordo com Joliaii Evails
"Environmental Archaelogy is the study of the past environinent of ina~i"'~.Por outro
lado E. J. Reitz" destaca que "Environmental Arcliaeology is an ecletic Field tliat
encoinpasses the earth sciences, zoology and botany". Na verdade, siio vários OS fac-
tores determiriantes do quadro natural que perdurain nas várias camadas de sedi-
mentação. Através da recollia de iiifoimações sobre animais, plantas e solo é possí-
vel reconstruir o ainbieilte do passado. E esta a função primordial da Arqueologia do
Ambiente e que faz com que a mesina se liguem as Ciências da Terra, Arqueo-bola-
nica, Zoo-arq~ieologiae a Geo-arqueologia2x. Os estudos sobrc Zoo-arqueologia
tiveram enl Elizabetli Wing a líder nos EUA e América Latina2".
A floresta é indissociável da História do I-Ioiiiein. Não obstante o Cristiaiiisino
assiimir uma atitude liostil ela esteve seinpre presente nos grandes iiioineiiios da
História da Cristandade. E a nossa principal reserva de riqueza. Foi alé nieados do
século XIX uin meio indispensável a sobrevivência e coinodidades huiiianas coni o
foriiccime~ltode lenhas e madeiras. Em todos os teinpos a riqueza de uina região
dependeu da reserva que delimitava a fronteira do espaço agrícola e Iiuinanizado.
A partir do século XVIII Rousseau transformou a ideia e a relação do Hoincin c0111
o quadro natural, que passou a estar envolvido no quotidiaiio. Perante isto ao liomeiil
do século XIX a ideia de floresta era outra. Perdeu-se o medo, o iiisliiito dominador
e agora procurava-se nela a Iiarmonia. É esta a lição de David Tlioreau ein "Waden"l".
Foi tarnbéiii então que o hoinein toinou consciência da acçiio devastadora sobre a
floresta. O primeiro grito é de Marsli em "Man ancl nature" (1874). E reacções
sucederam-se através de medidas dc protecção da floresta. A priineira atitude neste
sentido surgiu em 1669 coin a ordenança francesa das ilorestas de Colbcrl, depois
iiveinos o,fiee tirnber act (1 873), a criaçtío dos parques e reservas: Yosemite National
Park em 1890 e, as associações privadas - Sierra Club (1 892) - e publicas - Divisão
de Florestas (1 886)".
A devastação da floresta não se resuinia apenas a perda irrenieditível do coberto
arbóreo, pois provocava efeitos secundSrios destrutivos considerados catastroficos. A
situação tornava-se mais evidente nas ilhas onde o Iiinlerland era rcduzido. A
primeira imagem disto foi a ilha de Chipre, onde a construção naval e a exporlaçLo
levaraili a que perdesse o epíteto de ilha verde, dado pelos antigos"?. A siluação
repete-se na Madeira, Canárias e na maioria das Antillias.
Um dos aspectos significativos da valorização da floresta coino recurso foi a con-
stmção naval. A expansão eiiropeia desde o século XV iinplicou uma revolução no
sector. 0 s séculos XVII e XVIII de conipetêiicia clas potências europeias no doinitlio
do inar e do Novo Mundo conduzirain ao seu incremento. Até 1862, altura e111que
se atingiu a idade do ferro, a madeira era a matéria priii~ada coilstr~içãoiiaval". Os
poi-t~iguesesdesde D. Dinis que avançaram com o célebre piiilial de Leiria. Todavia
as sit~iaçõesmais evidentes desta dependência s~irgenino século XVII. O caso mais
conliecido disto está na Ingiatcrra que, ao ver perdida a floresta se socorre das
inadeiras de América do Norte para assegurar o poderio naval. Aliás, este contiriente
foi a principal reserva europeia: a Nova Inglaterra para os ingleses e o Canadá para
os franceses3".
A Madeira ass~iiniuLim lugar de destaque. A ilha ganhou o nome do denso arvore-
do, mas a presença d o homem desde o século XV rapidamente conduziu ao desa-
pareciiiiento na vertente sul. As madeiras da ilha ganharam fama na Europa, revolu-
cionando a construção de prédios sobradados em Lisboa e alimentaram a florescente
construçfio naval. Rapidatiieiite se sentiram os deitos deste abate sem tréguas. Deste
modo a Madeira é considerada ~ i n iexeinplo da acção incontrolável e destrutiva do
iiiacliado e serras de ág~ia.Tal como afirma S. Pyne7' a situação da Madeira não é
Lima caricat~irado processo de desllorestação, mas a evidencia.
Da leitura dos clássicos e da produção historiografica recente releva-se uma situ-
ação particular que toca cle novo ao arquipélago da Madeira. A Madeira não se posi-
cioriou apenas nos anais da História universal como a primeira área de ocupação
atlântica, pioneira na cultura e divulgaçc70 do açúcar n o Novo Mundo. Tambeiii a
expansão europeia não se resumiu apenas ao encontro e desenconlro de Cult~iras,
pois que inarcou o início de ~ i n iprocesso de transforn~açãoou degradação do aiiibi-
ente"'. O eliropeli carregou consigo a fauria e flora coin valor ecoiiómico, que acabou
por provocar prolùiidas inudaiiças nos novos eco-sistemas. Com isto o espaço vivi-
do e iiatlireza ~iniversalizaraiii-se.
O processo de iinposição da cliai~iadahiotn poi.tútil ezllupeia, iio dizer de Alfred
Crosby17, foi respons:'ivel por alguns dos priiiieiros e iiiais importantes probleiiius
ecológicos. Quem ligo se leinbra da praga dos coellios d o Porto Santo'? Que dizer do
incêndio que lavrou na ilha da Madeira d~iraiitesete anos ? Estas situações são assi-
duamente rcfcreiiciadas pela actual historiografia aiiiericaiia que se dedica ao estudo
da História clo aiiibiente, sendo o ponto de partida e alento para a nossa incursão
tei-iiatica inovadora. Outro làcto insistentemente referido é o da própria ilha da
Madeira. O iioine hi o atributo para refereiiciar a abundincia e aspecto lux~iriantedo
l?osqlie, situaçiio tão poiiiposaineiite referida por Ca~iiões'~:

Ein pouco tenipo, as queimadas para abrir clareiras cle c~ilturae habitação, o des-
baste para í'ruição das leiilias e iiiadeiras, fizerain-na desmerecer tal epiteto. Da
Madeira quase só Iicou o noiiie ! A tradição refere que os navegadores pot-L~igueses
ateaiiim Liin incêndio A cleiisa floresta para poder entrar na ilha. Foram sete anos de
cliaina acesa, d i ~a tradição. Hoje ninguém acredita na versão divulgada por
Francisco AlcoToraclo e repetida em Caclamosto e outros autores da época. A ser ver-
dade teria reduzido a ilha a carvão. É apenas enteiidido em sentido figurado para val-
orizar as proporções que o fogo assumiu no solo virgem.
A situação expressa a realidade que pautou a expansão europeia mas que só nos
últimos anos tem cativado a atenção do historiador. T~idoisto tem origem tlum pro-
duto devorador que conquistou o mercado e que pa~itoua evolução da economia
atlântica a partir do século XV. O carrasco é o açúcar. A disponibilidade no mercado
só foi possível com este processo de degradação do meio que viu nascer os canavi-
ais. Isto conduziu-nos imediatamente a uma reflexão sobre a Agricultura e as
relações com o ambiente.
Tendo em conta as múltiplas funções da floresta os estudos realizados repartein-
se na História da Floresta em geral", os múltiplos usos que vão desde o ~ o r n b u s t i v e l ~ ~
ti constnlção naval4. A incessante procura conduziu o Iiotnein à ~ L I S deC ~medidas de
defesa que surgem em circunstâncias e conjunturas de crise deste inestitnavel recur-
soA2.
O desenvolviinei~toda agricultura é considerado um dos factores fundamentais de
intervenção do Hoinein no quadro natural. O processo de sedentarização liuinana e a
consequente doinesticação de animais e plantas implicaram a mais evidente
expressão da inudança4', Foi o conde de Buffon quem primciro se deu conta deste
impacto, sendo secundado por George Perlcins Marsh em 1864 coin "Maii and
Nature".
O impacto da agricultura no quadro natural é um dos teinas mais valorizados na
Historiografia do Ambiente. Aqui, para além dos estudos que tratam de História da
Agricultura, temos que evidenciar os que estabelecem uma relação do sector com a
E~ologia"~ e defineili uma intervenção Iiarmónica através de uma ugriczrlturn szaten-
tada". Neste contexto é evidente o papel assumido pela cana de açúcar, cujos efeitos
devastadores foram notórios nas áreas onde a cultura c l i e g o ~ ~ ~ ~ .
Josué de Castrof1 traça-nos o retrato violento da expansão da cana de açíicar: "Ji
afirmou alguém, coin muita razão, que o cultivo da cana de açúcar se processa em
regime de autofagia: a cana devorando tudo em torno de si, engolindo terras e iliais
temas, dissolvendo o húinus do solo, aniquilando as pequenas culturas indefesas e o
próprio capital liurnano, do qual a sua cultura tira toda a vida, E é a pura verdade ...
Donde a caracterização inconfilndível das diferentes áreas geográficas açucareiras,
coin seu ciclo ecoiiómico, com as fases de rápida ascensão, de esplendor transitório
e de irreinediável decadência. " Esta ideia é corroborada por Mário Lacerda de
M ~ ~. ~DificiImente
~ I K . se encontrarão formas de utilização dos recursos dos solos que
se possam rivalizar coin a agro indusiria canaveira quanto i capacidade de condi-
cionar um tipo dc sociedade e de economia, de modelar um tipo de paisagem e de
estruturar uin tipo de arranjo ecoiiómico do espaço".
A cana de açúcar poderá ser considerada a cultura agrícola tnais importante da
História da Huinanidade, porque provocou o maior lenóimeno de mobilidade
huinana, econóinica, comercial e ecológica. A sua afirinaçao agrícola é milenar e
abrange virios quadrantes do planeta. A cana é de todas as plantas don~esticadaspelo
Homem a que acarretou maiores exigências. Ela quase que escraviza o homem, esgo-
ta o solo, devora a floresta e dessedenta os cursos de água. A exploraçÊío intensiva
desde o século XV gerou grandes exigências em termos de mão-de-obra, sendo
responsivel pela inaior fenónieno migratório A escala miindial que teve por palco O
Atlântico: a escravatura cle riiilliões de africaiios. Ligado a isto está também uin con-
j~iiitovariado de ~iianifestaçõescult~iraisclue vão desde a literatura à iuusica e A
dança.
Foi o Oriente que clescobri~ia doçiira, terido a Papua Nova Guiné como berço. Os
árabes f~zeraiii-iiochegar ao ocidente e forain os principais arau~osda expansão.
Geiioveses e veneziaiios encarregarain-sc do comércio na Europa. Mas foi rias ilhas
que ela encontrou Liin dos principais viveiros de afirniac;ão e divulgação tio Ocicleiite:
Crera e Sicília no Mediterrâneo, Madeira, Açores, Ganirias, Cabo Verde e S, Toiné
no Atlântico Oriental, Puerto Rico, Cuba, Jamaica, Demerara lias Aiitillias.
A realidade sócio-econóinica que serve de s~iporteao açiicar diferencia-se no per-
curso do ~acificolíndicopara o MediterrâncoIAtlântico. Assitii, no prinieiro caso não
asslirne a posição dominante ria economia, primarido pelo caracter secuiidário,
enquanto no seg~incloé patente o efeito domiiiador na econoii-iia e socied;ide/assocr-
ação ao escravo, que coiiieçou no Mediterriiieo e se reforc;ou rio Allânlico.
A caiia, tal coiiio atirtnou Josué de Castroi", é autofigica. A realidade Iiistórica clos
íiltimos cinco séculos, ein que ass~iiniuuin estatuto de produção ein larga escala.
assim o conlirnia. O que acoiiteceu iia Macleira dos skculos XV e XVI, repetiu-se nas
CanSrias, Caraibas e só iião atingili iclênticas proporções no Brasil, porque a iiiata
atlintica era extensa. Mesmo assiin os probleinas, eiiibora inais tardios, ~ninbkiil
tiveram lugar. Gilberto Freire"' afirina que "o canavial desvirgiiio~itoclo esse mato
grosso cle iiiocio mais cru pela queiiuada. A cultura da caiia .. valorizou o caiiavial e
tornou desprezível a inata".
O processo é siiiiples. Piira plantar a caiia derruba-se ou queima-se a Ilorcsla.
Depois para fabricar o açúcar a Iloresta h z k l t a para inanter acesa a cliaiiia dos
eiigeiilios, o ~ coiistriiii
i as ir~fia-estr~ituras.A caiia teiii na floresta o inaior aiiiigo e
inimigo. Uiii exemplo apenas evideiicia a dimensão qLie ass~iiiii~i o processo. Para o
Brasil do século XVIII cada q~iilode açiicar eqiiivalc a 15 Icg de leiilia cl~iciinada,
daiido a iiiédia anual de 2 10.000 toiieladas. A cada hectare deveri correspcincler 200
torieladas".
A coiitiiiliada acção devastadora é assiin descrita por Wrrrrcii Deaii: "Durniite q~ii-
nlientos anos, a Mata Atlântica propiciou lucros 18ceis: papagaios, corantcs, escia-
vos, ouro, ipeeacuaiilia, orquídeas e madeira para. o proveito de seus senliorcs colo-
niais e. q~ieiinadae devastada, Liina camada imensainente férLil de cinzas q ~ i cpossi-
bilitavain uma agric~ilt~ira pirssiva, iiiipriidentc e iiisusteiitivel. A pop~ilaçãocrescia
cada vez mais, o capital "se aciini~ilava", eilquanto as Ilorcstas desal~iireciaiii;mais
capital eiitão "se aciiiii~ilava"- em barreiras 2i erosão de terras cle lavoura, em aqcie-
dutos, coiitrole de Iluxos e eiichentes de rios, eq~iipainentosde dragiigem. ternis ele
inata plantada e a iiidustrializaç5o de sucetlâiieos para ceiiteiias de produtos outroiíi
aparihados de graça iia floresta. Nenhtima restriçgo se cibservou d~iraiiteesse meio
iiiiléiiio de gula, iiiuito embora, quase clescle o início, Sosscm entoadas interinitentes
interdições solenes que, nos dias at~iais,são contínuas e Srenélicas.". Eiii 1660 o
inuiiicípio dc Salvador da Baía cleiiniu LIIIIcoiij~intocle inedidas, cllic não Iòrain sufi-
cientes uina vez que e m 1804 110 Recâiicavo era evidente a falta de le~iliase
madeiras", O clesapareciiueiito da Iloresta ~iroxiinaclos cngeiikos firzia siumeiitar os
custos de fabrico clo açíicar.
O processo é similar nas regiões que antecederam o booni do açúcar americano.
Senão vejainos. Em Motril a primeira metade do século XVI é definida por uina que-
bra da produção açucareira, atribuída ti falta de leiilias que forçaram a tomada de
iiiedidas desde 1540q3.A situação repete-se na Madeira e Canáriassi, o que provocou
uina reacção dos proprietários de engeiilio, materializada nas medidas exaradas ein
ordens régias e posturas Mui~icipais'~.
As illias, pela limitaçiio do espaço, foram as primeiras a ressentir-se da realidade.
Sucedeu assim em ambos os lados do Atlântico. A Única excepção está nas ilhas de
S. Tomé e Príncipe. Nas Caraíbas a situação é igual a Madeira, A ilha de Santo
Domingo, hoje Haiti e República Doininicana, a cultura da cana teve um apogeu
curto de pouco mais de cinquenta anos, pois que em 1550 a notória escassez de leiiha
conduziu ao abandono de muitos engenhos desde 1570. Já lia Jamaica, a proinoção
pelos ingleses da cultura, levou a busca de soluções. O trem jainaicano foi a solução
inais eficaz. Com este sistema de fornallia o aproveitamento de lenha era evidente,
pois apenas com uina sb fogueira se conseguia inaiiter as três foriiallias.
Concomitanteinente tivemos o recurso ao bagaço como combustível. Ambas as situ-
ações difundiram-se primeiro nas Antilhas inglesas a partir da década de oitenta do
século XVII e só depois atingiram as dernais ireas açucareiras5B
A generalização do sistema aconteceu primeiro nas ilhas carentes de lenha e só
depois chegou ao Brasil. A entrada definitiva da solução na iiid~istriaaçucareira do
Brasil é ein 1806, altura em que Manuel Ferreira da Câmara, na Baía, adaptou o
engenho nova situação. Mas na época a grande inovação era já a máquina a vapor,
que coineçou a ser usada no Brasil a parlir de 1815. Entretanto a caldeira de vacziuin,
inventada ein 1830 por Norbert Rillius de New Orleans, foi a técnica que revolucio-
nou o fabrico do açúcar e que mais contribuiu para a economia de combustível e por
consequência a preservaçtío da floresta.
Não ficam por aqiii os efeitos negativos da actividade agrícola no quadro natilral.
São vários os estiidos que nos elucidain sobre o impacto resultante da doinesticação
de animais e plantas, processo que ocorre a partir de 800 A.C.. Daniel E. Vasey
[I 9921 [raça-lios o retrato e evidencia as tiansforn~açõesocoi-ridas a partir da segui-
da metade do século XIX coin o recurso a adubos quiinicos, peslicidas e hcrbicidas.
Foi, aliás, de acordo com este quadro que após I1 Graiide Guerra surgiu o grito de
Racliel Carson [I9621 que face a unia Priinavera de silêncio, sem o cliilrrear dos pás-
saros, clama para que todos a cntendain: "TIie liistory of life on earth has been a his-
toiy of interaction between living hings and their surroundiiigs.( ...) The inost alarm-
ing of a11 mari's assa~ilts~ipontlie eiivironineiit is the containiriation of air, earth,
rivers, and sea with dangerous and even lethal ~naterials"~'.Foi este grilo ecológico
contra os efeitos nefastos dos pesticidas que fez despertar a coiisciência de políticos,
cieiilistas e despoletar a afirmação do inoviinento e das publicações cieiitificas e his-
toriográficas.
Detinidos os temas mais coinuns da História do ainbieilte poderá questionar-se
q~iaisas fontes fundamentais para a sua concretização. Uina das fontes privilegiadas
para estudo do impacto h~imanono quadro iiatiiral encontra-se na expressão plástica.
A gravura e a pintura, c01110 mera iinpressão de viagein ou forma de ilustraçZio cien-
tífica, assumem a função de fonte histórica. Foi nos EUA que esta fonte mereceu nos
últimos anos a adequada atenção". Na verdade, a pintura americaiia do scculo XIX
revela uin desusado apego ao quadro natural do continente nuina onda de funda-
mentação do sentiineiito nacional". E o período de iYzici.~oti River Scliool. Aqui hB
iiina busca pelo espaço não produtivo, doininado pelos pântaiios e selva. A sit~iação
deu lugar, após a guerra civil, aos teiiias exóticos. A pintura 6 tambéin utn meio de
expressão da actividade e exploração dos cientistas. Huinbolt foi dos priineiros a ter
a noção disso "" O período que decorre de 1840 a 1880 é considerado o inoinento do
livro ilustrado em toda a Europa"'.
Uina forma de expressão ai-tistica, fiuto da iiitervcnção do Hoiiiein no quadro
natural, está nos jardins. Os jardins são outra forma de expressão do relacionatiiento
do Iioinein coin o meio natural. Aliás, Paul Sliepard (1991) afirnia que através deles
o honiem coinunica com a natureza. Duck Clifford (1963) precisa: "garden is man's
idealized view of the world ... Gardens cannot be considered in detacliiiieiit fioin tlie
people who iiiade tliein""'.
O jardim no mundo cristão está inevitavelmente ligado A ideia de Paraíso e expres-
sa-se formalinente através das flores e fontes "'. Esta coinuiilião do homein coin a
natureza não é apeiias apanágio do inuiido cristão. A ideia de jardini coin O espaço de
retiro, reflexão e de coinuiilião c0111 a iiatureza está presente na civilização inuçul-
tnana e no inundo oriental desde a China ao Japão. Os jardins inuçulina~ios~~, cliinêsf",
ou japonês influenciarain de forma decisiva os do rriuiido cristão"'.
O primeiro jardiin terá surgido na China no tempo do imperador Wu Ti(140-86
A.C.). Na Europa os priiiieiros est2o docui~ieiitadosein Itklia - Pisa(1543), Padria
(1545) -mas foi o de Versailles (1662) o inais fainoso e alvo de cópias"'. O S ~ C L I I O
XVII anuncia uiii novo tipo de jardiin que tein COIIIO referência os de Oxford (162 1 ),
Chelsea (1673), Ediinbusgli (l680)e Kew (I 759)hH.Estaiiios perante o início dos ac-
tuais jardins botânicos que se afirinain conio repositórios de plantas exiiticns de toclo
o inundo.
Os séculos XVIIXVIII forain monientos da grande revoluçTio na arte da jardi-
iiageiil. Os jardiiis toriiani-se populares, s~icedeiido-seiniii-i-ierasedições de livros
sobre florcs c jardins Dos vários tipos de jardiiis que se divulgaraiu i10 mundo oci-
dental teinos o italiano e francês. O jarcliin italiaiio do século XVII é doiniiiado pela
água, estatuária e Liina ponte central. Já o francês C ~1111csl>aço traçado a esq~iadria,
sitiiação que iiiarcou a jardinageni até ao século XX alt~iraem a influência do Japão
levou-o a perder a gcoinetria"". E111 Inglaterra surgili desde fins do séciilo XVII o
clianiado "Tudor Garden" em que a geoiiletria cedeu lugar ao quadro natural7". Os
coiitactos com o inundo oriental pesaram nesta iòriiia do jardiin iiiglês que tambéni
iiifl~iei~ciouos niadeirenses.
Os eleineiltos f~indaiiientaisdos jardins são as flores, árvores, água e clenientos
arquitectónicos (pontes, cascatas, esthtuas) que se articiilain de foriiia harmónica de
acordo coin a serisibiliclade cultural de cada região c época7'.O jardiiu 1150 é apeiias
"desigii" e estilo iiias taiiibém inspiração da pintura e litcratiira. O culto clas árvores
é evidente no seculo XV11. São elas que orieiitain a alirinação clas classes possidciitcs
e lhe dRo grancliosidadc cin avenidas ein frentes (Ias O próprio acto dc plan-
tar uma árvore, que hoje se ceIebra com grande poiiipa no dia dedicado a iiiesnla, está
já docuinentado desde o séciilo XV1117'.
A Europa partiu no século XV à procura do Éden, bíblico ou descrito na literatu-
ra clássica greco-romana7". Foi este uin dos motivos do empenho de Colombo e dos
riavegadores portugueses. O reencontro era encarado como uma conciliação com
Deus, o apagar do pecado original de Adão e Eva. A imagem perseguiu quase todos
os navegadores quinhentistas e não fogem à regra os que apostaram 6 Madeira.
Tenha-se em conta que as duas primeiras crianças gémeas nascidas na ilha, filhas de
Gonçalo Aires Ferreira tiveram nomes bíblicos de Adão e Eva7j. O encontro da ilha
era o retorno ao Éden que aos poucos se perdeu, tal como sucedera aos primogéiiitos
Adão e Eva. A rec~iperaçãodesta imagem acontecerá no século XVIII com a ilha a
afirmar-se de novo como o paraíso agora redescoberto pelo viajante ou tísico ingle-
ses, e recuperado e revelado ao cientista, seja ele inglês, alemão ou francês, através
das recolhas ou da recriação com os jardins botânicos.
A literatura anuncia unia nova expressão da relação do Hornem com o quadro
natural. A vaga romântica que, cedo se expandiu desde França, colocou o escritor e
poeta próximos da Natureza. O romantisrno é sinónimo depastorialismo nos Estados
Unidos que começou a partir do século XVII. O pastoriuiismo é a revolta pacifica
contra a revolução industrial. Aqui a escrita surge na primeira pessoa numa descrição
real, como se pode provar da leitura dos textos de J. White, T~I.Cole e George
Marsh7'. Dois livros demarcam o romantisrno americano: Waldetz. Or Life in the
Wnods(1854) de Henry David Thoreau e Moby-Dick (1851) de H. Melville. O últi-
mo é, segundo Annie Dillard, "tlie best book ever written about nature"".
Thoreau é uma referência no panorama de "nature writing". A sua obra abriu unia
nova era na valorização do iiiundo natural. Thoreail afirmava que "a writer is the
scribe of a11 nature"'* e tem como f~inçãofazer conipreender a natureza. Ele foi, na
verdade, o escritor mais popular da literatura romântica nos EUA e a sua obra influ-
enciou os estudos de História Natural7". É, por isso mesmo, considerado o santo
pationo dos escritores sobre o ambiente ainericatiox".Se Tlioreau merece o epíteto de
patrono dos escritores da Natureza já John Muir (1813-1914) e John Burroughs
(1 837- 192 1 ) estão nas origens do tnovimento ecológicox',que tem a plena afirinação
após a segunda guerra mundial. Os reflexos da nova corrente estão tanibéin patentes
no discurso literáriox'. Nos iiltimos anos editarain-se diversas colectâneas de textos
recuperados numa perspectiva de História do Ambientex3.
A Natureza é motivo de coristante inspiração dos poetas. Mesino Fernando
Pessoa[1888-19351 num dos lieteróizimos não perdeu a oportunidade de afirmar:
"Além disso, Iùi o iinico poeta da izat~ireza"~~,
Na poesia americana a expressão mais
evidente do romantis~iioé WodsworthX5.Eln Pot.t~~gal o romaiztismo legou-nos algu-
mas paginas de oiiro da literatura do século XIX. A produção literária e os estudos
teóricosn"eizvolvein alguns dos nomes sonariies: que vão desde Júlio Dinis a Alineida
Garrett. É, aliás o primeiro que inaugura a escola nahiralista com os Serões da
Pt*ovi17cia(l870y.
A relação do I-Ioinein coiii o quadro natural parte tainbéin da reflexa0 filosófica e
dos rumos definidos pela História da Ciência a partir do século XVIII. O século
XVIII é na verdade o de afirmação da ciência. T~idoisto é fruto de um triunvirato de
cientistas que estão na origem de academias em Paris, Gottingen e Uppsala: George
Louis Leclerc, Cointe de Buffon (1701-88), Albrecht von Haller (1708-77), Carl voii
Linné (Linnaeus) ( 1707-78)XX.
A curiosidade do lioinem acerca da Natureza é do séc. 111 A.C. coiii o M~iseude
Ptoloineu ein Alexaiidrinax", inas os ruinos da actual ciência, na busca incessante e
descoberta delinearam-sc a partir do século XVI. Os principais alicerces estão nos
inuseus de História Natural e os jardins botânicos. Os jardins foram priiilciro 170~t~1.s
tnediccrs, isto é, locais de cultivo de plantas coiii valor medicinal. O mais antigo
surgiu ein 1545 ein Pisa, Florença e I-Ieidelberg. A estes seguiram-se outros: Z~iriq~ie
(1560), Bolonlia (1 547), Leiden (1 577), Leipzig ( 1579) Montpellier e Heidelberg
(1594), Jardin des Plantes-Paris 11635) The Royal Botaiiical Garden of Ediinburgli
( 1 690), Capelown (1 694), Mauriti~is/ 1735), Oxford (1621), Cainbridge (1761),
Chelsea Pliysic Garden (1 673)"'.
O século XVII1 é o moiiiento de criação dos inuseLis de História Natural: Coiinbra
(1772), Charlestori (1 773), Madrid (1 7761, Filadélfia (1 786), Rio de Janeiro ( 18 18),
Buenos Aires e Bogotá (1 823), Saiiliago do Chile (1 830), Boston e N. YorIt( 1860),
Beléiii (1871), Milwaukee ( 1 880) S. José da Costa Rica (1887), Chicago e S.
Francisco (1890) e S. Paiilo (1894), Praga (1 894), Bruxelas (1903), Viena (1889)"'.
No caso inglês o Royal Botanic Gardeii excrceu uni papel fundaineiital na afir-
inação do sisterna coloiiial. Segundo Lucille M. Brocltway (1979) "...tlic Royal
Botanic Gardens at ICew... served as a control centre wliicli regulated the flow of
botanical iiiformation froin of tlie iiietropolis to tlie coloiiial satellites, nnd dissemi-
nated iiiforination eiiiaiiating froili tlieiii.". Tal coiiio afirmava N. Reingold (1987, p.
354), ao referir-sc ao Bristish Muscuiii (1 881), o espaço é uiii "teiiiplo de ciência".
Jardins botânicos e museus de História Natural tiveram uni papel fiindaineiital na
alirinação da ciência e apoio aos cientistas, porque Sorain o suporte de uma rede de
contactos que a revelação das descobertas tornava iiecessária a div~ilgação. Os
museus e as sociedades cieniificas desde o século XVII coi~trib~iiraiii para quebrar o
isolainento dos cientistas "?. A Royal Society ein Londres ( 1 662) foi o embrião deste
suporte iiistit~icional.Os seus ideais alargarain-se às colónias e difundiraili-se eiii
toda a Europa:

1760 - American Philosopliical Society


1768 - Aiiierican Philosopliical Society a1 Pliiladelpliia
1805 - Cliarleston Botaiiical Society and Gardeil
1846 - Siiiithsoiiiaii Institutioii
1848 - Ainerican Association for tlie Advaiiceiiient of Science
1854 - Société Zoologique d'Accliinatation (Paris)
1890 - Botanical Society of Ainerica "'

Este enquadrameiito ii~stitucionalé reforçado no século XIX coiii o aparecimento


de publicações periódicas especializadas, associadas a Liina relaguarda institucioiial.
Assiin, a Royal Society edita desde 1665 "tlie Pliilosopl.iical Transaclions, eiiquaiito
do outro lado do Atlântico tivemos desde 1818 o "Ainericail Jourilal OSScience""'.
\I ~ C O \ O \ l \~ 1) \ \I \l)b.Il< \
E A EC'OI,UÇAO DO Q U A D R O \ATURAL
Nos primeiros momentos de ocupação do solo madeirense, o vinho, o trigo, e,
depois, o açúcar, surgem como culturas aglutinadoras da peculiar vivência com
inevitáveis implicações politicas e urbanísticas. Os primeiros materializaram a
necessária garantia das condições de subsistência.e do ritual cristao, enquanto o últi-
mo encerrou a ambição e voracidade mercantil da nova burguesia europeia que fez
da Madeira o principal pilar para afirmação na economia atlântica e mundial. O
processo é irreversivel sucedendo-se uma catadupa de produtos, com valor utilitário
para a sociedade insular, ou com capacidade adequada para activar as trocas com o
mercado externo. Se na primeira fase o domínio pertenceu a economia agrícola, no
segundo, que se aproxima da nossa vivência, reparte-se em serviços, industrias arte-
sanais (vimes e bordado) e produtos agrícolas.
O enquadramento e afirmação económica não é pacífico, sendo feito de embates
permanentes entre a necessária manutenção de subsistência e a animação comercial
externa. Deste afrontamento resultou a afirmação dum produto que adquiriu maior
pujança e numero de defensores nesta dinâmica. Foi nesta luta permanente de pro-
dutos de subsistencia familiar, local e insular com os impostos de fora pela perma-
nente solicitação externa quese alicerçou a economia da ilha até ao limiar do sdculo
XIX. Deste modo os produtos foram os pilares mais destacados para a compreensão
da realidade socio-economica madeirense, ao longo dos quinhentos anos, com refle-
xos inevitáveis na actualidade. Por isso proponho uma breve reflexão sobre a
importância no devir e quotidiano madeirense.
UMA ECONOMIA DE EQUILIBRIO ENTRE. A SUBSISTÊNCIA E O MERCA-
DO. A tradição inediterrânio-atlântica, que define a realidade peninsular, repercute-se,
inevitavelmente na estrutura agrária do Novo Mundo e por consequência no impacto
ecológico que acompanha a expansão atlântica. Da Europa saíram as sementes, uleií-
silios e homens que lançaram as bases da nova vivência insular e atlântico, e aí se sitii-
avalli as principais solicitações e orientações. A par disso o confronto coni as iiovas
realidades civilizacionais americanas e índicas contribuíram para o paulatino desen-
cravamento planetário da ecologia e cardápio dos séculos XVI e XVII, conz
inevitáveis repercussões na econoniia e hábitos alimentares do europeu.
A Europa contribuiu COIII OS cereais (centeio, cevada e trigo), as videiras e as socas
dc cana, enquanto da América e India aportaram ao velho coi-itinenteo inillio, a bata-
ta, o inhaine, o arroz e uma variada gama de árvores de fruto. Neste contexto as illias
atlânticas, pela posição charneira no relacioi-iamento entre estes mundos, surgem
coino viveiros da aclin~ataçãodos produtos As novas condições ecosistéinicas dos
espaços que os acolliein. A Madeira assuini~iuma posição importante, aíirinaiido-se
no século XV como o viveiro experiniental das culturas que a Europa pretendia
implantar no Novo Mundo - os cereais, o pastel, a vinlia e a cana de açúcar.
A expansão europeia, que desde o século XV revolucionou o cardápio europeu,
enriqueceu-se e aumentando a gan-ia de produtos e coiidiineiitos. A tradição cutinária
europeia foi destronada pelo exotisino das novas sensações gustativas que acabaram
por afeiçoar o paladar. Mas até que isso se generalizasse tornava-se i-iecessário con-
duzir aos locais mais recôi-iditos o cereal e o vinho. Assim, as einbarcaçõcs que sul-
cavam o oceano levavaiii nos porões, para alem das nan nu facturas e bugigangas alici-
adoras das populações a~~tóctones, inúineras pipas de vinho, peixe salgado e barris de
farinha ou biscoito.
Se o cereal poderá encontrar similar, coiilo o inillio e a maiidioca, o inesnio 1120
acontecia com o vinho que era descoiiliecido e incapaz de se adaptar As novas
condições iiiesológicas oferecidas pela colónias europeias. Desta forina o vinho foi
conduzido da Europa ou das ilhas, onde se afirinou com esta finalidade aos tiiais
recônditos espaços ern que o europeu se fixou. Ele foi o inseparhvel companheiro dos
rnareaiites, cxpcdicionários, bandeirantes e coloiiizadores. Aos pri~neirosservia clc
antídoto ao escorbuto, aos segundos saciava a sede, enquanto aos últiiilos era a recor-
dação ou devaneio hilariante da teria-mãe. O vinho era assim um dos principais traços
dc união das gentes europeias na gesta dc expansiío além-Atlântico.
No imaginário e devir histórico n-iadcireiise paira scinpre a vis50 tripartida da faiiia
agrícola: o vinho e o cereal que a traclição iinpõc coino necess6rios ao qiioticliatío
espiritual e alimeiltar, o açúcar que se afirinou como provento cxcedeiltário capaz de
atrair a atenção dos inercados europeus e de trazer a ilha as manufacturas que neces-
sitava. Esta Iiai-inóiiica trifiiiicioiialidade produtiva, porque clelinida pela extreina
dependência as dinimicas e directrizes europcias, esteve sujeita n diversos sobres-
saltos que coiitribuírain para a desinesuracla desarticulação do quoticlia~ioe economia
iiiadeirenses. Assim, a coiicorrência do açiicar ainericaiio lançou o pânico na ilha c
obrigou a necessária afirinação da cultura da vinha, levailclo o vinho a assuii~ira situ-
ação de moeda de troca ein substituição CIO açiicac
A precariedade da econoinia iziadcirense não deriva tipcnas da posição de
dependência ao vellio continente, inas tainbéni radica-se nas diminutas possibilidades
de usufr~ito dos 741 K1112 de superfície da illia. O lançamento e afirmação da
sociedade eiiropeia depende seiiipre das possibilidades de afirinação siiuultâiiea deste
coiij~iiitode produtos que são os inotores da expaiisão atlântica e da e~iropeizaçãodo
espaço insular. Todos os autores coevos forain ~inâniinesem afiriiiar a apetêiicia da
ilha para satishzer as expectativas dos primeiros povoadores. Assiin, Gaspar Frutuoso
diz-110s que "a terra foi iiiostrando seus friitos e dando a fama deles no regno, e eno-
brecendo-se coiii iiioradores ricos""'. Esta iilaudita riqueza foi o motor de sucesso do
povoaineiito da ilha: "crescendo e inultiplicando seus fi-utos, assiin iam crescendo as
povoações e inoradores com a fama de sua fertilidade."""
O processo de labuta insular expressa-se mais coiiio uina revolução Ii~iiiiatiae téc-
nica do que ecolbgica. Se as condições eco-sistétnicas favoreceram a transplantação
clas primeiras seiiientes, ao lioiiiem íicou reservada a iiiais espiiihosa c hábil tarefa.
Priilieiro ergueu os socalcos (poios), depois adaptou as técnicas e as alfaias agrícolas
às conclicionantes do novo espaço cultivaclo. O testem~ii~lio de tudo isto está os poios,
ladeados de levadas, considerados entre as principais realizações do Iioineiii na
li~iiiiaiiizaçãodo espaço. Os poios são tambéiii ~ i n iinoiiuinento ao cabouqueiro,
colono q ~ i crecebeu das principais gentes da ilha o encargo de valorizar economica-
iilente as parcelas. O iiivestiinento da capacidade cle trabalho tein justificação jiirídi-
ca nas cliainaclas benfcitorias, que eiiglobavain paredes, casas de Iiabitação, lagares ou
lagariças, arvores de í'r~lto,latadas, etc. O colono que laiiçou as bases da revoluçiio téc-
iiica c agrícola deve sei. considerado iim dos principais obreiros da Iiariiioiiiosa pais-
agem rural que hoje se co~iteinpla.Os proprietários preferiaiii os bulício ribeiriiilios da
cidade 1:rizcndo com que a arquitectiira e viver quotidiano se adaptasseiii 21 medida do
volume (10s reditos acuiii~iladoscoin o cotnéicio do açúcar e vinho e estava-llies
rescrvado o us~ifr~ito clas coiiiodidadcs e empenhado nas lides adininistrativas ou jogos
da pela e canas.
Umri das particularidades das ilhas res~iltado facto de estarinos perante espaços
liinitados, que condicioiiaiii e Iòraiii influeiiciaclos de forma evidente pela presença
Iiuinana. O processo ecoiiórnico quando assuine uina posição dc sucesso atravcs da
iiiscrção no iiiercaclo mundial provoca obrigatoriamente uma forma cle exploração
intensiva que acaba inevitavelmei~tepor provocar o desequilíbrio eiitre aquilo que
possibilita o quadro iiatural e o que o Hoiiiein exige dele. Na Madeira a exploraç30
económica fez-sc de foriiia iiilensiva e de acordo coiii as solicitações do niercatlo exte-
rior, agravando o aíi-oiitaiiicnto coin o quadro natural c arrastando-o para a total
clcgradação. Um breve relance pelos tes~cinuiiliosliistoriográlicos dos séculos XV c
XVI rebrça esta realidade. O primeiro a revelar a cleterioração dos solos devido ao
ctiltivo inteiisivo, surge já eiii iiieados do séc~iloXV. Caclainosto alirti~ava:"As stins
teri-as costiiniavaiil dar a priiicípio, sessenta por ~1111,o qtic presentemente está recluzi-
do a trinta c q~iarenla,pnrque se vão cletcrioraiido dia a clia ''"7. A situação resultou da
solicitação do cerca1 para abastecer as cidades clo reino e praças afiicsiiias.
Rapitlamciite o cereal cedeu l~igaraos canaviais que eiii pouco leinpo clominaiati~
todo o espaço agrícola. A indústria que se proiiioveu lia rcctag~iardapara o í'abrico do
açíicar exigiu iiiiiito do q~iadronatural, laiiçando a ilha para um processo de clesllo-
rcslação c0111ei~~iscq~~Eiicias ii~~l)revisíveis.
Isto arraslou o solo agrícola da illia para a
quase total exaustão. Em 1689 John Ovirigton testemunha-o de forma lapidar: "A fer-
tilidade da ilha decaiu muito relativamente ao período das primeiras culturas. A cul-
tiira sem descanso dos terrenos tornou os fracos espaços ein muitos lugares e de tal
modo que os abandonam periodicamente, tendo de ficar de pousio três ou quatro anos.
Depois desse tempo, se não crescer nenhuma giesta como sinal de fertilidade futura,
abandonam-nos, como estéreis. A actual aridez de muitas das suas terras atribuem-na
simploriamente ao aumento dos seus pecados"".
A vinha e o vinho assumiram particular destaque na caracterização do processo
histórico madeireiise ao longo dos quase seiscentos anos de labuta. Desde os primór-
dios da ocupação da ilha até a actualidade o produto manteve a mesma vivacidade na
vida agrícola e comercio da ilha. Dos mais produtos não houve capacidade suficiente
para resistir a concorrência desenfreada de novos e potenciais mercados fornecedores
de aquém e além-mar. Os cereais tiveram saque fácil nos Açores, Canárias, Europa e,
depois na América, sofrendo, mais tarde, a concorrência do abundante fornecedor
americano. Apenas, o vinho resistiu a concorrência do dos Açores, Canárias, Europa
e Cabo da Boa Esperança, mantendo o tradicional grupo de apreciadores no velho e
novo Mundo. Esta foi uma situação vantajosa para o quadro natural, uma vez que as
exigências da cultura da vinha quanto a floresta era diminutas.

AS DOMINANTES DA ECONOMIA A G ~ C O L ANo . principio da ocupação da


ilha as necessidades alimentares e ritual cristão comandaram a selecção das sementes
que acompanharatn os primeiros povoadores. O precioso cereal partilhou com os
primeiros cavalos de cepas peninsulares o processo de transmigração vegetativa. A
fertilidade do solo, resultante do estado virgem e das cinzas fertilizadoras das
queimadas, fizeram elevar a produção a níveis inatingíveis, criando excedentes que
supriram as necessidades de mercados carentes, como foi o caso de Lisboa e praças
do norte de África.
Até a década de setenta a Madeira firmou-se como o celeiro atlântico, perdendo-a,
depois em favor dos Açores que emergem com uma posição dominante na política e
economia fninientária do Atlântico. Na Madeira inverteu-se a situação. A ilha passou
de área excedentária a dependente em relação ao celeiro açoriano, canário e europeu.
O estabeleciinento de uma rota obrigatória de fornecimento de cereal açoriano à
Madeira, criou as condições necessárias 21 afirmação da cultura da cana sacarina, pro-
duto tão insistentemente solicitado no mercado europeu. O empenho de todos no cul-
tivo do novo produto conduziu a afirmação preferencial de uma nova vertente da
economia atlântico-insular. A partir de então os interesses mercantis dominaram a
dinâmica agrária madeirense. Na ilha as searas deram lugar aos canaviais, enquanto
as vinhas se mantiveram de modo insistente uma posição de destaque.
Se o cereal pouco contribuía para aumentar os reditos dos intervenientes o mesmo
não se poderá dizer ein relação ao açúcar e vinho que contribuíram para o enriqueci-
mento das gentes da ilha. A própria coroa e senhorio fizeram depender grande parte
das despesas ordinárias desta fonte de receita. A par disso o enobrecimento da vila,
mais tarde, cidade do Funchal fez-se à custa destes dinheiros. O Funchal avançou para
poente e adquiriu fama de novos e potenciais mercados, mas foi de vida efémera.
Desde a terceira década do século XVI o açúcar madeirense foi destronado da posição
cimeira no mercado europeu, perdendo a preferência ein favor do canário o u
brasileiro, de inenor qualidade, mas coin preços mais conipetitivos.
A persistência de alguns lavradores, a celebridade da superior qualidade e a solici-
tação da doçaria e casq~iinhamadeirenses contribuiu para que a cultura dos canaviais
se inantivesseii~por largos anos atingindo, em momentos de crise lios inercados amer-
icanos, alguma p~!.jança.Mas O inadeirense, irreinediavelmente condenada a cultura,
foi forçado a canalizar todas as ateiições nas vinhas, fazendo-as assumir o espaço
abandonado pelas socas de cana. Os canaviais deram lugar As latadas e os engeiilios
desapareceram para se erguerem os lagares e arinazéns. Esta inudaiiça na estrLitura
prod~itivaprovocou alterações na dinhmica econóinicil da ilha. O açUcar definia ape-
nas ~inicoiiiplexo industrial, o engenho, onde decorria a respectiva safra. O vinho
necessita de dois espaços distintos. O lagar onde as uvas davam lugar ao saboroso
iiiosto e os annazéns da cidade onde femienta e C preparado para atingir o necessário
aroma e Doirq~rct.Destc modo o agricultos, coloiio ou não, detiiilia apenas o controle
da viticultura, ficando reservado ao mercador o moroso processo de vinifícação. Por
inais de dois séculos a vinha e o vinho surgirain como os principais agliitinaclorcs das
actividades econó~iiicasda ill-ia dando ao ineio rural e urbano desusada animação. O
Furiclial cresceri em iiion~imentalidadee as principais famílias reforçaram a posição
econóiiiica.
A conjuntura da primeira metade de oitocentos, demarcada pclos conflitos
curopelis, guerra de ii-idepericlência das colónias e associada aos thctores de origein
bolânica (oiclio-1852, filoxera-1872) conduziu ao paulatino degeneresciineiito da
plijança ecoiiómica do vinho. Coino corolário, do processo, sucederaili-se as fomes,
nos anos rl~iarciita,e a sangria emigrtttória nas clecadas de 50 e 80, para o coiitiiiente
aniericano, onde o inadeirense foi substituir o escravo nas plantações. Por uin pei-io-
do de inais de setenta anos a coiifusão ~tistitucioiiale eco~lórnicaalargou-se a o
domíiiio social e aliiiientar. Assiiii, sucederam-se novos produtos de iinportação d o
Novo Mundo que gaiiliarain Liina posição de relevo na culinária inadeireiise, com
espcciiil destacl~iepara o iiiliaine e a batata. A par disso dcfinirain-se políticas d e
recoi~versãoe cnsaios de iiovos produtos com valor coinercial (tabaco, clii, ...).
A einigiaaç50 oitoccntista e no período após a segunda Guerra M~inclialfoi respori-
sável por uin acent~iacloprocesso de dcsertificação do interior da ilha e arrastou inuitas
terras para o abandono. Foi o iriicio de ~ i i i ipousio necess8rio para as terras j L de si
esgotadas coin a exploraç80 intensiva das ciilt~irasde subsistência e exporlaçiio. As
políticas cie reíiorestação eiii aiiibos os iiioineiitos permitiram o fhcil auineiito da niail-
clia florestal, sem conflito coin a actividade agrícola.
E111pleno apogeu cia iiidústria vinhateira tivemos a paulatina afirinação de ~ i mIIOVO
sector de serviços. Na segunda metade do século XVIII a ilha assiiiiiiu um outro papel.
Alguém ter8 dito que os pritneiros promotores do t~irisinoinsular foiãiii os gregos,
inas os priineiros tiiristas í'orain, seiii diivida, ingleses. Os gregos cclebrarain, na pro-
lixa criação literiiria, as dclícias das ilhas sit~iadaspara além das colunas de tlérciiles.
Os arq~iipélagosda Macleira e Caniirias, são riii~ologicametitecorisideraclos a inans5o
dos deuses, o jarcliiii das delícias, onde eles convivem com os heróis da mitologia.
Todavia Iòrain os ingleses, ainda que muito inais tarde, a clesl's~~tsir da aiiibiência par-
adisiaca, reservada aos deuses e Iieróis, escolhendo-as como rinc2io de perinanência,
breve ou prolongada. Diz-se até que a primeira viagem de núpcias, embora ocasiorial,
foi protagonizada por um casal iiiglês. Mais uma vez estainos perante a lenda que
ficou conhecida coiiio de Machim. Na verdade, foi esta visão mítica, perpetuada 110s
relatos antigos ou reavivada nos testeinui~hoscoevos, que motivou o desusado inter-
esse do inglês pelas belezas aprazíveis da Madeira. A Europa oferecia ao aristocrata
britânico demasiados rnotivos que concorriam coma o "grand tour" europeu.
O ilhéu, autêntico cabouqueiro e jardineiro do rincão, estava por detnais einbren-
hado na árdua tarefa de erguer paredes e arrotear os poios, e por isso manteve-se
alheio às delícias. Para ele a beleza agresle dos declives não passava de niais uin
entrave na luta contra a natureza. Enquanto o inadeirense cavava e traçava os poios o
inglês entretinha-se nos passeios a cavalo ou em rede pelos innis recônditos locais da
ilha. A verdadeira descoberta da Madeira foi obra dos ingleses, mas ao português deve
ser atribuído o mérito do descobrimento do caminho para cá chegar,

AS ROTAS DE MIGRAÇÃO DE HOMENS, PLANTAS E MERCADORIAS. A


valorização do Atlântico nos séculos XV e XVI conduziu a uin intriilcado traçado de
rotas de navegação e comércio que ligavam o velho continente ao litoral attlântico.
Esta niultiplicidade de rotas resultou das complementaridades económicas e das for-
mas de exploração adaptadas. Sc é cei-to que estes vectores geraraiii as reFeridas rotas,
não é menos certo que as condições mesológicas do oceailo, doiliinadas pelas cor-
rentes, ventos e tempestades, delinearam o rumo. As mais iinpostantes e d~iradouras
de todas as tragadas neste inar foram sem dúvida as da Índia e Índias que galvai~izarani
as atenções dos inonarcas, da população europeia e insular, dos piratas e corsários. A
par disso a Madeira susge, nos alvores do século XV, como a primeira experiência d e
ocupação ein que se ensaiaram produtos, técnicas e estruturas institucioiiais. Tudo isto
foi, depois, utilizado, ein larga escala, noutras illias e no litoral africano c aniericaiio.
O arquipélago foi, assiin, o cenlro de divergência dos susteritáculos da nova sociedade
e economia do mundo atlântico: primeiro os Açores, depois os demais arquipélagos e
regiões costeiras onde os porhigueses apartaram.
A posição deinarcada do Mediterrâneo Atlântico no coinércio e navegaçiio allâiiti-
ca fez com que as coroas penins~ilaresinvestissein todas as tarefas de apoio, defesa e
controle do trato comercial. As illias eram os bastiões avançados, suportes e símbolos
da hegcinonia peninsular no Atlântico. A disputa da riqueza e111 inoviinento no oceano
sucede na área definida por elas, pois para ai incidiain piratas e corshrios ingleses,
franceses e holaiideses, ávidos das riquezas em circulaçno nas rotas ainericaiias e íiidi-
cas. Uma das maiores preocupações das coroas peninsulares foi a defesa das enlbar-
cações que sulcava~no Atlintico, evitando o contacto com os corsários europeus e
argelinos. A área definida pela Península Ibérica, CanLrias e Açores era o foco priiici-
pal de intervenção do corso europeu sobre os navios que transportavam açúcar ou pas-
tel ao velho continente.
A afirinação da Madeira resulta em muito do facto de ter sido o início cla presença
poituguesa no Atlântico, e o primeiro e mais proveitoso resultado. Gaspar F r ~ l t ~ l o s o ~ ~
testeinunha este papel de âncora atlântico quando a í i m a ".,. que Deus põs no inar
oceano ociclental para escala, refíigio, coIheita e reinédio dos navegantes..,". Vários
são os factores que se conjugaram para esta situação. A inexistência de população, e111
consoiiância com a extreina nccessidade de valorização para apoio das navegações ao
longo da costa africana, favoreccrain a rápida ocupação e crescimento económico d a
Madeira. Por isso, a afirinação do arquipélago inadeirense, nos priineiros anos dos
descobriineiitos, foi evidente: porto de escala o ~ apoio
i para as precárias enlbarcações
quatrocentistas, que sulcavain o oceaiio; impoi-tante área econóinica, foinecedora d e
cereais, vinho e açúcar; inodelo económico, social e político para as demais ii~ter-
venções portuguesas no Atlâ~itico'~".
O prolagonisino clas ilhas não se fica só pelos séculos XV e XVI, pois as naveg-
ações e explorações oceânicas lios séculos XVIII e XIX levam-nas a assuinir uina
nova T~inçãopara os Europeus. De primeiras terras descobertas passarain a campos d e
expcrin.ientac;iio e escalas retemperadoras da navegação na rota de ida e regresso.
Finaliliente, no século XVIII desvendou-se uina nova vocação: as ilhas como canlpo
de eiisaio das técnicas de experiinentação e observação directa, que coil-iandaina ciên-
cia das "luzes", e escala das constantes expedições científicas dos europeus. O enci-
clopedismo e as classiiicações de Linileo(1735) têiu nas illias Liin boin campo d e
experimentação.
O Iio~iieiiido séc~iloXVIII perdeu o medo ao inundo circundante e passou a oll~k-
lo com inaior c~iriosidacle,deste modo con-10 doi10 da criação estava-lhe atribuída a
inissão cle perscrutar os segredos. É este iinpulso que justifica todo o a f i cieiitífico q u e
explode na cciltúria. A insaciável procura e descoberta da natureza circundante cativou
toda a Europa, inas I'orain os ingleses que111 entre nós marcaraili preseriça, serido
inenor a de fraiiceses e alemães'"'. Aqui são protagonistas as Catiárias e a Madeira.
T~icloisto é resultado da Fuilção de escala h navegação e comírrcio no Atlântico. Foi
também aqui que a Iiiglaterra estabeleceu a base para a guerra de corso no Atlântico.
Sc as einbarcações de coinércio, as expedições militares cá tinha111escala obrigatória,
iiiais razões assistiam i s viagens cientííicas para esta paragem obrigatória.
As ilhas pelo eiidemisrno, própria história geo-botâiiica, levaram obrigatoriamente
a este primeiro ensaio clas técnicas de pesquisa a seguir noutras longínquas paragens.
As ilhas fòiain aiiida Liin ineio revelador da incessante busca do co1~11ecimeiilod a
geologia e botânica. Instituições seculares, coino o Br~tishMziseunz, Lineur~Sooety, e
Kcvv Gardcns, cliegarain a ei-iviai. especialistas a fazer recolhas. Os estudos n o
doinínio tla geologia, botânica c flora siío resultado da presença fortuita ou iiitei~cional
dos cientistas europeus.
Estai-i-iosperante uina iiloda do século XVIII que levou a que algumas instit~iições
cientílicas curopeias licassein depositárias de alg~iinasdas Colecções: O M Z ~ S E L I
Britlinico, a U17iveli~i~/cr~Je de Kit'l, Uniilem~dndede Combridge, M~rseude (eiLstór4iu
Nntzir.ol de P~rr-u.E, por ci, passarain destacados especialistas da época, sendo d e
clcstacai Jolin Byroi~,Jaines Cook, I-Iuinbolt, Jolin Forstec A lista é infindável, c o m
taiiclo-se, entre 175 1 e 1900, quase uina centena de cieiitista. Estáinos perante ui-iia
riqueza liistorial q ~ i aiiida
c não foi devidamente explorada e que aguarda por uiii eslu-
do e valorização. Jaines Cook escalou a Madeira por duas vezes (1768 e 1772), nuina
réplica da viagein cle circuiii-navegação, inas apenas corn interesse científico. Os ciet-i-
tistas qlie o acoinpaiihaiam ii~troineterain-seno interior da ilha à busca das raridades
botâi~icaspara classificação e depois revelação h coiilunidade científica.
A tudo isto ír de refereiiciar a f~inçãode hospital para a cura da tísica pulmonar ou
de quarentena na passagem do calor tórrido das colónias para os dias frios c iiebulosos
da vetusta cidade de Londres. Esta f~inçãocatapultou a ilha para tima evidente afir-
mação. O debate sobre as potencialidades terapêuticas da climatologia propiciou urn
numeroso gnipo de estudos e criou uma escala de estudiosos, dentro e fora da ilha. As
filas interminiveis de aristocratas, escritores, cientistas deseiiibarcaram no calliau e
foram encosta fora à procura do ar benfazejo da illia. Vein daqui inuito do espólio que
hoje está disponível na Cosa Mzzneu Frederico de F d t n s , Casa Mztsezr Bnrbeito de
Vnscor~celose Biblioteca M~micipul.
A Madeira recriou os initos antigos e reservou-lhe uin ambiente paradisíaco e
calmo para o descanso, ou, como sucedeu no século dezoito, O laboratório ideal para
os estudos científicos. De acordo com isso as illias toinarain-se no principal alvo de
atenção de botânicos, ictiólogos, geólogos, o que levou Alfredo Herrcra Pique a con-
sidera-las "a escala científica do Atlântico". Forain os ingleses os prinieiros si desco-
brir as infindiveis qiialidades de clima e paisagem, e a divulga-las junto dos coiiipa-
triotas.
E esta qliase esquecida dimensão da ilha corno n~otivodespertador da ciência e cul-
lusa europeia desde o século XVIII que importa realçar. A Madeira parliu cle cainpo
experimental dos descobrimentos para a afirmação, coin a filosofia clns luzes, como
novo campo experimental de nova ciência que clesabrocha, mercê da nova f ~ ~ i i ç ãdeo
escala das expedições científicas. Mais uma vez ficou demonstrado O activo protago-
nistiio da Madeira no devir histórico ocidental..
Para os navegadores do século XV aqiiilo que inais os einocionou foi o dei~so
arvoredo, já para os cientistas, escritores c tleinais visitantes da ilha a partir c10 séciilo
XVIlL o que mais chainou i atenção é, sem duvida, o aspecto exótico dos jardins e
quintas que povoaram a cidade. O Funchal tratislòriiiou-se num vcrdadciro jarcliiii
botânico. Na Europa os jardins botânicos coineçarain a surgir desde o século XVI. Ern
1545 temos o de Pádua, seguindo-se o de Oxford ein 1621. Ein 1635 o de Paris pre-
ludia a arte de Versailles ein 1662. Eni todos foi patente a iiitençtio de fazer recuar o
paraíso'". As ilhas não tinham necessidade disso pois já o eram iialuralinente.
Desde a segunda melade do século XVII qiie ii atitude do liorneili perante os plaii-
tas iiiudou. Em 1669 Robert Morison publicou Prnelztcii~rBota~zicn,coiisidcri~dacoiiio
o principio do sistema de classificação das plantas, que tem ein Caii V011 Linné
(Linnaeus) (1707-1778) o principal protagonista. Coiiteiiipor8neo clele é o Cointc de
Buffoii que publica entre 1749 e 1804 a "Histoire Nal~irclle,générale ec parliculiére"
em 44 voluiiies. Os jardins botiinicos do século XVIII deixaram de ser riina recriação
do paraíso e passaram a espaços de investigação botiinica. O Kew Gardens eiil 1759
é a expressão disso. Note-se que Hans Sloane (1660-1753), presicleiite CIO Royal
College of Pliysicians, da Royal Society of Loiidoi~e fiiiidaclor do British Museuiíl,
esteve na Madeira no decurso das expedições que o levaraiii às Antilhas i~iglesas"'~.
A aclimatação das plantas com valor ecoiióniico, ~iiedicinal011 ornainenlal assum-
iu cada vez inais iinportância. Alias, o interesse medicinal provocoii desde o século
XVII o desusado e[~lpenlio"'~. Em 1757 o inglês Ricarclo Carlos Siliilh fiinda ao
Fuiiclial uiil destes jardins onde reuniu vhrias espécies coin valor coiiiercial. Já eiil
1797 Doinirigos Vaiidelli (1735-1816) e João Francisco cle Oliveira no esludo sobre a
flora apresentaram no ano iiiiediato uin projecto para uin viveiro de plantas, qcie foi
criado 110 Morite e iiianteve-se ate 1828. O Natnralista fiaiicês, Jeaii Josepli
dlOrqriigny, que ein 1789 se fixou no Fuiiclial, foi o priticipal inentor da criação da
Socie~luu'c.P u t ~ ~ ó t i cEcoi7Qinicc1,
a, cz'e Co~rzkrcio,Agr.rc~iltl/~c~
Ciêt1cia.s e Ai.te,s, enipen-
hada rio estudo e div~ilgaçãoda Ciência, mas foi riin projecto efémero, i.iiercê da con-
denação ein 1792 do seu proinotor como nzuçorz.
A ideia de progresso alia-se coin o conheciinento do meio natural que 110s rodeia"".
De acordo com Elizabeth B. Keeneyl"Via Ainérica do Norte a partir de 1820 a
Botânica tornou-se muito popular, fazendo surgii-a figura do "botaiiizers", isto é aque-
les que por passateinpo se declicavaiil a colecção, identificação e preservação das
espécies botânicas. A História Natriral era vista como um boiii exercício para a mente
dos jovens"". Passados vinte anos o espectro i-iiudou no sentido da especialização
sriigindo associações especializadas coino Srníthsonint~I1~.stitl/tioti(l846)e Ame~ircirl
Associalion .for the Adi~nizccmci~t c!fScience(l848). Eiii Londres Iiavia tiveinos ein
1838 a Botaniccrl S o c i c s Clzrb. E111 França, por iniciativa de G. Saiiit-Milaire(l805-
1861), foi criada em 1854 a Socleté Níitioncrle cle Pi-otection de Iíi Nc7tui.e t't
D 'occli~~zatczlion. Os franceses a pai-tir da obra de Buffon e Lamarckiaii foram os prin-
cipais difusores da iioção e prática de acliinatização. Tudo isto se ligou directalilente
c0111 O processo de coloiiização africana, assinalando-se no caso ii-aiicês o processo eiil
curso na Argélia1"'.Augiiste I-Iardy é peremptório na aproxiinação: "it may be said that
the whole of colonization is a vast deed of acclimati~ation"~"". Esta opqiio ganhou
adeptos e111 tocla a Europa e iiiereccLi o seguinte con~eiitáriode Micliael Osborile"":
"Tlie proliferatioii of acclimatizatioti societies and its empires at niidcentury indicates
that acclimatizatioii stuclies were tied to tlie pan-European plienonienon of settlcr
colonies".
O ambiente cieiitifico europeu roi acolhido coni entusiasmo na Madeira. E I 1850 ~
Jose Silvestre Ribeiro, então governador civil da Madeira, avançou coin ~ i i i plaiio i dc
criação do Gabinete de História Natriral, a partir da exposição inaugurada a 4 de Abril
tio PaILicio de S. Lo~irenço.Mas foi tudo em vão, urna vez qiie a sua pariida em 1852
tudo se desfez. A 23 de Seteinbro de 1852 surgili a proposta de Frcderico Welwistschl'l
para a criaçgo dos jardins de acliiizataçiío no Funchal c ein Luanda"'. A Madeira
cuiiipriria o papel de ligação das colónias aos jardiils de Lisboa, Coiinbra e Porto. Este
bolâiiico alemão, qtic lèz algiiiis estiidos eni Portrigal, passou em 1853 pelo Fii~iclial
coin destino a Angola. A presetiça de outro aleinão na Madeira, o Padre Ernesto João
Schniitz, coiiio professor do seiiiin8rio diocesano, levou i criaçiío ein 1882 riin Mztseu
cIe Hi,stói*iaNcrtitr.ul, que liojc se eiicoiitra iiitegiado no Jardiiu botânico.
Passado Liin século o inleresse pela criaç8o cle rim jardiii~botânico voltou a mere-
ccr a atenção dos especialistas, ergiiendo-se eiii favor da criação na Madeira. Ein 1936
relere-se iitiia tentativa fr~istradnde uin Jc~izilm Zoolhgico e de Aclu17atrrp3o nas
Quintas Bianclii, Pavão c Vigia, que contava corii o apoio do Zoo de H~niii~zirgo"~. Etn
1946 Aiitóiiio de Sousa da Cainata recoineiidava a criaçgo de ~ i mjarclim colo~iial.O
al.~elode J. de Azeveclo Pereira1I4na "I Coiiferência da liga para a protecçiio da
natureza" teve iepercussão nas autoridades locais. Em 1952 adquiriu-se a Quinta do
Boiii Sucesso onde ticarain os serviços da Estação Agriria, iiias o objectivo era a cri-
açiio do Jarclirii Botânico qrie iiconteceii em 30 de Abril de 1960 por deliberação da
Juiita Geral do Disti.ito Aritórioiiio do Fuiiclial. Isto e o corolário da defesa secular das
condições da ilha para a criação e a dei~ionstraçãoda impoi-tâticia científica revelada
por destacados iiivestigadores botânicos que aqui procederain a e s t ~ d o s " ~ .
Ein qualqlier dos niomeiitos assinalados as illias cuinprirain o papel de ponte e
ineio de adaptação da flora colonial. Os jardiiis de aclimatação foram a moda do
inoniento e entre 116stivera111por palco as ainplas e quintas paradisíacas. O Marquez
dc Jácoine Correia1'5dentificaas do Palheiro Ferreiro e Magnólia coiiio jardins
botâilicos. Estas í'oram viveiros de plantas, hospital para acolher os doentes da tísica
pulliionar e outros visitantes. O deslumbramento acoinpai~l~ou o iiiteresse científico e
conviveii lado a lado coin as initmeras publicações do século XIX que o testeinuiiliain.
Os jardiiis, através da liarrnaiiia do aivorcdo fiomloso e das garridas cores das Llo-
rcs tiveram nos séculos XVII c XVII1 um avanço evidente. Os bosques deixara111 de
ser espaços de maldiçHo e as árvores entraram no quoticliaiio das classes altas, aliil-
liiitido-se ein tilas para dar acesso à casa de moradia. Os jardiils adqiiiriraiii a diiiien-
são de paraíso bíblico, de espaço espiritual e a expressão do doriiínio do Hoinein sobre
a Natureza1". Note-se que na Inglaterra do século XIX os jardins e as flores se tornam
~ ~ ~an~biênciachegou à ilha através dos inesiiios súbditos de Sua
niiiito p o p i ~ l a r c sEsta
Majestadc.
As ilhiis exerceraiii uni fascíiiio especial sobre todos os visitantes e parece que
iliiiica perderam a iinortal característica de jardins h beira do oceano. Deste moclo
podereinos alíriiiai; coin propriedade, que í'orain as illias jardins e que os jardins coli-
tiiiuain a scr o encaiito dos que as procuram, sejain eles turistas ou cientistas.
A História do Meio Alnbieiite e Ecológica veio fazer apelo de novo ao pioneirisino
cln Madeira, naqiiilo qiie o devir inostra a gesta europeia deslniidora do iueio eilvol-
veiite. O processo de expansão europeia não se alirmou a l m a s pela iiovidade de
descoberta de novos iii~indos,tnas tainbéin pclos efeitos destrutivos da presença do
eiiropeu sobre a Ijuiia c flora dos novos espaços. Tiido isto foi coilseguido por exigeti-
cias das Icis do iiiercado de então que defiiiiraiii uina eslnitura de nonoc cultivo e
exploração intensiva do solo, através de cirlt~irascom elevado reiidiineiito económico,
c01110 foi O caso da cena de açiicar. Da leitura dos clássicos e tla produção bibliogrh-
fica recente releva-se a situação particular que toca de novo ao arquipélago da
Madeira. A Madeira não se posiciotla apciias nos anais da I-Iistória Universal coiiio a
priiileira área de ocupação atliiitica, pioiieira tia cultura e divulgação do açúcar ao
Novo Mundo, inas tainbém con~oo priiiieiro exemplo dos efeitos nefastos dc uma
cxy>loraçãoiiitensiva"".
A expaiisão europeia não se rcsuinc apciias ao encontro e desencoiitro de Culturas,
iiias tainbém niaica o início de uin processo de trai~sforiiiaçSiOO L ~degradação do iiieio.
O europeu carrcga consigo a fauria e Ilora do seu coiivívio e com valor económico,
que irão provocar prof~ii~das mudailças 110s i~ovosecossisteinas. Coin isto acoilteceu
cliie o espaço vivido e iiatural se utliversalizou. Nos séculos XV e XVI forain as via-
gens cle clescobriinei~to. ciiq~iaiitoiio séc~iloXVIlI tivemos as de exploração e
descoberta cla natureza coinandadas por inglcses e franceses.
A consciência ecológica do Iioinein Iiodieriio serve de apelo a esta viragem regrcs-
siva i I-listória da i-lumanidade. O preseiite actua assiin coili expressão incdihtica para
a rlescobcrta desse passado que pocle ter alguiii efeito pragmático nas actuais poIiticas
de defesa do ainbiente, parsi que se alcance o liiniai do século XIX com inais e iilel-
hor ambiente, preservando aquilo que os nossos antepassados nos legarairi

O TURISMO E A DESCOBERTA DA NATUREZA. A partir da segunda metade


do séciilo dezoito foi a revelação da Madeira como estância para o turisino terapêuti-
co, inercê das eiitão consideradas qualidades profiláticas do clima na cura da tubercu-
lose, o que cativou a atenção de novos foi,asteiros. A tísica propiciou ao longo do sécu-
lo dezanove o convívio coin poetas, escritores, políticos e aristocratas. Não obstante a
polémica causada cm toriio das possibilidades do sistema de cura a ilha permaneceu
por muito tempo corno local de acolliiinento de doentes, sendo considerada a priineira
e priiicipal estância de cura e convalesceiiça do vellio continente.
A pieseiiça, cada vez mais assídua, destes doeiites que provocou a necessidade de
criação de infra-estnit~irasde apoio: sanatórios, Iiospedageiis e agentes, que serviraiii
de interinedihrios entre os forasteiros e os proprietários de tais cspaços de acolhirueii-
to. Este íiltiii~oé o prelúdio do actual agente de viagens. O turisino, tal coino hoje o
cntendeiiios, dava os primeiros passos. Coiiio corolário disso estabeleceram-se as
primeiras i~ifra-estruturashoteleiras e o t~irisinopassou a ser liiiia actividade orgarii-
zada coin urna f~inçãorelevante na ecoiiomia da illia. Mais uma vez o inglês foi o pro-
tagonista principal.
A forte afliiência de estrangeiros coincidiu coin a época de euforia da Ciência nas
Acadeinias e Uiliversiclades europeias. Desde finais do siculo XVTI as expedições
científicas erani coinuns e o Funclial foi uin porto f~indaiiientalde escala, para iiigle-
ses, franceses e alctnãs. A fiiiição do Funchal coiilo porto dc escala das navegações
oceânicas e estSiiicia de turismo terapêutico contribuiu para valorizar o papel da ilha c
justifica os iiiíiineros estudos cieiitíf~cosou de viagem.
O Turisiilo caminliou lado s i lado coin o viiilio e o aparecimento rle ilovas activi-
dades. A viiilia persistiu lias latadas e fez-se coinpanlieiro CIOS viiiieiros e bordadeiras.
Esta hariiionia iiiarcliou a favor da ilha e tornou possível a existêiicia de várias 1Bi-mas
de actividade que garantiram a sobrevivê~icia.A variedade foi a receita certa para
niaiitei de pé por algum teinpo a frágil economia insular. Na década de quareiitii
defiiie-se o "coinércio, a navegação o tiirismo, os graiides prop~ilsoresdo deseiivolvi-
inento ins~ilar".As actividades ein torno da obra de vimes e bordados tiveram nos
estrangeiros priiicipaliiieiite ingleses os principais proinotores.
A priineira iiietade da presente c~ntíiriafoi marcad:~por prof~indasmuclaiiças na
ecorioiiiia inadeireiise. Primeiro as guerras inuiidiais ( I 9 14- 19 e 1939-45) e depois os
problemas políticos e ecoilóinicos inarcaraiii este inoinento negro da vida inadeireiise.
A guerra evidenciort a fragilidade da ecoiioiiiia da illia e evidericio~i a extreiila
(lependência do mercado externo. Os probleinas ecoiióiiiicos arrastasaili coiiv~ilsões
sociais que se misturaram coiii as polilicas. Assim, tiveinos eiii Fevereiro de 193 1 a
Revolta das Fariiilias, a que se seguiu eiii I936 a Revolta do Lcile.
Para iiiuitos madeireiises a solução foi a emigração para o Brasil, Veiiezuela, USA,
Cuiaçau. O Brasil coniinuava a ser o iiosso El Dourado. A einigração fiiiicioiiava cm
todos os tempos coiii válvula de escape para a miséria da sociedade. As medidas clo
governo, coin a Coinissão de Aproveitaiiientos I-lidraulicos e as iniciativas qiie pro-
moveu atenuara111 para algumas fainilias os efeitos cla crise. Começava um plano de
fomento de infra estruturas coiisideradas priinordiais para o progresso da ilha. A rear-
ganização do sistema de regadio, que através de novas levadas iria pesnlitir urn maior
aproveiiaiiiento agrícola, o delinear de um plano viário, que possibilitou a aproxi-
mação das diversas localidades da ilha e um progresso har~nonioso.
No passado foram as condições do ineio que fizeram da illia uin dos inotivos priii-
cipais de atracção turística. Hoje o turista é outro e por isso também as exigências são
diferentes. Assiin aos motivos ainbientais aliam-se os culturais, passando os dois a
andar de braço dado. É a simbiose do "grand tour" europeu com o turisino terapêuti-
co insulas. A ilha continua a fascinar cientistas e visitantes. O clima, o eiideinisino, as
particularidades do processo Iiistórico, a evidência na História do Atlântico fazem
dela, ontem como hoje, uin pólo cliave para o co~iliecirilentocientífico. Hoje a ilha é
tema de debale nos diversos areópagos cieiitíficos e cada vez mais se sente o apelo da
comunidade cientifica para o conhecimento e divulgação. Esta realidade vai ao encon-
tro do que Foi a História do arquipélago. Na verdade, o processo histórico da ilha, rel-
evado qliasc seiupre pelos aspectos econóinicos e sociais, esquece unia componeiite
fiindainental do nosso contributo: a inovação e divulgação tecnológica que transfor-
IIIOLI a rotina das tarefas ecoi~óinicase revolucionou o quotidiano dos nossos avoen-
gos. Mais do que isso, o rnadeirense, além de exímio inventor - na inevitável tarefa de
encontrar soluc;ão para as questões e dificuldades do dia a dia -, foi tainbéin uin efi-
caz divulgados da tecnologia.
A Madeira foi a primeira terra revelada do novo mundo, escala para a navegação e
expansão dos produtos europeus i10 inundo atliintico. Com o século XVIII a ilha trans-
foi~tia-seem escala obrigatória das expedições cientificas que fizeram saciar a
curiosidade inata do I-Ioinein das Luzes. Este protagonisn~oevidente da Madeira
condicionou a evolução do quadro natural e a relação do niadeirense. No primeiro
inoinento a ganância do lucro atiroii os colo~iospara uina exploração intensiva do
solo, procurando exaiirir o máxiino das suas riquezas. O desequilíbrio entre a perma-
nente solicitação de ~ i mcada vez iiiais vasto iiiercado externo e as liinitadas capaci-
dades dos recursos naturais da ilha eram evidentes e arrastaraiii-na rapidameiitc para
uina sitiiação de rotura. Primeiro foi a crise da produção cerealífera a que se seguiu a
da cana sacarina, todas elas em ultima estância resultado do esgotaineiito dos solos.
Perante isto, nuiii ápicc a floresta deu lugar aos poios e as culturas que depois fizer-
atii surgir o espectáculo desolador dos ten-enos inférteis abandonados.
A viragem ocorre a partir do século XVIII, sewiiido-se mais uma vez da íntima
aliança da ilha aos iilgleses. As enibarcações deste reino trouxeram-nos as plantas
exóticas para rccobrir o solo e os visitantes ávidos de coiihecê-Ias. Assiin se avançou
rapidainente para unia política de reflorestação quc einbclezou a cidade e arredores de
espécies exóticas e povoou as escai-pas escalvadas de pinheiros, eucaliptos e castan-
Iieiros. Taiiibém a curiosidade e espírito científico que inarcou o mundo britânico
desde o século XVIII teve os seus reflexos na ilha, provocando uma procura,
descoberta e estudo do mundo vegetal e minial da ilha. Este espírito científico cativou
tainbéin os madeirenses e levou-os a coiisiderarein o quadro natural de forma difer-
ente, fazendo frutiiicar o actual espírito ecológico, que rapidainente se transforiíio~i
numa moda do inundo actual.
CIENTISTAS ESTRANGEIROS NA MADEIRA
sÉcs. xvi-xx12í'

1601: Jran Mocquet[1575-?I. viajante francès, que 1768: Ch. Green. astrónomo hrilanico
deixou impressdes da sua viagem em Setcmhm.l3. Ancorou ao Funchal James
Iii~(~yr,seu Apiqrie, Asie. Indes Orienloles e1 Cook[1728-791. em viagem dc circum-nave-
Orridenrnle.s(I 6 17) gatão a bordo do navio Endeavour
1687: D r Hans Sloane[l 660 17531, médico c nahi- Joseph Banks. hntánico inglès
ralista hritánico Dr. Daniel Solander, naturalista sueco
1696: Rev. John Ovington. capelào Real e escritor 1772: Segunda passagem de James Cmk[17211 791
hritánico pela Madeira, sendo a descricão da Viagem
1720: John Atkins. médico naval e escritor hritani- da Autoria de George Fonter em Vqjage
C0 mr<ndelhe IVorld ( 1 797)
174i1: G e o y Anson[lh97-17621, corsário, naveg- Johann Rcinhold Fonter e George Adam
ador hritjnico. Autor do livro: Vobuge Rofind Farsier, cientistas aleniaes. Sào pai c filho e
lhe World ( 1748) iniciaram as exploracòcs botânicas na ilha.
1751: Dr Thom. Hcberden. cientista britanico John Georgc. naturalista británico
1755: J. de Bory. cientista, explorador e escritor 1776: Francis Masan, btánico ing1i.s
1764 Comodoro John Byron. navegador e explo- PmT. Downe, kilanico ing1i.s
rador hritánico 17x5: J. F. Galaup de Ia Pcrouse. navegador e cien-
1760: Samuel Wallis[1728 951. oficial de marinha. tista francfs
cientistl. Entre 1766 e 1768 Tez viagem de Eng. Maneron, cientista Trancès
circun-navegacão no HMS Dolphin Lepante Dagete. astrónomo francês
Capitain Philip Caneref[?-17961, célebre Prof Lamanun. lisico Trances
navegador ecicntista británicoqueacompan- ProT. Collignon, hotánico francès
hou a viageni de John Byron em ( 1 7 M ) Prol: Monge. cientista francês
1789: Dr. J. J. de Orqiiigny, rnedico c iiaturalista britânico
i?ancês W. P. Canniiig, ofic~aliiiarinha britãiiica
1792: Joliri Barrow[1764 18481, adniinistrador 1834: M. Rayniond Briicker, escritor fraiicês
naval e aventureiro britâiiico Dr. J. Mniisoii, iucdico e escritor britâiiico
Dr. Willian Gourlay, inédico, nieteorologista, 1835. Conie de Bediiiar, geólogo dinaiiinrqiiês
escritor britdnico 1836: Sir W. Jardin, aristocrata e oriiitogista
1799: Pascoal de Avezac Macaya, gcografo fraiicês britânico
Gabriel de Gorat, cieiilista 1837: Dr. Ciiarles Lemaiin, botânico britâiiico
Oscar Marc Cartliy, cientista 1838: J. D. Dane, geólogo britâiiico
1800: Turnbull, navegador britiiiico Jolin Drivet; escritor britânico
1802: Rohert Brow, botânico britânico Dr. Julio F. Lippold [1788-18521, botânico
Lieut. Colonel Roberts, oficial, escritor iileinllo, fez recolha de plantas para Iierbário
brilâriico Tenente Charlcs Wilkes [1798-18771, ali-
J. Adams, inédico, escrilor britânico cia] de Marinha norte aiiiericaiia e cientista
1805: Dr. F. Spilsbiiry, iiiédico iiaval, escritor 1839: Sir Jaines Clamk Ross[1800 621, cientista e
britânico oficial da Maritilia britlnica
1809: Robert Brown[I 773 18581, botinico britâni- Dr. Jarnes Macaulay, cieiilista e escritor
C0 britânico
1815: Cristiario Leopoldo de BucIi[1774-18531, 1840: Jaines Smith, geólogo britânico
geólogo, bot,?nico, escrilor alemão W. Wliite Cooper, escritor britanico
Clietien Sinitli, botânico nc>rueguês Zwinko Joksiinowilscli, paleontologists
1816: Cap. J. K. T~ickey,cientistzi britâiiico polilco
1817: Karl Friedcricli Philip von Martiiis[I794- 1841: Dr. Carl«s Guillieriiie Emilio Kaiiipfer
18681, botânico gerinâiiico. Na o b n Reise iii [1803-18481, cientista e escritor aleiiilo
Bi~osilioi (1823) refere algliri-ias espécies Dr. George Carl Friederiocli Tains [1813-
botânicas. 18631, iiiédico c escritor alemão
João Baptista Eniiiiitiel P«Ii1[1782-18341, Jíilio Rodolfo Tcodoro Vogel [1812-184 I],
botânico e explorador austrítico publicou botâiiico alemlo, recollieu plantas para her-
livro coin reFert.iicias d Madeira: 12eise iiii báiio ein expcdiçno ao Rio Níger.
Iriiicin von Brasilieii(l832) 1842: Ciip. Vidal, oficial da Marinha e escritor
1820: João Coiirado de i-IasseIt[1797-18231, Iiritânico
aleinão, fez estudos de Cicniias naturais rio Anclrew I'ickcii, artista britânico
arquipélago, deixando desenhos das 1844: Dliilcan Maclarcn, escritor brilâriico
Desertas, P. Saiito e costa da Madeira. Cliiirles dc Tryoii Montaleinberte, político c
Henrique KiiIi1[1797-182 11, oniit~logo cscrilor
alemlo, recollieii plantas na illia coiiio se vê 1845: Jeiine Wallas Penfold, botânica britânica
do seu traballio: Flura o ~ / e rBotnniscke Dr. Scliineller, escritor alem30
Zeirirng ( I82 1 ) Rcv. Jolin Mason Neale[1818-1866], imii-
1821: Giuseppc Raddi, botliiico itiiliaiio iiologista c pastor britânico
1822: Di: l'iarks, cientista britânico Guillieriiie Frederico Jorge BEI-íN, iiiédico c
1823: Prol'. Karl Mayer, geálogo gcrniaiiico nat~iralistaalciiião
T. E. Ro~lwicli,iiaturalista hritâiiico 1846: Til« Oiiiboiii, escritor italiano
1824: Dr. CC II-eiiieken, especialista pulnioiiar Johii Osboriic, escritor britânico
britaiiico 1847: T. Vermon Wallastan, naturalista britânico
I825: Kir-vaii, iiatiiialistn, meleorologisia Rev. W. Marcoui t, ineleorologista britânico
H. Nelson Colcridge, cscrilor britdnico Erluiirdo Hildebraiidt[l817-186x1, piiitor
1826: Di:Rciitoii, Médico, escril~irbritânico alenilo. Registou alguns inotivos da
Rev. '~lioniasLowe, sábio nutunilistii britâiii- Miideira.
C0 1848: Ctiarles Mac Euen, ineleorologista atiieri-
1827: Christian Frctleric I-loll [ I 794-1 8211, botâ- can«
iiico gcriiiânico. Coin virios estiidos osbrc a Frank Dillon, escritor e artista britânico
botânica da Mndcirn A. Few, escritor britaiiico
Rev. Janies Biilwer, tleseiiliista britânico E Kcnwortliy Brown, escritor britâiiico
1828: Pliilip Bakcr Webb [1793-18531, bolanico Dr Georgc I'eacock [1791- 18581, tcólogo c
Do ÉDENA AKCAIIE Noh

astriirioiilo gcrriiâiiico, ~iiihlicoiieiii 1 X50 o rio17


livro: On d ~ ,Igi~icril/~~i~i.
e crnd ~LJI (~f'lniicl Joào Ci~iillieriiieItcisz [ I 838-IOOX], geólogc
i11 hfLlc/ei/~[l aleiiiào, prow(Icu i reccillie tle tosseis in~iriii-
1849: Diic tlc Leiiclitciibcrg, I'riiicipe c oticiiil dii Iios de ~ L I Cp ~ i h l i c oc111
~ i estiiclos.
Mariiiha aleiiiã Aug~isloDavid Kroliri[l X03-I XO l 1, zoOl»g«
Sebastião Fisclicr [I806-1 87 I], incdico iiatii- cileriiâo
ralistn aleiiião. Fez alguiis cstlidos sobre os IX56. J. M . Zieglei;geólogo bi'itdiiico
cr~istáceosda Madeira. D. Arcliibald Colq~ilioiii Ross. m6dico
1x50: Prol.. J«:iiii Crist. Albers, riatiiralista aleiiião brit2iiico
Robert Wliite, escritor britãiiico 1857: N. I~laslopi\iliiiisciri, botãiiicii hrit2iiico
Eduard Veriioii d'i-larcorirt, ot.iiitologista c Cuiuotl. Wclleratort' Urbaii;cieiitista aiistrii-
escritor britdiiico c0
Dii Oswalcl I-lecr [ I 800- 18831, botãtiico c Di Fcrdiiiaiid Riltcr voii Hnclisietter, ge6lo-
ptileciiitolog» suiço, Iez vários cst~iilossol-ire go aiistrinco, piiblicoii ciii 1861 o livro
ii lii~iiiac geologiii da illia Mitcleirn Vortrag.
Jaiiics Ytile Joliiisoii, nat~iralistabriiânico Ricliartl C. Siiiitli, hotdiiico briiiiiiico
Eiigcne E. G. Joiies, escritor britríiiico 1858: Gecirgc Biisl<, prolbssor c iiatiiriilist;~britiiii-
Joliii Dix. escritor ainericaii« eu
Di:I! Gniiiici;tiii.dico e csciit»r IkiicEs Joàii J~iciibNocggcrntli[l7XX- 18771, ciiycii-
D. Iiaiiioii Mnsfcri.er y Art~iiiiibiiii, iiiitlico liciio de iiiiiias alctuão
esy>aiiliol 1850: I-leriiiaiiri Scliiiclit, escritor aleinão
Joaiii C'liristopli iillicrs [ 1 705- 1857], iiiétiico Ed~iiirtlo de Martetis[ l X3 I- 19041 zoólogo
e iiaiiiralist~i aleiiião. Pobliciiii iClrilcico- iileiiião
g~,rl/~liiriA/f~iilo.cnsi,s( 1854). 1860: Max Eiiiesto Wicliiira[l X 17-18661. b«tâiiic«
cai.10s. .Iorge Prcdcrico Hrirliiiig, gc6logo ;ileill,?o
aleiiiãc). Fez varies irivestig:ic;8cs geolhgiças 186 I: Sigur vnii Sivcr, cieiilist:~
dc q ~ i c~ ~ SLIL II~OL
p~lblictiçâo dc I1rCs livros. Di:0. I~lngcnt,cscritor :ileiiiZo
I85 1: JoZo Aiitciiiici Seliiiiidt [ I 823-1 ')OS], hotãtiico 1x62. Ui: Liebetrutli, hotânico iiiislríiico, recollin
alciiiiio algas iiinriiilias
1852: Ili: ICai.1 Mittcriiiaicr, iiikclicc) c iiictcc)rcilt~- Liiclwig Storcli, escritor iileiiiào
gista aleiii<Zo Carlos Ciuilliernie Jorge de Fritscli[lX38-
1853: Ui: Frieclrich Moriiii .loscpli. 1906], gcólogci c p;ilcoiitól«g« aleiiiiio
Wclwitçcli[l806-18721, iii6dico c botiiiico Maurício Alòiiso Stlil,el[lK35- lOO41, geólo-
~iiistriaco.I'erteiicc-llic a piuliostii de criiição g» e esploi.acl«r aleiiiiio
de iiiiia jardiiii de acliiiialaçio ilc ~ilaiit;ispara 1x64: Dr. Robert Boog Watsoti. ciciitisl;i hiitdiiico
o Fliiiclial Juse~iliiiiede Nciivillc, cscritcifii li.ariccs;i
Cliarles Lyell, ge6logo bt.itdiiico Ileriiinii« C«cliii1s[lX37- lC)05]. gcólogii
Di:Cicorge Hzirliirig. gcólogo ;ilciiiàci ~ilclllii«
Jaiiies Maclteiizie Bloxiiin, escritor bi-itdiiico 1865: E. C'osson, iiat~iralistali.aiicfis
Çlinrlcs R~iiihiiiy,botãiiico e p:ilcoiitol«gistti Dr. Carlos Iiiácici Leolioltl Kiiy [ I 84 1 - I 9 161,
briifiiiico boldnico olciiião
1x54: Robert Mac Aiitlrew, ciciitista e escritor 1860: J. Jiiratzk~i,ciciitista ~-i«l;ico
brit;iiiico Eriicst I-liiccltcl[l 834-l9lt)], z»hl«go c IilO-
T. S. Dystci; escritor Iiritiiiiico s o b nlciiiRo
Willi:ini I-laclliclcl. cscrilor brilfiiiico .I.N. Quitit~is,escritor hritiiiico
Cliarles I'crrcyiiioritl. csci.itor fiaricfis Cap. F. Noi,ii~aii,hoiiiiiico Liriiãiiico
Jacob Melcliior Zieglei.[I 801-18831, c;irLd- Cciilos Aiig~isto Júlio Milclc[ 1824- I 8 7 11.
gralò s~iíço. I'iiblicoii cin I856 dois iiiapas botâiiico nlciiião cspecialisia oiii ICtos
sobre a Matlcini. Ricardo OrccllT IH20- IX1)21. iii&clico c zoól«-
1855: Dr. S. Fioclici; tiii.tlic« alciiiãii go iileinài)
Di: S. Liintl, iiiédici) iiieleorologisla britiiiico .loi,gc M:iti;is tlc M:irteiis [ 1788- 18721,
I-lcriiiiinii Scliiiclit [I8 14-18641, hoiãiiico biit8ri ico iilciiiãci
:tleiiiiio, ~ i r l i l i c oein
~ i 1850 ~iiiiestiido Iiiitâiii- I868: Ricli:iirl 1-1. Miijor; gcOl(igo e escritor liriiàiii-
cci: A~(Ic/~!~I~YIl ~ ~ i í / eTciw~~i/i,
i. i ~ i i i/~i,cr
f ~%~*gctcr- c0
Di: Rictiard Greelf, Doutor em Medicina e Alice Hakei; artista britaiiica
Filosofia. aleinão Helciie Xiiilor, escritora e piiitora britâiiica
E. Cossori, cientista Bertoldo Stciii[ 1847-18991, bolâiiico aleirião
C. IJ1i. Kerliallet, cieiitisla li-ancês Frcderico Carlos João Sciiiitz[1850-18951,
Augtisto I<rempelliliber[l X13- 18821, boti- hotâiiico alcinão
nico aleiiiào 1883: Alplioiise Milne Eclwards, cieritisia tiritâtiico
1870: Fred. dii Cane Godmnnn, botâiiico britiiiico 1884: JosC Scliinter[lX37-18941, botiinico aleiiiào
Coiite de Goimpy,escriior e cieiitistii francês 1885: Di:Karl L4idiiiaiiti, botâiiico sueco
Dr. Micliael Grabliaiii, iiiédico, esciitor I-lcnriqiie Oscar Leiiz[l848-19251, gecigiafo
britâiiico. fixou-se c explorador austríaco
1871: Jiilio Fer~iaiidotle Haiin[I 839-1~12l],fisicoe 1x86: IJiof, Robert Collet, cientista franc@s
nietere0logo aleinso Valdciiiar t-lartwig[18S1-1901], oriiilólogo
1872. Jacob Ricriido SeiiCter1184 1 - 18871, t'ísico aleiiião coiii vdrios cstudos sobre a Madeira
aleiiião Adiilbcrto Gebecb[l842- 19091. bricilogo
Aloísio Pokoriiy[l826- 18861, botêiiico aleiiião
alenião I 1887: Jose Eriicsto Stizeiibergr[l827- 18951,
1873: Filipe Guillicriiie Adolf~>H~astiaii[I826- botaiiico aleinRo especializndii eiii liqiieiies
19051. expcdicioiiisk aleiiiàii I . lòi~ipso~i,escritor briliiiiico
I-ieriiiaiio I-lciiriqiie Aug~islo Luis Soyaiix L.. Mnnclioii, escritor i'raiicês
[1852-1, botiiiiico alenilo I 1888: A. Saiiilcr Ei'owii, escritor liritâiiico
1874: Sir Williaiii Toiiipsori-Lord I<elviii, cieiitista I Dr, Cliarles Oinnes, inidico espccialistíi
brilânico iiil11ces
Pe. Eriiest João Scliiiiitz[ 1845 - 19221, Dr, Eugeiiio Feriiaiitlo Cliristinniiri [1863-
oriiitblogo aleinà<i. Piiiidou eiii 18x2 o 18941, iiiédico nletnão. Pulilicou eiil 1889:
iiiiiseLi de I-listbria Niihiral rio Seiiiiiihrio
Diocesario do Foiiclial
1 F!~ttc/il>iibi
oufMllcleiri~ieidreln Cllitvi
Alexandre Fcriiiintlo Koeiiig [1858- 19403,
Cíirlos AritOiiio Weriier I-iiiesker[lX49- orriilólogo aleiiiá«

~
19281, iriedico e oriiitólogo aleinão 1890: Robert Collct, icliologo Director CIO Miiscii
1875: Patilo Laiigerliiiiis [ 1847-18883, iiiédico e de Crisliniiia
zoólogo aleiiiáo. Publicoii / ~ ~ l l t d ~ ~ l ~ ~ / l ~ f r ! rBeroii vali Benedeii, escritor belga
~V/c~cieircr( i 885) 189 I: M~irq~iis degii Alliizi, (Iiploiiiata, escritor ital-
1877: Green, nstr6nomo britiiiiico itiiio
1878: D. Veiilura Clillejoii, escritor c tliploiiirita 1892: Alliert Girarrl, naliiralista, oceaiiogralii,
espanhol fraiicês
1879: 1-1. Grey, escrilor britiiiiic« 1893: Lollinr Riierliger, csludioso dos ti~iiiiipodcs
Ricardo Fiiize[l84 I - 19001, botãiiico nlciiiiio, da Mridcirn
reccillia plntitas para IierbBrio 1894: C. A. Ciorcloii, escritor britâiiico
Gastoii Leriiay, escritor Iiaiicês Lordc Walsiiigliciii, ciciitista iiigês
Dr. Paul Lagerlians, cicritistn I'. Murray, boilnico iiiylês
Príncipe. Alberlo (10 Moiiaco, cscritor c cicii- Einilio Krncpcliii[I856-19261, botãiiico c
Lista oceaii0gi.aCo ziiiilogo alcmiii~
1880: Juli~isGoltlscliiiiitli,iiié(lic« e escritor nlciiiáci 1895: Fricilricli Wilheliii Boseiibcrg [ I 841-1 9021,
Deriiiis Eiiibleton, escritor briiânicii x«cíl«go nlciiiiio
Dr. Spencer Wells, i~iCclicoc escritor britiiii- Dr. Robcrto Latzcl 11845-10 191, zoblogn
C0 aiistrhco
Gillieriiie Joigc Riltcr[lHSO-19261, pnisii- Aiigiislo I-leririque Forel[lX48- 1931 j ciit«-
gisia e litbgriilò rilciri8o. Visitou :i Mnclcii.ii inblogo sliiço
ein 1880-82, IC)OX c 1909 1896: W. I-larlwiiig, oriiilologista atisti'hco
188 1 : Dr. Sacoiid, inbdico hiicês es~ieciaiistii11~11- I-leclor Lcveillii, bot8nico Ihiicês
111o1111r Eriicsto .loúci Oifio I-lnrtcrl [IX59-1933],
J. M. Renclcll, escritor briiâiiico ariiit0logo iilciiiiío
1882: Cap. Enrico Albcrtis, tiatiiinlista iinliíiiio I'riiilo Gerliartl Teiiiloro Grasscr [1864- '11,
E. Gai-tliici; zoblogo c escrilor ininertilogislci alciiião
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113 Cisar A. Pestana, A db~leii'r~ Collrirci e P(iisugeri~,Punclial, 1985, p.65
1 14. "U111 jardiiii botâiiico iiii Madeira", iii Dcrs ili.tev e dei 1lisirir.io c l M~rrrlcii-o,
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1 15. Cf Boleli~iido Jiii?/ci Geizrl do Dislrilo Aiildnoino du Firiicl~nl,ALii-iI de 1960; Riii Vieira, "Solire o
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Visitutile.~e E~crilosGeniiríi7icos n'cr hlorleil.(r.1815-1915, Fuiiclial, 1997.
Quereis água de rega para fertilizardes vossos campos, para cultivardes terrenos
áridos, até hoje incultos?
Quereis conservar e aumentar as fontes que existem e fazer aparecer outras novas?
Quereis chuvas mais frequentes , mais igualmenie distribuídas?
Quereis melhor, o clima ?
Quereis mais igualdade nas estações?
Conservai como objectos sagrados os arvoredos que existem; plantai, semeai, criai
novos arvoredos."
[CORREIO DA MADEIRA. N I. 32 , sabbado 8 de Setembro de 1849, p.l]

No inicio o denso arvoredo que deu nome a ilha. Mas a acção do homem con-
tribuiu para a total transformação. Foi um esforço hercúleo por parte do colono tal
como nos descreve de forma poética Vieira Natividade(l947). Esta mudança é inter-
pretada por Ferreira de Castro: "A ilha deixara de ser apenas bosque, para ser bosque,
horta e jardim"'
No século XIX o manto florestal da vertente sul da Madeira havia atingido o limi-
te. As encostas estavam totalmente escalvadas. A política de protecção das florestas
que se havia incrementado desde o século XV não teve efeito ou incapaz de corres-
ponder a cada vez mais incessante procura de lenhas e madeiras. Foram os efeitos
devastadores das aluviões de 1803 e 18 15 no Funchal que fizeram com que as aiitori-
dades despertassem para um conjunto de medidas mais eficazes de reposição flore-
stal. De acordo com o relator da aluvião de 18 15 a "natureza [estava] cansada de ser
liberal"'. Este q~iadro é percebido e testeiriunhado desde muito cedo pelos
estrangeiros. Eles não se cansaraili em considerar a ilha, fundamentalmente a área da
cidade e o norte, como uin jardim, um paraíso'. Mas esta opinião, habitualmente
consignada nos guias de turisino, contraste com o testemunho atento dos botânicos
que no decurso dos séculos XVIII e XIX a frequentaram.
A priiiieira e abalizada opinião é de John Barrow ein finais do século XVIII. Foi
ele o primeiro a dar conta do desaparecimento de algumas espécies como é o caso do
cedro4. Utn dos factos que charna B atenção prende-se coin a pei-i-iianenteazáfama de
mulheres, jovens e idosas na colheita de lenhas para a venda na cidade5. Estes
lerlhadores sem escrúpulos, segiiiido Isabella de França, cortavam o seu e alheio sein
qualquer critério: "encontrani-se com frequência, naquelas iinediações, homens e
mulheres com carregamentos de troncos de pinho i cabeça; vêm vendê-los ao
F~inchal..."!Já ein finais do século XIX Jolin A. Dix7 descreve o processo de
aquisição das lenhas e dificuldade da colheita: "Vivein nas inontanlias, onde cortam
a sua lenlia, começando o seu trabalho logo ao ainanl~ecer.Preparam a lenha, e
trazem-nas à cabeça para a cidade, às vezes duma distância de 3, 5, 7 e 8 milhas e
vendem-nos a 14 e 18 centimos (7 e 9 vinténs) quaiido achain quem lhos compre~n"~.
A visita 5i feira semanal da cidade leva-o a concluir que "a qualidade mostra a pouca
abundância de lenlia na Madeira "".
O Visconde do Poito da Ci-uz num estudo de 1950 dá conta do consuilio de carvão
como comb~istívelno Funchal, apontando a necessidade anual de 720 toneladas. Se
tiverinos etn conta que para cem toneladas são precisas 1000 toneladas de lenlia C
fácil de adivinhar o volun~edo desbaste necessário para abastecer a cidade. Ainda cle
acordo com o mesmo a destruição das matas madeireilses foi resultado:"l0 o fabrico
clandestino de carvilo; 2". Os abastecimentos fora da lei, de material para as coris-
truções; 3". A escassez de pastagens para gado.""'
A par do usufruto da floresta como fonte de coiilbustível é de assinalar o
aproveitainento das nladeiras, consideradas a primeira riqueza dos povoadores, a
fazer fé naquilo que referein Zurara, Valentiiii Fernandes e Gaspar Fruluoso. As
madeiras de til, viohático, aderno, barbuzano, cativaram a atenção de colonos e
forasteiros. As serras de ágiia que proliferaraili por toda a illia, coin maior incidência
da encosta norte, podeili ser vistas coino o síinbolo da busca desenfreada de irvores
para abate.
E certo que a necessidade de lenhas coino conibustível para o dia à dia caseiro,
para a iiidiistria de panificação, forjas e eiigenlios de açúcar levaram paiilatinarnentc
B diminuição das reservas florestais. Mas foi sem dúvida o desbaste para a agricul-
tura que conduziu inevitavelmente ao processo destrutivo. A sentença estava dada: "
In a11 new couiitries covcred witli forests the setlers are apt to consider trees a s t l ~ e i r
enemy. They wage an itnplacable warfare agians thein, until the whole face the Iai~d
becoines nalted, the streams drieduil, tlie suinmers inade hotter, and tlie winters cold-
er, by opening tlle earth to the s u i ~and winds. The succeedin generation labors as a s
ind~istriouslyto produce shade as its predecessors did to destroyed it"". Perante esta
contingência do processo de aproveitainento econóniico da ilha, o espaço florestal
desapareceu a olhos vistos perante olhar atónito das autoridades e dos cientistas de
passagem pela ilha. Daqui resultou uina situação particiilar da ilha que é insistente-
mente evideilciada por todos os visitantes. O Sul escalvado contrasta com o Norte,
onde ainda persistia a floresta indígena1'. b evidente o perigo de desapareciineiito de
alguinas espécies da flora indígena. Ein 1792 J. Barrow refere a situação o cedro,
enquanto ein meados do século J. Masoii junta tainbérn o dragoeiro, folhado e vin-
lii~tico.
O processo de desflorestação é claro para todos os observadores, seja111 locais ou
visitantes, e inereceu alguns rcparos. Ein 1817 Paulo Dias de Alnieida acusa os car-
voeiros da situação eiii que encontra a ilha: "...as iiioiitanhas que não 116 n1~1itosanos
vi cobertas de arvoredos, hoje os vejo reduzidas a uin esqueleto. O Centro da ilha se
aclia, todo descoberto de arvoredo, coin apenas algumas árvores dispersas, e isto cin
lugares onde os carvoeiros não tein chegado"". A par do grito, face h ameaça de
extinção de alguinas espécies, é evidente o regozijo dos cientistas coin o especticu-
lo que se deparam nas quintas do Funchal e arredores, e na exuberante Floresta da
encosta norte. Em 18 12 o inadeirei~seN. C. Pitta chailiava a alerição para a abundân-
cia de espécies indígenas o11oriundas das Índias Orientais e Ocidentais ein tão gsaiidc
varicdade que o levaraiii a aliriilar que a Madeira é o Jardim do Mundo".
Os jardins do Funclial são os locais de adoração para forasteiros e cientistas.
Alguns não se caiisarain em exaltar a riq~iezae variedade. Eiii 1888 o Marquis dcgli
Albizzi coiisiclera-os verdadeiros dicionrírios de Botâiiica, ciiquanto C. Staiilòrd não
hesita ein coniparar o F~inclialao Éden Bíblico, pois algirns dos jardins "are rei~iark-
able especially for thea collections OS trees and slirubs í'soi~many countries aiid
maiiy cliines..."I5. A situação atinge ttiiiibém as ireas de Iloresta, oiide seg~iiido
Bulhão Pato "os rainos de flora eusopeia abraça111e bcijani as Brvores dos trópi-
cos.. ."'".
Vários foram os iaclores que coiitribuírciiii para a situação, que também Soraii-i
alvo da atenção dos cientistas visitantes. W. Coii.ibe(lX21) diz-nos q ~ i co clima e solo
pcrmiteiii « cultivo de qualquer cultlira. Já j. Jolison(1885) releva o papel do cliina,
responsivel pela ripida iiaturalização das planlas o que conduz os iileilos atentos a
confundi-las coin as indígeiias:"Yancl there can bc no doubt that inany of tlie plaiits
whicli seetn to be indigciio~isin tlie lower regioii Iiave seen iiitroduced since tlie
aclveiit OSiiian."" A siluação levoii Freclerico Welwilsch a propor em 1853 a criaqão
cic Liin jardini de acliinatação de plantas tropicais iio Fuiiclial. A iclein tião era nova e
foi alvo dc sugeslilo de vários especialistas, sciido repetida em 1855 pelo Barão cle
Castelo de Paiva no relatório que lèz sobre a sitiiaç50 da agricultura da illia. Aqui C
proposta a criaçíio de i1111Iiorlo de acliinataçíio na cerca clo extinto convento tle S.
Fraiicisco. Tucio isto leva M. dYAvezaca considerar a ilha como o "jardiin bot;iiiicci
cxperiinentiil de todo o ~nundo"'~. Este coiijunto de conclições terá propiciado n afir-
inação da Madeira coino tima estância de aclimatnç80 de plantas que se pretendia
fazer chegar h E~iropa~". Opiilião cliscorclai~tctem C. Azevedo Menezes: "Dize111
algutis auctores quc na Madcira podeiii viver e frutificar ao ar livrc na mais ftli~iiliar
compaiiliia e illuiiiinaclas pelo ii-iesino sal, as plantas de todas as regiões do globo,
[nas islo não e rigorosainente exacto"'".
A riqueza e pai.ticularidades da flora inadeirense fizeraili C O I ~que a ilha se trans-
forma-se iluin local de perrilanente iiivestigação para os cientistas europeus. A ilha
era uin local ideal para lierborizar e uni verdadeiro laboratório: "La botanique l'en-
toiiiologie Ia météorologie sont les occupalioiis favorites des savaiits pendant leur
sejoiir dans I'ile; mais celte étude atant d'attrait et cie cliarixe qu'elle eiltraine souveilt
ai1 de l i du but."-' A ideia é corroborada por E. Taylor(l882) e A. Drexel
Biddle(1900). O último considerava a illia "uni paraíso para os naturalistas". E, na
verdade foi isso que acoiiteceu, uma vez que desde inuito cedo a atenção dos natu-
ralistas fizeram da Madeira uni dos recintos predilectos para Iierbori~ar*~. Os Jardins
Botânicos cla Europa encheram-sc de planlas e Iierbários da ilha. Tudo isto começou
em 1687 com I-ians Sloane e manteve-se alé a actualidade.
Se a atenção e preocupação do cieritistas estava na descoberta e classificaçEio das
iiovas espécies, o en~peilliodas autoridades iiicidia lia preservação do parco inanto
florestal, tão necessirio sobrevivêiicia liuiiiana e ao equilíbrio da economia. Deste
nod do, logo desde o sEciilo XV até ao presente, é iilterniinável o coiijuiito de regula-
inentos, ordenações e posturas sobre o assiinto. A legislação Ilorestal inadeireiise é
prolixa, sendo de destacar o regiinento das Madeiras dc 1562, o mais antigo que se
coiihece pois faltam tioticias sobre o de 1515, o regiinento das maias e arvoredos de
1839, o plano de organização dos Serviços Florestais de 1886 e o Regiiiiento do
Serviço de Policia Rural e Florestal de 1913. Estas regulanienlações genéricas tiver-
Municipais" e recoineiidações dos corregedores lavradas nas
a111 réplica nas ~IOS~LII-as
correições2~oiiipletaii~ o quadro das medidas protectoras do iiiaiito florestal, Daqui
se coilcliii que não houve esquecime~~to e falta dc reg~ilaiiicntação.As contingências
de cada época ditaram, sem dúvida, a sua iileiicácia.
As mcdidas poderão resuinir-se a preservação daquilo que existe através de inedi-
das liniitativas do abate de árvores e recuperação do coberto florestal coin uina políti-
ca cle reflorestação das zonas crinas ou eiii abate. A salvaguarda da floresta passava
ngo só pelo esti~beleciinetltode iiietlidas rigorosas que coiitrolasseni o seu abate, que
deveria estar sujeito a licenças camarárias, ]nas 1anibCin ao ataque em todas as frentes
aos ageiitcs devastadores, oiide se iiicluían-i o fogo e o gado solto. As queimadas, tão
coinuns desde o povoainento, forain 11111 clos principais agentes devastadores e por
isso iiisistentemeiite proibidas. O gado era obrigatoriainente acanioiiado a espaços
circundados por um bardo. A floresla 1150 era para os nossos avoengos um espaço de
diversão ii-ias si111algo fi~ndaiiieritalpara a economia da ilha. Vedar-lhe o acesso era
impossível. Dai as medidas discipliiiadoras do uso de acordo com uin processo
ecoiióniico Iiariiionioso.
Foi com uin violento incêndio qiie os povoadores, segundo Cadainosto, "vaneram
grande parte da dita madeira, fazendo terra de lavoura". As queiinadas silcederai~i-se
inlinitainei~tee levaram a coroa a estabelecer um travão. Outros incêizdios violet~tos
se sucecleram. Os que ficaram para a I-Iistória, f i ~ ~ da t o acçBo liuiiiaiia, são de os
1807" e depois cin 19 10 e I9 19?". E111 1593 documenta-se o fogo do c e ~que i ca~~sou
elevados danos lia cidade e iiiaiito florestal. Muilos dos incêndios lia floresta rorain
resultado da iiicúria ou inalévola iniciativa dos carvoeiros. Eles são considerados ein
finais do século passado como os principais iniinigos da Sobre eles recaia
todas as culpas dos diversos incêndios que sc ateavam corri insistência :ias serras da
illia. Paulo Perestrelo da Câmara é incisivo lias acusações: "os bArbaros carvoeiros
cai-tão e queimáo desapiedadainct~tc,as árvores mais robustas e úteis e quazi todos
os aniios deixâo atear fògos, que por dias e niezes cotisoinein as vezes legoas de
111ato"~~.
A luta não permitia tréguas. Assiiii, sucediam-se as medidas que procuravam asse-
gurar a preservação da floresta e a reposição do coberto vegetal. Mas a política de
reflorestainento da illia só assuiiii~iuina diinensão adequada na segunda metade do
século XIX. A priineira iiidicaç,lo é de 1677, altura eiii que se recomciidava o plan-
tio de amoreiras etn Macliico, Sarita Cruz e Porto Santo?". O graiide promotor da
política roi o corregeclor Fraiicisco Moreira dc Matos. E111 1769 ele dava conta dos
iiifiactores de Saiita Cruz quanto 51 fiscalização das ti~eclidasque deteriniiiavaiii ii
obrigatoriedade de plaiitar árvores lias terras baldias, o que grova cstar já ein exe-
cução"'. Na Ponta dc Sol em 1789 explicita-se que este plantio deveria ser de Arvores
silvestres e de Sruto". A solução toriiou-se exteiisiva a toda a illia através da carta cir-
cular de 25 de Dezembro de 1770". Aiiida, c111Sanla Cruz sabeinos que a medida era
fiscalizacla pelos próprios moradores, iiomeando a vereação dois liomens por cada
localidade. Aos baldios juniaiii-se as escarpas iiiontailhosas e as Arcas dc cultivo.
Assi111 eiii 1791 recomenclava-se aos Lavradores das 111eias terras acima sáo obriga-
dos a plantar ineio alqueire ou uiiia quarta, depcndciido clri exteiisão das terras, de
cilstanheiros, eiiquaiito os outros deveria111plantar pelo iiienos diias 1arai;jeiras c um
liinoeiro. Por outro lado as terras escalvadas e do iiiterior cleveriam ser senieadas no
decurso do iiiês de Sctcmbro de pii~lieiros.Outra das propostas era a aiiioreii'a, que
"aliiiienta bicho da seda e distraeiii lagartixas não coiiiam ~ivtis"". Note-se qiie só lios
dois aiios que antececlerain a visita do corregedor eiii 1705 a Ponta cle Sol plaiitarnni-
se 35.000 árvore^'^. Esta salutar niedida teve diversas Iòrinas de coiicretização.
Assiiii em 1800 aquele que cortassc Liina Arvore era obrigaclo a plaiitar outra iio seu
lugar". Esta iiiedida 6 aliAs testei.iiunliada por W. Conibc eiii 182 1 I". Eslas iiiedidas
passaram no iiiiediato para o articulaclo clas post~iras".Assiin em Macliico(1840) c
F~iiiclial(l849)reclaiiiava-se que aq~ielcsq ~ i cviviaiii ela sersa coin a lenlia c carv5o
dcvcriaiii plantar eiii Jaiieiro seis Arvores iia terra.
.José Silvestre Ribciro, coiiio goveriiador ( 1846- 185 1) teve tima actuaqão exem-
plar lia del'esa das florestas e de rcposiçko do c o b c r t ~ ' ~Eiii
. 1849 apostou lia dis-
tribuição dc seiiiciites clc pinlião e no ano il-iiediato propor h .lulita Geial a criaçáo de
Lim viveiro geral para toda a ilha. Na proposta rccoiiienclava-se o plaiitio de Arvores
indígcilas: viiiliAtico, loureiro, adcriio e perado. Uiiia das Iòriiias ele inceiitivo da
políticii de rellorcstamciito estava lia airibtiição clc pidmios aos que ~iiaisse distiii-
g~iianinesta tarcí'a. A Socicdaclc Agrícola Madeircnse (1849-1880) aclerili a esta
política e iilirmou-se como a proiiiotora da seiiiciitcira tlc Arvores e da prcparaçtto clc
legislação aclequada.
O Porto Saiito C um caso extreiiio da ~ i c c c s ~ i d ade
c l ~rearborizaç30, clepeiidcndo
disso a reaniiiicição agrícola da il11:i. I'clo meiios assiiii sc ciitencicu em 1771 coiii o
Regiiiicnto de Agric~iltura,oiicle sc ii~sistiaiio plantio, nas iiioiitaiilias, de pinliciros,
ziiiibrciros, castanheiras e juiito clas ireas clc c~ilt~ira, de aiiioreiras c cspiiiliciros. A
~.sizttodisso estava cm que elas í'aziaii~"soiiibia h terra c atliahião a uiiiiclacle da gião
cle cltic a incsiiia terra lié sumamcnic cstéril""'. 0 s res~iltadosda política são visíveis
e testemunhados pelos estrangeiros. Em 1851 Robert White" destaca a expansão do
pii~heiroface a floresta indígena. Dois anos depois a Isabella de França4]se depara
Lima floresta de castanlieiros, loureiros e pinheiros: "no cimo dos montes plantaram
unia infinidade de pinheiros, a mais parte nas duas últimas décadas.". JB em 1854 E.
Wateley destaca este traballio e a preseilça de espécies da China, Austrália e Japão,
nomeadamente 110 Jardim da Serra"? Já no nosso século o Marquês de Jácome
Correia destaca o esforço de plantio de arvores, de iniciativa pí~blicae privada. Neste
últinio caso tivemos o Visconde Cacongo e Luiz de Ornelas e Vasconcelos. De acor-
do com o mesmo em I823 foram distsibuídas por toda a ilha vinte inil árvores de
eucaliptos, acácias, carvallios e pinheiros4'.
As décadas de quarenta e cinquenta foram tempos de reflore~tação~~. Tal como
referia a Junta Geral no relatório de 1864 " a necessidade da arborização nas serras
da Madeira, não se demonstra, sente-se""'. Daqui resultou a necessidade da aposta
seguindo-se o exemplo dos franceses (1 860) e espaillióis(l863). Sucederain-se várias
medidas para fazer desta política uma realidade lia Madeira como foi o caso do alvará
de 3 1 de Agosto de 1863 e o decreto de 2 1 de Seteinbro de 1867': A aposta contin-
uou no nosso século, tornando-se mais evidente a aposta coin o avanço das encostas
escalvadas fruto de desbastes ori dos inctindios que ocorreram. A aposta estava na
arborização como testemuiiliam os estudos de Manuel Braz Sequeira(l913) e João
Henriques Cainacho(l920). A própria câmara do Funclial apostou forte nesta acção
coin o montado do Barreira".
CRONOLOGIA

1419-1420. Reconhecimento do arquipélago e ini- licença.


cio da ocupação 1770. Dezemhro.25. Cana circular determinando
1461. O infante D. Femando em respostas as o plantio de árvores nas terras baldias.
reclamacões dos madeirenses revela pre- 1771. Maio.4. Portaria do Governador e Capitão
ocupacão pelo despovoamento florestal, General autoriza o comércio de madeiras e
não obstante concede liberdade para o seu lenhas da capitania de Machica com o Porto
corte. Santo
1485. Primeira referência à falta de lenhas no 1760. Dezembro.l3. Ordem do Corregedor Pedro
Funchal, proibindo-se a doação de novas Antonio Faria, em observância ao alvará de
terras a Norte 29 de Maio de 1633. para se plantarem
1489. Medidas no sentido de proibir as queimadas amoreiras.
para abrir frentes de arroteamento 1783. Agosto.8. Carta ao juiz e oficiais da cimara
1514. D. Manuel autoriza o transporte de tabuado de S. Vicente para se proceder ao lançamen-
e madeira da jurisdição de Machico para o to de bardos nas serras.
Funchal. 1789. Novembro.l6. Correicão em Ponta de Sol:
1515. Primeiro regimento das madeiras ordem para plantio de árvores silvestres e de
1562. Agosto.27. Regimento das madeiras, con- fmto nos terrenos baldios
sidcrado por Alvaro Rodrigues de Azevedo 1791. Maio 31. O Desembargador D. Antonio
com o primeiro c0diga florestal da Madeira. Rodrigues de Oliveira em Correição no
1593. Outubro.28. alvará Rigio sobre o apmveita- Porto Santo, recomenda o plantio de pin-
mento das madeiras hòes.
1596. Janeiro.26. alvará Régio sobre o apmveita- 1791. Novemhro.22. Correicão em Santa Cmz.
mento das madeiras Determina-se que os lavradores das meias
1737. Junho.1. Postwa da câmara de Ponta de Sol terras acima devem plantar meio alqueireou
em que proibe a corte de madeints sem uma quarta de castanheiras.
1792. Outtibro.lX. Instruç~esrespeitantes ao bein Silvestre Ribeiro, 3 Junta Geral recomeii-
geral da Agricultura do Desembargador D. dando a criação de uiii viveiro geral de plaii-
Aiitónio Rodrigiies dc Oliveirii a Câ~iiarada tas para toda a ilha
Callietit. 1850.Agosio.20. Proposta clo Governador civil,
1804. Outtibro.15. Circular do Govcriiadoi José Silvestre Ribeiro, as câinaras
Asceiiso tle Oliveira Frcire recoiiieiidaiido Miiiiicipais, para atribuiçilo de préniios nos
AS cbiiiara de Ponta de Sol, Callieta e S. proprietários que mais se distingan-i na
Viceiite a arborizaçiio e liiiipeza das arborização.
ri beiras. 185 1 .Março. 15. Postui3a da câiiiara de Mncliieo:
1834. Introduçlo da cultura da taiiiargueirn iio proibição de iiso de letiliii no ihbrico de
Porto Santo aguardente e fornos de cal.
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Gii~i'[fl~2 (iilí//I /fJilg //i[' ~~/10~'1~,~ f!/'//lC ~ ~ ~ l / ~ / ~ i ~/ i l~~ (/ lill( l/ ~(1l~lI/iA'
~i ii/~/O, /~/gfel:~,
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WINTCR, i 1 IViiiici. iii A~/(itleii*(r triitl 'r S~iiijiiicriii Slioiii C U I Florc~ncc,
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WOIULEY, IA;idyCiiiiiicliiic S~~itirt, A I/isi/ /o Por/iigtil oiitl Akr~leir'ci,Loiitloii, 1854.
NOTAS
I CC ColcctSnea de Textos: prosn
2 Cf. Colectâiie;i de textos
3 Ct'. H. Coleridge(l826), D. Einblelon(l880), C. Tlioiiias(l9l O), J. I-lutclie«ii(l~)28), M.
Grahaiii( 1942).
A Pí~j~trgc / r i Cochiirchincr i11 lhe jlecrr.s 1792 ~rncl1793. Loiidoii, 1806, p. 18.
t, I I - I2
I t i i d e ~ ~plI.
./ozri~ria/of n i/isit /o A4crtleira...,Fuiiclial, 1970, p.130
UIPIl r i ~ ~ e i r?a ~ i oM t ~ d e i i . Cnlilòriiia,
~~, 1896,
Il)ic/etrr, p. 19 I .
lhirier17, p.60
O Problearcr Floresful rio Argciipilrrgo do Mtrdc,irvr, 1050, 1ip.4-h
A Winler i17 Mudeiiur .... N. York, 1850, li. 125
Rrir17hle.sir7 Mrrcieirci..., 1827, p. 147; R. Wliitc, iZ/Ic~clci~.cr,1859, 11.69; W. Cooper, Tltc Invtrlit/k G ~ r i t l c
/o Mrrdcit.ri, 1840, p. 13
Coiili.oilic-se texto ria selecçúo tlc prosa
Accolirii uf'the lslonci ~j'hltrcleiro. 18 12, p.5').
Leai1e.s,ji.e~171 ci Mrrdeiru Goi.der~,1900, pp.27, 270
Cf. Colectiiica de textos

19 ? l ~ sde / ilfiigl,e, 1848, p. 1 Ó7 '

20 Apt.oy,crga e o aricriroz nrr h.lncfeircr, Sep. Broteriri, XXIII. t;isc. 11. 1927. pp.78-80
21 P. Jaiiiiiei; IlhlL'iaiir de Pcrris A n/Ic~tli.r.c,185')
22 M Graliaiii, Modeirri ..., 1942, pp.4-6.
23 AI<M, C. M S~iriitrCrirz, 11"201, novo crideriio de ~iosluriis;Po.sirrrrrs tki Cutrcc/ho c/c Stoi/o Ar?i~tr,
Fiinchal. 1837; ARM, Governo Civil, 11".1 55, PostliI'as( i 840); I'o.s/llrrr,s c/c1 ~~117criul M~rtiic.i/~trl
i/(!
l , e 1895; I.>o.s/irros (/(I Ctirntii.lr Miriiicil~alt k i I/(/lcr c/c Mcrcliico, 1856; ARM,
Cichrrle clr> F ~ r i ~ c l t cI ~840
C. Ad. Fziriclral, ii0.239, Registo de po~liiras(l86~)- 1885); C(jtiigo c/? I'o,vlirrcr.s titi C'citrftrr~nAd~ttiic-ili(r/
elo Coiice/l~oclo Poria filonii, 1 890.
24 ARM, C. M . Mcrchico, ii0.5-6, livro de correiçfies 1768-1808; ARM, C. A% Frrriclirfl, ii"l6K(17CiX);
ARM, C A.I. Porio Scri?/o,ii".54(17XO-I 820); ARM, C..' h% Srn/cr Cr.riz, ri". 17 l(1 808- 1832).
25 Paiilo Dias Aliueido, oh.c.i/.
26 M . i3. Scqiieira( 19 10); Visc«ii<lc do Porto [lu Criiz (196O).LI'. testcim~iii1iod i Assis Bslieraiic;a, iri
I/~r.sii~ci~ãí~, 1929, piibi. Cíibral tio Nasciiiieiito, Llrgril~es . ~ i ~ / c c / oL/OS s rrii/íJti's POI*~II~II(?SL:S q1tcJ
E,scrci~rrcrtiis0i1r.eo A ~ ~ l l i i ~ ~ / c(/(Ii g Mltrdeirci,
el Fiiii~lia!, 1949, p. 185.
27 J. Freitas Briinco, Criin~~orte.sc.s do Mcrr/eiiur, Lisboa, 1087, pp.133-137; A. Mtirqiics tla Silvii, "
Picoc~ipnc;õesEcológicas do Estrela clo Norte", iii A/lóir/ir~o,IO( 1989), 203-206.
28 Ur~.i>c Nolicirr sohir cr I l h n tlrr iZ/lutlarkir~i,Lisboa, 1841, 34-35.
20 E.~ccirs~To nci Mtitleir~tr,189 1, 11.83.
30 ARM, C. M. ib.hchico, n0.6, fl. 5v0, 7 tle Abril clc 1760.
31 ARM, C. M. Pon/ci Sol, ii0.220, 11. 68v"-60, 10 Noveiiibro 1789.
32 ARM, C. M. Mcichico, iiU.5, 11. 16v", 1 1 de Mliio tlc 1771.
33 ARM, C. h% Mcichic~ci,ii0.5, 11.72, 22 de N~veiilbr»de 1701.
34 AlZM. C: iC% Pori/o Sol, ii0.220, Il.XOv", 29 clc Agosto 1795.
35 AIZM, C. Mrrchico, iiU.5,ll.X3v", I I tic Dczciiibr» 1702.
36 A I l i s ~ o r :r?f'A/ltrtleirrr,
)~ p.23
37 Veja-se n coml~iliiçúodn docuiiiciitac;8o c textos iiiiiis iiiiliortaiitcs tle Peiiiaiitlo Aiigiist« clri Silvii,
Maiiii~lUraz Secliieira, Joiio I-lciiriqiics Criiiiaclio e Viscoiide clo I'c~rto d:i C'riiz.
ele1 Mrrtlcirvr c Porlo ,~trillo,3 vois, ~~iinciiiil,
38 Uitrti Epíiccr .~t/ti~irli,sli~crlii,n 1850- i 850.
39 ct: Textos ein nriexu
40 Mrcleircr ..., p.60.
4 1 .lorrr~ntrloj'o Visi/ /o Mcrc/elr.ci.... pp.48-40, 63, 76, 138-130.
42 /I Visi/ / o IJor~/~igcrltriid Mrrtleirti, 1864, p.30.
43 A illirr c/c1 Akztlei io...,Coiiiihra, 1027, PII. 155, 173
44 Moiitiel Urnz Scqiicira, 1 W3, p.15
45 Rc1trldr.io..., Fiiiiclial, I 864, 1i.30.
46 A. C:. I-leicdia, 0b.servcr~~fie.s .sobre rr .silrrrrqdo ccondiriicrr CIOilhrr r/r n/Icrcl<?ir*tr,Lislioii. IHXX, p.20.
47 Abilio Barros c Soiisíi, i'/rirfo t / ~ ~ A i . / ~ o r ~ i zr/o ik) Brii.i*ei,o, Fiiiic~iriI,iL)46.
a ç dMo17lcrtk~
o
OLHARES CRUZADOS
AGUARELAS, ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA
s É c s . xviir-XIX

A fotografia é a memória esiática do momento do "click", enquanto a gravura reg-


ista tudo isso pelo olhar do desenhador ou pintor. No primeiro caso tudo depende da
qualidade da objectiva, da pelicula e câmara fotográfica enquanto no segundo é o crivo
do olhar do autor, os interesses, objectivos, formação e cultura q u fazem
~ saltar para a
tela ou papel os pormenores do quadro, a disposição e tamanho. E comum questionar-
-
se uma imagem - quem, quando e o quê mas pouhs se perguntam sobre o porquê
destes ou daqueles motivos e quais os objectivos que os regeram. Tais interrogações
conduzem-nos a mmos muito seguros na investigação do tema.
As diversas leituras ecológicas da pintura e gravura valorizam a luz e a paisagem.
Na última a atenção é votada á presença do arvoredo, dos lagos, montanhas e quedas
de água. A presença da figura do homem não é constante e varia da Europa para a
América. Enquanto no velho continente esta presença é assídua e de escala bastante
notória, já do outro lado do Atlântico é evidente a ausência e quando aparece é quase
sempre em pose contemplativa'. Na década de sessenta do século XiX foi evidente o
gosto pelas árvores milenares, que fizeram a fama de algumas localidades, correndo
mundo em descrições e ilustrações'. Já no fim do século foi a atenção dada aos aspec-
tos geológicos. Aqui, as rochas são as protagonistas. Assim John Barrow [.1792-17931
é atraído pela "Loo Rock of Funchal"'. A iiltima situação adequa-se às preocupações
da ciència.
A Madeira apresenta uma rica informação. As gravuras madeirenses são maioritari-
amente do século do século XIX e de mão inglesa. Note-se que de cenhirias anteriores
são apenas registadas seis. A maioria situa-se no periodo curto de pouco mais de trinta
anos (1821-1 858). As gravuras fazein parte de registos de viagein oii de tratados cien-
tíficos. Tudo isto porque a Madeira apresenta-se neste inoiiiciito coiiio Lim eixo fiiiida-
mental para a navegação e colltactos entre a Inglaterra e as suas colói-iias na Ai-i-iéricae
no indico. Tanlbéin a ilha se transfoil-iiou rapidameilte iluina e ~ t i l l ~dei a tlirismo ter-
apêLlticoque acollie doentes de tísica dc diversas proveniências. Aristocratas, cicnlistas
e aventureiros acudiram à ilha à procura do seu ciiina aineiio para alívio e cura das
doenças. Neste intervalo procuram descobri-la i-ias suas paisagens, na riqueza e var-
iedade da flora. A posição da Madeira justilica esta desii-iesuracla valorizaçiio inglesa
que excede muitas vezes a das colóiiias das Caraíbas.
A Madeira eiltrou rapidcunciite i10 iiiiiverso da cizncia europeia dos sécuios XVIII e
XIX. Ainbas as centúrias forain inomeiitos assinaláveis de descoberta do iiiui-ido
através dc Lim estlido sisteiiiático da fauna e flora", Daqui resultou dois tipos de liter-
atura com piiblicos e iiicidências temiticas distintas. Os textos t~iríslicos,guias e
memórias de viagem, apela111 ao leitor para a viage111 de soiilio d redescoberta dcste
recanto do paraíso que se demarca dos deinais pela beleza iiicoinpariivel da paisagein,
variedade de flores e plsintas. Tenha-se em conta que algiimas colecções Iorail-i Scitas
para deleite de alguiis dos seus apreciadores, que ligurain ein lista que as antecede.
Assim siicede com os desenl~osde Jaiiies Bulwer (I 827), Andrew Piclcei-i (1 X42), W, S.
Pitt Springett ( 1 843), Fralilc Dilloii (1 850), J. Gckersberg ( 1853- 1855)'.
Já os tratados científicos apostarain na divulgação deste rccriiilo atisiv6s daq~iiloque
o identifica. As técnicas de classilicação das espécies da Stuiiia c Ilora têiii aqiii ~ini
espaço ideal de traballio. Hoje a riqueza pictórica da ilha é deveclora dcsta siluaçtio,
existindo valiosas colecções separadas ou ei-i-ilivro. No piiineiro grup« eiiq~iadra-sea
maioria e riqueza da colecção de gravuras ii-iglesas. Dc eiitie csias ~-iocleinosdcstacar as
de Andrew Picken (1840), Rev. Jaines Bulwcr (1927), P. I-I. Spriiigett(1843), J. Scllcny,
Susan V. Harcourt (1 851), Fraiilc Dillon (1856). R. Iiines, Joaliii P. Ecltcrsberg. Os
temas são coiiiuns a todos os intervcnientes. O Fuiichal apresenta-sc :ili.av&sda baía e
o deslumbrainento do casario da encosta tudo c111 vilrias perspectivas ou nos por-
menores mais característicos da arqiiitect~ira- A Sé, os conveiitos cle Stn. Clara c S.
Francisco
O interior da ilha inanlém a iiiesina insistêiicin em algui~~as localiclades clLie iiiais
cliainaram d ateiiçSio do visitante c se encontraii~110 traçado lias rolas clc visila: Cabo
GiriTo, Curral das Freiras, Encumeada, Boaventura, Rabaçal. O clriatlro iititural tcin cni
Rev. W. V. Harcourt (I 85 I), Johii F. Eckersberg e Rcv. Jaiiies Bulwcr (I 827) os seus
inais fieis e alentos obseivatlores.
A visão é atente e ein alg~inscasos parece-se com uin registo L»togriílico.As pcr-
spectivas aproxiiiiam-se da realidade e o quadro eiiche-se com ciaclos dc obscrvnc;ão
directa. A vegetação é rainha logo seguida das qiieclns de bgiia. Biii cpiasc todos o
1ioil-ieii-ié uina presença obrigatória a sua posc é de coiitcinplac;i?o,de Cxtosc iàcc tis
belezas que o rodeiam, e raraiiieiitc de total iiitcgiação no coi~juiito.Mesino assiiii cstti
presença, a pé ou cavalo, é secundilria e ai-iiclisi-sc qunsc scinprc no caiito csí~~iccitlo".
Através de algumas estampas e gravuras é possível descor1iii:ir :i picsciiq:~tlc algti-
inas espécies arbórcas. Aquelas q ~ i cassumciii valor aliniciitar, coiiio a viiilia e :i
bananeira, assuineiii alg~iiiidestaq~ie,seguindo-sc o dragoeiro. Todavia lotla a Icilção
esth desviada para a natureza selvageiii que se afirma como o ç~im~ilo (Ia bclcza'.
Os retratos do quadro natural madeirense não são tão variados nos temas, mas sim
nos inotivos e pormenores que enquadram e dão harmonia ao conjunto. A grande
atenção está nas encostas onde o casario se entrelaça ou não com o arvoredo. O céu, a
luz', não pertencem ao universo dos artistas, pois aquilo que mais clama pela atenção
são as encostas e o litoral abruptos. onde se anicham as quedas de água, o homem, o
casario e o variado arvoredo. este último quase que parece ausente das encostas e vis-
tas próximas a cidade do Funchal. Aqui as encostas apresentam-se escalvadas. Os
efeitos da acção do homem são notórios. Só quando se penetra no interior, em
Encumeada, Curral das Freiras, Boaventura e S. Vicente se redescobre a exuberância
da floresta. Aliás, é este o motivo fundamental que domina o pincel do artista. O sul
está cheio de motivos e dominado sempre pela presença do homem e dos registos da
sua acção como o casario, pontes, etc.
No gmpo de textos científicos a atenção reparte-se entre a flora, destacando-se a var-
iedade de flores, e as formações geológicas. As últimas surgem com grande evidencia
em Edward Bowdich (1825).

BIBLIOGRAFIA

Gravuras e estampas

E.~rampa.s.A,qrorelar e Desenhos da Madeiro Romintica.Julho-Dezembro de 1988, Casa


Museu Frederico de Freitas (Organização e textos Dr. Paulo de Freitas e Francisco
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LISTAGEM .AGUAREI.AS. ESTAMPAS E DESENHOS DA MADEIRA

LIVROS ILUSTRADOS

ASTLEY, General Collrclion of Voyages and Travel,~.London, 1745-1747, Xilograiia a preto:


the dragon tree.
BOWDICH. T. Edward. E.rcro:sions in Morleiro nd Porro Saillo Dreing lhe Alnrrniri (?f1823.
Wliile oii h i . ~T h i d I+,!~i.o~cz ro Afiica. London. 1925.
Estampas sobre a Madeira: Franciscano, Vilões. Viloas. Garapas, Canarios-Ruivo-Torrinhas-
Sidrão. Cabo Ciirão e Jardim da Serra. Curral das Freiras, Serras da Madeira. segmen-
tos geolhgicos.
BOWLES. Wm Lisle. lhe Spirir o?/' Di.vco~vr?,.A Dr.vr.riptiiv ~.rir,<lH i . ~ r o r i q lPorrn. London.
1804. Gravura de I. Neagle: the tomb of Anna d'Arfet in lhe island of Madeira.
Do ÉDENA ARCADE NoE

BRASSEY, Lady, Iri t17c E.trcle,s, the fiopics & the Konriig, London, 1885. 23 ilustrações alu-
sivas à Madeira,
BULWER, Rev. Jamcs, Viewr in the iM~~cleii~c~.s. E~sec~rfeu'oiiStone hy :esi:s M+,st~~ce,
Nicholson,
I-ltrrzlirig, No.rli, Villcneiri>e,Gnnqv & (!fiei.Dt.rr~!ings~ratie/i.ornNntzti.c, London, 1827.
Colecção de 26 estainpas Litografias a prelo: Thc Loo Iiock; Funchal Sroili llie Chapel
of' Sarita Catliariiia; The Peak Fort; Vicw aniong tlie Moinhos; The District of Fuiiclial,
li0111 tlie Mountains-patli above tlie Alegria; The Waterfall; Ribeiro dos Socoiricios;
.larcliii de Serra; Desceiit into tlie Curral; Tlie Churcli ofNossa Senhora do Livramento
i11tlie curral; Ribeira Bniva; Ctillicta; Pico Riiivo, tlie Torrinhas froni ttie Paul da Seria;
Eiicominiade ol' St. Viceiite; Tlie Churcli of Piiiita Delgada; Pico Ruivo koin tlie higti
grounds of Si. Jorge; Ribeiro de St. Jorge; Ribeiro Meyo-Metade; Santa Cniz; Machico,
Cliffs 1111 tlie Norlli East Side of Poiiit Lorenzo; Tlie Valley of Porto-Cruz, froin tlie
Porlella; Tlie town ol' Porto Santo; Interior ol' Porto Santo, Fayal.
CCIMBE, Williaiu ('?).i l Histo~yu/'Adc~cleir.cr,Lotidoii, 1821. Gravuras - 26 R cores: Inside o f a
Cottagc; Ruial Toil; Peasaiits going to tlie Marcket; Manner of Ciiltivatiiig tlie Giound;
A Farnier aiid liis Dauglitei going to Town; Rural Occupatioiis; Peasants iii iisual
Costuine, Costliine peculiar to soiiic of tlie Westerii Inliabitaiits of tlie Island;
Fisheriiieii; Couiitiy Musiciaiis; Maiiiier of bririging Winc to Town when clear; Mariner
of drawiiig Pipes &c. by iiieaiis ol'tlie Sledgc; Ali accident 1ipon tlie Road; A Prior of
tlic Order iiS St. Friiiicis, & a Lay Brotlier; A Fiaiiciscaii Friar Collecting Donatioiis for
liis CoiiveiiL; A Fraiiciscari Fatliei oii a Jouriiey; Priest in differeiit Attire; Lay Sisters of
Ihc Order of tlie Lady of Mouiit Carmel; A Nuii aiid hei Attei~dant;A Lady & her
Servriiit goiiig to Cliurcli; Usual Maiiiiei of Travelling in I-Isimmoclís; Maiiner of
Visitiny aiiioiig tlie Latlies a1 Fiiiiclial; Members of tlie Seiiate; Oficial Dress of tlie
Meinbeis oí' Lhe Caincra or Senate oii tlie Deatli of tlie Kiiig aiid Accession of Iiis
Successor; An Officer Sr Private oT tlie Gariiison ol' Funclial; Drilliiig; West View of
Loo Fort.
DILLON, I'raiik, S ~ ~ k c ~ c lbi i c s//ic Lslrriid of' i\/Icr~bir~i, Loiidori, 1850-1856. Colecção de 14
estiiinpas a cores e plb: 12obei.t Macliiiii's Calipcl, Macliico-port~igiieseCemeteiy,
1:iiiiclial; View loolting iip tlic Snrita Luzia River; Towii of Funclial (froiii tlie Easl); Tlie
Pontinha Aoin tlie West; View Near tlie Grarid Curral; Coiiveiit da Eiicariiação froiii tlie
I'otite Novo - View iiear tlic Piava da Constitiiição; Cama de Lobos; Tlie Goveiiior's
I-Io~ise;Foi-t St. Yago; F~iiclial Catliedral from tlie Ueacli; Fraiiciscaiie Cowciilo.
Fuiichal; Coiiveiito cle Siiiitn CJlara.
I)IX, Joliii A. (I?), 11 Wititcl. in n/It~eleii.~~ / Sz/iii~iicr.
L I ~ L LI in Spcrin ~rndFloivricc, New York, 1850
Lilogralias de 1-1. Vaiiosti.aiid: Itaviiie east of Fuiiclial; Fuiichal I?oin St. John's; Ho~isc
ol' Coloinbiis.
I:C'l<I:RSBERG. Joliriii E. /I.ssich/eii yoii ckeifin.sel i\//~rt/ei~.rr, Dusseldorf, 1840. Litografias -
pailir de ~'iiitiiras: Peiilia d'Agiiia (Acllerlèls), Punclial voii Ostein, Funclial von
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Wcsi-Fuiiclitil Iioin tlie Easl, 'The Peiilia dlAgiiia l'rom tl~evista of Faial, Port St.
Thiago, Funclial - Ribeira Brava; Near Santa-Cr~iz-Oiitlic Palliciro Roiitl; Vicw citi ltic
road fio111Funchal to St. Aline's; View of Ftinçlial Ji.oiri tlie Seli; Friiil Mai.kc1-W:isli~'i'-
women; Street in Fuiiclial-Ribeiro cle Santa Luzia; Q~iiiitiia1 S:iiil:i C'riii; Vicw i11
Funchal; View froni Pico Ai-riero; View beliirici tlie .lesuits'Collcgc, Vicw Lktiiii t l i ~
Deanery; On tlle Ribeira St. João-View fio111 St. Maitiiilio; Mricliico, Viiii1l:i iit Siiiiia
Ciuz, View fiom Pico Arieiro. Graviiras : Groiip of peasaiils, ciiglisli b~iriolyroiiiii!,
Funçhal fronl the sca, oxeii car, view of Fiiiiclial fioiii I-lollways co1t:igc
HOCHSTETTEII, Dr. Ferdinand von, hl~rcieieb-acin k~r./~lg, Wicii, 1 H6 I . I87 1 . I.ilograliii d c 1:.
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for Daybreak on the Sena; Belí'ry attached to llie cliapcl ofN. S. tlo liii;il. "'I'lie Sigi~iil":
Stranger's Grave; Mill at tlie Serra; Eiiglisli Cliapcl, Puiiclial; Iiilcrior oS:i "Vciit1;i" iii
the Sema oi'St. Antonio; Tlie Lagar or Wine Prcss; Oirl griiitliiig coi.ii; 'I'lic I'ol:iiitl~.iiii-
The Hainiiiocl<;Tlie Xerola; A Portrait-Sliephcrcls reccilliiig catllc by tlic I+iixio; Roiiioti
Catholic Priest- A Niiii of tlie Convent ol' Saiita Clara; Matlcirri I1c;is:iiii (iirl; Mad~ii.;~
Peasant Boy., tlie xcrola.
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C O L E C Ç ~ E SDISPONIVEIS
NO MUSEU FREDERICO DE FREITAS (FUNCHAL)'

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GELLATLY. J. Cinco litografias: Costumes of Madeira - Melada Boy, Villão or Peasant,
Villoa or Country-girl, Burroqueiro or Male teer, Woman spinning.
INNES. J. R. Cinco litografias: Madeira sledge. Madeira hammock. Palácio de S. Lourenço,
Palanquim e vista do Funchal. Machico. Cliffs on the north east side of point
Lourenzo. the valley of Porto da Cmz from Portella, interior of PorIo Santo.
MAY .W.. séc. XIX Aguarelas: sunshine on the rock (form below lhe new road), salto do
Caval«, Curral dos Romeiros, A Country men-bananas
RORLEY. Cap. J. H.. 1845 Desenho: Cheias de uma ribeira
SELLENY, séc. XIX Litografia: Bucke riber den Ribeiro Secco, Curral dos frades. Editadas
ein Viena por L. T. Neuinaii. Lilografias: Catedralc i11Fiinclial, Bucltliher clcii
Ribeiro Sccco (Ponte do Torreão na Ribeira de Saiitii Luzia) Ciirral (10s I:iaics,
Funchal.
THORMAN, C., séc. XIX Lilogralia: Prospect nielleti Rio Frio ol'St. Aiiiia, Rio Frio,
Portrait o f en Flores,
WESTALL, R. Graviiras a cores e preto e branco - tlie Paiil da Scrrn, iiioiiiilaiiis above tlic
river Sr. Vicente, view in tlie i~ioi~titaiiis
belwceii Fiiiicli:il :iiid I:ay~il.

NOTAS
Baibara Novak, Nciiiii.c cincl Cii11rir.e.Airic~r'ic'criiLci~rc/.s:vc.ril~c
criri/l'iri~~/irr,q, IIYI.T-IA'~.C,N. York, 1080,
~11.35,184-180
I-IUTI-1, I-Ians, N~rirri.eorid ilie Aiiicrictrii: ilit.c?c('eiiiiri~ic~.~
1!/'C'l1irii,qiri,47 .~l/riliick',v, 13~iliclcy,1957.
11.142
Baibara Staltòrd, ç-vcigc2iiilo Siil~.sttiiicc:,'fr'l, S'cii~iic'c~, iVlrlrrr,c, citii/ llrt' //íii.vlirilc~i/ii,ciiv/ ilccmoiitat.
1760-1840, Claiiibiidge, Mass.: MIT I'icss, c 1984, 68-72
Maiy L. Piati, Iiii~~cricrl 6jw.s. P c t i ~ ~PVi.i/itrg
~l (in(l 7i~cnnc~irl/tit~~i/iolr, I .oridoii. 1 002, 1 90.5;
STAFFORD, Barbarn Maria, V<)jaigeinio Siih.slrriice: Ar.[, .Sc~iciic'c3. N~ii~ii~i~. triitl IIii' Illri.sli*ci/ctl'Ii~(ii.i~l
ilcc«~iii/,1760-1840, Cninbridge, Mliss.: MIT ['rcss, c 1084. pli 505-034.
Esiiirripsis, Agtiarelas e tlcsciilios da M:i<lcir:i Roiiiiiilicii. 1~iiiiçli:il.I OXX.
Estii ideia vai ao eiicoiitro do que siiccclc iia Eiiiolia. Coiili'oiilc-se Hiirliiiiti Novol~,NCI/III.C, 1111;1
Cirliriie: iliilei.icciii Lcrirdrcrrl~rPniiiiirig, 1825-187.5, Ncw Yoili: Osli~itllliiivcrsi(y I'icss, 11)HO-
1905, pp. 184-189.
Coiilionlc-sc I<. Tlioiiias (IOXO), pp. 260.
Coiilioiile-se B. Novak, ihitleiii, PII. 23 c 233, Aiigcll;~Millci. Ilitrl~ii,~*
? % L J r!/'ilr~~ /<ir#.I.trtitlvr~ci~>c~
Rcy)/~~.ve~i/c~~iotior~c/Arrii~i~jcc~~~
Cr~I/r/r'c~l
P~~li/ic~~s,
l,S2.7- lA'7.5, W,isI~i~igl~~i~, 1003,
Coiisidetaiii-se iil>ciiasas cstaiiiptis s«lt:is
lNTRODUÇ&O

E evidente o interesse nela ambiente nos mU. nanativas hiíl6rim. c na doçu-


mcnw60 q ~ ra c r6 a ~ ' p n n c l p ~Oo primeiro mlomnhce~dosobbbb p"m6rdi01
da Hivtona da Madeira 6 s Kelqdo de Francisco Alçofondo Ncb aprerniew o
misto da rhceada e m nasruadores h ,lha smv& da. r>nmeimamacsidn ficc ao
C I~CI
~ L EC dCpm d l m o:s~ olhm Ao dcscmbsquc em Maçhieo c ín&o do
c s p w surrdri a busca dor <calg8or & rralidadc Assim. logo ip61 a miara lodo
G o n r a l < n l a r r o mandou~rr rcaoarrcm animairou bwhoscsdviamavcl"culas
çrai.iam mansas por ndo l r r m ;rio omcí qur as m s \ h da m&" W i r fm
"drwobrir a am"c deparam-w com 6gua limp~&ccnualina um vale cheio de h-
cho. uma colhia dc lohu, marinhos r urna densa c ~mn*ponl<el n a a . que tirn-
m de atear r080 p u a abnr dmira~.Fsir r i d o comp1çm.u m m o m t a de 0-P
Fnihoro ( I 52-1591) quc nos db conta da pnm0ra \iqm dc ueupaqdo da ,lha guc
d w I O C I O BU tranmlantc dc anlmnir e olmlas Diz o emnma gue "lewam mn
capitses, gado e animais domkrtims e coelhor p m Isnw na tem".
Aquilo que mais tvde mntinuad a impressiona.as eumpn. cra a densidade de
floresta existente na ilha. Aliás, foi este o motivo que esteve lia origein do seu noiiie.
Pois coino coiiienta o historiador das ilhas foi assiin designada "por causa do in~iito,
espesso e gralide arvoredo que era coberta...". Mas tanibéiii poderia ter sido iioinea-
da de illia das pedras: " e alta, coiii moiites e rochedos iiiui fiagosos, que por ser
iiiuito fragosa, dizem que seli nome próprio era, ou deverá sei; ilha das Pedras."
Na descrição da ilha o croiiista açoriano iiiteressa-se pela acção humanizadora do
hoinein, dando priiicipal destaque As serranias que considera "iniiito ásperas", seiido
o interior inuito fragoso mas que iiiesiiio assiiii dão ii?uito proveito das suas iiiadeiras
de til, vinliático, adcrno, folliado, barb~izaiio.A flora iildígeiia ju!ila-se a traiisplanta-
da do coiitiiiente europeu e que apresenta interesse econóiiiico. E o caso das Brvores
de fruta, dos castaiilieiros e iiogueiras. Da visão íiiicial dá-se O salto para a con-
statação da realidade no século XIX. Haviaiii passado quatro séculos e a Cruiçilo por
parle clos lioiiiem dos recursos do rincão levaraili a uma total trai~sformaçãodo espec-
tro da illia.
A verdadeira cotisciêiicia da inudaiiça só sucedeu quando se atiiigiu a sittiação
limite e sucederain-se as catástrofes. Neste caso é de salieiitiir a aluvião de 1803, que
pelos efeitos devastadores nas cirlturas e espaços ~irbanosgerou ou tornou preiiiente
essa consciência pré-ecológica. Na época, para além da prolixa doc~iiiieiitaçãoofi-
cial, podetiios assinalar o texto de Paulo Dias de Almeida, uin engerilieiro iiiilitar que
veio em coinissão de serviço c0111 O objectivo de atacar os inales da aluviilo. Na
inciiiória descritiva que Scz eni 18 17 traça-lios de i'oriiia clarivideiite o parioraiiia des-
olador cla illia. O dedo ac~isadoré apontado à a c ~ ã odev;isladora dos carvoeiros, priii-
cipais rcspoiishveis pela dcstruiçilo geral dos arvoredos. A visão é a virios níveis dcs-
oladora. Priiiieiro, constata que "as iiioiitaiihas que iião lii iiiiiitos anos vi cobertas de
arvoredos, Iiqje as vcjo red~izidasa um csq~ielcto".Até mcsnio o "Cei~lroda ilha se
acha todo descoberto de arvoredo, coin apenas algliinas Arvores disliusasc isto ein
lugares onde os carvociros iião tCin cliegado".
Outro testemliiilio atento do meio nat~irals~irgce111meados do skc~iloXIX pcla
pena de Isabellri clc França, Iiina jovem donzcla inglesa cas:itla coiii ~ i i i imadcirensc
eiii viageiii pela illia. O seu olliar atciilo debruça-se sobre as diversas csp6cics botiiiii-
cas coiiio ao variado intiiiclo aiiiiiial terrestre e miiritilio. Ol'erecc-llic particular iilte-
resse a flora do Palheiro Ferreiro c Caiiiaclia, locais oiide a iiião do Iioiiicm coii-
tribuiii para recuperiir a paisagem a1ravl.s clo plniitio dc pinliciros e espkcics cx0ticas.
Aqiii o priiicipal clepredador iião é o carvoeiro, nias o vciiclecloi. de Iciiha iiii cidacle.
Estes "saqueiaiii-nas sem rci-iiorsos" dc nioclo quc todas :is árvorcs cresccin apcnas
para que as roiibein, qliaiido Ilies chega a vez".
O ataque aos carvociros n3o Iicoii imp~iiicpois eiii opúsciilo clc Mr~ii~icl Uia~
Seqiieira ( I 9 13) res~iltnntedo paiioraiiia vivido iio Vcriio dc 1 L) I O ctiiii iiin iiicl.iidio
de grandes proporções iias serras, volta tlc iiovo o tledo kicusador. Os priiicipais
responsáveis pelo espect8clilo dcsolnclor das florestas cla illia são os pastores de gado,
os leiiliadores c os carvoeiros. CoiiCront~iclocoin cstc selvijtico "vviiclalisiiio quc se
está coinetcndo lias serras desta ilhri" o autor claiuava por nicdidas e uiiia cainlianlia
eni prol da arboriziiç8o.
Na verdade, si gr~iideprcocupa~ão110s inícios tlo nosso sCculo prendiam-se coiii
a iiccessidade de preservar o pouco iiiaiito florestal cxistciite e pugiiar pcla a recu-
pcração dos espaços ermos. A necessidade de regulamentação do pastoreio conduziti
à lei das pastagens de 23 de Julho de 1913. depois foram as vozes que cla~iiaiidopor
uiil reordenamento dos pastos é o caso de José Maria Carvalho em 1942 ou de
arborização defendida por J. Henriques Camacho (1919) e posta em prática por
Eduardo Caiupos Andrade na década de cinquenta.
O texto de Feriiando Augusto da Silva (1946) é revelados da fosma caino evoluiu
o panorama florestal ao longo dos séculos e das insistentes medidas ordenadas pelas
a~~toridacles. Daqui se prova que urna valiosa riqueza natural se não for devidamente
acautelada proiitainente desaparece deixando efeitos nefastos sobre o meio.
A lenda do incêndio de Alfredo Vieira de Freitas remete-nos às origens da ilha e
coloca-nos perante o seu efeito regenerador ou distrib~iidordo quadro natural. Mas
onlein c01110 hoje, a iniageiil do fogo está sempre associada a destruição.
Do conjunto de medidas reclaiiiadas e postas em prática relevam-se os regimen-
tos que VRO no sentido de estabelecer um equilíbrio do quadro natural e penar o
impulso devastador do lioinem. Em 1562 o charnado "regimento novo das madeiras"
procurou estabelecer uin travão ao uso desinesurado da floresta. Todavia a pior situ-
ação ocorreu no Porto Santo, onde para travar a marcha irreversível da desertificação
se tomou medidas coin o regimento de Agricultura de 1771 que recoinenda o plantio
lios inontados de pinlieiros, ziinbreiros e tis e nas temas de cultura as amoreiras e
espiillieiros.
Na Madeira a maior preocupação das autoridades ocorreu em 1804 aquando da
aluvião. Na carta régia de 14 de Maio de 1804 estão bem expressas as razões do suce-
dido e a pouca atenção dada à carta de 17 de Junho de 1800 que recoinendava O
laiiçaincnto de sernentes lios cuincs da ilha. Neste contexto é de realçar a actividade
da Jl~ntade Mellzo~nrnentosde Agiiciilt~ircr,criada ein 18 de Setembro de 1821. Tal
c01110 dizia a1guéi-i-iem 1815 a natureza estava "cansada de ser liberal" e clamaria por
outra atitude do illiéu.
FRANCISCO ALCOFORADO ISEC.XVI

A Reluçüo de Fi-anci.scoAlcoforado. embora seja considerada por muitos apócri-


121. i o moi.\ rrntigo texto que relata aprimeira intervenção dos povo adore.^ europeus
iio orquipilago.

... ao outro dia pla inenham manidoo o capitão hum hatel de que deu o carregiio a
Riiy pacr que fosein a terra a vela e lhe trouxese loguo Recado do que vyem por não
ri\[er] oiitro Iliigiiar for90 desembarcar na Rocha omde desembarcarão os jmgreses e
forao eiitre o arvoredo e 0 mar acharão lenha cortada e oiitro Rasto de jete h r ã o asy
ter ao loco do paso gramdc omde acharão a mesa e crusyfixo que os jmgreses
dcisariio c as sepiiltiiras c6 as cruzes. ha cabeceyra de que Ficarão espaintados aimda
que tiitlo tinlião ooiiydo hao pilloto rornaráo se Ilogiio aos nau.jos com este Recado
ao capitão Sahydo jsto detremynoo sair c terra e levar coin sygo doiis padres que
irai-ia. saiindo em terra deii gracas a deos. inamdoti bemzer agiioa e espargella pello
ar. Iói ao toco oinde estavão as sepullturas mamdou dizer mysa na mesa coni
Kesp(imso sobre suas sepiillturas e esta Foy a prymeyra mysa que se dise que foy em
liia da vysytacào de samta Ysabel acabada a niysa mamdoli v[er] amtre o mar e o
arvoredo se paresyão allgiiins anyniaes ou bichos e não vyrão cousa vyua senso muy-
121s aves de iii~i-tas maiieyras e tam mamsas por não terem vysto omes que as
tnniauão lia iiiào ioinoii lenha e agiioa e tomou se aos nau.jos no mesmo dia ouoe
ci,selh» p[er]a desc»bryr n terra p[er]a baixo se hyrya nos naii.ios se nos hateys dise
lhe o pilioto qiie vya terra de muyta peiiedia que asy a pocierya aver no tuaar e avier]
baixos c corremtes que Itie pareçya inyllior Iiirein vrer] a costa 110s bateys e deixar os
iiatiyos aly pareseo este cõsellio bem ao capitão ao outro dia pla ~iienliainiiian1dou
cõcertar os bateys de tnainlyinento e jete que Ilie pareçeo ele iiieteo se no bate1 do
iiaiijo e do outro deu carreguo lia allvaro afoiiisol e foilios correindo pasada liuma
pomta p[er]a lia bainda do poente vyinos que ao pc de I I L I I ~ Roclia ~~ se Sazia Iitlina
pedra que emtra iio tiiaar e ao pe daquella Rocha snliino della quoati-o caiios claglloa
inuyto Serinosa ouue o capitão de seio de saber o tal Iiera aguoa taiii Fermosa nlaiil-
dou por ella e vyo que hera cstreii~adade boií Fryn e leue Eincoiiiemdou llie liojfamte
que lhe leiiase certas vsisylhas clagiioa toiiioii daquy Iiuiiia p[er]a Ilie leuar correliios
iiiaes abaixo sempre peguados com arvoredo acliaiiios iaiiii vale Iiiiiii Ril-ieyro que
veiii dar iio mar aly nzaiiidou sajr ein terra os que Ia b r ã o acliarão outra Soiiite a par
da mar estreiiiada toinou nly outra vasyllia p[er]a levar ao JI'aiiile e cliainoli a esta a
foiiite do seyxo fomos iiiais abaixo dcinos niiiii vale de Ièriiloso arvoredo achamos
ally huiiis cedros velhos derrybados do teinpo maindou Sazer deles liurna cruz e
chainou ally satnta cruz pasainos mais abaixo a liuiiia poiiita grosa em que acliainos
tamtos guarajaaos que lios cobryão os bateys e p~inliaiiise sobre nosas cabeças c nos
Rcmos porque iniiilca vyrão jeinte ouLieinos coi1-1.isto iiiiiyto prazer e chai~ianiosaly
a pointa dos guarajanos dally descobryinos outra poniti.1 abaixo qiie seryE[o dally duas
leguoas. e faziase amtre estas pomtas. litinia 1Criiiosa escada cic terra iiiais bramda e
toda vynha beber na aguoa toda cuberta cle iiiiiyto 1Frnioso arvoredo e todo por cyiiia
tiim ygiioall qiic parccyn rcyto a iiião sciil av[cr] arvorcs iiiais alltas liiiii~asqLie as
outras seiião os cedros que ja tiiihniiios ex~~reine~i~t;idc~ qiie oiiide estão seiilprc são
mais alltos que as outras arvores dericdor Iòiiios cosreiiiclo n costa p[es]a este vale
demos é Iiiiam Rybeyra que botnua pedra ao mar é qiic podem dcsei-iibarcar como é
caez aly iiiarndou seli cryndo g l ayres cliie saysc é terra e coin çertos coiiipanlieyros
que ei~itrasetiihuiii espaso pla tcim a vlcr] se a~\.iiiallgiiri~asiilyi~iiiryas.ou bichos e
1120se afastasem lia corremtc (13 agiio;~p[erla sab[cr] toriiar aci iiiar c aos bateys íbrão
c tardar8o Ia trcs oras. tornarão crriiinados I\)lyaiiidci c6 rniiyto prazer qlie 1150
acharão cousa vyliri seiião aves/ 1;oiiios iliais avciiiiie acliaiiios Iiiim vale iiiiiyto Ter-
iiioso todo de seyxos iião avya iiele arvorctlo iiciiliuiii c Iicra totlo ciibcrto de liiincho
iiiiiyto festiioso a que cliaiiiaiiios o liiiiichal saliião clcslc vale ao mar trcs Rybcyras
iiitiyto I'crmosas 1117 cabo deste vnlc estão doiis jllicos Soiiio nos abryguai. a eles por
sler] ja tarde toiiiiiinos em terra aguoa c lenlia lizcinos de cear eiii I i i i i ~ iCIOS j l l i c ~ scle
iiiiiylas aves que toiiisimos e toriiamos a dorinyr nos batcys ao outro dia pasainos mais
abaixo e clieguaiudo 11a pomta que vyrtiiiios o (lia diiiiites pos iiclla huma criiz e
clianiou ally a p6ta dii cr~iz.cl»braiiicIo esta p6tn clcmos E Iiiiiiin praya a cliioall
clinmoii a praya íèrriiasa pasniiiclo abaixo aiiilre tlutis poiiitas vyiiios cmlrar iio iiiar
liuiiia Rybcyra muyto poderosa pedirão lhe allg~iiiislicciiica pl cr]n s.jr eiii 1cri.a vTei.1
itqiiclla Rybcyra e ele estaua iio mar nos bciteys h r ã o Iiuiris diius tii:iinçebos de Ilagu-
os p[cr]a pisar a Rybcyra a vaao e ti agiioa coirya tíim poderosa cluc os Icuou ambos.
bradou o capytão rlo mar qiie acorrcscin :iqiielcs iiioyos cliic ele trazia iios ollios
acoclirão Ilie os de terra c tyi'eriio iios aml-ios vy~iosc cliaiiiou acluellri liybcyra dos
acorridos 1-iasaiiiosinacs abaixo cleiiios c h~iiiiilltochn dcllg~iatlaque emtia iniiyto ilo
inanr c emtre acliiclla Roclia e oiitrn lica litim braço cle mar E Rcmaiiic;~iiietemoilos
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

aly cos bateys achamos taintos lobos maiynhos que hera espamto com que tyueinos
inuylo prazer chaiiiou haquele Reinaniço cainara de lobos da terra não podemos v[er]
pera baixo bem a costa cõ o inuyto arvoredo da pointa do mar vymos liurnas Rochas
muyto alltas e arrebemtar o inar em Iiiima poiiita abayxo dally nos toriianios aquele
dia dormir aos Jlheos da iioyte damtes e aos outro dia fomos dormir aos naujos com
detreinyiiacão e nos tornar p[er]a o Reyiio e o capitão tomou çertas vazillias de terra
c aguoa a paaos nao coiihecydos no Reyiio p[er]a levar ao Ifainte que lhe inaindou
que leuase partymos p[er]a o Reyno cheguamos a lixboa no fim dagosto leuou ellRey
muyto przer do que tynha joão gllz feyto Recebeo coiii inuyto prazer e fez procysões
ein lixboa e muytas festas e dainças coin detremyiiação de no v[er]ão syguymte
inaindar joão gllz pouoar aquella jllia a que joão gllz cliaiiiou da madeyra por o fer-
moso arvoredo que tem.- no verão syguirntc na emtrada de iiiayo inamdou clRey
fazer prestes Ires iiaujos e joão gllz que coiii sua iiiolher costainça Rojz dallmeyda
inolher sainta e cõ seus fyllios q lierão joão g l z e jlena e bryatriz inyiiynas e com a
gemte [que] quysesein fosem pouar a jlha da inadeyra e as que ouuese derredor inaiii-
dou lhe ellRey dar os oiiieziados e coiiideiiados que ouuese polas cadeas e Reyno
João gllz não quis levar iienl-iuiisdos omyziados por cullpas de fee ou de treyçao ou
ladrão dos outros cullpados leuou todos os que ouue e forão dele bem tratados da
outra jete forão ~iiuytose os inais do allguarve cheguamos a jllia da madeyra ao porto
dos jingreses a que ele pos rioine inacliiiu por aiiior do jmgrcs que aly cslaua
Emterrado Saymos eiii terra a pryiiieyra cousa que fez foy traçar liunia jgreja de
Emvocação de xpo como o jmgres pedia e iiiaiiidou cortar lia aruore que estaua sobre
a sepiilltura e traçou a igreyja de inaiita qiie ficou a capella sobre a sepulltura dalii
Soinos ao iiiinchal abryginainos os iia~ijosaos jllieos deterinynou dc fazer morada ein
terra de inadeyra e fella oinde despois a capitoa costaiiiça Rojz Tez a jgreyja de sainta
cateryiia e dally fuiiidou a igreyja de iiosa sõra do calhaao que Soi a piyineyra casa
de jgreyja que se fez lia jllia daquy acorclou o capitão que n8o se podia cõ trabalho
doineins desfazer tainto arvoredo que estaua desde coineço do inundo e pera a corn-
suinjr que hera forçado por lhe o foogiio e pollo e cõo iii~iyloarvoredo cõ a inuyla
ainlyguidade estaua dela derrubado pollo clião e outro seco eiii pee al>eguou o foguo
de inaneira por todo e hera tain brauo que quoaindo veiiitaua de sobre terra não se
podia sofrer a cliaina e quetura e tnuytas vezes nos acolliiamos aos jllieos e aos iiau-
jos ate o tempo mudar durou o foguo por a terra sete anos ciii que dcslrohio iiiuyta
iiiadeyra.1 EIIRey cada verão niainda~ia naujos c ferro e aço e se ineinles e guados
que tudo Sorleficaua muito de cada allqueyre que seineauão pello iiieiios colliião
seseta e as Reses ajmda niarnavElo e ja paryiio e tudo se daua asy avya grainde cani-
tydade de madeyra e ferinosa e a levauiío p[er]n inuytas parles. e começauão co ela
a fazer iiaujos de guaves e castello davainte por que claii~tesnão nos avya no Reyno
nem ~ynhãopera oinde iiaueguar não avya mais que caravellas iio alguarue e
baryneis é lixboa e no por101 despois que o foguo despejou de arvoredo costa do
inaar deterinyiiou o capitão inudar sua morada em liuiii allto que esta sobre o f~iin-
chal e loguo deii-ointe fez l i ~ i i ijgreyja
~a da coinçeyção p[er]a seu jaziguo e a capiloa
fcz a casa de sainta caleryila e a par della fez inuytas casas. p[er]a guasalliado de iiiol-
heres de boa vyda e pobres a que deixou esiiiollas p[er]a seiiipre lerem cuydado de
aliiiipareni e s[er]vyrem aquella casa deterriiyiiou o capitão correr toda a cosla da
jllla por qLie o fogu« tyi.ilia ja despejado luguar perajso c a liel3arlyr n 1cri':i coin q~iciii
lia aproveytase lnaindoli fazer prestes certos batcys. avyãci dc .ir 1701' incLICI~. C clc
com allgtiins de cauallo e gcinte de pe por terra Iiirciii seiiiprc lia vystii Iiiiiiis dos oul-
ros e por liao av[er] cail-riilhose fazer deteiiiça eiii partyr as terras eiiiidavão pouco
cada dia e cada dia liiamos dormir a cabo do mar c dos britcys. cliegiiniiido ciii Iiiini
allto sobrc cainara de Ilobos traçoti ally omde se lircsc Iiliinajgrci:~do csprytii sriiiito
pasainos abaixo a humas serras iii~iytoalltas. ally travou ou1i.o jgrcy.jii cl:i vcin cruz e
estes alltos toiilo~ipera seus Eitleyros. pnsou abaixo ate clicgliar LI Iiuiiiei Rybcirn
inuyto furiosa a que cliamou a Rybeira brauiia aqliy se iiictco nos botcys p[cr]a vier]
ha terra do iilaar e clieguoli ate huina ponita que se I ' a a ~abaixo cluc ciiitrn iio iiiacii.
e lia Rocha que esta sobre a pointn esla Iiliniri vcn Rcdoinclri iin Ri~licicoiii Iitiiis
Rayos. poslhe noine poiiita do sol. dalii toriiou ;i dcscharcar oindc ritiiis clcixcira »s
bateys.1 pasaindo lilima liybeyra que esta silem desta pointii triiqciii Iitiiiio .Igrcy,ia c111
huiila ladrainl do apostollo saiiityagiio e nlcin acliainos 111) cii.iioi.ctio c.iiiicln intiyto
cerrado porqlie o Fogiio amdaua aimcla eiii [iartc dele clcceiiios e\ liliiiiti liylicirii sciii-
pre ao soin daglioa vienios dar no iilar oiiidc ocliiiiiio~OS biitcys tlcyx:rnios rilly ;i$
bestas. c quein as leuase como pudese. c mcteinlinos iios batcys c Iòiiios dcsciiib;lr-
car a l i ~ i i ibom
~ desembarcadouro ciiiltrc Iiiiiis pciicdos a cpic clc cliriino~io ciillich.
sobre esta callieta tomou h~inialomba dn grainclc qlic Iloglio iioiiicoii pci'ti seti lillio
joão gllz e ao Iloiiiguo da Rybeira p[erla o pocmtc. LoinoLi oLilr;i ~ > ) c rsun J a Ií11i:i hiy-
atiz glls E nesta outra Ilombacla da iiiesma lillia C liiiiii luglicir rillto dc hoU vysta (I«
inar e da terra traçou por sua mão hiinia Jgrcy.ja clc iiosri sciilicira ela csliclla c clisc qiic
esta jgreyja avya de deyxar inuyto cmcoiiienidadn ri todos sciis Ij4lios porque rivy:~
miiyto tempo que dese.java liimdar I~iiiilajgiuyjii dcstii niiocação tlolii IJiisiiinos ;iboixo
ate a derradeira poii~tasobre o iiiiir de oiitlc parcçc qlic iião lia iiinis ~crrroestniiitlo
aquy lhe trouxeião os dous bsitcys Iium peyxc qiie parccyyu p:irgiio de ~iiiircivyllios:~
gramdeza e por aiiior deste pcyxc Ilcou nome arlliclla poiiita (10 pargiio dcsln poini:i
vyra a terra p[er]a o iloi'te ate oiitra ~~»iiit:i
c1iie ele dally pci?i lrns Lrriyoii Iiii ciil~iLíiiiyo
de mochico e pos noiiie a esta poii~lkiclc lrystiio asi cliaiiiiiiia clc sciiiprc trysliio c Iicrn
Ilie inuyto afèyçondo daquy nos toriiaiiios ~i[erliio Iiimclinl o inais tlo ciiiiiiiilici por
inaar por a terra ajmda s[erl iniiyto traballiosa c coiiicçciii ri por c ohre ;i litlelicnqlio
das jgreyjas e Ilavramçri da terra1

[Jean Fontvicille, "A Iciicln de Mncliiin- ~iiicddcoiivcrtc I~ililiogrnl7lii~111c ;I Iii


Bibliotlièclue-Musée clu Pal:iis de Bragaiicc h Vila Viçosn(l)ortugal)...", iii rlt-ttr,~ i10
Co~~grc~ssti I I I, I ,isI~o;i,I 00 I ,
/~~/er.irac~iorrcr///i,r/cír,izr c/ri,v D~:vi~h~.ir~~c~/r/o,r,
1i11.107-2381

REGIMENTO NOVO DAS MAI)EIIIAS


I'ARA A ILIIA DA MAl)lCIIZA115621

Eu El-rei faço saber a Vos O~ividorcsSiiízcs Vcrcadorcs I)rocur:itlo~csc Iioiriciis


boris das Câmaras da Cidade do I:uiiclial e Villci de Mncliico c (leis oiiirris Villas (Ias
ditas Sui.isdições lia ilha cln Maclcira, que el-rei D, Mniilicl iiicii I3is:ivci. cliic Sniilii
Gloria haja, sendo informado do grande danino e prejiiízo, que aos povos da dita ilha
se poderá seguir por falta das lenhas, c madeiras, e que não olhaiido os moradores
d'ella antes por seus particulares proveitos contra o beni coinmuia e seu serviço, cor-
tavam as ditas madeiras e lenhas em muito mais quantidade, da que lhe era
necessária, e muitos levavam para fora da dita ilha, e outras se perdiam sem se
aproveitarem pelas pessoas, que as cortavam; pelo que vinham em muita diminuição,
proveu sobre as ditas cousas por seu Regimento e Provisões para que as ditas
madeiras se não cortassem, senão etn esta maneira, que para isso ordenou, e porque
Eu sou ora Inforinado, que no cortar das ditas madeiras ha grande devassidão, não
temendo as pessoas, que as cortam as penas do dito Regimento por serem de dinheiro
somente, e por não haver quem as accuse e que por esse respeito, se cortaiii devas-
samente, muito ein prejuízo do bern com~iium,e proveito dos moradores da dita ilha,
e contra Meu Serviço, querendo n'isso prover, conformando-me com o Regiinento
antigo, e coin o. que inais pareceu necessário pela variedade dos tempos: ordetiei que
d'aqui ein deante se tenha a maneira seguinte no coftar das ditas madeiras, e na
defeza e guarda d'ellas:
Priineiraineiite Mando e Defendo, a todas as pessoas de qualquer estado, e
condição que sejain, que em toda a dita ilha não coi-teni madeira algiima, nem lenha
para seus assucaraes, e fazelidas, nem para outra cousa alguma, sem pedirem licença
aos Juizes, Vereadores, Procuradores da Cidade, ou Villas, ein cujo termo a quizeretn
cortar, aos quaes Officiaes Mundo, que olheiii muito bem, com inuito cuidado, e dili-
gencia as pessoas, que lhe as ditas licenças pedem, e veja111 as necessidades que del-
Ias teein, e segundo vireili, que lhe é necessário para seus assucares, e bemfeitorias e
despesas de suas casas, Ihes darão as taes licenças, utiia só vez iio anno, sem llles
mais dentro d'uni aimo depois da tal licença ser dada outra, e q~iandoIli'a assim
derem Ilie darão juramento dos Santos Evangellios, que não cortem lenlia, nem
inadeira alguma inais da que lhe for necessária para seus assucares, e beinfeitorias, e
despesa de sua casa conforine a licença, que llies for dada. E logo no Alvará da dita
licença se declarará o teinpo porque Il~efoi dada, que lzade ser o dito aiiiio, e de conio
liouve o dito juraniento, e sejain as taes licenças assignadas, por todos os ditos
Ofiiciaes que lh'as dereiii, (e sc na dita ilha estiverem os Capitães ou seus Logares
Tenentes de Capitiio as taes licenças serão tambEm assigiiadas pelos ditos Capitães
ou logares-Tenentes, cada uin em sua Capitania), os quaes ser50 coin os ditos
Officiaes 110 dar das taes licenças.
2" E qualqiier pessoa, que for achada cortando ou trazetido a dita madeira, ou
lenha, se se provar que a cortou ou trouxe seli1 a dita licença, ou que cortou ou trouxe
mais da que lhe era necessária coilforine as ditas licenças, se To; peão serti publica-
inente açoitado e condeinnado ein dois ailnos de degredo para a Africa, e vinte cruza-
dos, e sendo de qualidade ein que não caiba pena de açoites, será degradado quatro
annos para a África e condemnado ein cincoenta cruzados, c nas inesnlas peiias
iiicorrerão as pessoas que as inaiidarein cortar, ou trazer por seus creaclos, ou outras
pessoas, o11 seus escravos, alem das ditas pessoas, creados e escravos, l~avereinas
ditas penas de açoites, e degredo corno dito é.
3" E sob as niesinas penas Defendo e Mando que nenli~imapessoa corte os paus-
brancos, porquanto sou iiií'orinado, que estes paus podem servir para os cngenlios dos
assucares, e Defendo os ditos Officiaes, que n5o dêeiii licença alguina para se
coitarein os taes paus, antes logo nas liceiiças, que dereili declarem porque os não
1150-de cortar; seiido porem os taes paus iiecessários a alguinas pessoas para seus
engeiil-ios, os poderão cortar com licença dos ditos Officiaes, que para tal necessidade
Ihes darão a tal licença inforinando-se primeiro se 111e são necessirios e dando-lhes
sobre isso jurainento, e cIe outra inaiieira niío.
4" Outrosiin Mando aos ditos Officiaes, que não dêein as ditas liceiiças para se
cortarem as ditas inadeiras ein pai-te que faça prejuízo i s aglias da dita ilha, nem as
~.?oderãodar para se cortarem a menos de cento e ciiicoenta passos eiii redor das
Ribeiras e aguas, pelo muito prejuízo que d'isso Ilies vem, e as pessoas que costarein
as ditas inadeiras dentro dos ditos cento e cincoenta passos incorrerão nas inesmas
pciias, dos que as corta~ilsem liceiiça, e para inellior gtiarda do sobredito: Mando aos
ditos Officiaes, que logo nas licenças que derem, dcclarein Coino I I ~ OIião-de cortar
as laes madeiras, se nEo arredados cento e cincociita passos das ditas aguas.
5" Outrosiin Dckiido e Mando, que pessoa alguina não poiiha fogo na serra onde
as ditas madciras e lenlias estão, nem eiii parte d'oiide se lhe possa atear, nem
descasque as arvores que estivcreni na dita ilha; porquanto pelas ditas maneiras se
secca e destroe miiita parte das ditas ~iiaclciras,e sendo pessoa alguma achada, oii
sei-ido lhe provado que põz alguéiii fogo, que fez damno, e prejuízo nas ditas
inaclciras, ou que descascou algiimas arvores, incorrein em pena de vinte cruzados, e
L I ~ Irinno de degredo fora da dita ilha, e os que pozerein fogo, alem da dita pena
11avcl~Zíoa qiie par iniillias Ordeiiações é deterininado, aos que põem fogos.
6" E querendo alguiiza pessoa cortar raiiia para manliineiilo de gados, ou para outra
rilgiiiiia coisa, costas6 da rama de cima das arvores, e lifio cortarh arvore alguma pelo
1x5,sob pena de incorrer nas iiiesiiias pcilas, ein que iilcorrein os que corlaii-i as
inadciras e leiilias, sem licetiça da Câii~ara,e quereiido esinoutar alguina terra na dita
ilha, seri avisado que niío a esiiioute senão coin inacliado, e não com oiitra alg~una
fcuamcnta, ou outro ferro, e seri obrigado a aproveitar toda a lenha que tirar sem lhe
136s todo, e sendo-lhe provado, que i150 esmoutou coin inachaclo, ou que não
aproveitou toda a lenha qiie tirou, pagivi vinte cruzados da cadea
7' E 11orque Eu sou inforinado, que lia dita ilha ha riiuitas pessoas, que tratam em
tabuados e iiiadeiras, e por não serem arreigados corlain iiiais da que devem e deix-
ain perder inuita d'ella, sem a aproveitareni: I-Ici por beiii e Mando que as pessoas
que assiiii cortarem, no Sazer dos ditos tabuados, e inadeiras, sejam casados e
moradores lia dita illia, e aboiiados ti'eella, e neiil-iiiina outra pessoa que niío for das
clitas q~ialidadespoder8 traiar ein tal negociaçáo, e aos que Forem taes, dar80 os ditos
OSliciacs licença para cortareiii as inadeiras quc virem que lhes são necessbrias,
scguiiclo o trato, e inaileio q ~ i cteiii, os qliiies riaiiça dar50 segura aos ditos OSficiaes
;porque se obriguein a aproveitar toda a ~nacleira,que costarcm, pelas licenças que
Ilies Soreiii daclas que aproveitarfio o pai1 todo até ao cabo, sein deixarein cousn algu-
ina cl'elle, posto que o tabuado fique curto, sob pena de cincoeiita cruzados de cadea;
ci qual liniiçn o~itrosiiiidar80 e quc os tabuados e madeiras que assiiii fizerem, se gas-
t a r a ~toclos na dita illia, sem se Icvarcm, neiii inai~clarcinCora d'clla, sob pena de cin-
coeiita cruzados, as quacs pciias se liaver50 pelas clitas fianças que se registarno nos
Livros das CBniaras, qiiaiillo as taes pessoas as dereiii. E alein da dita pena de cin-
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

coelita cruzados, ein que assim incorrerão, levando-as, ou mandando-as levar fradall-
ha, incorrerão nas inais penas em que por este meu Regiinento incorrem as pessoas,
que levain ou mandam levar madeiras, ou lenlias fora da ilha, como adeante ser&
declarado.
8"- E assim os ditos tratantes, como qualquer outra pessoa, que por licença dos
ditos Oficiaes, coi-tar arvore, ou seja para fazer seira d'agua, ou para madeira, oii para
qualquer outra cousa, será obrigado a aproveitar todo o dito pau, coino dito é, e pol-
o ein carregaclouro nos portos onde os navios vão cai-regar as madeiras e lenlias, e
aproveitar assiin o toco do pau, coino as ramas, sob a peiia atraz declarada
9" - E porque muitas Vezes acontece irem a serra os fragoeiros, e outras pessoas a
cortar arvores para fazerein iiiadeiras e tabuados, e depois de as tereili cortadas, ou
conieçadas a cortar pelas achareili ocas e não servirem para o que as Iiaviaiii mister,
as deixam perder, e não aproveitam Hei por bein e mando, que estes taes sejam obri-
gados a aproveitar as ditas arvores, que assiin cortam, ou começatn a cortar, assiin o
toco como a rama dentro CIO anno ein que assim cortarem, ou começarei11 a cortar, e
as levarão a carregadouro, aos portos do iiiar, onde os navios e barcos as vão carregar,
para se não perderem e apodrecerem na serra, e as pessoas que as ditas arvores
cortarem, ou coinesaretn a cortar, e as i ~ ã oaproveitare~n,corno acima 6 declarado,
incorrerão na pena de vinte cruzados da cadêa
10" E alein dos sobreditos liaverei11 a dita pena de vinte cruzados, Hei por bem,
que passado o aiino eiii que assiiii cortarain, ou coiiieçaratii a cortar os paus, e lenhas
sobreditas, Aquéiii os ditos paus e Ieiilias, e inadeiras devolutas para as despezas, e
obras clas Câmaras, onde foreii~cortadas; e os oficiaes dos ditos logares teriío cuida-
do de saber, einandar ver, nos tempos que mais coiive~iieiiteIlies parecer se 11a na
serra e outras terras, das ditas inadeiras e as inaiidarão aproveitar, e aléin d'isso se
inforinarão das pessoas, que as cortarain para proccdercin contra ellas, pelas penas
ein que por este Regiinento iiicorrerani, pelas assiiii cortareiii, ou começareni n cor-
tar, sem as aproveitarem COITIO erain Obrigados e especialineiite Mando aos ditos
Offíciaes das Jurisdições, que uma vez cada aiiiio se Juiiteiii nos teiiipos quc Ilies
parecer inais convetiieiite e vissem a serra, sendo iziui diligcritcineiite e com muito
cuidado se achain alguiiias das iiiadeiras cortadas, scin serem siproveitaclas, ou alguin
damno feito na serra para proceclere~ncontra as pessoas, que assim as cortarain ou
coineçaram a cortar, ou fazerain os taes clamiios conforiiie este meu Regitiienlo, c
será presente coin elles o Escrivão da Câinara & sua jurisdição, ao qual Mando que
tenlia uin Livro encadernado, e assigiiado, e contado conforme a ordenaçgo, ern que
escreverei todas as achadas das madeiras, e darnnos, que foreiii feitos, e sendo acha-
dos plos ditos Ofíiciaes, ou iiieirinlio, ou por outra qualquer pessoa do povo, que f i m
saber á Câmara das Cidades e V i l ~ se, querendo cada um dos ditos Capitaes, ou seus
Logar-Tenentes ir 6 serra com os ditos Officiaes, o poderão fazer e se os ditos
Officiaes não fizerem a tal visitação cada aiino, iiicorrcrtío na pena cle dez cruzados
e LIIIIaniio de degredo para a África, ein Devassa geral de cada ai1110 serão obrigaclos
os ditos Ouvidores a perguntar, por este Capitulo.
11"- E porque tainbém sou inforiiiado, que se se guardarem os Lroiiclas arvores que
se cortain se cortain delles outras, e a pouco teinpo se tornaiii a reformar ao menos
para lenlias I-Iei por bem e Mando, que nciihuina pessoa ponha rogo tios clitos tron-
cos, nem os acabe de cortar pelo pé sein ter licença para o poder fazer sob pena de
incouer nas peliaç e; que incorrem os que põem fogo, ou cortaiii iiiadeiras e leiilias,
seni licença dos Officiaes como atraz declarado
12"- E porquanto sou iilrormado que inuitas das inadeiras, se cortain e levain para
fora da dita illia, tIei por bein e Maiido que neiiliurna pessoa de qualquer estado e
condição que seja, leve, nern mande levar as ditas inadeiras, e lenhas fora da dita ilha
para parte alguina, nem os Mestres dos Navios as carreguem n'elles para levar para
fora, como dito é, sob pena de qualquer pessoa, que as levar, o ~ iiiaiidar
i levar para
fora da dita ilha, incorrer rias penas sobreditas, ein que incorrein por esta iniiilia
Pro9;s'o, os que as cortam sem liceiiça dos Officiaes das Câmaras, como dito é; e
alein das penas iiicorreriío os Mestres dos taes Navios, ein que assiin Iòrem levadas
para fora, ou se embarcarei11 para isso, ein perdiiiieiito dos ditos Navios, a inetade
para quem os accusar, e a outra metade para a Câinara das Capitanias ein que car-
regarem
13"- E para mell-ior guarda do sobreclito, Mando, que nciiliuin Navio parta dos
Portos da dita illia, sein primeiro o Mestre d'elle O fazer Saber aos Officiaes das
Cginaras dos logares d'onde partirem, e l-iaverem dclies liceriça para fhzereiii s ~ i a
viagem; e Ma11do aos ditos Oficiaes, que quando Ih'o assiiii fazereiii saber; aiites tle
lhe darem a tal liceiic;a,os inandes ser por uiil Official da Câmara, que para isso terem
juramento, para ser se levam algumas das ditas iiladeiras, e lenlias para fora da illia,
e achando que as não. levam lhe passarão Alvará de licença para partirein, e partili-
do os ditos Navios sem as das liceiiças incorrerão nas sobreditas peiias eni que incor-
reriam se levassein as das madeiras, c lenlias para fora da dita illia, e isto se nr?n
entenderá e111 alguma lenha que os taes Navios levassem para gasto, e despem dos
mesmos Navios, e terso aléin d'isto os ditos Ofliciaes inuito bom ciiidado de vigia-
rem, e proverem de maneira que lios ditos Navios iião se alguma das iiiadeiras c
lenlias.
14"-Outro siiii, He; por bein e Maiido que iienliuina pessoa Iàça Nios, o11Navios
alguils na dita illia, nem nella se reilovein nem conccrlem lia maiieira segiiiiitc Não
se poderão as ditas Náos, e Navios reiiovar na dita illia tiranclollies a liayão vcllia, e
pondo Ihes outra peca e peca nem tisaiido-llie o tabliado tirando tabua c poiido oulra
nem se Ihes farão as cobertas, ou castellos, posto que o iiiais seja feito cin outrti
parte, sóineiite vindo ter á dita ilha alguils Navios desbaratados da viage111de inaiicir:i
que ião possa111 seguir a viagein para onde lòrein sciu alg~iincoiicerto, clue seja
necessário fazer-se-lhe, pedirão liceiiça aos Offjciaes das ditas Câiiiaras, os qliacs
com o Loco-Tenente de Capitsio das ditas Capitallias verão por si a necessidade qlic
os ditos Navios teeiii de se repararem para a dita viagem, e Ilics diiriio liccnça para s c
poderem reparar das cousas iiecessirias, os quaes terIlo n'isso iii~iitacoiisidcraçiío cni
c01110 dão as taes licenças, iião sendo porein para refazer os clitos Navios como dito
é, nciii para fazer as cabertas, ou castellos dos taes Navios; porque para as ditas
cousas, não Ihes poderão dar taes liceiiças, posto que Ilics peclidas sejam, nciii as pcs-
soas a qlieiii forem dadas poderão usar cl'ellas, antes i~~corrcrão ii:is inesinas pciias
d'este Capitulo como se sem liceiiça o fizessem, o que assiin Deleiido e Mando s o b
pena do perdimeiito dos ditos Navios, que se na dita ilha lizereiii ou rclòriiiareiii oii
a que fizerem cobertas, ou castellos. e de duzeiitos cr~izados,e q~ialroannos de clegrc-
do para África, e sendo peão será açoutado e degradado dois aniios para África, alem
de perder os taes Navios, e nas inesinas penas incorrerão as Officiaes das obras dos
ditos Navios e Calafates, e todas as outras pessoas, que nelles trabalharem, e os
Ofíiciaes que derein as taes licenças, contra fórnia d'este ineu Regiinento.
15"- E soiiiente poderão na dita ilha fazer bateis de pescar, e de cal-relo para ser-
ventia da dita ilha, os quaes não poderilo seus donos vender para fóra d'ella, sob pena
de qualquer pessoa que os assi111 vender para fora da illia, pagar cincoenia cruzados,
e ser degradado dois annos para Africa.
16"- Outro siin Defendo e Manclo, que nenh~iinapessoa coinpre lenha na dita illia
para tornar a revender, sob pena de paçar da cada vinte cruzados, e iiin anno de degre-
do para f6ra da illia.
17" - E porque soii inforniado, que na dita ilha lia muita terra ein que se bein
podein plantar castanheiros, e pinheiros, e que até ora se não cumprir o que era man-
dado acêrca da creação das ditas arvores, havendo respeite á inuita necessidade que
d'ellas ha na dita illia, e á falta que pode haver de niadeiras ao diante. Hei por bem e
Mando aos Officiacs das Camaras da dita ilha, que nianclem vir á Cainara os Hereos
das ditas terras, que teem testadas nas Ribeiras d'Agua da dita ilha, e Ihes iiiaiideni
que cada uin anno porihain certo nínnero das ditas arvores, taxando-lhes o Iiuniero
confoi-iue a terra que cada uni tiver e possibilidade e qualidade de cada unia pessoa,
qiie cada uin anno plante111 o numero das ditas árvores. que lhes assiiii for taxado, até
as ditas terras screni de todo aproveitadas, e povoadas das clitas arvores, c de c01110
Ihes assim fôr inandado, e do niiniero das ditas arvores, que cada aiitlo hilo-cle pôr se
fará assento no Livro das Cailiaras, assignado pelos ditos Officias e pelas ditas pes-
soas. E Ma~iidoaos Ouvidores e Officiaes dos clitas Jurisdições que cada aiiiia ioiiieiii
conta pelos ditos assentos as pessoas a quein foi mandado praiitar as ditas arvores se
as plantaram as q ~ i ceraiii obrigadas, o tal anno a põr. E 1150cumprindo ein tudo O quc
Ilies sssim fôr mandado pagarão de cadea vinte cruzados, pelapriineira vêz, e pcla
scgliiida vez trinta cruzados e pela terceira vêz que em Ludo não cuniprireiii. aleni dos
trinta cruzados de pena serão degradaclos dois aiinos fora da dita illia, e n5o
cuinprindo em parte o que Ilies assiin fôr inaiidaclo pagarfío por cada arvore quc
ineiios plantarem das que Ilies foi iiiandado, iriii cruzado até quantia dos ditos trinta
cnizados soniente e os Ofíiciaes das diias Caiuaras, terão cuidado e muita diligencia
em mandar guardar as ditas arvores que assiin Forein plantadas, e para a dila guarda
Ihes porão as penas que Ilies parecerem co~ivenieiites para cluc os gados dos
moradores da dita illia, as não coiiiaiii, nem se percaiii por outra alguma inaiieira,
antes se criem, e aproveitcni para ao deante.
18" E para mellior giiarda das couzas contidas n'este Regiinento, Hei por beni e
Manclo que os Ouvidores das ditas Jurisdições elevassem eni cada um arino iio mez
de Janeiro de todos os casos aciiiia declarados fazendo toda a diligencia que Ilies f6r
possivel para se sabcr qucin coiuiiietieu as couzas que por este Regimento siío
defezas e prenderão os culpados, e procederão contra elles, coiiio for jusliça, dantlo
iippellação, e agravo nos casos ein que couber para Minha Fazenda, perante o juiz
dos Meus Peitos d'ella, e nos casos em que alem da pena de clinlieiro lia pciia de
clegreclo por este meu Regimento, appellarão por l~arteda Jusliça, poslo que as partes
se.jain absolutas, e nos casos ein que nsio houver niais que pena de dinheiro, se as
partes condeinnadas qiiizerem appellar receber-1 lies Iião sua appellação para a dita
Fazenda, e sendo absolutas não appellarão por parte da Justiça, aiites darão livra-
mento as partes para escusar longas prisões, e gastos das partes, e os Officiaes das
Cainaras terão rnuito cuidado de requerer aos ditos Ouvidores, que tirem as ditas
devassas, conio dito e, e não as tirando os ditos Ouvidores posto que Ihes não seja
requerido a o tempo atraz declarado, incorrei-ião na pena de cincoenta cruzados, a
inetade para as obras e despesas dos Concelhos, e a outra inetade para os Captivos,
e dois aniios de dcgredo para Africa.
19" E alem das ditas devassas geraes que assim Maiido tirar cada anilo, poderão
os Meirinlios da serra, ou quaesqlier outras pessoas do povo denunciar os casos
d'este Regiinento b Justiças da dita ilha, as quaes lhes receberão as taes deiiuiici-
ações dando-lhes juramento dos Santos Evangelhos se denunciain bem e verdadeira-
ineiite, e nomearão teste~iiunhas,e as ditas Justiças tirar devassa pelos Autos das ditas
denunciaçôes e procederão coiitra os culpados coiiforine a este Regiinento, e nos taes
casos serão os ditos Meirinhos e denunciadores obrigados, a accusar as pessoas de
que assim denunciaram e Iiaverão a metade das penas ein que forein coiideinnadas,
que Hei por applicados para os ditos accusadores, e não accusa~idoos taes denunci-
adores, corno dito é, pagarão vinte criizados para os Captivos, tanto que d a accusação
desistirem, e proceder-se-ha no caso por parte da Justiça, e sendo as taes acc~~sações
e denunciações feitas perante os Juizes das ditas Cidade e Villas, darão os ditos Juizes
sentenças no caso como Ilies parecer justiça e appellarão para os Ouvidores das ditas
Jurisdições, e os Ouvidores para a minha Fazenda, no rnodo aciiiia declarado; e
Mando aos Meirialios da serra, que sejam muito diligentes, na guarda das ditas
madeiras e lenlias, porquanto o Hei assiin por muito Meu Serviço, e proveito d a dita
ilha, os quaes Meiriiilios correrão a dita serra, e achando pessoa algiiina que corte as
ditas niadeiras, e lenhas contra foriiia d'este Regiinento ou que commetta alg~iinadas
ditas cousas defezas, acerca de cortar, esiiioutar, ou corlar a raiiia d'ellas; acoimala-
ha, e alem das ditas penas atraz declaradas, pagarão as taes pessoas quinllei~tosreis
de coiina pela primeira vez, e mil réis pela segiinda e inais vezes, pela qual pena de
coiina seriio os ditos Meirinhos cridos por seu J~irainentosóineiite, e por elle se fará
execução da dita coima nas pessoas que ellc jurar que achou, e serão obrigados a vir
assentar as ditas coimas dentro de dois dias depois de tal achado, e d'ahi por deatite
as não poderão inais assentar, iiein se Sará obra por ellas, pela condeiiinação da dita
coiina não serão escusas as taes pessoas das inais penas d'este Rcgiinento sendo cul-
pados eiii alguns dos casos n'elle contidos, sendo legitimamente provado que foram
contra elles.
20' - E porque a guarda e co~lservaçcÊodas ditas niadeiras cuinj~remuito ao bein
cominuri1 e Meu Serviço, c pode acoiiteccr que Eu algumas vezes a iiisiiiiicia de algu-
mas pessoas conceda provisões para na dita ilha se fazere~iialg~iinasNrios, ou
Navios, e para se tirarei11 as ditas madeiras, e lei~liaspara fora d'ella, sem eiilbargo
d'este Regimento, Hei por beni e Mando, quc seiido-vos apresentadas alguinas
Provisões rninhas, para na dita ilha se í'azercin Nhos, ou Navios, ou para se d'ella
tirarem alguiiias madeiras, ou lenhas, as não cuiupraes. nern façaes por ellas obra
alguma sein embargo de derogareili expressa e particularmeiite este Regiine~itoou de
quaesquer outras clausulas que teiiliain; e posto que ii'ellas se dc clare, que as con-
Do ÉDENA ARCADE NoE

cedi de meu moto proprio, porque assim o Hei por Meu Serviço nZío se cumprirem,
e suspendereis, a execução d'ellas, até M'o fazerdes saber, e Me enviardes as ditas
Provisões, coin o vosso parecer acerca do bem coinmuni da dita ilha e Meu Serviço,
e do prejuizo que fazem as taes Provisões, e tornardes sobre isso a haver resposta
Minha, do que Eu houver por bem, que se n'isso faça.
21' E por este vos Mando a todos em geral, e a cada uin especial, que vejaes muito
bem este Alvará e Regimento, e o maiideis notificar a cada uni em vossa Jurisdição,
e trasladar nos Livros das Cainaras de ellas para ser a todos notorio, c se saber o que
ácêrca d'isso te11110 inai~dado,a qual notificação se fará publicando este Meu Alvará
e Regimento nas Camaras da dita ilha, e em uina das audieiicias dos Ouvidores, e de
como assim foi publicado nas ditas Camaras, e audiencias, se fará assento ao pé do
registo que se ha de põr nos Livros das ditas Camaras, assignados pelos Juizes, e
mais Oficiais d'ellas, e pelos Ouvidores das ditas Jurisdições, para d'ahi por diante
se cuinprir iilteirainente como por Mim é Mandado. E por este Mando a todos os
Ouvidores, e Jiistiças da dita ilha, e de Meus Reinos e Senliorios, que cumpram e
guardem este Meu Alvaríí c Regimento como se ii'elle contein, e o façain inteira-
mente cuinprir e guardai; e deetn execução hs peilas tl'elle contidas: e Mando aos
Capitães, e quaesquer outros ineus Officiaes, e pessoas outras, que não dêem licenças
algumas para cortarem, nem levarein as ditas inadeiras e leiil~as,posto que alguinas
tenham poder para darem as taes licenças, porque por este Hei os laes poderes por
revogados, sem embargo de quaesquer clausulas, derogatorias que tiverem, posto que
d'ellas se haja de fazer expressa menção, porqué para esta revogação as Hei aqui por
expressas e declaradas, e Commetto a dada das ditas licenças ein todo e por todo ás
ditas Cainaras ila maneira acima declarada: e Mando aos Ofíiciaes d'ellas que eiii
todo o sobredito tenliain especial cuidado, como d'elles Confio, e aos ditos
Ouvidores e Juizes que deciii a execução as ditas penas, e cle todas as pecuniarias
declaradas n'este Regiineiito, que especialinente nos Capitulas d'elle não são appli-
cadas a pessoa algu~na:Hei por bem que a ilietade seja para que111 accusar os culpa-
dos, e a outra metade para as despezas das Cainaras e Concelhos onde as ditas
madeiras e leilhas foreiii corladas, c sendo culpados por devassa, por serein accusa-
dos por parte da Justiça, será a metade das ditas penas para as ditas Cainaras, e a
outra metade para os Captivos.
Antonio d'Abreu o fez em Lisboa, aos vinte e sete dias do niez d'agosto de niil
quinlieiltos e sessenta e dois.-Eu Duarte Dias o fiz escrevec-Raii1lia.-O Conde.

[João Ilenriques Caniaclio, Notas ynrw o es'stvclo da ren~boriznçüoda i l l ~ nda


Madeir.ci- Disseitaçiio inazrgurul apresentada no coricelho E , s c o l w p m complc-
iner~todo czrrso de engenheii*o-siívicziltor, Lisboa, 1920; Ed~iardocle Cainpos
Andrada, Repovomnerzfo Florestal no arqztQ~klagodo M~ic/eira(l952-1975),Lisboa,
1990, ~11.85-893
GASPAR FRUTUOS0[1522-15911

As Sau~luucfescko Terra podem ser cotzsideruii~no testemtinho da situação da


Macleircr em./inai.s do sectilo XVI, coltura etn qzle o padre aço~.iai.iorru esct*eveu.

COMO O CAPJTÃO JOÃO GONÇALVES ZARCO DEIXANDO


OS NAVIOS NO DESEMBARCADOU R 0 FOI DESCOBRI R
A COSTA DA ILIIA ATÉ CÂMARA E LOBOS DONDE TOMOU
SUAS ARMAS E VENDO A SAIDA O CABO DO GIRA0
SE TORNOU A DORMIR AOS NAVIOS

Recolhidos aos navios, teve coiisellio o capitão para descobrir a terra dali para
baixo; e asseiitou-se per parecer do piloto, que deviaili de deixar ali os iiavios e com
os barcos descobrir a illia, por lhe ver inuita periedia, dizendo que assim podia ser a o
loiigo da costa; o que parecendo bein ao capitão, logo ao outro dia se ineteu nos
batéis coiii os principais da fiota, levando mantiineiitos e todo o necesshrio.
O capitIio ia iio batel do iiavio coiii o piloto, e do outro deu cargo a Alvaro Alònso;
e í'oraiii, assiili, correi~doa costa coiii brando inar, gallieriio (sic) tempo e manso
veiito, em calma a costa toda à beira da terra, e, passada uiiia ponta que ihzia a terra
para baixo, ao Poiieiite, viram ao pé dc utiia roclia que entrava no mar, sair dela qiia-
tro caiios de água que a natureza ali fizera tão foriiiosa, coino se fora chafariz feito h
iiiiio, onde, teiido o capitfío desejo de saber que tal era aquela bgua, que tão clara
parecia, inanclou biiscar dela e RCI~OLI-a qiie era estremada, boa e Ziia e Icvc, e daqui
levou uina vasillia para o Iiií'ante, aiitre outras coisas que lhe eiicoinendou.
Correiido mais abaixo, sempre apegados coin terra, acliaraiii eiii um fiesco vale e
aineno piado iim ribeiro de agua, quc viiilia sair ao inar coiii muita frescura; ali lèz
sair alguns ein terra, onde os qiie saíram achara111outra Sonte, que saia debaixo de iiiii
grande c antigo e liso seixo, e era 150 preciosa e fria, que iiiaiidou dela enclier o ~ i t r a
vasilha para levar ao Iní'at~te;e põs este porto nomc (por causa do qiie ncle achou), o
porto do Seixo, coiiio hoje se cliniiia.
Iiido assiin costeaiiclo a ilha ao loiigo do arvoredo, que, em partes, clicgava no iliai;
passando uiiisi volta que faz a terra,. e~itraraiiieiii uiiia formosa angra, na prsiia cla
qual achartim iiin I0riiioso e deleitoso vale, coberto de arvoredo por sua ordein coin-
posto, onde acharam eiii terra uils cepos vellios derribados do teii?po, dos qiiais innn-
dou o capitão fazer uiiia cruz, quc logo fez arvorar em uin alto de tima arvore, clai-rdo
nome ao Iiigar Santa Cruz, oiiclc sc depois fiiiidou ui-iia iiobre vila, a iiiaioi; iiiais ricri
e iiiellior povoaçiio de toda a parte de Macliico- e é tiío nobre eiii scus iiioraclores,
q ~ i c a, não ser Macliico cabeça daqiicla jurdição, por ser primeiro acliacla, cla l-orii
cabcceira e a principal dc toclri aquelii capitaiiia, que tfío beiii assciitacla csta, olirlc
tinha nlfaiidega e oficiais clela.
Passados inais abaixo, ein iiiiia parLe (ia terra saíram, por cstar luclo cercado clc
altas roclias c arvoredo, (5 1150visin inais qLie correntes, ribeiras, Iòiites e regatos, que,
por antre ele, vinham coin grande frescura deferir ao mar.
Chegados a unia alta e grande ponta que a terra fazia grossa e alcantilada iio mar,
acharam nela tantos garajaus, aves do mar, que sein nenhuin medo se puiiha~iisobre
suas cabeças e sobre os reinos, que eles toinavam coin a mão coin que liouverani
iiiuito prazer e fizeram grande festa e, por esta causa, ficou o nome à ponta do
Garajau, que está quatro léguas de Machico para o Ocideiite, ou três (como outros
dizem); desta ponta descobriram outra abaixo, que seria dali duas léguas, e fazia-se
antre estas duas pontas uina foriiiosa e grande enseada de terra mais braiida e ares
frescos, toda coberta de formoso arvoredo, tElo igual, por ciina, que parecia feita St
mão, sem haver arvore inais alta que outra, e, além de ser muito alegre à vista, vinha
beber toda na água, que parecia a Natureza nieter todo seu cabedal ein perfeiçoar
obra tão acabada. Antre este arvoredo igual e espaçoso iam entremetidos alguns
cedros, 150 altos que se divisavain por cima das outras árvores, que eles iiiui bem
coiiheciam pela experiência que deles atrás tinham, onde acliarain muitos.
Antes que cliegassein a este deleitoso vale, fora111 correndo a costa, que de altas
rochas era, sem acharein lugar onde sair, seniío em unia ribeira que bota unia pedra
ao mar, em que podem deseinbarcar coino ein cais; ali iiiandou O capitão o seu amigo
Gotiçalo Aires que saísse em terra nesta ribeira, coiil certos companheiros, e
andasse111 pela terra algum espaço ver se Iiavia nela alguns animais, ou bichos, ou
serpentes e cobras venenosas, e ncio se afastasseni da correntc da água para se saber
tornar aos batéis, que 110 mar deixava. Foi Gonçalo Aires com os companheiros cor-
rendo a terra por espaço dc três l-ioras, no í i ~ ndas quais se agastava já o capitão coin
a tardança deles, senão quando eis que assomavam pela ribeira abaixo, com capelas
na cabeça e, enramados, vinliani falando c0111 muito prazer que não achavain coisa
viva, sencio aves; e daqui ficou rioine i ribeira de Goiiçalo Aires.
Chegados ao foriiioso vale, que de lisos e alegres seixos era coberto, scni haver
outro género de arvoredo, seiião muito f~iiiiiclioque cobria o vale até o 111ar por boi11
espaço, saíam deste deleitoso vale ao mar três grandes e frescas ribeiras, ainda que
1-150 tão soberbas, na aparência coiiio a de Machico; eram, poréni, muito forinosas por
todas virein acabar no rilar, saídas deste vale. E, pelo inuito f~iiicboque riele achoii,
lhe pôs nome o F~inclial(onde depois fundou uma vila de seu iiome, que já, tieste
teiiipo, é uina nobre e sumptuosa cidade), iio cabo do qual estão dois ilhéus, oilde se
foram abrigar por ser já tarde, e tomou em t e m hgua e lenha, com que fizeram de
cear, eni uin deles, de muitas aves que toiiiarain; depois disto forain doriliir aos bar-
cos e, coino foi maiiliã, passaram inais abaixo. E, chegados a uina poiita, que 110 dia
dantes tinham visto, inandou o capitão pôr nela unia cruz, donde lhe ficou O nome
Ponta da Cruz. Dobrando esta ponta, forain dar ein uma formosa praia que, pela for-
mosura e assento dela, Il~epôs nome a Praia Formosa.
Prosseg~iii~clo João Goi-içalves seu descobriinento pelo modo acima declarado,
coiii seus batéis e companhia, antre duas pontas virain entrar no inar uma poderosa e
grande ribeira, na qual pediram uns rilaiicebos de Lagos licença para saíre111 em tena
e ver a ribeira, que espaçosa e alegre parecia. E, ficando o capitão coin os outros 110
batel, os niando~ilançar fora pelo barco de Alvaro Afoiiso, os quais, eiii Lerra, coiiie-
terain passar a ribcira a vau e, como ela era soberba em suas Ag~ias,corria coin tanto
ímpeto e fúria ao mas, que ila veia da agua caíram e a ribeira os Icvava, onde cor-
reraiii seni falta perigo, se o capitão do inar não bradara ao batel de Alvaro Afoiiso,
que eiii terra estava corii a gente, onde eles foram, que corressem depressa aqueles
inaiicebos, que a corrente da ribeira levava, às vozcs do qual foram o s mancebos
acorridos e livres do perigo da agua, com que o capitão ficoct contente, porque os
trazia nos ollios; e daqui ficou o nome ã ribeira, que hoje, este dia, se chaina Ribeira
dos Acorridos, qiie peor pareceu aqueles mancebos de perto, do que Ilie pareceu
primeiro de longe.
Daqui passnraiu mais abaixo até dar em ~iiiiarocha delgada, a maneira de ponta
baixa, que entra muito no mar, e, eiitre esta roclia e outra, fica um braço de inar ein
reiiianso, onde a Natureza fez Liriia grande lapa, a modo de câinara de pedra c roclia
viva; aqui se iiictcrain com os bateis, onde acharam tantos lobos iiiarinhos, que era
espaiito, e não Iòi pequeno refresco e passatempo para a gente, porque iiiataraiii
iiiuitos deles e tiveram na ~~iatallça ~ n ~ ~prazer
i t o e festa, pelo quc deu noiiie a este
reinanso Câmara de Lobos, donde este capitão João Gonçalves toiiiou o apelido, por
ser a derradeira parte quc clescobriu deste giro e caniiiiho, que fez; e deste lugar
tomou suas-arinas, que el-rei Ilie deu, tornando ao Regno, como adiante contarei.
Dcste lugar de Ciinara de Lobos não passaram inais para baixo, assiiii porque Ihc
licavaiii o s riavios longe, como porque daqui 1180 p~ideramver bem para baixo a costa
coin o inuito arvoredo. Contudo, quando se saiain desta câinara e reiiianso, da ponta
do mar viram Lima roclia iiiuito alta, logo ai apegado e arrebentar iio iiiar em ~ima
ponta que ela abaixo Sazia, a qlial lhe licoli por mera e fim do sei1 descobriii-iento, c
Ilie derniii noiiie o Cabo de Girão por ser daquela vez a derradeira parlc e cabo do
giro d e seu caniinlio. Daqui tornaram outra vez dormir aquele dia ao illié~ida iioitc
pass~ida,onde dormiiani nos batCis a ele abrigados, e, ao outro dia scg~iiiite,fornin
doriliir aos navios e, chegando coiii muito prazer, acharaiii coin iiluito ii~aioros que
iicles ficaram, pelos vcrein til0 contentes e satisfeitos da Ièrtilidride, kcscura e boii-
tlatlc, que Ilie contavai.ii do sitio da ilha e portos clLie deixavaiii dcscobcrtos, làzenclo
tocios, juntaiiientc, inuita festa e dando muitas graças ao Senlior, pcla graiirlc iiiercB
q ~ i cIlies tiiilia feita.
Parliclos, pois, estes capitiíes de Lisboa, trouxe João Goiiçalvcs sua mulher,
Consttiiicia R«clrigues de Alineicla (pessoa tiio católica, como virtuosa), e três fillios
c11,icdela tinha, Jogo Gonçalves, I-Iclena e Breatiz, meniiios cle pouca irliide. E dcu
licenc;a el-rei a tocla a pessoa que quisesse vir coiii ele para povoação clns dilas illitis,
assiin a do Porto Saiitn coiiio da Madeira; iiiaiiclou dar os Iioiniziaclos e condenados,
qiic I-io~ivcssepelas cncleias e Regiio, dos quais João Goiiçalves 1150 quis levar ricii-
Iiuiii dos culpados por causa da Se, ou treiçgo, ou por Iaclriio; das outras ç~ilpase
Iiaiiiizios levou todos os qiic houve e Torani dele bein tratados; e, da 0~11i.agente, que
por ~ ~ w o n t a c queriam
le buscar vida e ventui+a, forain iiiuitos, os i-i~aistlcles do
Algarve.
Levarain estes capitRcs gado e aves, animais cloi~iksticose coelhos prira lailçar iia
1eri:i. Cllegados ao Porto Santo, foraiii dar eiii uin porto da banda cle Leste, onde
actiarziiii iins fiacles da orcleii1 de Siio Praiicisco, que escaparam dc um iiauli.iígio, tle
cltie todos pereccrnin, se1150 clcs, que acliarain qliasc iiiorlos, por 1150 lcreiii cliic
coiiicr; clonde deram iioinc a e s t porto, que se ora chaina o por10 dos I~r~lclcs.
Saíclos toclos eiii terra, pareceu 1x111a Barloloriic~rPalcslrelo a disposiq5o ciela, por
ser fresca, de bons ares e sadia, e começou a povoa-la, tirando ein terra a gente que
quis ficar, e animais, galinhas e coelhos, os quais multiplicaram depois nesta ilha do
Porto Santo de tal maneira, e eni tanta quantidade. que foi a maior praga que houve
na terra, porque não deixavam criar erva verde na illia que a não coinesse~ii,e c0111
paus e às niãos OS matavam seili os poclerein desinçar; e ainda hoje ein dia ha tantos,
principalmente ein uni grande illiéu, que apegado com a ilha está, que, dos muitos
que se nele criain, tein nome dos Coelhos, e e o inelhor refresco da terra, onde vai
inuita gente folgar, e dia se faz que se iiiatani duzentos, seili os acabarem de destru-
ir.
(...)

CAPITULO NONO

DA DESCRIÇÃO DA ILHA DO PORTO SANTO


E DA ABUNDANCIA E MORADORES DELA

A illia do Porto Santo é pequena, mas fi-esca, de boils ares e sadia, ainda que 1150
tem boas águas, por ser seca e de pouco arvoredo, e o priiicipal (tirando os dra-
goeiros) é zinlbro e urze. Esta no caniiiilio, quando vão cle Lisboa para a illia da
Madeira, da qual esta vinte léguas de porto a porto, quero dizer, do porto da Vila ao
porto do Funclial, e dc terra a terra são doze léguas EstÁ ein trinta e três graus de
altura, da parte do Norte. É pequena e quase recloiida, de três léguas de compriclo e
unia e meia de largo, ou pouco inais. Está Nordeste Sudoeste sua coinpridiío, que
começa do porto das Cagarras, que está da parte do Oriente, ao Nordeste, até o ilhéu
do Boqueirão, que está da parte do Ocidente, ao Sudoeste. E a largura pelo nieio é da
Vila, que está da banda do Sul, até a Fonte da Areia, que cai da banda do Norte; e
quase toda é da inesina largura. E demora esta ilha Nordeste Sudoeste coin os
Cachopos e esta de Lisboa cento e quarenta lég~ias.
No porto das Cagarras, assim chaiiiado por haver ali na rocl~amuita criação delas,
que está da banda do Oriente, ao Nordeste da ilha, vem ter ao inar de longe LIIIIEI
ribeira salgada; dele vindo, pela banda do Sul, para o Ocidente, perto de unia lkgua
est8 uma eiiseada pequena, onde aboca iiiiia ribeira de agcia salgada, ainda que vcin
de longe, dantre unias serras, e aqui cliaiiiam o porto dos Frades, pela razão já dita,
e é boin porto.
Do porto dos Frades, pouco inais de ineia légua, indo para o Ocidente pela mesiila
parte CIO Sul, estrí LIM ilhéu grande e redoiiclo, meia légua afastaclo da terra, Norte e
Sul dela, e alto das rochas todo à roda, que tem em cima grande cainpo, c01110 de dois
iiioios de terra, onde lia ~iiuitospaus de dragoeiros, e por isso Ilie cliainain o illiéti dos
Dragoeiros; tein taiiibéin za~iib~~jos, e criam-se nele inuilas cabras, cagarras e coel-
hos de diversas cores.
Deste ilhéu dos Dragoeiros, a iiiein légua a Loeste, pela mcsiiia banda do Sul, estA
Liin pe~iedogrande e redoiiclo como ilhéu pequeno, que (parece), por ali alguéiu se
deitar a dormir, se chainou aiitigaiiieiite o Peiieclo do Sono, o qi~alestá quase pegaclo
na terra, porque de iiiaré vazia fica ein seco, e do porto das Cagarras at6 estc lieiiedo
são tiido roclias altas e peneclia ao loiigo do mar
Do Penedo do Soilo até ao illiéu do Boq~ieii.50,que ser6 espaço pouco mais de
légua e meia, que é a ponta derradeira do Poente da ilha, é tudo areia braiica, sem ter
nenliuina pedra, e é baia não muito curva, riein coiil grandes pontas ao tiiar, porque
coiii rlualquer teiiipo podeiii sair os navios do porto da Vila, que esta rio ineio desta
baia e praia, que, pela razão do porto jtí dita, se cliaina a Vila do Porto Santo, a qiial
teiii a freguesia do Salvador, sein haver outra eiii toda a illia, e ti ela vêm oiivir inissa
todos os i~ioiadores,ainda que teiilisiiii sua Iiabitação em diversas partes dela. E, aiitcs
de chegar à Vila, todas aq~iclasterras até a niesii-iaVila eram povoadas de dragociros
q~iandose acliou a illia; cliama-se ali o Vale do Touro, por se criarem nela touros c
riiuito gado desde o priiicipio, quanclo o deitara111tia terra:
Nesta Vila do Porto Santo, que esta, cla parte clo Sul, 110 iiicici da pmi:i jíí clita, iião
estão as casas perto do inar por causa da areia, que as rilupira logo, iii;is liavesri do
inar As priinciras iim tiro de bcsta. Te& a vila, pouco mais ou iiiciios, qunlroccntos
fogos, afòra o~itraspessoas que riiorain pelos iiioiites. e, alem da igreja, q ~ i cE i'scg~ic-
sia da iiivocação do Salvados, que é boa, tem m a crmida de São Scbastih c outra
de Santa Caterina. Esta situada em terra chã e, pelo izieio da Villi, corre ao Norte ao
Sul uma ribeira, todo alio, de agua salgada, quase como a do iuai; c, ainda que tal,
regam com ela inuitas Iiortas de couves e da iiiíiis Iiortaliçn, que C. csti.ciii;ida no goslo,
posto que seja regada corii bgua que o não teni. E :io loiigo desta costa, ainda qiic seja
de areia, lia in~iitnsviiihas, qiie diío boas Livas; criaiu-se nelas miiitcis caracóis hi.aii-
cos, em Caiita iiiaiieira, que, em pilrles. cobrei11 ttii-ilo o caciio cios ~iviis,cl~icIhc niio
aparece bago. Têm estas vinhas, da baiida do iiiar, por LapLiines 11i~1it0 bastos c altos
cspiiilieiros alvares, que se criain n:i arcía, c, aiiicla q ~ i ccom o vc~itose ritiipaiii dclo,
crescein iiiuito, por otide é bom tnpuiiie, e iielcs se ciiibtiiniiii niuitos cocllios, dc qlic
toda a terra é muito povo;idri, e com lisgolcs e dardos os lisgiiin c iiiiitrim iios cspiii-
Iieiros, onde tainbéin se criaiii iniiitas inélroas qiic Sazciu iniiito rlaiio nns uvas c lias
amoras, porque hb ali niiiitas aiiiorciras c l?guciras, tle tlivcis:is ciistas, ci!jo lixlo, por
a qualiclade da terra c por o deixarciii bciii iiiadiircccr, tem boi11 gosto.
Fiiialiiiciite esta ilha do Porlo Sniilo é inlii saclia, dc boiis c licscos iircs, liiiidíi qiic
C pequei.ia, de três léguas e iiicia cle coinprido c iiriia c mciíi de I:iigo, poiico iiiiiis oii
inenos (co~iiojá disse); e ião lei11 ligiias, poiqsci. seca c de poiico ni.v»rctlo, e o priii-
cipal (tirando os dragoeiros) C zjmbro e ~irzc.E eiii iii~iilaspartes ctcsla ilhri protluz-
iu aNatiireza iii~iitosdrngociros, do troiico (10s q~iaissc liiz iniiiln loiiçn, c mliitos sã0
tão grossos, q ~ i cse Sabricaiii de uni si) pau bíircos qiic 1io.j~ciii tli:i Iib. cl~icSUO c:iptizes
dc seis, sele lioiiieiis, que vão pescar iicles, c gainclus qiic Icvliiii iiiii iiioio clc trigo.
Tira-se dcsta louça boiu proveito, de tliic se paga tlíziiiia a cl-iui. c sc :iprovcitsiii
iiiuito tio saiiglie do driigzo, rniiilo prezad« iins boticas; criiini cstcs rlrogociros iiiiia
fiiita redoiicla que, inadiira, se l>z inliito amarela, c C. m~iitlocc, c iio tciiipo cliic Iinviii
inliitos clragoeiros eiigordavaiii os porcos coiii cslc l'ruto (cliic sRo coiiio :ivcl8s c,
assim, se cliaii~avail?inaçainlias); j6 agora li6 poucos e vão I~iltaiitlo,pelo miiilo
proveito que se fiixia lias gaiiielas dcles, q ~ i skic in~iitoIcvcs, conio suo secas, c [aiii-
béiii lias rodelas.
E, como jíí tiisse, pela iiiaior prirle tlsi illin, cspcci:~lniciitc paiti o hniid:i tlos serras
c terras de massnpcz, li6 muitos ciirclos parii coiiici; c soia a valcr ~ i i i isnco tlclcs ~ i i i i
viiiléii,, alporcaclos e inuito tloccs, ciii algiins postos da tcrrii. 'I'ciii ttimhdin cstii illia,
aléin das aves domésticas, militas perdizes, e pombas, e coelhos, e rolas, poupas, e
francelhos, lagartixas, e ratos pequenos, dos que cá chamamos iiiorgaiilios, sem haver
nela dos grandes, que quase ein todas as terras vemos.
[...I
CAPITULO DECIMO QUINTO

EM QUE SE COMEÇA A DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA,


COMEÇANDO PELA BANDA DO SUL, DA PONTA DE SÃO LOURENÇO,
ATÉ A ENTRADA DA CIDADE DO FUNCI-IAL

A ilha da Madeira que, coino tenlio dito, lhe pôs nome assim o felicíssimo capitão
primeiro dela, João Gonçalves Zargo, por causa do iiiuito, espesso e graiide arvorc-
do de que era coberta e toda cheia de iiifiiiidade de inadeira, é alta, coin iilontes e
rochedos m~iifragosos, que, por ser muito fragosa, dizem que seu iionle próprio era,
ou devera ser, ilha das Pedras; tão afamada e guerreira com seus ilustres e cav-
aleirosos capitães, e tão inagnânimos, e coin generosos e grandiosos moradores; rica
coin seus frutos; celebrada com seu comércio, que Deus pôs no mar oceano ocideii-
tal para escala, refíigio, colheita e remédio dos iiavegantes, que de Portugal e de out-
ros regos vão, e de outros portos e iiavegações vêm para diversas partes, alé~iidos
que para ela somente ilavegaiii, levando-lhe mercadorias estrangeiras e muito din-
heiro para se aproveitar do retorno que dela levam para suas terras; saudosa coin
altíssimos inoiites e f~indosvales, povoados de alto e froiidoso arvoredo de diversas
Arvores: regada com grandes e rrescas ribeiras de doces e claras águas; enobrecida
com muitas e grandes povoações de soberbos e sumptuosos edifícios; esinaltada com
ricas e forinosas quintais; ornada d e ricos e c~istosospoinares de esquisitas e diver-
sas frutas; enfeitada com artificiosos e deleitosos jardins de varias e curiosas ervas e
flores; um rubi, finalmente, que, coin seu resplendor, cor e forii~osura,da graça a toda
a redondeza do ancl do Universo em circ~iito,pois coin seu licor e doçura, como com
néctar e ainbrosia, provê as Índias ambas, a Oriental aroinática e a Ocidental doura-
da, chegando e adoçando seus frutos, de extremo a extremo, quase o inundo todo.
A ainda que os da ilha de Orinuz, que esta na boca c10 inar Perseu, lhe cliainani
pedra do anel do Mundo, esta com in~iitaiiiais razão, pois tem inais preeiliinê~iciana
boca de todalas nações, iião soineiite pedra desse anel grande, mas, pois o hornem é
uin inundo pequeno, se pode com verdade cl~ainarjóia de seu peito; que, por ser tal
e parecer nele ~1111Unico liorto terreal tão deleitoso, ein tão boi11 cliiiia situada ou cri-
ada, disse um estrangeiro que parecia que, quaildo Deus descendera do Céu, a
primeira terra em que pusera seiis santos pés fora ela.
Está esta tão célebre ilha em altura de trinta e dois graus e dois terços desta iiossri
parte do Polo Setentrional. Tem da parte de Leste o cabo de Quaiitirii eiii Arrica
(perto do cabo de Gué), que esta coin o cabo de Sgo Vicente, Norte e Sul, eiii dis-
tância de oitenta léguas, e com esta ilha da Madeira, Leste Ocste, cento e dez léguas,
e coin o Porto Santo cein léguas. Tem figura de uina rica pirâinide, cujo bases esth
da parte do Ocidente, ainda que alguin tanto rombo, co~iique iaiiibém fica toda Ièita
como uiiia follia de plátano, e o cuine da parte do Oriente é a ponta de São Lourenço,
a qual ilha coin o Porto Santo esta Nordeste Sucfoeste, da mesma inaneira que está o
Porto Santo com a Barra de Lisboa, ou coin os Cacliopos, e são doze Iéguas de terra
a terra; e tem três ilhas, de que adiante direi, que se chaiiiain as Desertas e estão Norte
e Sul com a mesma ponta de São Lourenço três léguas de unia terra a outra.
A Grari Caiiaria está coin esta ilha da Madeira ao Sul e 9 quarta do Sueste e, ordi-
nariaineiite, quase todas as ilhas de Caiiaria (conio já disse acima) denioraiii desta
illia do Sul até o Sueste, pouco mais ou iiienos, e que111 for por vinte e oito graus
atravessará as ilhas Canárias todas; a Palma, que é utna delas e dista da cidade do
Funchal setenta Iéguas, demora da mesma cidade ao Sul e quarta do Sudoeste, e, res-
giiardaiido-se de irein ao Sudoeste, porque é derrota falsa, e errando a ilha, não a
poderão tomar a to~iiarpoi- causa dos ventos e aguagcns que venta111 naquelas partes,
Tei-ierik esta Norte e Sul com o porto da ilha da Madeira outras setenta ICg~ias.
Da parte do Norte não tem a illia da Madeira caregações, para que navios possaiii
carregar, senão no verão, porque a Lera não é para isso, iielii teiii portos, iiias tein
bons abrigos para navios, quando 1ih tempo contrhrio da parte do Sul, por ser alta.
Terá de coinprido dezasseis léguas e meia e de largo quatro, po~icoinais ou nienos,
ou, como outros querem, clezoito de coiiiprido e perto de seis de liirgo; e principal-
mente dizem que tem esta largura, tomando a ilha pelo meio dela, para a partc de
Loeste, que é a do Ponente, ondc tern o basis rombo, mas para a parte de Leste vai
aguçaiido até a poiita de São Lourenço e é inais estreita e delgada.
Sua compridão é de Leste a Oeste, da parte cle São Lo~ireiiço,que esta n Leste, até
A ponta do largo, que está a Oeste, onde se acaba sua coinpridão. Tem Lima grniide
baia da parte do Sul, que coineça da Polita de São Lourenço até h ponta do Pargo, que
está uina légua antes de chegar à cidade, e terá de ponta a poiitsi cinco lég~ias;c111toda
esta costa se pode surgir, porque e boin surgidouro, de atC: vinte braças, a qlie se
podem chegar os navios bein, seni temor dela.
Alguns dize111 que a ponta dc São Lourenço está a Lés-iiordeste, e qlie cleinora o
Porto Santo dela doze léguas ao Nordeste. Partindo da poiita de São Loureii(;o (que
se cliamou assim por ali o primeiro capitiio, João Goiiçalves Zargo, chaniar por ele,
acalmando-lhe o vento) pela banda do Sul para o Ocidente, uina lkgua da poiita csl8
Lima povoação de perto de quinze inoradores, q ~ i cse cliaiiia o Caiiiçal; são terras
rasas e de pão. Do Caiiiçal até a vila de Macliico há duas léguas, que são da tcrra
muito alta, de roclias e picos e inato, c onde sc emparelliani com a vila, que C h boca
de nina formosa e inui crescida ribeira, ao loiigo da qual a mesnia vila esta sitliada;
faz a terra uina grande enseada coiii lias pontas, cuja boca terá uin cluarto de 16gria de
largo, e da barra para dentro estão iins baixos no iiieio da enseada, sobrc ~ i i idos
i quais
(que de maré vazia descobre parte dele) está arvorada Liina cruz por marca, c0111 que
se desviain os navios, para que, entrando rio porto, não vão dar neles.
Este porto de Macliico, aléin cla grandc inajestade que te111(como j i tenho dito). é
~iiuitobom com todos os ventos por ser a tcrra de uina c outra partc in~iitoalta, e,
como começam os navios a entrar da barra para dciitro, ficain como eiii LII-II nianso
rio, salvo quando aboca por ela o Lés-sueste que, entrio, se é inuito ri.jo, não poclcm
sair para fora e co~ivé~ii ainarrar-se bem, porqiie, se se desamarrain, não ti3111ieiiiCclio
senão eiixorar pela ribeira acima e enfiar-se coin ela, coino jií aconteceu in~iittis
vezes.
Desta soberba entrada e nobreza desta vila já tenho dito acima. Terá de quinhen-
tos até seiscentos fogos e unia formosa igreja, inuito bein ornada com ricos oriia-
mentos, antre os quais lia unia rica charola, inais fresca e de mais obra que a da
cidade do Funchal, ainda que mais pequena, em que levam o Santíssiino Sacrainento,
na procissiio que se faz dia de Corpo de Deus.
Ainda que tem esta capitania de Machico outra vila. de Santa Cruz, que é maior
que ela, esta foi a primeira cabeça de toda a capitania, pois ainda agora teiil o nome
dela, e também parece ser a priiiieira povoação. porque, como primeiro tronco e prin-
cipio, lia nela inuito fidalgos de gcração e inuita gentc nobre, e ainda têm eles antre
si que Machico é a gema da fidalguia de toda a illia.
Tem esta vila pela ribeira acima engenlios de açíicar, e vinlias e pomares de toda
fruta, e boa, e bom açúcar; mas o viiilio dizem ser o pior de toda a illia, que, por ser
tal, para poucas partes se carrega. H i também nesta vila muitas inulatas, e muito bein
tratadas e de ricas vozes, que é sinal da antiga nobreza de seus iiioradores, porque em
todas as casas grandes e ricas ha esta multiplicação dos que as servein.
Para se regareili canas de açúcar nesta vila. e para o Caniçal, se tirou uina levada
de agua de 150 longe, que do lugar, onde nasce, até a vila serão quatro léguas e meia,
ou perto de cinco, lia qual se gastaram inais de cem mil cruzados, por vir de grandes
serras e funduras, e dize111 que na obra dela se fiirarain dois picos de pcdra rija, por
não haver outro remédio. Rafael Catariho, genoês, com o grande espirito quc têm
quase todos os estrangeiros, e principalmente os desta iiaçiio, foi o primeiro que
coineçoti a tirar esta agua, e depois el-rei a niandou levar ao cabo; e, pelo muito custo
que fazia, jh nZío se usa.
Saindo desta vila de Macliico (de cujos capitães direi adiante) meia légua para a
parte do Ponente, est8 uma ribeira que se chania o Poilo de Seixo, com que inoiiiho
de açúcar dos herdeiros de George de Leoinellirn, ou de Mellini, coino outros dizem,
genoes cle naçiio, que é inuito boa fazenda, junto do caniiiiho que vai ao longo da
costa desta banda do Sul, de que vou falaiido. Tainbéin 116 neste Porto do Seixo, pela
ribeira acima, muitos vinhos de iiialvasias e vidoiihos melhores que os cle Machico,
e inuita outra fruta.
Do Porto do Scixo a ineia lég~iaestá outro ei~gciiliode açúcar, que é dos Freitas,
acitna do caiiiiiilio, e abaixo dele uin inoesleiro de frades fi-anciscos, onde estiio até
oito religiosos de missa, que tein boa igreja, c0111 boas oficinas e aposentos, de que
António de Leoinellirn, do Poi-to do Seixo, lioiiieni íiclalgo, rico e inui generoso é
padroeiro, coin quem ele reparte grandes esinolas de sua fazenda, além das que
deixaram seus antepassados para aquela casa, que fizeram.
Do iiiosteiro um tiro de besta está a nobre e grande vila de Santa Cruz, a inellior
de toda a illia, situada ein uma terra cliã ao loiigo do iiiar, ein que tein boin porto, a
siia baía de um tiro de besta de largo e calliau miúdo, onde varar11 os baléis. Tein esta
vila como oitocentos fogos, e rica igreja, e unia ribeira de agua por nieio dela, ao
redor da qual lia inuitas vinlias de malvasisis e de viiilios melhores que os de
Machico, e muitas caiias de açiicar, e uvas ferrais, e das mais frutas de peras e pêros,
e aiiiexeas, para a terra em muita abu~itlâiicia.
Desta vila para o Ocideiite uin quarto de légua esta unia grande ribeira, de muita
água, cliaiiiada de Boaventura (pela raziio já dita), em que está i i i i i eiigcnlio dc açú-
car, e 115por ela aciina inuitos canaviais dele e tainbéai iiiiiitos vinhos.
Alldando inais adiante desta ribeira quase Lima légua, est8 Lima povoaçiio de trin-
ta v i z i n l i ~do~ mesiuo termo de Santa Cruz, que se chama Gaula, que tem iiliiitas vin-
has de inalvasias e muitos outros vidonlios.
De Gaula um tiro de besta, indo para a cidade, est6 uina grande ribeira, muito
funda, que se cliaina do Porto Novo, por o ter inuito boni para ciirregrir os viiilios, qLie
hh nela, de boas malvasias, que são as inelhores da illia, e de outros vidoiilios, que
em aquela ribeira se colhein cada ano inais de trezentas pipas de vinho; e tem casais
por ela acima, e inliita fiuta e imita agua boa.
Meia légua mais adiante est6 a fazenda de .leão Dornclris, do Caniço, Iioiiic~~~
fidalgo, casado com Doiia Mécia, irniii de Dom Liiis tlc Moui.a, estribciro-iiior do
Infante Dom Duai.íe e pai de Do111 Cristóviio de Moura, iiiuilo privatlo do grande Rei
Filipe e casado coin uina fillia de Vascliieaiies Corte-lical, c0111 a cllinl Ilic 1èz el-rei
mercê da capitania da illia Terceira, por falecimefito do cqíitão M;IIILICI C'ortc-Re:ll,
de não ficou herdeiro; a fazenda de João Dornclas 6 uma qiiiiitií coiii scii ciigeli.
ho de açúcar e viiilias, e foi casa iiluito abastada.
Desta casa para o Ocidente ~ i mquinto de Iégiia, pegado com O ciiiiiiiilio, esl6 a
fazenda das Moças, fillias de LIIIIJoiio de Teives (que nssim se chaiiiarrini estas liobres
.Fêmeas, aiiida que vellias inorrerain, por ~íerinaiiccerciii sernprc, scni crisiir, tia
primeira Iiinpeza, com iii~iitalioiira e virtude e srinto exeniplo de vitlri), que í: i1111
engenho de açúcar, e boas e c h b terras de canas, e lem dciitro, :ipcgnclo coiii uiiias
grandes casarias, uina rica igreja.
Daqui, adiante, quase meia l6gua est6 uina alclcin tlc tluzciilos IOgcis coiii Liliia
igreja da invocaçgo do Espirito Santo, que se cliaii?ii o C'riiiic;~,ciii uinii rihcirii qtic
corre do Noite para o Sul, acoinpaiiliada de iii~iilasvinliiis clc inliitos vidoiilios e clc
boas inalvasias; ao inar (leste lugar esta si ponta cla Oliveiiii, ontlc sc Iiriiiito~iuiiiii, por
balisa da repartiç80 das duas capitniiias, que por estii ril-iciro se ~írirlcm,licaiitlo a (le
Machico ao Nascente e a do Funclial iio Poneiitc, e por cla dizciii cliic vai ii tlcmar-
cação da borda do inar do Sul até ii outra banda tlo Norte: porcliic tlcstc C'aiiiço a16 o
longo do inar liaverá ~1111q~iartode Iéglia, oiidc cslá o )1orto oiitlc se carrega t~icloo
que h6 nesta parte, e cliama-se Caniço de Baixo, u respeito tlo outro, qiic C1niiii;ode
Cima é cliaiiiado.
Do Caniço a Liin tiro de besta esta iniii1 rv~ciilit~, ii par tlo crimiiilic~,q ~ i cinbi cciru
pouca agua, que traz para os iiioradores do iilesmo ('aiiiço. E iiiais atliaiilc iiino ICg~ia.
Uina egreja de Nossa Senliora das Ncvcs, à vista tlo I~uiiclial,sorc iiiiia poiitn q ~ i cse
cliaiiia o Garajau, uina Iég~iaantes clicgar ii citladc, iin cltial, rio loiigo tlo iiiar, est3o
alguns dragoeiros, que a Sazein iiiais í'oriiiosa.
Primeiro que cheguem a esta igreja uin tiro de besta, cstiio iio cuiiiiiilio iiiniis
Arvores altas, cliiiinaclas barbuzaiios, eiii çuja soinbra coslLiiiiaiii tlcscniisai os coiiiiii-
liantes, oiide se conta que, vindo, de rioitc, LIIII clérigo do ~tiissiido C'iiiii~osrtr11 o
Fumlial, debaixo das 81.vores iicho~~ iiin coiiipaiiliciro cl~icIlrc I'iiloii c, coiiicçaiirlo a
caiiiiiihar aiiibos, cii~parelliaincom Lirnci igrpja qiic estií <i bortlii tlo caiiiiiilic> c ~ciii
uma cerca de iii~iroderlsedoi; cometeu o clCrigo ao coii~píiiilioirocllic li,ssciii liizer
oração, o qual Ilie respondeti que jii 15 hra. Foi, coiil~itlo,o c16rigo a l'iizci n sua c,
saiiiclo da cerca, aclioii coinpanliciro, ~ L I Clhe pccliti a lobn c Iliii lcvo~iiis coslris, e,
coineçando a can-iiilhar por uma ladeira abaixo por antre as vinhas até uma ribeira
seca, que está no fim da ladeira, onde faz um remanso como terreiro, ali o coineteu
que lutasse com ele, sendo alta noite. Vendo o clérigo tal cometimento em tal lugar
e tais horas, respondeu que vinha caindo do caminho e que não fazia a caso lutar,
tendo ruim suspeita da companhia, e tomaram a andar indo ainda ladeira abaixo até
chegar à rocha do mar, que é muito alta, ao longo da qual está o caminho; chegados
& rocha, o tornou a meter que Iutassein, e o clérigo lhe pediu a loba e se começou a
benzer e arrenegar do diabo, e ali lhe desapareceu se deitou pela rocha abaixo com
grande ruído, vindo o clérigo ao Funchal, que é dali uma légua. Dizem alguns que,
por ser grande lutador este clérigo, o queria levar o demónio pelo erro que tinha,
porque este é seu costume, e que se deixou cair, lutando ambos a primeira queda e,
quando veio , segunda, por o clérigo o achar muito rijo, vendo-se levar a a rocha,
disse "Jesus ine valha", e que a esta palavra ira o demónio. Mas o que primeiro se
disse se teni por mais verdadeiro.
Meia légua de Nossa Senhora das Neves esta uma grande ribeira seca, que não
corre senão no Inverno, que se chama a Ribeira do Gonçalo Aires, onde dizem que
aparece uma fantasma em figura de uin sapateiro, algumas vezes com formas as
costas. H a por esta ribeira acima muitas vinhas. E um terço de légua adiante dela está
urna igreja de Santiago, um tiro de besta de outra, do Corpo Santo, que esta pegada
com as primeiras casas da cidade do Funclial; chama-se ali o cabo do Calhau.
[...I

EM QUE S E VAI CONTLNUANDO A DESCRIÇÃO DA ILI-IA


DA MADEIRA PELA BANDA DA COSTA DO SUL, DESDE
A PRAIA FORMOSA, UMA LECUA ALÉM DA CIDADE DO FUNCHAL, ATE
A PONTA DO PARCO, QUE É O FIM DA ILHA DA PARTE NORTE

Indo da Praia Formosa para o Ocidente um quarto de légua, está uma grande
ribeira, que se chama dos Acorridos, pela razão já dita, que vem de montes iniiito
altos e bravas serranias e é muito larga e chã, que, sem falta, terá de largo uin tiro de
arcabuz, e toda esta largura ocupa tanto a agua quando vem cheia, que parece uin
bom rio. Tem ao longo do inar uina praia de areia e, perto dcle, dois engenhos de
canas de açúcar, uiii de Manuel da My e outro de António Mendes, muito nobre fidal-
go, ambos portugueses; por esta ribeira acima ha inuitas vinhas de inalvasias e bons
vidonhos, e canas de açúcar.
E tão estranl~aribeira, de grande e de muita água quando chove, que toda a lenha
que se gasta nos dois engenhos que estão nela e em outros dois, que tem Cdinara de
Lobos, que está perto, trazem por ela abaixo, que podem ser oitenta mil cassegas de
azémola cada ano, antes mais que menos. E tem esta ordem para trazer esta lenha:
tendo-a cortada lios montes, a põein em lanços perto das rochas da ribeira, e cada
seiiliorio da lenha, que a mandou cortar, tem posto sua marca em cada rolo, que, pela
maior parte, é toda lenha grossa, pondo uina mossa, outros duas, outros três ou qua-
tro, e tanto que chove se ajuntam como cem homens das fazendas, indo-se aos
montes e senaiiias, onde têin suas ruinas de lenha posta, e lançam-iia à ribeira pelas
rochas abaixo, que são iniiito altas; a agua, coiiio é muita, traz aq~ielntii~iltitiELode
lenlia e inuitos daqueles Iiomens trazeni LIIIS gaiiclios de Giro mctidris ein uiiias
hastes de pau coinpridas, com os quais desembarcain e descinbaraçani a lenha, que
vem toda pela ribeira abaixo, e, se (coiiio acontece miiitas vezes) acerta tle cair algiim
deles na ribeira, com aqueles ganclios apegaiii dele por ondc se acerta, ainda que o
firam, com que, ou inorto ou vivo, o tirain fora da aglia, e acoiilece alguinas vezes
inorrerem alguns hoiiieiis neste grande trabalho. Viiido coiii esta Icnlia pelii ribeira
abaixo com grande arruído e pressa, e coriiidas e bebiclas, que para este elèito a.j~iii-
ta111 e o trabalho sequer, qiiando cliegain junto dos engenlios, oiidc a ribcira espraia c
faz inaior largtira, espallia-se a &na, por ser a ribeira iiiuito cliã, e, licando clLi:ise em
seco, dali a tiram cain os iiiesiiios ganclios, c cada ~1111CIOS sciihí~rio~, por S L I marcri,
~
aparta a sua, pondo-a ein niinas muito graiides para o leiiipo da açn1i.a do at;íicai: Mas
acoiiiece algliinas vezes, cliovendo ein deinasia na serra, que eiiclie a ribeira in~iitoc
leva muita cópia desta Iciilia ao inar, em que se perde graiide parte do c~istoq ~ i ctdm
feito.
Perto da Iònte, onde nasce a agua desta ribcira dos Acorridos, sc iirou fi 1cv:ida
dela para nioer o engenho de Luís de Noroiilia, e dize111 cluc dti lugar doiidc 3
coineçaram de tirar até onde vai ao engcnho e regar os caiinviais, lia hciii qiialro
léguas, por se tirar de tão graiide fundura da ribeira em voltas, tliic, para clicgar arri-
ba, ã superíície da terra, píira coineçar a cniniiiliar, atravcssaiitlo loinbns, I'tizcndn
grandes rodeios per ciiiia, pela serra, por oiidc vai esta levnda, tciii dc alto iiii~iscIc
seiscentas braças, da q~ialaltura, qiie é inuilo íiigrcmc, se tira a aglia ciii cnlcs tlc priu,
em voltas, até se pôr iia terra feita; e sein I;illa ciislou cli~giii:O mcsiiio q ~ i cc;illias.
pô-la eiii tal lugar passalite de viiite ~ i i i cnizados,
l afora cr muito iiiais q ~ i c1Fz de ctisio
levada dali quatro léguas, alein, de iii~iitasinortcs de Iioineiis, cl~ictiahalhov;riii iicla
ein cestos amarrados coiii cordas, dcpentluraclos pcla rocha, como cllicrn npaiilia
urzela, porque é tão alcaiitilada e íiigremc n roclia em iii~iilasportes, q ~ i cnão se í':ixi-
ain, iieiii se podiain Jazer de outra maiicira estâiicias para assciitur as calcs sciii p;is-
sar por este perigo. Tein duzentos c oitciila Iniiços clclas, por oiidc vai cski agiio, qiic,
postos enfiados ~1111diaiitc do outro, terão liin qliarlii clc légiia clc coinpsida. São de
tavoado de iiiadcira de til, que, pela inaioi parlc, tcni cada tovoa viiitc: piiliiios de
coiiiprido e dois c iiicio cle largo; c, tlepois de asscntatlas cstris calcs tia rocliii, fiizcin
o caiiiiiiho por clciitro delas os levatlciros. q ~ i ccoiitin~iniiiciitctCiii eiiitlutlo tlc :is
rerneiidar e coiisertar, alíinpando-as taiiibéi~itia s~i.jitladcc pctfriis cl~icacoiitccc cair
nelas, e Cazer outras coisas iiecessQrias à Icvridt~,pclo qlic te111 grossos soltlos, por
terein oficio de tão graiidc trabalho c taiito perigo.
Nesta roclia est6 uina fiiriia in~iitogr:iiitlc, que scrvc tlc casa parri os Icv~itlcirosc
para guardar iieln iii~iniç6csneccssfirias clc enxadas, silviiies, brirms, piefios c int~rrfics
e outras I'erraiiiciitas; e iicla se incteiii cacla ano clcz, doze pipas tlc viiilio parri os qlic
traballiaiii na Icvacla e oulras pessoas q ~ i ca víio aj~idrira rclOriiiur, clliaiido q~iebrtiiii
alg~iiislaiic;os dc cales. E C coisa iiioiislruosa n qucin v6 isto coin seus olhos n csiiliii-
lia e avci~lureiraiiivcnção, que se leve para se tirar tlali esta dgtiii.
Tein o seiihor clestn Icvsida alvartl clc el-rei paia cluc os seus Icvtitlciros c Iioiiic~is,
que trabalhaim nela, possain lom:ir JIRKI coiiicr c~lliríisc porcos, ~ L I lia C iiiuitos I I U C J L I ~ -
Do ÉDENA ARCADE NoE

las serras, ainda que seus não sejam, sem por isso serem crimemente acusados, mas
que os donos dos tais gados serão pagos do seu, sem crime da justiça.
Da mesma ribeira, mais abaixo para o Sul, tirou António Correia outra levada para
regar as terras da Torrinha, que estão sobre Chmara de Lobos, também de muito
custo.
Indo da ribeira dos Acorridos para o Ocidente um quarto de légua, esta uma aldeia,
que chamam Câmara de Lobos, perto do mar, que tem uma calheta pequena e uma
furna, onde doriniram, ou dormem ainda lobos, de que tomou nome o lugar e os
capitães da ilha, os Câii-iaras, pelos achar nela o primeiro capitão, João Gonçalves
Zargo, quando aí deseinbarcou a primeira vez, como já tenho contado. Tem esta
aldeia como duzentos fogos e uina só rua principal e niuito comprida, e 110 cabo dela
a igreja, muito boa e bem consertada. Tem mais dois engenhos de açúcar, um, que foi
Antonio Correia, e outro Duarte Mendes, e muitas nas e vinlias de boas malvasias, e
muitas frutas de toda sorte, e muita água.
Dois tiros de besta de Câmara de Lobos para o Norte, pela terra dentro, está um
moesteiro da invocação de São Bernardino, de frades franciscos, em que estão con-
tinuainente ou oito frades, bons religiosos, ini~itoabastado de ia a fruta e vinhos.
Acima dele estão os pomares do Estreito, que têm muita castanha e noz, e pêros de
toda sorte muito doces, e vinhas e criações, e uina freguesia, que se arna o Estreito,
de até trinta fogos, cuja igreja é de Nossa Seilliora do Rosairo.
De Câmara de Lobos para o Ocidente ladeira acima tá uma lombada (que assim
se cliamain as loinbas de terra naquela ilha), que pai-te coin a rocha do mar e é a mais
alta toda a terra, cl~ainadaCagagirão e, por outro nome, a Caldeira (por uma cova,
que tem ali a terra, que 6 agora dos herdeiros de António Coi-reia, homens mui prin-
cipais e geiierosos), que dá muitas e boas canas de açúcar. E parece que daqui
tomaram o nome os Caldeiras da ilha, se o não trouxeram do Regno, que nela há
miiitos, e gente inuito honrada.
De maneira que de Câmara de Lobos a uma légua está a quinta de Luis de
Noranha, senhor da levada da ribeira dos Acorridos, que já disse, em que tem um
engenho e grandes casarias de seus aposentos, e sua erinida, perto da fazenda, com
seu capelão, para que ouçam inissa os que trabalham lá, para que cumpram coin o
precepto da Igreja os domingos e festas, e o mesmo se ha-de entender de todas ou as
mais das fazendas da ilha, que estão fora da cidade e vilas, ou aldeias, porque todas
tem suas igrejas para este efeito.
Tem esta quintã boas terras de canas e de trigo e centeio, mas vinlias poucas, por
ser a terra alta, ainda que ao longo do mar tem o mcsrno Luís de Noronha uma fajã
de grande poinar e vinhas de inuito preço, e passatempo, que dá cada ano quarenta,
cinquenta pipas de malvasias. E esta ribeira dos Melões, que parece que os há naque-
la parte m~iitoe, sobretudo, estrerilados, que dá também inuitas canas e, em parte,
algumas vinhas.
Indo da quintã do Noronha para o inesiilo Ocidente meia légua, está um lugar de
cem fogos espalhados, a que chamam o Cainpailário; tem a igreja junto do caininho,
da invocação do Espírito Santo. São terras de criações e lavoura de trigo e centeio,
por ser gente montanliesa, dados mais a criar gado que a cultivar vinhas, nem outras
fruteiras, mas, contudo, isto sc há-de eiztender que neste e em todos os lugares da ilha
holive sempre, e há hoje em dia, gente honrada e lidalga c de altos peiisaincntos.
AO Ocidente, liina légua do CainpanBrio, cstá a Ribeira Brava cluc por extrerilo
tem este nome; é uina aldeia que terá coino trezentos rogos, ~ o i i Liliiai igrc.ja de São
Bento e bom porto de calhau iniúdo, que, pela cliã da ribeira aciiila, tciii as casas, e
muitas canas de açúcar, e dois eiigenhos, c pomares miiilo ricos ele nitiitos pêras e
peras, nozes e muita castanha, c0111 que é a iiiais Ii.cscn aldeia ~ L I Chá na ilha, pelo
que, e pelo nlerecei; por ter boin porto e ser inuilo viçosa, .jtÍ inuitas vezes teiztaraiil
0s moradores de a .fazerein vila Tein tarnbém miiitas villiias, nilidri qlic 0 viiilio iião é
tão boln coillo é o do Fuliclial. A ribeira 6 tão liiriosa, qLIaiid0 ~iiclic,cliic aiguinas
vezes leva ~nilitascasas e faz nii~itodaiio, por vir de gr~iiicicsiii~iitcsc nlt~isscrrns, e
por ser desta inaneira lhe viera111a cliamar Brtiva.
Neste lugar iiasceraiii os Coelhos, cóiiegos da Sé do Ftiiichiil, estrciiiacios Iic~iiiciis
de ricas vozes; Liin deles, chainado Gaspar Coclho, hi incslrc dri capelri da SC inuitos
anos sendo cónego, e Francisco Coelho, seu iringo iiiais iii(Iç0, sciitlo cí)iicgo, foi
também mestre cla capela de el-rei na corte.
Da Ribeira Brava nieia légua está a ribeira da Tribua. cor11 LIiilii l'regiicsio dc quase
trinta fogos; teve já dois engenhos e teiii iniiitas viiilias c caiicis c I~.LI~:Is,
ni<7sO vinho
é seinelhaiite ao da Ribeira Brava, sua viziiilia Dcstci ribcira dei 73hiia silo os
Medeiros, gente nobre e hoiirada.
Da Tabua pouco mais de iiicia légua esta a Loiiibncln de João Usiiicraldo, de iiriçiío
genoês, que chega do mar 5 serra, de iiiiiitas caiias dc açiicrir c 130 gi'ossii Ihzciida,
que já se aconteceu fazer Jogo Esineraldo vintc inil nrrobos de sua Iiivra ccitla ano, e
tiilha coino oitenta aliiias suas cativas anlrc moiiros, miilalos c iii~iieit:is, iicgros,
negras e can8rios. Foi esta a maior casa cla ilha c tcm graiitlcs casaritis clc riposciito,
e engenho, e casas de purgar, e igreja. E clcpois elo liilcciiiiciilo tlc João I:,sincrtildo,
ficou tudo a seu iillio Cristóvão Esincrnlclc~,cliic o inais do lciirpo iincliivri iiri cidriclc
do Funchal sobre uina iiiiila muito Scirmosa, coin oito Iioniciis clctids clc si, quatro de
capa e quatro tiiaiicebos em corpo, lilhos dc Iiomeiis Iic~iiiliclos,i i ~ ~ i ihcin
t o lrcitriclos,
e trazia grande contenda coin o Cnpitiia tlo F~iiiclialsobre qticrn scri:i provcdor cla
Alfiindega de el-rei, que 6 Liina rica coisii (te rcntlo clc Sua. Allczri c ricris cnsariris.
Casou Joiío Esnieraldo na ilha com Agiida dc Abrcu, lillia de Soiio I~criianelcs,sciilior
da Lombada do Arco.
Da Lombada de João Esineraldo um qiiarlo de 16g~iacs16 ri vila rlci I>oiitiitlo Sol,
que se chama assim por ter uma ponta ao Ocidciitc dri vila, cliic lei11 o piireccr cl~icj8
disse, aonde dá tainbéiii o Sol primeiro cliie nri vilri, cluaiitlo iinscc. 'lkm osta vila
como quinhentos fogos e boa igreja; C povoada de genlc iiobrc, por sei. elas iiiois aiiti-
gas da ilha, rnas os viiilios não s5io táo bons como síio os tlo I:iiiiclial.
Acima da Ponta do Sol para o Norlc da vila cstii iiiii lugcir, cluc se cliama os
Calcaiilios, que tem uin engenho, c muilas frutas, c ricas aglias, c viiilins, c terra elc
lavoura de trigo e centeio, oiiclc liá tinia Iionratla gercic;ão clc Iiomciis iicihrcs, qtic se
cliamain os Escovares,
Meia légua da vila da Ponta do Sol, ao longo do iiial; cslú n llcgucsiii íIn Madaleiia,
de até trinta rogos; tein uiii engeiilio, qiic 1Qi dc iiin Mrii~ticlIlias, c bori liizeiitla clc
boas terras de canas e iiiuita iigua c fresca. I Ia ncstn licgticsia iiiiiri crniicla tlc Nossa
Senhora dos Aiijos que, tirando ser pequcnti, é L I I I Irica ~ c:isn coni tini sctibulo
pequeno e fresco e bem ornado, junto da qual está uma fresca fonte, debaixo de uns
seixos, antre uns canaviais de açúcar de mui formosas canas.
Da Madalena um quarto de légua está a Lombada que foi de Gonçalo Fernandes,
marido de Dona Joana de Sa, camareira-mor da Rainha. E inuito grossa fazenda; tem
engenho de açúcar c muitas temas de canas, e grandes aposentos de casas e igreja
com seu capelão.
Um quarto de légua desta Lombada de Gonçalo Fernandes está outra, que se
chama o Arco, ou Lombada do Arco, que foi de João Femandes, irmão de Gonçalo
Fernandes, fazenda também muito grossa, que tem engenho e muitas terras de canas,
e grandes aposentos de casas e igreja e capelão. E adiante direi o que em estas duas
Lombas aconteceu a um Antonio Gonçalves da Câmara, filho de Gonçalo Femandes
e de sua mulher, a cainareira-mor da Rainha.
Da Lombada do Arco, indo para o Ocidente até vila da Calheta, de que foi conde
o ilustre Capitão Siinão Gonçalves da Câmara, haverá uma légua. Está esta vila por
ma ribeira acima, que tem as rochas tão altas, que acontece as vezes cairem pedras
da rocha e derrubar as casas dela. era quatrocentos fogos e a igreja, da invocação do
Espírito Santo, e o porto, vindo da vila para o Nascente um quarto e légua, que é uma
estrita calheta, onde varam os arcos. Acima da vila, pela terra dentro um quarto de
légua, está o engenho dos Cabrais e, perto dele, está outro do doutor da Calheta, físi-
co, chamado mestre Gabriel.
E logo perto de uma légua da Calheta está a fazenda e João Rodrigues Castelhano,
que se chamou assim por hlar castelhano, sendo ele genoês de nação, que é grossa
fazenda de canas com seu engenho e capelão; este João Rodrigues casou duas filhas
no Funchal inuito ricas, e são gora as melhores fazendas da ilha. Teve miiitos
escravos, cinco dos quais lhe mataram um feitor, mas ele os entregou justiça e foram
enforcados na vila da Calheta.
Da fazenda deste João Rodrigues Castelhano obra de leia légua está outro engen-
ho, de Diogo de França, que teve onze filhos, nobres e ricos, boa fazenda de canas e
vinhas, e águas, e frutas.
Daqui a meia légua está uma freguesia, que se chama Jardim, de quarenta fogos,
com uma igreja da invocação e Nossa Senhora da Graça; também tem engenho, ter-
ras de pão e vinhas, e, abaixo do Jardim para o mar, está uma grande fajã, que se
chama o Paul, com um engenho, que é e Pero do Couto, homem m~iitorico e pos-
sante, e boa fazenda de açúcar, liias teiii perigoso caminho por terra, por ser a rocha
muito alta para descer abaixo.
Do Jardim para o Ocidente até chegar à Ponta do Pargo, que é o fim da ilha da
banda do Sul e também é freguesia de duzentos fogos, haverá duas léguas; a igeja é
da invocação de São Pedro. São terras lavradias de trigo e centeio e criações de gado
e porcos; tem muitas frutas e águas. E por aqui acabo de dar conta da parte do Sul
desta ilha o inelhor que pude saber na verdade.
DA DESCRIÇAO DA ILHA DA MADEIRA PELA COSTA
DA BANDA DO NORTE, TORNANDO A COMEÇAR
DA PONTA DE SÃO LOURENÇO E ACABAR NA PONTA DO PARGO

Tornando a ponta de São Lourenço, que está da parte do Oriente, e coiiieçando


andar dela para o Ocidente da ilha pela costa da banda do Norte (que, corno tenho
dito, toda tern boin e seguro surgidouro e bom abrigo pata os navios, quando os veii-
tos ventam da outra parte, por ser a terra inuito alta), da inesina ponta de S80
Lo~irençopara o Ocidente perto de duas léguas está. uma aldeia, que sc cliaiiia o
Porto da Cruz (pela raziío que já tenho dito), que tem junto do inar uni erigenlio que
foi de Gaspar Dias; é grossa fa~enda,coin boas terras dc canas e rn~iitnsbgiias,
I-laverá neste lugar trinta fogos espalhados, afora a gcnte da f'azcnda, c são os
moradores todos criadores, porque os niatos siío ern toda a ilha gerais a todos para
criarem neles.
Do Porto da Cruz a Nossa Senhora do Faia1 (por ali o Iiaver grande) Iiavcr:'i liinii
légua. Terá esta freguesia corno cem fogos; a igreja estii. antre duns ribciras miiito
altas das rochas; tem muita fnita de espinho, de cidras e limões, pesas c pêros e
maçãs, e castanlía e noz. Sendo a igreja de boni granclor, dizein que toda sc ariiiuLi de
um grandissirno pau de cedro, que se achoii perto dela; pelo seu dia, q ~ i cvcni a oito
de Setembro, se ajuntam de roinagen-i de toda a ilha passatite de oito mil alilias, oiidc
se vê urna rica feira de iiiaiitiinentos de inuita carne de porco e vaca, c cliibari.o, a
qual é unia extrcinada carne de gostosa naquela illia, aincla que ein ri~itrasiii~iitnstcr-
ras e ilhas seja a pior de todas. Ali se ajiuitain muitos cabritos e fr~ilas,e oulras Coisas
de coiner, para, comprarein os roineiros, quc muitas vezes sc dcixriiu estar dois, três
e mais dias ein Nossa Senliora, descaiissindo do traballio do cainii~lio,pcirquc vêrn tlc
dez e doze léguas por terra niiii fragosa; e juntos l'azciii muitas festas d c comádias,
danças e ~níisicasde iniiitos instruinentos de violas, guitarras, rrnlitas, riibis c gaitas
de fole; e pelas Faldras das ribeiras, que têrn graiides cainpos, rio dia de Nossa
Senliora e ein seu oitavairo, se alojaiii os roiiieiros em diversos magolcs, l'i~zciiclo
grandes fogueiras aiitre aquelas serranias. Dizcm que ali apareceu Nosso Senhorn,
onde tem a igreja.
Tein esta freguesia dois eiigenhos de açúcar, u111 de Antóiiio Fcriiantlcs dtis Covns,
que esta perto de Nossa Senliora, e outro de Luis Doria. No li111[Ias ribciras (cliie
ambas se vão ajuntar em uina), perto do inar, tein boin porlo. Está ncsta liegi.iesi:i
urna serra de Eígua, que foi uiil graiide e proveitoso engenho, c111 cltic ílois o11lrês
lioinens chega111por engeiiho uni pau de viiltc palmos dc coiiiprido e dois c tres dc
largo ã s e m , e, por arte, uin só homein, que é o serrador, coin uni si, p6 (coino Saz o
oleiro, quando faz a louça) leva o pau avantc c a serra scinprc vai corlanclo c, con~ci
chega ao cabo com o lio, coi-ii o inesnio pé dá para trás, fazcnclo tornar o paii toclo, c
torna a serra a tomar outro fio; de maneira qtic qucm vir esla obw jt11g:ii.á por iiiiii
grande e necessária iiivenção a serra de água naquela ilha, oiidc não cra possívcl ser-
rarem-se tLo grandes paus, como nela 8, com serra de braços, iiciii taiita soina dc
tavoado, como se faz para caixas de açúcar, que se Iàzciii m~iitas,c para oulras do
mais serviço, que vem ser cada ano muito grande soma. Tem esta freguesia grandes
n~ontadosde criações a iiiuitos proveitosas.
De Nossa Senhora para o Ocidente a uma légua esti uma freguesia da invocação
de Santa Ana, que terá ale quarenta fogos. São terras de lavrança de muito pão e ci-i-
ações; tem muita castanha e noz, e inuitas águas e frutas de toda sorte.
De Santa Ana a meia légua esta a freguesia de São Jorge, de cento e cinquenta
fogos. a par do mar, com inuito boi11 porto; te111 muitas vinhas de boin vinho de car-
regação, e muitas terras de lavrança de pE1o e criações, e rnuita fsuta de toda sorte,
com muitas aguas.
Adiante de São Jorge uma légua e ineia está a freguesia da Ponta Delgada (assim
chamada por ser ali uin passo muito perigoso, que se passa por riba de dois paus, que
se atravessam de uma rocha a outra, e em tanta altura fica o mar por baixo, que se
perde a vista dos ollios, onde esta uni porto, crn que deseinbarcain e einbarcaiii com
vaivkm, a modo de guindastc), com urna igreja da invocação de Jesu, de até sessen-
ta fogos e boni porto, e vinhas, e criações, e lavrança de pão e f~xtasde toda sorte, e
muitas aguas, onde tem duas serras de agua.
Neste lugar reside António de Carvallial, hoinem tão cavaleiro como csforçado
por sua pessoa, nobre e iiiagiiifico por sua condição e grande virtude, com a qual, por
sua magnificência, tem acquirido tanta faina e ganhado tanto norne com as vontades
dos homens, que por isso lhe obedecem, e, se foi- necessário dar uin brado, ajuntará
quinhentos homens da banda do Norte a seu scrviço para qualquer feito de guerra,
como já lhe aconteceu, ou para qualquer outro feito; e não sem razão, porque sua casa
é hospital e acolheita de todo pobre, liospedagein de caininhantes e refúgio, final-
mente, de necessitados. Assim despende sua fazenda toda (que muita possui desta
banda) nestas obkas, que em sua casa se gasta111 cada ano trinta inoios de trigo, afora
outros muitos que empresta, e coin ele socorre a quein tein necessidade, que todos
recolhe de sua lavoura. É filho de Duarte Ribeiro e casado coin Dona Aiia Esmeralda,
filha de Cristóvão Esineraldo, provedor qiie foi da Fazenda de Sua Alteza nesta ilha
da Madeira e na do Poito Santo. É tão forçoso, que anda pelas serras da ilha da
Madeira, que são rniii isperas, a cavalo, sein ter corta coin cillia porque as pernas lhe
servem disso; é honieni grande, seco, largo das espáduas e bein proporcionado ern
todos os nieinbros, pelo que tein tanta força que, indo uin dia por antre uiii inato a
cavalo, passando por baixo de uma arvore, lançoii as inãos a iiin ramo grosso e,
cingindo o cavalo com as pernas pela barriga, o alevantou do clião mais de um
palmo.
[..-I
Uma légua alem da Ponta Delgada está a freguesia de S. Vicente, de ditzentos e
cinquenta fogos, com grandes terras de lavranças de pão, e criações e inuitas frutas
de castanha, noz e de outra sorte, rnuitas vinlias, e inriitas aguas, e duas serras de
agua.
De S. Vicente a três léguas esta o Seixal, que é freguesia de ate vinte fogos, coin
uma igreja da ii-ivocação de São Braz. Tem iiiuitas terras de grandes criações, e
lavrança de pão, e vinho, e fi-uta de toda sorte.
Do Seixal a meia légua está a Madalena, que é freguesia de trinta fogos, que tem
inuitas criações e lavoura de pão, c muitas ág~ias.EstB esta ii-cg~iesia,pela terra den-
tro, perto de meia légua na ponta de Tristgo, que se ciiaina assiin por ele a dcscobrir
primeiro, onde se pai-tem as capitanias pela baiida do Norte, porqiie por esta parte se
estende mais a capitania de Macliico que pela banda do Sul, oiide coiiieça na ponta
da Oliveira, pela que ali lnandou piaiitar O capitão JoZío Gonçalves, coirio teiilio dito,
que está ao mar do lugar do Caiiiço ao Sueste, vindo dela a deiiiarcação l>eloiiieiii da
terra, que são graiides serranias do Nascente para O Poente, pela L?ruicla do Norte, até
chegar a esta ponta de Tristão, que esta ao Noroeste; sciido estas duas ]>oiilas, a da
Oliveira, da ba~idado Sul, e a de Tristão, da parte do Norte, as baiisas e cxti.ciiios da
repartição destas duas capitanias do Funchal e Mnchico, Iicaiitlo n ilha partida de
Noroeste a Sueste, c011io esta0 estas palitas, e, tiraiiclo catorze Iégiias, tlo baiida CIO
Sul, que é o melhor dc toda a ilha, e três da baiida tlo Norte, tlajiirdii;ão da cíipitania
do Funchal, toclo o mais da illia fica da jurdição da capitaiiiii ele Machico.
Desta ponta de Tristão, que esta ao Noroeste, da parte tlo Norte, vira LIcosta p a n
o Sul, fazendo a terra, ou a ligura de pirâinide dela, sua basis, o11 176,c rissciito pai.
espaço de três léguas, que, segiiiido alg~iiis,lia dela c dcsta licg~icsitiela Madaleiia,
pela banda do Ocidente. até a ponta do Pargo, oiide acabei a bantlii do Sul e ticnho
agora a descrição de toda a ilha pela costa dela, coin cliic lica coin Iigii~itle
pir3mide, que já disse, uin lado da qual da ponta de S. Loiircn~o,rliic esi6 ao
Oriente, até à ponta do Pargo, que está ao Ocidente, pela banda elo Sul, e o oiitrci latlo
é da inesma poiita de S. Lourenço, do Nascente, iité ii ponta clc 'Trislilo, cl~iccslti ao
Ocidente, pela banda. do Norte; e a basis é dcsia ponta de Tiist5o nld a poiilo i10 Potgo,
que outros dizein ser duas léguas, com que fica com Iiglirn tic pirliiiiiclc, nias, por
nesta basis não ir a terra cortando direita, serião coni rilgiiii~rodeio ciirvu c no iiieio
larga e na ponta aguda, fica toda esta ilha da Madcira ~lni~ccciitlo iiiais liilliíi tlc plti-
tano que pirânlide. E, aiiida que, como pirâmide se riclia piiitnclti ei1i nlgiiiiias carlas
de marear, e111 outras tcin figura de Sollia clc áI;imo, porque, como esta 6i.v«i.c, cstií
praiitada e alevantada tio tneio das agiias do grande irliir Oceano Oçidciilul, cin lxiin
clima, e regada coin inuitas e frescas ribeiras e, abuiidaiitcnieiilc, clá seus li.~itosiiiiii
perfeitos a seu leinpo.

CAPlrJ?'ULODÉCIMO NONO

DA DESCRIÇÃO DA ILI-IA DA MADEIRA PELO MI:IC) D A 'TIIRRA

(...I
Tomando a terra desta ilha pelo ineio, dii poiita tlc S. l,oiirciiço, q ~ i ccslii ao
Nascente, A, ponta do Pargo, que jaz ao Ocidciitc, locla F lcrra clc gsriiiclcs scrrciiii:~~ c
altos inorites, alta em tanta inaneira, que f i z abrigo iios navios, qiic sc: clicgtiin :I clti
da banda do Norte, veiitarido muito do SLII,até tlcz Iéguns da 1crt.a.
Toda esta ilha é fi.agosissiina e povoada cic alto e fresco íirvore~lo,qiic, por ser tal,
se perdc~iialguils cainiiiliaiites nos caiiiiilhos, e acoiiteccu jh algiiiis. pcrtlitlos, iielcs
iiiorrerenl. E não, tão sonletite, li6 pelo ineio c loniL7o ela tcri-n grni~clcse alcvaiilacliis
serranias, mas ta~nbéingrotas e altas f~incluras,cobcrt:is rlc nii~iose g17)s50s 17;tiis C
arvoredo de til, que, quando o serram, dentro, no cerne, é muito preto e cheira 111al;
deste pau se faz muito taboado para caixas de açúcar e solhado de casas e madres, e
dele é a maior paite da lenha que se queima nos engenhos. Também há outro pau ver-
melho, que se chaina viiihittico, de que sc fazem as caixas para o serviço de casa, que
são muito boas, mas as feitas dele para o mar são inuito inais prezadas.
Outros paus Iiá de aderno, de que se faz muita madeira para pipas para vinho e
mel, inas para o inel são iiielliores que para o vinho, não porque a qualidade da
madeira o faça ruiin, mas porque é in~iitorijo e seco e não revê tanto o inel nele,
como o vinho, que o faz briinedecer, e algumas vezes o deita pelo meio do pau, o qual
pau aderno é tão rijo, que se fende ã cuiiha.
Ha tainbém muitos folliados, que crescem muito direitos e grossos, de que se faz
a armação para as casas, e inuitas vezes de 11111 pau fazem três e quatro pernas de
asnas, mas não é trio rijo coino o desta illia de São Miguel; é brando de corlar, quase
como o cedro, e dele se fazciii OS temães para servirem ila lavoura.
Hh outro pau, azevinho, 111~1ito rijo, de que se fazem os cabos de machado, inas
não é branco coino é o desta ilha. Também há paus de louro, e nas faldras da serra,
da banda do Sul, muita giesta, que é mato baixo, c01110 urzes, que dá flor amarela, de
que gastam nos forilos e dele se colhe a verga, que esburgain corno vimes, de que se
fazem os cestos brancos, inui galantes e frescos, para serviço de mesa e oferta de bap-
tisn~ose outras coisas, por serei11 inuito alvos e limpos, e se vendem para muitas
partes fora da illia e do reino de Portugal, porque se fazem muitas i~ivciiçõesde ces-
tos, miii polidos e custosos, armando-se, às vezes, sobre um dez e doze diversos,
ficando todos juntos em uma peça só; e para se fazerem mais alvos do que a verga é
de sua natureza, ainda que é inuito branca, os defiiinam coin enxofre.
Há também muita inadeira dc barbuzano, de que, pela maior parte, fazem os
tanchões para as latadas, por ser pau inuito rijo e durar muito no clião. E não faltam
militas urzes, de que se ra~ o caivão para os Scrreiros e fogareiro.
Tem finaln~eiiteesta ilha tantos inatos e I-ochas,tantos iiiontes e grotas, que afir-
mam todos que, das dez partes da illia, não aproveitam as duas, porque a maior dela
são serranias, terras depeilcluradas, rochas e grotas e ladeiras, e não ha terra cliã,
senão a bocados, liias esses são tais, que valein mais que outro tamanlio ouro; e,
geralmente, não tem preço a substdncia, que tein todas as coisas, que esta ilha de si
esta produziiido, quer por natureza, quer coin arte.
É t e m inassapez pela inaior parte, mais que terra preta, e o~itra,como niiva, se
chaina salões; toda se rega coin a grancie abuiidâiicia das águas que tem, que, como
veias ein corpo huinano, a estão hiirnedeceado e engrossando e inantendo, com que
se faz rica, fresca, rormosa e lustrosa; e coin ser tgo alta, não se vai com elas ao mar
(como esta de S. Miguel faz em grande quantidade, quando chove), e depois de estar
a terra farta de agua, levarão um rego deia sem se sumir duas, três e mais léguas.
Tem muita horlaliça de inuitas couves inurcianas, irias não espigam, pelo que
sempre vem a seineiite delas dc Castela; cria rnuitiis alfaces e boas, e outras muitas
maneiras de hortaliça, toda regada com água, como as canas, afora OS muitos
poinares que tem de fruta de espinl-io e ricos jardins de ervas cheirosas, em tanto que
dizem os mareantes que, inais de dez Iéguas ao inar, deita esta ilha de si iiina fra-
grância e um co~ifortativoe suave cheiro, que parece cheirar a flor de laranja. Ein
iniiitas partes desta ilha há muitas nogueiras e castaiiheiros, que dão muita noz e cas-
tanha, ein tanta maneira, que vale o alqueire a três e quatro vinténs e sc afirma que
se colhe ein toda ela de ambas estas frutas de noz e castanlia, juiitaineiite cada ano,
passante de cem inoios; também dá amêndoas, e de tudo carrcgam bem as Amores.
'Há nesta illia da Madeira muito suniagre, que serve para curtir couro, priiicipal-
ineiite o cordavão, porque o faz muito brando e alvo; este suiiiagre se praiita ein
covas pequenas, como quem pranta rosas e vinha; tem a haste, c01110 feito, e a railia
semelhante ao inesino feito; dá-se eni terras altas e fracas; collie-se cada ano, cor-
tando-se rente com a terra para não secar ? soca dele e poder tornar a arrebentar, por
ser planta que dura muitos anos na terra. E novidade de muito proveito, porque ~ilul-
tiplica tanto, que se enchein os campos dele coino enclieni as roseiras, e lavra a raiz
por baixo da terra, e o que se dá na ilha é iniiito fino e, apaiiliada a rama, que é o dito
suinagre. se deita ao Sol, seca, se mói e111 engeiilio de água, assiin como se inói o pas-
tel nesta illia, e se faz c111 pó, e, moído, o carregam para diversas partes ein sacas e
pipas.
Criam-se tanibéin na illia da Madeira alguns gaviiles e açores, que parece que vêm
ali coin tormeiitas de alguma terra perto, que está por descobrir, bilhafres, francelhos,
corujas, e há nela muitas perdizes, pavões, galipavos, galinhas de Guiiié, e as oiilras
doinésticas, poiiibos Lrocazcs, pretos e braiicos, patas e adeiis, pombas bravas e
inailsas, muitos inelros, caiiarios, pintassilgos (sic), toutinegras, Inva~~deiras, tentil-
Iiões, codoniizes, rolas, poiipas e coell-ios, cagarras, afora gaivotas, estapagados e
outras aves do iiiar.
(...I
[Gaspar Flutuoso, Livro segz!ndu dcrs Snudncles da Tewa, Ponta Delgada, 1979,
pp.45-49, 54-55. 56-58, 632-63,99-107, 1 19- 140.1

ALVARA PELO QUAL SUA MAGESTADE MANDA DAR OS MEIOS


E MODOS DE ESTABELECER O POVO E CONSERVAR
O DOMINIO DA ILHA DO POlITO SANT0[1770]

Eu EIRey faço saber aos que este Alvará vireiii, que ein RepreseiitaçBes da
Caiiiara da ilha do Porto Santo, justificadas por exactas ii.ironnaçÕcs do Governador
e Capitão General da ilha da Madeira, João António de Sá Pereira; e q~idiilicadaspor
Consulta, que eiii treze dc Julho proximo precedente subio do Consellio da Minha
Real Fazenda, se veriíicou na Minha Presença que sendo a ii~esiiiaillia, e ilheos a ela
adjacentes, admiiiistrados por Iiuin Donatario, sem ilieio para conservar em paz,
justiça e abuiidancia.
E liaveildo-se os povos della precipitado lia inaior ociosidade, e iiiercia, por falta
de quein iielles foiileiltasse e progredisse o traballio, e a industria para sc susteiitarein,
vireili por coiisequencia de tudo a serem expellidos pelos poderosos, e usurarios;
seguindo-se de tudo o referido precipitar-se a inesma ilha em tal decadencia, e tão
extrema necessidade, que para o povo della não padecer o flagélo da fome, tem sido
necessário ein repetidas ocasiões, que pela Provedoria da ilha da Madeira ocorresse
a providencia dos Reis Mcus Predecessores e a Minha ao sustento daquelles afflictos
Vassallos.
E porque este rcinedio, que soccorre as extremas necessidades presentes, não só
não he bastante para precaver as futuras, mas antes as accresccnta, animando os
vadios e preguiçosos coin a esperança de serem socorridos, como até o presente o
foram nas urgeiicias a que sc tein visto reduzidos:
Querendo obviar em coniiiiuin beneficio daquelles moradores a hum inal, que se
tem feito tão digno objecto da Miiiha Real Clemencia, depois de Iiaver iuandado
compensar por um effeito della, ao sobredito Donatario o Dorninio, que havia perdi-
do pelas referidas causas:
Hei por bein e mando que aos ditos respeitos sc observe o seguinte:
Attendendo aos estragos, que tem feito nas terras a cubiça dos Proprietarios del-
Ias, que sain na inaior parte n~oradoresna Cidade do Funchal, se deverão logo
encabeçar as mesinas Terras, c0111 a qualidade de Censuárias, ficando perferidas nas
mesmas Fainilias coin o encargo de pagarem as melhores os quintos da sua produção;
e as de segunda qualidade, os oitavos; sem que estas pensões se possain alterar; e
ficando só os Doiiiinios uteis, e alliiaveis entre os moradores da sobredita ilha, setn
que se possam vender, ou voluntaria ou necessariamente, a pessoa de fóra.
Os inoradores que sahirein da referida ilha, nâo poderão possuir iiella os referidos
bens; mas serão obrigados a vendellos ou noineallos, em naturaes da Terra, que iiella
tenham o seu per~nanentedoiiiicilio. E por lium effeito da Minha Real Piedade: Hei
por bem perdoar Lodos os Dizinios e Direitos aos referidos inoradores por tempo de
dez annos:
Concedendo-lhe outro sim, o Privilegio, para que iiiiiguein Ihes possa toinar os
seus gados, e bestas contra suas vontades, riem possuillos niais, que tão sónicnte os
inoradores da sobredita ilha, tendo estes os Illieos para pastos coiiitiiuiis, e seii. que
pelo tempo dos ditos dez annos possam ser obrigados a soluçáo alguma.

II
E porque ine foi presente, que lia iilesiila ilha do Porto Santo tem grassado a mal
entendida vaidade, de sorte que todos os sobreditos inoradores della cuiclam em alle-
gar genealogias para fugire111 do trabalho; e obviando os estragos, que tem causildo
estes vadios: Sou servido declarallos por inhabeis para preferirei11 no Cargo cle
Juizes, Vereadores, Procuradores do Conselho e niais lugares publicas, e Iionorificos
os lavradores, inhabilitando os que não fizerem lavouras para os ditos cargos, e
quaisqiier outros de Justiça da Fazenda.

111
Hei, outro siin por beii~,que o Govcriiador e Capitão General da ilha da Madeira,
mandando escolher entre os filhos dos referidos vadios, que 1150 fizera111 lavoura,
aqueles que parecerei11 inais aptos: a saber, no nuiiiero de seis para o Olicio de
Çapateiro; outros tantos para o de Alfaiate; dous para o de Oleiro; quatro para o de
Carpinteiro; outros quatro para o de Pedreiro; dous para o de Ferreiro; os Tari entre-
gar a Mestres dos respectivos Officios para que os ensineil?, remeitendo-os, depois
aos parreiites nos ~iics~iios
officios a dita illia para nella exercitareiii as suas Artes.

1v
Proliibo que Mercador, Veiidilhiio, «LIoiitro alguin traficante possaiii fazer peiilio-
ra eiii gados vacuns, cavallares oii miuclos, e eiil qiiaisquer instruincntos de lavouras,
e serveiitia della por quaesquer dividas de fazendas fiadas ou diiilieiros adeaiitados
em iiiteresse; nein tão po~ico110s frutos da ii-icsina lavo~ira,que necesshrios foreln
para as seilientes das Tcrras e coinedorias proporcioiiados aos que iiellas traballiaretii.

v
E attciidcnclo á necessidade de iiiacleii.as qiie lisi naqiiclla illiri: Soii servido coa.
ceder tios iiioraclores della o Privilegio de que l-iossam extrair da ilha da Madeira
todas as que iiecessaiias Ilics kircm para as siias abcgusirias, e coiiccrlcis cias suas
casas pelos preços ortlinarios, estabelecendo-se para clles liuiiia j~istatarifa qiie fique
sciilpre ciialtcravel.

vI
Ordeiio, qiie toclos os sobreditos Lavradores, sc.jaiii obrigados a plantar arvores
nos testaclos das suas Terras Iioiitciras ao Mar, e ribeiros; com tal dcclaríição, que
aq~iclles,qiie assi111 o não Iiouvercm executado no teriiio de trez iiiinos, 1150poderão
gozar clos releridos Privil~bi ' ' os.
VI1
E ~iltiii-iamciitchei outro siin por beni ordenar, qlie o Capitão Gciicral clri relèrida
ilha da Madeira inniide logo separar e clividir pelo Corrcgcdar ela Coiiiarca, coiii
assistencia &L Snrgeiito Mói. de Iiilanlaria coiii exercicio de Eiigcnliciro I~raiiciscode
Aleiico~ii;21s 'Ièrrns, q ~ i cliõo clc pagar qiiiiilo, c oitavo, para licarcm scinpre coii-
Iiecitlas por taes, iiiclo cllc Govcriiador e Cal?itã» General aiillioriznr com a sua pre-
seiiça a execuçiio ele tudo o rclèrido até deixar os inoradorcs iia pacilica posse de
toclas as sobrcclitns proliricclacles, c Privilegios: deixaiiclo-os i i ~ iccrlcza cle qiie os
rcsiitiiird coiitra qiii~lqiicrviolencia, ou iiilincçãci, tl~iccciiitra cllcs scjti iiilciilada por
cliiacsqiicr pessoas cle qiialcliier cslado, c coiitlição q ~ i csc.jam.
E cstc se ciimpriri Lã» iiiteii'ainciite como ncllc se coiilCiii, sciii cl~ivitlriou enibar-
go alguin. Pelo qiic:
Maiitlo 6 Mcza do Dcscinbargo tlo Paço: ao Iiispcctor tlo Mcii Eririo; tio Cardeal
Regctloi. do Casa tln Supplictição: C'oiiscllio clc Miiilia 1;azcntlii; Govcriiador e
Calilão Ciciicrnl tla illia da Madeira; Miiiistros, Olliciais tle Justiça c mais pessoas
dclla, a qliciii o coiiliccimciito tlcslc Alvriiqiipertcnccr, o cumpraiii, c giiíirdciii c fiiçaili
cumprir, c g~iardar150 inlcirai~iciilccoiiio iiellc se coiitini; c iiHo ohslaiitc qiiíicsqiier
Regiineiitos, Leis, Foracs, Orclens, ou cslillos çoiitrarios, qiic todas, c lodos Iici por
tlerrtigatlos para este ellkilo síiiiiciilc, liciintlo aliris scniprc c111scii vigor; c vrilerii
coi-iici Carla passada pela Cliaiicelario, posto q ~ i cpor clla iiHo lia rlc ~.i:issai; c o seu
cllOito liaja de rlurar tiiais tlc I i ~ i i i ic m~iilosaiiiios, sciii ciiibasgci tlns Ortlciiaçfics eiii
conlrario; e sc registará lios Livros n q ~ i cpcrtciiccr, iiiaiiclaiiclo-se o origiiial píira a
Torre do Toiiibo.
Dado no Paço de Nossa Senhora da Ajuda, aos treze de Agosto de mil seteceiitos
e setcnta.
Rey
Maitiilho de Mello e Castro

[Publicado por Eduardo de Campos Andrada, Repovoamerzto~florestalno


arqz/ipélcrgoda Mudeirn(1952-1975), Lisboa, 1990, pp. I 09-1 1 1]

REGIMENTO DA AGRICULTURA [I7711

TITULO 1
DA REPARTIÇÃO DAS TERRAS

Todo o lavrador que tiver huin arado será encabeçado etn liiim moio de terra de
quinto c eni quarenta alqueires de lerra d'oitavo, e a esta proporção o que tiver dois
ou mais arados, serii pela mesma forinalidade eiicabeçado como o primeiro.

TITULO VI
QUE HAVERA PASTORES E EM QUE TEMPO. OUE TRAGAM AGUIL-
I-IADAS

Todos os Lavradores tetllião seus pastores, os quaes apresentarão ein cada lium
anno ao Inspector quando Ihes houver de passar revista, e não Ihes apresentando, os
porá o dito Tnspector á custa do mesinos Lavradores; e os Pastores que não
cumpriretii com as suas obrigações, perderão os seus salerios e pagarão o damno que
tiverem causado, outro sim deverão trazer aguilliadas para divisa sua, guarda do
Gado.
Titulo XIV
DAS TERRAS QUE SE DEVERÃO SEMEAR HUM ANNO POR OUTRO

As terras de inferior qualidade, ficarão huin aniio por outro em pouzio, para que
no seguinte se semeie de semente que Ilie fôr mais adequada e inelhor deverão pas-
tar os gados nos taes ai.iiios de pouzio ou descanço e em seiiielhante cazo i ~ ã opoderão
ser conimuns os tacs Pastos, inas sim pertencerão aos Lavradores e senliorios das
inesinas terras.

TITULO XIX
DA PLANTAÇÃO DAS ARVORES

O sobreditto li~spectorao inesnio teiiipo das visitas, examinará se todos os


Lavradores têin plantado, assim nas testadas fronteiras ao mar, corno rias Ribciras ou
nos Ribeiros, as arvores a que são obrigados no teiiipo de três aniios, e quando assiiii
o nZo tenhão feito. incoi-rerão iia pena do tu 6. do Alvara Régio.

TITULO XX
DAS PLANTADAS NOS MONTADOS

Nos montados das serras se deverão plantar Piriheiros, Ziinbreiros, Castaiil~eiro~,


Tis e toda mais arvores que se poderem produzir, para que façam sombra a terra e
attrahião a umidade da gião de que a mesma tena he sumamente esteril, como
tambem para dellas tirarem madeiras e lhe de que OS moradores tanto carecem e se
imbaginafio de jiestas dos Nortes da Ilha da Madeira, a para a sua propria utilidade,
coiilo de seus gados, e todos os Lavradores á proporção das suas so serão obrigados
no referido tempo de três annos, a povoar os dittos montados, das mencionadas forem
condiizidas da ditta Illia da Madeira e todo o que se exitnir de tão providente litili-
dadtt. á delle o Inspector Gerali as fará conduzir e transplantar.

TITULO XXI
DO MODO DE VEDAREM AS ARÉAS PARA QUE ESTAS NÃO PREJ-
UDIQUEM AS TERRAS CIRCUMVISINHAS

E sendo buina grande parte e a melhor das terras que desde muitos annos até o pre-
sente se coberto d'areias com tão iiotavel damno que annualmente se experimenta e
vai crescendo, cada rnais a sobredita ruina e estrago: todos os lavradores da circun-
ferencia das faldas do areal da terra sejam desde logo, e sem perda de tempo obriga-
dos. para obstar liliin mal tão publico e tão notorio plantar em cerca do monte donde
nascern as dittas arêas, trez, quatro, e mais ordens de espinhe o mais condensado que
se possa, conforme o Inspector julgar bastante para vedarem a ocorrencia mesmas
arèas;
Outro sim, são obrigados a plantar nas ditas faldas outra ordem dos ditos espin-
iieiros para que não acabem de sobrecahir as mesnlas areias nas terras que lhe con-
frontão. no entanto que todos os Lavradores geralmente em beneficio do publico não
podem cobrir como devem todo o areal de espinlieiros;
Todo aquelle que se eximir de coilcosrer para o seli proprio beneficio iiicorrerá na
pena do 6: 8 1 do Alvara Régio; como tambern incorrerão nas mesmas penas todos os
Lavradores que geralmente devem platitar os Espinlieiros, se se eximirem do que
neste Titulo ordeno;
E aquelle que cortar OLI arniinar qualquer dos dittos Espinheiros ou Pinheiros,
como também sempre-noivas, troviscos, ou outras ervas que nasceil-i nas arèas e
impedem a dar correiiteza; se for Lavrador não entrará mais em lavoura dalgum
Senliorio. e quando o não seja, pagará mil reis por cada vez de cadèa, e conforme o
prejuizo que do ditto danno resultar.
E igualmente quero que se entenda a mesilia ordeni e disposição a respeito de
areal da Praia por ser tambein muita e quasi egual a qualidade de terras que se tem
perdido; tudo debaixo das referidas penas e da eleição que o Inspector fizer do sitio
da parte da Praia, em que se devem fazer as plantações das ditas arvores.
TITULO XXIV
QUE OS GADOS NOS PLANTADOS DAS ARÊAS ASSIM COMO NOS
MONTADOS DAS ARÊAS, ENQUANTO NÃO ESTIVEREM
DEFENSAVEIS, DE NENHUM MÓDO SE CONSINTÃO

Defelido a todos os Lavradores o poderem trazer seus gados, assim pelos inonta-
dos, coino pelos arêaes da terra e Praia eiii quanto as arvores e Espinheiros estiverem
na sua procreação, oii em quanto 1150 estiverem em termos de que os gados as não
prejudiquem, pois de outro inodo íicari sendo iiiutil, o traballio que nos dittos rnon-
tados e arêaes enipregarem.
E todo aquele que nestcs lançar gado i~icosserána pena estabelecida no T.6. deste
Regulaiiiei~lo;c defeiido outro siiii que rias terras eiiibaginadas, nem agora, nein ein
tempo algum a~ideiiigados, por ser inaior a utilidade que os inoradores perceberão
da sua conservaçTio e todo o que de qualquer iiiodo infrigir o exposto neste T. incor-
rerá nas dittas penas, sein que llie seja admittida a escuza ou ignorancia.

TITULO XXV
DAS PLANTADAS DAS AMOREIRAS E ESPINHEIROS
EM CERCA DAS FAZENDAS

Nos testados froiitciros ao inar, ribeiras ou ribeiros e do ditto sitio das Fontes se
deverão plantar aiiioreiras por serein assi111as terras aptas para siinill~antesarvores,
coiiio por quc déllas liade resultar grandissiina utilidade aos moradores desta Ilha, e
o estnbeleciii~entopor iiieio da sua produção o proficuo cornmercio das sêdas, inas
ein cerca das suas respectivas Fazendas os Lavradores serão obrigados a pôr
Espinlieiros, tudo debaixo das indicações do T. 19..
Ulli~naine~ilc ordeilo quc todas as penas e coiinas conteúdas neste Regiiiieilto
serno aplicadas inelade para as despezas do Concellio e metade para o acusador.
Este regiinento se c~iruprirátão iiiteirainente como nelle se contém; e o Inspector
Geral dYAgriculturaiiie (leveri al~reseiitartodos os aniios hum Mappa, tanto da
quantidade e q~ialidadeclos gados, como dos Lavradores que fabricarem as terras de
lodn esta Ilha e das Arvores qiie houverem plailtado e do tiumcro dos que produzirem
em inaior ou ineiior qiiantidadc, respectiva 6 especie de cada liuma dellas:
Pelo que, oicleno no Juiz e mais orficiais da Coinarca, ao Coinmaiidantc das
Ordenanças desta inesina Ilha, José Freire de Noronha, e mais officiais dellas e da
Justiça, ciiiiiprão e obedeçiio ás deteriniilações que eiii iiieu nome, e a bem da agri-
cultura elle ditto Inspector Geral, pode e deve dar, sem duvida e einbaraço algum se
registarti na Coiiiarca desta Villa c riiais partes d'oiidc convier, para que eiii todo o
Leinpo conste.
Dado i10 P o ~ t oSanto, sobre o 11ieu sigi~ale sello das iniahas ariilas, aos 13 dias do
mês de Junho dc mil settencentos e scttenta e liiiina.
n) João Antonio de S i Pereira (lugar do selo) Jose Anastacio da Costa

[i11Eduardo de Campos Andrnda, Repovoamel.i~oFlore.stn1 no A1"q~iiyélngoda


Madeira(l9.52-l975), Lisboa, 1990, pp. 1201
INSTRUCÕES DE AGRICULTURA DO CORREGEDOR
ANTONIO ROIZ VELOZ0 DE OLIVEIRA, 1792

Copia das iiistrucçoens de Agricultura, que o corregedor Antonio Roiz Velozo de


Oliveira deo a Camara da Villa da Callieta para Iizerein parte dos proviineiitos da
Correição que fez naquella villa rio anno de 1792

Coino seja da iniiilia particular obrigação O promover a industria pública e procu-


rar aos l~ovosdesta coinarca todas as coinodidades que clles com direito devem
esperar de huin magistrado zeloso da obscrv,?iicia das leys e amigo da huinaiiidade;
deterininei fazer estas instrucçoens relativaineiite a agricultura para fazereili parte
dos provinientos da niinlia prezeiite corseiç&o nesta villa da Calheta; e para qiie os
officiaes da camara (a c~ijoofficio ordinario iiicuinbe os inesiiio deveres pelo que
respeita aos povos sogeitos a sua particular jurisdicção) obser-vem, e fação observar
as dittas instrucções t&oenleirainente como nellas se contein. E porque seria inutil
estabelecer regras e forinas planos, não havendo ao i~iesiiioteinpo quein faça giiardar
e por ein pratica liuina e outra couza; jÍI desde O aiino passado fiz eleição do capitão
António João Hoinem de1 Rey, qiie coin tanto acerto occupa neste concelho o cargo
dc juiz de orfaons, e o Iiabilitei para que de coininliin acordo com os of'fíciaes da
cainara cliegassein os coinpeteiitcs jiiiados e inspectores partic~ilaresda Agricultura
ein todos os bairos, citios e Ionibos de cada IILIIIIR das fieg~ieziasde que se coiiipoeiil
a iilesma jurisdição e coiiceILio; para que estes, cada li~imna sua repartição obser-
vassem, e iizessein executar as ordens que Ilie forem coiiietidas; dando // [44v ] de
tudo parte ao reí'erido juiz dos orfaoils; o qual, na qualidade de directos geral, teria
sobre elles a iiecessaria iiispecção, seiido ao mesino teinpo obrigado a participar aos
inencioiiados ofliciaes da camaia tudo o que fosse digno dc rellexão e de provideri-
cia a respeito das operaçoeiis agraiiiis, da criação dos gados, dos daintios e
forinigueiros; para qiie iriterpoiido ii inesiiin camaia toda a sua a~iihoridade,zelo, e
jurisdição, a acautelassein os iiiales, puiiisseiil os criincs, e proinovessein a industria
e foit~iiiapublica.
Mostrou coin eSeito a experieiicia que os ineus clezcjos se realisariío ein grande
parte; porque iia prczeiite correição foi cabalmciitc iilforiilado quc no iiiverno passa-
do se plantas30 inais arvores qiie ein viiite aniios atras; sendo proporcioiial a plan-
tação das vinhas, assim coiiio a cultura das searas c das scniilhas; e por lim achei
quasi acabada a guerra q ~ i os
c gados (por andarem a montão, e sem pastor) Sazião dc
continuo aos lavradores; e a estcs coiiliccciido as graiides utilidades que para o Suturo
lhes lia de rezultar do seli proprio traballio, e dos cuidados que toiiiei.
Animado pois por tantas lizoiigeiras esperanças, passo a estabelecer as regras
seguintes, q~icservirfio de regiiiicnlo ao director geral c seus subaltcriios debaixo da
imediata ii~specçãoda caiiiara, aviso c~iicladoe vegiliiiicia lica pertencendo vigiar
muito particularmente sobre a coiicervação da paz publica, sobre os abuzos que se
podein iiitrocluzir nesta iiiiportaiite materia; assiiii coiiio sobrc ;i coiidciiação dos
lavradores oinissos e negligentes, e liiialineiite sobre a arrccaclação das penas eiii que
foreiil niultaclos.
Primeirameiite
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

Das beiras dos ca~iiinl~os, assim publicos coino particulares deve pouco a pouco
desterrar-se todo o silvado//[45]; porque não tendo o seru fixito uzo algiini, serve de
pei-petua inorada aos ratos lagartixas, quando inesn~osilvado saein a infestar e devo-
rar as novidades; e ern lugar dos bardos de silvado, devem-se formar outros de
arvores proprias; sendo as melhores, e mais úteis os pereiros, ou macieiras de toda a
qualidade, assim coiiio as inexieiras, romeiras e inartneleiros; e nas partes umidas as
cidreiras.
Estas arvores, iião occnpando inais terra do que a já ulilizada pelas silvas, defen-
dem as fazendas dos ventos; produzem abundante fruto, sendo limpas em tempo
oporttino; e aiinoalmente sustentão os homens e os animaes, com especialidade os
porcos; e ultiinaineiite fazem que os vadios, contentando-se com os fmctos que
encontrão pelas estradas, não eiltrcin nas fazendas a furtar o que nellas faz produzir
a iiidustria do lavrador l~onrado.
E todo aquelle que o contrario practicar, sendo as terras das suas respectivas tes-
tadas aptas e proprias para a produção das sobredittas arvores, será multado na pena
de dois mil reis para as obras do concelho, e para a pessoa que o accuzar, na forina
decretada pela ordenação do rcino 11 tit. 66, 26
Ein 2 lugar
De meias terras acima se devein plantar castailheiros ein todos os lugares baldios
ou descubestos, os quaes ao depois oportunainente se devem enxertar: estas arvores
porein não serão plantadas lnuito juntas; pelo contrario he bom que estejão de tal
modo dispostas, que o sol teilha livre entrada entre Iiuina e outra; afim de que as ter-
ras fiqiiein sempre aptas para produzirein o linho, a cevada, e ainda o trigo sendo pos-
sive1.//[45v ]
Estas sementeiras sem duvida hão de frutificar meIlior do que aquellas que se
fazein debaixo de arvoredos densos e bastos, que 1150 sei-virião de couza alguma se o
excelente clima desta ilha não adinittisse liiitna coilza tão adiniravel e tão rara. Ainda
que I I ~ Oein todos os lugares, nos estios que forem proprios para a produção das vin-
has; e são todos aquelles aonde o ar hé inenos carregado de nevoeiros, deveni-se
plantar parreiras junto aos castanheiras; as quaes Iião de para o f~ituroproduzir uvas
que pelo menos servião para agoardeilte; e sera este Iiuin novo ramo de comercio
inuito util aos lavradores.
O inellior modo de se plantarem castanlieiros, principalmente ein pastes secas, 11é
fazendo covas largas e fundas logo nos inezes de oitubro e Novembro das quaes se
deve tirar a terra de sorte que não seja fácil entulharem-se: Ein cada Iiuina dellas se
deve lançar huma porção de mato de qualquer espécie: Estas covas ficando abertas
ate o mez de Janeiro recebein muita agoa; e esta não se penetra o interior da terra para
alimentar a árvore no tempo do estio; mas tambeni faz apodrecer o mato, o qual
estnimaildo a inesma terra, faz que as arvores cressão de pressa e coin inaior força,
e principiem logo a recoinpençar o trabalho do agricultor: cornt~~do hé de muita
importâi~ciaqtie no I e 2 anno de propozito se deitem abaixo os fructos produzidos
pelos novos enxertos, pera que estes não enfraqueção, e ao depois teiili"ao o neces-
sario vigor para produzirem melhor e com mais abundância,
Se os lavradores pençassem coin a devida refexão nas mliitas utilidades que Ihes
pode rezultar destas arvores, elles sem duvida tratarião da plantação e cullura dellas
com niaior cuidado. São pois as ditas utilidades e de que os //[46] inas lavradores
devein ser iiifomados, as seguintes:
11 os castaiilieiros produze111frutos que servein para a susteiitação dos lioiiieiis, o ~ i
da forma que vulgarii-ieiite se uza das castanhas, ou reduzidas a pão da inaneira qque
se pratica a respeito das semilhas.
2 c0111 as castanl-ias se engordão os porcos, e são estes os que te111 a carne mais
saboroza c inellior e da mesma se crião aves de toda a qualidade.
3 os cavallos e os bois, tendo castailhas escuzão a ração de millio e cevada que
ordinariameiite se Ihes costuina dar.
4 Depois dos conteiiiplados beiiefícios que rezliltão dos frutos clcslas arvores,
sempre dignas de estimação, seguem-se as coiiveiiiêiicisis qiie dellas inesinas proce-
clerii. As folllas eiilquanio verdes, serveiii de exccllente pasto aos gados dc toda a
qualidade, e depois de seccas cstrunião as terras e cslas se í'azeii~todos os anos mais
fecundas: além disto 110teinpo da priiiiavera e do estio, riiodilicIio o calor do sol, e
exaurindo os vapores da teria e do ai; fazem as chuvas inais Sreq~icntes;:iugmeiitaii-
do por esta forma as agoas lias foiltes e as orvageiii aos gados; coiicorrein para que
as vinhas c todas as outras plantas que Ihes licão iiilèriores, 1150 te~iliãoprecizlo de
repetidas e coiitin~iadasregas.
5 Finalineiite as ditas arvores coiiccivão as plantas c as searas, deí'ci~dendo-asdos
ventos e das teinpesiades; seguirão as terras eiiipinadas, e com as suíis raizes as con-
cervão e sustentgo de Soima que estas jamais se prccipilão c Sazem q~icbradas,o qiie
se deve nesta ilha evitar por todas as Sorinas para a conccrvação do p~iiz.A cstes
betieficios tão iinportantes ainda acressem os o~i1i.o~ que iczullão clas Iciili~ispara o
uzo diário das cozinlias das estacas paia as vinlias, e iinalinentc cias ilinclciras da con-
strução para as igrejas, para as cazas e qliacsquer oritios cdifcios. E paia qiic os
lavradores que cultivão terras alheias se aniiiieiii com maior Iàcilitlatlc i1 hzereiii a
plantação dos ditos castanlieiros; serão cstes aqiii cin clisiiitc avalundos, c pagos
//[46v] aos mesmos lavradores a razlo de cem reis cada liiiiii, sendo biavio; c tle
duzeiitos reis sendo enxertados.
Pelo cotitrario; todo aquelle lavrador que tendo tcrras prcíprias pairi a cult~iratle
que se trata; ou sejão tlo seti particular cloi~ii~iio; OLI cle sciiliorios, c ii5o pl:~iitiirno
meiios ciilcoenla castaiilieiros cin cacla Iiuiii anil«, será iiiiiltatlo iia sobreclitla 17ciina
de dois iiiil reis, coiii a applicaçgo cla já citada orcleiu tlo I? I tít~ilo60, 20.
Ein 3 lugar
Nos cítios e liigares eill que os venlos iião fazeiii graiicle impressão, e não í'orcin
i-ii~iilosecos, hé importante que se plaiitein 1araii.ieiras c liiiloeiros tlc totln a quali-
dade; e cla mesma lòrina liinciras c citlrciras. Nesses mcsiiios lugares iibi.igatlo~
iinpoita milito qlic estas Brvores scjão plaiitatlas c clispostris ciitrc arvoretlo que con-
cerve n folha de iiiveriio corno o loureiro e vinliiitigo: tamb6111as cniias viciras são
i.i?uilo úteis. Foriila-se pois lilim qliadrado com as ói.vorcç riisticas, c com 11s coml~e-
teiites divizoeils de caiias, c pelo iiieio se plaiilão cm boa orclci~l~iqlicllas6rvcircs q~ic
por mais delicaclas iião registei11 tanto aos vei~tos,c ii iiii~rczia»LIs:iliLrc Icvatitados
pelos tempos clo i ~ ~ aate r , qliein rccebein iiiuila percla: senda para atlvci'lir que as
árvores cle espiiilio, com especialiclaclc as Inreiijciras, produzcili a sLii1 Iloi no lenipo
do inverno; c por isso não podc esta concervarse bem 1130 mctliaiitlo as ciiiilcllas qiic
ficão ponderadas.
Com as laranjas e liinoens podia facilmente na Madeira fazer se Iiuin comércio
milito conciderável sendo exportadas, assim coino do reino e das ilhas dos Açores,
para a Gram Bretaiiha e outras partes do iioite e da //[47]inesina forma para a
América septentrional. O methodo inais fácil e mais proveitozo de se multiplicarem
as laranjeiras, 1ié plantando-se estacas de cidreira,, nos quaes anos depois se
enchertão, ou de garfo como hé prática a respeito dos castanheiros, ou de inoculação
a que os nisticos cliainão de porta; o que facilmente se fará tirando da estaca da
cidreira hum olho sem molestar o pão nem a casca, e pondo ern lugar delle outro de
laranjeira: desta forma hé muito fácil acressentar se em pouco tempo o número das
dittas laranjeiras ao infinito.
Outra foima há também admirável, que 116; cortar ein largura de huma polegada a
casca da pola nova das laranjeiras e por lhe tei-ra i roda, ou ein cestos, ou pano vel-
hos, ou qualquer outra couza que a 1180 deixe cahir; porque feita esta operação no
principio do inverno, as dittas polas produzein no mesmo iilver~iomuitas raízcs no
lugar em que Ihes falta a casca e fornião excellelites Arvores os mesmos rainos.
Hé da inesina forma, entre árvores rústicas e canas, quando os lugares não são
abrigados, que se formão os inelhores e mais proveitozos pomares de outras árvores
de fruto como pereiras, maceeiras e ginjeiras.
Todas as árvores de fruto deveiii ser tratadas com muito cuidado para que não se
tornem bravias; todas pois se devem limpar antes que na Primavera principiem a pro-
duzir flor; e aquellas que não são enchatadas nunca produzein boni Fri-lito;o lavrador
ainda auginentará - muito a qualidade, sabor e grandeza dos ditos putos; se industri-
ozaineilte tirar das Arvores alguma parte dos méritos que ellas costumáo aniloalinente
produzir; e aléin disto as mesinas ái-vores se concervarão por largos aniios.

[ARM, Goi~ei.noCivil, ri" 70, fls. 44-47]

BERNARDINO JOZE PERO DA CAMARA [I8161

Senhor. Afflicta, e consternada vai aos Pés do Throno de V.A.R. a Camara da


Cidade do Funclial da ilha da Madeira, como Magnailinzo Pai dos seus Vassalos, a
supplicar nncioza lium pronipto, e efficaz reinedio aos rnalles, q' tanto opriinem os
disgraçados habitantes desta Coloiiia: persuadida de que V.A.R. applicará benigna
h~imindulgente Ouvido á triste narração dos mais disgraçados sucessos, ella se
esforça ein os relatar a V.A.R. com aquella verdade, zelo dos interesses da sua Real
Coroa, e dezejos de felicidade publica, que em todo o teinpo tem caracterizado esta
corporação Mui~icipal,Niilg~iein,Seiihor, se pode recordar de ll~iiliaepoca mais dis-
graçada para este Paiz do que a do prezente tempo. Parece que a natureza cançada de
ser liberal para coin os seus habitantes naquelle teinpo em que os nossos asceridentes
gozavão deste dom preciozo com que ella os felicitava, prodigalizando-lhes abilli-
clailtes, e preciozas colheitas, quer agora reparar OS excessos que f'ez em benefício
delles à custa das lagriinas que tein feito verter aos dezainparados Lavradores, e a
todos ein geral, pelas escaças novidades que cotistanteinente teiii alcançado em paga
de çeuç peniveis traballios. A inemoravel catastrofe de 9 de Outubro de inil oito ceil-
tos e tres foi l i ~ i i i iinfausto presagio de tudo quanto estava para nos acontecer. Foi
então que a Liberal Mão de V.A.R. acodio proinptaiiiente ás ruiiias desta Cidade,
fazendo que dos seus Reaes Cofres saliisse todo aquelle cabcdal q ~ i cIòsse precizo
para as reparar; e por outro qualquer motivo, q' V.A.R. julgasse acertado exliaurir os
mesmos Reaes Cofres, seria o seu maior prazer socorrer a disgraça, e a iiiizeria
daq~iellesVassallos, que V.A.R. visse inarcados coii? O Sê10 da iiiais cruel infelici-
dade. Desde aq~ielleterrivel anno tein seinpre corrido assás calainitozo para Iiiiin
povo qiie a iiiaior parte delle he por extremo pobre, e que só o excessivo trabalho a
que se sujeita, lie que o faz aiiida poder subsistir eiii liuma Tcrra ontlc elle não pode
cultivar se nao pequenas porções della, por ser iiicompativcl coiii a aspereza do local
cultivar grandes terrenos. Cada lavrador apenas pode aqui cultivar ii'uiii anno aque-
le espaço de terra, que iioiitro qualquer lavrador cm differeiite paiz cultivlria ' ein
menos de hii anno; e ainda assiiil inesmo arrisca deiiiaziaclaiiieiite a sua vicia luctaii-
do ein Izirrna parte com enormes rochedos, para dclles sacar aquella pedra q' ein out-
ras partes vai suster as pequenas porções de terra que ainda nelle exislcin. Desde
aquelle mesmo tcii~poaté o prezeiite as imiiicnsas agoas o lem sern1,i.e delapidado,
reduzindo-o a tiío exteril sitiiação, que só os braços de liomciis costiii.i~atlosa Iiu
penozo digo a Iiuin tão peilozo fabrico tem sido capazes dc Ilic dar n1gi1111reiiiedio.
Por outra parte as iiiiinoderadas estações, que irregiilaiiieiite leiii agitado huima
atinosphera costuinada ate eiitilo a influir suavemente sobrc as ~iiclindrozaspro-
duções deste inesnio Paiz, tem tirado tio pobre, e ao rico todas as espcraiiças rle
poderem viver sein aquellas afflições qiie nasce111 clii iiidigcricia. t«lliei~cloti todos o
ineio de poderem reparar coiii novas plantações o estrago que tcin Iiavido cm todas
as vinhas, já occazionado pelas inesmas agoas, e já expessas, c cstragndoras iievoas,
e arrebatados ventos, qiie eiii teinpo não esperado seinpre lcm queiiiiaclo, c cicstrwido
as suas tenras varas quando todos geralmeiite se co~igralulavãode tirar dellas coiii
abuiidancia aqiielle prbciozo vinho que faz a baze fiiiitlaiiieiilal dc todo o Commercio
desta ilha, e da siibsistencia dos seus infeliccs habitantes. A carestia dos viveres
ocazionada pelas tristes revoluções c10 Mundo, c iiiuito priiicipaliucntc pcla guerra cla
America, tein sido nesta ilha tão excessivas. qiie iiluilas pessoas cin ultiina classe
perecerao victiinas de liuina pura necessidade, e as outras de todas as cl:isses te111
arrostado Iiuiii iiio~itaode ii~coinii~oclos para se salvarcin do iiauíkagio qiie llies
preparava tio horroroza teinpcstade, e da insaciavcl c~ibiçada c«rporação c10
Comiilercio desta ilha que a cada passo se está valcrido dos iiieios que Ilic ol'rercce a
Falta de geiieros nacioiiaes para as imiiiolar a os seus sordiclos interesses. As docnçns
epidemicas desde que as Tropas Brelaiiicas dezenibarcarão neste terreno LCIII inor-
tiferainente graçado por toda a ilha acuinulaiido a os seus habitaiitcs malles sobrc
inallcs que talvez se 1180110ssão extiiiguir se iião para as gerações r~iluras.Tuclo isto,
c a inda inuito niais qiie deixairios em silencio para iião parecer-nos im~~ortuiios tem
appreseritado aos ollios do Publico liuin lastiinozo qiiadro de que V.A.R. talvez iião
telllla a menor idea, Por lerln0S sempre querido afastar das prespicazes vistas de tão
clemente Soberano aquellas ii-iizeriasde huin Povo inteiro, que necessariamente hav-
ião de COnSternar a V.A.R.; mas coino o mal se tem aggravado a ponto de já llão lhe
poderinos dar rernedio se não debaixo das sabias Determinações, e Benevolo influxo
de V.A.R.
O iilczior perigo lie da Ponte do Torrião para siina onde, para a parte de Leste, ape-
nas este aimo se tinlia coineçado huina pequena porção de muralha que inteiramente
dezapareceu, e por isso se perderão varias porções de terra cultivada, huma caza que
d e novo se tinha construido, e felizinenle escapou a Ponte que pela sua incrivel for-
taleza rezistio a hum iiiipulso d'agoa, que todos julgava0 capaz d'arrazar toda a
Cidade: e por não se terem concluido as inurallias que se principiarão pela parte
opposta, ficarão quaze todas arrazadas, sendo precizo para as dezaterrar outro tanto
cabedal quanto se gastou na sua construção. Duas Pontes de páo, que estavão nesta
Ribeira, lluina chamada a Poiite de Páo do Toi~ião,e outra cliainada a Ponte da Rua
dos Ferreiros igualmente dezaparecerão no mesino inomento em que as agoas cor-
rerão c o m mais abundancia: ficou porem hum pouco arruinada, inas em soffrivel
estado d e se tranzitar por ella, outra Poiite de páo, que nesta mesina Ribeira existe
chamada a Ponte da Praça; e devemos atribuir este sricesso a huin especial indulto da
Providencia que não quiz flagellar iilais hum Comiiiercio tão atropelado, qual he o
desta Cidade, difficultando-lhe os meios de se conduzir todos os generos, que se
itnportão e, exportarão nella, por serem esta Ponte, e a da Rua dos Ferreiros justa-
mente construidas no meio desta inesina Cidade, e ein pouca distancia da Marinha.
A ultima Ribeira, que lie a de Nossa Senhora do Calháo, por estarem inteiramente
concluidas as suas inurall-ias não padeceu ruina alguma. Resta-nos, Senhor, os dois
pequenos Ribeiros de que jB fizemos menção, hum dos qiiaes coi-ta pelo centro da
Cidade, e o outro quaze nos confins della pelo sitio da Nora, na Feguezia de Nossa
Senliora do Cnlliáo: tanto huin como outro, por falta de niuralhas que contivessein
suas agoas, fizerão inexplicaveis estragos. O primeiro roinpeo na Riia da Larangeira
alem d a Igreja do Carino para a parte de Leste, innundou toda aquella Rua, e Icvori
após de sí iinmeilso rochedo com que foi aterrada toda a Rua do Ribeirinho ate ao
Beco da malta, e d'alli, por aquelle inesmo Beco se cornonicou ao largo do
Pelourinho, e por isso apezar de huin grande cano por onde dezeinbocarão as agoas
para o calliio cliegáriío iieste lugar, que he liuni largo consideravel a sete pés de
altura, tendo estas ruinas de extenção desde a referida Rua da laranjeira até aquelle
lugar para sima de cento e oitenta braças. Esta inesperada corrente por meio de huma
Cidade q ' em todas as lages de suas Cazas tem generos de iiiuito valor, ~ o d por e si
inesma suscitar liuina idéa do prejuizo que soffrerão os seus habitantes. Nlío foi
menos consideravel a perda occazionada pelas agoas do pequeno Ribeiro chamado
da Nora, pois ainda que a Cidade neste pontto he por extremo estreita, por coinpre-
liender só trez mas, e qiiatro ordeiis de cazas, elle as iililundou de tal forma, q ~ i e
amornbando as portas das loges, e entrando pelas que estavão abertas, nada deixou
ein bom estado do que ellas continhão. A grande Riia de Santa Maria, que lie leinita-
da a Leste por huina elevada mas pequena Ponte de Pedra, por onde coshlmão PaS-
sar as agoas deste l-ilesino Ribeiro, perdendo estas a direcção da dita Ponte, e entran-
hando-se pela parte da inesina rua ficou inundada de tal forma, que tão bem subi0 0
depósito das agoas a mais de cinco pés de altura, fazendo a todos l i ~ ~ iprejuizo
ii iiical-
culavel, e muito priiicipalinente aos Tendeiros que disgraçadaineiite perderão todos
os generos, que tiiihão nas suas Tendas. Tal foi o rezultado da All~iviãode vinte e seis
de Outubro proxinio, relativaniente a esta Cidade. Os Lavradores, Senhor, ainda se
lainentão inais da sua sorte do que os próprios Cidadãos: elles virão copiozas, c dis-
conhecidas agoas arrancar-llies pelas raizes os idozos troncos, e precipitar das altas
montanhas as exiinias penedias, que envolvidas com as mesmas agoas arrazavão OS
valles, e fazião perder a maior parte da sua cultura: os gados que se acllavão disper-
sos ein lugares inais eiininentees, forão arrojados debaixo destas ruinas, e apezar da
cautella q' todos toiiiárão na salvação de suas vidas, ficarão algumas pessoas
perigozainente feridas, alein de dois rapazes que perecerão ein huin cazal da
Freguezia do Estreito de Câmara de Lobos, por ser iiicompativel coin a violencia das
qiiebradas poder-se-lhes dar o menor socorro. Cada h ~ i mdestes Lavradores jiilgan-
do-se absol~~tameiite disgraçado parece querer proferir iiiiprecações contra a sua pro-
pria existencia, e alxmdoiiar liuin Paiz que tão ingrato se tein niosirado ao iildustrio-
zo, e peinivel meio com que elles tem procurado bene.Ficiallo, coiisagrando-lhe tantas
fadigas, e exgotando com elle os ultimos restos das suas forças. E será possível,
Seiihor, que a iiialles tão estrodozos que este Povo tem soffrido, se Ihe ajunte tantos
iinpostos, quaes são a Deciina Urbana, a Deciina Fuileraria e Ciza, o Finto, e outroa
inais iiiipostos desta natureza, quando os Augustos Predecessores de V.A.R. eni ocaz-
iões de menor estrago por cala~nidadespublicas, e circuiistailcias iiieiios urgentes,
perdor8o aqueiies nlesmos impostos que então liavião coillo se mostra dos
Docuinentos iiuinero priiiieiro, e seguildo? Ali! quc se V.A.R. prezeinciasse a inizeria
em que todos geiiieii-i neste Paiz; sc visse o dezarilparo em que se acha uin Povo, q'
tanto tem concorrido para prosperar as suas Finanças; se V.A.R. tivesse prezeiite os
claiiiores do Publico que não cessa de lastiinar a sua disgraça; eiitão coiiiiiiovcndo-
se dlle V.A.R. pcla siia Inacta e Paternal Beneficencia, não só o alliviaria deste peza-
do jugo, nias inda mesiiio inandaria repartir avultadas soinas dos seus Reaes Cofres
ein favor e soccorro de taiilos iilfelices.
Senhor: se V.A.R. iião quer ver iilteirameiite perdida, e abandonada liuiiia cultura,
que tanto intreressa os seus Reaes Cofies, e que perdida ella est8 perdida a raineli-
cação do Bein Publico, decaliido iilteiraiiienle hum Cointnercio, que ainda a muito
custo se coiiserva, e por coi~sequeilciaquaze exticntas as Rendas da Admenistmção,
e Arrecadaçiío da Real Fazenda deste Estado; se V.A.R. Quer tcr toda a gloria de con-
servar Iiuma Colonia, que teiii faiua ein toda a parte do Muiido pela singularicladc das
suas produções; se n5io Quer ver linalineiite esta tÊio importante porção dos seus fieis
Vassalos luctar entre os horrores de uma I-iorroroza fo~iie,pela falta de meios de coin-
prar os viveres, sirva-se V.A.R. derrogar aquellas Leis que Ihe impoem tão pezadas
contribuições, para ao iiienos nesta parte suavizar tão eiioriiies desgraças, c os
grandes Irabalhos que tein ein dezentulliar taes ruiiias, para rcparo das qiiaes não tein
feito prezeiltementc o i-iienor dezcinbolço os abuiidatites Cofres de V.A.R., pois tendo
disso cliaii-iado todas as Ordena~lçasa este diario trablaho, os iiiais pobres ajudão coiii
seiis braços a salvar a Cidade de tão grande perigo, c os outros pagão o doiiativo de
quiillieiitos reis todas as vezes que por seu turiio são obrigados a esta defeza, digo
obrigados B defeza della. Este Povo, Seilhor, que a pezar de todos os sacriiicios sem-
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

pre tem feito exforços para prosperar o Estado, promovendto com iiicansável trabal-
ho huina tão dificil, e pezada Agricultura, auxiliando por ineio della o Coininercio
nacional, e que só para conservar sein mancha a gloria do Nome Portuguez he que
tem succuinbido inteiramente aos penetrantes golpes da Disgraça, este Povo atenua-
do por inolestias, e exterilidades; oppriinido por fomes, mizerias, e alluviões; este
Povo, Senhor, que se apprezenta a V.A.R. ein triste, e lastiinozo quadro despenliado
da elevada carreira de sua brilhante Fortuna ein hum calios de infelicidades; acolhe-
se todo elle á incomparavel sombra de seu Augusto Soberano, e cheio da mais coii-
soladora esperança huinildeinente implora huin promptò, e efficaz remedio, que atal-
hando o progresso de sua grande disgiaça o aiiiine a prosseguir em novos, e tão indis-
pensaveis trabalhos; devendo igualmente ser da Alta Concideração, e Indefectivel
Justiça de V.A.R. que os Officios, e Einpregos Publicos desta illia, tanto seculares
como Eccleziasticos sejão todos conferidos a os filhos della, e não iquelles que
nunca a beneficiárão, nem tein concorrido para a salvar de suas ruinas. Deos Goarde
a V.A.R. muitos anos. Fuiichal em Cainara seis de Dezembro de mil oitocet~tose
qtiize. = Joaquim Jozé Nabucho dYAraujo= Joze Joaquim Esnieraldo =Antonio Joze
Spinola de Carvalho = Pedro Agostinho Teixeira de Vasconcellos = Gregorio
Francisco Perestrello e Cainara = Antonio João da Silva Costa = Francisco Xavier
Amorim = Francisco da Conceição. He quanto se contém na referida reprezentação
que aqui fiz registar, e á propria iiic reporto. Funchal 5 de Julho de 1816. Bernardino
Joze Pero da Cainara, Escrivão da Camara, o fiz registar.

Bernardino Joze Pero da Cainara


[publ. i11 Atlâ?itico, iin.3, 1985, pp.234-2381

PAULO DIAS DE ALMEIDA 1817

DESCRIÇÃO DA ILHA DA MADEIRA

Toda a ilha da Madeira é cortada de imensas ribeiras e ribeiros, a maior parte delas
só muito ca~~dalosasno Inverno, foiliiada de altas inontaiilias precipitadas e enormes
rochedos descobertos, Todas as praias são de calha11iniúdo, alguinas de calhau inuito
grosso e só quando se acabam as grandes levadias, aparecem pequenas praias de
areia preta, que com as eiiclietites e vazantes das marCs, se desfazem, toinando a
primeira fonna de calhati.
(a. .)
A quantidade de igua que achei no ano de 1815, reunindo todas as fontes do
Rabaçal, enche uina levada de dois palinos quadrados. Talvez hoje tenhain diininuí-
do por Ihes terem queiinado a inaior parte das árvores e inatas por cima do Paúl.
A destrt~içãodos arvoredos é geral e tiei~liuniasprovidêiicias se têm dado a este
respeito; os cortes das leilhas contiiiuatn sein ordem; os carvoeiros reduzetn a carvão
esses restos das árvores, que se coiiservatn ainda nesses lugares inais escabrosos
(sic), sem haver quein atalhe este mal retnediivel. As grandes cheias que sucessiva-
mente tem havido, têm a sua origein na destruição dos arvoredos e as inontanhas que
11ão há muitos anos vi cobertas de arvoredos, hoje as vejo reduzidas a uni esqueleto.
O Paul da Serra, único terreno reservado para os prados do público, se acha ]laje
sem matas. Tem chegado a tu1 ponto a negligência das Câmaras que, consentein não
só que se cortem as giestas em flor, inas até que se Ilies larguein fogo. O Paúl é o
receptáculo da rnaior parte das fontes, e das iiiais abuiidaiites, bastaiite inotivo para
merecer a atenção das c5r inaras.
Nos ineses de Maio a Jullio todos os anos os nevoeiros coiisomein uina grande
parte das novidades, principalrnente as uvas quaildo estão em flor, formando uiii
cordão ein torno da ilha e ficando o centro descoberto.
O ce~ltroda ilha se acha todo descoberto de arvoredo, coin apenas alg~iinasárvores
dispersas, e isto eni lugares onde os carvoeiros não têin chegado. Se tivesscm posto
eili execução as Ordens e Cartas Régias relativas à coiiservação dos arvoredos, iião
leriain a cidade e as vilas sofrido os estragos do ineinorhvel aluvião de 1803. A
experiência teiii mosiracla que a falta de arvoredos pelas margens das ribeiras e
declives dos inoiites que sobre elas desaguam, é a causa da imensidade de rocha e
terra que com as chiivas vem atulliaildo as iiiesinas ribeiras, cujo alveo, hoje está
superior às ruas da cidade. A praia do Funclial, se tem alongado ao mar, descle 1803
até i 8 17, 150 palinos e ein partes 250 e i~lais,coiii os entulhos que as ribeiras deposi-
Lain.
Ern 30 cle Outubro de 1815 pelas 5 horas da tarde, houve iiiiia aluvi5o que levou
q~iarentacasas e arruiiiou outras, ii~uilclandoruas, e se fosse à noite inuila gente iiior-
reria afogada. A ribeira de S. Paulo clicgou a trazer uina coluiia de agiia c rocliedos,
que ocuparain a largura de 60 paliilos e 30 cle alto. Entre as pedras que licarain rio
leito da ribeira, junto ao iiiar, Iiavia uiiia de 20 paliiios quadrados, e de 10 palinos
inuitas. Esta ericlientc durou uina hora.
A inaior parle dos caiiiiiihos s5o pelos altos dos lombos, atravcssanclo ribeiras e
ribeiros, m~iitoiiial delineados, e iiiuitos e111 rochas precipitadas, outros eni salões,
oiide as chuvas têm feito escavac;ões clc inais de 30 paliilos de alto.
(...I

(...)
No liiveriio com a ribeira clicia ficain scm coinuiiicação coin o Porto do Moiiiz,
por não terein poiite. A serra desta povoação 6 liiida e aiiida conserva ii?~iitoarvore-
do antigo, apesar da clestruição que lodos ris dias Iàzein os Iiabitaiites. E iicsta serra
oiide Iiti ii~uitase abundaiiles Iòiites, q ~ i cse perclem, podeiiclo ser aproveitadas em
beneficio da ciiitura.
Na origein clesta ribeira C: onde eslão as copiosas foiites do Rabaçal, que igual-
i.iIciite se podem aproveitar, Da paróquia clo Porto CIO Moniz 6 igreja da Ribeira da
Janela, são três quartos cle légua e gasta-se uma Iiora.
Poi~orrçtíoe vila de Muchico

É fundada ein urn pequeno plano, cortado ao centro pela grande ribeira de
Macliico e domiliada por altos montes.
Pelo aluvião de 1803 foi a inaior parte da vila alagada, a paróquia inundada por
maneira que os altares ficarain cobertos de água, alguilias casas se abateram, a grande
ponte de três arcos demolida e arrebentou, e deitou por terra a muralha que guarda-
va a vila, As casas que se não abateram ficarain arruinadas, e aquelas qire estão ao
Poente da ribeira, são inuito húinidas por causa dos inhames que conservam nos
quintais, planta esta que só se produz cow muita água.
Teni uma boa baía, onde por vezes têm fundeado alguns corsários. O Forte do
Deseinbarcadouro ou de São João Baptista, a artilharia que tem está toda no chão, e
a do Forte do Aiiiparo, que está no centro da praia, acha-se no inesino estado. As
peças são reprovadas, as balas que têin são de calibre de outras peças, e as palamen-
tas ein muito iná arrecadação.
As serras desta vila estão descobertas, só se conservando os aivoredos das
Funduras. Poréin isto deve-se a Manuel Te10 Cabral, cujo grande entusiasino pela
cultura o obrigou a comprar aquele sítio, para assim escapar aos carvoeiros que
destroiem as rnatas cotn os fogos.
E nesta freguesia que o Corregedor Veioso fez introduzir a batata inglesa e que
hoje se tem propagado iiiuito ein toda a ilha, assim coino iiitroduziu a plantaçiio dos
pinheiros, que se não tem continuado por falta de energia da Câinara da mesma vila,
o que deu caiisa a perderem-se, em bein pouco tenipo, até as próprias sementes. 0 s
terrenos que naquele teinpo forarn cobertos de piillieiros, hoje estão reduzidos a bar-
reiras, a escavações prof~llidas,indo a terra sucessivainente para o mar e em poucos
anos nem pinheiros produzirá.
(a,.)

Quarto disfrifodu Ribeiro BI"UVLI

(e..>

As coinunicações destas freguesias entre si são i-iliiito perigosas e por entre a


ribeira. A coinunicação c0111 a Serra de Agua é péssima e só se passa bein no Verão
quando a ribeira trás pouca água. Os cainiiilios em geral são muito mal delineados,
estreitos e com precipícios. Ein iiluitas partes os cavaleiros só passam a pé (237) e
a povoação da Serra de Agua fica no Iilverilo incoiiiu~iicávelpor muitos dias por
caiisa da grande ribeira. É aqui onde se cotzservain algumas inatas de soberbos
arvoredos e estas se teiii destruído iiiuito pela nova estrada, que se anda fazendo do
alto da serra do Estreito de Cfiinaa de Lobos para São Vicente.
Se n8o derem boas previdências a respeito dos cortes de inadeiras e carvoeiros, ein
pouco teinpo consuiiiirão estes restos de wvoredos e secar-se-ão as muitas fontes que
i-iascein naqiieles rocliedos e estas se pode111 aproveitar a benefício da cultura das
freguesias vizinhas.
(...I
A cultura das vinhas na Calheta é toda ern precipícios formando sucalcos de pedra
pelas encostas das lombadas e tém muitas partes abandonadas, por que a terra tem
ido com as cheias para o mar. O alto da serra se acha inculto, com os caminhos pis-
simos e perigosos. Os terrenos dos Prazeres, Maloeira e Raposeira são lindos. com
muito pouco vinho. pois a grande parte da cultura ali é de verduras, legumes e
batatas.
E nestas freguesias que as niulheres trabalhani mais que os homens. São elas que
levam os gados ao pasto, que conduzem o gado a serra. que fazem o corte das lenhas,
e por isso são mais robustas e os homens niuito acanhados
(.-.I
A freguesia da Ponta do Pargo tem ~nagnificosterrenos incultos pela falta de água
que nem para os moinhos téni e são obrigados a levar o grão a moer ao Porto do
Moniz. Têm planos extensos entre as povoações sem cultura. Abaixo da igreja paro-
quial de S. Pedro há Lima grande porção de terra que podiam semear de pinheiros,
para sustentar as terras que continuadaniente vão para O mar, pois há partes em que
já não.
(...I
As Câmaras nesta parte têm sido muito descuidadas e não obrigam a cultivar as
pessoas que o podem fazer, concedem licenças a troco de 400 reis que esta custa, para
cortarem o anroredo que quizerem, corn a condição a que seja distante da água, e isto
não se observa porque os meirinhos da serra são sempre cainpónios pobres e depen-
dentes dos cortadores. O mais que sucede é proceder-se à devassa, e nela geralmente
ninguém é compreendido. Assim tarnbéin fecham os olhos a proibição dos carvoeiros
que contiiiuadan~entedeita111 fogo debandado na serra. Isto tem sucedido muitas
vezes e são estes que tem destiuido a maior parte dos arvoredos das serras. Fazem o
carvão em covas feitas na terra, e como não há água nos sítios onde o fabricam, com
muita f'acilidade se cornunica o fogo pelas raizes das árvores, e com muita dificul-
dade se apaga, por serem enormes os rochedos, onde se não podem fazer as alertas.
Tem sucedido arderem lombadas inteiras e chegado o fogo AS casas, como sucedeu
no Curral das Freiras no ano 1807, fogo que durou quinze dias. E a não ser os altos
rochedos que dividiam as outras freguesias seria inn continuado fogo e sem remédio.
Também tal tem sucedido em consequência das roçadas que fazem na giesta para
queimar e depois semear o trigo.
É uma mania introduzida na ilha, que semeada a giesta e ocupada a terra por 5 ou
6 anos, largando-lhe fogo produz melhor pão.
Em prinieiro lugar não posso conceber que se ocupe certa porção de terra 6 anos,
tirando a poiica substancia dela; em segundo lugar largando-lhe fogo e ressecando-a
para semearem, de c~ijasementeira apenas recolhem a semente.
Enfraquecem a terra com o fogo e depois a abandonam. Eis aqui de onde proce-
dem as quebradas, porque a ilha é toda cortada de ribeiras e ribeiros, muito próximos
iins dos outros, fonnando altos lombos, e nas encostas deles é onde fazem as roçadas,
que depois despresam tirada a primeira colheita.
As lombadas quase todas são foinladas de uma mistura de pedra solta e salão, e
n a superfície uma tona que apenas tem 1 e 112 palmos de terra, qiie estas chuvas
levam à ribeira, ficando a pedra solta e alguma agarrada ao salão, que o sol resseca
e por consequência cai.
Esta freguesia e a que menos sofre o dano dos carvoeiros, por ter já poucos
arvoredos.

[Paiilo Dias de Almeida, "Descrição da Ilha da Madeira", in Rui Carita, Paulo


Dias de Alnzeida e a Descrição da Ilhn da Macleira, Funcl~al,1982, pp.51, 53-54,
68, 75, 80, 82-83]

PROJECTO SOBRE O RESTABELECIMENTO DOS ARVOREDOS


E SUA COMPETENTE ECONOMIA NA MADEIRA

1.- A ruína das inatas, que nestes últimos tempos tem degradado nossas mon-
tanhas, he facto notorio. Eu não me demorarei ein indagar causas: todos altamente as
apregoão. Forão as indiscretas rotêas de fogo e o incrivel desleixo de não remediar
por novo plantio ao crescente consuino de combustiveis, annexo sempre aos pro-
gressos da povoação. As rolêas, inda que infructiiosamenie, intentou-se dar corte; foi
defezo proceder a queiinadas, sem licença. Quanto ás subsidiarias plantações, nada
s e tem feito; eis o que ine lembra e lie de mcu dever propôr.
2.- Ha pelas einineiicias de S. Antonio, S. Roque, Monte e Camacha, vastas
planicies, assim coino lombadas, ii-igriines encostas sohre as margens das ribeiras,
outr'ora ricamente arborisadas, hoje nua rocha ou pobrissima relva. Devem daqui
principiar novos ensaios, visto serem estas fresuezias as mais proximas á cidade e por
isso mais urgente acudir-lhes.
3.- Será o priiiieiro passo desigiiar nas ditas eminencias, todo o terreno disponiv-
e1 ein seis espaçozas areas, circumvalada logo, ou embardada uma dellas: se cuidará
em povoala niriito á larga de boas arvores agrestes: nenhuma como os inexprignaveis
larices. Nos intervallos e em todo o resto, hade-se entreter giesta bastante a supprir
por hiiin anno o Funchal e suburbios. O mesmo regiinen he applicavel, nos seguintes
5 annos, ás outras areas e depois periodicaineilte repetido em todas. Quando se não
possão effect~iaras cercas no 1. anno, não se faltará a sementeira e plaiitacões.
4.- As encostas das ribeiras e adjacentes lombadas devem ficar para arvores OU
balsume, ao arbitrio do proprietario. Nos cumes mais desabridos, são preferiveis os
pinheiros, ein terrenos apruniados, as especies de meudo tronco, ou vergonteas flex-
iveis ao embate dos ventos. Estas devezas devem ser deinarcadas pela competente
authoridade, Eis ein suiilrna todo meu plano: nada mais siinples; e póde bem accom-
modar-se a todos os concelhos, segundo as circumstancias.
Eu voii apresentar seus principaes resultados, afim de justamente se apreciarem.
5.- As altas devezas da Serra vão offerecer ao quotidiano consumo, a lenha, a
queima, artigos de dia ein dia iilais raros e dispendiosos. Suas arvores destramente
postadas, nos preparão, não só madeiras de todo porte, inas abrigo, avultadas balisas
e fiel guia ao viandante, quando o graniso e caliginosa neblina lhe escondem todos
os vestigios. Quantos miseraveis terião escapado á morte, se encontrassem semel-
hante auxilio.
6.- As devezas das ribeiras, com suas dependencias, além de bellas arvores fruc-
tiièras, vão fornecer, quasi á poria do paisano rustico, os aprestos indispensaveis que
elle hoje procura a grandes distancias, sobre seus hombros, entre precipicios. O
entrelaçamento de tantas raizes, sei-ve ig~ialmentea sustentar terrenos declives, pre-
venindo quebradas, repreza de aguas, horriveis explosões. Por falta deste regimen, os
dispendiosissin~os encanamentos das ribeiras, como logo protestou seu habil
Director o Brigadeiro Oudinot, serão por fim malogrados, e até nocivos.
Que poyos ahi se encontrão para viveiros vegetaes de iiiaior economia e desem-
penho !
7.- Tantos arvoredos, tantas florestas de toda a parte verdejando, se prestão
ainplameiite aos adubos d'agricultura. Poderião então arranjar-se, ein grande, as
estrumeiras vegetaes, pratica da mais preciosa economia; mesquinha ate agora ou
desusada por falta de materia. A facilidade de ajuntar herva e rama para os gados
domesticas, poupar os braços da vinha, que hoje desatinadamente despimos; Iiuma
das evidentes causas de seu conhecido atrazamento.
8.- Os gados eirantes e a mesma caça não lucrão menos: acliarão a cada passo
asilo e sustento. Mais os não veremos acoçados do inverno e da fome, descer aos
cazaes, invadir nossas bemfeitorias. Só então ser8 dado dispôs de liuina boa legoa
quadrada, em inaninhos no ternio da cidade; cessaildo de si mesino a rapina geral,
que nas presentes apertadas circunstancias Iie forçoso disfarçar para haver pão e
viveilnos.
9.- O annual reziduo inatas accurnula as annuaes cainadas de terra vegetal, que
s e irá progressivamente dilatando. Sem aggregado esponjoso é inaiss hum embaraço
á perigosa confluencia das aguas fluviaes. Terao estas tenipo de saturar as terras e
calar por seus intersticios.
Hão de mais ab~iildaras levadas, hão de pullular fontes e regalias ao industrioso
cultivados.
10.- Que direi de nossos gados merinos, já tão felizincnte naturalisados ein
Palheiro de Ferreiro ? De suas lans, tão notaveis nas fabricas de Inglaterra ? Quantas
vantagens nos não proniette esta abencoada raça oriunda de nossas visinliancas, tão
accomodada i nossa topografia, e graduada variedade de climas ! Para largamente a
rni~ltiplicarinose com ella os cazaes pela maior parte das serras, só resta converter
mirradas chainecas, em agazalhadas hortas e viçosos prados espontaneos, effeito
necessario do novo systeina.
11.- Outro resiiltado iiida mais ponderoso 11e que ein nossa liypotliese as
marcesciveis massas vegetaes bastecendo as encostas das ribeiras, picos e lombadas,
até aos altos da ilha, aprezentão mais força actractiva á liuniiilade athmospl~ericaou
a seus elementos. 0 s pesados nevoeiros occidentaes, que ba treze annos nos
persegiieni; ahi batidos, condcnsados, desfeitos em copiosos orvalhos, tem de perder
sua qualidade corrosiva, antes de darem nas vinlias e pouco a pouco mais leves, vel-
os-liemos ou dissipar-se ou con-er a sersa. Verdade he hoje de triste expericncia; ror-
fia0 as barras maritinias ? eil-as sobre as vitilias, por todas as fronteiras colinas; ahi
s e estacionão e tudo coiisomem. Quando a Caldeira, o Corão, o Lombo da Geira, D.
Isabel Barreiro crão vestidos de arvores e matagal, aq~ielleflagello iiunca foi ilein tão
duro, 11e111 tão coiistante. Pejadas nlivens tein de seguir o mesmo mino, por entre
innuineraveis conductores que irão provocando bem distribuidas chuvas, em vez de
espantosos golpes exterininadores e tudo em proveito das aguas nativas.
12.- O calor vegetal dos arvoredos adoça os climas. Viremos talvez a fazer
habitaveis todos os altos da ilha como ja forão n'outros tempos os Ferreiros do
Juiical. Ainda ali 1101-o attestão bein claros vestigios: taes são os basaltos partidos eni
cunliaes e differeiites peças de construcção; no polido de seu córte apparece a mão
dos seciilos. Huina faiiiilia existe na Curgeira do Monte (Carneiros negros por alcun-
ha), que dizem oriunda d'aquelles sitios, Iioje perfeitamente desertos. O celebre nat-
uralista dinamarquez Rance, quando os visitou eiii - de 17- , affirinava não serem
inais desabridas as iiloiitaiihas da Noruega. Qual a causa de taes variedades no
inesino espaço e de tanta analogia em tão differentes latitudes ? Sem duvida a falta
dos arvoredos; nenliuiiia outra se assignarh.
13.- He pois sabido: os maiores tropeços e desavenças de nossa rural economia
vão desapparecer, logo que se reproduzão, coiiio fica indicado, nos respectivos pos-
tos, pomares, niatagaes, perpetuo balsuine e nossas antigas veneradas florestas.
Assim tornada i primitiva louçania, he a serra o grande regulador meteorologico,
reservatorio coinnium e inanaiiciai de riquezas. Hum bom Governo as saherá poupar,
as saber8 destramente accoinmodar a todos os districtos, a todos os terrenos, a todos
os ramos de industria; e o iiiais lie que o desembolso para tantas maravilhas, nem por
isso nos assusta. Só as devezas da serra deniandaríão em suas cercas alguiii trabalho,
que ainda muito se encurtaria, attendendo aos naturaes paredoens e prof~indosabis-
mos que mais ou iiieiios cingeiíi aq~ielasplanicies; que melhor tapume poderiamos
deseja
14.- Approxiinemo-nos coin tudo a verdade quanto possível, ein tão essencial
quesito. A esse fim cuidei cin orçar c0111 a inaior cautella as sobreditas cercas, assiin
coino suas sementeiras, suas plantadas e indistinctainente todos os trabalhos respec-
tivos, que terao de ser pagos pela Fazenda publica. In~poi-toutudo em seis mil cruza-
dos, gastos espaçadamente eiil seis anos, quatrocentos mil reis por anno. Passados os
primeiros seis annos cada área einoitada reiiderá de sobejo para seu novo amanho.
Ainda inenos precisaria~iiosdespelider, mudando-se, como ha inuito está resolvi-
do, o Viveiro vegetal do Monte para alguin dos inencionados povos incultos de pio-
priedade p~iblica.Poupão e desde logo os 50 iiiil reis alii pagos annualmente ao dono
da terra. Vendidas suas bemfeitorias valor de não nienos de huin coiito, vem a apu-
rar-se etn tudo 11~1111conto e quinlieiitos iiiil reis. Abatidas do orçamento, andar8 o dis-
pendio total por qoo ou parcelas de 150 inil reis ein cada huin dos dois annos.
15.- A vista do experidido (está de~iionstrado)não ha difficuldade algurna em
metter inãos á obra. Encontrar-se-ia, e quasi insuperavel, em cohibir o bando alfario
dos dinheiros de dia eni dia, inais impunes e einpreliendedores, que 1130deixarião
pedra sobre pedra. A iinperiosa necessidade os cliaiiia, os acoita, os protege e ~rcineia
seus flirtos. L i irião nossas tapngens, nossos tenros giestaes, nosso bello plantio e
esperançosas mattas.
Cumpre por tanto, em vez de requintar penas na forma costumata, congraçar pre-
liminarmente coin os direitos da iiatureza, nossa ordinaria policia. Ttido está em
soltar-nos da cruel alternativa de ou perecer á mingoa de combustiveis ou invadir os
dominios alheios. Acabem para sempre tão barbaras collisões: he quanto pre-
tendeinos e quanto basta.
16.- Hum dos meios efficazes de tal conseguirmos seria vulgarisar o carvão min-
eral desde já, coisa facilima, se o soubermos conservar a baixo preço. Quanto a mim
o grande passo decisivo, seria alivial-o dos 15 por cento que paga de entrada, direito
hoje insignificante ao Erario, que huns annos por outros monta a.. . Eis o qlie eu pro-
poria tiío sómente por 6 annos. Entretanto ganhão-se milhares de braços: crescem
nossas devezas de ordinario serviço e restaurão-se os arvoredos. O carvão de pedra
vii~do-nosa troco de vinho traria mais essa vantagem ao nosso commercio e indus-
tria.
17.- Huina providencia chama outra; diminuida assim a necessidade da lenha, he
indispeiisavel acudir a tantos infelizes que vivem daquelle tracto. Cumpre dar-lhes
outros meios honestos de subsistencia; estão tambem achados, em se facilitando a
cult~irada batata inglesa (semilha) inda mal propagada apezar de se dar bem em toda
a ilha, porque nos vein mui barata de fóra e não faz grande conta cultival-a. He hum
dever de primeira ordem representar quanto merece ser protegido tão importante e
tão desattendido ramo. Ao inesmo teinpo que liberalmente se nos franqueasse a
entrada ao carvão, deveria fechar-se de todo ás semilhas. Este alimentos grato aos
ricos e pão quotidiano do pobre, reclama os mesmos auxilios em Portugal, tão sabi-
amente acordados aos cereaes. Os argumentos são obvios e identicos; he escuzado
repe~il-os.O s nossos carretoens passarião de boa vontade a cultura da semilha em tal
caso mui lucrativa. A visinhança das estradas centraes sobre tudo, lhe deve ser inde-
fectivelinente franqueada.
18.- Tenho em fiiii concluido, e só me resta desejar que não percamos tempo. Se
todavia agrada a presente indicação, he bem desde já principiarmos. Reduz-se a
einpreza toda a cinco poiitos capitaes. 1'. Delinear, fechar, povoar cada anno huina
das áreas designadas, conforme o artigo 3. 2" Reservar para arvores, arbustos e per-
petuo balsuine, as encostas das ribeiras e lombadas, nos tennos do art. 4. 3." Requerer
se tirein os 15 por cento ao carvão iliincral. 4" Fechar o porto a todas as semilhas de
fóra.
Approvado que seja: energica e effectivamente apoiado o nosso projecto, entendo
que deve logo passar e quanto antes, a Camara ou a quem direito for, para seu devi-
do cumpriinento, dada todos os annos conta ao publico da respectiva despeza e pro-
gressos. Funchal, 22 de abril de 1822. (a.) José Maria da Fonseca, Inspector Geral
d' Agricultura.

[Arquivo Histórico Ultramariiio, Madeira e Porto Santo, 111.6963, publ. Eduardo


Castro e Aimeida, AI-clzivo da Marinha e Ultramar: Inventario. Madeira e Porto
Sunto 11. 1820-1833, Coimbra, 1909, pp. 61-63]
Quaiito tiiais se pensa iio inip«rtaiilc assiitiipto da arborização das serras, iiiais 110s
coiiveiiccinos clii stiii gravitlatlc; c p:ira explicarmos o iiosso pensaii~eiitoa este
respeito, esliiiiios persuadidos cliic a arborisaçiío é negócio de vida ou iilorle para esta
ilha.
Qucrcis ugiia de rcgti parti Scrtelizarclcs vossos cainpos, para cultiviii.dcs terrenos
aridos, ai6 Iiojc iiicul~cis'! Qiicrcis coiiservnr c aLigiilctitar iis fontcs que existem, e
fnzcr apptircccr 0 ~ 1 1 . 3IIOV;IS'!
~ Q ~ ~ e r e~ iI sI L I V ~ S11i:lis fieqtientcs, inais iglialiiieiite dis-
lribuidns ? Qucrcis clcl'ciiclcr tlos cslrugod do vcii~oc rlos nevoeiros as vossas vi~ilias,
ccaras, hortas, c poiiiarcs ? Qliercis iiicllicir:ir o cliiiia ? Qucreis iiinis igualcladc iias
cslnç8rs 'l C'ciiiserviii cciinci 01.jcctcis sagrados os arvciredos que existem; plaiitni,
scizicni, crcai iiovcis :irvorcclos. I>~~roscrcvci o sacrilego maclindo e a impia foice.
Recoi~~liciísai os liivratlorcs, gloriliciii os proprietirios, que tee~iidccliçado o seu
teiiípo. trlialiio, e forluna :i cultiira Ilorcslal. Aniiiini-os, excitai os oulros, com vaii-
tsgeiis, eo~iídistii~cc;O~s.
Primeiro que lutlo LI ~)rccisoestalietccer o systeiuii cl'arborisaçiío, coiiiinuiii a todn
a ilha, funrlatlo ilu ciiiil~cciiiiciiloc proliindo cxaiiic (Ias coiicliçoes pliisicas cln illin. E
~içecsririo esluclar a clirecç~citlos iiossns iiioiitaiihas, çoiilicccr os valles e planos
apruvalaveis para culluri~cptislos, siibcs a direcção dos ventos, n nalureza dos,ter-
renas, i ~ cspccics
s d'rirvcircs qiie iiicllior piitleiii prosperar ii'uiii c ii'oulro; e com csles
dnclos e oulros muilos qiic u sciciicia ofl'crccc, lixar 11111plciiici ii~elliodicoc regular,
que s c vh piiiido sucessivii e iiiccssniitciiicnlc ein cxcciiçiío.
Corii n questfio tla arboristiçilo prciidc oulríi iiluilo secuiiclarin, nins laiiibCii1 iiiter-
csstiiilc, qual (5 a rla crctiçrio tlos giitlos.
Convi14 proscrever ti gado cliis serras 'I 1)arccc-nos qiic iino.
A nrboristiqko iiBo Ç iiii1 lrribrillio qlic se faça d'iiiiia vcz, iicm ii'iiiii só aniio. I? prc-
ciso fnzcr vivciros, cspcriir qiic as iirvorcs sciiicarlas cliegiiciii ao cstatlo clc ser lraiis-
plniilridas; 6 prcciso abrir as lcrras, c iin iuaior parlc clcllas, i120 entra n araclo ,iiias a
eilchndn, c por isso a cultur:~se toriia clespciicliosa e dciiioracla; C prccisn fazer granrlc
clespcsa pnrn s ~juiiliiio Iiri incios de ~írti~izlito, c iiiiicla qiic os liouvesse lia í'itlti~de
braços.
Por lacilo cliic ti ai'l.iorizii~iov i dn circuiilfcrciicia piira 0 cciitro, como parece cliic
clcvc ser, ou vcnha caiiiiiiliiiiitlo do cciitro !?ara as cxlrcii.iidndcs, ou siga oulra qual-
~ L I C IiIirccçZ[o,
' C! iili~cgiívclcliie 1i;itlc ir i~~kircliando a lioiico c pouco.
Na ciiirclntitci nhi licrio cxlciisdcs iiiimeilsas de ~crreiio,quc soincnlc potlcin coii-
liiilinr a ~ c r v i rpara piislo; c se pbtlcm prcslai. este scrvipo, scin ~ircjuisotlas novas
izlallns, c das cxistciilc, (S c c r ~ oproliiliir o liso qiic se pbdc hxcr coin psoveilo clc
mui 60s-
scrulire bom conciliar inlcrcsscs, Sc iiiii iiilcrcsse ~iublicopbclc subsistir sem que
seja i~cccssariosc.icrilicio tle il1lcrcsscs parlicularcs; é tyraiiia sacriliciir cslcs iiiulil-
mci11c.
Dnnclo-se R cslc i~cgociotla ar1iorisac;iio a iiiiporlai~ciac iilteiição cliic cllc requcr,
parece qlie dcvc liavcr tinia iidiiiinistriiçSIo cspccial clas iiiallas daillia, coiicciilraiiclo-
s e n'um só ponto as attribuições que se achão espaltiadas entre as diversas authori-
dades. Só assirn póde haver utiifonnidade de plano, pemlanencia de execução, e
coherencia de sisteina. Os adininistradores devem ter ordenado e responsabilidade.
As Camaras M~iiiicipaesjá muito sobrecarregadas de trabalhos e despezas, com-
postas geralmente de pessoas occiipadas com os seus negocios, e que pouca attenção
pódem prestar ás cousas publicas, servindo além disso gratuita~nelite,não podem
fazer proveitosamente parte d'umabenl montada administraçrio florestal.
Mas por se não poder executar este systema em grande escala, como nós o con-
cebemos, nem por isso se deve deixar de fazer tudo quanto é possível executar cm os
alimentos d e que se póde fazer uso.
A cultura florestal a que se tem prestado inais alguma attenção é a de pinheiros.
porque é pouco despendiosa, e dentro em breves annos, começa a dar lucro ao culti-
vador. Com dous mil reis compra-se a semente, lavra-se, e semeia-se um alqlieire de
terra.
Parece que sendo pequena a despeza, certos os lucros, e não muito demorada a
expectativa de rendimento, devia estar aproveitada nesta cult~irauma muito maior
extensão d e terra inutil, do que a que se tem cultivado.
A regra d'alguns economistas -1aissez faire, laissez passer- é muitas vezes falsa.
Muitas vezes é preciso constranger e obrigar a fazer cousas uteis. Quem tem terras
aptas para cultura florestal, e que estão desaproveitadas e perdidas, deve cultival-as
por si ou por colonos, arrendal-as, atloral-as, ou vendel-as para esse fim. As terras
devem ser cultivadas em proveito dos vivos. e não pemlanecer incultas para esteril
ostentação.
O corregedor Velloso para aniinai a cultura dos castanheiros fixou os preços pelos
quaes elles devião ser pagos aos colonos, no caso de despejo; preços que ainda hoje
regulão.
Para anirnart mais esta cultiira e a dos carvalhos, e outras arvores uteis seria con-
veniente estabelecer-se um preço vantajoso, que estimulasse os lavradores a plantal-
as.
Os carvall~os,como se observa, prosperão perfeitamente nesta ilha, ainda a
grandes alturas. No Pallieiro Ferreiro, no Monte, ha arvores lindissimas.
O carvalhoé uma arvore muito util. E abundante de follia, de que o gado come com
avidez, ainda que se lhe deve dar com parcitnonia. A casca serve para curtir coiros;
a bolota é o melhor alimento para engordar porcos, e torna a carne muito saborosa.
Mas a o mesino tempoque se estabelecesse u i ~ ipreço vantajoso para animar o
lavrador diligente, devia tomar-se uma precaução necessaria para evitar que os mali-
ciosos tirassem dahi injusto proveito.
Uma cousa é um pomar e outra cousa é utn viveiro. Ha coloi~osque para aiig-
mentar o preço de suas bemfeitorias plantão os castanlieiros a tão curta distancia uns
dos outros, que nunca chegão a forinar boas arvores, e ficão sempre acanhadissimos.
Não se deveria pois pagar ao colorio senão tantos pés quantos rasoavelmente
podessem prosperar, considerando-se aos outros coino inuteis, porque se devem
arrancar.
Ha inuitas variedades de carvalhos desconhecidas nesta ilha, c~ijaintrodução
muito convinha promover, Adniira que n'um paiz, em que ha centos d'annos se está
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

constniindo vasilhanie, ainda se não tenha tractado de cultivar as arvores que dão a
madeira propria pai- o oficio de tanoaria, havendo tanto terreno iliutil que se podia
occupar com esta cultura !
Temos sido e son~osdesleixados e iinprevidentes. E perciso accordar deste lethar-
go, aproveitando nossas terras, proinovendo, e melliorando todas as culturas uteis ,
fazendo por todos os meios ao nosso alcance que as nossas calvas senas se revistão
outra vez da sua verde e vicijante cama.
Véde essas ribeiras que atravessão a cidade;- não tazem durante o verão uma gota
d'água. Arborisai as serras, fareis correr agua com abundancia nas levadas, e ainda
sobrará sufficiente para limpeza desta cidade, infectada na força do verãode miasinas
p~itridas,que se não forão as brisas refrigereilates e salutifesas do mas, que os diss-
sipão, prejudicariãomuito mais a saude dos habitantes.
Contra os grandes projectos d'utilidade publica, ciija realisação leva annos, 11a um
grande inconveniente, resultante da nossa fraqueza e curta duração.
D'ordinario o Iioinem tem pressa de gozar; e se a esperança c10 gozo se não póde
realisar cedo; se apparece n'um futuro remoto ou não começa a einpreza, ou affrouxa
na execução. Fraqueza e egoisino !
Se nós mesmos não podemos gozar, gozarão nossos filhos e descendentes; mor-
reremos com a consolação de ter deixado um bem sobre a terra, ein virtude do qual
será abençoada a nossa memória.
A authoridade piiblica tem rigorosa obrigação de providenciar não só para o pre-
sente coino para o fi~turo;tractar da geração actual e preparar trabalhos para a ger-
ação que hade vir.
Se D. Diniz, o Rei lavrador, cuja ineinoria será sempre abençoada, não tivesse
pensado no futuro, não existiria em Postugal o extenso pinhal de Leiria, donde tem
sahido prod~ictosincalculaveis, e que dá lenha gratuita para o consuiiitno de todos os
moradores dos arredores.
Desejamos sinceramente que se assente n'uin plano e systema regular de trabal-
hos, de cuja incessante e pertinaz execução resulte repovoarein-se as nossas serras.
Oxalá que o negocio niío fique siinplesinente em projecto, coiiio por mau fado
portuguez acontece a todas as einprezas uteis.
Se alguma cousa se fizer, faz-s um serviço eminente ao Paiz, o maior talvez, que
se lhe pode fazer.

[CORREIO DA MADEIRA, N1.32 , sabbado 8 de Setembro de 1849, p.1-21

ISABELLA DE FRANÇA [1853-1854)

O Sol subia entre nuvens de ouro cl~amejante,que tornavam as ondas nriin mar de
fogo e por graduações tingiam todos os côinoros e promontórios de uma claridade
ténue e amarelada, eiiq~~anto as partes ainda na sombra Lomavain a pouco e pouco
matizes de púrpura, lilás, cinzento, ainarelo, cor-de-rosa e branco. Esta gama varia-
da parecia reflectir-se lias pedras coiiio a luz através de um prisma, dotando-as cle
suavidade e brilho indiscriiíveis; lenlameiite, enquanto o Sol avançava, os picos inais
eiiiiiieiites faziam-se doirados, e a luz ainarela dispersava-se devagar sobre as serras.
Surgiain agora os pinhais verde-riegros, os soutos, os canaviais verde-claros. Ao
ii-iesriio teiiipo a claridacle cresceiite revelava as Ièiidas proli~iiclasdos barrancos
espalliados por toda a illia. Uma a urna as q~iiiitas,braiicas vivendas de campo, eiiier-
giaiil dos selis escoilderijos vegetais, tal se quisessein saudar o astro iinsccnte. As
vezes a iiévoa pardaceiita ocultava parte dos inilliares de tiioiiticulos dc q ~ i ac ilha se
coilipõe, 11111s depois dissipnva-se, deixaiiclo-os exibirem-se lia beleza da serraiiiri,
precipício atrás de precipício, espiiihaço após espiiihaço, ora coberta de florestas de
castaiilieiros, loureiros, pinheiros e iii~iitasoutras Brvores, ora com criiios e iiriclos
cumes que ultrapass~iiias nuvens.
Deiitro da baía jaz a cidade do Funcl-ial, de aspecto fímpido vislsi elo iliar, coiii o
seu casario alvo, jardiiis verdes repletos de loeiidros, Iieliotr61.iios. iiovclos azuis,
cafeeiros de flor branca, e inilliares de outras espdcies, novas pari LIIII esl.iectailor
iiiglês e de colorido tão brilliaiite que iiein se pode dcscrevcr.
Eis-nos aqui, finalineiiie! Nuiica esquecerei as seiisaçõcs dcssc dia. Voltei h ctiinn
por umas Iioras e depois levaiitei-iue a fiin dc ii~cvestir para o iiiiporltinle niomciilo
CIO dcseinbarque i10 F~iiiclial.Ia enfrentar estranlios, gentc que eii ,jamais vira lia
iiiinlia vicla; ia entrar noiitra í'aiiiilia, represeiitnr novo papel. Nada conhccia da liii-
gua, usos e precoiiceitos clas pessoas a queiii só desejava agiaclar. Estava riiisiosa de
ser bciii recebida, inas iilteiraiiiciitc igiioraiite de coiiio devia aprcsciitar-iile lilima
terra ein que tiido era iiovidadc para miii-i, tal coino se casasse novsimcnte. Dcvo
clizei; no eiitanto, que o incsino boncloso sorriso que me tornara Scliz clcsclc 3 clc
Agosto de 1852 iiie 1Cz arrostar coin t~idoisto, iiie cliss~iadiuclos receios c inc colo-
cou a salvo no ineu pais de adopção, liio coiitenle coiiio cl~iaiidodcixar:~a piti'ia.
(...) Tatnbdiii ine aclinirei cle que alg~iinasIlorcs, qiie mc habitiitir~iri ver criadas eiii
cstulà, colii iiiii c~lidados,aparecessem aqui; em estado seivagein, bciiri tia eslrlicia
oii peiiclentes clos mLiros de peclra. I-Iavia gcrâiiios, murtas, iiiiiiios, búlsainos, aciicias,
c roseiras bravas, dobradsis, il-iiiis intensas na cor do cl~ictis rosas silvcstrcs ilc
Iiiglaterra. A inaior altiira, surgiram madressilvas, c, cleliois dc passarilios por
eiioriiies piteiras, viiiios graiide iiúiiicro de aç~iceiinscor-tle-rosa c rairiclas clc braiico.
Tainbéin os jarros crcsceiii livremente c cai11 abunclâiicia. Os tabaibos cscscciii coiiio
erva. Por toda a parte, abaixo cle certa altitude, cspalhain-se pelas roclitis c Lcrrciios
n5io oc~ipados;a planta é Seia, iiias c16 iiiiia Ilor de belo toni alarai!jado, e o Ii.~i~o :iprc-
ciam-no bastailie: não deixa de lei~~brar a groscllia. ALC li6 po~icocoiisciili;iiii ellic se
dcseiivolvcssein oiide a lcrrii n5io prestava para. inais iisida, pordin agora coiiicç:iiii a
cultivh-los para a criação (Ia cocliinillin. No Moiite, c ila iiiesma altitiiclc oii prOxiiiio,
ein toda a ilha, 11,i extensas plaiitações dc castaiiheiros, cujo li.~ito,sciicio nbiintlniilc,
constitui iniporlaiite arligo dc s~it~sistêiicia dos aldeãos, iiiéiii clc qiic a inarlcira 6
valioso elciiicnto da coi~slrução.No Noric da 1111~1 CII~OIRIII íi vinha iios caslaiiliciros,
o que d i bonito aspecto, porque trepa de ramo etii ramo. Infcliziiientc n tiociiçn :i~ii-
coii estas Arvores e iiiuiias clelas niorreram. No ciino dos iiioiilcs plnntniaiii tiiiin
infiiiidaclc de pinlieiros, a iiiaior parte nas cluas últii~iascidcadas, in:is tis cspbcics iiitli-
gci~as,que cobriam a ilha toda quando foi descoberta, são 1io.j~cscassas e liiiiitaiii-sc
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

quase ao norte. I-Iá variedades peculiares a Madeira, desconliecidas na Europa,


excepto nas colecções botânicas.
(...>
Atravessámos a parte oriental da cidade e começáinos a subir por um caininho
quase todo bem pavimentado, embora áspero nalguns pontos, e aberto entre quintas
vinhedos. Se bem que muito íngreme, não o é tanto como o do Monte, porque tein
bocados menos declivosos do que o outro e alguns, até, chegam a ser planos. Sempre
que pudemos lobrigar entre os muros, depararam-se-nos vistas soberbas. Nalguns
lugares descobrem-se f~indosde barrancos, em direcção ao mar, noutros abrange-se
todo o vale do Funclial com a sua preciosa inoldura inaritima e as montanhas e a
cidade a meio. Conforme subíamos, os castanlieiros principiavam a s~lbstituir-sei s
vinhas. Passámos pelo Palheiro do Ferreiro, domínio esplêiidido, construído e plan-
tado pelo defunto Conde de Carvalhal onde outrora existia uma encosta nua, excep-
to quanto a alguns castanlieiros antigos. Talvez em tempos idos tivcsse aqui a sua
forja algum ferreiro; agora é um extenso parque, corlado em todas as direcções por
estradas, entre alainedas viçosas e tnuitas espécies de árvores, ern que se salientam
os carvalhos, desconhecidos nesta ilha até sua introd~~ção pelo falecido conde. A
casa é pequena em comparação com o parque, mas teiii à Frente jardins com ~nuitas
plantas curiosas e grandes tanques com cascatas artificiais, cuja água vem dos
montes mais altos em resultado de obras que custaram muito dinheiro. Tive pena de
não poder apreciar aq~ielasinaravilhas, mas como esth ausente o moço conde e
andam a fazer ali reparações, não IiR ordem de consentir visitas. Aciina do Palheiro,
o aspecto do campo muda iiiteirainente: a vinha desaparece por completo e é substi-
tuída por pinhais e soutos; a terra é vermelha, com roclias cinzentas a surgir aqui e
ali. Cobrem as encostas-onde não inedrarn árvores-ervas e nlusgo inuito unido; e a
giesta, numa profusão de flores douradas, fere-nos a vista quando brilha o Sol. Agora
a estrada desce; depois é chã por ulil pequeno percurso, c, ao cabo de mais dois
montes, curtos mas precipicosos, torna-se plana numa distância considerável. As
encostas são calcetadas, mas não os camitihos rasos, e poiicos cavaleiros resistem 6
tentação de galopar sobre aquele solo avermelhado. A aproxiinação da Cainaclia
encontrámos grande quantidade de urze; nas bermas há silvados e iiiadressilvas, o
que dá ao cenário um aspecto inglês: se nRo fossenl esses Lroços paviiilentados, a
ilusão seria completa. Depois de passarmos por algumas vivendas e duas belas quin-
tas pertencentes a negociantes ingleses, surgimos na Achada da Camacha. Acllada
significava um pedaço de terreno chão no sopé de uin inonte, c isto, se não fosse a
situação, teria toda a aparência de um baldio de Inglaterra. Unias jardas adiante desce
uma azinhaga estreita, que nos levou ao riosso destino.
Todo o arranjo da casa e jardim do nosso ainigo é da sua autoria, e do gosto inais
acabado; há vinte anos atrás, este sítio apresentava apenas as paredes de uina viven-
da abandonada(que alguém começara, sem nunca terminar) e sòinente três árvores.
Agora há esplêndidos carvalhos, pinheiros, castanlieiros e todas as espdcies arbóreas,
que ele mandou plantar. Custa a crer coino uina coisa tiío perfeita se fez ein tZo pouco
tempo: mas assim é a riqueza deste cliina privilegiado. A chuva, frequente na
Camacha, impediu que passeássernos a meio do dia; rio entanto houve intervalo sufi-
ciente entre os aguaceiros para dar uina volta pelo terreno eleganteineiite tratado, de
roda da habitação, e também para visitar uma quinta vizinha, cujo proprietário con-
seguiti obter agua para fins decorativos. fazendo represas da que corre da serra. Aí
colocou uns barquinhos de n-ieiajarda de coinpriinento, e até me constou que ocupa
um antigo marinheiro na sua conservação. Numa parte da propriedade há uma azen-
ha, e noutra uma cascata pequena; nesta há uns bonecos, com pesos nos pés, que se
mantêin verticais na água, e é engraçado ve-los, uns pretos outros brancos, a subir e
a descer no tanque, debaixo da cascata. Esta quinta foi construída muitos anos antes
daquela a que viemos de visita e por isso as árvores são maiores. A abundância de
agua e de sombra toma-a numa deliciosa residência estival. Passiinos um dia agrad-
abilissimo iia casa do nosso til0 hospitaleiro amigo, e voltáinos a noite. bastante sat-
isfeitos com a excursão.
(...)
Prosseg~iinios.Os gerânios, mimos, balsaminas e murtas continuavam floridos h
nossa volta. Por firiz deixámos essas veredas sombreadas e emergimos numa exten-
são de terra emla, com meia dúzia de pinheiros. Parte dela pertence ao meu marido,
mas nada produz, embora outros proprietários tenham vastos pinllais nos terrenos
contíguos.
O caminho degenerava agora num simples trilho através da serra, e nós fomo-lo
galgando até chegar a Encuineada, donde se avista o mar de um lado e outro da Ilha.
Saímos da rede e seguimos a pé ao longo da crista, entre ervas, fetos e urze, admi-
rando a braveza e majestade do panorama. Em volta de nós erguiam-se montes sobre
montes, sem nos tirar no entanto a vista do mar, que era, como disse, dos dois lados.
Para o sul a parte habitada do pais terminava no baldio a que viéramos ter, ao passo
que para o norte se descobria o vale da ribeira da Janela, de imensa profundidade,
com as encostas cobertas de árvores que formavam uma contínua massa de fol-
hagem, excepto nos pontos ein que afloravam enormes rochas nuas. Na nascente
desta ribeira ficam as famosas quedas de água que nós íamos ver. Aqui há cabras
montesas, vacas e cavalos, que vivem em liberdade na serra, longe dos homens, em
lugares que pareciam inatingíveis por qualquer animal desprovido de asas; contudo,
andavam cabriolando ou pastando sossegadamente, como se o terreno fosse per-
feitamente plano. Estes animais são propriedade de diversos donos, de quem osten-
tam a marca; quando é necessário, caçam-nos com cães ou abatem-nos a tiro. Como
não possuímos o dom de nos equilibrarmos no ar, vimo-nos forçados a reocupar as
redes e ir por outros desfiladeiros e sobre o tunel pelo qual deveríamos voltar. Ao
alcançamlos as proximidades do Paul da Serra, larga extensão de tena ondulada
entre os picos das montanhas, desfrutimos o panorama do vale do Rabaçal e vimos
a grande distância a casa que nos serviria de hotel para repoiisarinos e almoçarmos.
Con~eçámosa descer para o Rabaçal, numa sucessão de ziguezagues a formar o
que chamatn caminho, cortado entre uma floresta de loureiros e n~urtase outras espé-
cies sempre verdes, as quais crescem tão unidas que tudo aquilo parece um emaran-
hado de folhas. A descida é o mais assustadora possível: a rocha em que foi talliado
o caminho é tão íngreme, tanto em cima como em baixo, e esse caminho tão estre-
ito, que ao passar a rede nas muitas voltas se diria que pende sobre o precipício, sem
se ver uma nesga do chão: fica literalmente suspensa no abismo! Surpreende notar
com que domínio e firmeza os homens a conduzem por estas alturas vertiginosas. O
mais pequeno inovimento e111 falso iinplicaria sem remédio a queda dos homens, da
rede e do viajante pelas rochas até à ribeira que fica lá em baixo a umas centenas de
jardas. Chegánlos por fiin ao termo destas "voltas" terríveis e atingimos a Levada; aí
respiráinos de alívio. O caininho tornou-se plano por cerca de inillla, coln a roclia
perpendicular sobre a nossa cabeça e outra quase perpendicular a nossos pés: esta
iiltima descia abrupta para a ribeira, e aquela enfeitava-se de grande variedade de
fetos, inusgo e flores semiaquáticas, que nasciam das fendas abertas pelas águas
velozes e espuinaiiles. De vez ein quando aparecia musgo cor de laranja no meio de
outros de vários e belos matizes: escarlate, verde-claro, branco, e todos os tons de
púrpura e cinzeiito. Os fetos tiiiliain também uina infinidade de feitios e coloridos;
alguns enorines, outros tão pequenos que mal se lhes distinguia a forma; uns de fol-
has sólidas, espessas, outros leves como plumas. E o verde brilliante de todas estas
plantas coiitrastava coin os fios prateados da água que faiscava na superfície da
rocha. Em baixo, à beira do caminho, fluía a levada, que ora abandonávamos ora
seguíanios.
Da outra banda da ribeira levai~tavain-setambém penhascos tnajestosos cobertos
de todo o género dc árvores, fetos e musgos. Quando nos aproximávainos da queda
de água, vimos altemein-se flores por toda a pai-te, em volta das quais pendiam fes-
tões de verdura exuberante. Várias fontes, que aumentavam de tainanho e de esplen-
dor coin a queda, inaiiavain entre as pedras, eili pequeninas cataratas; aqui, estando
o rochedo na soinbra, estes lilidos caiidais de prata reflectia111 as cores do prisma e
formavain grupos de arcos-íris miiiúsculos, que ciiitilavain por uin instante e se
desvaneciain para dar lugar a outros, e sempre assim nas contínuas variações de luz.
Julguei que liavia atingido a verdadeira q~iedade água, e perdia-me de admiração,
mas prosseguiinos ainda e foinos dar a uin sítio ein que o camiill-io se alarga e coin-
pBe uma espécie de plataforina, resguardada por uin peitoril de pcdra. L i nos detive-
mos. Ergui a vista e tive uma sensação jamais igualada. Ali estava a maravilhosa cas-
catn ein toda a sua grandeza, ein todo o seu emaiito!
Um& rocha altissiina, côncava, semicircular, profusainente envolta de folhagem
delicada, de uin verde mais verde do que todo o resto; fetos e inusgos e grinaldas sus-
pensas; taças de musgo verinellio forte; plaiitas de floração branca; fi~ngos(ao que
supus) de tom alarailjzido; e sobre isto a priiiiorosa tapeçaria das folhas, e niais de
uma cetiteiia de jactos de prata líquida, precipitaiido-se do cimo do rochedo e caindo
sobre o leito da ribeira. A roclia é tiio alta que, vista de baixo, o seu extremo se recor-
ta no azul do céu como se fizesse pa11e dele; a água jorra sobre ela e sobre as plaii-
tas que aí crescem, espuiiiaiido e gorgolliando na queda, enquanto a frescura do lugar,
o seu isolaineiito, o silêncio só quebrado pela cascata se combinam para dar a sen-
saçIo de iiiteiiso espanto-eu quase diria cle pavor!
Entre o poato ein que estávainos e as fontes, passa a levada através de uma arcaria
cortada na rocha e por onde pode ir queiii qtiiser, coin a certeza de ficar molhado,
pois da nbbbada pinga constailtenieilte. Para além desses arcos a levada coiitinua da
outra banda do barranco, resguardada por um gradeamento de madeira. Uin dos paus
desse anteparo já cedeu ao peso de uin rapaz que se aventurou a aproximar-se inuito;
ele escapou de ser devorado pelo abisino, agarraiido-se ao resto da, balaustrada, e
inorreu poucos arios depois, de febre ailiarela, nas Indias Ocidentais. E claro que não
desejei repetir essa perigosa experiência e senti-me satisfeita por ficar seca deste lado
da arcaria: meti marido C que foi por Ia com urn guarda-chu\a, embora nào achasse
muito necessário arriscar aquele avanço. Tomán~osigua dessas fontes qiie. já se sabe,
era fresquissima.
(...I
Pelos animais que L i na serra, posso dizer alguma coisa sobre a fauna da ilha. De
quadrúpedes, não existem mais nenhuns realmente selvagens além de coelhos e
ratos; fala-se de gatos bravos, mas suponho que descendem dos doinésticos que
foram abaridonados no mato. Os cavalos, vacas, o~elhas,cabras e porcos, que andam
por iá livreinenle, têni todos dono, como já observei. Os cavalos criados na ilha, quer
nas montanhas quer em estrebarias, são na siia niaioria pequenos e, em geral. fracos
especimenes, embora alguns sejam bonitos e úteis; não maiores do que os Shetlands,
mas com toda a simetria de um puro-sangue, muito fortes, de pernas rijas, e mansos.
Muitos dos cavalos do Funchal vieram do estrangeiro. Há poiicas mulas e burros:
quase sempre insignificantes e utilizados sòinente para transporte de carga; não esis-
tem mais do que dois ou três exemplares de cada espécie capazes de serem monta-
dos.
As vacas e bois são bonitos, pouco maiores do que os burros, todos da mesma cor,
amarelo claro arniivado, variando, mas de leve, no tom. lçleiços, inteligentes, quase
todos criados em telheiros e alimentados á mão, e pacíficos como parecem; mas os
que andam à solta pelos montes são bastante ariscos; únicos animais de tiro na ilha,
porque os cavalos se usam para sela, escepto quando algum cavalheiro estouvado -
estrangeiro. em regra decide exibir um cabriolé ou faetonte, na Estrada Nova, ou cá
e lá nas poucas ruas planas, com todos os garotos da cidade a gritarem atrás. J a' men-
cionei os trenós do Funchal. e as carroças, ambos puxados por bois ou vacas, que
trazem feiteira das serras. Também puxam o arado, onde o terreno for suficiente-
mente chão para o consentir. Para leite, têm aqui algumas vacas exóticas.
As ovelhas parecem-me pequenissimas, de cauda comprida e muitas delas mal-
hadas. A lã é grosseira e a carne escura e rija. As que se guardam em barracões apre-
sentam inellior aspecto, sendo as vezes cruzadas com raças estrangeiras. E hábito no
Funchal pôr uma ovelha num estábulo, onde pode engordar com os desperdícios da
comida dos cavalos. São sempre bons amigos e podem ver-se comendo ao mesmo
teinpo, um e outro com o focinho na manjedoira, a ovelha de pé nas patas traseiras.
Se a deixarem, seguirá o cavalo para toda a parte. As cabras não são grandes, mas
existem em larga escala; embora o povo prefira o leite de vaca, o daquelas não deixa
de ser bastante utilizado. Os vilões têm o mau sestro de as ordenhar a beira do cam-
inho, onde se embaraçam nas pernas dos cavalos, com risco de serem precipitadas.
A pele de cabra usava-se no tempo do vinho para o transportar até às pipas, fre-
quentemente a algumas milhas de distância, quando a estas não era fácil trazê-las ao
local da vindima. A pele e voltada do avesso, cortam-lhe a cabeça e os pés, e as aber-
turas assim fonnadas ligam-nas com cordel. Ao distender-se, dá a impressão de
estranho animal acéfalo. E que espectáculo singular o de uma fila de homens a descer
pelos montes, com essas peles cheias aos ombros !
Nem todos os cavalos serão capazes de conduzir um borracho, ou pele de cabra.
Não é raro os camponeses venderem aos ignorantes carne de cabra por carneiro,
mostrando um tufo de lã para o provas, o que conseguem com o exame da amostra.
Os cabritinl~ossão bom acepipe e não se distinguem dos borregos do inesmo talnali-
ho.
Os porcos são feios, pernaltas, quase sempre pretos. Parece que fazem tnuito dano
nos montes, escavando as raízes das feteiras e às vezes destruindo as levadas; por
isso a Câmara proibiu que os soltassem, inas como a postura não tein sido cumprida-
senão pouco tempo após a sua publicação-ei-10s que continuam a infestar a serra.
Deles se faz excelente cariie salgada.
Já ine referi algures aos horríveis cães dos camponeses. São atravessados, inas de
nenliiinia raça boa, pequenos e quase todos amarelos ou nal lha dos. Constituem um
flagelo lias estradas, correndo da porta das vivendas para ladrar e morder as pernas
dos cavalos e os traiiseuntes decenteinente vestidos, ou ao longo dos muros para
ladrar tainbém aos ouvidos dos que passam. Hi ainda cães temíveis no Funchal, de
raça egípcia, seg~iildose diz: não têin pêlo e a pele é de uina feia cor avermelhada,
muito franzida, coin a aparência de terem sido escaldados. Existein também cães
bonitos, estrangeiros, eiil especial uns aniniais grandes, amarelos, a que chainatn
Sab~ijosCiibanos. Um destes, pei.tenceiite ao cônsul, afeiçoou-se a miin e costuina-
v a vir ler coiiiigo aos pulos, estendendo-me a cabeça enorme para que a afagasse,
sempre que ine eiicontrava.
Os gatos são iguais aos de toda a parte, excepto em terein tnuitos deles as orelhas
e o rabo coi-tado; liias o costume não está tão generalizado como parece. H5 urna raça
de gatos d e Lisboa, todos de cor de ardósia, sein quaisquer ~nallias.
De aves existem miiitas espécies, variando levemente das congéiieres da Europa.
Temos a CLguia peqiiena cliainacla manta, ave poderosíssima, capaz de assebatar Lim
cordeiro ou uin cabrito. Quando adul~amede cerca de três pés de envergadura; a cor
é castaiiho-escura, liias nunca vi neiilíuina de perto, para a descrever melhor. Vive ein
geral entre os picos altos e raras vezes aparece nos lugares habitados.
Abuiida em toda a Ilha uin género de falcões pequerios, a que cliaiiiam francelhos,
mn~iitoboilitos inas daiiinlios para as aves doinésticas.
Einbora po~icoiiuinerosos, encontram-se moclios nas rnoiitanhas.
I l i perdizes em pequeiia q~iaiitidade,e, ein abuiidaiicia, codornizes. Em número
razoável existem pombos e poiiibos torcazes.
As vezes caçam-se galinholas e i~arcejas,que são inigradoras e só arribam quan-
do o tempo está muito inau na Europa.
Da costa de Africa chegam por vezes aves bastante curiosas, que todavia niio
fazem criação. Em grandes baildos tein-se visto poinbos bravos e, de teinpos a tem-
pos, uin grou, colii outras aves menos conhecidas. O inelro prolifera, poréin o tordo
rareia.
Abuiidain os tentilliõcs e iiiuitos pássaros mais boiiitos do que na ~nglaterra;siio
tnaiores, e a plumageni da fêinea tem as inesiiias cores da do macho, só coin a difer-
ença d e sere111 ineiios vistosas. Os pardais são belos, quase do tainanlio de tentilliões,
e e111 grandes balidos. Os pintassilgos tarnbéni aildain em bandos. 0 s piscas
f ~ q t l e i ~ t ~asl narvores, onde se einpoleiram, e 118 caii8rios bravos, que lelnbranl
verdelliões.
A toutinegra é vulgar, iilas ilão em excesso. Tenho visto O seu canto descrito coillo
algo cle subliiiie, tios relatos da ilha feitos I I O ~londrinos que não perceberaln tratai.
se de iini pássaro frequente ria Inglaterra.
Coiiio noutra parte qualquer, viiiios aqui aiidorinlias c gaivões, durante o Verão.
As alvflons, a que cliai~iai~i ch lavadeiras, s5o nbiindantes e de mais de uma espé-
cie, Há duas ou três cspkcies de gaivotas. A plumagein é iiiais escura do clue as do
canal da Maiicha.
Quanto h aves cloiiiésticas, teiiios as iiiesmas qiie eiii liiglateria. Os perus, que
existe111 ein proiùs%o,são grancles, e a t'regiicsia da Caiuacha é afamada na sua cri-
ação. No Pallieiro do Ferreiro, eni teinpo do deliinto Concle de Carvallial, enxain-
eavaiii pavões e pintadas; agora qliasc nio se veem ciii parte alguiiia. As pol.ilbas
são ii~iiitoahuiiclarites. Escasseiam os gailsos, ao contrário dos patos. Existelll iinen-
sas galiiihas, toda a gcilte as teiii, o que explica a porçiio de ovos ein todas as mesas,
a cada refCiçRo, e de cl~inlqiieriiiancisa por qlic possani ser coiiiidos. A casta comente
das galiiihas é de pccllieizo porLc, de cor lireta e paladar iião ni~iitoagradável; poréln
as de Xangai estão a substitiií-Ias ripidamente. Uina vcz tivciiicis ao jantar Lima çal-
inhii assada coin sabor tão pioniincitido a peixe que a recai.iibi81iios logo,
Iiivestigaiido o caso, apuiiimos que clu viera de Câii-irira de Lobos, onde as alilnen-
laiii c0111 os sobejos da piilçn. O povo tcin um iiiodo siiigular de inipedir que as aves
se extravieili: ntaiii-llies a perna a utii sapalo vcllici, qiic cias ariaslaiu atrás de si. Na0
é este o iinico riso que dão aos sapatos \.~clhos,poi.qiic c0111 eles lainbém batein aaç
erialiças. Taiiibéiii vi uma gaiinlia aiiiarracia a iiin Ièrro de eligoiiinr e inuitas vezes a
iiin taco iiletido no clião. Nalguns liiyarcs p6c111hs galiiihas uma espécie de calçado,
para evitar que csgcirrivatein.
De iiisectos 1130 hií iii~iitavariedade. VCcni-se borboletas, scin nada de iiotjvel;
coni~idoas traças sfio iiiais iiiiiiicrosns, c aparecciii sempre que se põe cle parte um
vestitlo de 13, cluniiilc ~ i i i imCs oii dois.
Escaravelhos poucos 116, c iiiiiilo pequelios, iio campo; mas inf'estarn as casas os
de Liiiia espécie pmta, assiiii coiiio os (1ilc OS I'llllilAeS ~~csigll;lill
1101. Cava!os do Carro
clo Diabo, e baratas ciioriiies. dc LrCs c quatro polegacllis tlc coinpriinento. 1% tambCin
centopeias, dc cerca clc polcggacla c incin: I'cias, iiiiis ii~ol'ensivas.
Criain abelhas no cainpo. As coliiiciiis hzcii1-nas dc ~ i mLroiico de Arvore escava-
do ciii Soriiia cilíiitlrica, com ~1111bocado clc 1áLiu:i ao alio. O mel é inuito forte e
desagiliclivcl. São niiii~erosasc iiic0iiioclns as vesljas. Q~iaiitoa Iòriliigas, um ver-
clndciro Ilagelo. Nada Ilics escapa, ii não ser rotlcandci de 6g~ia.Outra praga coiisti-
tui-a as moscas; teiiios de oriiainciitar -o11clcsligiirar - lotlos os cluarlos com estraiilias
cngeiiliocris dc pnpcl criiiado clc víírios I'citios c l,ctidriratl«, para as atrair, aí'asiaiido-
as das pessoas; mas mesiiio assim coiitiiiiiam a import~iiitir.Coiii l'rcquência ine iiico-
nioclnni pcisseaiiclo sobic as Iciitcs tlos óculos, q~iaiidocslou a escrever ou a ler. Os
cavalos e bois Iicaiii iil~iitasvwes cobcr~osclclns c soli.cm baslante coin o seu ferrão.
Na serm há iiino cspécic clc mosca parecida com a dos bosqiies ingleses, a qiial pica
os crivalos e cliiasc os ciiloiiqliccc.
Os moscl~iitossão poucos, iiins consta-iiic quc cstfio ri lornar-sc iriais nuinerosos
i10 Funchal clcscle quc se cultivarii os cluiiilais das crisns. I-lá ii~uilasaratilias e de
várias foriiias; alg~iiiiasciiorii-ics c liriclameiite ni:ircadns. Coilsic1ei.a-se veneiiosa só
certa cspkcie, inas coriiti isto iião cst6 pr»vatl«, 0 povo rcccia todas elas. Dizcin que
a tarantula existe cá e que os vilões afirmam que ela escreve o seli nome na teia!
Talvez o acreditem, porque iienliuin deles sabe ier. Acrescentam ainda que as aranhas
cantam de noite, einbora o niído cin questão ine pareça provir dos grilos. Também
têm uma crença curiosa acerca de certa pedra, que julgam extrair o veneno da nlord-
edura de aranha; não existem mais do que duas ou três dessas pedras, pelo que são
cotadas como tcsouros inestimiiveis.
Eni todos os campos abundam gafanhotos e grilos. A noite o cliilro é incessante,
e conibinado com o coaxar das rãs produz um género de música iiiais barulhento do
que agradável. Quando sopra o leste (de que j B falei), aparecem os gafanliotos (de
Africa); são, na forma, inais ou inenos seniell.iantes aos outros, porém maiores, de
uma polegada e meia a duas de compriinento e da espessura de um dedo ineiininho
de tamanho médio. Têin pernas inuito conipridas, cont~idonão aparentam tanta
desproporção como os primeiros. Variani na cor-rosados, azuis, verdes an~arelosou
castanhos. O corpo é quase transparente. Há poucos caracóis, e sem nada de especial.
Répteis não existiam na ilha, exceptuando lagartixas, até que o dcfiinto Conde de
Carvalhal, quando ainda novo, rnandou buscar alguinas rãs e as soltou; inulti-
plicaram-se tanto que são aos inilhares oncle quer que se encontre uma gota de água.
As lagartixas são muito bonitas; destroem grande quantidade de fr~ita,inas por
outro lado perinaiiecein inofeilsivas. O ninlio fazein-no ciitre as pedras dos muros,
ein cuja parte mais soalhejra as podemos ver aquecendo-se ao sol ou correndo em
volta com grande actividade; quase sempre se llies dcscobre a cabeça e os oll~osbril-
hantes, a espreitar dos buracos. Variali1 erii tainanlio, de três a seis polegadas de coiii-
primento. A cor é azeitoilada e cobrem-na inuitas escamas minúsculas; olhos verdes
e dourados, coino os das rãs, e patinhas que seinelliam rilãos. A cauda é extrema-
mente frágil: parte-se ao mais leve toque, poréiil toriia a cresces, e muitas vezes,
quando foi ferida, renasce dupla, se não tripla.
Dos peixes não posso dizer inuito, porque não sei os noiiies de várias especies
inteiramente ilovas para mim. Há poucos iguais aos que teiiios eni lnglaterra: só vi
tainhas e salmoiietes; uin gádidas, aqui bastante apreciado sob o tioriie português de
pescada, que muita gente teria eili Inglaterra vergonha de coiiier; a cavala, pequena,
considerada nociva; a raia, único peixe chato pescado aqui; e o coiigro. Dos não coii-
hecidos nos nossos mares, há diversas espécies e algunias excelentes. O ,atum é fcio
e escuro, de cerca de seis pés de coiiiprido, carne avermclhacla e grossa. E 11111 espec-
táculo dos mais ridículos ver o cainpónio regressar a casa com a cabeça do atuin lia
extremidade do bordão. A pesca do atuin não corre sem perigo, pois já se tem visto
puxar uin hoinem pela borda fora.
O cheme é um belo peixe do tamanlio de um bacalhau grande e de sabor delica-
do. A abrótea lembra, no gosto, a faneca, e é mais voluinosa do que o bacalhau
pequeno.
O pargo é outro peixe muito estimado, de perto de dezoito a vinte polegadas de
comprimento.
Há um peixe muito bonito chamado garoupa, ein ciina vei~iielhopíirp~ira,por
baixo branco, aos lados amarelo, com círculos pretos laterais, como as vigias de um
navio.
Outro, cujo noine não averiguei, é de um cor-de-rosa forte no lombo, desinaiando
depoispara branco.
Esqueci-riie de muitos dos qiie 1 i r outros liaverá que iião cheguei a ver.
Certo prisinlio designado por chicharro, parecidissinio com o riosso arenque,
pesca-se rin graride qiiaritidade. assim conio uili asqueroso a que chamam raiado.
semelhante ao atum. inas não maior do que iiina cal ala grande. Estas duas espécies
são raranieiite coiiiidas por pessoris qiie não sejam pobres.
Há urri ser de aspecto estraordiriirio, o peixe-espada, mais ou menos conio um
congro achatado oii uma serpente de lata feitii para um catavento. Dizem qiie 6 bom
de comer.
Existem algiiinas enguias de água doce, inas em lugares tão ini~indosque ninguem
as aproveita.
Quanto a riiariscos encontrain-se vários. As lagostiis são pequenas, e do género
cliainado da rocha. sem garras. Siio copiosos os carangiiejos. mas pequeninos. Há
uma espécie. denorilinada cracas: lembram L I I ~ Imolho de avelãs; apreciam-nas dev-
eras. Vemos tambéin lapas e carainiijos. Dos que 1150 são comestíveis. poucos há. se
alguns. não faliindo do ouriyo. que abunda nas rochas de oeste.
(...)
Em poucos minutos alcançámos o ponto em que nos devíamos desviar para ir. por
Lima vereda estreita, ao pinhal do nosso destino. Essa vereda segiie pelo cimo de um
espinhaço, com precipicios de cada lado; a chuva tem-na corroído em muitos lugares
e do solo saem grandes pedregulhos, com giestas infezadas aqui e ali, a crescer entre
eles. Pois sobre essas pedras é que era necessário passar! O feitor não o da Calheta,
mas o que mora no Moiite havia ido connosco. a frente, de bordão ferrado, e espera-
va que o seguisse. O José vinha atrás, para me segurar se eu escorregasse. Nessa
altiira vertiginosa, com o calor do sol abrasante, e um despenhadeiro perpendicular a
cada banda. perdi toda a faculdade de me conservar erecta e, vendo qiie não podia
avançar nem recuar. pus as mãos e os joelhos no chão e rastejei pelas rochas, as vezes
agarrando-me a um ramo de giesta salvadora. outras guiada pela mão do feitor, quan-
do tinha a sorte de lhe tocar; de vez em quando olhava para trás -quando me atrevia
- para ver onde estava o José e como é que ele se comportava. Por fim transpusemos
esta perigosa passagem e chegámos ao pinhal, plantado num precipício que desce
para a ribeira de João Gomes. Era difícil manter-me de pé, porque as árvores estão
em terreno inclinadíssirno, e só agarrando-me ora a uma ora a outra consegui atrav-
essar entre elas. Meu inarido arranjou-me urna pinha, para trazer como troféu, e eu
apanhei tambéin rama espalhada dos pinheiros, que eni português se chama
"França". O chão está tão coberto desta folhagem que se tomava escorregadio, con-
correndo para a escabrosidade do local. Não era possível evitar-se uma queda.
Esta plantação de pinheiros ocupa grande extensão. Mas de que serve possui-la, a
três mil pis acima do nível do mar, sem 111elhor caminho do que esse que descrevi?
As árvores são abatidas e cortadas sem d6 pelos vilões que residem perto e que
podem manter-se e andar onde outros pés hulilanos o iião conseguem. Saqueiam-
nas sem remorsos. Belas árvores em meio cresciinento são escandalosamente cor-
tadas para lenha, enquanto as enfezadas ou inferiores, que seria vaiitajoso remover,
se conservam intactas; e embora haja iiiilhares delas, todas crescem apenas para que
as roubem, q~iandolhes chegar a vez. Encontram-se com frequência, naquelas ime-
diações, hoiiiens e mulheres com casregainentos de troncos de pinho à cabeça; vêin
vendê-los ao Funchal, e nós sabemos muito bem qtie há toda a probabilidade de
serem as nossas árvores que eles conduzem ao mercado.
(..,I
[Isabella de França, Joi-nnl de zarza Vlsjtn à Madeira e n Portugal 1553-1854,
Fuiiclial, 1970, pp: 48-49, 03, 76-77, 104-107, 111-1 18, 138-1391

MANUEL BRÁS SEQUEIRA, 1913

RAZÃO DO MEU ARGUMENTO

Ahi por dias do iilez de Jullio, ou principias de Agosto do corrente ani~o,rebentou


um grande iiicendio lias serras d'esta illia, e isto pelos lados do Norte Oeste e parte do
Sul.
Tal iiicendio, como é naiural, h o ~ ~ o r i s oautodos quantos d'elle tiveram coal-ieci-
mento, e, ein todos os periodicos d'esta iiossa terra, saliirain iiiiportantes artigos lios
quaes se apresentavam razões e alvitres acceítaveis, pedindo ao niesino tempo provi-
dencias as auctoridades constituidas contra os auctores da destruiçiio.
Com o titulo Vaiidalisino e pela ~incçãocom que vinha escripto, saboreei uin aiti-
go que vinha no Brado d'OesteY'folha bisemanal qrie se piiblica ila Ponia do Sol, da
qual é proprietario e director, o siir. Clemente de Freitas da Silva, secretario d'admiii-
istraçao d'acluelle coiicell-io.
Com a devida venia, ouso transcrevel-o aqui, asiin de que se possa avaliar o estiin-
ulo que ein iniin produziu tal doutrina.
E, considerando que, ein todos os iiiezes do Estio, mais ou menos, lia sempre inceii-
dios nas serras d'esta ill-ia ,e isto lia já muitos anilos, sci Ilie se possa castigar seuera-
mente os auctores de til0 coiidemiiaveis proesas, - resolvi tne escrever n'aqiiele peri-
odico uina série dYarLigos,que ao deante traiiscreverei, ap6s o qrie o digno Director
do "Brado d'0esteV, inseriu i10 seu jornal e que abre este meu modesto iiias patrioti-
c0 op~isculo.
Funchal, 26 de Dczeilibro de 1910.

VANDALISMO

"E na realidade selvatico o vaiidalisino que se está coiiiinettei~donas Serras d'esta


ilha!
Quem outr'ora conheceu os arvoredos da nossa forinosissima perola do oceaiio e
agora a percorre veiido-a quasi nua, a niío ser com um ou outro remendo para lhe
occultar a inedonlia e negra ossada, levado por um impulso de indignaçiio, não podeia
deixar de exclaiiiar:
Pobre e triste illia ! ! tu que coiii tanto orgulho e altivez causavas a admiraçao a
todos quántos visitavam as tuas insttas virgens e seculares, e, com tanta affabilidade,
co11viclnvas os forasteiros, inaravilhacios, a peiinanecereni durante dias sob os copados
arvoreclos que te serviam dc g~iarda-sol,111que no iiieia de tanto assoinbro mereceste
ri111cliefe c vvaiios gliarclas para te deffeiiderem cle iilimigos Iigndaes-OScarvoeiros-o
cluc Iizeste para vil e tr~ii(;oeiluiiieii~e te despojarcrn, laiiçaiiclo fogo as tuas qiieri-
das e ricas vestes'?
Acaso incrcccs o iaricor tia vibora Iciidaiia qiie acalentnda no seio li~iniatiodevoroLl
as entranlias d'tiqlielle que Ilie rcstilui~ia vida'?!
Assiiii parece, mas ]ião dcvc scs. Onde estãci pois os teus adiiliradores, aiiiigos e
estreiiios deflciiçorcs"?
Estarão eiilrcglics a vida rtimcln e r i r i d ~ i ~a ocaiitar o fiido?! Não! Estso, na vcrdacIe,
no seu posto, iiias iilcrlcs c inipolcnics.
Ora isto iiBo pOdc iicm dcvc coiitiiiiiai: I In senianas cllic aiicla f'ogo, posto proposi-
tadamente, segliiieio clizem, prira devaslar as uiiicas rcliqiiias dc aivorcdci, rias Serriis
dos Conccllios da Calliclu, Porlo tlo Moiiiz c S. Viccnte. sciii Iiaver Liiiia aliiia caiidos;\
qlie coiiccir~1 ~ a SEI ~ cxtiiic@io.
1
Este IOgo Iòi laiic;atlo pclii mào dai~iiiinhrido pastor.
E' cllc que tllicrcntlo apoclciar-sc elas Seri-ris para pastorcir iivrciiiciitc (i seu gado,
devasta tlid» cliiiiiilo 6 ulil c aproveilavcl. c tudo sacrilica ii hcnclicio do seu rcbaiilio,
tornaiido-se, por isso, L I I incciidiario
~ tcinivcl c perigoso.
Uii1 Iioiiicni d'esíes iiiio dcvc dc existir li» iiicio da socicdaclc. ITcira, porlaiito, coiii
cis algozcs elas iiossas Ilorcslas !
Ji qlic sobre 0 pastor iccrilie toda :i stis[ieita c sobrc ellc pesnin ris mais graves
:~CÇLIS;-IÇ(~~S, ~)ccIiiii~s ao tligiio Regente Silvicola qlic volvciido, 1)rii.ii esta rcpligiiaiitc
c iiiesrl~liiilirisclvr~gcri;~, OS SCLISollitis e allciição, se digiie (lar ordciis rigorosns a toelos
os sclis siibortliiiriclos, aliiii clc cliic cstcs, viyiiintlo cautclosliiiiciilc os iiiccntliaricis tllis
[lorcsins, Ihcs possam applicar coii~loclo o rigoi; doa a qlicm rlocr e chcgiic a q~icni
chegar, :is pciiris cln Ici.
Piovidciicias !"
'Tal Iòi o íissuinplo ~ L I iiic C [C% siigerir ao espírito OS ;irligos qiic S C ~ L I C I I Idirigidos
,
c plihlicatlos iio ciluclojoriial soh ri Litlilo As iirissas serras.
Eil-os, liciis:
PI.C"S~I~I(~O-IIIÇ
de seis ~1111(10s SCLIS ~ i ~ i i i i ~ r ~o ~s o~ ~i g ~ i r ipcriiiilla-inc
~ilcs, a 1ioiir:i de
qlic, coin a ininlin obscura pciiiia c li.ticn inlclligciiciri, possa iiicorpoinr iiic iio ilLiiiicro
dos seus collaboruclorcs, coiif'cssnntloiiic clcsdc j:í « inois liiiiiiilclc clc lotlos.
C .. lc/, plihlicíir 110 SCLI ~criodictisob 0 I I ~ I I I I C ~ O
Li coiii atlciic;iii, i) arligti ~ L I V 134,
clc sabbaclo I O do corrciilc, coiii o lilulo "Vtiiiclíilisino".
%I aiiigo dcvc, o 1 1 1 ~ ~vCr, 1 ~~icrccer a iit1cii(ião ele) tligno cliclC cl'cslc í)islricto, o
Iixiiici Sr. Co~iscIIicir~ JosC Iiibciio da C'i~~ilia c 1130mciios a cio si.. licgcnlc Silviccila.
A clolitiiiia qtic V.. cxpriritli~iC ~ 5 oiicccilrivcl, q ~ i ca impori~iiilcIi)ll~acl'cslii citliidc
Diíírici de Noliciiis, j H se in:iiiiScstou iio mesiiio sciitido.
Eu, coiiio lillio iiiiiaiite tl'cslo iiossii qliciitla illin tili Matlcirri, tlaiilro tias Ii.acas
Sorças qiic liosso elispOr, c I>nscíirloiia priilice tlc iii~iilosilniios, o~isoleviiiiloi' ii iiiinlin
voz puL7licainciitc a S:iv«r tlo torrão q ~ i cnos vili iinsccr, ripi.chci~laiidoiiriiris coiisitlcr-
tiçfies rcliitivas aos Lcrrciios iiiç~illos,islo C, tl:is nossas scrriis,
No seu artigo a cl~iciiic icliro, qlicixa-se V,.. tlos ptislorcs c carvoeiros, c, rcíiliiiciitc,
creio sem prearnbulo algum. que a maior paste dos incendios que desde iniiitissiinos
aiiiios teein destruido as grandes e pequenas inattas, paste111 de taes negociantes.
E' porque? Porque os primeiros não encontram hei-va debaixo dos arvoredos para
os seus aniinaes e os segundos, qiianto maior numero de tocos ou madeira acliarein
fácil de assaiicar, mellior arranjam o carv5o e, este feito, cuidarão mais d'elle d o que
de extiilguirein toda e qualquer faisca que facilmente possa ficar escondida, sem que
o carvoeiro dê por isso; - podendo acontecer, que antes d'este chegar a sua casa, haja
incendio no local onde foi feito o cawão, inultiplica~ido-secom o vento pelas já defin-
liadas mattas das nossas serras,
Coino acabar coin estes males?
Facilmente, se as entidades a que iiie referi, e as diversas cainaras inunicipaes do
Districto, se unirerii para acabareni coin o tão rude abuso, isto é, de crearse gado à
solta e fabricar-se o carvão nas serras d'esta ilha.
Uin decreto que baixasse dos Podcres Constituidos, prohibindo aquelles abusos,
traria ilao pequena felicidade aos povos d'esta ilha, algum tanto aos presentes, mas
inuitissimo mais aos fut~iros.
Eu o provarei d'um inodo claro e positivo desde o momento que o Governo Central
se atl~erciede nós, protegendo a pobre ilha a que tenlio a felicidade de pertencer.
Felicidade! sim, mas unicaiiiente pelo abençoado cliiiia!
Sr. Redactor:
Ha uma sentença tão antiga como popular que diz assim: "tudo o que não ha,
esciisa-se". É certo, porém, que cousas ha que n2ío se podem escusar-mas desde o
inoinento qiie iião hajam, indiscutivelmente, temos de prcscindir d'ellas, o que equiv-
ale a dizer, n5o podeinos ir contra os iinpossiveis.
Acabe-se com o gado á solta na serra, prohiba-se fazer carvão e a venda d'elle; O
povo em geral não viverá ?
Provarei que viverá com maior abundancia em toda a extensa0 da palavra.
Fuiiclial, 14 de setetiibro de 1910.

É sem contestação LIIII grande negocio, por isso que os primeiros não adeantam
capital nem traballio para sustentarein o seu gado, e os segundos apenas pelo seu tra-
balho teein cesto o dinlieiro a que aspiram.
Sr, Redactor: Não desconliece V.., que todos os periodicos d'esta cidade se i-nani-
festam indignados contra o vandalismo de devastação nas nossas serras, chegando
algiins a dizerei11 que as nossas inontanhas se acliain semilhanies aos escalvados da
Guine!
E LI, facto. E, se as entidades n que me referi no supra citado numero, isto é, Sua
Ex,a o sr. Coiiselliciro José-Ribeiro da Cunlia, actiial e digno Goveriiador Civil d'este
Districto, o sc Regente Floreslal e as diversas Camaras Miinicipaes do Districto não
representarei11 quanto antes ao Governo de S. Magestade para que seja votada urna lei
proliibindo a liberdade de crear-se gado solta c fabricar-se o carvgo nas nossas ser-
ras,- não ser50 precisos muitos annos para que desapareçain os restos das mattas que
ainda existem, e então teremos todas as nossas serras não só coino os escalvados da
Guiné, irias coino as roclias da Poiiia de S. Lourenço.
E' fora de duvida que a iiiiprensa local reclama providencias, assiin como todos OS
habitantes d'esta ilha,-excepto os pastores e cai-voeiros.
Estes e aquelles, sem duvida alguma, vão gritar agarrando-se a alguns politicos
para que não se-ja votada uma tal medida para o bem geral d'esta ilha.
Creio que haverá politicos e mesino auctoridades sem escrupulo que se unirão
áquelles, e isto porque desgraçadainente a politica ria nossa terra, pende mais para o
mal do que para o bem d'ella.
Creio ser uni facto.
Não tenho a vaidade de que os meus alvitres sejain respeitados por ninguem,-
sendo certo que muito estimaria que qtialquer assignando o seu nome, em fóima de
critica o u discussão, os refutasse no todo ou em parte, -]nas por Lima fosma leal e cav-
alheirosa a bem da nossa ilha.
Passo poi-tanto a demonstrar o que digo: Ninguein desconhece que os arvoredos
coiicorrem para proteger as fontes e as aguas que correm no leito das ribeiras, ribeiros
e levadas,-combatem os vendavaes, purificam o ar, trazendo-nos alem d'essas vanta-
gens as ilhas madeiras de til, viiihatico e outras, a lenha, a qual cortada no devido
teinpo e com regra, abundará ein todas as freguezias d'esta ilha.
Ninguein desconhece que enl diversos e adequados logares das nossas semas se
pódem fazer culturas de trigo e centeio e muitissinio mais de arvores de fructo de
todas as qualidades, as quaes produziriam fructa em abundancia que chegaria para o
consumo local e ainda para exportar.
Ninguem desconhece que no centro da sei-sa ou iiiontanha, existe utna parochia, a
qual C a do Cussal das Freiras, onde abunda a viiiha e todas as plantas talvez não a
caima doce) de que se cultiva. toda a ilha.
Ning~ieindesconhece que na freguezia do Seixal, um montado chamado "Montado
dos Pecegueiros", existem as mais saborosas fructas.
Nitigiiém descoiihece que se fosse prohibido andar o gado á solta e fazer-se o
carvão, as nossas serras produziain herva em grandissima abuiidancia para todos
aquelles que tratain de gado, a irem buscar para o sustento d'elle.
Nii-iguem descoiiliece que tudo o que apontado fíca, posto em pratica, reduiidará em
abuiidancia para a agricultura, commercio e industria, principaes fontes da riqueza
publica, e ainda para ir reparando as grandes devastações do fogo, até aqui.
Alguei~idirá:
Mas, se effectivainente fosse proliibido crear-se gado na serra, não haveria abun-
dancia de carne e pelles para o coi~suiilopublico,-assiin coiiio, em quc iain empre-
gar-se os lioiiiciis Iiabituados a fabricarem o carvão ? !
l?, o que pretendo esclareces.
Prohibido que seja andar o gado á solta e fabricasse o carvão nas nossas Serras, não
faltarão a carne e as pelles para o consumo publico, nem os lioinens que fabricam o
carvão ficarão sem trabalho.
Na primeira Iiypotliese, é fóra de duvida qiie se creará in~iilomais gado nos curraes
e ein pastos, seiido n'este caso vigia :lo por pastores, os quaes irão de manhã coin elle,
voltaiido á tarde para os iiumerosissiinos curraes que serão feitos, para o guardar ein
adequados pontos das respectivas freguezias.
Coiiio já disse no alludido artigo sob o numero 141, havera herva ein abundancia
para, taiito verde coiiio sêcca, irem buscar afim de cada uiii sustentar o seu gado.
Por esta fórima creio que não haverá dificuldade em crear-se ein toda a ilha aprox-
imadamente o dobro do gado que actualmente se esta creando nos curraes, parecen-
do-me evidente, que nunca faltará a carne para o consumo publico.
E com respeito as pelles para o calçado,-se se achar que ha falta d'ellas, sem perda
de tempo, pelo governo civil e carnal-as n~unicipaesserá representado ao governo cen-
tral para que seja reduzido o imposlo sobre as pelles impoietadas, afigurando-se-me
que o Governo attenderá imediatamente a tão justa representação em vista de
escassear aquelle artigo para o calçado.
Parece-me que isto não adinittirá contestação, e, até este ponto. poderá ser previs-
to na lei que fosse votada.
Aos carvoeiros iião faltará tsabalho para ganharein dinheiro, porque, ja erli plan-
tações de arvores de fructo, taes como castanheiras, aineixieiras etc. etc., e ainda para
o cultivo do trigo, centeio, e outros cereaes e pinhaes,-serão applicados pelos pro-
prietarios das nossas Serras, que serão obrigados por lei, a arborisar os seus terrenos,
devendo ainda notar-se que aquelles lioineil tambem terão trabalho ein propriedades
ou beinfeitorias suas.
Sobre este ponto não ha questão porque desde o inomeiito ein que dos poderes con-
stituidos baixasse tal lei, o trabalho a~~gmenlariaconsideravelmente ein toda a illla.

Sr. Redactor:

Desde já confesso publica e solemriemente, que nutro fundadas esperanças pelo


Governo da Republica Porlugueza, por isso que, sendo o seti principal ideal o
engrandecimento da Patria, a nossa ilha que faz parte da Republica é, postanto, bem
digna de ser ein tiido attendida pelo seu Governo, e 1180 lia-de a este passar dcsperce-
bida sobre todos os pontos de vista do serr eiigrandeciinento,
Tambern com a inaxiina franqueza, peço licenca ao illustre cidadão o Sr. di: Manuel
Augusto Marlins, actual e digno Governador Civil d'este Districto, para publicainente
declarar que, tanto eu, como inuitissiinos ou inelhor talvez, todos os seus conterrane-
os, teem plena coiifiailça em S. Ex.0 de que, não se poupará ein iinpetrar do Governo
Central tudo quanto fôr justo e boin não só para a arborisacão das nossas serras, inas
ainda para o engrandeciinei~toda agricultura, cominercio e industria d7estearcliipela-
go.
No momento actual ein que todas as forcas da Republica Portugueza se concentrain
para a boa adininistração e eilgrandecirneiito da nossa querida e muito ainada Patria,
e isto em todos os pontos do paiz, é necessario, justo e urgente, que 116si~iadeireilses,
nos unâmos com a inaxiina fraternidade para, pelas vias coinpeteiltes, levarinos ao
governo Provisorio da Republica urna representação afim de que seja votada uma lei
para arborisação, prohibição de andar o gado i solta e rabricar-se o carvão nas nossas
Serras.
Unir-nos todos!? É sem duvida exagerada esta plirase !
Não são precisos todos os inadeirenses assignarem uma tal representação. O que
porém é preciso, é que a imprensa d'esta terra, assim como, quando no vergo os incen-
diarios pretenderam por meio do fogo destruir o resto das tnattas da nossa ilha, se
levantou ein coro unisoiio a pedir providencias e castigo para os vandalos, comece
desde já tiiua intensa propaganda a favor da arborisação obrigatoria clas nossas serras.
O que é preciso e indispensavel, é que as caniaras inunicipaes dos concelhos se
reuiiani, afirn de estiidareni qualquer cousa sobre este importante assumpto e dos seus
estudos, fazerem um relatorio afim de que seja apresentado ao digno chefe d'este dis-
tricto.
As diversas opiniões das cainaras uma vez no govenio civil, e sob a presidencia do
seu illustre e digno chefe, o sr. dr. Manuel Augiisto Martins, deverão ser discutidas por
~ i i i iconscllio de Iiomens imparciaes e de reconhecido zelo material a bem da nossa
ilha. Discutido tão inlportante assumpto, aproveitar-se-lia o que for melhor e então se
deverá fazer a representação ao governo central, sendo assignado pelas cai-iiarasé ref-
erendada pelo chefe superior do districto, afim d'esta auctoridade a enviar ao seu des-
tino para os devidos efeitos.
Nos iiurneros 136, 141 e 144 deste periodico, tenho apresentado algunias razões
demonstrando que será unia medida de grande alcance para a agricultura, conimercio
e industria d'este archipelago, se for votada a lei a que eu, como todo, ou a maior parte
do povo iiiadeirense. tanto aspiraiii
Concidadãos: As nossas Serras não são as regiões incultas da nossa provincia de
Moçarnbique onde se possa crear gado á solta !
A s nossas Serras, são proprias para tudo quanto tenho demonstrado 110snumeros
d'este periodico a que acima me refiro.
Inergica e patrioticameiite unidas as entidades que ineiiciono, não prescindindo do
cidadão regente florestal, e se os griardas campestres c~irnprirenlrigorosamente o seu
dever-, não será preciso duas dezenas d'annos para que floresçam as nossas Serras não
só com as actuaes arvores e arbustos que rapidamente cresceriam inas ainda coin os
nossos ai-voredos.
Haveriainos de presenciar e gosar esse panorama tão lindo para encanto e proveito
de nacionaes e estrangeiros, o qual será o de arvores de toda a qualidade coin os seus
luxuriantes ramos coin fnictos.
A feiteira, a giesta cresceriam e, tudo bem organisado, constituiria um grande aug-
mento de riquesa já eni aguas coino em tudo q~iaiitotenho mencionado.
Serras, sendo certo que sobre este ponto se tein trilhado uma vida sedentaria.
Como porém, as cousas recentemelite mudaram, eu e miiitissimos dos meus con-
terraneos, contamos que o govenio da Republica Portugueza fará repor as cousas no
seu antigo logar, para o que as auctoridades constituidas n'este Districto não se des-
cuidaGo, se briosa e patrioticamente attender ao que fica exposto e ainda exporei.
O s incendianos das nossas sei-ras, creio que não serão sómente o pastor e o car-
voeiro.
Terão havido ainda outros dos quaes vou occupar me e, para o poder dizer, citarei
factos a meu vêr irrefutaveis.
Toda a gente sabe que ha o estilo em todas oii em quasi todas as freguezias d'esta
ilha, de os proprietarios fazerem queimadas nas Serras ou ein montados, e ~i'estes,a
distancia de poucos kiloinetros da povoação.
Tal uso é pernlittido, por isso que, as queimadas são seinpre dentro das pro-
priedades de cada iiidividuo, e com o tini manifesto de n'ellas se fazerem semeiiteiras
de trigo, centeio, cevada e legumes, o que realmente produz ein grande abundaiicia,
vindo abastecer, não só os proinotores de taes trabalhos, mas ainda o mercado.
Até aqui esth inuito bem, porque junto com as sementes de pínheiros e de giesta,
que nascendo, fica o Lerreno em' poucos annos arborisado para dar novo proveito;
sendo certo que se se faz a q~ieiniadan'tim aniio nuin terreno, passam os proprietar-
ias para outros Sitíos a fazer novas culturas e isto, é claro, para os que possuem diver-
sas porções de terra proprias para tal fim.
E fora de toda a duvida que todo o proprietario tein o direito de fazer no que lhe
pertence tudo quanto quizer comtanto que não prejudique os visinhos, nem offenda as
leis constituidas.
Eis aqui o ponto da questão de que Ine estou occupando.
A meu vêr, a todo o proprietario ou áquelle que quizesse fazer queimadas, devia-
se-lhe exigir uin termo de responsabilidade perante a auctoridade adininisirativa do
seu concelho para, quaiida houvesse desleixo ou fosse mal acautelado o terreno a
queimar, se por ventura o fogo passase para outros terrenos, ser responsavel por todas
as perdas e dannos a que désse causa.
Por esta fónna haveria todo o cuidado para serem feitas as queimadas, por isso que,
não só feririam a terra nas extreiinas dos seus terrenos, deixariaili tanibein arbustos
por cortar, teriam pessoal coinpeteiite, e ainda escolheriain os dias alguin tanto sorn-
brios e sem signal algum de vento.
Parece-me isto uma inedida optima para o fim alludido.
Mas, por ventura, ter-se-ha procedido até aqui cl'esta fornia?
Creio absoliitameiite que não e coino assiiii tetn sido, Lenho coino certo que as
queimadas terão concorrido tarnbein para os grandes incendios tiiis nossas serras,
ficando taes ou quaes proprietarios indemi-ies de respoiisabilidade !
Affig~ira-se-meque tainbein haverá fi~inadoresmenos esci-upulosos que, jB eiil
caçadas, como em viagem de recreio OLL de iiecessidade pelas nossas serras, e isto 110
estio e outoinno, não terão o cuidado preciso para fuinarein-o que deveria ser nas
occasiões de repouso, devendo apagar inuito bem toda e qiialquer faisca, não Só
proveniete do cigarro ou phosplioro, ii-ias ainda de quaesquer generos que íossein cos-
inhados nas serras.
E quem sabe se uns e o~itros,terão tainbein concorrido pelo fogo, para a devastação
das mattas d'esta ilha?
T L I ~isto
O poderia ser estudado por liomens entendidos e de reconhecida pratica
para o engrandecimento e beni geral d'csta illia, e regulado por uin Decreto do
Governo da nossa querida e iniiito ainada Republica..
Pretendo n'este momento occupar-me do pessoal encarregado da vigilancia e con-
servação das nossas florestas, ao qual não pretendo tecer elogios neiii tão pouco
desprestigiar; mas tão sómente, com a fi-anq~~eza de que me ufano, dizer coisas que
me parecem justas e rasoavelinente acceitaveis.
Afigura-se-me que a intetlção do Governo que creou L I I ~ta1 cargo florestal, era
proteger as florestas d'esta ilha; inas quem sabe se devido a irifliiencias politicas E que
foram creados taes logares para anicl-iarern afilhados?
Sobre este ponto, pouco iile importa sabor. O que é certo e sabido é que os guardas
campestres são mal pagos, crendo não ser assim o seu regente.
Não ha duvida que taes serviços vieram sobrecarregar as diversas camaras inunic-
ipaes coin novas despezas,-e embora sejam ordenados pequenos, os serviços a meu
vês lambem não serão grandes, por isso que as auctoridades superintendentes e
nomeadamente as do regimen monarchico, ha pouco sepultado, pouco se importavam
com esses trabalhos-devendo ainda notar-se que os guardas mal pagos pouco ou ilen-
hum amor teriam pelo cumpi-imeiito de suas obrigacões !
Mas na hypothese de serem bem pagos, isto é, o duplo ou o triplo do que actual-
inente ganhain das camaras, não hesito em aflinnar que o resultado seria sempre o
mesmo, ou pouca diferença haveria do que presentemente se ve, isto é, as nossas nlat-
tas todos os annos a desapparecerem por meio do logo, machado, cai-voeiro, etc.
E porque?
Porque desde o niorriento que haja liberdade de crear-se o gado à solta, fabricas-se
'

o carvão e fazereinse queimadas, sem responsabilidade, nas serras d'esta ilha,-serão


sempre os guardas campestres impotentes para conter a vontade dos nossos escrupul-
hosos agentes OLI proprietarlos do que acima menciono. Jà ine dirigi as diversas cama-
ras inunicipaes e ao digno chefe d'este Districto o Ex.m cidadão Dr. Manuel Augusto
Martins para que, depois de prévio e pr~identeestudo representassem ao Goveino da
nossa nascente republica para que seja votado um decreto sobre a impoi-tante
arkiorisação das senas d'esta ilha, sem o qual, ern vez do actual núiilero de guardas,
poderá haver o duplo e triplo,-sendo o resultado sempre o mesmo, isto é, a continu-
ação da devastação, de anno para anno das nossas florestas.
E' um facto.
Concidadãos:
Não são só os elementos de que me tenho occupado que devastam as nossas mat-
tas, é tambein o gado que constantemente coinern os pequenos arbustos que vem
iiascendo e até a altura de 2 inetros a roem para se alimentar, por isso que epoclias Iia
n o aiiilo em que as sei-sas não criam heiva para o mesmo se sustentar.
E por esta forilia, os guardas são impotentes para o desempenho das suas obri-
gaçoes quer o dizer, as ai-vores pouco ou nada auguentani d'anno para aniio, já por este
inconveniente, como por outras razões apresentadas
A miiilia propaganda sobre a arborisacão obrigratoria das nossas serras, não obe-
dece a eiicoinmeilda de alguem e muito inenos é feita com vistas de qualqlier iriter-
esse particular, mas tão soineiite porque, no meu espirito alimento a cliamma viva do
amor pela tei-ra que nos foi berço, isto é, o patriotisino.
É fóra de duvida que pouco mais de ineiado clo seculo XIX até a liquidacão da
moilarchia em cinco de outubro ultimo, iorain uns tempos d'uma politica rotativa em
que o s partidos monarcliicos se batiam constanteiliente, protegendo cada uin os seus
serventuarios e ainda perseguindo os adversaiios politicos.
Ora coino a fragilidade da nossa especie, é inseparavel do liornem, este fica cego
quando as paixôes politicas partidarias n'elle predominaiu, de modo que o seu ideal
jh não é o engraiideciinento da sua Patria ou terra natal, mas siin satisiazer a sua
ambição no mando e mesquinhas vinganças,-embora alguma cousa de util para o bem
geral se presenceie.
Foi jnstaineilte o itenerario dos iiossos hoinens publicas.
A minlia propaganda sobre este assu~npto,coweçou em 17 de setembro ultimo, isto
e, 110s ~ilti~nosdias da moriarchia, e, coin franqueza, eu já teria desistido dos ineus
arrasoados se não visse muita gente nova, isto é, os homens publicas serventiuarios da
~epublica,os qiiaes, creio firmemente que hão de, embora com sacrifício, mostrar ao
estraiijeiro que Portugal retomará o seu antigo logar de nação livre e independente,-
n'uma palavra, o engrandecimento da nossa querida e muito an-iada Patria !
Ora sendo assim, conio não poderá deixar de ser, é claro que não hei-de perder o
meu tempo escrevendo(aos domingos) a presente propaganda.
Bem sei que na presente occasião a nossa ilha vendo-se a braços com o cholera
morbus, para o qual o digno chefe do Districto tem presas as suas attenções e não só
as d'aquelle magistrado, mas de todas as auctoridades suas s~ibaltemas,-nãoouso
esperar que sejam lidos os meus humildes artigos, ou melhor, que lhe liguein qualquer
iinportancia.
Como porém, elles ficam archivados, póde ser que ein começando a declinar esta
tenebrosa torinei~ta,appareçam, e então, a bem do engrandecimento da nossa illia,
tenho fé que alguma cousa será posto em pratica, attendendo ao patriotisino dos
homens investidos da auctoridade da nossa Republica.
Concidadãos e ineus contesraiieos: Entre os diversos melhoramentos para o
engrandecimento da nossa illia, avultani iiiquestionavelinente tres, os quaes são: O
saneamento da nossa cidade,-uma estrada em tomo da ilha e erm condições de n'ella
passar um vehiculo com passageiros ou carga,-e a arborisação obrigatoria das nossas
serras: sendo evidente que este inellioramento é o que inenos pensão causará aos
cofres Publicos e o que indubitavelinente lia de trazer mais proventos aos habitantes
d'esta ilha e provaveliizente ao Estado.
Confirmando tudo quanto tenlio dito. cumpre-me ainda dizer que se o Estado ainda
possue alguns baldios nas serras d'esta illia não sei; o que sei é que algumas caniaras
municipaes os possuem achando conveniente que as mesmas os façam arborisar para
o que deverao ser obrigadas c01110 qualquer particular.
Toda a gente sabe que as nossas sersas são coitadas em diversas direcções com
veredas para n'ellas passarem peoes coni ou sem cargas sendo certo que taes veredas
são tortuosas acanhadas e iiiuito inal feitas.
Parece de toda a justiça que as camasas municipaes dentro da area do seu concel-
ho, ligando-as, a expensas suas, ou pelas chamadas "rodas de can~inho",mandem
fazer em boas condicções, estradas. mesmo que sejam de 2 metros de larg~ira,para
mais faciliizente serem transportadas as lenlias, cereaes ou fructas etc. que no futuro
as serras venham a produzir.
Devemos observar que as posturas das cainaras muiiicipaes não se hainloiiisam
sobre o importante assuinpto da arbolisação geral e isto é mais um argumento a favor
d'iim Decreto que tudo regule.
Ouso cliainar a poderosa intervenção da imprensa d'esta tesra afim de auxiliar a
minha humilde inas a meu ver justa propaganda a favor da arborisação obigatoria das
serras d'esta ilha.
Desnecessario seria chamar neste logar a attencão do digtio chefe do Districto e
cáinaras municipaes sõbre este assunzpo por isso que já aq~~ellas entidades me tenlio
dirigido.
Affigura-se-~neqiie se iião tenlio razão em tudo quanto tenho escripto a terei pelo
meiios em parte e se os ineLis contemporaneos mais em evidencia se digilareiil, em
quaesquer horas vagas, apreciar o tirn que tive e tenho eni vista, estou certo de que
pugnarão pelo ideal que defendo.
Por minha parte confesso que nada posso, jB por iiltluencia como por talento,
devendo quem me lêr avaliar unicailiente a minha intenção a favor do beni geral d'es-
ta ilha.
Se, com effeito, as auctoridades dirigentes do Districto e Concelhos accordarem em
trabalhar para estudarem a fórma de ser, pelo Governo da nossa Republica, votado um
Decreto para o fim que tenho demonstrado, tenho coino certo que hão de ser
abençoadas iião só pelos nossos contemporaneos, inas muito mais pelos da geração
futura.

RESUMINDO

1" Os guardas florestaes, nas nossas serras, são impotentes perante os lenheiros,
caivoeiros e pastores.
2"Estes vaiidalos das florestas não teein e nunca terão medo ou respeito aos guardas
por isso que, considerando-se os senhores das serras, com as armas do seu oficio
poderiam matar ou ferir quem se lhe oposesse aos seus damnos.
3" Taes guardas poderão ser aparentados, ou amigos com alguns dos ditos destrri-
idores, sendo certo que aquelles fazem vista grossa sobre estes, afim de não criarem
initilisades, traiçoes etc.
4" Todos os guardas não terão amor ás suas obrigações, porque, além de serem mal
rernuiierados, e ainda que o fossem é massador e perigoso o seu officio como se vem
demonstrado.
5" Além dos dainnadores apontados existen outros os quaes são os issacionaes qiie
andam á solta nas serras comendo os arbustos já ao nascer coino depois de grandes.
6" A pratica demonstra cabalmente que de nada absolutamente teern servido os
guardas florestaes por isso que os arvoredos ern vez de aumentar tem diminuido.
7" Com quanto nilo se reconheça a utilidade dos supra ditos zeladores como se
aponta no nuniero antecedente(6") poderá conservar-se os actuaes guardas mas não
augnientar o quadro com outros.
8" E clara e positivamente coinprovada a carestia da lenha em toda a ilha e em espe-
cial na parte Sul da mesina não hesitando em dizer que é seinilliante aos artigos de
luxo.
9" Mesino dentro da cidade do Funchal e em todas as villas do Districto encontra-
se pessoas das freguezias iuraes a vender carvão vassouras e queima de urze e princi-
palmente estas são de arbustos novos que a ferramenta de gume afiado deseroe por
meio de taes vendedores.
10" Deverá acabar-se com o gado grosso e miudo das seilas desta ilha e proliibir
fazer carvão e a sua venda assim coino proliibir a venda da queima e vassouras de
urze; com tiido podera pennittir-se a venda da queima e vassouras a quem provar ter
cumprido o que se aponta no n. 13.0.
11" Bom seria que o governo fornecesse, as Camaras in~iilicipaesdo Districto,
arvores fix~ctiferasafim de serem distribuidas pelos municipes e estes as plantarem nas
serras, em logares adequados.
12" Os proprietarios serão obrigados á plantação de arvores de fructa ou outras, B
excepção de pinheiros e eucalyptos, em todas as margens d'aguas e denorninadamente
nas serras, até a distancia de 100 metros lineares de longitucle das mesinas aguas, se
ahi poucas ou nei-iliuinasexistirem.
13" Niiiguein poderá cortar arbustos ou arvore, seja de que qiialidade for, na sua
propriedade ou mesmo sem ser, e denominadamente nas serras d'esta ilha, sem que
deixe pelo menos um terço das que existirem; inas nas terras onde oiiver feiteira, se
necessario fòr para o augmento da mesma, poderá ir até uin quarto respeitando sein-
pre as melhores e maiores aivores; e n'este caso. se se reconhecer quc o matagal é
espesso, devendo o corte scr alternativainente e n'uin praso nunca inferior a cinco
annos
14" Duas vezes por anno o regente florestal, acompanliado dos guardas de cada
Concelho, visitará miiluciosainente as respectivas serras, fazeiido uin relatorio ein
duplicado do estado em que encontrou as florestas, qualidades de todas as arvores. seu
crescimento e se as faias tein pelle e, publicando-o na imprensa local, sera enviado uin
duplicado ao Governo Central.
15. - Para o cabal cuiiipriineiito do numero antecedente (14.), o regente requisitara
da respectiva auctoridade administrativa cabos de policia ou outras pessoas, afiin de
o informar do dono dos predios.
16"As queiinadas para cereaes serão permitlidas ein temas que produzain giesta e
outros arbustos, que poderão ser cortados, respeitando sempre estes e outras arvores
sobranceiras ás fontes e coi-rentes d'agua, e ainda qiialquer awore superior aq~iellas,
na mesma queimada, que seja possivel escapar as cliainiiias; e tudo mediante terino de
responsabilidade de quem as quizer fazer, afim de q~ic,pelo fogo, não liaja prejuizo
para outrem.
17"Tal ternio sera lançado em livro especial pela respectiva auctoridade local; sein
onus algiim para o requerente.
18" Deveriam estabelecer-se premios pecuniarios aos proprietarios que apre-
sentarem inelliores arvores fructiferos ou outras, nas suas propriedades, nas serras
d'esta ilha.
19" As multas aos intractores do que fòr aproveitavel d'estes iiuiiieros, ou iiielllor,
do regulamento florestal, deverao ser desde 20$000 até 50$000 réis, além da policia
correccional e prisãÒ, ficando esta ao arbitrio do respectivo juiz; devendo metade das
multas serem para o denunciante e a outra metade para o cofre do inuiiicipio ou para
a entidade que o Governo deterininar.
20" Deverá o regulainento florestal ser publicado pela iiiiprensa local e impresso
em folhas soltas e estas distribuidas por todos os chefes de fainilia do Districto, afiin
de que sejam scientes do mesino, recoinei~dai~doll~cs a auctoridade local a sua guarda
e conservação.

[ Opusctilo de Prol~agcincla.Ai.g~rmentou fbvor cln Arborizaçüo obrigcrtd~.iadas


serras du ilha da Mudeira, por Manuel Braz Sequeira, Funclial, 19 131
J. HENRIQUES CAMACHO, 1919

(...I
Ahi por 1420, dividida a ilha pelos sesmeiros, começaram estes a derrubar o
arvoredo para cultivarem as plantas que tinliam levado do continente.
A principio residiam os sesineiros com suas famílias lias terras que Ihes tinham
sido distribuídas, agricultando-as os colonos livres e depois os escravos negros e
moiros. A fertilidade do terreno e a riqueza das culturas, proporcionaram-lhes uma
vida luxuosa e descuidada na cidade OLI nas villas; fazendo-os abandonar as suas ter-
ras, cuja cultura entregaram aos colonos livres, dando-lhes estes metade dos produc-
tos d'ellas.
N o tempo de D. Manuel principiaram a ser Vinculadas as terras, que constituíam
as sesmarias. O einpobrecimento dos colonos e dos morgados, fez corn que estes,
recorrendo aos negociantes estrangeiros para empréstimos sobre as futuras colheitas,
proporcionassein aos mesmos o fazerem rápidas fortunas.
Havendo na Madeira um denso arvorado que impedia a agricultura, um dos
primeiros trabalhos dos seus habitantes foi naturalmente a derruba: Zargo mandou
lançar fogo ao arvoredo e ao funcho que havia em grande quantidade no sitio onde
depois foi o F~inchal,para que desnudado assiin o terreno, o podesse mandar culti-
var. Destruiu este fogo muita madeira, que veio mais tarde a fazer falta para os
engenhos d'assucar. Dizem alguns chronistas, como Mariucl Thoinaz na Insulana,
que o incêndio durou sete annos, tendo sido attingida toda a ilha; porem outros sus-
tentam, que só o foi a parte Sul d'esta: este incêndio é-nos relatado, primeiro por João
de Barros e depois por Fructuoso, coilio sendo parcial, o que parece mais verosiniil:
o Papa Paulo I1 no seu breve apostólico de 1459, ein que confirma a redizima a João
Gonçalves Zargo, refere-se também á existência do incêndio.
D. Francisco Manuel de Mello foi o primeiro que contestou a existência d'elle,
fazendo notar que se tivesse existido não haveria madeira para sustentar os 150
engenhos d'assucar que havia na illia, poucos annos depois; e o próprio Fr~ictuoso
diz ser grande o commercio de madeiras e matas as serras d'agua ali existentes.
Tudo isto nos leva a crer que o incêndio se limitou a parte Sul da illia que foi a
primeira cultivada, e teria provavelmente este o processo porque os cultivadores se
libertaranl das florestas virgens, para poderem depois arrotear a terra. Durante os sete
priineiros annos depois da descoberta seguiram este processo de arroteamento, e
d'al~iveio provavelmente o dizer Manuel Thomaz que o Iilcêndio durou sete annos.
0 s irninediatos trabalhos de lavoura fizera111 desapparecer completainente os
vestígios d'este incêndio, que nunca foram encontrados.
O Regimento das Madeiras de 27 d'agosto de 1562, não é como muitos pensam
uma confirmação do incêndio, mas apenas uma lei benéfica para a silvicultura da
ill-ia, que nada tem com aquelle, segundo parece; pois s6 alude aos desbastes feitos
nas serras para alimentar os engenhos d'ass~icare para outros fins.
A exploração das madeiras foi uma das primeiras industrias inadeirenses: ser-
ravam-se as arvores em toros, e estes em taboas e outras pecas que se destinavam á
coristrucção de casas, lagares, barcos, vasilhas, etc.; expoi-tava~n-setambém para o
Reino com destino a cons~rucçõesnavaes, para o que eram muito apreciadas; e espe-
cialmente ein caixas com assucar qiie então se produzia na Madeira em grande qiian-
tidade.

CAPITULO II
LEGISLA ÇÃOFLORESTAL

A primeira disposição legal sobre silvicultura na Madeira, foi o Regimento de 14


de janeiro de 1515 dado por D. Manuel; mas porque fossein siwples multas as penas
d'este regimento e nem ao menos lhe dessem cunipriinento, appareceu o novo
Regimento das madeiras publicado por D. Sebastião cin 27 de agosto de 1562, que
transcreverei na integra em appendice, por ter sido a base de toda a legislação flore-
stal que tem tido a Madeira e a origem das posturas inuiiicipaes ein toda a ilha.
Da longa e fastidiosa leitura d'este regimento, se deprehende, que as penas n'elle
contidas eram pesadas, para que se ainedrontassem os estúpidos destruidores d'ar-
vores. Foi porem baldada toda a boa vontade dos legisladores, porque nunca liouve
quem fizesse cuiiiprir as severas disposições do regimento !
Bem poucas teein sido as pessoas que até hoje se teein interessado pelo desen-
volvimento da silvicultura na Madeira, mas alguirias Felizmente tem liavido; e entre
estas apparecenos primeiro o sábio deseinbargador Dr. António Rodrigues de Oliveira,
que, nas s-uas"Instnicções respeitaiites ao bein geral da agricultura", que ein correição
deixou na Câiiiara da villa da Callieta ein 18 de oulubro de 1792, preconisa a plan-
tação de pinliaes nas montanhas e terrenos fracos que não seja111 capazes d'outra cul-
tua; mandou vir do Continente e da América Septentrioiial inais de qliatro nioios de
semente, que distribuiu por todos os concellios, aos seilhorios, lenibrando-lhes o tj 26.
tit. 66. do L. I das Ordenações do Reino-pelo qiial os que iião plantassein e não
cuidassem das suas planiações, eram condeinnados lia pena nlíniina de 2$00 réis de
multa, e eram iiia~idaclossemear as terras realengas pelas pessoas do povo, ficando
para todos os procluctos dos pinhaes incnos a madeira, pelo que Ihcs cra proliibido cor-
tar arvore alguma sem a respectiva licença por escripto dos Officiaes da Cainara.
^
A grande inundação que se deu eni 9 de outubro de 1803, resultaiite da obstnicção
das ribeiras que atravessain a cidade do Funchal pelos troncos d'aivores e pedras por
aquelas arrastados no seu precurso-iriu1idaç50 que causou sérios prejuízos aos liabi-
tantes da cidade-deu origem ao aceitado "Plano de obras e providencias necessárias
para o reparo das ruínas causadas na ilha pela alluvião de 9 de o~ilubrode 1803"; obras
e providencias sabiaineiite expostas, pelo esclarecido Brigadeiro Oiidinot, aulhor do
dito plano, que, attribuindo as torreiites produzidas pelo desnudaii-iento das serias a
origem d'aquelle grande desastre, acotiselhou que sein perda de teinpo se corrigissem
as ribeiras e se cobrisseni de arvoredo todos os politos altos e verteiiles da illia, seili o
que, dizia, todo e qualquer trabalho seria absolutanieiite estéril, Sem embargo da
clareza com que este illustre eiigenlieiro deiiloiistrou a necessidade imperiosa que
havia de fazer-se a arborisação das serras, nada se fez, não obstante tereni as medidas
que propoz sido approvadas e ordenadas por Carta Regia de 14 de inaio de ]Ela.,con-
tinuando a devastação nos arvoredos, sei11 que a auctoridade ligasse ao caso a iiiais
pequena importincia.
Em 24 de outubro de 1824 nova enchente se deu c foi eiitilo que se fizeram os
muros que hoje ~liarginamas ribeiras dentro do Funchal. Depois não tomou a cidade
a ser inundada, porque as aguas vão, assim canalisadas, desenibocar directamente no
riiar; mas as erixurradas continuam a fazer sentir os seus effeitos nos campos, onde, de
vez e111 quarido, ha casaes que desapparecein levados pela torrente, e quebradas que
desabando sepultam nos seus escoiiibros, fazendas e gados. Desgraças estas que, aIéin
de outras, beni facilmente se poderiam evitar, se se fizesse a arborisacão das serras; a
qual tão benéfica seria além d'isso para a agricultura, diminuindo os nevoeiros, a que
chamam"barras"', e que ern certos pontos da ilha são bastante prejudiciaes ás Vinhas,
aos cereaes e aos pomares; augmentando as chuvas e portanto a abundância d'agua
cuja posse tão cubiçada é sempre! Mas nada se fez; e tudo continuo~ina costumada
inércia, que tanto caracterisa a administração publica na Madeira desde sempre.
Appareceram ein 1820 as primeiras determinações municipaes, iniciadas sob o
nome "prevenções" pelo Dr. Corregedor de S. Vicente, que em correição mandou
plantar arvores ria serra de S. Jorge ciija arborisação estava muito decadente; reconi-
niendando se fizessem as visitas 6 serra como estava deterininado. E111 1822 deterini-
nou mais que se 11iio creassem porcos na serra, e fosse a Câmara com as pcssoas boas
da terra de~iiarcaro bardo do Concelho, acima do qual ninguém podia esmoitar nem
cortar arvoredo. Em 1825, afim de se determinarem os terrenos destinados a pasto,
insistiu na demarcação do bardo, determinando que ninguéiii cortasse arvores ou plan-
tas arbustivas a menos de cento e cincoenta passos das levadas e miradouros, e que
ninguém deitasse fogo na serra sob pena de incorrer nas penas do regimento. Ein 1838
uriia postura, já impressa, confirmava as deterniinações das anteriores, inultando as
pessoas que sendo avisadas para demarcarem o bardo não coinpareccssem: prohibia
que se utilisassem as arvores que apparecessem na seira cortadas seni licença da
Câmara; que os cães passassem para além do bardo, excepto os das pessoas coin
licença para caçar; que alguém apanhasse piteira para cima d'esta linha antes de 15 de
seteriibro; a destruição do bardo; a creação de porcos na sei-sa, podendo a Câinara dis-
por dos que ahi fossem encontrados; a colheita de baga de louro antes do dia 30 de
setembro; e determinava que fosse marcado todo o gado que estivesse na serra, regi-
stando-se os diferentes signaes e sendo a verba proveniente d'estes registos destina-
da ao pagamento dos guardas campestres.
Em 1839 fez-se o Projecto do Regiiiieiito de Mattas e Arvoredos da ilha da
Madeira. baseado no Regimento de 1562 e na Carta Regia de 1804; nas suas dis-
posições, prohibe que se faça na seira a queima das lenhas para carvão, deterininando
que esta se pratique no povoado. Seguem-se-lhe as poshlras da Câmara Municipal de
Ponta do Sol de 1839, em que se prohibe o corte das ramas de vinliatico; a de 1840,
riiiiltando os que cortassem lenhas verdes da borda do Paul da Seira para baixo; e a da
do Funcbal, e111 que se dii protecção aos arvoredos e prohibe a pastoreação de cabras
e porcos na serra.
Devem ser d'esta época (1 840) as posturas das Câmaras de Macliico e Santa CI-LIZ;
que não teem data, mandadas compilar ein 1853 pelo Governador Civil do Funclial
João Silvei-iode Ainoriin da Guerra Qiiaresina; referem-se i construcção do bardo do
Concelho e consideram livres as iiiattas onde o povo costumava abastecer-se de lenha
e mano, proliibindo o corte das arvores silvestres e arbustos existentes nas cristas dos
montes ou sobranceiras 5s estradas; das que estejam a i-ilenos de 150 passos de qual-
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

quer nascente; dos adernos, barbusanos,' cedros, loureiros, teixos, tis, paus brancos e
vinhaticos.
Apparece-nos n'esta altura a lei de 12 de novembro de 1841, que toma extensão às
ilhas, no que lhe for applicavel, o alvará de I 1 de abril de 1815. Pela postura da
Câmara de Câinara de Lobos de 1841, ini~ltava-sec apprehendia-se a carga aos
lenheiros e carvoeiros que se não inscrevessein na sua regedoria; ficando obrigados a
entregar uina certa quantidade de baga ou bolota de quaesquer arbustos, cujo produc-
to era destinado ã inanutenção da arborisacão das serras.
Temos, a seguir (ainda em 1841), as posturas caniarárias: de Sanl'Anna, deterrni-
nando a construcção d'uin segundo bardo no interior da serra para preservar dos gados
as temas cultivadas de semilha (batata); a de Machico, deterrniiiando a inscripção na
Cârnara Municipal dos gados que anda111 a monte; e a de Santa Cruz, inai~daiido
arborisar as margens das levadas e proliibiiido a cultura nos leitos das ribeiras scin pre-
via a~ictorisacãoda Câmara. Depois, em 1842, a da Ponta do Sol em que se deteriiii-
na que se não corte inatto no Pai11da Serra até ao fim de 1845, para qiie se ilão destrua
a rebentaçzo do arvoredo devorado por Liin incêndio ein 1838; e a da Callieta, protc-
gendo as arvores dos logares públicos.
Em 1846, a da Câmara de S. Vicerite prohibiiido apanhar a raina de vinliatico para
o granjeio dos inhaincs antes do primeiro d'abril; ein 1844, uma da de Sant'Ailiia rel-
ativa ao gado caprino e Iaiiígero e outra da do Fuiiclial ein que se inandava pôr eni
praça o gado encontrado nos caniinlios ou ein propriedade pai.ticular e qiie não fosse
reclamado no praso de 3 dias. No alino seguinte, outra postura da Câiiiara do F~inclial,
proliibia a introducçã0 no Coiicell~ode toda e qualquer quantidade de lenha ou rainas
de vinliatico ou de loureiro; na Ponta do Sol piohibia-se o esgalhainento dos vinhati-
cos e dos loureiros, excepto quaiido fosse para o cultivo da vinha; em 1846, iima pos-
tura da Câmara da Calheta gratificava os lavradores qiie plantassein arvores coin 500
réis por cada alqueire de terra plantada, e nomeava uns ii-idividuos coin o noine de
inspectores de agricult~ii-a,para vigiareni os guardas caiilpestrcs a cargo de quein esta-
va a policia nas serras; n'uina da do Fuiichal, proliibia-se a entrada de iiiadeiras no
Concelho sein que o coite tivesse sido approvaclo pelo Coiisellio de Districto, einbo-
ra auctorisado pela Câinara do Concelho onde se eflectuasse o corte, isto para que a
madeira não podesse ser exporlada; e111 1847 a mesina Câinara reformava o bardo do
Concelho, dando-lhe uina nova direcç5o.
Em 1848 prohibia-se no Concellio de Câiilara de Lobos, a entrada 110s pinliacs par-
ticulares sein licença do dono e a coi-id~icçãode productos florestaes sem o clocuinen-
to comprovativo da sua legitima acquisição, e no de Sant'Anna, que os alambiques
consiimissein madeira no seu aq~iecimento;em 1849 a Câiiiara d'este concellio deter-
mina que não se corte liiadeira de qualidade alguma i10 sitio cio Ribeiro Frio e em toda
n sua encosta até ao Furado e Lainaceiros, e prohibe a co~iducçãocle ferramenta para
estes sítios sem Luna guia do regedor da freguesia d'oiide sahiu. N'esle inesiiio anilo,
a Câmara do Funchal, providenciava acerca da existência do gado na serra e delernii-
nava as condições em que os cercados deviam ser feitos: eni CÊinlara de Lobos, uina
postura intitulada para os dainnos nas serras e arvoreclos) considerava caca coii~~i~uiii
o gado que se encontrasse solto depois dc 1 de seteinbro, dava as suas iilstrucções
acerca das condições a que deviam satisfazer os cercados na serra, e prollibia expres-
sainente o corte, venda ou LISO de madeiras denorilinadas de contas, (vinhatico,
loureiro, til, pari-branco, aderiio, teixo, cedro, folliado, barbusano, faia, urze). Na
Ponta do Sol, em 1832 obrigam-se os donos ou colonos das terras não amuradas e não
cultivadas de vinha, que confinem coin os caminhos do Concelho, a plaiitarein arvores
a o loiigo d'estes de 30 em 30 pal~nos.Estas posturas que se fizeram enl todos os
Concelhos da ilha e das quaes apenas mencionei uni ou outro artigo que ine pareceu
tnais interessante, visavam a iinpedir que continuasse a devastação dos arvoredos nas
serras que estavam dentro dos limites dos mesmos Concelhos. Pena é que o seu
cuinprimento tenha sido tão ephemero como o das leis anteriores.
V e ~ ncorifirmar esta triste verdade a acta cla sessão do Coiiselho Districtal de 26 de
junho de 1849, que julgo interessante transcrevei; para que se avalie a pouca coinpre-
liensão que tinhani, não só o poso mas ate as pessoas mais iinportantes da ilha, do
beneficio enorme que Ihes adviria da arborização das sei-ras, que elles contrariavaili
como se vê pelo seguinte: "Estando quasi extinctas as iiiattas d'csta ilha e não sendo
possível pôr teimo a esta calainidade, nem por iiieio das leis, nein pelos esforços
eil-ipregados pelas a~ictoridades s~iperiores, porque pessoas das principaes dos
Coiicelhos são os infractores de todas as providcncias protectoras das matas eiisinan-
d o e geiieralisatido os ineios de se coinnietterein essas infracções; e sendo necessário
por t e m o a tão grande inal, que tein já devastado quasi todas as serras d'esta ilha,
seccando fontes, despindo as montanhas, coin prejuízo da cultura, das vias de com-
iiiuiiicaç&oe das povoações apenas por utilidade dos infractores que pouco l~icrain
eni coi~ipaiação dos prejuízos que acairetain; acordaraw e deliberara111 os do
Concelho o seguinte (fi~iidadosno Regiincnto de 1562): 1. Enquanto se não restab-
elecerem as iiiattas da ilha não se concederão licenças para corte nas serras. 2. E pro-
hibido passar madeira d'uin Concelho para outi.0. Except~ia-sea que estiver já corta-
da com licença, iiias que deve passar só dentro d'uni inez, depois da publicação dkste
acordanl pela imprensa".
A devastação continuou, dando este facto origem a uina circular de 12 de setetn-
bro de 1862 em que o Secretario Geral Antóiiio Lopes Barbosa d'Alb~iquerquefez
saber ás C5inaras Municipaes da ilha, que o Conselho Districlal resolvera por nova-
iiieiite eiii vigor as disposições tornadas eiii 26 de junho de 1849.
N'kiina circular de 27 de inasço de 1865, o Governador Civil Jaciiitlio A. Perdigão,
determina que antes de se effectuarem as vistorias que precedein a coiicesslo de
liceriças para corte d'arvores, as CAniaras Municipaes torileili publicas por editaes
coiii antecedência de 20 dias estas preteiições e o dia eiii que se effectuara a vistoria;
coiividando os interessados n reclainarein no prazo de 8 dias. Estas reclamações seri-
am julgadas pelo Coilce1l.10 do Districto.
Pelo Decreto de 25 de novembro de 1886, foi approvado o Plano da Organização
dos S e i ~ i ç o Florestaes,
s pelo qual as iiiattas e os terrenos arborisaveis que deviam ser
reduzidos à cultura florestal no Districto do Funchal, ficaram coiupreliendidos na cir-
ci~iiscripçãoflorestal do Sul; não tendo, n2o obstante, a Dirccção das Mattas erectii-
ado ali quaesquer traballios, nein tido interferência alg~iina.
A Organização dos Serviços Agrícolas, approvada por Decreto de 29 de outubro
de 189 1, divide os Serviços Florestaes eiii dois gi-irpos: 1. Ordeilainento c exploração
das inattas do Estado. 2. Revestimento das inontarilias, terrenos incultos e fixação das
dunas pela arborisação. A ilha da Madeira como terreno montanlioso ficoit coinpre-
I~endidaii'este ultimo grupo.
Por Portaria de 3 de jullio de 1897 foi, a pedido da Junta Geral do Diçtricio, para
o ~ u n c h a luin regente florestal auxiliado por alguns guardas, para toiiiar a direcção
do serviço e cotiservação das mattas da ilha; limitou-se este a tiscaiisar o cumpriineii-
to das Posturas Muaicipaes existeiites e procedeu a demarcação das propriedades par-
ticulares na parte oiide confinam com a serra, a fiin de organizar os tombos das
Câniaras Municipaes.
Ein cutiiprimei~loda Portaria de 23 de marco de 12298, esteve na Madeira ern mis-
são de estudo o Ex.ino Sr. Eiigeiilieiro-silvicultor Júlio Mário Viana, que estabeleceu
o que de orgailisado ainda lá existe: forain estabelecidos dois viveiros, utn no Poiso e
outro nos Prazeres, destiiiados a abastecer os diíTerentes Coricelhos da illia, e inan-
dadas semear e plaiitar de estaca aivores e arbustos expoiltâiieos nos logares mais
propícios 21 sua i~iulliplicação;inas pela falta de recursos das Câmaras e ainda por out-
ras causas, 1150 se deu integral cumpriinento a estas benéficas disposições.
Pela Orgaiiização dos Serviços Florestaes e Aquicolas estabclecida pelos Decretos
de 24 de dezembro de 1901 e dc 24 de dezembro de 1903, o serviço de arborisação
das serras do Coiitii~eiitee ilhas adjacentes foi dividido em trez regências: a da Serra
da Eslrella, a do Gerez e a das ilhas, onde ficou coinprehendida a Madeira.
O Decreto de 15 de maio de 19 L2 oi-ganisou a Junta Agrícola da Madeira e entre
outras obrigações iinpoz á inesma, i10 seu artigo 3.11" 5, a de proceder ao povoamen-
to florestal dns serras e o estabcleciinento d'uma efficaz policia rural.
Pelo Decreto de 8 de inarço de 1913 foi approvado o Regulainento do serviço da
policia rural e florestal no arcliipelago da Madeira, que dividiu a ilha em dois cantões
e creou um corpo de guardas de policia, pago pela Junta Agrícola da Madeira.
Pela Orgaiiizaçiio dos Serviços da Direcção Geral da Agricultura de 9 de julho de
1913 foi a Madeira compreheildida na 4" secção florestal, constituiildo a 160 regência
coin sede iio Funchal e tendo sob a sua alçada todas as mattas existentes no Districto.
A lei de 23 de julho dc 1913, regulai~doo sei-viço de concessão de licenças para
pastagens de gado suíiio e capriilo 11a illía da Madeira, considera caça cominum todo
o gado encoi~tradoila serra sein licença.
Por Decreto de 28 de maio de 1914 foi approvado o novo Regulamento do serviço
de policia rural e florestal do arcliipelago da Madeira, inodificando o anterior com o
fiin de o l~arinonisar com a nova organisação dos Serviços da Direcção Geral da
Agricultura,
Fiilalmeiite, o Decreto de I de inarço de 1918 dissolveli a Jiinta Agrícola da
Madeira, substituiiido-a por uma coiiimissão adiniiiistrativa, e passando os seilriços a
cargo d'aquella para a Junta Geral do Districto do Funclial.
Ein vista do estado e111 que se encoiitra o arvoredo na Madeira, reconllece-se que
s6 0s ServiFos Florestaes dispõem dos meios iiecess~riospara kvar a effeito 0 reves-
timeilto florestal da ilha, que é tanlo para desejar.
(...I
CAPlTULO 111
RE VESTIMENTU FLOIWSTAL

A região iiioiitanliosa eslá coiupi-eliendicla nas 3 ." e 4." zonas culturaes; sendo aque-
Ila a-que mais iios interessa sob o ponto de vista florestal, visto n'ella se eiicontrarein
as especies ilidigeiias que podei11 ser exploradas coiiio productoras de rnadeira; assiln
como e111 graiidc parte as acliinaclas, apezar de Ricliard Lowe as incluir exclusiva-
iiicnte nas I .O e 2 O zoiias da stia c l a ~ ~ i f i c a ç iD'aquellas
í~. zonas, apeiias uina 11eq11e-
lia parte esta povoada de especies Iloreslaes, predomiiiaiido o piiiheiro bravo.
As esseiicias iiidigciias productoras de preciosas msiclciras: o viiihatico, o til, e
aiiicla o acleriio, u Iòlliaclo, o loiireiro e outras, que outr'ora cobriaiii a ilha quasi por
coiiipleto, coi~iorelcieni os vcllios cliroiiislas, e c~ijacoiiservação foi ci~idadosaineiit~
atteiidida por iiiiia extensa legislação que niiiica Iòi devidameiite cumprida, estão Iioje
reduzidas a proporçdcs inini~iias. D'ellns cxistciu apenas act~ialmeiite alguns
pequenos povciaiiieiitos dispcrsos, cios quaes os mais iiiiportaiites são os da Serra de
Boa Veiitura, da Ponta Delgada, do ,4110 ela Ribeira de S. Viceiite, cla Serra do Pôrto
do Moiiiz, cla p i t e iicirle da Ribeira dc Macliico, e o existente na margeiu direita da
Ribeira da .laiiella nas proxiiiiidadcs do caiiii~iliodo Faiial.
A clevastacão a que leeiii estiido 1x1~ l i t i i t ~ai111os
s expostas as maltas da Madeira te111
recliizidc, a este clcyiloravcl csladn s soberbas florestas priii~ilivas.Q~ieinatravesso11
algiiina vcz os pcssiiiios cniiiitrlicis do interior cla ilha, teve occasi5o de ver estos de
arvores seciilarcs reduzidas a carvão e outras cortatlas para d'ellas se fi~zereiiigros-
seiros utensilios doriiCs~icosc inacleiia, coiiio alguidarcs, eic. !
I-Iouvc eiii tcinpo grniitlc co11~111iio d'cslas tuacleiras, iião para obras de mnrcciiaria,
mas tainbciii em corist~*~icç.õcs; ossim: o til era empregado em iabtindo. c111 caixas para
assuear, siinllios, madres c combiistivc! para eiiyctilios; do viiiliritico h~iniii-secaixas
para roupa e insiiç iiiobilia; o acleriio tisava-se iio Ilibiico de pipas para o inelaço e para
o viiilio; o hlliatlo Iàziaiii-sc arnioções para ciisas; do azevinlio, csibos para iiiacliados;
do bnrbiiscilio, iriiichfics para 11s Inlaclas; das Lirzes fabricava-se cnrviío liara os ferreiros
e ]>araos tisos cloiiicsticos. I-lqje, apexnr de cluasi niilla a exploracão 'eslas esseiicias,
aincla sc Iàzciii cl'cllris nlgiiinas obras tle iiinrceiiaria no Fuiiclitil.
O viiiliatico c o til são as cspccics iiidigciias verdadeimente iiuportantcs; coinquaii-
to 1i;ijn outras pcqliciias iirvorcs, como o inocano, o azcviiilici, ctc., qtic tambetn siío
ciiiprcgatlns lia iiicrcciiariii, 1Jrii.a a iii;iiiii1't1c~~ira
dos embutidos tão caractcristicos da
iiicltistrie iiiadeirensc.
Das çspccics ticliinatlris que se eiicontraiii nas 20 e 30 zoiias, é o priiilieiro bravo
(Piiiiis piii;istci; Sol), a cssciicia cliie constitue ~irincij.ialiiieiitcos povoameiilos que
eobiciii a região I1orcst:il ela illia; Iiilveiid~aiiicla a considerar o carvalho (Querciis
R«l~~ii; L.), o castanliciro (C'astaiica. snliva, Mill.), a robiiiia (Robinia pscuclo-acacin,
L.), as acacias (Acaia Mclanoxyloii, R. Br,, A. rctinoitlcs, Schlcchl, A Iopliaii'n, Mill,
A. tlc:ilbnt:i, I,I<.), o c~ictilypto(I;iicalypL~isglobulus, abill) e o piiiliciro (Ias Canarias
(Piiitis canariciisls, C'Ii. Smilli).
0 piiiliciso, cltic vive iiii I'acli;~coinpiclienclitla ei1ti.e 550 e I :O00 iiielros tl'nltit~ide,
6 cultiv~id»iia M~iclcii.ada fiirmri scgiiiiite: tlcpois clc qiieiiiiado o malto, seiiicia-se o
pciiisco c o cciitcio, tciitlo ;I tcrrn sido ou iifio cavacla aiilcrioriiienle; no iiiiiio scguiiile
cultiva-se ainda o centeio; depois seguem-se os desbastes e as limpezas e Innalinente
o corte final, que é razo, aos 15 ou 20 annos.
O comprador é que ordinariainente semeia o novo pinhal, sendo o peiiisco foiqeci-
do pelo dono e ficando aquelle com o direito de cultivar ceiiteio durante u n ~ou dois
arinos no terreno do pinhal abatido. 0 s desbastes e limpezas do pinhal são pagos pela
iinpoflância da venda dos productos da propria limpeza: varas para tutores e latadas,
e a caruina, que é i i ~ ~ ~einpregada
ito na Madeira como combiistivel nas padarias. Dos
desbastes, resulta uma grande quantidade de lenha; que é transportada ein zorras, ali
cliainados "còrças", para a cidade e para as villas, onde tem grande consumo.
Estas zonas são feitas de troncos de pinlieiro, e aproveitain a fòrça da gravidade
como motor nos caininhos ein declive, sendo puxadas por bois rios planos. Os cortes
finaes dão madeira para coilstrucções, a que cliainam na ilha "pinho da terra" para o
distinguirAdo Pitcli-pine (Pinus rigida, Miller), iinportado em grandes quantidades da
America para o mesino fim; aquella, sendo de qualidade bastante inferior, satisfaz
todavia e m iiiuitos casos altendendo á vantagem de ser inuito mais barata.
O castanheira segue-se ein importai-icia ao pinheiro, tendo existido explendidos
soutos ein toda a ilha, nias especialmente no Estreito de Carnara de Lobos, Curral clas
Freiras, Serra d'Agua, Santo da Serra e Camacha; ein 1855 sofYseram grande devas-
tação devida a uma doença analoga, senão identica, á da otinta de escrever", segundo
n auctorisada opinião do douto professor Verissimo d'Almeida e do distincto engen-
heiro silvicultor, o Sr, Mendes d'Almeida. D'aqui resultou desapparecerem os castail-
heiros de iiluitas pastes, sendo para notar que nos ultimos anrios teem rebentado as
touças e alguns troiicos coiisiderados sêccos que tinliain ficado de pé.
Esta madeira é muito einpregada para estacas de "corredores de vinha" (como ali
chamain as latadas), para moveis, constmccões, etc.; e ainda mais o era antes da
importação em grande escala das madeiras americanas, que a teein substituido em
niuilos usos.
O fmcto d'esta arvore tem uiná grande iinportaiicia por isso que constitiie o ali-
mento q ~ ~ aexclusivo
si dos habitantes de varios pontos do interior da Madeira, durante
muitos iliezes.
O cai-valho existe espalhado por toda a ilha de mistura coin as outras essencias, pre-
donii~iandocoiiitudo ein Sant'Ana, onde teli1 soffrido nos ultiinos annos grande dev-
astacão produzida pelo Oidiuin quercini, Tliusen. Einpregain-no em obras de niarce-
naria, construcção de barcos, etc.
Das especies ultiinanleiite iritroduzidas, teeiii-se feito ensaios coin boi11 resultado:
da Robiiiia pseudo-acacia, da - cacia Melanxylon, da A. retinoides, da A. Iophailta, da
A. dealbata, do Pinus cailarieilsis e do Eucaliptus globulus. Este ultimo teiii-se deseii-
volvido inuito bein, llaverido alguns povoamentos que attingem altitudes consider-
aveis
Teiido descripto o actual revestirneiito florestal da ilha, é indispensavel dizer
tambein o pouco que lia sobre as pastagens na inesiiia, que como é sabido, tem ultima
ligação coih aqueile
Na Madeira não existe111 propriainente pastagens naturaes, mas apenas Iiervagens,
as plaritas fosragiilosas estão espalhadas por todas as zonas acima inencioiiadas, mis-
turadas com outras, e assiin são aproveitadas pelos gados.
Encontrain-se ein niaior quantidade na Ponta de S. Lourenço, nas beiras do Paúl da
Sema, eni algumas escarpas marititiias e nas alturas da Cainacha. Os creadores vêem-
se ein diFtictildades para siistentar os seus gados em consequencia d'esta dispersão das
plantas forraçiiiosas, vendo-se obrigados a lançar iiião de outras plantas menos ali-
menticias, ein prejuizo manifesto da nutriçgo e desenvolvimento do gado.

CAPITULO IV
hlEDIDÍISA4ADOPTAR PARA 0 PROGRESSO FLORESTAL DA ILHA

Pelo exposto se vê o estado a que se acham reduzidas as inattas da Madeira e qual]-


to s e toma indispensavel cuidar d'ellas; visto que o seu desenvolvimento constituirá
certan-iente urna grande riqueza iiacional. Para isso lia primeiro que tudo a desenvolver
a policia florestal, que é sempre a base de todo e qualquer trabalho litil de arborisacão,
porque é o obstaculo inais efficaz a oppôr á devastação das plantações novas e dos
povoamentos, praticada, m~iitasvezes até por mero espirito de destruição filho da siia
iminensa ignorancia e ~lialdade,pelos habitantes das nossas povoações serranas.
A policia rural e florestal n'aquela ilha, regulamentada por Decreto de 8 de marco
d e 1913, é constituida, sob a direccão do regente florestal da 16." zona, por 3 chefes de
g~iardas,5 guardas a cavallo e 25 a pé: alêrn d'estes, fazem parte do mesmo corpo de
policia os guardas florestaes e campestres ao serviço da Junta Geral do Districto e das
Cainaras Municipais. Para os effeitos de policia, está a ilha dividida em 2 cantões,
cujos limites terrestres são: as ribeiras dos Soccorridos e do Porco; o primeiro é con-
stituido pelos terrenos de Leste e o segundo pelos de Oeste. Existein 20 casas de guar-
da, assiiu distribuidas pela ilha: no Concelho do Funchal, a da Ribeira das Calles e a
d a Barreira; no de Cainara de Lobos, a da Eira do Serrado e a do Jardim da Serra; no
d a Ribeira Brava, a da Rocha Negra (Seira dlAgua); i10 da Ponta do Sol, a do
Arreùentão, no da Calheta, a do Piiilieiro de Fóra e a da Fonte do Bispo; no do Porto
d o Moniz, a do Cabeço da Pedra, a do Pico da Furna e a do Pico da Pedreira; no de S.
Vicente, a do Curral dos Burros, a do Lombo do Cinzeiro e a do Pico do Meio Dia;
n o de Satit'Anna, a do Ribeiro Frio, a do Assuinadouro e a das Queimadas; no de
Macliico, a do Ribeiro da Ponte e a dos Lamaceiros; e 110 de Santa Cruz, a da Meia
Sei-ta. Cada uin dos guardas tein em iiiedia uns 30 Kilómetros quadrados de terreno
s~ijeitos?I sua vigilancia: area evidentemente demasiado grande para poder ser devi-
damente fiscalizada; tanto inais que, sendo o terreno muito accideiitado e coberto,
torim-se mais diflficil essa fiscalização. Pelo reg~ilamentodevem estar distribuidos
cavallos aos chefes e a ciiico guardas; estas moritadas concorrem para melhorar o
serviço de fiscalização, mas haveria toda a convenieiicia na sua substituição por gar-
raiios oriundos da Madeira, eininenteinerite proprios para percorrerem os ii~vioscam-
iiihos da illia.
Está actualmente a cargo do inesrno pessoal, aléin da policia florestal, a rural; o que
ainda augiiienta mais a diillculdade de desempenhar bem o serviço e está em desliar-
inonia com a inaneira como se procede 110 continente. Convem pois que o sei-viço de
policia rural seja desempenhado pela Guarda Nacional Republicana, que já existe na
Madeira.
A policia florestal deve passar a estar uiiicamente subordinada á Direcção Geral dos
Serviços Florestaes; porque a Junta Geral do Districto do Funchal, de que actualmente
depende, sendo formada por elenientos eleitos e por conseguinte politicos, não tem as
qualidades indispensaveis para exercer unia acção administrativa conveniente.
Estabelecida que seja a policia, devem começar os trabalhos de rearborisação, com
o fim de se assegurar a estabilidade dos terrenos das serras e das encostas da Madeira;
e a arborisação das bacias de recepção bem como as obras necessarias para que se reg-
ularisem as ribeiras da ilha, todas torrenciaes, modificando-se as condições climater-
icas e aiigmentando-se assim o volume d'agua, tanto superficial como subterraiieo.
Esta rearborisação deve fazer-se conservando as aivores existentes, e fazendo plan-
tações e sementeiras nas partes despovoadas, compreliendidas na Brea circuinscripta
pelos bardos do Concell~o.N'èsta área devem ser subinettidas ao regiineii florestal nos
termos dos Decretos de 24 de dezembro de 1901 e de 24 de dezembro de 1903, todas
as mattas de essencias indigenas, que pertençaiii ao Estado, bs Cainaras Municipaes,
a quaesquer outras entidades, e mesino as dos pai-ticulares. Devem ficar sujeitas ao
mesmo regimen todas as mattas situadas ew declives escarpados e regiaes de
nascentes, bem como aq~iellascuja arborisação deva ser coilservada com o firn de cvi-
tar quebradas e outros prejuizos, ou que sirvam de protecção e abrigo a fontes e
nascentes.
Em seguida deverá proceder-se ao arrolanlento dos terrenos a que acima iiie refiro
e ao levantamento das respectivas cartas florestaes.
Ultimados estes serviços, deverão os iiiesnios terrenos imediatamente ser submet-
tidos ao regimen florestal total, parcial ou de simples policia, sendo devidaineiiie ver-
ificados na occasião os titulos e ouiros diploinas de posse das propriedades.
Os trabalhos propostos terão um grande alcance economico; porque, ein parte, o
arvoredo deseinpenhará a iinportantissima f~iacçãocle proteccão as escarpas, evitando
as quebradas actualmente tão frequentes na Madeira; regularizara os cursos d'agua; e
diminuirá, e mais tarde dispensará, a saliida do ouro destinado ao pagamento da
grande qiiantidade de madeiras de constniccão, inlportadas actualincnte da America
do Norte.
Para effectuar os irabalhos de arborisação, convir8 ernpregarenl-se de preferencia
as essencias indigenas abaixo descriptas: o Vinliatico e o til. A estas essencias con-
veern os terrenos frescos e huinidos dos fiiiidos valles da ilha, onde encoiitram o abri-
go dos ventos dominantes.
(..e>

Das essencias descriptas e quc ine parecein as preferiveis para o revestirne~itocla


ilha, distribuir-se-hão pelos terrenos que Ihes í'oreiii inais apropriados: prinieiro as
essencias indigenas pelo grande valor das suas madeiras, depois as aclimadas pelo
ainda muito consideravel valor dos scus prodiiclos e pela sua perfeita adaptacão ao
meio, e finalinente as inais recentemente iiztroduzidas; cl'estas a mais iinpoi-tante é o
pinheiro das Canarias, que é por certo u111 dos elenieiitos inais recoinineiidaveis lia
repovoacão florestal da Madeira, visto o cliina d'estn ilha ser iniiito seinelliarite ao das
Canarias, paiz de origem d'este pinheiro e onde elle apresenta, assim como ein toda a
zona mediterraiiea onde tem sido empregado, tantas e tZo gramlcs vantagens.
Arborisadas as encostas e as bacias de recepção; deffendido do gado o dese~ivolvi-
mento das plantas expontaneas, e foinentado este para que se forine i~niaespessa
manta viva que retenha as aguas das chuvas; construidas sebes vivas e pequenas bar-
ragens para a regularisacão dos cursos d'agua, impedindo-se assim que se formem as
enchunadas, cuja acção devastadora se tem feito já bem duramente sentir na Madeira;
restar-nos-ha empregar os meios necessarios para se evitarem os estragos produzidos
nas plantações novas, especialmente pelo gado caprino, promovendo a substit~iição
d'este pelo vaccum.
Para sustentar este gado é necessario crear pastagens para as quaes são muito con-
venientes as pastes altas da ilha, como o extenso planalto do Paul da Sei-ra, locaes emi-
nentemente proprios para esse Fim pela altitude elevada e cxposição aos ventos huini-
dos do Oceano.
Como é sabido, pastagem não é corno se diz vulgarmente toda a superficie que se
cobre de hervas que o gado approveita; é preciso que este revestimento se conserve
durante todo o anno para que constitua uina pastagem natural. As que seccain de verão
por não terem condições proprias para se inantereiii ii'essa quadra do anno, cliainam-
se liervagens; embora o alimento que estas fornecem seja de inferior qualidades teem
ellas impostancia pelas suas grandes extensões e portanto pela grande quantidade de
forragens que produzem.
Toda a região da ilha coinprehendida entre as altitudes de 700 a 1.500 metros deve
possuir agua em quantidade suficiente para perinittir a existencia de boas pastagens;
visto que, segundo a opinião do Ex.m Sr. ei~geiilieiro-silvicultor A. Mendes
dYAlmeida,são para isso bastantes pouco mais de 1.000 milli~iietrosno continente de
Portugal, e a Madeira, se é certo estar mais a Sul, tainbein 1x1todas as razões para sup-
pôr que pode contar com I .SOO a 2.000 inilliinetros de chuva, senão com niais. Pena
é que não liaja observatorio ~iieteorologicoii'aquella zona para que sobre observações
rigorosas se podesseiii assentar estas conclusões.
O Planalto do Paul da Serra está em excellenles coiidiçõcs para n'elle se fazerem
explendidas pastagens capazes de sustentar milhares de cabeças de gado; visto que
tem uma s~iperfíciede 3.000 a 4.000 hectares, hoje quasi coinpletameiite escalvada
onde apenas existein grandes inoitas de feiteira aproveitada para fazer cainas aos ani-
maes; esta ii'uina altitude elevada, coni nevoeiros constantes; e é cortada ein todas as
direcções por nuiiierosos pequenos cursos d'agua.
A seguir vem o Santo da Serra, o segundo planalto da ilha, onde existein além das
partes que estão cultivadas e arborisadas, extensas planicies nas melhores condições
parauma próspera prod~icçãopascigosa. Existein ainda muitos liactos de terreno dis-
persos pelas encostas que poderiam ser vantajosaiiiente aproveitados para a ciilt~ira
das plantas forraginosas, expontaneas ou acliniadas. Entre eshs 1x1um grande nuinero
que tendo muito valor pascigoso conio: o Anthoxanthuin odoratum, a F e s t ~ ~ ovina, ca
a Poa pratensis, etc., que crescem em abundancia I I ' L I I ~ou n'outro poriio da illia.
Pelas excelleiltes condições cliinatericas da Madeira torna-se extretnaineiite facil a
propagação e disseininação das especies fonagiiiosas que hoje ali vivem liinitada-
mente; desde que a sua culhira seja ~~ietl~odicaiiiente feita e beiil dirigida.
Para que se melliorein as pastagens naturaes é iiecessario o estabelecimento do reg-
inien pastoril, pois só o Estado pode, analogamente ao que faz 110 florestal, levar a
effeito essa grande obra de protecçc?~ 6s pastagens; pela arborisação dos declives rapi-
dos e do solo que não se presta ao enrelvaineiito; pelos indispensaveis traballios de
constr~icçãoe pelo alargamento das relvagens empregando a cultura pastoril; são pre-
cisas tainbein a instnicção das populações serranas, para que melhorem e auginentem
as mesinas pastagens; e a creação de jardins e campos de ensaio, onde aprendam a cul-
tivar e a diffundir a hoje circuinscripia flora alpestre. Pelos jardins de ensaio se con-
seguirá acliinatar as plaiitas das zonas inferiores, transferindo-as s~~ccessivame~~te
para jardins d'altitude sriperior Estes jardins seivirão tambein para a producção e mel-
horamento das sementes alpestres, que se modificam de regi50 para região e que n5o
existem no cominercio.
E assim se poderão extinguir os porcos c as cabras na serra sem que o seu desap-
parecimento, gradualmente feito, prejudique o lavrador, A conservação dos porcos é
mais um habito do que Lima necessidade; pois estes animaes, cujo nuinero é ja inuito
reduzido, pouco interesse dão pela sua pequena corpolencia e dificil engorda. Com a
cabra não succede o iiiesmo, pelos lucros que, com iiina despeza minima, d'ella se
obtem, resultantes da venda da carne, das crias e das pelles respectivas. A siia substi-
tuição porei11 pela vacca que causa muito menos prejuizo e é de muito inaior utilidade,
sobretudo pela producção do leite, não pode deixar de ser uni beneficio para o
lavrador. A industria da madeira e outras derivadas do leite, como a dos queijos, estão
já bastante desenvolvidas na Madeira, não sendo por isso difficii hoje convencer os
serranos das enormes vantagens que d'ellas Ihes provirão e que de certo conlpensarão
bem a falta d'aquelles animaes.
As cabras pode111 aliás ser conservadas, com todas as vantagens para as pop~ilaçõos
dos Cainpos que llies são inherentes, cointanto que passem ao regimen de estabulação.

1" Convém que passem todos os serviços relativos á conservação das maltas e
arborisacão da Madeira a ficar. para todos os eifeitos, sob a acção directa da Direcção
Geral dos Serviços Florestaes.
2" É necessário o estabeleciineiito de observatórios ~neteorológicosein niiinero suf-
ficiente e convenientemente distribuídos ein differentes poiilos da illia.
3" É de urgente necessidade o pioinover-se o revestimento florestal das partes altas
e das encostas da Madeira, dentro da 30 e 40 zonas, aproveitando as essências indí-
genas e as accliinadas de maior utilidade.
4" É inuito preciso dar-se desde já exacto ciitnpriinento ao regulaine~itode policia
florestal, tendente á prelecção dos arvoredos e á extincção dos porcos e cabras na
serra. ,
5' E da inaior conveiiiência o aproveita~nentodos planaltos da ilha para pastagens
nahiraes,
Lisboa, 29 de Dezeiiibro de 19 19.
João Henriques Cai~laclio.

[João Henriques Cainacho, Notas para o estz~doda ~scirbor~ização da ill~ndo


Madeiro- Dissertaçfio innz~gtrrnlapi*eseniado no concellio Escolar para contple-
nlento do czirso de e17genheiro-silvicz~ltor.,Lisboa, 1920, pp.37-43, 54-57. ]
REGIME PASTORIL - ILHA DA MADEIRA[19421

Na ilha da Madeira, tirando as espécies pecuárias consideradas sedentárias da


zona agrícola e urnas centenas de cabeças da espécie bovina apascentadas nos planal-
tos durante os rneses iiiais quente, o gado restante ou seja O que vive permanente-
mente a solta nas seiras não tem nenhuiiia ligação aceitável com a agricultura. E as
excepções que existem iigo são de monta, pois são pouco nuincrosos os casos de
recriação.
Este gado solto vai vivendo numa situação de facto, perseguido por todos os que
têin terreiios cultivados e os seus proprietários, designados na ilha coino pastores, são
os primeiros a declarar que a importância do rendimento das suas rezes é diminuta,
incerta, nula ou inesmo em muitos casos negativa, reinando nessa exploração uina
verdadeira desordem, ciija expressão psicológica e causa priinária é o facto de o pas-
tor não acoinpaiiliar constantemente o gado, como sucede no rnileiiário regime pas-
toril do Coiitinente.
Os "vigias" ou "espias" que ali o guardam, e só durante o dia a tal se dedicam, são
nomeados entre todos os componeiites de cada comunidade de pastores. Todos os
dias se revezam e o encargo vai assiri? comendo do primeiro ao últiino dos iiiteressa-
dos 110 co1npascLIo.
Acontece porém que nenhum desses pastores pode encarar a tarefa da vigilância
como ofício, 1-esultando daí esquecerem ou não cumprirem a risca a inissão de que a
coiilunidade os encarrega temporariamente. De resto esse trabalho limita-se quase só
A contagem do gaclo e suas crias, bem difícil de ser feita com rigor uma vez que o
aumento se encontra disperso e só é "ars~ii~iado" pela altura da tosquia, isto e, uiiia
OU duas vezes no ano.
E se o vigia tein quatro ou cinco miseráveis ovelhas, que essa deve ser a mcdia
por proprietiirio, que estíinulo poderá ter na execução de ~ i i i itrabalho, iia mailliã
seguinte traiisinitido a outrém, e pelo qual não recebe directanieiite paga alguma.
Para muitos dos pastores a posse do gado da serra ngo passa inesino de uin capri-
cho ou regalo, revestindo inuitas vezes o aspecto desportivo. E esse gosto tão natu-
ral corilo antigo no hoinein ilude a todos por completo a noção da cconoinia da
pequeria empresa, à q~ialse não dedicam nem pode111 dedicar iiidividualinente por
falta de capital e sobretudo por falta de recursos pascigosos suficientes. Na verdade,
o valor das pastagens da Madeira diiiiiiiui a olhos vistos e o gado cliega a atingir por
vezes Lim estado de magreza e desalinho que o torna repelerite.
E quantos desiilaiidos e prcjuízos se podein apontar neste sistenia de exploraçiío!
Desleixo, viciação dc sinais, inassacres feitos pelos cães, enfini, o roubo é tainbéin
frequente e as muitas questões que vão surgindo são resolvidas pela violêiicia, ou na
"venda"-desigtiaç2io local da pequena loja de coinércio misto ou no "arruiiie" anual
por ocasifio da tosquia. As desordens entre pastores são muito frequentes nessas
reuniões.
Segundo o arrolamento feito ein Março de 1940 pela Junla Nacional dos
Lacticinios, o núiiiero de cabeças de gado bovino cin pasto livre nas serras era de
485. Mas esta contagem Iòi feita na primavera e por consequêi~ciaa quantidade de
gado bovino apascentado durante o verão continua a ser desconliecida.
O que se passa no Paíil da Serra é exemplo frizante da falta de ordenamento neste
ramo de riqiieza do Arquipélago: as perdas anuais ali registadas numa população
ovina que andará por 6500 cabeças, ultrapassam 10%.
Os ataques feitos pelo porco bravo também concorrein para estes grandes prejuí-
zos I-riesino nos plaiiiialtos, onde é mais eficaz a vigilância pelos "vigias". O porco
da sersa aparece por toda a parte, dentro ou fora do terseno arborizado. Assim, apc-
siir de ser Iiá inuito tempo considerado caça livre, é frequente nos baldios de Santa
Cniz, na Serra das Funduras, nas vizinlianças do Poiso e também no Homem em pé,
Achada do Teixeira, Faiial, Rabaçal e Paíll da Serra.
As ervagens são por ele destruidas e muitas das crias de ovelha são por ele devo-
radas sem defesa possível. Outro tanto iião sucede com a cabra, pois que dele se
defende coiii grande vigor.
O porco da serra tudo o que apanha destrói: novidade de cultivo, as crias de gado
e também a Feiteira-Pteridium aquilinum-que não deixa viver porque a arranca e lhe
come o rizoma e a raiz.
Eiii conclusão: entre o gado ii~anadio,a espécie que mais sofre é precisamente a
que mais valor tein e rnais assistência merece
Reduzir o gado suíno a uni mínimo de reserva genética a deterininar, para o que
seriío destinadas algumas parcelas vedadas de terreno, estabulado ein seguida o gado
capriiio, será feita a reorganização geral do aumeiito ovino. Este trabalho será acoin-
panhado do est~idocla recriação do gado bovino.
A estab~ilaç~o do gado capriiio ficará a cargo de cada uni dos proprietários e dev-
erá estar concluída iio prazo de 1 ano a contar do começo da execução deste plano.
D e f ~ ~ t uor oapascenfan7eiito de gado caprino nas serras será proibido.
O gado suíno capturado, ser8 entregue A autoridade administrativa; o núcleo
restante ficará sendo propriedade do Estado, destinando-se, c01110 foi dito a trabalhos
de inelliorainei-ito.
A orgaiiizaçi?ío do regimc pastoril do gado ovino e bovino nas seuas da Madeira,
ficar6 a cargo dos Serviços Florestais coiii a assistência sanitária da Intendência de
Peciiária do distrito e de acordo coin a Junta Nacional dos Lacticínios da Madeira.
D e u m modo geral, usas-se-a o sisteiiia de rebanhos, permaiienteinente vigiados por
pastores, auxiliados por cães ensinados da raça da Serra da Estrela.
O apasceiltamento ser8 feito 110 ~ L I ~ L I Teni
O pastagens arborizadas.
O s proprietários do gado reunir-se-ão eiil Sindicatos. Os Sindicatos serão organi-
zados telido como base os priricipios de assistência iníitua. Os seus estahitos só
poderiío ser aprovados riiediante parecer favorável dos Serviços Florestais.
Coino o regime de rebanhos a aplicar de futuro constituirá unla novidade na ilha
e para que o trabalho seja bem orientado logo de início, os primeiros pastores serão
enviados do continente e iioineados pelos Serviços Florestais.
O s pastores serão pagos pelos Sindicatos de proprietários de gados. As suas
non~eaçõesfiltilras serão feitas mediante o parecer favorável dos Serviços Florestais.
Todo o gado manadio ser8 inveiitariado e numerado com brincos ou coin inarca a
fogo.
As crias serão numeradas e registadas h nascença.
Os extravios tornar-se-ão assim impossíveis. Com o auxílio dos cães dos reban-
hos, os célebres massacres de ovelhas registados até agora e feitos por animais
daquela espécie, deixarão de ser possíveis.
0 s locais de apascentamerito serão indicados pelos Serviços Florestais.
Só mediante autorização expressa dos proprietários dos terrenos, poderão neles
ser apascentados os rebanhos.
Construir-se-ão os abrigos suficientes para que o gado ovino ai passe o tempo
invernoso. Anexa ao abrigo ficará a habitação do pastor.
0 s abrigos situados em terrenos particulares serão propriedade do dono do ter-
reno, que terá faculdade de os arrendar ao sindicato de pastores interessado. Os que
se construiretn nos terrenos das Coiporações administrativas pertencerão ao Estado.
Quando ao proprietário do terreno fôr impossível construir o abrigo necessário, o
Estado constriii-10-i no teireno público mais próxiino ou no que fôr para esse fim
expropriado.

Ilha do Porto Santo

A reorganização do regime pastoril no Porto Santo tem como base a resolução do


difícil problema da prod~içãode foi~agensnum clima quente e seco.
Prevê-se neste plano a criação de pastagens arborizadas e a coiistruçiio de abrigos,
bebedouros c silos.
O s trabalhos de reorgailização do regime pastoril serão feitos de acôrdo com a
Iiiteiidência de Pec~táriae Junta Nacional dos Lacticínios.
Nos terrenos florestais sb será permitido o apascentanieiito do gado bovino e
ovino.
O apascenlaineiito de gado caprino nesta ilha e illiéus será proibido.
Todo o gado que for apascentado nos terrenos florestais ser8 guardado perinaileii-
terriente pelos pastores noineados mediante parecer favorável dos Scrviços
Florestais.
Tal como na Madeira, os locais de apascentainento serão indicados pelos Serviços
Florcstais

[Jose Maria Carvalho, Plano Complementar do Plano de Povoaincnto Florestal


1942, pp.66-69, 73-76, itl Eduardo de Campos Andrada, Re~~ovoanzc~.rto Florestal
no Arqt~g~élngo da Mcrcleir.a(l9.52-1975), Lisboa, 1990, pp.125-1291
FERNANDO AUGUSTO DA SILVA, 1946

A notável feracidade do solo, a excelente benignidade do clima, a sua riqiieza fio-


restal, a abundância dos inananciais e ainda outras vaiitajosas condições do lileio,
tornaram a Madeira desde o inicio do primitivo povoaineiito urna região de fèiçgo
essencialmente agrícola, quc se n~antéine perdura ha cinco dilatados século^, com 0s
requisitos de unia apreciada prosperidade, em todos os sectores da actividade
humana.
Bastará recordar que cerca de seteiita c cinco por cento dos seus liabitcintes vivem
entregues aos labores do incessaiitc cultivo das glebas, que é por vezes inuito sírduo
e eriçado de grandes dificuldades, devido especialtnente ao inverosíinil aciclei~tado
dos terrenos, como todos sabem.
Era natural, e a força imperiosa das necessidades ocorreiites assim o exigia, quc
largamente se aproveitassen~e merecessem o inais desvelado ciiidado todos os cle-
mentes que contribuíssem para o desenvolvin~entodessa primacial industria e ei~lre
os quais se destacavam em pri111eira.plana-a imediata construção das levadas e n
cuidadosa conservação dos densos arvoredos
Embora talvez hiperbolicainente, ri-ias com um certo pitoresco, se diz algures que
"as arvores são as mães das mados "caininlios viziilhais" ou de siiiiples coinutiicaçiío
entre os diversos sítios encontrain neles apreciáveis elementos de conservação e clc
defezas impedii~doque as águas caudalosos daiiitiqiiein os leitos e os inuros inargiii-
ais dessas vias públicas,
De uin peque110mas interessante estudo, realizado por um distinto regeiitc Ilorc-
stal, reproduzimos estes treclios, que representam unia perfeita síntese das ~nccliclsisa
adoptar para o completo revestiri-iento florestal da Madeira:
"O estabelecimento de um plano cuidadosamente orgaiiizado, tcnclo coino bnsc o
conheciinento fisiográfico de toda a ilba, a escollia de essêilcias próprias do iiieio c
a sua distribuição cuidadosa por todos os vales, a criaçiío de vivciros e de zonas dc
protecção das essências indígenas, a execução de projectos de Iiidrá~ilicaflorestal c
torrencial, o repovoamento florestal com espécies adequadas, s5o eleinentos quc os
técnicos deverão ter eni visla ao elaborar o plano de arborização da illla da Mritlcira"
No decurso deste rápido estudo, procurareinos referir-iios, embora sumariametitc,
a todos estes pontos, que ficam apoiitados.

II-UMA REGIÃO FLORESTAL

Uina constante tradição local e as seguras iilforinações que a história iios olèrcce,
conjugadas com os dados hipsoinétricos da siia tão acidentada orogralia e com viirius
elementos privativos do clima, inostra111 que a Madeira, aleili de ser unia rcgino clc
feipiío essencialineilte agrícola, como fica dito no capitulo aillerior, coiiseiv~ltambCm
as particularidades próprias de uin território de caracter profundaincnte llorcstnl,
embora sem prcj~iízoda vantajosa cultura de outras espécies vegetais ou plantações
agrícolas que as particulares condições cliinatericas notaveliiiente favorecem,
Não será descabido recordar que tarnbéni nas zonas conliiiantes do litoral se
encontrava uma basta vegetação arbórea, o que ao presente 1120seria permitido fazer
se, ein virtude da indispensável aplicação desses terrenos ao cultivo de oiitros
géneros agrícolas, mais proveitosos e mais necessários aos iiiteresses dos Iiabitantes.
Na lililitada área de 500 quilóinetros quadrados teiii esta ilha grandes elevações
tnontanhosas, atingindo alguilias delas altitudes de 1750 a 1860 i-i-ielros,q ~ i ca par de
outras condições mesologicas consentem a forinação de densos arvorcclos, como jh
existiram e de que ainda restam alguns raros inas aut2nlicos vcstígios. Os terrenos
ariveis não excedem a altitude de 700 a 800 iuctros e não ocupani uma superfície
inuito s~iperiora 300 qiiilóinetros quadrados, haveildo uma extensRo relativarilente
grande para a conservação das espécies floreslais. Ein allitudes superiores ás que
ficam indicadas não é coinpensadora a cultura das terras, o que acoi~selliao seu
aproveitamento para o plantio dessas espécies arbóreas e para o exercicio da iiid~~s-
tria pecuiria.
Essas e outras valiosas características abonain justilicadameiile o juízo que fica
exposto e que, alias, se acha de todo confirmado pelas observações realizadas por
alguns técnicos da inais aiitorizada conipetência.
Dessas tão favoriveis e apreciadas condições, da posição geográfica da ilha e
ainda de outros requisitos naturais privativos deste meio resullarn a j~1stil"icac1afania
de cliina privilegiado de que univcrsalmeilte gosa, não soiiiente para a quadra fria e
cliuvosa do Invcrno, luas tanibéni para as estações quentes e leiiiperadas do estio e
da pritnavei-a, segundo a sit~iaçãoe a altitude dos lugares escolliiclos para esse fiin.
Os capítulos subsequetites justilicain também o conceito que clcixainos esboçado
acerca dos particulares aspectos, que a superfície iiiadcireiisc aprcsciita coilío regi30
própria para a formação e coiiscrvaç~ode uina larga c intensa vcgclaçlo florestal.

III ORIGEM DO NOME "MADEIRA"

O iioine de Madeira, que os descobridores ou os inais anligos povoaclorcs dera111


ligado 4 existência do opulciito arvoredo, que ein
a esta ilha, anda iiidissoluvelii~e~ite
toda a exteiis%oa cobria desde a orla do Oceano atE os píncaros das inais elevaclns
eininêiicias. Foi uma bem apropriada e caracteríslica tlcsigiiação, quc scmprc per-
durou através do teinpo e que natural e espo~ilaneame~~te leria acucliclo aos que pela
primeira vez cleko~itara~i~ com essa tão vasta, iiilensa e rica vcgctação florcslal.
Factos subseq~ieiitese ponderosas circunstancias de Seiçno local, vieram robustecer
e coníii~iiara escolha desse iioiiie. coiiio abaixo se ver&,liavcnclo os vellios croiiistas
e escritores, os navegadores e viajantes e ainda os docuiiienlos oficiais coiiíèricla u11-1
c~iiiliode verdadeira autenticidade a essa Ccliz qualiíicaçlo, por nieio dos seiis
nunierosos escrilos e narrativas, alguns dos quais são conletiiporâiieas da priinilivn
época da colonização iiiadeirense.
Eiitre todos, veiii de inolde recordar o assaz coiiheciclo verso cle Caniães-Quc do
iliuito arvoredo assi se cliaine-(V-5), que, seguitido a esteira dos outros escritores,
pemiitiu dar Lima inais larga e brilhaiite divulgação a este tão expressivo nome.
No entretanto, a jfi coiisagrada fi-ase do nosso maior poeta coineça a ter um for-
mal desmentido. Estamos a transitar rapidamente da mais concreta realidade para os
domínios duma pura lenda... O nome glorioso de Madeira, qiie os séculos perpetu-
aram e que a fama tornou universal, vai perdendo a força do seu legitimo uso, esta-
belecendo-se um flagrante contraste entre o seu exacto significado e aquilo que ele
na verdade deveria rigorosamente exprimir.
Não se toinem à conta duma descabida e exagerada hipérbole as palavras que ai
ficam. As nossas florestas estão sendo vítimas do mais desenfreado vaiidalisino.
Parece que o génio do mal arrnado de todos Os elementos de desti-uição se propôs
transforinar as verdejaiites encostas das nossas montanhas na aridez calcinante do
deserto. E' certo que a exuberante fertilidade do solo e as inais favoriveis condições
climatéricas teein parcialineiite obstado a unia coinpleta devastação. inas essa inii-
nente calamidade vai toinando proporções tão assustadoras que, dentro duin futuro
muito próxiino, o mal causado se tornari absolutamente ii~eniediável
E' por isso que um clamor unissoiio se levanta e se faz intensainente ouvir,
soprando de todos os quadraiites um vento j i iinpet~iosode mal contida indignação.
O doutor Gaspar Frutuoso com os valiosos elemeiitos que Ilie forneceram as anti-
gas crónicas e os documentos coevos do descobriinento, infornia-nos: "... a qual
chamaram da Madeira por causa do grande e espesso arvoredo de quc era cobei-ta...".
Infere-se desta narrativa que fora111 os próprios descobridores, que à illia descon-
hecida a que aportarsun, deram o nome de Madeira. Eiii outro lugar diz o mesmo
Frutitoso: "O iilfalite vendo as mostras e ouvindo a relaçilo que da illia eles Ilie
deram, lhe poz o iioine, que agora tem, de ilha da Madeira...". Deve, por certo, enlen-
der-se que o infante D. Metirique se liiiiitou a confírinar o iioine coin que os prinii-
tivos navegadores deiioniinarain a terra que tinliam descoberto.
E ainda em outra passagem das Salidades se aliriiia expressamente que foi o
descabridor JoEo Gonçalves Zargo que a esta ilha cliamo~~ Madeira: "a que o dito
capitam poz noiiie da Madeira". E ainda iiiais ierininariteiiiente o diz ein outro logar
da obra citada: ".. Ilie poz o iioiiie assi o felicíssiii~ocapitalli primeiro dela João
Gonçalves Zargo, por causa do muito espesso e grande arvoredo de que era cober-
ta, e ser toda cheia de infinidade de madeira".
Em um antigo livro inanuscrito da Ciinara Eclesiástica do F~iiiçlial,deparamos
com a seguinte informação, que nBo sesistiinos ao desejo de a iraiiscrever "ipsis ver-
bis", coino ali se encontra.
"Havia muita madeira ila ilha que se serrava coin engenlios de agua, graiides trav-
es, mastros, travetas, cliaprões, cossueiras, que se levavain para iiiuitas partes. Da
banda do Sul não era tanta, porque se queimou muita e a oritra se gastava nos engen-
hos de assucar, que todos csiavain desta banda: inas Iiavia da parte do Norte grande
numero de engenhos de agua seinpre a serrar, e erão as arvores tao grossas e tBo
crescidas. Como se pode iiií'erir do "til que se achou no Funclial o qual cra tão grosso,
que dez hoineiis juntos com os braços lhe não chegavam a abraçar o iroiico: e fazia
tanta copa que cobria oiide hoje é a Cadea Vcllza de uma ribeira á outra 6s quaes
ambas se ião ajuntar, e entrar por uma só boca no mar, Desta q~lalidiicleIiavia muitos,
e miii altos cedros, que depois se gastarão e extinguiram".
Ao contrario do que sucedeu com outras illias c terras descobertas, iiuiica forain
esta ilha e arquipélago coiiliecidos por o~itronome aléin daquele qiie priinitivamenle
tiverain. E' certo que o Di:Gaspar Friituoso afiriiia a que por ser assiin mui Sragosa
dizein que seu iiome era a devia ser ilha clas Pedra", inas desta maiieira enfática de
dizer do Iiistoriador das ilhas se concluiii qlie ele iião quisera asseverar ter tido esla
ilha aquele noiiie. E al6m dcsla passageira refereiicia de Frutuoso, q ~ i cilZo chega a
ser uina afirinaç%o,n%ose coiihece em quaisquer oiitros escritos aiitigos ou moder-
nos aquela denoiniiiaçl7o para desigiiar a illia o11arquipélago da Madeira,
O ilustre csciitor Pinheiro Cliagas, em tiina das suas li~equenlesdigressões Q
"inargem da Iiistórias escreveu estas curiosas palavras:
"Era esse iioine que inais rialuralmeiite lhe ocorreria? Quaiido o terimo madeira
designa especialineiite os troncos de arvores jé derrubados e prep~iradospara usos
próprios, iilio era estraiilio qiic Iòsse esse iioiiie que servisse imediataiiienle a
Goiiçalves Zarco para designar a illia, eiii vez de illia do Arvoredo, ilha clas Flores,
illia das Matas'?"
Como aciinii lieuli dito,o Icsteinunlici até agora irrccus6vcl dos croiiistas, dos cloc-
Liiiientos cla Cpoca e tla tradição corroborain pleiiaiiielite o uso do aiitigo noiiic, seiil-
pre inaiitido iio decorrer dos sbculos e seinpre adoptaelo por todos, cii-ibora possa, por
m a capricliosa excepçgo, ser posto ein duvicla pela Saiilasia de uiii distiiito literato
Eii~corioboraçilo do qiic lica exposto. iião deixam de clespcrtar especial interesse
os depoiinentos de algiri-is ilavegadores e escritores cio século XV, que vniiios rapida-
ineiile citar, eiiibora já o tenliaiiios Scito coiii maior largueza c111 oiitro lugar dos 110s-
sos traballios cle Iiistoria inadcireiise.
O celebre iiavcgador vciicziaiio Luis Cadamosto visitoa duas vezes a Madeira por
iiieaclos do sCculo XV, sci~doa liarração das suas viageiis iinpressa iio niio de 1507,
a qual ol'crccc a ilotQvcl particulariclacic de ter sido a obra iuais aiitiga piiblici~clac111
liiigiia estrniigeira acerca desta ilha ele qiic lia c«iilicciiiiciitu. Diz esse ilustre iiaveg-
ante qiie por ociisião da "descoberta nAo tinha 11:11111í1 de Lcrri~que 1130 fc~sscclicia de
arvores grandíssiiiias, sciiclo iieccsshrio aos priniciros qiic 11q~iiscraiiiIiabitar por-lhe
Sogo, o qual lavrou grande espiiqo clc teiiipo ... e nssiiii clcsaparcceu c111 grande parlc
o dito bosque...".
O conhecicio iiavegador I I O ~ C L I ~ L I ~ S Diogo Gomes, lias "Rclaçbcs cio
Descolírimci~toda Guiii6 e das illias dos Açores, Macleira c Cabo Vercle", por ele
traiisinitidas a Marlinho da Boheiiiia c lratluzitla em Iíiigua porlugucsíi por Gabricl
Pereira ("Bolct. da Soc. Geogr. rle Lisboa" 11. 5, aiio de 1898) laz iclêi~licnsnfir-
mações, que iiproximadaii~cnicse rcfcrcm a» terceiro qiiartel d o século XV.
Uina informação sobreinaiicira ciiriosa C a de «~ilronavcgiiclor itnliaiio Roincu
Adilti tle' Peraso, que deixou iia ~iarinlivaescrila cm 1567 estas palavras: ".. a illin
1180é Iiabitada seiilio à beira-inar, pois quc iia iiioiitanlia por caiisa cla espessura das
arvorcs que ali ha em iniii graiiclc abuiicliiicia e allíssiiiias clc inaiieira qLie, clizcii~,por
causa delas sc anda duas o ~ três i Iégiias seni jcimais ver o sol. "
Os i~ossos iliistres crriiiistns Goines Eanes tlc Azurrira, conlci~iporlitieo da
descoberta, na siia obra "Dcsc«briincnto e Coi1c~uislnda GuinC", João rlc Barros e
DamiAo de Goiç, pouco poslcriorcs é 6poca dessc sucesso, 1x1"Asia" (Uecncln I) e na
"Cróiiica clo Príncipe Doin Jofio", salificam esses tlepoimentos coi~iR auloridade dos
seus nomes e muitos o~itrosescritores teci11 adoptado sem ccintcstayào as iritiir-
mações das antigas crónicas.
Se a natureza foi de Lima notável prodigalidade na abundincia de t5o \ asta>c dcn-
sos arvoredos, não se tornou também avara na Lariedade das especics florestais com
que opulentamente cobria todo o solo madeirense. Pode com 1 erdade atinnar-se que
á chamada riqueza da "quantidade" se juntou profiisamente a riqueza da "qualidade".
Bastará recordar que é um facto averiguado a existência de bastas r ektensas matas
de cedros, tis, vinhaticos, freixos, urzes. barbusanos e ainda outras apreciadas esptj-
cies arbóreas de que só resta ... uma saudosa memória, como ao diante mais larga-
mente diremos.
Em vista do que tantas vezes se tem dito e que de novo deixamos sumariamente
repetido, não causara admiração ou surpresa que a estia ilha se hoiihesse dado o
nome de Madeira, que os séculos vão repetindo e que a fama tomou uni\ ersal. Com
o inaudito vandalismo dos homens t ai-se tomando menos rigoroso e menos apropri-
ado o LISO desse nome, estabelecendo-se um flagrante contraste entre o seu ker-
dadeiro significado e aquilo que ele deveria na realidade exprimir. ..
São conhecidas as rápidas considerações qlie ai ficam. mas não é importuna a sua
repetição, para proveitoso ensinamento de muitos e bem assim para as indispens&\eib
informações, que estamos apresentando acerca deste importante assunto.

IK O INCÊNDIO DOS I. R L 'OREDOS

O antigo incêndio dos bastos arvoredos, que onimodamente cobriam a supttrficie


desta ilha, é um conhecido e velho tema, que inúmeras vezes tem sido cersado por
diversos escritores nacionais e estrangeiros. Desde os que pura e simplesmente
negam a veracidade do sucesso até aqueles que lhe fixam uma dura750 de noke anos.
não faltam descrições, narrativas e comentários de sabor vario. despertados pela
estranheza de um facto tão anormal, pelas circunstâncias impreh istas que o acom-
panharam e ainda pelas consequências que dele derivaram
Até a poesia epica dele se serviu para dar larga expansão aos voos audaciosos dos
cultores desse género de literatura, como foram Manuel Tomás na Insulana, Paula de
Medina e Vasconcelos na Zargueida e ainda outros de menor envergadura. que
deixaram inúmeras composições poéticas dispersas em muitos licros e Jornais.
Quando os primeiros colonizadores tentaram o inicio do povoamento. logo recon-
heceram ar. excelente benignidade do clima e a exuberante fertilidade do solo, mas
também sem esforço se aperceberam das penosas dificuldades que, importaria vencer
para atingir-se o fim do seu audacioso empreendimento. Com dois grandes obstácii-
los, talvez então julgados insuperáveis. se defrontaram em vacilante expectativa: o
inverosímil acidentado dos terrenos e a vastissiina e lus~iriantevegetação florestal.
A devastação parcial dos arvoredos e a condu<;ãodas aguas de regadio (as futuras
levadas), a par do antanho directo das glebas, constituíram os primeiros trabalhos
agrícolas, dando-se assim começo a uma activa colonização. a que sempre andat a
adstrito o correlativo povoamento ou formação de diversos núcleos de habitantes.
Nas páginas do Elucidkio Madeirense, (11-140 e ss.), seguindo as antigas cróni-
cas, deixamos uma noticia acerca deste nothvel aconteciinento da priinitiva colo-
nização, da qual vamos transcrever alguns trechos, que teeni a mais próxiina
afinidade com o assunto de que nos vimos ocupando e que iinporta arquivar nestas
paginas.
O incêndio das matas no tempo de Zargo, o primeiro donatário do Funchal, é um
acontecimento a que particularineiite se referem João de Barros, Frutuoso, Antóilio
Cordeiro. Manuel Tomás e outros autores, e que também foi perpetuado pela
tradição. Refere Ferdinand Denis que um antigo viajante francês conheceu uin vell~o
inarinlieiro a quem uma testemunl~aocular contara O incêiidio da ilha da Madeira, e
segundo o erudito anotados das Saudades da Terra, no Arquivo da Torre do Tombo,
Livro das Ilhas. folhas 84, esti a publica Sorina de u m breve apostólico do Pontífice
Paulo 11, com data de 1469, em que iilanifestainente se alude ao inesino incêiidio.
Gaspai Frutuoso, o I-iistoriadordas irlias; dá conta, 110sterinos seguintes, do incên-
dio no sertgo da Madeira: "Daqui acordou o capitam (João Goiiçalves Zarco), vendo
que se não podia com o trabalho dos hoinens desfazer tanto, arvoredo que estava
nesta ilha desde o principio do inundo ou da feitura della, e para o consuinir, e se
lavrarem as terras. e aproveitar-se dellas era necessário pôr-lhe o fogo; e como quer
que, com o inuito arvoredo e pela muita antiguidade, estava delle derribado pelo
clião, e delle seco em pee, apegou o fogo de maneira neste valle do Fu~iclial,que era
tão bravo que, quando ventava de sobre a terra, não se podia sofrer a chama e quen-
tura dellc, e inuitas vezes se acolhia a gente aos illiéus e aos navios até o teiilpo se
iii~idar;e, por ser o valle IIILI~FO espesso assi de inuito fiincho, como de arvoredo,
atiou-se de tnaneira o fogo, que andou sete annos apegado pelas arvores, e troncos,
e raízes debaixo do clião, que se não podia apagai; e fez grande destruição na madeira
assí no Funchal, como ein o mais da illia ao longo do inar na costa da baiida do sul,
onde se determinou roçar e aproveitar."
D. Francisco Manuel de Melo, referindo-se ao incêndio da Madeira, diz na
Epanaphora 111 o seguinte: "He força que duvide do incêndio que (Barros) afírina
durou sete anos por toda a iIl~a.Ao que, parece, iinplicão os bosques, que sempre
nella permanecerão, dos quaes lia tantos alinos, se cor-til0 madeiras, para fabrica de
assucares: de que dize111 chegou a Iiaver na lha, cento e ciiiquciita ingenlios; que inal
poderiao continuaineiiie susteiitarse, depois de liuin incêndio tão universal, & menos
prod~izirsedepois delle: mas fique sempre salvo o credito de tal Autor."
Os arguinentos de Me10 teem um certo valor para iiiostrar que o iiicêndio da
Madeira nem durou sete anos. iiein se estendeu a todos os pontos cla illia, havendo
ainda a acrescentar que se ele tivesse sido geral, conio pretende111 alguiis escritores,
não poderia Cadamosto, que tanibéni se refere ao sinistro, dizcr cm 1450 que o nosso
país produzia niadeiras inuilo apreciadas, entre as quais sobressaíam o cedro e o
teixo. E' ainda de advertir que para o fògo durar sete anos coiiseciitivos e111 inatas
constituídas especialinente por essencias Solhosas, seria preciso que durante esse
longo espaço de tempo não caíssem na ilha nenli~insdesses violei-itos aguaceiros que,
ainda hoje, apesar das chuvas sere111iiiuitos ineiios abundantes do que outrora, inun-
daiii os vales do iiiterior e dão origein a torrentes que se despetihain ein catadupas do
alto das sei~aiiias".
Não padece duvida que inuilas inatas do vale do Funchal e de outros pontos da
costa sul da ilha foram destruidas pelo fogo, mandado lançar imprudentemente por
João Goiiçalves Zarco para o fiin de arrotear as terras, mas admitir que esse fogo, ate-
ando-se rapidamente e saltando de arvore em arvore, chegou a atingir toda a illla,
parece-nos fantasia própria da iinagiilação opulenta de Manuel Tomás e de outros
antigos escritores. Do trecho das Saudades da Terra que deixáinos transcrito, não se
depreeiide que o incêndio fosse geral, e João de Barros, o primeiro Iiistoriador que
noticiou o sinistro, circunscreve-o á parte da ilha da Madeira onde se ora chaina
Funchai", acrescentando, porém, "que o fogo tomou posse da roça & do inais arvore-
do, que sete anos andou vivo no bravio daquellas grandes inatas que a natureza tiiiha
criado avia tantas ceiiteiias de aiios."
Diz o Dr. Alvaro Rodrig~iesde Azevedo que tendo sido a parte sul da ilha "pre-
cisamente a cultivada e habitada logo depois do descobrimeiito, e possível, não só
que ahi fossein pouco a pouco roteados os terrenos por meio de incêndio das lilatas
virgens, sisteina que ainda Iioje, por Salta de braços, por outras rações agrícolas e
econóiiiicas, e por necessidade de moinento, se eiiiprega nas sertões ainericarios, mas
também que a estes rotearneiitos pelo fogo se Sosse recorrendo nos septe priiileiros
anos, sem que disso poucos tempos depois se achassem resquícios. O sul da ilha da
Madeira foi o priineiro explorado e habitado, e é a zona ii~aisproductiva. Curto perío-
do fora preciso para que o traball~odo hoinein ahi extinguisse os signais da devas-
tação. E limitado o incêiidio a uina pai-te da ilha somente, os argumentos eii1 contrario
perdem a força. Mello incsiiio duvida não tanto do iiicêndio, quanto de que este fosse
tão universal".
Reduzido o siilistro ás proporções que Ilie atribui o Dr. Azevedo, não lia motivo
para que deixeinos de aceitá-lo como verdade histórica, taiiio mais que, coino diz o
mesino escritor, ele se aclia autenticado pela clara aliisão do Breve Apostólico, que é
quasi contempor~neo.foi uni erro, 1150resta duvida, maiidar largar fogo aos arvore-
dos, em vez de os decepar a inacliado, irias desse erro não resultou felizmente o coin-
pleto aniquilamento das inatas. coiiio jB atrás se viu.
Não pode duvidar-se que algumas narrativas da clc. rição do priiiiitivo incêndio
revestem uma feição de acentuada hipérbole, que a estraiilieza e a anormalidade do
facto explicain c até cerlo ponto inteiraineiite se justifica. É, poréni, iildubitável e
constitui uma verdade Iiistórica a existência desse acontecimento, que, embora talvez
impnideiiteinente provocado, não deixou de iinpor-se coii-io iiina iiliperiosa iiecessi-
dade que as circuiistailcias ocorreiites aconselliavan~.O iiicêndio auineiitou a feraci-
dade do solo, abriu clareiras para o ainaiilio das glebas. periiiiliu a nielhor escollia dos
terrenos, favoreceu a forinação dos pequenos povoados é despertoii a mais esper-
ançosa coiifiança os Lraballios da colonização, que iam ser iiiiciados.
No decorrer do tempo e todos sabem, inuitos iiicêiiclios teem ocorrido nas nossas
florestas, inas alem do celebre e primitivo incêiidio ~~enliuiii caiisou uina tão larga
devastação e produziu tão avultados prejuízos, com grande pâiiico das populações
eircunviziiihas, c01110 o que se deu no inês de Agosto de 19 19, do qual o Eh~cidário
Madeirense (11- 142) lios fornece uma desenvolvida noticia.
Não tendo 0 célebre e primitivo incêndio revestido a intensidade e atingido a
extensão que alg~iasescritores lhe pretencerain assinalas, sabe-se que uma parte ~011-
siderável da ilha ficou ainda coberta coin uma densa vegetação florestal. cuja cone
servação se deveria. ter cuidadosamente inantido através do teinpo ou cujo imperioso
desbaste se proc~irariafazer de modo a evitar a sua grande devastação.
A construção das primeiras liabitações e ainda a das mais antigas capelas era feita
a matéria prima fornecida pelas Inatas, O que perdurou por largo teinpo sendo
tambéln estas que foineciaiii o indispeiisávei colnbustível para os usos domésticos
dos incipientes colonizadores.
Não se fez esperar intiito teinpo que um largo e pOiiC0 criterioso emprego das
madeiras supervenientes desse iiicêndio se iniciasse activainente e sem deinora
tomasse as proporções do mais condenável vand a 1'isino.
Da superabuiidância das niadeiras, da sua quantidade, da sua procura no conti-
nente português e ainda no estrangeiro surgiu a ideia de Lima larga exportação e do
seu correlativo tráfego comercial, criando-se desde logo uma importante Fonte de
receita, em um meio tão acanhado, como ainda era então a Madeira.
Urna nova indústria, einbora de feição bastante elementar, teve de criar-se: a da
preparação das madeiras para o embarque. Era preciso abater a s arvores, sei-ralas e
apropria-las ao fiin a que particularnicnte se destinavaili.
Vieram então as cha~iiadas"serras de agua", que se multiplicarani por diversos
pontos da nossa illia. A paroquia da Serra dc Agua e os sítios que ainda Iioje conser-
vam esse nome nas freguesias de Macliico, Calheta, Santana, Faia], Boaventura,
Seixal e ainda, porventura, em outros lugares, leiiibrain sem esforço esses rudi-
iuentares "engenhos" destinados á serraçtío das madeiras pela acção da força
hidráulica e que erain inoiitados lias inargeiis das caudalosas correntes.
E sobremaneira curioso este trecho do douior Gaspar Frutuoso: "...havia tanta -
quantidade de madeira, tão Sorinosa e rija, que levavam para inuitas partes copia de
tibuas, traves, mastros, que tudo se serrava com engenl-ios ou scrras de agua que
neste teinpo ... começara a fazer com ela navios de gávea e castelo de avante, porque
dantes não OS liavia no reino".
Para este assunto, oferecem particular interesse os segiiiiites períodos, que tex-
tualniente transcrevemos da 3a edição da Mistoria de Portugal de Pinheiro Chagas
( 1 1-252):
"Az~irara,tratando das vantagens que resultarzini dos descobriinentos devidos á
iiiiciativa do infante D. I-ienrique rnemioiia "as grandes alturas das casas que se, vão
ao céo e fazem coin a madeira daquelas partcs. Ao que, o visconde de Santarém
acrescenta esta nota: Esta interessante particularidade indica a madeira transpoi-tada
a Poi-tugal das illias novamente descobertas pelo infante D. Henrique, principalmente
da ilha da Madeira, fora em tanta quantidade, que a sua ab~indânciaIizera inudar o
sistema de coiistrução dos prédios urbanos, auginentando os andares, elevando assim
as casas, substituiildo-o por esta sorte ao roiiiano e Brabe, que atE então provavel-
mente se usara".
Várias referências teinos encontrado à exportação de madeiras que desta illia se
fazia destinadas a construções navais, não sendo para estranhar, já alguém o leinbrou,
que na gloriosa. frota partida do Restelo no ano de 1497, em demanda das tenas do
Oriente, se entrasse qualquer en~barcaçãoconstruida com a matéria priina extraída
das matas virgens da nossa formosa ilha
E' sabido que a montagem e uso dos "engenhos das serras de agua e o sei] corre-
spondente comércio da exportação de madeiras são contemporâneos dos primeiros
traball~osdo Povoamento, inas. o mais antigo docuineiito que se conhece referente a
esta matéria é a carta de doação do infante D. Henrique de 1 de Novembro de1450
(Saud, 453), ein que se encontram estas palavras: "Item m apraz que aja de todas as
serras de agoa que hy fezereiii de cada liuina huin marca de prata em cada hum. ano
ou seu certo valor de duas taboas cada semana.."
Não deixa de oferecer particular interesse ao nosso assunto a narrativa do naveg-
ador veneziana Luiz Cadainosto, acima citado, que visitou a Madeira no ano de 1450
OLI pouco depois, dizendo que iiesta ilha havia "...engenhos de serrar, onde continu-
amente se traballiani obras de carpintaria e bofetes de iii~litasinvenções, de que se
prove todo o Portugal e outros países. Desses bofetes os mais estimados são de duas
castas: os primeiros de cedro inuito cheiroso, de que se fazem compridas caixas e os
segundos são de teixo que tambéin são muito para ver e de uma cor rosada.."
E' também interessante mencionar-se que então se fabricavain tnuitas ernbar-
cações de pequena lotação destinadas a pesca e ao transporte de mercadorias, que
eram exportadas para fora da ilha, sendo essa exportação proibida no ano de 1562
pelo abuso que para isso se [azia da respectiva matéria prinia, dizendo text~ialmente
o Regimento das Madeiras, proinulgado a 27 de agosto do referido ano: ".. somente
poderão lia dita ilha fazer bateis de pescar e de carreto para serventia da dita ilha, os
quais não poderão seus donos vender para foradela sob pena de pagarem cincoenta
cruzados e serein degredados dois anos para a AFrica."
Posteriormente ao período de que nos vimos ocupando, deparainos com algumas
referências respeitantes a este assunto no interessante opúsculo "Serras de Agua nas
ilhas da Madeira e Porto Saiito", da aiitoria do distinto inadeirense Dr, Jordiio de
Freitas, e entre elas se cita a carta régia de 30 de Ju I I L 1492, em que se faz doação
a Nuno de Sousa de uma "serra de ag~ia"na ribeira dc siio Bartolomeu tinha de agua
que delimita as freguesias da Callieta e Estreito da Calheta.
Apesar da voracidade do primitivo incêndio, a Madeira rapidamente se repovoou
de espécies florestais e não levou largos aiios a cobrir-se de uma extensa. e abundante
vegetação. O corte e negócio das madeiras de que largamente se usou e abusou, sein
logo se olhas pela rearborisaçiio dos montados, provocou protestos e obrigou a
adopção de iiledidas repressivas.
Einbora não se conlieçani todas as disposições dos Regimentos de 15 de Janeiro
de 1515, sabe-se no entretanto que ele foi promulgado com o fiin de acudir ao
repovoamento florestal, em vista dos excessos e abusos que ao tempo já se cometi-
am. E foram entáo muito iinportantes e eficazes as regras e penalidades a tal respeito
estabelecidas pelo já citado "Regiinento das Madeiras", de 27 de agosto de 1562, que
6 u m diploma verdadeiramente notável no sei1 género, transcrito a páginas 463-471
das anotações das "Saudades da Terra", e que apesar de contar quasi quatro séculos
de existência contém disposições que ainda na actualidade poderiam ser observadas.
VI-OS INIMIGOS DOS AR VOREDOS

C01110 Ficou acima sumariamente exposto, teria o primitivo incêndio obedecido


aos mais iiliperiosos iiiotivos que as circunstaiicias da ocasião acoriselhavam. afitn de
iniciar-se uin rápido e eficaz povoarilento, que não permitia deloiigas e deveria
amoldar-se ás ardentes aspirações dos priinitivos colonizadores. Após esse incêndio,
vieram a falta de previsão dos inales futuros, as convenientes coinodidades do
momento, a ausêticia de uma acertada orientação e porveiltura o desejo iinoclerado do
lucro, como teria sido o do comercio das riiadeiras, causas essas que fora111sempre e
seiiipre alargando a área da acção devastadora, que esse teiilcroso fogo Iiavia inicia-
do.
Ei-ilbora de menor vulto e de efeitos inenos prejudiciais, vieram subsequeiites e
não raros incêndios, sucederarri outros audaciosos destruidores das inatas virgeiis e
surgiram ainda os novos assoladores dos inaciços arbóreos em plena formaçiio, que
sob o pretexto do exercício das industrias pecuária, do làbrico do carvão, corte de
madciras para coiistruçiio, colheita de material para adubos e forragens ctc, teerii
sido iniiiligos Ièrozes e por vezes inconscientes das ricas e abundantes florestas,
que en-iolduravain as nossas elevações inontanhosas.
Os pastores-E' uni erro grave supor que a criação do gado boviiio, caprino e por-
cino Eoineiita uiiia apreciável industria c de cuja supressão poderia de clualquer ii~odo
ressei~tir-sea econotuia do distrito, como adiante terciiios ocasiiio de inostrar.
Nii~guérnignora que o gado causa uiiia graiidc destruição rias plaiitas ainda novas
e ein pleno desenvolvimciito, etiibora a p u j a n ~ aluxuriante da nossa vegetação vença
em boa partc o ataque das Sortes inandibulas desses ruininaiites. O que, porém não
pode vencer a opulêiicia nativa dos nossos arvoredos é si acção dariiiiha e criniiilosa
do pasloi:
Os rebanhos niio eiicontrain ineio favorável para as suas pastagens em terrenos
ccibcrtos de densa arborização, tendo necessidade dum solo ein que prcclomineiu as
Iòrragc~ise plantas de pequeno porte, iiidispci~sáveisá alinleiitação que Ilies C inais
apropriada.
O pastor prepara logo esse desejado pascilgo numa clareira mais ou menos vasta,
qiic as cliainas lhe oferecem sein dificuldade. Os grancles incêildios nas nossas matas
teeiu cirdiiiariamente essa origcm. Os zagais niio trepidam uni moiiiento eiii coiivert-
er iitiia floresta de belas e corpuleiitas arvorcs, que levaram séculos ii forinar-se,
1 1 ~ 1 1 1~
1 ~~ ~ [ ~ e rdeserta
f i c i e e caleinada pelo rogo devorador, alim dc que ein breve se
trarisforme em campo dc farta pastagem, destinacla a íòriiecer aliinciito a unias par-
cas dezenas de cabras e ovelhas.
Como k sabiclo e velii a propásito dizer-se, os gados, na sua geiiernliclnde, pastam
livremente sein guardas ou pastores e acham-se expostos a toclas as iiitcinpéries, iião
existindo currais ou abrigos adequados que os resguardetn clas rigorosas iiiveriiias,
scnclo settipre muito coiisiderável o nliinero cle animais, que por csse motiva
sucumbe todos os anos. Esta ponderosa circuristaiicia seria s~iliciciilcpata jiistificar-
sc, ciii qiiaisquer país, uma absoluta proibiçfio da livre pastageiii clo gnclo em serras
clcsarborizadas.
O s Carvoeiros- Te111 surgido a ideia da co~ivcniei~tc prcparação do carvão inineral
como co~nbustiveldestinado aos usos donlésticos, mas ignorainos se é facilmente
viável essa adaptação e a generalização do seu emprego, pelas classes menos favore-
cidos, ein virtude do seu clevado custo. O que se sabe coin inteira certeza é que o
carvão vegetal fabricado na Madeira tainbém não é de módico preço e constitui uin
factor altatneiite prejudicial á vegetação arbórea das nossas serras.
São tão manifestos os prejuízos res~~ltaiites do fabrico do carvão, não somente
pelas inúmeras e belas arvores que desaparecem para obter-se esse combustível, mas
ainda pelo perigo sempre iminente de atiar-se um violento incêndio, como tantas
vezes tem acontecido, que desnecessário se torna aduzir um largo cortejo de argu-
mentos para condenar a permissão de semelhante pratica, sejam quais foreiii as
cláiisulas de segurança, que porventura queiraili invocar-se para esse fi~ii.Nein
mesino empregando-se uina rigorosa vigilância ou aplicando-se as mais severas
penalidades se consegiiirá evitar inteiramelite os inales incalculáveis, que pode111
resultar do scu perigoso fabrico.
O decreto de 23 de Jullio 1913. que principalineiitc se ocupa da criação dos gados;
estabelece uina valiosa disposição acerca do fabrico do carvão, que importa transcr-
ever:
Art 8-A partir da data da publicação da presente lei fica proibido o fabrico do
carvão de lenha na ilha da Madeira. a não ser pelos proprietários dos arvoredos ou
por indivíduos por eles devidamente autorizados e dentro das suas propriedades.
A este artigo tein sido. dada unia latitudinhria interpretação e B soinlíra dele não
faltou a prática de inuitas ii-regularidades
Corte de madeiras- Os primitivos e iinprevidentes colonizadores não se con-
tentaram vem aproveitar, embora com largueza, os beiiefícios que a abundância flo-
restal particularinente Ihes proporcioi~ava como combustível, como excelente
matéria prima na constmção das mais antigas habitações, do mobilihrio e outros
objectos de uso domestico, fazendo-se a excessiva exportação de nade iras para o
continente poi-tuguês e piira o estrangeiro, como jB ficou referido, o quc iinpôs a
necessidade da proinulgação de algumas enérgicas medidas repressivas, ein virlude
dos graves abusos que então se cometiain.
Tomando aspectos diferentes, iludindo-se liabil~~iente a vigilância exercida e con-
tando-se até coin a brandura da liscalização oficial, não sc coibira111 esses abusos e
até se perinitiu e favoreceu a prhtica de outras não menos prejudiciais traiisgressões
ás leis que regtilavam esse iinportante serviço.
O mal continuou e ainda perdura. Não se exportam iiiadeiras, não se constróein
pequenas e~nbarcaçõespara fora desta ilha, já iião exisleiil as conliecidas "Serras de
agua", inas o ~i~aclzado não deixa de trabalhar activaniente e coin grande l~rovcitodos
"negociantes" cle madeiras, que nos iiltiinos anos teeiii aparecido com mais assídua
frequência.
Por ocasião da ultiina guerra, ein vista da falta de carviio para a laboração de
algumas fabricas, esses negociantes adquirirain grandes abastecimentos dc lenhas e
madeiras colhidas nas nossas serras, não sendo raro deparar-se entrc esses forneci-
mentos coin "traves" e "pwnclias" de espécies florestais de aprecihvel valor e qcie jtí
com grande dific~ildadepodcrão ser eiico~itradas,Havia eiilão e ainda existeni den-
sas matas de pinlieiros, que deveria111 ser aplicados a esse fiin.
Foi talvez ainda maior a destruição, causada nas nossas reduzidas matas no perío-
do decoujdo de 19 14 a 1916, especialmente pelos "agentes" de vapores costeiros,
que nos diversos portos e destinados a alimentar as caldeiras dessas embarcações,
foram milhares de arvores arrancadas as serras e eni que alguinas espécies florestais,
já inuito raras, desapareceram inteiramente.
De todos os inimigos das tlorestas inadeirenses não é o "negociante de madeiras"
o menos prejudicial ao bein colnuin, contando muitas vezes com a especial protecção
de q~~alificadas entidades, que gravitain em torno das estações oficiais.
Um jornal do Funchal, no seu núinero de 10 de Maio de 1945 fornece-nos esta
curiosa informação:
No Montado do Pereiro os guardas florestais teem s~irpreendido,nestes últiinos
tempos, centenas de ii-idivíduos que se einbrenhain nas nossas serras. a rolar e a
abater tudo quanto se encontra a vegetas, e o descasque de arvores para as oficinas
de curtimentos de peles é o inaior negócio a que se podem entregar os ladrões" das
serras, deixando nuas as arvores de renome florestal, só com a mira 110 interesse".

VIII-OS "REGIMENTOS" DAS MADEIRAS

A opulenta riqueza florestal da Madeira não foi de todo destruída, mas apenas bas-
tante ãtenuada belo celebre e priinitivo incêndio, sendo principalinente a acção
imprevidente e vandálica dos seus habitantes, que através do teinpo a veiii reduzido
a bem lamentáveis, e quasi mesquinl~asproporções.
Muitas razões persuadem que sein demora se tivessem adoptado i~~ediclas repres-
sivas para impedir e castigar os abusos coinetidos, inas não se cotihecein a natureza
dessas primeiras providencias, a época precisa da sua pro~i~ulgação e as penalidades
impostas aos delinq~ientes.
O iilais antigo diploma legislativo de que htí seguro conhcciniento é o alvartl régio
de 7 de Maio de 1493, que embora se ocupe particularniehte de vhrias concessões
acerca de fontes e nasceiltes, encerra estas curiosas palavras referentes ao iiosso
assunto, que iinpoi-ta transcrever: ... os freixos e cedros, que para nós reservainos a
não usarão nei-ii cortarão... a não ser para algumas igre.ja ou casa de câii~araou a quem
derinos ... liccnça por carta t~ossa".
E a propósito direinos que 118 meio século ou poiico mais existiam nii~daem vários
pontos da ilha muitos inaciços dos nosso cedro indígena, a tão apreciada e odorífera
madeira bastante empregada na niarceiiaria tnadeirense, Não sabeinos se hoje, ao
nlenos como siinples e saudosa amostra do passado, se encontraiu ainda alguns
exemplares em qiialquer afastado recanto das inatas do interior.
O ilustre comentador das Saudades da Terra faz menção de uin antigo diploiila,
datado de 14 de Janeiro de 15 15 e destinado a proteger as florestas da ilha, cleclaran-
do que não coiiseg~li~i obtcr copia desse docun~ento.Traiiscreve, porém, iiitegral-
niente o conhecido "Regimento das Madeiras" de 27 de Agosto de 1562 que iní'orma
achar-se registado a fol. 128-133 do Tomo Segundo do Arquivo da Câinara
Muriicipal do Funclial. (Vid. Saud, 463-471).
Faz preceder essa transcriçâo das seguintes palavras: "E cIi]~lomainiportaate fi his-
toria agrícola da ilha da Madeira; constitui a sua pec~iliarlegislação florestal, ainda
agora (1873) em grande parte vigente e é fonte de posturas municipais e111 todos os
concelhos dela".
Apesar de não se conhecerein todas as disposições do "Regimento" de 15 de
Janeiro de 15 15, a que acima se alude, sabe-se que nclc se ordenava a plantação de
pinlieiros e castanheiras nas terras inais adequadas a estas espécies arbóreas e se
proibia o corte de arvores sem licença das cainaras, não podendo ser permitido em
caso algum nos lugares em que houvesse fontes ou aguas correntes. Outras dis-
posições de caracter proibitivo, acompanhadas das respectivas penalidades impostas
aos infractores se continham ainda no mesmo "Reginiento", seg~indose depreende
das referencias avulsas, que dispersainente se encontram em diversos lugares.
A doutrina nele contida foi ampliada e completada coni o citado "Regimento das
madeiras" de 27 de Agosto de 1562, promulgado pela rainha-regerite D. Catarina,
que verdadeiramente se pode chamar o Código Florestal da Madeira.
Embora com a natural evolução dos coiil.ieci~neiitoçhuinanos e com as actuais cir-
cunstancias de feição estritamente local, não se possa111 aceitar etii toda a sua pleiii-
tude as disposições legais contidas nesse diploina, somos no entretanto forçados a
reconhecer a sua; alta iiiiportiiiicia, o seu inco~itestávelvalor jurídico e o mais atila-
do critério coiii que foi versada a matéria, repoi-tando-nos deste modo ao conceito
que dele fomiava o escritor e distinto juriscoiis~ilto Dr. Alvaro Rodrigues de
Azevedo, como acima, ficou dito.
Não podemos referir-nos porinenorizadaii-iente ás principais detertilinações desse
diploma, mas não podeiiios deixar de aludir a uin ou outro ponto, embora em rápida
passagem. E assim indicareinos:
a) não se podia fazer cortes de madeiras sein licença das cainaras, deveiido essas
licenças ser referendadas pelos capitães-doiiatarios;
b) quem excedesse os limites das concessões feitas seria açoutado, multado e
degredado para a Africa, sendo tainbém degredados os que pusessem fogo iia serra;
c) proibição de cortar ramos de arvores para aliineiitação do gado;
d) não permitir a coiistr~içãode navios e ainda de pequenas embarcações para
serem exportadas;
e) proibir que os cortes de unadeiras se faça111 a menos de "cincoenta passos" de
distancia das nascentes e ribeiras;
f) obrigar os proprietária, eiii alguns sítios, á plantação de certas srvores e espe-
cialmente de caslaiilieiros,
Parece que eram ainda mais dracoiiiaiios os preceitos legais estabelecidos por este
"Regimento" do que as disposições proiniilgadas pelo regimento anterior de 15 15,
dando-nos assim a conliecer o crescimento dos abusos coiiietidos e o desejo de os
coibir por parte das autoridades locais.
Os ouvidores, representailtes dos donatários lias povoações mais importantes dev-
eriam exercer uma severa fiscalização lia. observincia do que se dispuiil-ia no "regi-
mento" e promover a aplicação das respectivas penaliclades aos infi.aclores, sendo de
presumir que essa fiscalização deixasse bastante a desejar.
Os "Regimei-itos" de que nos viiiios ocupando são dois docunientos iiotáveis sob
diversos aspectos, iiomeadameiite o segundo, que pela sua extensiío não podeiizos
integralmente transcrever, neste lugar, mas do qual deveria fazer-se uma publicação
especial, acompanliando cada unia das suas disposições legais dos indispeiisáveis
comentários acomodados as circunstancias actuais da vigente legislação florestal.
O s alvarás régios de 28 de Outiibro de 1593 e 26 de Janeiro de 1596 ratificam e
ein algiins pontos ampliain as disposições contidas nos "Regimentos das Madeiras",
devendo supor-se, com bom fundamento, que a frequente promulgação destas leis
coercitivas seria deterrilinada pelos também frequentes abusos que então se coineti-
aln.
N O "Índice Geral do Registo da Antiga Provedoria da Real Fazenda (a) encon-
tram-se inericionadas outras determinações legais referentes a esta matéria, sendo a
mais antiga a de 2 de Janeiro de 1610, que é o alvará régio de Filipe 11, que estab-
elecendo acertadas providencias coin o fim de coibir os actos de vandalismo pratica-
dos nos arvoredos e comina penas severa aos transgressores das respectivas leis
vigentes.
N o citado "índice" acha-se exarado esta interessante inforniação: "O Conselho da
Fazenda (do Funchal) não só mand remeter as devassas que se tiraram na iorça da
Provisão do Senhor Rei Dom João IV de I 2 de Janeiro de 1641 para se acautelarem
o s inconvenientes resultantes dos cortes das madeiras, mas também determina que se
povoe a serra de arvores, guardando-se o Regulan.~entoe a lei do Senhor Rei Dom
Manuel e executando-se as penas decretadas contra os transgressores e finalmerite
que se pergunte nas residências do juiz de Fora e do Coi~egedorpor este descuido.
Este alvasi regi0 de D. João V visava especialmente a Liina inais, rigorosa observân-
cia d e muitas determinações legais que tinliam decaído em quase inteiro desuso.
E111 1790 exerceu o Dr. Antóriio Rodrigues de Oliveira o cargo de corregedor, que
acuinuloti com o lugar de inspector da agricultura, tendo deixado na secretaria da
Câniasa da Call-ieta umas instruções sobre diversos serviços agrícolas, coilsiderados
de grande proveito e redigida com o mais atinado critério, em que se estabeleceu
alguinas regras acerca do repovoainento florestal, merecendo ainda hoje serein lidas
e consultadas.
Eiitre os relevantes serviços prestados pelo engenheiro Reinaldo Oudinot, ao diri-
gir os trabalhos de reparação dos estragos causados pela grande aluvião de 1803,
importa destacar a redacção de umas liistruções ... dirigidas aos proprietários e
agricultores, que aconselhain a adopção de importantes medidas referentes á conser-
vação dos arvoredos e que o alvará régio de 1 I de Maio de 1804 e ainda outros
tornararn obrigatório o seu curnpriinento.
N o antigo arquivo da Câtnara Municipal do Funchal achain-se registados muitos
diplomas dos séculos XVII e XVIII, referentes a este importante assunto, acaute-
lando eficazmente a conservação dos arvoredos, adoptando acertadas providencias
para o seu desenvolvimento e impondo severos castigos aos transgressores. A estas
deteriniilações legais nos liomeiis ainda de referir, quando particularmente nos ocu-
parmos de algumas das inedidas de caracter pratico, que então se adoptaram para
esse fim.
AICin dos docuiiientos ~nencioiiados,é curioso verificar-se que em varias deter-
minações legais, estranhas a esta matéria, se encontram algumas interessmltes e
proveitosas referencias aos assuntos florestais.
Tem próxima afinidade com o assunto deste capítulo o que acliailte direinos rela-
tivamente aos diversos serviços realizados em varias épocas e de inodo par titular ás
medidas adoptadas na prática do revestimento florestal

IX-DIPLOMA LEGISLATIVO E POSTURAS hdUNICIP!l IS

As diversas disposições legais, que ficain suinariarnente iilencioiladas e ainda as


que teremos de citar no decurso deste despretensioso estudo, não dispeiisarn a pro-
mulgação duin novo diploina legislativo, que estabeleça e regularize todos os
serviços respeitantes i coiiseivação e desenvolviinento dos nossos arvoredos de unia
maneira mais estável, inais eficaz e mais unifoniie, pondo-se cobro ás grandes arbi-
trariedades e abusos, que tão frequenteiilente se praticain.
Essas leis, decretadas ein épocas in~iitodistanciadas eiitre si, nunca tiveram um
caracter de relativa estabilidade c antes se acoinodavain às circuiistancias de ocasião;
nunca produziram os resultados práticos a que se dcstiilavain, apesar das severas
penalidades iitipostas aos delinquei~tes,pela falta de sanção por parle das respectivas
autoridades; e nunca guardava111 inteira unifoniiidade ila aplicação das medidas a
adoptar e na coininação dos castigos a infligir, Obedecera111 certamente, na iiiaioria
dos casos, aos princípios salutares de uma digna e zelosa administração, inas talvez
de errada orientação nos meios de acção, que ao teinpo se einpregavain.
Teinos um frisante exemplo lia diversidade das resoluções cainarárias dos difer-
entes concelhos do arquipélago, consignadas nas suas "Posturas Mrinicipais"; de que
ha vagas noticias dispersas, iiota~ido-sc,por vezes, entre elas as mais flagrai~tescoii-
tradições, que não raro colidiaiil c0111 as disposições legais que regulavain o assuiito.
Nos arquivos das Camaras não se acliam registadas as "posturas" antigas, que a neg-
ligencia e o interesse Fizeram desaparecer.
Através do tempo, todas as Caillaras M~inicipais,julgarido-se com iinprescritíveis
direitos sobre a vegetação florestal das serras. organizaranl e puseram c111 1)rRLica
varias Post~iras,cuja observincia se toriiava obrigatória. Eram disposições de carac-
ter local, de maior ou ineiior latitude de adiriinistração e que não mantinl~aineiitrc si
uma perfeita l~arinoiiiade princípios, haveiido uina grande arbitrariedade lia sua cxe-
cução. Ainda Iioje surgem de lorige em longe certas vereações rurais a invocar e a
querer impor a obseivincia de antigas e obsoletas posturas rnuiiicipais.
Deveria proceder-se a uina cuidada revisão de todas essas disposições legais-leis,
ordenações, regimentos, decretos e posturas inuiiicipais submete~ido-asao autoriza-
do juízo de um profissional competente, que estabeleceria as bases de um plano dc
organizaçilo, a servir de elenieiito priinordial para a elaboração de uma lei, que
resolvesse definitivamente este inomentoso assunto.
Nesse diploma, entre outras determinações julgadas indispensáveis, deveriam
estabelecer-se estes priiicípios: 1. assegurar-sc a posse e a conservação dos terrenos
"baldios"; 2. a proibição da sua venda, alienação ou aSoramei110;- 3. ii5io permitir o
seu uso ou aproveitainento para fins difereiltes dos actuais; 4. proceder á sua rigorosa
demarcaçiio, assinalando-se os limites dos que pertencem ao estado e aos muiiicípios;
5. impor ás camaras a obrigação cle organizarem as suas "Posturas" em coriformidade
coin a s disposições do iiovo decreto; 6. criar uma repartição central com largas
atribuições para a direcção de todos os serviços, como já foi deliberado pela Junta
Geral, na sua sessão de 29 de Setembro de 1930.

X-TERRENOS "BALDIOS"

Teem conservado esta designação os terrenos, não sujeitos a exploração agrícola


e que ern geral ficam situados em uma altitude superior a oitocentos ou novecentos
metros. pertencem a particulares, ás Camaras Municipais e ao Estado, não se achan-
do bem deliinitadas as fsonteiras dos diversos proprietários. 0 s "baldios" eram em
outros tempos e ainda o são ein boa parte, separados das terras cultivadas por meio
de sebes ou tapumes, feitos de estacas e ramos de arvores, que teem o nome de bar-
dos, principalmente destinados a impedir que os gados assaltem as culturas agríco-
las.
Não estando demarcados com precisão os limites desses terrenos, fácil é de con-
jecturar os abusos que se tenliain dado, as audaciosas pretensões que de quando em
quando apareçam e as fraudes empregadas para a sua ilícita e definitiva posse, por
parte d e indivíduos destituídos das mais escrupulosas e rectas intenções
Uina grande parte desses "baldios" eram considerados coino "logradouros
cornuns", ein que os cultivadores das terras, mediante certas coiidições e sob a fis-
calização da repartição coinpetente, procediam a colheita de foi-ragens, de matéria
para adubos e para coinbustível, constituindo para eles uma apreciável regalia de que
não podiam dispeiisar na labuta da sua activa e modesta existência. Se admitirmos o
progressivo cesceatnento destes antigos e tradicionais privilégios coin a alienação a
partic~ilaresdesses terrenos "baldios", que eram pertença do estado ou dos inunici-
pios, veremos seriamente aineaçada a legítiina prosperidade, a apreciada economia
doméstica e o relativo bem-estar de inillzares de indivíduos de uma siinples mediania
de haveres, e m favor de um número restrito de pessoas abonadas inas pouco escrilpu-
losas ...
Não lia muito que numa reparti~godo estado de um concelho rural foram vendi-
dos e w Iiasta piiblica, por uns módicos centos de escudos, com o fundamento em uns
hipotéticos direitos de propriedade, uns terrenos "baldios", de que o público usufruía,
por direito consuetudinario, tendo a Câmara Municipal informado de que esses ter-
renos não eram "logradouros comuns" e havendo a referida repartição realizado essa
venda e arrecadado a respectiva contribuição pertencente á fazenda pública.
Desnecessário se torna encarecer a imperiosa e inadiável necessidade de proced-
er-se, coin a mais rigorosa exactidão que possível for, a delimitação desses lesrenos,
quer sejain do estado, quer das camaras ou de particulares, conforine estão exigindo
a coilsei-vação dos restantes arvoredos, a rigorosa fiscalização a exercer pelo corpo
de guardas florestais, a orientação a adoptar pela repartição central e ainda a
inai-iuteilç5o tradicional de inúmeros cultivadores de terras, como aciina fica referi-
do.
D e longe em longe e ein diversas épocas tem surgido a ideia do aproveitamento
desse "baldios" com destino especial ao cultivo das prod~içõesagrícolas, que pre-
seiiteinente eiicoiitraria defensores tia assustadora plétora populacional que se verifi-
ca lia Madeira. A tornar-se iinperiosa ou inesino acoiiselhável uma semell.iante medi-
da. importaria que em caso alguiii se permitisse a inteira alienação das terras, que
devesiai11 continuar na posse secular e tradicional do estado ou das cainaras inuiiici-
pais, estabelecendo-se as cláusulas de concessão, que fosseiii mais convenientes ao
bem coiiiuiii e sein iiotcivel prejuízo dos actuais usiifsiituários.
No entretanto, bom é recordar a opinião dos que atirnlam, coiilo já notamos, que
esses terrenos, ein virtude da altititde ein que se encontram, do inóspito cliiua que ali
se faz sentir iiuina grande parte do alio e da excessiva frequência dos feiiómenos
atinosféricos das cliuvas, Iiuinidades, iievoeiros, granizos e geadas nio oferecern van-
tagens coinpensadoras As tentativas de exploração agrícola e tarnbéni a permanente
iiíoradia dos respectivos cultivadores. Eni mais aceiituadas proporções se observain
os mesinos fenóinenos tio conliecido "Paul da Serra", do qual nos ocupareinos i10
capilulo imediato.
E' certo que os alvarás régios de 3 de Jullio de 1766 20 de Jullio de 1810 e 18 de
Setembro de 18 11 Eaciillavain a alieiiação coiidicional ou teinporárias de vários ter-
renos baldios, c~~iiipsidas cerlas foriiialidades. inas a falta de clareza na redacção
desses diplomas, as ii~aiiifestascontraclições que iiiuitas das suas disposições guar-
dava111 entre si, a oposiçiío que Ilie ofereceram muitos proprietários e a pouca dili-
gencia ein dar-lhes cuniprimenlo por parte das a~~toridades locais, inostram que essas
leis n5o atingiram o desejado fim que as fez proinulgar e vicraiii tomar ii~aiscaóti-
cos todos os assuiitos que llies cliziam respeito.
São rnais expressas as clelermiiiaçõcs do alvara régio de 18 de Setembro de 1811,
que fica citado, periiiitindo-sc o aí'oraineiito ou a enfiteuse de terrenos baldios pes-
teiiceiites coroa, observatlas as forinalidacles estabclecidas nesse diploina, iiias não
faculta a alienaçllo cla propriedade (lesses lerreiios. que contiiiuariam na posse do
estado teiii aqui o inais npropriado cabimento o que 110 ai10 de 1863 dizia uin dis-
tirito agrcjnoino, que coiihecia profiiiidaiiiente, sob muitos aspeclos, as coiidições da
viela ~nadcireiisc:
"Ein i i i ~ paiz
i onde a existência das floristas é especialmcntc requerida debaixo do
ponto de vista das iiifluciicias quc esta activa potêiicia exerce na inetcorologia, vê-se
pois que a aclininistraç8o e granjeio clo solo florestal tlevein ser uma atribuição do
Estado.
"E esta hoje uina opiiiillo ~nuitogeralnleiite seguida entre os ecoaoinistas, e acon-
selliada pclos que lecm tratnclo mais prof~iiidainentceste assunto.
"Seja-lios licito t.raiisporlas para aqui alg~iinaspalavras de Lima interessante
iiieinória que tiveinos logar de est~idar.Seria para desejar que fosse o estado o pos-
suidor (detenteur) de todiis as florestas cuja conservação tivesse siclo julgada
necessária debaixo elo poiilo cle vista do cliina, da salubridade, do regiiiieri das agiias,
ou de abrigo para o terreno, porque os serviços que elas prestarn nestas circui~stil~i-
cias iiiteressain h sociedade toda, e não uilicaiiieiite aos propriethrios,-e deiiiais nRo é
justo exigir de 11111 i~iclivícltio110 interesse geral, a conservaçllo cie uin terreiio ein esta-
do de floresta, se ele cnteade de maior convci.iiêiicia sujeita-lo a qualquer outra cul-
tura.
"A propriedade floreslal 1150 encontra alénl disso garatitias de conservaçllo rias
mãos dos pai-ticulares cuja necessidade imediata de gozo não se concilia de forma
alguma coin o teiiipo que exigein os produtos Iciihosos, para adquirircni qualidadeç
vendáveis.
"Na Madeira é urgente submeter a uni regimen especial a zona arborisavel, e a
ideia que apresentainos é. tanto mais plausível, quando que, sendo certo ser esta faxa
propriedade de municípios que não tiram dela rendiiiieiito algum, ou de particulares
pouco firmes na sua posse, e colocados nas niesmas condições das Cainaras, a sua
execução se torna muito mais fácil."
O recente decreto de 27 de Maio de 1946 veio facultar a cessão, mediante certas
clausulas, de terrenos "baldios", em favor de "casais" incnos providos de haveres e
também eiil favor de uma mais útil e apropriada expansão populacional
Cumpre que se mantenha a doutrina exposta nos anteriores capit~ilosdeste estudo
coin respeito à conservação, aplicaçáo e propriedade desses tcrrenos harmonizai~do-
a c0111 as disposições agora decretadas
A nova lei acerca de Baldios (26-Maio-46) na sua Base XXX estatui o seguinte:
"Nos terrenos baldios, cuja divisão não seja de aconselhar, a Junta de Colonização
intei-na estabelecerá o regime de logradouro coinum, destinando-se i cultura ou apas-
centação de gado 110 interesse dos moradores mais necessitados "
As duvidas que possain surgir na conciliação dos preceitos estabelecidos na cita-
da lei com as pai-titulares iiecessidades do arquipélago, seriam suficienteinente
esclarecidas na prornulgação dos ii~dispenstiveisdecretos a qiie varias vezes 110s
temos referido. Embora se deva dar inteiro cuinprirnento as leis gerais do país, é no
entretanto sabido que em todos os tempos e para diversas localidades se tem atendi-
do a imperiosas circunstancias de caracter regional, tendo os legisladores olhado com
solicitude para a satisfação dessas impreteríveiç necessidades.

XI-"O PAUL DA SERRA"

As suas condições orograficas, a natureza do solo, a sua relativa extensão, a alti-


tude em que se acha situada e as tão apreciadas vantagens que oferece aos povos dos
concell~osda Ponta do Sol, Callieta, Porto do Moniz e S. Vicente exigein nina par-
ticular referencia ao conhecido lugar do "Paul da Serra". embora lios liinitemos a
repetir o que está dito em outras publicações e que tanibéiii já deixamos exposto coni
alg~imdesenvolvimeiito nos trabalhos da nossa autoria Elucidário Madeirense e
Dicioiihrio Corografico do Arquipélago da Madeira.
E a iiiiica área de território que na acidentadissiina superfície da Madeira pode
merecer o iioine de "planalto", apesar do acentuado relevo que apresenta em quase
toda a sua extensão.
Demora a uma altura média de 1500 metros acinia do nível do inar e te111aproxi-
madaiiieiite seis quilóiuetros de coiiipriinentos e três na sua inaior largura, com-
putando-se a sua superfície e111 cerca de 16 quiloinetros quadrados. E' logradouro
coniuin e muito aproveitado pelos habitantes das freguesias circunvizinhas para a
apanha de lenhas destinadas a combustível e especialmente de crvas e inatos, para a
engorda dos gados e como niatéria prima para os adubos de curral. Serve de pasta-
gens a niuitos rebanhos de gado lanigero, Todas as fi-eguesias circunvizinlias estão
ein coniunicação coin este planalto, por meio de estradas, que, embora inás, em algu-
mas delas traiisitani carros de rodas, de tracção animal, destinados ao transporte das
lenlias, ervas e inatos.
No planalto do Paul da Serra, a cerca de 10 quilóinetros do Rabaçal e 4 da Casa
de Abrigo do Loinbo do Mouro Fica o sitio da Bica da Cana, onde a extinta Junta
Agrícola da Madeira criou, por 1914, um Cainpo Experiinental de Agricultura e pro-
cedeu ao ensaio de varias culturas, ein que se despenderam avultadas soriias sein
resultados apreciáveis.
O posto que ali se estabeleceu esteve durante alguns anos abandonado, inas a
Junta Geral do distrito, por intermédio da sua repartição agraria, tem dedicado as suas
solicitas atenções a esse posto, procedendo-se a importantes lraballios na conser-
vação e reparação das casas, na vedação dos terrenos aráveis, nas diversas experiên-
cias agrícolas, etc. No entanto, e forçoso confessar que o êxito desses traballios não
corresponde satisfatoriamente as despesas e aos esforços empregados. Como atrás
ficou referido, "as desfavoráveis condições cliinatéricas, a altitude ein que se acha
sitiiada essa região, os frequentes vendavais e ali se desencadeiam e o coinpleto
desabrigo a que ficam expostas as culturas agrícolas explicam suficientemente o
insucesso das experiências ali realizadas. Somente coin As indispetisiveis sebes, for-
madas por maciços de espécies arbóreas, o que levaria muitos anos a conseguir-se,
poderia talvez alcançar-se uiil resultado algo proveitoso, inas nunca largamente coin-
pensador, como já chegou a afirmar-se cin um clocuinento oficial.
A antiga Junta Geral Agrícola projectou a construção d~iiilaestrada que draves-
saria o planalto do Paul na sua maior exteiistio, tendo coino pontos extrenios a
Enciimeada de São Vicente e o porto da freguesia do Porlo do Moniz e medindo
cerca de 38 quilóinetros de comprimento. Os lanços desta estrada seriam: o da
Encuineada ao sítio do Loinbo do Mouro, numa extensão de 4200 inetros, outro,
deste ponto ao Pico da Urze, nuiii percurso de 8300 inetros, uni terceiro troço do Pico
da Urze até aos Lainaceiros (Porto do Moniz) coiii o compriinenlo de 23 quilóniet-
ros, e o íiltimo dos Lainaceiros ao poi-to de mar, inediiido 3000 inetros. Esta estrada
foi iniciada no ano de 19 14, nos seus pontos extremos, mas poucos quilómetros dela
ficaram constr~iídos.
Obedecia ao projecto, que entgo se discutiu no seio da Junla Agrícola, da con-
strução de urn porto artificial lia pequena enseada do Porto do Moniz, realizalido-se
para esse fiin 3 lguns estudos de caracter técnico. Dar-se-ia a ligação entre os portos
do Fumhal e do Porto Moniz, facilitando o desembarque dos passageiros, quando os
ventos do quadrante sul não periiiitisseiii fazer ria baia do Funclial. Esse projecto,
como outros, não passou de uiiia pura fantasia dessa não saudosa neiii desejada cor-
poração adniinistrativa.
O que fica talvez desn~esuradaineiiteexposto destina-se de modo inuilo especial a
demonstrar que o planalto do "Paul da Serra" e em geral todos os terrelios baldios"
não podem ter uin vantajoso aproveitamento para a conipensadora exploração das
culturas agrícolas e menos ainda para a formação cle pequenos povoados, devendo
ser única e exclusivainente destinados aos fins que ficaiii varias vezes indicados iies-
tas paginas: a moderada colheita de inateriais para forrageils, adubos e coinb~istíveis,
a fiscalizada permissão para unia limitada industria pecuária; e sobretudo a activa
plantação de espécies florestais e a cuidada conservação das existentes, tudo eni con-
formidade com as instruções emanadas da repartição competente, que para isso deve
formular os indispensáveis regulamentos e subordiria-10s à aprovação das estacoes
superiores.
Tem particular afinidade coni o nosso assunto alguinas disposições do alvará régio
d e 18 de Setembro de 181 1, que permiti11 a concessão de terrenos baldios e onde se
encontra o seguinte:
"Exceptuo somente por agora o sitio charnado Paul da Serra que compreende 7
léguas de coinprido e 3 de largo, porque posto seja insusceptível de ficil cultura não
convéin que se repal-ta enquanto houver baldios a dividir nas outras partes, por ser o
dito Paul o logradouro comutn da maior pare dos concelhos e de muitas freguesias
d a ilha ..."
O assiinto deste capitulo obriga a uma referencia ao importante relatório do
regente florestal da Madeira Antonio Schiapa de Azevedo, qiie também encarece a
reconhecida importância desse planalto e sustenta a opinião de que ele deve ser
exclusivainente aplicado a unia larga arborização, a prados e forragens, e a indwtria
pecuária, não se aludindo à exploração de crilturas agr-ícolas e menos ainda i for-
mação ou permanência de núcleos de populacão.
Como "logradouro coiniini", a que acima aludimos, encontram-se nesse relatório
o s períodos que ern seguida transcrevernos que expririlem a verdadeira doutrina acer-
c a do assiinto:
Ao Paul da Serra apesar de algumas das camaras municipais dos concelhos cita-
dos (Ponta do Sol, calheta, Porto do Moniz e S. Vicente) quererem considera-lo ter-
reno concelhio ou municipal, é na verdade pertença da Nação, não só porque aque-
las corporações não possuem nos seus toilibos o mais insignificante documento sobre
o assunto ou o riiais leve iridicio que Ihes dê direito aquela vastíssima propriedade,
m8s e principalmente porque já em 1803,1804 ou 1805 a Coroa fonnara bem os seus
direitos na cai-ta regia que El-rei D. João V1, então Príncipe Regente do Reino, pub-
licado no Boletim Oficial daquela época, e na qual o referido monarca concedia aos
povos da ilha da Madeira que em logradouro comum ali pastassem seus gados mas
sem abdicar seus direitos e bem ao contrario reservando a referida planície para o
domíiiio da Coroa, Alem do Paul da Sena, é iiliriha convicção que o Fanal pertence
taiiibéin a Fazenda Nacional e assim o afirma o ilustre siviciiltor Jiilio Maria Viana
no seu relatório sobre seiviços floi-estais desta ilha, publicado rio ano de 1897,
serviços que superiormente dirigiu até o ano de 1902."
Oc~ipando-nos,embora sucintamente, deste planalto, é natural que se faça uma
ligeira referencia a algiins dos seus principais sítios e de modo especial daqueles que
são iliais frequentados e onde se encontrain casas de abrigo, as quais prestam rele-
vantes serviços aos viandantes e aos qrie teem necessidade de percorrer aquela
inóspita e desabrigada região.
Na extremidade norte da elevada planície fica o sitio dos Estanquinlios, a unia alti-
tude de 1500 tnetros, qiie te111 uma casa de abrigo e nas suas imediações uina
nascente de boa água potável. O lugar da Bica da Caiia, situada nessa vasta plaiiura
e distanciado cerca de 10 q~~ilómetros da estancia Rabaçal, tornou-se inuito conheci-
primeiro, além dos apreciáveis benefícios que senipre prestam os arvoredos, a
aumentar o voluine dos mananciais existentes, e o segundo a proporcionar ao públi-
c o uin sitio de distracção e de passateinpo. longe dos infectos centros citadi~ios,em
q u e a pureza do ambiente, a amenidade do Iiigar e o livre contacto com a natureza
sejam apreciados por aqueles que de outra fonna o não possarn fazer, como eni diver-
s a s terras se encontra e cuja falta se nota entre nós.
E' d e inteira justiça pôr em relevo que esses notáveis nielhorarnentos obedecem
a o Plano elaborado pelo engenheiro-agronon~oAbilio de Barros e Sousa, que tem
sido considerado c01110 iiin valioso estudo e que muito abona os ci-éditos de profís-
sional distinto, de que ~nerecidainentegosa o seu autor.
A ilustre vereação, que tão zelosa e deiigenterneiite tem dado execução a esse
grande einpreendiiiiento e prossegue na sua inteira conclusão, é inerecedora do maior
aplauso por parte de todos os munícipes e particularinente pelos nioradores da cidade
d o Funchal.

X'III-A A R B O R I Z A ~ Ã ODO PORTO SANTO

Diz-nos o doutor Gaspar Fr~ituoso,referindo-se á época do encontro do Porto


Santo, que esta ilha era "eiitam coberta de dragoeiros e de ziiiibros e outras arvores
até ao mar". Essas duas especies arboreas desapareceraiii ha muito da superficie da
ilha vizinha, apesar das aimas do município conservaram no seu escudo um "dra-
goeiro", como autentico testeiuunho da superabundante existência dessa arvore. Da
natureza das outras espécies florestais, que ali seriam encontradas e que o vandalis-
m o dos habitantes teria feito desaparecer, não ha noticia segura, sabendo se no entre-
tanto que 1150 é exagerada a informação de Frutuoso, possuindo primitivamente uina
apreciada vegetação, que coin inteira certeza não logrou uina dilatada duração.
Ngo temos conliecinleiito das medidas, que através do tempo se liouvesse adopta-
d o para urna tentativa de proveitosa rearborização, a não ser os apreciados traballios
realizados pelo regente-silvicola Antóriio Scliiapa de Azevedo pelos anos de 1900,
encontrando-se no Pico do Castelo uma vegetação florestal relativanieiite importante
qiie ainda do inar e a grande distancia causa a acliniração do observador, eni contraste
corn a aridez das outras eininêiicias.
Ao tratar-se da plantação do "vidoeiro" na ilha do Porto Santo, escreveu o ilustre
botâ~iicoCarlos Azevedo de Menezes urn notável aitigo, que foi bastante apreciado
e que encena elementos muito interessantes acerca do revestimento florestal daque-
la ilha.
Vainos transcrever os períodos que teem mais intima afinidade corn o nosso assun-
to.
"O Porto Santo, no entender dos técnicos, deve ser arborizado com essências da
região mediterrânea e nunca Coin espécies d a Europa média ou boreal, as quais teeiu
exigências climatéricas a que o pais não pode satisfazer, já pela SUA posição geográ-
fica, á pela pequena altitiide dos seus montes,
"Mesino no tocanie ás essêiicias madeirenses, parece-nos que ha selecções a fazer,
pois n%oé crível que se adaptem aos terrenos extreinainente secos e pouco elevados
d o Porto Santo certas espécies que só prospera entre nós nos vales e raviilas do inte-
rior, ou então nos poiitos elevados e húmidos das encostas meridionais e seteritrion-
ais da nossa iIha.
"O vinhático, por exemplo, é uma espécie imprópria para o revestin~entodo Porto
Santo, e, se por enquanto, apresenta111 boin aspecto os exemplares que ali fòram
introduzidos, mercê das irrigações a que teein estado sujeitos, tempo virá em que hão
de definhar, e nlorrer finalmente, por não encontrarem nos teneiios e na atiilosfera as
condições ilecessárias á sua existência.
A falta de chuvas e o calor intenso com medias hibernais pouco baixas, dão o
cunlio cliinatérico da viziiil~aillia, ein cujos inonte e só podem cultivar-se com van-
tagens certas essências, que se encontram na zona inferior da Madeira, como o
loureiro, o til e o barbusano, e não o vinllatico, que só começa aparecer coi-il tima
certa frequência acima de 400 ou 500 metros e que carece de liumidade para desen-
volver-se.
"Ora se o vinhatico, espécie inadeireiise, é impróprio para a arborização do Porto
Santo, ainda o é mais o vidoeiro, arvore que, como é sabido, tem o seu limite merid-
ional n o alto Minho, 110 Gerez" no Marão e na Serra da Estrela, e que só constitui
massiços importantes e111 regiões setentrionais e na Europa inédia, onde os fsios são
intensissiinos durante o inverno, e a estação quente dura pouco Lempo.
"Quando o vidoeiro fosse espécic mediterrânea adequada a ser cultivada i10 Porto
Santo, ainda assim exclui-Ia-hiainos do revestiniento florestal da ilha, por isso qiie as
arvores de folliageiu caduca 1150 são muito próprias para a arborização dos países de
clitiias quentes.
Do que se carece ila vizinha illia é de arvores sempre verdes, como são em regra
as da Madeira, afíin de proteger tanto quanto possível o solo contra a evaporação e
favorecer assim o aparecimento das fontes. Coin seu revestiinei.ito constituído por
essências de folhageni caduca, pouco n~elliorariaa situação das terras, visto não
poder deixar de ser muito restrita a inilucncia desse revestimento riun.i pais de iilédias
hibernais pouco baixas, como é aquele de que estainos falando".

XI V-SERVIÇOS FLORESTAIS
Como é sabido, gozavam os Capitães-donatários o direito de superintender em
todos os serviços de administraçiío piiblica, que nas localidades mais importantes era
exercido por interi-iiédio dos seus representantes legais chamados "ouvidores". A uns
e oiitros se eiicoiitram referencias nas leis, que ficaram citadas nos capítulos anteri-
ores. Com a criação dos municípios nos priiicípios do século XV foram-se gradual-
mente cerceando essas atribuições e ntío raro se suscitaram graves conflitos de juris-
diçiío entre essas corporações ciosas dos seus privilégios e os tradicionais poderes de
que s e achavanl discricioiiariainente investidos os chefes das donatárias, de que
temos unia prova em algumas inas disposições das mais antigas "posturas inimici-
pais", das quais ainda resta111 unias vagas e dispersas noticias
Temos a opiniilo de qiie os "Baldios" das Camaras Muilicipais foram uma con-
cessão tácita favorecida pelas circ~~nsta~~cias de ocasião, não existindo urn diploma
legal que a tivesse autorizado. O decresciniento do poder dos capitães-donatarios e
a s faculdades e privilegies que os "forais" e outras leis outorgaram aos muiiicípios
coiiduzirain estes a posse iiicontestada de vastos tei-ienos, cujas deliinitações ainda
110-je não são bem conliecidas.
Ignora-se a época Precisa ein que as vereações municipais entraram lia posse dess-
es terreiios e na activa e directa adrniiiistração deles e bem assim se descoiiliecem os
AIIOS e os tcrii~osem que forain organizadas as priii~eirasdisposições cainarárias ou
"posluras" inunicipais reguladoras deste assunto.
E' sabido que os capitães-doiiatarios, as vereações inunicipais e os governadores
e capitaes-generais, durailte o predomínio do poder absoluto, e os goveriiadores civis.
adiiiiiiistradores do coiicelho, camaras e juntas gerais iio período do coiistit~iciot~al-
isiiio tiveram todos uiiia acção aclrninistrativa mais ou iileiios latitudinaria lios diver-
sos serviços respeitantes á coiiservação e desenvolviinento das florestas lias serras da
Madeira, iiias as diversas determinações legais não assiilalavam os limites e as fac-
uldades da interkrência dessas entidades, resultaiido vários conflitos de jurisdição,
c o m o aciina ficou dito, e ui~iairreal e por vezes caótica orieiitação lia execução e na
pratica de muitas prescrições contidas nessas incsmas leis. Não forain iinportaiites ou
iiEío lia clelas cooheciine~~to, as medidas adoptadas para favorcccr a conservação das
inatas iio períoclo a que 110s vemos referindo, a não ser a proinulgação de algumas
leis cle caracter mais especulativo do que pratico, sem se obterem os resullados dese-
.iaclos .
Faremos agora rtipida ineiição cle alguns serviços florestais realizados desde o
priinciro quartel do século XIX, que iiierecein registo especial neste lugar.
Ein circular de 15 de O~itubrode 1804 recomendou o governador Asceiiso de
Oliveira Freire as cainaras da Poiita do Sol, Callieta e S. Vicente que cuidassem da
arborização coi~celliiae da liinpcza das ribeiras. Este goverriador cuidou taiiibéin da
arborização do concelho do Fuiiclial e da maneira de se criarem os gados sem pre-
juízo das plailtações.
E111 3 de Maio de 18 12, leu-se ein sess5o da Cimara M~inicipaldo Funchal unia
com~iiiicaçãodo iiispector da agricultura na Ribeira Brava de liavereiii sido plantadas
iio seu distrito 9:233 arvores, incluindo 4:795 amoreiras.
E i i ~9 de Novembro de 1814 matidou o goveixo interino da Madeira realizar
seineiiteiias de pinheiros e o mesmo fez a Câinara Municipal do Puiiclial eiii 14 do
iiiesino inês e ano, utilizatido para essc fim uns terrenos lias freguesias de Saiito
Aiitónio e S. Martinlio.
Por 182 1 criaraii~-senovos iiiaciços de pinlieiros, seiiclo o pinheiro maiiso a espé-
cic que iiessa época era mais procurada para as plailtações, e em 1840 maiidou o gov-
erno satisf'azer L I I I I ~requisiçgo de vinte iiioios ele peiiisco, feita no ai10 aiiterior pela
C8mara Municipal tio Funchal.
Foi durante o períoclo ern que o benemérito Consellieiro José Silvestrc Ribeiro
governou a Madeira (tX46-1852), que a cultura do pinlieiro bravo toi1-10~1 aqtii grande
incrcineiito. A correspondência relativa h rearborização das serras, trocada eiitre José
Silvestre e as Cainaras Mtiiiicipais e adii-iii~istradoresdo coiicellio de loda a ilha,
inerece ser lida por todos aclueles que quisereiii formar uma icleia exacta e clara do
zelo e stiperior competência com que esse fii~icionáriosoube tratar uiu assuiito, que
taiito se prenclia c0111 a prosperidade do país confiado fi sua adiuinistração, corno
lílrgiimcntc se pode ver tios três volii~iiesda obra Uina Época Administrativa.
De 1 852 ein diaritc só há a assinalar em iiiatéria de arborização o plantio de grandc
ilulnero dc arvores riiandado executar ilão hR muitos anos pela Direcção das Obras
Publicas do Distrito lias inargcns das levadas do Estado, a criação, depois de 1897,
dc alglimas inatas de piiilieiros para dentro do antigo bardo do Concelho do Fuiichal,
c a reiiiessn que fez a reparliçao dos serviços Ilorestais para a ilha do Porto Santo de
varias essCiicias exóticas e indígenas, alguinas das quais estão vegetalido ali inuito
bem, (1921).
Pelos anos de 1900 e por iniciativa do governador civil e distinto inadeirense Dr.
dosé Aiitóiiio de Almacla. foi a. Junta Geral do distrito autorizacla a estabelecer uin
corpo de policia lloreslal, que não correspondeii iiiteiraliieiite ao fiin da sua criação,
hlivcnclo tamb~iii,por essa época, alguinas cainaras municipais iiomeado guardas
cailipeslres.
Pclo iiiiportanlc decreto de 8 de Agosto de 190 1 que estabeleceu a "Autonoinia do
Diiirio" do Fuiiclial, licarain os serviços agronómicos a cargo da Junta Geral; conl-
prccnclciido a policia, conservação e propagaçilo clas florestas.
Pelos decretos de I I cle Março de 1911, e 15 de Maio de 1912 foi criada a Juiita
Agrícola da Madeira e íixaclo o seu regular f~iiicioiiaineiito,coinpreendeiido entre
oulros encargos o cle "proceder ao povoaineiito ilorestal das serras.. c ao estabeleci-
iiíciilo de iiiila eficaz policia rural..". Os decretos de 8 de Março de 1913 e - de Maio
dc I C) 14 vicrain ailipliar e reforçar a doutrina dos decretos de I9 I I e 1912, pondo c111
mais salieiltc relevo a imperiosa iiecessidade de acudir se ao revestiinento arbóreo
dcis serranias.
A Juiila Agrícola foi cxtinta pelo decreto de 12 clc Juiilio de 1919, transitarido
algumiis clas suas ft~iiçdcspara a "Nona Rcgião Agrícola" criada pelo decreto de 3 de
Al.iril clc 1922, clctcr~iiiiiaiidotio seu nrt. 33. que "lica provisoriainente a cargo rla
rdslaçZío Agrícola da 90 região o serviço de policia rural e florestal que perleiicia A
exliiila Juiltn Agrícola da Madeira".
NRScliversas rc~~arlições publicas subordinadas 6 direcção da Jiiiita Geral do
Fui~clicil,csld act~ialineiilecomprceiiclida a da "Estação Agraria", que abrange toclos
os rissutilas rcspcilaiiles aos serviços agrícolas e clesta faz parte uiiia "Regência
I~loreslal",a qiial lciii paiiiculanncntc a seu cargo a coiiscrvação, a propagaçito e a
liscaliznyíio da vegelnção arbórca do arquipélago. A "Regêiicia Florestal"tei~i por
cllcli: liln Eljgenllciw-agricola, que o é tambéin da "Região Agraria" e o seli quadro
burocrhlico coml18c-sc clc I regcnle agrícola, i cficfe de guardas, 2 iiieslres Ilorcstais,
7 guarclçis cle 18 classe, 7 clc 2a classe e 15 tle 3.8 classe,
Eiii I93 I iiiiciou a Juiila Geral do Dislrilo 11111iiiiportaiite serviço de rcpovoaiiieii-
10 Ilorcslal, adoplaiiclo uiiia iiiais scvcra repressão contra os abusos coineliclos, que
i t i i ~ til4
i 110 111ais feroz vandalisii~o,e proii~ovenclocin larga Rrea a plantação de algliiis
lllilhnrcs clc cspkcics Ilorcslais, para o que Soi ariiiietilaclo o iií~merode gliarclas e o
pessoal oll~prcgaclonos lraballios da prcparaçiio dos terrelios.
Pode afirmar-sc que esta iiiiciativa da nossa priineira corporat;ão adiuinistraliva, a
~ l ~ ~ i i i l c iol sscu
c aciivo c clicaz prosseg~iiiiiciilotias bases em que foi iiiiciacla, é L I I ~
lllt\i~aSSillalaclc)~ serviços 17restaciosh nossa ilha alravés clo rcpovoaiiieiilo Ilore-
stnl clris suas serranias.
Em deliberaçòes subsequentes e especialmente nos anos de 1913 e 1944 voltou a
Junta Geral a ocupar-se coni o maior interesse do revestiinento florestal de que resul-
taram apreciáveis benefícios para esse importante serviço. Merece especial referen-
cia o valioso relatório elaborado pelo engenheiro silvicultor José Maria de Carvalho.
N o "Plano Quadrienal da Administração do Distrito" a realizar pela Junta Geral
d o Funchal, no período próximo f~iturode 1946 a 1949 vein indicados estes serviços:
Fazer a regulainentação dos cortes de arvores, desbastes e fabrico de carvão" e " 1 I -
Fazer o povoamento florestal dos terrenos da Junta e de alguns terrenos baldios"
Nos artigos "Região Agrícola (Nona) e "Regimen Florestais da 2.0 edição do
Elucid Mad., ericonlrain-se varias infortnações respeitantes a esta matéria.
Nos capítulos precedentes, ficaram sumariailiente indicadas as in~portese fre-
quentes medidas legislativas que se adoptaram através de quatro séculos, destinadas
a proteger e a propagar as espécies florestais das nossas elevadas sesranias: Vimos
que as providencias promulgadas e os diligentes esforços empregados não corre-
sponderam ás intenções dos legisladores e dos Governantes, em vii-tudc da falta de
uina rigorosa observância dos privilégios estabelecidos e da impunidade havida para
coin o s audaciosos infractores.
Em breve resenha deixamos tambéin esboçados os inotivos que justificam a pro-
inulgação de novas leis coin as salutares prescrições que acerca do assunto as devem
caracterizar, impondo-se para esse fim a absoluta e insofisinável necessidade da cri-
ação de uina repartição central, que saiba, queira e possa dar o mais inteiro cuinpri-
mento e a mais, completa execução a todas essas deterininaçòes legais. sem excluir
o s necessários meios coercitivos e as severas penalidades que a eles andain sempre
estreitamente 1igados.
Embora já esteja dito e repetido, de novo convém insistir na afirmativa de que não
hasta a proinulgação de novas leis, com o seu aparatoso cortejo de "i~lstruções" e
"regulan~eiitos", tomando-se tainbém imperiosa a necessidade de confiar a direcção
dos serviços florestais a urna repartição especial, que, além dos indispensáveis req-
uisilos de zelo e de probidade, que devein distinguir o exercício das funções púbfi-
cas, P O S S L I ~O conjunto de todos os conhecimentos de caracter teórico e mais ainda de
feição essencialineiite pratica para o cabal desenipenl~odesses iinportantes e espe-
cializado~serviços.
Não vá julgar-se que este alvitre, ha muito sustentado por nós nas col~inasda
imprensa diária, carece de a~itorizadoe solido fundainento, pois que ele se acha
defendido e preconizado por distintos engenheiros-silvicultoreçem vários relatórios
e documentos oficiais
Como inuitas vezes tem acontecido na execução de certos nielhoramentos, é de
conjecturar que se levantem entre outros, estes argumentos de fraca e apenas
aparente persuasão, nias que para in~iitosserão alegações de cerrada e indestrulível
dialéctica:
1.-A avultada despesa que importa a criação de uma nova repartição publica, a sua
iiistalação e os encargos resultantes do seu grande movimento burocrático;
2.0-Não se tomar a benéfica acção de efeitos muito imediatos, tendo de aguardar-
se um fiituro mais ou menos largo para se reconliecer todos os proveitosos resultados
dos serviços prestados;
3. A sistemática oposição dos que teem directa ou indirectamente interesses liga-
dos á inteira maii~iteiiçiiodos serviços actuais, a começar pelos já chamados "inimi-
gos dos arvoredos", e ainda outros especiosos argumentos, que importa não nien-
cionar agora.
Quem estas linhas escreve, terido-se ocupado alguinas dezenas de vezes dos
assuntos, sempre momentosos para a Madeira. respeitantes ás aguas e florestas,
adquiriu lia muito a crença inabalável de que a criação de uma Circunscrição
Florestal é uin dos mais assinalados serviços que se presla â agricultura da nossa terra
e a todas as industrias e fontes de prosperidade dela derivadas, constituindo um grato
e Imperioso dever prestar a mais rendida hon~enageina todos os que teiiliarn con-
corrido para a realização desse inelhorame~ito.
No ano de 1938, o ilustre deputado pela Madeira Dr. Alvaro Favila Vieira abrili
uma cainpanha em defesa da conservação e do dcsenvolvi~neiitodas florestas da
Madeira, iniciando essa acção c0111 ~1111brilhante discurso no seio da representação
nacional e com as mais aturadas instancias, junto das estações superiores. Dela resul-
taram alguns estados ordenados pelo governo central e varias iiiedidas adoptadas
pela junta Geral do Distrito. Prosseguiram esses estados e forain postas ern pratica
alguinas providencias salutares, dignas do inais eiicarecido louvoi; O ilustre deputa-
do continuou no fervoroso empenho de levar a seli terino essa benemérita campanha
e novamente se ocupou com o costutnado brilho e reconhecida proficiência desse
inomentoso assunto. em uma das sessões, da asseinbleia nacional no mês de Março
do ano corrente, esperando ver em breve coroados os seus diligentes esforços com a
proinulgação de uni problema legislalivo e com a criaqiio e instalação de uin organ-
ismo especial, que assuma a superior direcção de todos os serviços referentes a esse
importante n~ellioraiiieiito.

Nos "campos experimentais" de agricultura pertencenles 21 Junta Geral, ou ein out-


ros sítios mais apropriados deveriam estabelecer-se novos 'Lpostos" ou viveirosw de
espécies arbóreas destinadas ao revestiii~entoflorestal das nossas serranias, dando-se
preferencia ás essências de caractei indígena e jB aclimadas, como mais largameiile
se dirá 110 seguinte capítulo deste estudo. Ein tempo passado, varias tentativas se fiz-
eram nesse sentido. mas nunca chegou a montar-se um serviço bem organizado e que
houvesse produzido resultados bastante apreciáveis. Seria, no eiitretanto, uina niedi-
da de grande alcance para o fim tão proveitoso a que se destiilava e o seu regular fun-
cionamento coilstituiria iiin brado permanente ein favor dos nossos depauperados
arvoredos.
Por 1797, o ilustre goveriiador e capitgo-general do arquipélago Diogo Pereira
Forjaz Co~itinlioestabeleceu no Fiinclial um pequeno "viveiro", que á sira inorle.
ocorrida em 1798, não permitiu dar um grande desenvolvi~nerito.Eni um docunien-
to oficial de 9 de agosto de 1799 diz-se que os tei-seiios destinados á "produçÊio das
espécies setentrioiiais estavam siliiadas na Lo~iibada,freguesia do Monte e que as
espécies ineridionais seriam cultivadas nos sítios que parecessem niais adequados,
encluaiito não se Ilies destinasse terreno próprio". No ano de 1823, a dar se credito a
uma inforniação oficial, distribuiu esse viveiro "para ciina de vinte mil arvores" para
diversas pontos da Madeira e Porto Santo, o que julgainos destituído de fundamen-
to, havendo esse campo experimental sido extinto ein 1828. Deste "viveiro" se
encontra uma desenvolvida noticia no terceiro voluine do Elucidario Madeireilse.
Oferece particular interesse ao que fica tratado iicste capitiilo a iiilòrinação collii-
d a ein uin jornal do Funclial e que temos por fidedigna.
Já no capitulo Montado do Barreiro, nos referimos ao iinportaiite serviço de rear-
borisação que a Ckmara do Fuiichal está ali realizando inas não quereiiios deixar de
aludir a o "Viveiro" que a mesma Câinara inantem no sitio dos Saltos freguesia de
Santa Luzia, destinado a fornecer as espécies arbóreas para aquele revestiiiiento flo-
restal. São muitos inilliares de plaiitas e de variadas espécies, ciijas seinenteiras,
tratainento, consei-vação e transplaiitação obedecem ao iiiais atilado critirio.
Tein a mais próxiina afinidade com este assunto os textos, q ~ i cein seguida tran-
screvemos, publicados ein o "Eco do Funclial" de 29 de Noveiiilsro de 1945 e a que
já aciii~aiizeinos referencia.
"A distribuiç80 das essêilcias florestais está feita segundo as necessidades einer-
gentes. Há o pinheiro, a criptoinéria, o eucalipto. o carvalho para ad~iela,o azevinl~o,
a nogueira aiiiericaiia, e o castaiiheiro, plaiitados aos inilliares eiii exteiisas arcas. MA
o s tis, os vii-iliaticos, o pau branco, o barbusano, a faia, o seiceiro, as acácias e est5io
a seguir para esses inoiitados, mais de 70.000 plantas de várias espécies, devidainerite
acondicioiiarlas no Viveiro do Reservatório da Câinara, ao caminlio dos Saltos, oiide
s e fazein as semeriteiras.
A indiistria de tanoaria coin os inassiços de carvalhos que se hão-de Iòrinar no
Barreiro e no Pisão, lucrará c0111 essas plantações; a indústria de niarcenaria. coin as
iiiadeiras de castanlio e outras que já começaiii a faltar e a encarecer o seu valor, terA
garaiitido o exercício do trabalho; os construtores ei~contrarãotoda a espécie de
madeira para uso ria edificação das Iiabitações, desde o pinlio da terra, até ds mais
raras madeiras para soallios, iilolduras, "parques", e a exportação vai descolirir ness-
e s inontaclos matéria priiiia para a coiifecção das caixas dc ciiibalageils. A indústria
resirieira terá nessas florestas urna fonte de produtos exploráveis, c coiii as cascas dc
certas arvores encoiitrareiiios solução para as Caltas que já sc vão notando no amaii-
ho das curliiile~itas,sem falarmos nas leiilias, c~i.jadeficiência se vai tortiailclo u111
pesadelo paras as donas de Casas"

XVIZ SELECÇÃO DAS ESPECIES FLORESTAIS

Teiii sido objecto de estudo e de discussão a escollia das espécies Ilorestiiis preferi-
da na rearborisação das nossas elevações inonta~iliosas.Escasseiaiu-nos os conlicci-
iiicntos de caracter técnico para emitir uiii autorizado parecer accrca dcsta matéria,
inas as varias leituras que fizemos e as coiisultas a ~ L I proceclc~i~os,
C levani-lios
aceitar, sem talvez cometer uiii erro da iiiaior gravidade, a opiiii50 do abalizado
botânico madeireilse Carlos Azevedo de Menezes, expresso ein iiiuitos dos seus
escrilos e corroborada por alguns distiiitos engenheiros silvicultores.
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

Sem aprof~indadoestudo e apenas com uma atenta reflexão ocoi'i'e sem esforço o
conceito de que as espécies preferidas deveriam ser aquelas que com grande opulên-
cia cobriram todo o solo inadeirense, como eloqiientemente o atestam a Historia, a
tradição local, a experiência de largos anos e os restos de alg~iiisden50S massiços de
arvoredo, que ainda se encontra111 nos montados do interior.
"...entendemos, diz o citado botânico, que é a flora indígena que deve fornecer as
espkcies precisas para o repovoamento das serras. Preferir para o referido povoa-
mento as exóticas ás indígenas, como iilfelizixiente tem sido aconselhado, é não só
pôr de parte, sem motivo justiçado, as riquezas florestais com que a natureza dotou
a ilha, como também dificultar a realização dum i~~elliorainento ciya utilidade não
carece de justificação. São poucos os vegetais lenliosos estranhos a esta região que
podem competir com as espécies indígenas tanto no seu desenvolviinento como na
qualidade das madeiras, algumas delas raras e de artístico aproveitamento. Há nada
menos que trinta e tantas arvores e arbustos adequados ao rcvestiinento dos mais
variados terrenos e altitudes da ilha. Quando inesino não fosse para nós um dever
conservar religiosamente as essências espontâiieas que nos restam, bastaria a circun-
stancia de todas elas ofereceram uiii maior g r a ~ de
i adaptação ao solo e clima desta
ilha para Ihes dar o preferencia nos revestiinentos a executar".
"Não pomos em duvida que haja espécies florestais de outras paragens suscep-
tíveis de aclimar-se lia região inontanhosa da Madeira e eiii particular 110s vales do
interior; o que não vemos é a necessidade de recorrer tão somente a essas espécies
para reconstit~iiras nossas florestas, quando superabundain razões de preferencia
para a conservação e desenvolvin~entoda vegetação regional".
"O pinheiro inarítiiiio, embora estranho á ilha, é uma essência preciosa, que con-
vém generalizar tanto quanto possível nas vcrteiites da região ~ileridionale setentri-
onal, mas, no nosso entender, por a q ~ devemos
~i ficar ao menos por enquanto, no
tocante ao aproveitaineilto de espécies lenhosas estrangeiras na arborização das inon-
tanhas, para não perderei11 te111po com ensaios, que podem não dar bani resultado.
"0 aproveitamento das essências indigenas 110s trabalhos do revesliinento flore-
stal da ilha, quando conveniente~nentefeito, não concorrerá soinelite para restituir ás
nossas montanhas a verdura e o frescor doutras épocas; será também o meio eficaz
de obstar ao desaparecimeilto de muitas espécies curiosas e inleressarites, algurilas
das quais tem a sua área de habitação circuilscrita a esta ilha ou aos arquip8lagos do
Atlântico".

Achamos oportuno deixar neste lugar uma breve notícia acerca de algumas das
mais ricas e abundantes espécies vegetais, que cobrira111as nossas serras, e para isso
aproveitareinas os est~idosdo já tantas vezes citado botfinico Carlos de Menezes,
insertos nas páginas do Elucidário Macleireiise, rio opúsculo Arvores e Arbustos da
Madeira e ainda em outros trabalhos da sua autoria.
O Cedro-afamado e odorífero ccdro da ilha é o Juniperus Oxyceclrus. arbristo oii
pequena arvore de 4-7 inetros com as flores dioicas, os ra~niisculospendentes, as fol-
has lineares ou linear-lanceoladas, terçadas, com 2 riscas brancas na pagina superior,
e as gálbulas subglabosas e de ordinário ainarclas. Este cedro cultivado nas qiiilltas
do Monte, Camacha e Santo da Serra, mas quasi extinto nas serras da Madeira, pro-
d ~ i zunta madeira aromática e leve muito apreciada pelos inarceiieiros. O tecto da Sé
Catedral foi constriiído com essa madeira, e a ser certo O ~ L I Cdiz Manuel Totnás lia
Iiisulaiia, serviu ela também para ediiicar a priiiieira casa sobradada que liouve no
Funclial. Esta espécie produz madeira clara, aromática e muito resistente, bastante
apreciada, na marcenaria, afirmando-se que tein qualidades iiisecticidas.
Til-E uina Iaureacea de seis a vinte iiietras com as folhas coriáceas. ovadas.
lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas dos nertros, com as l'ollias corihceas.
ovadas, lanceoladas ou oblongas, peludas nas axilas das nervliras da pagiiia inferior;
flores pequeiias, de ordinário herinafroditas, reunidas eiil paiiiculas; baga cingida
parcialmeiite por uina cúpula formada pela base acrescciite do periaiito. Enco~itra-se
nas florestas do interior e tlo norte da Madeirti, e produz inacleira coin ceriic e boriie
bem delimitados, este branco, aquelc negro. Recenteniente cortada, cstsi iiiadeira terli
uin cheiro forte e bastante desagradfível, que só desaparece coinplclamei~lepassados
anos. A Madeira do til é de cxcelente q~ialicladee muito usada para iiioveis e dikr-
entes outras obras. O "til branco", dos iiiarceneiros, provem tlas arvores novas ou do
alburno das arvores antigas.
Vinlatico-Apreciada arvore de 19 a 25 inetros sempre verde; hlhas coriáceas,
oblongas, ou oblongo-la~ilceolaclas, adelgaçaclas eni ambas as cxtreiiiidsidcs, q~iasi
agudas na ponta, publescelite-sedosas c111quanto iiovas; glabras depois de adultas,
dum verde claro ou avernielhadas; paniculas axilares mais c~ir1:is do qlie a s Solhas;
pedíinculos coinpriniidos; flores dui1-1branco esvcrdiiihado; bagas ovbiclcs, negras.
Florestas e inargeiis das ribeiras; fiequente. Cultivado nas quirirsis. Agosto-iiovcin-
bro.
Madeira duma linda cor averiiielliada c unia das mclliores da ilha.
É muito usada para moveis e diCerentes o~itrasobias, ol'erecciido scinelhatic;as scii-
síveis com a do mogno (Sovictenia), sc bem que lhe seja ti111pouco inferior, c111qual-
idade. Como é muito procurada c a pagain por boiii prcço, C av~iltadissiinoc) i~i~iilero
dos vinliaticos que todos os anos são abatidos nas serras, o cl~icpocle trazer a rápida
extiiição desta espécie, por tantos motivos preciosa e jrí 1io.je raia crn pontos ciiitle out-
rora era abuiidante. A casca do vinhatico é usacla para ciirtumcs.
Urze molar-Esta espécie, embora q~iasiseinpre arbustiva, pciclc atiiigir 8 a I0 mct-
ros de alto, e conliece~iiosoutrora alguns indivíduos c~~.jos troncos incdiani I a 0 incl-
ros de circunferência. A iiiadcira desta espécie é rija, coinpacta c c t ~ i i i i castaiilio
escuro iiias fende com facilidade, sendo por isso pouco iissirln na marcciinria. Nos
cainpos e~iipregaiii-naAs vezes para gainelas, colliercs, etc. Os caules não iuuitos
grossos, d5o excelentes bordões e paus de recle. A iirze cl~irasiaé q~irisiseii1pi.c nrbus-
tiva, e só iialguns casos chega a atingir 4 e 5 melros de alto, apreseiilaiirlo eiitKo ui11
1)equcno tronco coin 20 a 30 centíinetros de diainelro. Os scus riirnos, alCm dos tisos
iildicados, servem para o preparo de vassouras.
Loureiro-Vem assiin descrita csta espécic no "Eliicicl. Mad.": Arvorcs da hiiiilia
das Lauraceas, de 6 a 20 metros, c0111as iollias persisteiitcs e aroinciiicas, as iiiiibcl:is
reunidas ein fascículos axilares, de ordiiiário mais ciirlas qiic os pccíolos. e as bagas
ovóides, negras. raras vezes amarelas. Produz madeira clara, inferior h das outras
Latiraceas madeirenses, e as suas folhas são usadas como adubo nas cozinhas.
Das bagas, extraia-se outrora uin óleo que servia na iluminação das casas pobres
dos campos e que se preparava cozendo as bagas e espremendo-as depois dentro dum
saco de pano, ein pequenos lagares de madeira. Como o Óleo é inais leve de que o
resto do liquido, sobreiiadava, scndo tirado facilmente do recipiente em que se fazia
a operação.
O loureiro encontra-se na primeira, segunda e terceira zonas da Madeira, mas
nesta ultima é uma arvore de pequenas dimensões. Existiu outrora expontaneo no
Porto Santo, onde se extinguiu, sendo porem cultivado agora naquela illia.
Barbuzano-Está descrita no referido opíisculo Aivores e Arbustos Madeirenses
nos seguintes termos:- Pertence à família. "laureacea" e cilcontra-se principalmente
no norte da Madeira, onde desce até b proximidades do rnai: Pode atingir inais de
vinte metros de alto e tem folhas coriáccas e glabras, As vezes quasi opostas, e tlorcs
pequenas, dispostas em paiiiculas mais cui-tas que as fallias. As protuberâncias que se
observam a iniolo na parte superior das folhas desta arvore, constiriiern uina cecidea
do typo Ereneuin. A madeira do barbiizano é muito pouco utilizado pelos
marceneiros, ein razão de scr extremainente rija. Na ilha do Porto Santo diio o nome
de barbuzano ao Sideroxylon Marinulano espécie coiibecida lia Madeira pelo noine
de mamulaiio. As suas folhas apresentam a miúdo uma cecidia por u111 eriopliycleo,
que foi descrito pelo distinto cecidologista. da Silva Tavares no vol. I1 da"Broterja".
Pau ~ranco-6 arvore de oito a dezoito metros e da família das Oleaceas, com
folhas persistentes, coriáceas, glabras e inteiras, flores bra~icas,reunidas em raciinos
curtos, axilares ou extra-axilares, solitários ou geininados, e frutos elipticos, a priii-
cipio vermellios, depois violáceos. Encontra-se nas serras de S. Vicente, da
Boaventura, do Poi-io do Moiiiz, etc., mas está quasi extinta na ilha. Produz inadeira
branca ou puxando uiii pouco a cor de rosa, muito dura, pesada e susceptível de boin
polido, que ainda hoje é ~isadopara parai~isosde lagares e qiiilhas de einbarcações.
olhado-É peculiar a Madeira de 5 a 7 metros e pertence à família das Ericaceas,
encontrando-se em diversos lugares da illla. Tem folhas oblongas ou oblongo lance-
olados, ferrágiiioso pubesceiites nos peciolos e nas neiv~irasda pagina inferior, e flo-
res brancas aromhticas, dispostas em cachos forinaiido penicula. Os troncos novos e
os rebentões desta arvore dão excelentes "bordões" ou "liastes" muito usados e da
madeira fazem-se colheres, fusos, etc.
Dragoeiro-Pertence 21 fai-ililia das Liliaceas, qiiasi extinto ria Madeira e de que no
Porto Santo não existe uin exemplar, tendo sido ali inuito coinuin. Tein caules a prin-
cipio simples, depois rainosos no cimo, mas coin os ramos partindo seinpre da
mesma altura; folhas teriniiiais alongadas, lineares; flores esbranquiçadas, bagas glo-
bosas amarelas. A Câmara Muiiicipal do Porto Santo conserva a figura dum dra-
goeiro a o seu brazão de ariiias.
Faia-A "Mirijica Faia", da iamília das "Miricaceas", que deu o noine á freguesia
do Faial, é frequente em certos pontos da Madeira. Tein folhas glabras, obovado-
lanceoladas ou oblongo-laiiceoladas, de ordinário serradas, flores dioicas e fr~itos
drupaceos, a principio verinellios e depois negros, reunidos em pequenos grupos em
virtude da aderência das florcs feminiiias. A faia produz boa lenlia, c os seus caules
sgo utilizados para estacas em ~niiitospontos da costa norte. A sua casca é taninosa,
a s u a madeira é de cor baça, puxarido ás vezes a rosado, e os seLrs frutos, aparente-
inente polisperinicos e granulosos, teem sabor agradável quando bem maduros.
Sanguiiilio-E uma arvore madeirense de quatro a oito metros de altura, perten-
cente á família das "Rhaminaceas", com folhas curvadas ou ovado-oblongas, ser-
radas, providas ordiiiariamente de 2 a 4 pequenas glândulas ou saliências na parte
ii-ikrior da pagina superior. Tem flores pequenas, dum ainarelo esverdinliado, dis-
postas ein caclios curtos, axilares, e encontra-se na serra do Seixal e entre os
Lainaceiros e o Ribeiro Frio. Produz madeira clara e homogénea, empregada outro-
ra erri embutidos, snas hoje desconhecida da grande maioria dos marceneiros, por ser
ii~uitorara.
Seixo-Abundou ein outro tempo, mas acha-se hoje quasi extinta esta arvore das
florestas da. Madeira, scndo hoje quasi desconhecido. Atinge 2 a 12 metros, sendo de
iiiadeira amarelada e é susceptível dc boin polido, com largo uso na inarcenaria em
olitro teinpo".

XIX- PASTAGENS

Eim muitos lugares do "Elucidário Madeirense" e noineadainente nos artigos


"Arborisação", "Gados", "Industria Pecuária", "Pecuaria", "Prados" e "Pastagens"
110socuphinos coiii alguiila larguesa das diversas espécies de gados existentes nas
serras e baldios desta ilha, e de modo particular iio capitulo VI ("Inimigos dos
Arvoredos") deste ligeiro estudo 110sreferimos aos consideraveis eslragos que esses
gatlos causain aos nossos arvoredos, tosriando-se ii~dispensávelunia mais a c h a e
eficaz vigiltiilcia por parte da guarda floresta1 e sobretudo uma severa aplicação das
peiialidades que a lei estabelece contra os transgressores. E111 rápidas palavras,
salieiitainos a inaudita devastação que os incêndios provocados para a "criação" de
pascigos apropriados, originam em vhrios pontos com gravissirnos prejuizos nas
arvores e 110s iiiatos, nas fòrragens e nas nascentes e ainda em alg~iinascultiiras de
propriedade particulas.
E coiiveniente reproduzir os seguintes trechos, publicados ha vinte anos, que coii-
servain a mais flagrante e opoi-tuna actualidade.
O gado suino, não menos prejudicial que o capririo, somente se encontrava até à
altit~idcde 1400 a 1500 metros, causando sempre os maiores estragos, inas hoje
( 1926) estende-se até aos cumes dos mais altos montes. A conhecida Lapa da Cadela,
pitoresco abrigo dos turistas e dos pastores, acha-se transformada em uin imundo
curral, c0111 grande repulsão dos que por ali tramitam, devendo ser apenas reservado
para os visitailtes qtie procuram aquelas paragens. Eni frente deste abrigo existia um
denso e inajestoso maciço de urzes secula-res, rnuito admirado por nacioliais c
estrangeiros, que o machado fez ba miiito desaparecer (1921)
A s leis proiiiulgadas para a "reprcssão desses abusos, tanto as mais antigas como
as d a época relativamente recente, tem sido impotentes para uma coinpleta exter-
ininação do mal, o que deteriniiiou a publicação do decreto de 23 de Julho de 1913,
q u e licou coiiliecido pelo noine de das pastageiis.
Nela se estabelecem, entre outras, as seguintes dis-posições:
a) pemissão da pastagem de gado, suino e caprino somente eni terrenos perten-
centes aos donos desses gados;
c) completa vedação dos inesmos terre-nos, impedindo que o gado possa sair
dessas áreas;
d) os baldios do estado ou das ciimaras municipais que forem destinados a
pastagem seriío tatnbéin inteiramen-te vedados,
e) a pastagem nesses baldios., sómente po-derá ser exercido por meio de licença
e mediante de-tenninadas condições.
O decreto de 22 de Seteiiibro de 1911 torna mais extensiva a disposição da alinea
a, acima indica. da, tornando-a aplicavel a "gado de qualquer espécie" e permitindo
a apreensão e a destr~liçãodo gado que for prejudicial á caça e á agricultura.
Reconhece-se geralmente que esses decretos, embo-ra encerrando proveitosas dis-
posições e satisfazendo as necessidadcs do momento ein que foram promulgadas,
niio atingem inteirainenie o fim desejado, iinpondo-se a necessidade de os modificar
e anipliar.
São bem expressivas e de flagrante actualidade os trechos que seguidamente tran-
screyeinos e publicados ha poucos inêses em uin jornal do Funclial:
"E de considerai; poréin, que lia lavradores 110s campos que fogem de utilizar os
seus teirelios ein zo-nas altas coni receio de verem totalmente destruídas as suas cul-
turas.
"Quanto gado tem sido inorlo e quanto esth ainda para matar!
A s serras do Porto do Moniz, mormente o Fanal, estão sendo pasto desses animais
destruidores, não obstailte irequenteineilte se haverem dado batidas ao gado, desde
ha anos, a pedido da autoridade administrativa local; da inesina fonna as serras do
Seixal, e de S. Vicente, enfim todas as serras da Macieira.
"Brigadas de praças florestais, c0111 uin pesado dispêndio para a Junta Geral,
foram inciiinbidas de realizarem cercos aos porcos e ás cabras, apreendendo e
matando a tiro o gado nocivo 5i vegetação, que chegava a invadir as propriedades
pejadas de culturas. E esse serviço ainda continua hoje, mais rigoroso do que em
épocas traiisactas imposto pelo nosso primeiro corpo administrativo.
Não ha muito que da acção conjunta da Policia de Segurança Pública e da Policia
Florestal, nas serras do Poiso, rcsultou o exteimínio de numerosos porcos e cabras.
"Não basta, porém, o ataque isolado a nina zona, inas a perseguição contiiiiia ern
todas as zonas a esses iniinigos da economia agrícola, que se inultiplicai-il, de ano
para sino, e que, sein utilidade, vagabilndain pelos montes e assaltam, instigados pela
foine, as áreas povoadas de vegetação".
Oferece particular interesse esta noticia exarada ha pouco tempo etn uin periódi-
co desta cidade:
"O nuinero de ovell-ias a~~i.ilel.ita
ou diininui, influindo muito nisto as intempéries,
os cães danados e os ladrões.
"Os rebaillios viveili ali abandonados, por falta de abrigos tanto para eles como
para os Iioineiis. Se o vergo decorrer seco, as ovellias enfraqueceil~e muitas morrein
no inverno se este for rigoroso.
Os ciles dailados, (e111 gado) siío autênticos lobos, pois lia cão, que em uma só
iioite conseglie i-i.iattir5 0 lrinigcros. (~liklilcloiiparccciii, OS ,iiSloi.cs tirgailizam balirlas
até que os exlcriiiiii;i~~i.
T O ~ OOSS i nprireccm
i i i ~ ~ ~ 5 COIII ~ scstn d ~ c i ~ ce ;~lizlllellle
~,
dão-llics para iiialrir s6 ovclli:is.
- 0 s aillig»s allicio, exercem a SU:I riclividadc i10 1':i~iI dn Scrr:l durks rorillas;
uiil>li: jlibtrnindo I'ra~itlulciilaii~c~it~ ti giitlo. ~iriiicili:iiiiiciilcdurniilc a iioitc e a outra
6 al7i.i1ldoas cnacclas para tllie o gndo sai:i, iipaiiliiliii-nc) logo, alegrindo clue estav;~a
firzer-llie prejuízo iies ciilt~iia~".
"Na0 se ~oriiriiiliiica exccssivii a iiisistliiiciii tio qlic iicstc capitulo se diz acerca dos
giaiides c ficcl~icii~cs estragos causados IXIOS gados, ciii virilidc dri lalla da
sáve] vetlac;ão nos terrciios ciii cliic eles ]?:isciriiii livrciiiciilc, Apesar '10 que a tal
rcspeilo tão expressa c ciicrgic:iiiiciilc sc tlisplle 110sdccictos de 23 dc J~il1~o tlc 1913
c 22 0~itubi.o 10 I(,, ol7csni tias "hitiil:is", i1 liio dc csl~iiiyiirtlii,Ièjlas Icgi~-
iIna pcrsegliic;ã(~clcsscs garliis cri'liiilcs c seiii í~iicccssiíria vigilliiiciri, 31)~~31. das illlil-
tas iii~poslasaos donos dcsscs riiiiinois c 110s scus rcspcctivos gliiris ou pristnrcs e
riiiida apesar dii criaqiio cle novos postos Iiorcslais C iicrcscciitaiiicn~odo seli pessoal,
nao 6 raro q l i ~ a glebns
s líihorios:iiiiciiIc ngi'ic~iltíidns,qiic as iiicipiciitcs c~iltlirrisclc
vegetaçlio riibhrcn, que iilg~iiisj~ccliieiio~ ~~i.íiclo~
C Iiigíircs coiii piSovcilosns'~oiru~ciis
scjnni iiiv:iclitlos, por vews ciii in~iltidiiopelos voiii~cslaiiígcros. crir>ricleosc siiiiicis
das nossas scrrns".
liilcrcsstiiitcs e valiosris scririiii iimtis iiolns poriiiciioii~tirlnsacctqcri(I» núiiiero (Ias
dil'ercnlcs cspdcics tlos gíitlos csislciilcs, qiic nbr~iiigcssciiidiversas époc:is c cliic par-
liculaiiiieiilc se iclLiissciii e crido ~ i i ~ilos i o i i coiiccllios
~ do iiosso tlistrita. 8sth
ainda pcir orgriili~arliiiiri cs1:itislica tlcssii iiaiLirct/n c por isso 110s liiilita~c~i~os Q
iiisciçilo tlc iilgiiiis clrttlos nviilsos, colliitlos priiicipaliiiciilc lios relnliirios do iiiitigo
sigiUiioiii» Eduartlo I)ias Ciiniiclc c vctcriiiliriu ,loBo 'l'icnio c cuiri ii1icii.a vcnicitlíitlc
.já iei coiiteslaciri. Foiiim tlois disliiilos c ~closiisliiiicioiiííricis, illic tiilvez 1150lios-
suíssciii wi1Bo os clciiiçnlos iiidisj~eiisíivcis1iiir:i a cxcc~ic;tioclc iiiii tinhnllio hascrido
lios mais scgliros incios de iiivcstigiiçiio.
Ecl~iardnCiraiiclc, coiiio ngríiiioiiio tlo clislrilo c iio SCII iiiil~iirlíi~~lc relalíisio 1.0fcr-
ciitc no alio tle IXh3. tlií-iios esta iiiliiriiioc;iio do gatlo ciiliio cxistciitc: hoviiio 25338
cabcyns, oviiio 44 180, e cnpiiiio X 1840, sciii liizcr iiiciiçiio cla cspCcic poici11:i.
No icliilWi'io do vclciiii6iio Jofio 'I'icriio ~~iihlic:iilo ciii 1807, ciicoiilraiii-se, coiu ii
tlcsigiiação tlc gado rccciisciiclo, cslcs dados cst:ilislicos;
N o aiio clc 1852 cxistii~iii00804 cahcc;ns tlc giielo oviiio. X 173(1 clc griclo caprinu c
I X de gado porciiio; cin 1804 rcspcctivnriiciilc 44 180, H 1840 c 10535: c111 1x73 cssc
iiúincio era tlc IHOOO, I8040 c 22430; E c111I NO3 liii C O I I I ~ ~ I I ~ c111 ; I ~ OI X3004, I OS 17 c
34530,
Rcslicitaiile rio alio tlc 1803, sog~iiitloo rclalíirio uciiiiíi citoclo, fixa-se crn 44 1 H0 o
~i~iiiiero de I:liiigcios cillilo cxislciilc ciii lotlo o ~ii'qiiipJlogo.ciilrniitlo iicssc cliianliln-
tivo 32000 iio coiiccllio do I:~iiicliíil. o cl~ic1180j~ilguiiios1irol7orciori:iI aos tl«s otiiros
conccllios.
Nci iiollivcl liclnlório tlo ciigciilicii*o-silviciillorJosC Aiiy~isloI:iagoso, íipresiliilíi-
tlo ii 3uiilu Geral i10 ano tlc 1020, IC-se qlic "siío cerca tlc 80000 çctbcçns rlc gutlo
suíi~o.oviiio c capriiio c111perl'cito cslritlo sclvíigciii." que se acliniii tlissciniii:itlos iiiis
clivci.s:is paslngciis elo illin.
"0s dollos dos lanígeros que pasta111 no Pa~ilda Serra, são lloje em número de 666,
dessiininados pelos referidos concellios, a grande maioria modestos lavradores, ape-
gados aos costuines dos seus bisavôs, não querendo sair dali, cheios de siiperstições,
receando inau ano, 110 facto de se aumentar a área do cunal, e incorrendo eIn casti-
go infalível da divina providencia se esse atimento da área for para o lado do sol
(Leste).
Em 1942, as Cailiaras administradoras do Paul da Serra ao abrigo do disposto no
n. 1 do a1-t.o 45 do Cod. Administ. fizeram um regulamento sobre as pastagens no
logradouro coniuiil, no qual obrigam os pastores a terem unia direcção para admin-
istrar todo o pasto, a qual tem um presidente e 4 dircctores, iini de cada concelho e
com quem se entendem os pastores das respectivas localidades, e 1 tesoureiro.
"A direcção tein o pasto dividido em três zonas, a de Leste, Centro e Oeste, tendo
cada uma, um grupo de 16 pastores, que destacando cada grupo 2 homens para vigias
diários do pasto comum, havendo assim todos os dias, 6 homens a vigiarem os rebaii-
lios do Paul da Serra.
"As despesas, são as provenientes de pagamento e salário aos vigias e recon-
s t r ~ ~ ç ãdeo bardos, prejuízos, taxas cainarárias e outras diversas que no fiin do ano
são rateadas pelo numero de cabeças de gado contadas na ocasião do arrumo para a
tosquia, pagando os respectivos donos a sua quota parte, conforme o riúmero de
cabeças de gado era possivel .
Com esta pequena Direcçáo, a qual tem encontrado escollios por toda a parte, já
se conseguiu alguiiia coisa, pois, em 1942 havia 5447 cabeças.
Ein 1943, passou para 4788 cabeças.
Em 1944, subiu para 8 178 cabeças.
E ein 1945, para 9500 cabeças.
Estes 9,500 laiiígeros têm o valor de 1.140.000$00 e prodiizirarn 7125 kg. de lã
ein 1945 142.500$00."
Coiii a carestia dos tecidos, todos os pastores fabricaram no cainpo cobertores para
as suas camas, com lã dos seus ovinos e todos eles e famílias usam camisolas tam-
bém de lB, e de idêntico fabrico.
"Enquanto grassou a peste porciila os cordeiros substituíraiii o porco da festa. em
quhsi todas as casas nas localidades onde lzouve aquela epidemia."
As inforinações, que ficam textrisilinente ~raiiscritase que muitas considerani
baseadas em dados de caracter oficial dizem respeito ao Paul da Serra e referem-se
somente ao gado lanígero.
Passados poucos dias o "Eco do Ftinchal" (27-1-46) fornecia os seguintes dados,
que abrangem as espécies ovina, caprina e porcina existentes em todas as serras da
Madeira:
"N6s sabemos, de foiite certa, que todo o gado, que pascia em todas as serras da
Madeira, atinge o núinero de 95000 cabeças assim classificadas: 55000 ovelhas,
25000 cabras e 15000 porcos".
Embora referentes a diversas épocas, oferecem entre si uina grande discrepância
os dados que ficam exarados acerca do numero das espécies ovina, caprina e suína
existentes no nosso arquipélago, estando indicada a iniciativa de larga e rigorosa
investigação, qtle proporcione os eletilentos indispenshveis para a oi-gallização de um
seguro, porriienorizado e proveitoso traballio de estatística.
Relaciona-se proximamente coin as considerações expostas acerca das
"Pastageils" o que deixamos dito no "Elucidário Madeireiisc" acerca dos gados que
pastam nas serraliias, quando iiiotivos poderosos aconsclliareiu o exercício de uma
ii-ioderada industria pecuiria.
Soineiite ha poucos anos é que a industria pecuária e OS cuidados a dispensar aos
gados que pastarn livremente nas serras começaram a estimular as atei-ições das
estações oficiais e a despertar no publico um certo interesse por este assunto.
Deve-se esse inovimeiito inicial aos valiosos estudos realizados pela Intendência
de Peciiária deste distrito, que acerca de tão mornentoso assuiito, elaborou uin vasto
e s~~bstancioso relatório, indicai-ido os ineios inais adequados a adoptar no nosso
meio, afim de se alcançarem os resultados mais proveitosos para a indústria agríco-
la da nossa terra.
A selecção e aperfeiçoamento das raças, a criação e tratai-iiento dos gados, a sua
instalação Iiigiénica. e assistência veterinária, as forragens, a produção do leite, a pro-
tecção rilutuária e ainda muitos outros iiiteressantes aspectos desta utilíssima inaleria
são tratados nessc relatório com grande clareza, coni O indispensável desenvolvi-
ineiito e coin a mais notável proficiência, que sobrema~ieiraIionra o distinto fiiii-
cionário que o concebeu e recligiu.
Muito seria para desejar que se fizesse uiua edição popular desse valioso docu-
ineiito, destinada a ser espalhada pelos nossos caiiipos e aldeias.
Ao reí'erir-nos, embora rapidamente a este assunto, seria cometer uina flagrante e
imperdoável ii-ij~istiçanão fazer ineiição dos excelentes trabalhos iiisertos em alguiis
números do "Boletim de InSori~-iaçãoe P~iblicidade", publicado pela junta Nacional
dos Lacticinios da Madeira c dirigido pelo distinto engenl-ieiro Luís Pedro Baptista,
traballios que particulai-mente iiiteressain ás relações da agricullura com a pecuária
através da iiiiportante iiidusiria dos lacticínios.

XX-PRADOS FORRAGENS

Têm próxiina afinidade coni o serviço pecuário das Pastageiis, versado no capitu-
lo ai-iterior, as coiisiderações que acerca dos "Prados e Forragens" vainos rcsuniida e
parcialmente extratar dum estudo do ilustre botânico Carlos Azevedo de Menezes.
Einbora não Perfilemos a opinião dos quc slistcntam que a iiidiistria pecuária dos
gados Ianígero, caprino e suíno coiislitiii um apreciável eleiiieillo cle prospericlade lia
vida econiiinica da Madeira, niio queremos deixar de rekris-nos a este assunto, qiie
poderão oí'erecer qualquer interesse oii siinples curiosidade a alg~insdos raros
leitores deste opíisculo.
Os lerrelios ervosos da Madeira entram q~iasitotalmente na categoria de prados
naturais, existindo apenas alguns de caracter artilicial na Quinta do Palheiro e ein
mais duas ou três localidades.
Nos prados nat~ii-ais,relativaineiite ao nosso meio, lia a considerar os da região
inferior, média e do interior da ilha. O grande aproveitamento dos terrenos para as
culturas iaz coin que os prados da zona inferior ocupe soiiieiitc certas cncostas alcaii-
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

tiladas do litoral e virios outros pontos, que embora ineiios íngremes, pela sua
natureza, distancia dos povoados, falta de agua outras circunstaiicias, apenas costu-
mam ser utilizados na prod~içãode ervas.
Na parte sul da ilha, a espçcie dominante eni toda a orla marítiina é a "trevina".
Na região baixa são coinuns as espécies conliecidas pelos iioiiies de cabreira,
fedegosa, cardo, tancliagein, feno, balarico, grama, azevém, amor de burro, serralha
e ainda outras.
"Os prados da região inferior estendem-se até a altitude de 200 metros na costa d o
sul e de 150 metros ria do norte, sem apresentarem alterações muito sensíveis ila sua
composição. Nesta ultiina costa, ocupam eles priilcipalinetite certas escarpas do
litoral visto os terrenos planos ou porico incliiiados acliarein-se cultivados quasi
todos de cana sacarina, vinha, plantas hortenses, etc. Muitas das plantas forraginosas
que aparecem na região meridjonal, encontram-se igualmente na seteiltrional, liaven-
do apenas a adicionar alguinas i lista das que sgo inais coiliuns 110s logares húinidos
desta ultima região.
Os prados da região média ocupam as margens das ravinas que pela sua inclinação
não se prestam a ainaillios, e varias colinas, picos e outros terrenos não i~ivadidos
ainda pelas culturas. Esteiidein-se até 750 ou 800 metros, e são inuitas vczes liinita-
dos ou cortados pelas matas de pinheiros (Pinus iiiarítima), os quais formarii mas-
siços consideráveis que sobem iialguiis pontos até altitudes superiores a 1.000 iiiel-
ros. O tojo (Ulex europaeiis), mais conhecido na Madeira pelo nome de carqueja, é
muito frequente neta região, e os seus rainos novos dão uma boa forrageni, depois cle
convenienteinelite esinagados, por causa dos espiiil.ios que os revestem.
"A partir de 700 ou 800 iuetros, coineçain o s prados e pastagens do iiiterior, o s
quais abrangeiii o alio das serras, as ravinas centrais não arl30rizadas e aiiida uilia
parte das vertentes meridiolial e setentrional da illia. Nos logares secos das inoillnn-
has, são inuito frequentes a Thriiicia iiudicaulis, a Aira praecox, a Agrostis castellaiia,
o Lotas hispidus e a Plata o laiiceolata, plantas estas que nos terrenos inenos altos das
vertentes aparecem associadas a inuitas oiitias jtí indicadas 110s prados da região
média, e nas ravinas do interior barba de bode, palha carga, e difereiites espécies inais
peculiares ou quasi peculiares destes logares e que só vivem nos sítios Iiiimidos ou
assonibreados.
Nas raviilas da Ribeira da Metade e da Boa Ventura, existe urna graiiiinea de Fol-
has suculentas, iiiklizmente inuito rara, que é considerada coiilo das rnelhores plaii-
tas forraginosas da Madeira. Esta graiiiiiiea, que é a Festiica albide e é peculiar d a
ilha, já foi cultivada coin bom resultado n'uin tcrreiio dos suburbios do Fuiichal. Na
citada Ribeira, da Metade, tainbéiii se encontra uma leg~iiuiiiosa, a Anlhyllis
Lemanniana, que tenios na conta d'uina excelente forragem digna de ser propagada.
As ervas dos prados da região inferior da Madeira, nascem ou reviveiii coin a s
chuvas de outubro, e desapareceni, requeiinados pelos ardores do sol, desde abril até
maio, excepto nos logares encliarcsidos e naqueles onde chegaiii coiii frequGncisi as
aguas de irrigação. Nn pai-te média e superior da illia, e especialniente na zoiia con-
stantemente visitada pelos nevoeiros, as ervas coiisesvam-se verdes por iiiais tempo
atC meados ou fins de junho, o que é de grande vaiitagein aiiida inesmo para os cri-
adores de gado das vizinlianças do litoral quc lá sobeni a collie-Ias, percorrendo As
cia. Ein geral, o chaniado paslor é iiin pequeno agricliltor ou trabalhador rural. E é
curioso iiotar-se que eiii algiimas freguesias, ao teriiio "pastor" anda ligado o signifi-
cado de maiidrião e pouco ainigo do trabalho
Como j i I~COLI exposto no Cap. VI, o pastor é uin inimigo dos arvoredos na
preparação dos pascigos apropriaclos para a alimentação do gado, recorreiido algii-
ilias vezes ao incêndio, qiie não raramente toina proporções assustadoras. Este iuoti-
vo por si só bastaria para a coi~~pleta eliiiiinação da iiidustria pecairia.
Não deixarenlos de notar a responsabilidade que a essa devastação se acham lig-
ados alguris proprietários e até funcioiiários píiblicos que, por interinédio de iim
pobres pastores, manteein ~ainbéinein livre pastagein as suas dezenas de porcos,
cabras e ovelhas, ein diversos niontados da ilha.
Uina das mais iinperiosas razõcs que acoiisell~aina exlinção da industria pecuária,
coino tantas vezes se tem dito e vein consignado em relatórios oficiais, é a absoluta
falta de abrigos OLI currais adequados para a recollia dos aiiiinais especialinente lia
época das grandes invernias, que c0111 frcq~iêiici~ se deseiicadeiaiii nas scrraiiias do
interior. Disse uiil distinto eiigenheiro-siiviciiItor que os gados ila Madeira pastain
"ein estado selvagein", devido a pouca assistência dos l>astores e i ausência coinple-
ta de redis coweiiiciites, 1150 seiido para estranhar que seja tão coiisideidvel o
núinero de animais, qiie por essas causas i-iiorrem todos os anos. E sobrevindo, como
de longe eiii longe acontece, uilia dessas invernias com aspcctos de aluvião, alguns
inilliai-es de animais terão dc desaparecer das nossas terras de pastagein.
No Plano Quadrieiial dos traballios a eiiiprceiicler pela junta Geral do Distrito iio
período de 1946 a 1949 veni apontada a construção de redis, o que represciiia uiii
beneficio prestado i indíistria pecuária clo arqiiipélago.
Pelos motivos que fica111 suiiiariameiite expostos, cotiipartilliaiiios da opini8o de
muitos proprietários de terras e especialmente de alguiis distintos silvicultores que
nao acarretaria graves prejiiízos e seria até vantajosa a cx1inc;ão da iiidustria pccuária
da nossa illia. Deveria para isso proceder-se a uin coiiveniciite estuda do assiiiito,
restriiigiiido-se gradualineilte o exercício dessa iiidustrin e estabeleceilclo o prnzo
iiiixiiiio de duas dezenas de anos para sua coi-iiplcta cxtiiição.

X/Yl A FLORA MADElRENSE

Abrimos este ligeiro estudo, ii~ostrandoque a Madeira era uiiia regiao dc iiatureza
essencialmen~eflorestal, eiiibora o vaiidalisino dos hoinens procure desmentir esse
tão acertado juízo, que a história atesta e a cxperiêiicia plci~aiiieiile conliriiia.
Quereinos terminar, aduzindo algiiiis elementos cle caracter cicntilico, quc :ibotdiii-
ca oferece, para provar que, aléiii dessa acentuada feiçilo arborescente, gunríla iaiii-
béin todas as coiidições próprias dc Ilora de aspecto uiiiversril, com iiiiia rica e larga
representação das mais variadas espécies do reino vegetal, espalhadas por ii~~iitas
partes do nosso planeta.
Vainos para isso recorrer aos Iioineiis de ciência, qiie se ocuparaili dcslc nssuiito e
de 11iod0 especial a Richard Lowe, Eduardo Dias Grancle e Carlos Azcveclo de
Meiiezes.
vezes disiancias consideráveis.
As plantas dos prados são quasi sempre consuinidas verdes; somente na poiita de
S. Lourenço e na Camacha se colhein algiiinas porções avultadas de feno, que siío
vendidas ao preço médio de 300 reis por arroba de 15 kilograinas, para o sustento dos
bois, cavalos c muares estabulados no Funclial e arredores. Quando os prados estão
secos, a alimentaçgo dos animais é fori-iecida geralmente pela rama da batateira
(Convolvulus Batatas), pelas folhas da vinha, da cana de açúcar e da de soca, pelas
plantas que nascem junto dos cursos de agua e pelas que aparecem por entre as cul-
turas, nos logares irrigados a miúdo.
"Nos terrenos das serras. situados acima dos bardos coilcelhio; são as ervas secas
ou mirradas que ficaram no solo e a folliageiii das arvores iiidigeiías, que constiiuein
o principal, senão o único aliii~entodo gado iiianadio, que aí se cria, quando a vege-
tação dos prados desaparcce na quadra mais quente do ano. Grandcs são os prejuízos
que os gados, especialinente o caprino, causam nos indivíduos novos das varias
espécies arbóreas e arbustivas que crescem nas inontanlias, e muito coiivenieiite seria
que se adoptassem quanto antes providencias acertadas, no sentido de evita-los tanto
quanto possível.
"O Paul da Serra é pcrfeitainente desabitado e inculto em raziío da sua altitude e
de se achar durante Lnna boa parte da alio coberto de nevoeiros densos. Mesiiio no
tocante 2 espécies forraginosas, muito poiico produz, salvo nas proxiiiíidades das
freguesias de S. Vicente, Seixal e Ribeira da Janela, no norte, e da Ponta do Sol,
Canhas, Arco da Callieta e Scrra de Agua, lia parte setentrional e ainda junto do Failal
e da levada do Pico da Urze, onde existem excelentes pascigos, A feiteira e uina labi-
ada conliecida vulgarmeate pelo rioine de alecrim da serra, são as íinicas espécies
verdadeiramente abundaiites em toda aquela planície.
"Dos 30000 hectares de tei-renos incultos que existem na Madeira (1921) pode
admitir-se que 10000 só produzem ervas de boa ou iná qualidade para susleiilo dos
animais. Se esta vasta superfície fosse devidallieizte aproveitada, isto é se procurasse
melhorar as snas produções, inuito lucraria com isso a industria pecuária inadeireiise,
qiie carece para desenvolver-se de mais ainplos recursos dos que os que a illia agora
oferece.

Admitindo, sob coiidições especiais, a permissão do exercício da iildustria


pecuária nas nossas serras, inas i150 recoiilíeceiido a sua i~ecessidade,jh ligeiraiiiente
esboçamos os defeitos de que ela ei~fei-inae apontamos os alvitres que coiiviillia
adoptar, no caso de ser mantida, coino o tem sido até l época preseiite.
E um erro supor-se que essa iiidiistria tenha qualquer reflexo Favorável na ecoiio-
mia do arquipélago, quer esta seja coiisiderada de inodo colectivo o11 indiviclual. O
seu desapareciineiito não afectaria a riqueza publica nein dirniniiiria os parcos iiiter-
esses dos que a ela se entregaiii temporariaineiite.
O "oficio" de pastor 1150 constitui uma profissão e são poucos os que a ela sc
dedicam quotidiananicnte e fazem do seu uso um ineio seguro de iiiaiiter a cxistêii-
Aos forasteiros de uina mediana cult~iraintelectual que nos visitam, fere logo a
sua atenção os belos trcchos da antiga e opulenta vegetação ilorestal que ainda
restam e de inodo particular a variedade e abundância das espécies botânicas, sobre-
t~idodispersas ein varias quintas e jardins desta illia.
Encontrain-se em familiar e agradável companhia, respirando O inesmo ar e ilu-
minadas pelo lnestno sol, diz-nos uin desses homens de ciência, plaiitas de q~iasi
todos 0s países do inundo, sem serem precisos abrigadouros ou estufas para a grande
maioria delas-circunstancias que dá logo a ideia da excelência do cliina e da boiidade
do céo, que a cobre e protege. Representa uin trecho, reuiiido da flora de latitudes
muito diversas, deparando-se ao lado das espécics arbóreas de porte altivo e
majestoso dos países intertropicais com as plantas liuii~ildese rasteiras das regiões
setentrionais.
Nesta illia, corno nos países mo~ltai~liosos e ein que se observain variadas
condiçõcs do clima, são bastante diferentes as zonas de vegetações, que Lowvc pro-
fundamente estudou e que em geral teem sido adoptadas por todos. Apesar dessas
características diferenças, inantéin o cultivo de outras plantas em zonas, que se dis-
tanciam entre si, pelas desigualdade das altitudes enl quc se encontram.
"A Flora Florestal da Madeira, diz Dias Graridc, é inuito rica e variada. A situação
privilegiada desta ilha e a conformação das suas inoiitanhas perinitein que se eiicoii-
trem aqui todas as Traduções de teii~peralura,e seiu gozar diiqtieles extreinos cie calor
e hu~nidade,que 1~roduze1-1~ as luxuosas ostentações dos trópicos, é todavia rápido o
deseiivolvi~nentoda vegetação e grande a diversidade das arvores sempre verdes.
Por vezes mandou o Senhor D. João V1 para esta illia sementcs de varias arvores
tanto da Índia coriio do Brasil. Ein 30 de Dezcmbro clc 1801 vicram com grande
recomendação selilentes de teca e de divcrsas plantas. Mais tarde, em 29 de Outubro
de 1800, vieram senientes das plailtas da Aiiiérica coiistanles da segiiiiite curiosa
relação ... (cerca de duas dezenas de espécies) ... A solicitude com que se repetiam
estas reinessas introduzia rapidamente na ilha as riquezas floreslais de quasi todos os
pontos do globo, e a ter a sua propagação e c~iltiiraiiierccido mais cuidado, seria ela
Iioje (1 865) uiua das suas mais iinportaiites produções e dc ~iiuitasiiig~ilaridadeo ver
c111tão limitada superficie a nLiinerosa colecção dc q~iasilodos os vegetais arbóreos
do globo".
São de um distinto regente florestal e agrícola estas palavras: "...A priii-~eira
impressão ocorre-nos logo doininadora. A paisagein inadeirense traduz-se rias inas-
sas vegetais que serpeiiteiam lias suas encostas e vales, que eiuolcluram aqueles poii-
tos brancos que são as casitas espalhadas nas faldas dos iiioiiics. A illia dos Aiiiores
guarda ainda no seu seio as frondes arbóreas que serviram de cenário 51 apoteose do
nosso Épico e esse aspecto é sobre todos os outros aq~ieleque no nosso espirilo mais
se arreiga, iilais vulto adquire e mais domina a nossa seiisibilidacle."
Eni duas dezenas de páginas do ''Dicionkrio Corográlico do Arq~iipdagoda
Madeira", da nossa autoria, deixail-ios texl~~aliiieiitetranscritas as palavras com que
miiitos l~oineiisnotáveis em vários sectorcs cla aclividadc Iiiiii~anatraduziram as suas
in~pressõesao defrontar-se com O maravilhoso cenário da iiossa paradisíaca pais-
agem e eiii que de inodo especial se referem 21 rica e variada vegetação Madeirelise,
tendo expressões de especial apreço e de enternecida adiuiração pela diversidade,
matiz, beleza e fragrâiicia das flores dos nossos prados e jardins.
São extraídas do "Dicioi~ário Corográfico da Madeira" e da pena de Carlos
Azevedo de Meiiezes as seguintes iiiformações:
"A flora actual coilhecida do arquipélago da Madeira coiiipreende 93 1
fanerogâmicas, 50 criptogâniicas vasculares, 265 muscineas e 91 6 talófitas, mas se
piisermos de partc as plantas naturalizadas, fica o grupo ou divisão das fanerogâmi-
cas apenas coni 641 espécies e o das criptogâinicas vasculares cotn 45. No grupo das
fanerogâniicas ha 104 especies que consideramos endéinicas e 55 que são comuns ao
arquipélago da Madeira e a outros de ilhas do Atlântico, o que equivale a dizer que
das referidas 641 espécies a que costunianios cliamar indígenas, 159 se não encon-
trai11 nas regiões contineillais próxi~iias,einbora sejam provavetmente legitiinos rep-
resentantes cliiina flora ali existente outrora.
Conliecern se nosso arquipélago 106 vegetais lenhosos indígenas, entre arvores,
arbustos e subarbustos, estando os dois prin~eirosgrupos, que são os mais impor-
tantes, represenlados por 34 espécies, 10 das quais são europeias, 1 da Madeira e
Açores, 3 da Madeira, Açores e Canárias, 11 da Madeira e Canárias e 9 peculiares ou
eiidéi~iicas.Distribuem-se estas espécies por 22 famílias, 4 das quais se não encon-
tram na Europa, estando, poréiii, uma delas representada no vizinho império de
Marrocos "

/YX7III "SOBRE OS SERVIÇOS FLORESTAIS"

Subordiiiada ao título Sobre os Serviços Florestais, foi recentemente publicada em


opúsculo a iiotivel conferência, proferida a 4 de Abril de 1945, na "Sociedade de
Ci6ncio.s Agronóiliicas de Porlugal", pelo ilustre engenheiro-silvicultor José Mateus
de Alrneida de Mcndia, Director Geral dos Serviços Florestais e Agrícolas, da qual
vainos extratar os seguintes períodos, que inuito interessaiii ao revestimento florestal
do ríosso arquipklago e que inanteeiii próxiina afinidade com o assunto tratado neste
breve e despretensioso esludo:
No que respeita às ilhas Adjacentes, forain elaborados os planos complementares
referentes ao Arquipélago da Madeira e ao distrito de Ponta Delgada do Arq~iipélago
dos Açores, tendo Sua Ex.a o Ministro da Ecoiloinia, por seu despacho de 4 de
Dezembro do ano findo, (4-Dezeinbro-1944) concordado com as directrizes fixadas
pela Direcção Gera1 dos Serviços Florestais e Agrícolas, segundo as quais deve ser
definitivamente redigido e orçainentado o priiiieiro dos indicados planos, ou seja, O
do Arquipélago da Madeira.
Considerando os inúltiplos aspeclos sociais que reveste o problema florestal deste
Arquipélago, provenieiites das características do meio fisico, da importância protec-
tora d a floresta lia maniitenção dos priiicipais factores econóinicos da jllia-água de
rega e turisino,- das exigências em material lenhos0 duina população densa e das
relações a manter com os proprietários do solo, do gado e dos povoamentos florestais
existentes, procura-se coin n execução deste Plano atingir:
a)-a floresta i~at~iral, por iiitermédio da - sucessão de povoainentos cpe mais rapi-
damente c o i ~ d ~ i az aesse objectivo, sempre que os projectos de arboriza~ãacoinple-
mentares indiquem coino fim dominante a obter, si fiiiição de protecçãcl do solo oii do
regiine hidrológico:
b)-a ináxiina prod~içãoIcnliosa, por intcrni6dio duma silvicultura inteiisiva, eiu
toda a restante superfície a arborizilr:
c)-a reserva dos valores aii~caçadosde destiiiição, de natureza geológica, botâlli-
ca, zoológica, o11antropológica que exislcin no Arqiiipélago, incluindo as Desertas c
Selvagens;
d)-a correcção de torrentes c a consolidação dos solos desngregiiveis e ainda a cri-
ação de uin serviço de soco~-roscontra quebradas e desinoroi~atiie~itos"
0 s trechos que ficam trailscritos hrneceiil o ~-ilaiiodos trabalhos mais imlíortanies
a realizar acerca do revestimento florestal dii Madeira. elabor~idopeta Direcção Gerril
dos Serviços Florestais, em virtude do despacho do Ministro da Ecoiioiiiia de 4 de
Dezeiiibro de 1944, sendo de presuiiiir que eiii breve se inicie a exec~içríodesse
grande melhoraineiito, que é sein coiilestação LIIII dos mais iiotkvcis coin que o
arquipélago ii~adeirensete111 sido conteiiiplaclo nos últiiiios aiiris.

[Feriiaiido Augusto da Silva, O Rcvwlimciito Flormfal do Arqliil?klcrgo tki


Mackira, Funclial, 1946, parcialilieiite publicado iii Eduardo de Cnti?pos Aiidradn,
Re~~ovom~~e17to~f201~c~.st~z1 75), Lisboa, 1990,
i10 nrqzri1)klcrgo ci'u Mcr~r'cii-rr(l952-15)
pp.133-1521

EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA [I 9541

No prosseguimeiito da vasta obra de Povoaineiilo Florestal que o Estado veiii real-


izando 110 Continente Soi publicado eiii 22 de Fevereiro de I95 1 o Decrelo-Lei 11.
38:178 maiidando pôr em execução o Plano clc arborização dos Baldios da iilia (Ia
Madeira, a par da protecção dos arvoredos existentes, aulí,clones oii exóticos, e
criando para esse efeito a Circunscrição Florestal do Funclial.
Não obstante o interesse posto pela DirecçBo-Geral dos Serviços Florcstilis c
AquícoIas na execução desta nova e delicada tarcSa que assim Ilie era comclidti, sd
ein fins de Abril de 1952 Soi possívcl destacar o pessoal técnico iiecessiirio ii coii-
cretização da rekrida lei.
Desde então por várias vezes ternos sido solicitados a prolerir quaisq~ierpalavras
que visem o esclareciilie~itoda opinião pública sobre o plaiio clc traballios que us
Serviços Florestais projectain executar 110 Arquipélago da Macieira, suas direclrizcs,
objectividade, tizeios de execução e dificiildacles a vencer.
A esse iiicitainento terno-nos liirtado até agora por reco~iliecerii~osqiiaiito é iiielin-
droso abordar-se assuritos desta IintLireza antes que o conlieciiilento CIO iiieio, estudos
criteriosos e os resultados das priiiieiras experiências periiiita~ilcsiabclecer coin por-
ineizor a orieiitação a seguir.
Tudo isso, porém, é tão complexo e moroso que temos de concordar nfio ser justo.
numa terra onde a população vive tão apaixonadamente os problemas da silvicultura-
como aliás outros mais-, fazê-la esperar largos anos antes de se lhe explicar a razão
de ser das providências e trabalhos que vão, pouco a pouco. delineando-se.
Este é o propósito das nossas palavras. Que nos seja relevado o que nelas, forçosa-
mente, há-de haver de imperfeito ou impreciso.

É bem conhecida a utilidade da arborização em geral, como meio de defesa con-


tra a erosão, como elemento de abrigo e regularizador do clima e como factor
económico essencial à vida de qualquer povo.
Desta mesma utilidade se têm apercebido de há muito os responsáveis pela
Administração na Ilha da Madeira; corno prova, transcrevem-se as seguintes pas-
sagens de uma petição, velha de um século, que a vereação do Funchal dirigia B então
Rainha D. Maria 11:
"Senhora:
Os grandes montes que formão a ilha da Madeira, em outro tempo cobertos de
ricas matas e hoje despidos d'esse utilissimo ornamento, apresentam uma necessi-
dade urgentíssima de serem novamente arborizados. As fontes desaparecem; a terra
vegetal é arrastada pelas chuvas para o oceano; e os penedos escalvados, soltos da
terra e das raízes que os sustentavao, precipitão-se também durante o inverno
ameação ésta Cidade e todas as povoações de repetição dos extensos males produzi-
dos pelas quebradas e pelas inundações que ellas ocasionão.
Esta necessidade, que todos os annos cresce, constitue a Câniara Municipal do
Funchal na obrigação de implorar sempre ao Ilustrado Governo de Vossa Magestade
todas as providencias possiveis que tendão a suspender os perniciosos effeitos da
despovoação dos elevados montes da Ilha da Madeira.
O remédio mais efficaz e mais útil é o restabelecimento do arvoredo, começando
pelas principais vertentes".
"Nenhuma Terra Portuguesa carece mais d'este socorro do que a Ilha da Madeira.
Em nenhuma outra será elle mais proveitoso ao Estado".
"Deus guarde a Vossa Magestade. Funchal em Vereação aos 3 de Janeiro de 1852.
Ass) Presidente: António Gonçalves d'hlmeida; Vereadores: João José dlOrnellas
Cabral, João de Freitas Corrêa da Silva, João Augusto da Silva Carvalho, João Licio
de Lagos de Teixeira, António João da Silva Bettencourt Favilla."
De facto, na Madeira o património florestal assume importância que pode dizer-
se primordial por variadas razães.
Começa logo por o arvoredo natural desta ilha constituir um tipo de vegetação
quase único no inundo, pois só nas Caninas existem uns arreniedos desta imponente
laurisilva madeirense em que o Til, o Pau Branco, o Vinhático, a Faia (das Ilhas), o
Ademo, o Teixo e o Perado são as mais nobres componentes. Pois tendo como certo
que um dos mais graves erros que o Iiomem pode cometer é provocar a extinção de
uma qualquer espécie dos seres vivos com que a Natureza O dotou, compreende-se
imediatametite que se tomem todos os cuidados para evitar que isso aconteça com
este raro tipo de vegetação de que a Providência nos fez fiéis depositários. Não
temos, de facto, o direito de deixar desbaratar essa dádiva da Natureza que constitui,
aliás, uin dos principais valores e encantos desta Ilha de tão recoiiliecida e rara
beleza.
Se reflectiinios depois sobre as condições topográficas, agrológicas e climáticas
que caracterizam a ilha da Madeira, somos forçosaine~itelevados a concluir que o
revestimento florestal é também sob este aspecto eleiiiento que niuito importa can-
siderar.
Com efeito, o extraordinário relevo do terreno, profundamente retalhado por essas
ribeiras colossais, de tão esmagadora imponência, coriio são principalmente a de
Machico, a do Faial, a de S. Jorge, a do Porco, a de S. Vicente, a do Seixal, a da
Janela, a da Madalena, a da Ponta do Sol, a Ribeira Brava, a dos Socorridos, a de St.a
Luzia e a de João Gomes, logo nos indica a forinidávcl erosão a que está sujeita esta
Ilha. Para fazer-se uina ideia do que é esse fenómeiio erosivo basta fixar a alenção no
voliime dos materiais carrejados por essas torrentes ou reparar na extensa orla acas-
tanhada que o mar apresenta na sua foz, durante a época das chuvas: que milliares de
tonyladas de terras e caIhaus não serão assim levados, ano a ano, para o mar! ...
E, pois, necessário, para defesa do solo, quc se inanteiilia arborizada a parte
cimeira das serras e que se estabeleçam nos terrenos das encostas susceptíveis de
agricultar-se cuidados especiais contra a erosão, rnorinente armando o terreno ein
sucalcos-"poios" e "mantas", segundo a terminologia niadeirense-, coiistitiiindo
valas de captação das águas-as célebres levadas com que o vilão põe à prova uma
rara inhlição a que a necessidade o obrigou-e estabelecendo sebes vivas ou faixas de
vegetação natural que, orientadas segundo as curvas de nível, se oponha111ao arras-
tan~entoda terra pela água das chuvas.
Do mesmo passo assim se promoverá a conveniente utilização dessas águas que,
tima vez discipliiladas, serão a maior riqucza da terra, o seu próprio sangue! Sem
elas, em muitos casos, o agricultor inadeirense ver-se-ia a braços com a miséria e
seria impossível o progresso que nesta ilha se vai acentuando desde que as graildiosas
obras dos Aproveitamentos Hidráulicos começaram a produzir os seus magnifícos
efeitos.
Iinpõe-se por conseguinte não deixar enfraquccer as nascentes dc água, essas
fontes de que resultani tantos beneficios, e toda a gente conlicce a notável influência
que a arborização exerce nesse sentido: não tanto como elemento de atracção das
chuvas, mas sobretudo como meio de iiitercepção dos nevoeiros prolnove a conden-
sação da humanidade atinosferica, ao mesmo tempo que reduz as perdas por evapo-
ração siiperficial, aumenta o poder de embebição do terreno c regulariza os inanaii-
ciais de água no subsolo.
Também sob o ponto de vista econó~uico,propriainente dito, a floresta desein-
penlia ainda e desempenhará por largos sécrilos iinporta~ltissiinafunçiio nesta terra
abeiiçoada. Coin tão densa população, a maior parte dos seus habitantes vê-se obri-
gada a autênticos prodígios de vontade e sacrifício para conseg~iirunia pequena
parcela de terreno que lhe dê o pão de cada dia: nessa árdua vida, o vilão achar-se-ia
a maior parte das vezes em situação deveras crítica se não tivesse onde ir buscar
lenha para o lume, esteios ou tutores para as vinhas e hortas, rama e "feiteira" para
sustento e cama do gado, etc, Importa, portanto, não deixar dimiiiuir a possibilidade
de abastecimento de todos esses produtos essenciais i vida deste laborioso povo,
embora ele tenha também de sujeitar-se a uma certa disciplina e moderacão na forma
de resolver os seus probleinas.
E se se considerar, até, a circunstância particular de estarmos numa ilha onde de
um momento para outro podemos ver-nos reduzidos exclusivainente aos recursos
próprios, mais imperativa se toma a necessidade de evitar-se o empobrecin~entodo
seu património florestal, para que numa tal emergência possa ela bastar-se a si
própria em madeiras e coinbustivel; haja em vista aquilo de que valeram e o que sofr-
eram por ocasião das últimas conflagrações mundiais os arvoredos da Madeira!
Por fim, note-se o papel que o arvoredo desempenha na composição e aformosea-
mento da paisagem e pense-se no que isto pode significar para a própria vida
económica do Arquipélago da Madeira, tão ligada como está ao turismo pelas suas
extraordinárias belezas panorâmicas e pelo seu clima privilegiado que esse mesmo
arvoredo ainda mais virá enriquecer e suavizar. Ter-se-á assiiii uma ideia geral da
importância que, sob os mais variados aspectos assume aqui o revestimento florestal
e melhor se compreenderá a razão detenninante da orientação que o Governo da
Nação, por intermédio dos Serviços Florestais, vai estabelecendo e que a seguir deli-
genciaremos concretizar.

11-DEFESA, AMPLIAÇÃO E fifELHORAMENT0


DO PATRIMONIO FLORESTAL DA ILHA DA MADEIRA

Relacionada com a referência atrás feita sobre o interesse científico das fornlações
florestais indígenas da Madeira, a primeira medida que se impõe e a criação de
Reservas florestais que assegurem a conservação para a posteridade dos núcleos mais
representativos deste tipo Unico da flora lenhosa.
Todos os países civilizados se preocupam hoje em dia com estabelecer uin con-
junto de Reseilras naturais integrais e de Reservas florestais que garantam a sobre-
vivência dos tipos de vegetação ou animais e plantas mais ameaçadas de extinguir-
se. Assim se encontram espalhadas pelas cinco partes do globo iiumerosíssimas
Reservas representativas dos mais raros e belos tipos de vegetação que existem à
superfície da Terra.
Precisamente o ano passado foi-nos pedida a indicação das Reservas florestais
estabelecidas na ilha da Madeira com vista 4 sua figuração num mapa de iodo o
mundo. Infelizmente não temos esse estudo ainda coi~cluido,nem de resto é fkcil
concluí-10 rapidamente se nos preocuparmos com fazer um traballio criterioso,
baseado em reconhecimentos florísticos e outras observações que permitam aferir as
caracteristicas vegetacionais doininantes em cada Reserva, sua rigorosa delimitação
e cuidados ou medidas especiais a tomar para cada caso.
Pensamos contudo desde j i em propor a constituição de cinco Reservas florestais:
a primeira nas alturas do Fanal; a segunda abrangendo a área baldia entre o Ribeiro
de João Delgado ou Cova do Cliaprão e a Ribeira do Inverno, incluindo presun~ivel-
mente o Montado dos Pessegueiros se o Estado se interessar pela sua aquisição,
coiilo reduto interessantíssimo que é da vegetação autóctoiie da ilha; a terceira, na
parte cimeira dos baldios do Concelho de São Viceiite, desde a Bica da Cana à
Encumeada e Pico do Ferreiro; a quarta, nos baldios do concellio de Macliico,
eriglobando o Lombo Mal-tinlio c o Lombo Comprido, na parte que fica aciina da
Levada da Serra do Faial; a quinta, nos baldios do mesmo Concelho, na Serra das
Funduras, incluindo parte do Larano, para reconstituição da sua vegetação primitiva
pois ainda ai se encontram represeiitadas algumas espécies que são já raras.
Outras áreas poderão igualmente vir a ser consideradas para o mesino efeito, a
medida que vá podendo fazer-se um reconhecimento inais coinpleto de toda a ilha.
Estarão também nesse caso parte dos Montados da Junta Geral, designadamente os
do Galliano, Rabaçal e da ilha, mas ai o caso tem menos acuidade pois esses estão de
sua natureza acautelados e será então preferível aguardar a oportunidade de poder-
mos, com a sua submissão ao regime florestal, estudar o plano de trabalhos a que
deverão ficar sujeitos, de acordo com a Junta Geral do Distrito.
Desta fornia se constituirá um grupo de Reservas florestais e de Matas submetidas
ao regime florestal que será garantia da conservação de alguns dos priiicipais e mais
representativos niicleos da vegetaçgo lenhosa da illia da Madeira.
Mas, se do ponto de vista científico e até turístico OLI paisagístico, isto seria já
muito interessante, do ponto de vista de defesa do solo coiitra a erosão e do melhor
aproveitamento dos recursos hídricos e até do ponto de vista econóinico, há que ir
muito inais aléin, defendendo a arborização ainda existelite, quer nos terrenos baldios
ou lios particulares e promovendo a arborização das serras q ~ i cse eiiconlram desar-
borizadas sempre que isso seja teciiicainente possível e se iinpoiilia para bem da grei.
Com esse objectivo, graças à feliz iniciativa dc ilustres deputados pela Madeira,
foi publicado o já referido Decreto-Lei n. 38:178, de 22 de Fevereiro de 1951, qiie
condiciona e regulamenta o corte das Brvores nas propriedades privadas e maiida pôr
ein execução o Plano complementar para repovoaineiito florestal dos baldios do
Arq~iipélagoda Madeira, trabalho este da autoria do Engenheiro Silvicultor José
Maria de Carvalho e em que mais Larde interveio também o Engenheiro Silvicultor
Jose Alves.
Quanto ao povoamento dos baldios, há que proceder priineiraineiite a respectiva
submissão ao regime florestal e fazer depois os projectos de arborização para serem
submetidos à aprovação do Conselho Técnico Florestal e Aq~iícolae por íim à
aprovação em Consellio de Ministros.
Está-se já tratando da subi~iissãoao regime florestal dos baldios de Santa Cruz e
Machico que virão a constituir o Perímetro Florestal do Poiso. Seguir-se-ão a seu
tempo outros baldios igualmente desarborizados e onde se impõe taiiibéin coiisli-
tuírem-se ai-voredos que defendam o terreno, beneficiem as iiasceiites e se trans-
formem por fiin em utilidade e riqueza.
Não obstante a importância destes objectivos, serao tainbéin toinadas em coi-isid-
eração alg~imasdas utilizações que os povos vêm fazendo desses baldios, coii~oseja
a colheita de lenhas secas e varas, a apatllia de matos e fciteira e até, embora isso seja
apenas do interesse de alguns, a própria pastagein de gado lanigero e vaciirn, reduzi-
do as convenientes proporções,
Assim, o referido Perímetro Florestal do Poiso, englobando os baldios de Santa
Cruz e Machico, com uma superfície total de cerca de 2.500 ha., virá a incluir áreas
importantes para pastagem, não obstante nelas mesmas se proceda também a trabal-
hos de arborização eni bosquetes ou ern faixas (cortinas de abrigo), para conveniente
aproveitamento e defesa do terreno e para protecção do próprio gado. Do niesmo
modo serão atendidas, na medida do possivel, outras servidões dos povos, tais como
lenhas secas, feiteira, etc.
Esses trabalhos de arborização far-se-ão gradualmente tendo por base o que se
conhece da adaptação das espécies, as conclusões a que o reconliecimento do terreno
permita chegar e os fins que mais importa atingir. Deste modo há-de haver zonas ein
que s e procurará refazer a floresta natural, outras em que se terá em vista a constitu-
ição de matas produtoras de boas madeiras de construção e marcenaria. outras ainda
em que se atenderá apenas à protecção do terreno, função de abrigo oii embeleza-
rnento da paisagem.
Entretanto os Serviços Florestais estão já construindo nos locais mais apropriados
dos baldios, casas para a guarda florestal que poderá assim acompanhar melhor os
trabalhos e exercer depois a necessária vigilância.
Quanto a parte da regulamentação dos cortes nas propriedades particulares, emb-
ora a Lei apresente algumas falhas que a seu tempo terão de ser corrigidas, não iriter-
essará fazer muitas considerações. Basta dizer-se que, à face da Lei, para cortar-se
qualquer árvore ou arbusto de interesse silvícola é preciso que o proprietirio faça um
pedido à Circunscrição Florestal do Funchal, o qual é necessariamente objecto de
uma vistoria ao local, feito pelo pessoal técnico ou auxiliar da mesma Circunscrição,
conforme a importância com que o caso se apresente, e de cuja informação drpen-
derá, normalmente, a decisão de ser ou não autorizado o corte.
A Circunscrição Florestal do Funchal está subdividida em duas Administrações: a
Administração Florestal do Funchal e a Administração Florestal da Ribeira Brava
que abrangem respectivamente a metade leste da Madeira com a Ilha do Porto Santo.
e a metade oeste da Madeira. Em cada uma destas Administrações Florestais super-
intende um engenheiro silvicultor coadjuvado por um regente florestal.
Para tornar eficiente esse serviço de Protecção dos Arvoredos e a correspondente
fiscalização, ambas as Administrações Florestais compreendem por sua vez zonas
várias, cada uma das quais deve ficar a cargo de um mestre florestal que oriente e
verifique a actuação dos guardas florestais colocados nos Postos que se incluem no
seu âmbito.
Além de seis mestres florestais, o quadro do pessoal auxiliar da Circunscrição
comporta 28 guardas; diga-se a propósito que este-número é inaiiifestamente insufi-
ciente para manter com regularidade o aturado serviço de vigilância e de tiscaliza-
ção, pelo que há que manter outros tantos "vigias florestais", espécie de praticantes
a guardas e que com estes cooperem nesse e noutros serviços.
Estes esclarecimentos não têm interesse de maior, nem sequer constituem ino-
vação, pois toda esta organização é a mesma que estava judiciosamente estabelecida
pela Regência da Junta Geral do Distrito, apenas agora reforçada com o aumento de
pessoal técnico e de quatro mestres florestais de 20 classe. Aliás, vem a propósito
niencionar, como justo preito de homenagem que só agora se torna oportuna, que
também noutras pai-ticularidades da organização do Serviço a Circunscrição Florestal
do Funchal se baseou na orientação que estava sendo seguida criteriosarnente pela
Estação Agrária da Madeira.
Interessará referir agora, para dar Lima ideia do volurne da exploração florestal nas
propriedades privadas, alguns dados extraídos do mapa estatístico do inoviinento de
cortes de arvoredo em propriedades particulares, no ano transacto.
Assim, quanto aos pedidos de corte expressos ein números de árvores, deram
entrada na Circunscrição, em 1953, nada menos que 1.115, corresponde~ldo-llieum
total de 15.616 árvores, tendo sido a~iiorizados,total ou parcialmente 919, afectando
13.686 árvores (87,6%), e recusados 196, abrangendo 1.930 árvores ( 1 2,4%). Mas os
pedidos de corte podem ser também expressos ein superfície, e assim forain apre-
sentados no mesmo ano 5 12 pedidos de corte abrangendo 1.780 ha, dos quais foram
atendidos 45 1, referentes a unia área total dc 1.665 ha (93,5%), e recusados 61, cor-
respondendo-llic a área total de 115 lia (6,5%).
Estes núineros provam de qualquer modo não ter justo fundainento alguns comen-
tários por vezes feitos ao exagerado rigor com que os Serviços Florestais vêm obstan-
do ao corte de ai-voredos em propriedades pai-ticulares.
Não se tem conipreeiidido, ou n5o se tein querido compreender, por exemplo,
porque razões contrariamos geralmente um corte de louros, faias e urzes, quando o
proprietirio se propõe cultivar, ein substituição desse arvoredo que pouco interesse
lhe dá, pinlieiros, eucaliptos ou acácias. E a razão é clara: já atrás se focou o papel
que o arvoredo exerce na captação da huinidade atmosférica, pela interccpçrio dos
nevoeiros, dando origem às chamadas precipitações ocultas ou I~orizontais;pois essa
influência, aqui posta tanto à prova, é sobretudo importante quando o arvoredo
exerce coberto perinanente, coin toda a exuberância das suas condições naturais. D e
facto reconhece-se, modeniainente, ser muito inais vantajoso, sob o ponto de vista de
defesa dos recursos Ilídricos, manter intactos, no seu lugar de eleição, esses inaciços
florestais espontiineos, do que deixá-los desbaratar e, como coinpensação, pretender
levar a arborizaçáo, quase sempre com base ein espécies exóticas, a zonas i i ~ a i s
pobres e desprotegidas onde algum arvoredo que se vá constituindo, onerosameiite,
nunca poderá exercer influência que se compare à da floresta iiatural.
O maior entrave tem sido feito, portanto, ao corte das espécies indígenas, sobre-
tudo quando as árvores não apresentam ainda sinais de decrepitude sendo ainda de
notar que as autorizações de coste correspondein muitas vezes a parte dos rebentos
de touças cuja vitalidade fica assegurada pela conservação de outros rebentos. Assiiil,
por exemplo, dos 45 pedidos feitos para corte de tis, eiiglobando 332 árvores, foraiil
atendidos 26, ou sejam mais de metade, mas abrangendo apenas 54 tis, isto é, 14,9%
do total que fora solicitado para corte. E, quanto às outras espécies: de 16 pedidos
englobando 50 vinháticos foram atendidos 11, abrangendo 24 (47,8%); um pedido
para corte de 2 Paus brancos, foi a~itorizado(100%); de 15 pedidos ei-iglobando 6 0
louros, forain atendidos 8 abrangendo 28 (46,6%); de 11 pedidos englobando 5 I faias
(das Illias), forain atendidos 9, abrangendo 19 (37,3%); um pedido para corte d e 5 0
folliadeiros foi autorizado (1 00%); de 7 pedidos englobando 15 seixos, forain aten-
didos 4, abrangendo 5 (33,3%); L I I ~pedido para corte de 300 estacas de urze foi
autorizado (100%); de 5 11 pedidos englobando 2.846 castanheiras, forani atendidos
387, abrangendo 1.677 (59%); de 48 pedidos englobaiido 77 nogueiras, forain ateii-
didos 30, abrangendo 44 (63,2%); de 95 pedidos eiigIobando 519 carvalhos forani
atendidos 82, abrangendo 282 (54,3%); um pedido para corte de uma ainoreira foi
recusado (0%); de 25 pedidos englobando 133 cupressos, foram atendidos 24,
abrangendo 99 (74,4%); 11111 pedido para coite de 12 ilamos foi atitorizado (100%);
de 13 pedidos englobando 14 árvores ornamentais diversas, foram atendidos 11,
abrangendo 12 (85,7%); de 297 pedidos englobando 8.157 pinlieiros adultos, foram
ateiididos 296 abrangendo 8.112 (99,7%); de 23 pedidos englobando 243 eucaliptos
foram atendidos todos, irias abrangendo só 242 (99,6%); e finalmente foram autor-
izados 4 pedidos englobando 24 acácias (100%).
Também fora111 feitos 10 pedidos para aproveitainento de lenhas sccas num total
de 151 toneladas, tendo sido autorizados 8, nurn total de 127 toneladas (81,6%),
Foram alCm disso recebidos 808 participações de corte de pinlieiros, eucaliptos e
acácias coin menos de 20 anos de idade, abrangendo uma área avaliada em 282 lia.,
e para cujo corte a Lei dispensa a licença obrigando apenas à rcarborização do ter-
reno no prazo de dois anos. E por último concederam-se 28 autorizações para fabri-
co de carvão de giesta, uveira e tojo ("carqueja" e111 propriedades particulares e para
o período de chuvas que decorre de 1-9-53 a 30-4-54, lendo sido recusados 3 pedi-
dos.
Maiores detalhes sobre este serviço coristain de mapas arquivados na
Circunscrição e que ficam A disposiçtío dos interessados, bem coino quaisquer
esclarecimentos sobre a actividade dos Serviços Florestais nas suas relações com o
púbiico.
Tem-se, assim, procurado atender As necessidacles de cada um, sabido coino é que
muita gente não teiii onde ir buscar a madeira ou leiilia de que necessita para os seus
gastos caseiros se lhe náo for facultado utilizar-se das ái-vores que possui na sua pro-
priedade; mas, o valor dessas árvores, o papel que podeili desetiipenliar no terreno e
o seu estado de conservação é que influem fimdanieiltalinente para que o seu cai-te
seja ou não autorizado.
Desta forina se vai disciplinando e iiioderaiido a exploração florestal da pro-
priedade privada, teiido ein vista evitar quc por ignoriincia, ambição OLI desititeresse
se promova o einpobreciinelito da riqueza florestal na posse dos particulares.

A intervenção do Estado na propriedade privada iiRo deve, porém, ser mcraineiite


coerciva ou regulanieiitadora.
Uma das principais funções dos serviços técnicos consiste precisaineiite ein estu-
dar os problemas que interessam ao domínio privado, para depois poder orieiitar a
actividade particular e prestar-lhe a assistência e o apoio que assegurem o êxito dos
empreendimentos, ou seja, o ~iielliorreiidirnento dos capitais iiiveslidos.
Por infelicidade nossa, os trabalhos experimentais que sirvam de base a uma ori-
eiitação segura da actividade particular, exercida esta em circuiistâiicias as mais ~0111-
plexas e incipientes, não se fazem do pé para a inão, pois no canipo da silviciijtura
0s elementos ein experimentação têm quase sempre rnaior longevidade que o próprio
hoineni.
O trabalho basilar a fazer será o levantaiiiento do cadastro florestal do
Arquipélago da Madeira, isto é, o recoiiliecimento das condições ein que se eiicon-
trarn as diversas essências florestais indígenas ou exóticas, seja quanto ao seu
âinbito, estado de vegetação e dese~ivolviineiito,ou quanto ao interesse e valor
ecoiiómico que produzein.
Sabendo-se, por exemplo, que algumas cspécies exóticas, coino o casta~iheir~, o
carvalho e a nogueira, devem ser OS elementos coiii que inellior poderemos contar
para garantir o abasteciinento das inadeiras necessárias ao consumo inieilio, é pre-
ciso tiatar de reconliecer quais as regiões inais favoráveis A cultura dessas esptjcies
florestais, para que se cuide de ai a iiiteiisificai; baiiitido a cultura de outras essêiicias
qlle, embora de mais rhpido cresciinento, estcjain ineiios acoiiselliadas até por serei11
esgotantes da fertilidade dos solos, e passarein a ler uin carácter de praga invasora,
como principalmente acontcce coin eucaliptos e acácias. E de igual modo se
iinpedirá o cultivo daquelas mesinas espécies produtoras de boas madeiras iiaç
regiões que 1150 ofereçam condições de iiieio ihvor6veis, de inodo a evitar que por
ignorância ou capricho se coilstituam arvoredos seiii f~ituro,inais susceptíveis no
ataq~iede doenças e parasitas que ai enconlrarão cainpo fértil para a sua expaiisfio
com grande prejuízo para a saiiidade dos arvoredos ein geral.
Ein irltiiiia análise consistirá esse trabalho em elaborar uina carla Ilorestnl da jllla
da Madeira, lia q~ialse iiidicarão as nlanclias mais favoráveis à cultura das diversas
essências, teiido ein coiisideração o cliina, a natureza do terreno, a altitude, a
exposição e outros inais factores que sejain de atender
A seu teinpo assarão a ser forilecidas aos propriet&rios, a preço rnódico, ns
se~lieiitese plantas de que necessitarem para a arborização de terrenos, de acordo
c0111 as indicações da carta florestal, para O que já vem dcspontatido 110 viveiro ilo-
restal do Santo da Serra apreciável q~iaiiticladede árvores, clesigiiadailie~itecastnii-
lieiros.
Depois 116 que orientar os particulares iia mellior forina de conduzir a exploraçSio
florestal, quer iio que respeita aos cortes Iiiiais, quer quanto As prhticas cult~irais-
desratnas e desbastes.
É flagrante o caso dos piiiliais que na ilha da Madeira, com excepção da regíilo tlo
Porto Moniz e Potlta do Pargo, sKo geraliiieiite explorados ciitre os dez e vitite niios
de idade, para produçtío de leiilias de iiifcrior qualidade. Se ao coiitr&rio,coiiio n téc-
nica aconselha, se fosseiii Sazeildo dcsbasles s~icessivosiiesses piiiliais, acoiiipaii-
Iiados das conveiiientes liiiipezas das rainificações iiií'criores, poder-se-ia obtcr
alguiis anos iiiais tarde iiiaterial lenhoso de niuito iiinioi. valia, essei~cialineii~c
inadeira para eiiibalageiii de que há tão graiidc necessidade: basta dizer que S a 6 iiiil
toneladas de inadeira de pinho verde t5in sido utilizadas nestes úllimos alios ~iot'ii
einbalagein de Srutas e produtos liorticolas, c já daqui sc iiilère O graride iiiteresse
econóinico que o problema reveste.
A questão estará ein ver qual a inancira de coi-iciliar o iiiaior interesse ecoriórnico
do Pais coili o illlercsse cio ptlrlicuiar, na inaior parte dos casos peqLlellospropri-
ethrios cliie Sc vdcm obrigados a explorar pinl.iais assili? tão cedo para as
SL~&S111;\rc11s e c o i ~ o ~ ~ i i ; ~ ~ .
1-18 aindí~3 colisitlcrar Clile SC Iòsse aumentado o terino da explorabilidade dos pin-
hais para os viiilc c ciiico ou kiiilíl anos (COI~IO iní~iiino)seria jh possível obter dess-
es pinhais ~ i i i irciidiniciitii accssdiio n parlir da resinagem que, conduzida segilndo 0s
preceitos LlUe a 17rbpi.iaLei ililpc'i~,1180 afecta a qualidade da lnadeira e consubstan-
cia nova f o i i t tlc rcccila com larga projecção lia econoIllia ilacioIla[.
Uiiia das razfies qiie 110s Ldiii sido rcièridas por alguns proprietArios como justiti-
cnçiio de não \íroccdcreiii coiii regulariclacle e em teiinpo oportuno ao desbaste e
lim~eznCIOS ]iiiilinis d 0 fticlo dessas prrilicas ciilturais serein lnuito onerosas em
rciaçilo a0 valor CIOS ~->rodutos cllic cicies provêni; liias estainos esperançados de que
esta razão vir8 a c l c ~ a 1 ) ~ ~se ~ cIòrcm
e i coroados dc êxito 0s esforços que vão sendo
rcitos pnrn a cxporlaç8o clc varas para as illias Caiiririas, eiil condições de preço reinu-
iíerridoras,
Tninb6m a liizipcxri c p«cl:i tios ciislaiiliciros C prhtica pouco seguida na Madeira e
tio ciilntilo coin ela ilillit~1poderia liencliciar a produçSio de castanhas, com inercado
garaiilido iio csirriii&cilao.
Por úlliiiio rcí'crircinos que n acc;ão dos Serviços Florestais neste capít~ilode
nsçislêiicin tdcnica rios piirliculnrcs, iiicidirá tniiibéiu no tratamento das árvores ata-
cadas por inscclcis xilOlàgos o11 qiiaisqiicr doenças, tnereccndo-nos especial atenção
o caso da cloenc;a clíi liiita, essa lcrrivcl eníèriiiidacle qiie tem destroçado os mais
iinporlanlcs sriiilos clri zoiia iiicdilcrrâiiica c que já de 116 tempos aqui veni também
causniido i~íipor~iiilcs (?rcjuí~os,Eslão os Scrviços Florestais desenvolvendo no
Coiiliilciilc uma :icc;iío ~srolillúclic:il>asl:iiile notbria contra este e outros ininiigos do
rirvoreclo c lambCiii i~:i Míitlcirn Iòi orgaiiizada iiiiia equipa para prestar essa assistêii-
cia que cslícramos possa ser C I C S C I ~ V O I V ~cotli
~ ~ decisão e êxito logo que consigainos
obter a intlisl7ctishvel aparcllingcin.
Quer tlizcr: pi'ocui~i-seorieiitiir :i rictunçilo dos pnrliculares segundo as boas regras
cla ecoiioimia Ilorcslal, iiiteizsillcriiiclo c iiicllioraiido a cultura de espkcies exóticas que
garanlam as iiiricleiras c Iciilias precisas para o C ~ ~ S L I I I I deste
O Arquipélago, reser-
vonclo-sc no iiicsiiio tcii~popara o Eslatlo i1 criação de arvoredos cuja exploração deva
ficar sujciln 11 i.cvoliiçíics iiiriis loiiyas e que coirespoiidaiil, portalito, a iiin einpale de
caljilnl que çiii geral iiao L! coii~pa~ívcl coii~os pequenos recursos da eco~lomiapri-
vncla.
Deslci lerma se cvitaríí 11 recurso exagerado ao corte das iiielhores essências da
flora ilicligci~nc rntiis Siícil scri salvng~iarclá-Iados assédios a que tein estado sujeita.

IV-OUTR OS I)ROIiiI,ITAdA,S /ISR IiI,rl CIONADQS COM A QUESTÃO FLORESPl L

Iiidcpcndcillcnicii~ctlti hriiií~clc cot~cliizira cultura au a exploração florestal, 116


quc cotisidcrar uiiiii s b i ç ilc Ibctoirs <Icdestruição dos arvoredos que é forçoso debe-
lar. Qucrcincs-iios rcí'crir elii cspecinl S. acçfio do fogo, cio gado c dos carvoeiros, col-
Iícrciros e vçissourcirss.
O fogo é a inaior calaniidade que pode atingir a vegetação: desde as árvores mais
tioridosai até ihumilde er\a que cresce a sua sombra, desde O humus a fauna micro-
bi3113 qtie 6 o \ida dcr solo. tudo se perde ou aniquila na voragem das chamas! E aqui-
10 qiie a malkadez. a ignorância ou a imprevidência assim fez destruir em poucas
iiiirrts. It.\arií depois anos. muitos anos, a refazer-se. Grande calatnidade é, de facto,
esta dos incindios!
i\-o entanto. todos os anos. ern dias de lestada sobretudo, irrompem os fogos em
tiirios pontos da ilha, destruindo as alterosas labaredas núcleos importantes de veg-
etaçuo.
CJiirr esses fogos sejam ateados no intuito de preparar novos pastos ou com mira
ein colher-se depois as lenhas queirnadas, ou ainda para litnpeza de terreno ou por
simples descuido. i preciso acabar de vez com eles. OS Serviços Florestais hão-de
naturalmente tornar para isso todas as possíveis providências, principalmente fazen-
do redobrar n \ igilância nos períodos e locais de maior perigo, dotando os Postos flo-
restais com rede telefónica privativa para imediato alarnie e melhor conjugação de
esforvos, promovendo enfim a aplicação de severíssimas penas aos infractores.
Toda\ ia o problema só poderá ter cabal solucão quando toda a gente, principal-
mente a que \ i\e nos campos, se dispuser a tomar as indispensáveis precauções para
e! itar os iiicéndios nas serras.
De coiitr5rio está-se sempre mais oii menos sujeito a que surja aqui ou além um
fogo e então. coni o espantoso acidentado da ilha, por muito que se esforcem os
guardas florestais. por mais decidida que seja a colaboração do povo que eles con-
sigam apenar ou a das próprias corporações de bombeiros e militares, é sempre difí-
cil e\ itar que cheguem a haver avantajados prejuízos. Traballio insano e inglório que
esse i. iinpòe-se divulgar entre o povo um verdadeiro temor do fogo, elemento
destruidor dos mais terríveis.
A questào do gado posto a pastar livremente nas serras é outro problema gravissi-
mo para a arborização e o principal responsável pelo desnudamento progressivo das
serras da ilha da hfadeira.
Felizmente este problema vai a caminho de resolver-se com a retirada do gado
siiino e caprino, conforme disposiçòes tomadas pelos Serviqos Florestais de acordo
com todas as entidades oficiais do Distrito, e em cumprimento da Lei da Pastagem,
de 1913.
De facto. se hâ gado ruim é a cabra: de uma voracidade extraordinária, alcançan-
do os pontos tuais inverosímeis das serranias, ela destroça toda e qualquer espécie de
vegetação que encontra: o til ou o pinheiro, a urze ou a uveira, a giesta ou o tojo, a
s i h a ou a feiteira ... tudo lhe serve! No entanto, extremamente gulosa, tem especial
predilecção pelas folhagens mais tenras e, mal descobre a pequena árvore que vem a
despontar entre as urzes, logo a traça num ápice.
O povo por sua vez con~pletaa acção destruidora da cabra, pela grande quantidade
de sementes que ingere e tatnbém pelo que lavra no terreno em procura de raízes,
principalmente a da feitcira.
Não vamos ao ponto de afirmar que uma vez retirado este gado das serras fique
desde logo assegurado por processo natural o seu conveniente revestimento florestal.
hluito haverii ainda a fazer-se para que possa concretizar-se de forina mais conve-
nienle e em período de tempo satisfatório essa recomposição do coberto florestal;
mas é fora de diivida que, sem se acabar com a livre apascentação do gado nas ser-
ras, nunca se poderia pensar nisso.
Quanto ao gado lanígero e vacum, como já foi dito, serão delimitadas as zonas dos
baldios que ficarão reservadas para pastagem, condicionando-se apenas o número de
cabeças que poderá ser admitido em cada área, de acordo com as suas próprias pos-
sibilidades de apascentação e o conveniente ordenamento das pastagens.
Todavia diligenciar-se-á compensar quanto possível a redução do níimero com a
melhoria da qualidade, para o que se pensa em introduzir gado mais produtivo, con-
struir ovis e casas de abrigo para os pastores, iazer o melhoramento das pastagens,
organizar enfim a pastorícia em bases racionais.
Completa este triunvirato dos principais inimigos da floresta o vilão que se dedi-
ca, sein lei neln roque, ao fabrico de carvão, colheres c vassouras.
Os prejuízos que essa gente causa na arborização das serras é também muito con-
siderável, As vezes não tanto pela quantidade de produto explorado mas sobretudo
pela falta de consciência com que o fazem, originando prejuízos de maior monta com
os incêndios que provocam, ou pela destruição irreflectida da vegetação nos locais
onde ela é mais acessível e onde por vezes mais necessária seria a sua conservação
para defesa do terreno.
Pensamos, contudo, que, uma vez submetidos os baldios ao regime florestal, estes
usos poderão também ser disciplinados, por um lado com a concessão de licenças
especiais que condicionem o fabrico de colheres e de vassouras sob a orientaçlo dos
guardas florestais e mediante o pagamento de uina taxa acessível; e, por outro lado,
estim~llandoo revestimento de vastas propriedades particulares que hoje se encon-
tram absolutamente desnudadas, com aspectos de erosão impressionantes, e que
revestidas ao menos de giesta ou "carqueja" (tojo), poderiam assegurar o fabrico de
carvgo necessário ao consuino da população, poupando-se assim o arvoredo de maior
valia que por vezes é sacrificado a esses fins secundários.
Numa palavra: os Serviços Florestais procurarão sempre, com a melhor boa von-
tade, encontrar uina solução aceitável para atender, com a indispensável moderação
e disciplina, às mais comuns necessidades dos povos. Já assim o fizemos conceden-
do deliberadamente ao povo das freguesias do Seixal e Ribeira da Janela áreas para
esmoitadas onde Ihes é agora possível obter a feiteira necessária para a sua agricul-
tura e em locais muito mais acessíveis do que os píncaros da serra onde iam furtiva-
mente cortar ou incendiar as urzes para tornar viável o desenvolvimento da feiteirn.
Claro está que o vilão em geral, e principalmente o pastor, estará ainda um tanto
desconfiado e incrédulo das vantagens que lhe apregoamos com esta orientação. Mas
Amedida que possamos ir tendo mais contacto com o povo e que este vá sentindo que
se lhe não nega a apanha da lenha, de inato ou de erva, desde que isso seja feito coin
o indispensável inétodo e cuidado; quando ele observar que lhe dá mais vantagem ter
umas poucas ovelhas nos pastos inelhorados pelos Serviços do Estado do que trazer
maior q~ia~itidade delas, a mistura coin cabras e porcos, a pastar livremente pelas ser-
ras; quando ele puder notar que já brota mais água das nascentes e que há já árvores
onde só havia pedras; quando vir, enfim, que a vida se lhe apresenta mais risonha e
prometedora, então ele há-de reconhecer a razão e a justiça da intervenção dos
Ser\,iços dci Estado rios seus tisos e costuiiies.
Noutra ordem de ideias focaremos agora rapidamente o interesse que. sob o ponto
dr. \- ist;i ttiristico r recreativo, poderão desernperihar os trabalhos a realizar pelos
Ser\ iços F:lcirestais.
De ticto basta supor. por eseiiiplo, o que poderá vir a ser iim dia o Perímetro
F[orr.st:il da Serra do Posio. quando jri revestido de arvoredo de foiliagem variegada
e far-se-i ideia de tomo poderão realçar-se os q~iadrosde surpreendente beleza que
desfruta o transeunte que. descendo do Poiso ptira o Santo da Serra, possa com como-
didade segiiir esse trigngulo turístico de priineira plana, a dois passos do Funchal,
apreciando as vistas soberbas qiie v50 desde os estranhos recortes cimeiros da ilha
at2 à Ponta de S. Lourenço.
Ou iriiiigiiie-se que, a semelhança do que têni feito no Continente, vão também
aqui os Servisos Florestais e Aquicolas promover o povoamento piscicola das prin-
cipais Ribeiras e logo se adivirihii o interesse que despertará ao turista a ideia de dar
um passeio atF ao Ribeiro Frio e ai passar umas horas eritretido na pesca desportiva
da tnita ou da carpa.
Entiili. estes sào aspectos seiii dúvida secundários da actuação dos Serviços
Florestais, mas que não deixarno no entanto de despertar algum interesse à população
da Madeira.

I-O C-ISO fiRTICLJL.-lR DO PORTO SANTO

Deixámos para o fim algumas rsferêiicias a ilha do Porto Santo, riias isto não sig-
nifica qiie lhe dediquemos menos interesse. Poder-se-á até dizer que a última será a
primeira, pois é no Porto Santo qiie os Serviços Florestais v20 iniciar os seus trabai-
hos de arhorização.
Coin efeito. não podendo ficar indiferentes em face de tão impressionante
escassez do revestiiiierito do solo e da intensidade dos fenómenos erosivos que se
coiistatam no Porto Santo, j~intiiinosO nosso grito de alarme ao de tantos outros que
se têm esforçado por minorar esses graves inconvenientes.
E de facto, em iienliiima outra parte deste Arquipélago será tão Lirgentemeiite
necessária a intenlenção dos Serviços Florestais, 110 sentido de se constitiiírem
arvoredos que defendam o solo da erosão e venham a melhorar as condições de vida
dos habitantes da ilha.
Disto mesmo logo se apercebeu a Direcção-Geral dos Sei-viços Florestais e
Aquicolas que ~iiandouexecutar o projecto de correcção torrencial e de defesa do
solo nas encostas do Pico do Castelo. Este projecto, concluído em Junho de 1953, foi
posteriormente aprovado pelo Conselho Técnico Florestal e Aquicola e depois ainda
em Conselho de Ministros, devendo entrar em execução logo que seja ultiiilada a
aquisição dos terrenos particulares em que se realizarão os trabalhos.
Outra qualquer solução 1180 se tornava exeq~iível,pois era iinpraticável levar a um
regime de comparticipação com o Estado os proprietários dessas pequenas parcelas
de terreno, inuitos deles ausentes da ilha e com as propriedades entregues nas inãos
de caseiros. Aléni disso, na maior parte, não dispõem de meios ou não têm interesse
cin realizar essa obra assaz coinplicada que só ao cabo de mtiitos anos de porfiados
esforças poderá representar algum valor material.
6 llreciso ter Presente que se torna indispensável proceder à armação do terreno
e m pequenos socalcos, com muros de suporte, para dar a terra maior poder de einbe-
biçgo das águas e defendê-la assim da erosão. E qual seria o particular que se dispo-
ria a co11ipartilhar e111 trabalhos desta natureza se ainda por cima os Serviços
Florestais Ilie dissessem que do arvoredo que se fosse constituindo só ao fim de
vhrios anos e coin muita inoderação Ilie seria permitido collier alguma coisa'?
Só coi11 a resolução torilada de adquirirem-se para o Estado, por preço evidente-
mente baixo, de harmonia com o seu fi-aco valos, os tei-renos onde mais se impõem
o s trabalhos de defcsa e revestiniento do solo, poderão os Serviços Florestais dar
coiita dessa iinportante obra de regeneração do terreno e de constituição de asvore-
dos de que resultariío para os habitantes de Porto Santo benefícios tanto niaiores
quanto mais vasta for a sua exteiisão.
Coineça logo por no projecto ora aprovado estar prevista a verba de 1.650 contos
para a exec~içãoproprianiente dita dos trabalhos a realizar, o que repartindo-se emb-
ora por u i i ~período de 10 a 20 anos, n5o deixará de ter certo interesse de ordem
ecoiiói~iico-social.Mas não se trata apenas de uma maneira de dar traballio: trata-se
d e inoclilicar as coiidições agro-climáticas e as próprias condições de vida do Porto
Santo,
Queremos fazer algunia coisa para reduzir as dificuldades por que passa essa
geiite que ii~uitasvezes tem de recorrer à "rasteira", aos cardos e à bosta de vaca para
acender o luine: queremos impedir que se vão cavando cada vez mais fundo esses
siilcos que as águas lêin aberto no solo desprotegido, arrastando para o mar o mell~or
d a terra; qi"cren1os ainda contribuir para o maior deseilvolvimento e embelezamento
desta ilha que s6 pela sua inagilifica praia e sol resplandecelite poderá um dia, orga-
nizado coi~veriiei~temente o serviço de comunicações e coin instalações hoteleiras
capazes, constituir mais ~1111iinportante motivo de atracção turística que muito bene-
ficiaria a própria Madeira.
Coi11 este ruino traçado viío os Serviços Florestais procurando singrar caiilinho. A
viagem é loi-iga e nao ser6 para os ilossos dias ver chegado o seu termo. Mas o prin-
cil3a1 6 coineçar; depois, com persistência e a boa vontade de todos, alguma coisa há-
de resultar a bem da Madeira.
Eduardo de Campos Andrada
Fuiiclial 7 de Maio de 1954.

[Separata ii0.XI1da Liga para a Protecção da Natureza. iii Eduardo de Campos


Ai~drada,Re~~ovor~~~~enio~florestnl
no arquipélago do Modeira (1952-19751, Lisboa,
1990, pp. 155-1641
iilação. Priiicipalmente i10 Porto Santo, onde chegava a ser necessário o Govelllo
conceder subsídios para alimentação em a110s de maior crise, vai-se já notalido no
coliiércio o benefício resultante do emprego, quer pelos Serviços Florestais, quer
pela Suiita Geral do Distrito Autóiioiiio, de toda a iiisio de obra disponível; mas tam-
bém para a ilha da Madeira, caracterizada por uma elevadíssiina densidade popula-
cioiial, de inais cle 300 habitantes por ltin2, são de graiide interesse todas as realiza-
ções qiie concorraiii para a fixaçio das gentes que se veein forçadas a einigrar numa
proporção de 5000 pessoas por anos seguiido os dados obtidos dos últiinos annos
Daqui se infere que os referidos trabalhos, até pela sua coinplexidade, devem ser
rclilizados coiii vagar e grande poiideraçiio. Nada que se compare a "einpiiiheirar" as
serras de lés a lés, para a r6pida produção de 11111 material leiilioso que seria fácil de
criar, inas c ~ ~intcrcsse
jo ecoiióiiiico-social seria duvidoso, de tão geiieralizada que j i
cslh iia Madeira a cultura do piiilieiro bravo. A isso se opõe, de resto, a própria
natiirem da Ilora espontânea.
Não hB ila Madeira um palnio de terreno, por inais Iiagoso, que possa desperdiçar-
se. Tudo ter& que ser aproveitado da inelhor forina, objectivaineiite. O problema
estririí cm constituir, sob o poilto de vista técilico, económico c turístico, os arvore-
cios que ii~elliorse individualizem com as coiidições ecológicas locais e de iiiodo a
assegurar, quanto possível, a coexist~iiciada pastorícia, a collieita de matos e
ervagcils e a produção de inadeiras de qualidade com que possain satisfazer-se as
iiidiistrias d a inarcciiaria, dos eiiibutidos, da tanoaria e da própria construção civil,
clerenclendo-se assiin ao iilesino tempo os mais raros e belos arvoredos naturais.
Uma série de iiiedidas havia previaineiite a tomar e esse tcin sido o principal tra-
balho da Circunscrição Flol-estal do Funchal, desde h6 três anos:
A regrilarização do aproveilainenlo de leiihas e inatos, agora liiiiitado a dois dias
lia semana; a proibição de cabras e porcos ein livre apascentação nas serras; a deliin-
itt-içiiodas zonas de pastagein com bardos, para que o gado ovino e vacuiii i ~ ã oiiiva-
da as 5reas a arborizar inicialmente; a discussão dos próprios limitcs dos baldios-
tarefa csta cliie 110stollieu o passo por inais de uin alio, de conf~isaque era a situayão;
21 ~ o n s ~ r i ~ de
ç ãcasas
o de guarda e de ovis c0111 casa anexa para abrigo de pastores por
forina a permitir ordenar e fiscalizar a apascentação de gados e outras 111ais
risufi.uições que o povo faz das serras; o iiielhoraineiito de caniinlios, de modo a facil-
itar 0 acesso aos locais das coristruc;ões e para benefício Laii?béin das pop~ilaçõescir-
cuiivizinhas; a instalação de viveiros florestais donde se espera poder retirar-se para
os locais d e plantação, na próxima época das chuvas, alguinas centeilas de inilhar de
hrvorcs clas innis variadas espkcies; o estudo da rede divisioiial dos períinetros flo-
restais, por íòrina n assegurar desde já as vias de coinuniçaçsio coiisideradas iiiais
nccessArias aos traballios de arborização, c01110 taiiibéin i defesa contra fogos e i
l'ril~iraexploração dos arvoredos; a organização do sisteina de vigilincia e ataque aos
Iiigos 110s períinetros florestais e lia propriedade particular; e alguils pcquenos
:nsaios clèctuados quanto à adaptação de diversas essências florestais e ao melhora-
nciilo C!;IS pastagens, tiido isto representa, a par dos trabalhos de Iiiclráulica florestal
e clc arborização realizados na ilha c10 Porto Santo, alguma coisa já feita pelos
S c r v i ~ o sFlorestais i10 Arquipélago da Madeira, nos três anos decorridos após a iiista-
laçao cln Circwiiscrição Florestal do Funclial.
EDUARDO DE CAMPOS ANDRADA 119551

MEMORANDUM

O arquipélago da Madeira constitui sem dúvida uma das regiões do Pais onde a
execução do "Plano de Povoamento Florestal", aprovado pela Lei 11. 1971, de 15 de
Junho de 1938, se torna mais transcendente.
Na Ilha da Madeira, sobretudo, o revestimento florestal assume primordial
importância visto que ele é a origem, é o fiilcro em que, no futuro como no passado,
hão-de alicerçar-se os principais factores da economia do Distrito.
Com efeito, baseia-se tia floresta o aproveitamento do solo e da água, tarefa sub-
lime a que o madeirense se devotou até aos limites do incrível, com o esforço ingente
de quem luta pela própria vida; socorre-se da floresta a densissima população da ilha
para obter não só as madeiras e o imprescindível combustível lenhoso, mas também
os tutores ou varas para fins agrícolas e ramagens para alimentação do gado, para
tapagens ou para vassouras; o fabrico de colheres de pau, a indústria de embutidos e
o fabrico de carvão são outras tantas actividades que buscam na floresta a matéria
prima que lhes é precisa; é ainda a floresta necessária para protecção das zonas de
pastagem que, sem ela, rapidamente se vão exaurindo devido ao grande acidentado
do terreno e ao deficiente regime pastoril; por último, constit~iitambém a floresta um
complemento magnífico sob o ponto de vista turístico, a amenizar com o suave
recorte das ramarias, de sombras acolhedoras, a agressividade das c~ilminânciasdas
serras, de tão fortes tonalidades e bruscos pendores.
Por este rápido enunciado se avalia o papel importante que representa a arboriza-
ção dos baldios da ilha da Madeira, a dentro do próprio espírito da Base XVI da Lei
n. 1971 que estabeleceu o Plano de Povoamento Florestal.
Afigura-se-nos, porém, que entre todos os aspectos referidos havemos que nos
preocupar, fi~ndainentalmente,com o problema de ordem social. A popuiação rural
da Madeira habituou-se a práticas, adquiriu vícios, que têm de ser comgidos, por
vezes até severamente reprimidos, sobretudo quanto ao terrível costume de lançar
fogo às serras; mas ela luta também com necessidades fundamentais que não podem
ser ignoradas!
Todo o trabalho dos Serviços Florestais deve, portanto, ter aqui principalmeilte em
vista mais o aspecto educacional e coordenador das necessidades do povo, do que o
aspecto puramente material: não interessa tanto, na Madeira, a questão económica da
arborização de uns milhares de hectares de baldio, mas sim levar o povo a cuidar da
sua subsistência sem arruinar os bens incalculáveis que a Natureza pôs a sua dis-
posição de forma tão capricl~osa.
Quer dizer: o problema florestal a resolver nestas ilhas é, sobretudo, um probleina
de disciplinapão e de assistência técnica. Se os Serviços do Estado, e principalmente
os Serviços Florestais, não puderem ou não souberem resolvê-lo, nada se conseguirá
de constriitivo: arvoredos, terras e águas ... tudo se irá perdendo com o tempo!...
Por outro lado, não deve esquecer-se o alcance social que representa, só por si, a
execução dos trabalhos a cargo destes Serviços, como agente fixador da própria pop-
Mas, para que os trabalhos possain prosseguir coin o devido iiicreiiiciil« c oporttl-
nidade, de forma a alcaiiçar-se o aiiibicionado Cxito, toriia-se indispeiislível, pcir l l ~ ~ ~
lado, a aprovaçiio do Governo As justiiicndas providCiicias q ~ i cIlie vão sendo solici-
tadas e, por outro lado, ii coiitiiiuidade do decidido apoio que nos tciii sido dado elo
Governo clo Distrito c deiniiis a~itoiidadeslocais. Assiiii coiiio sc iinpõe triiiibCin, da
parte de todos, a devida carnpreensão das i~iedidriscliic sc vBci tomando para proveito
futuro da popiilaç8o deste Arquip6lago.

Fu~iclial,Maio de 1955

[Meinoraildum do eng" Ediiardci Canipos Aiidrnda, cliclc cla Cirçii~iscriçfi~


Florestal clo Fuiiclial., in Eduardo de Cnnipos Aiicliada, I ( C ~ I ~ I I ~ L . F'lot.c,st~rl
I I I I C ~ I ~110~ ~
197.51, Lisboa, 1090, pp. 107- 1681
Alqr~ipL:lrrgod(1 McicYc~i1~tr(l952-
A LITERATURA E O MEIO NATURAL

PROSA
A literatura é um testemunho confidencial da relação do homem com o meio
envolvente. que se revela no dia a dia ou numa primeira descoberta do visitante.
Compilados alguns dos últimos testemunhos conclui-se que a visão que o visitante
tem da Madeira obedece a estereótipos, dando a ideia de estar-se perante um produ-
to que se vende aos visitantes. Os locais de referência e deslumbramento são quase
sempre os mesmos, isto é, Pico Ruivo, Rabaçal, Caldeirão Verde (...) O êxtase e estu-
pefacção perante a realidade que se depara assume expressões e descrições repetiti-
vas. quase que decalcadas umas das outras.
Para muitos a ilha é uma lenda que aqui se reforça com novos testemunhos. É a
lenda com titulo de Flor do Oceano, que tem expressão tanto em FranciscoTravassos
Valdez como Jiilio Dinis. Outros há, no entanto. que se detém com o deslumbramento
daquilo que se revela diante dos olhos. E o quadro que se segue nos testemunhos de
Julião Qointinha. Hugo Rocha e Henrique Galvão. Para quase todos a prolixa pre-
sença de flores nos espaços ajardinados da cidade e das quintas ou na harmonia de
paisagem são testemunhos da beleza incomparável da ilha. Deste modo António da
Costa Macedo definia com um Jardim da F1ore.s. A presença das flores leva ao
deslumbramento de João Arneal com os jardins, enquanto M. Teixeira Gomes se
detém no da Quinta Vigia. É na verdade no espaço definido pelas quintas madeirens-
es que mais se expressa essa exaltação da ilha. São de visita obrigatória as do
Palheiro Ferreiro e Jardim da Serra. A quinta madeirense, seguiido Luís Teixeira
define-se peIa exoticidade, do espaço.
A imagem bíblica do Eden está presente na maioria dos escritos iiuina iixanifes-
tação explícita ou implícita. Beltrão Pato define aquilo quc vê coino uni espectáculo
paradisíaco e compara os vales da ilha que o acollie aos do paraíso. E, Ediniindo
Tavares atrever-se inesnio a definir a ilha como um "rincão de inagia e sonho, ver-
dadeiro Éden o paraíso Terrestre", destacando o coiitraste entre o quadro natural e os
jardins da cidade, definidos por uma variedade de flores. Esta é a ideia doniinante eni
todos ou quase todos os testemunhos que con~pilamos.Mas a primeira visão poderá
ser coinplemeiltada com outras reveladoras de outras preocupações, nonieadainente
a de entender como aqui se deliiieo~ia relação do I.io~iiemcom o meio. A forte pre-
sença do hoiiiein neste cenário é assim motivo de atenção para a niaioria dos que
escrevern sobre a ilha. Ao deslumbramento da paisagem, agreste, florida, segue-se a
exaltação da presença I~umana.
Quem inellior entendeu a realidade foi J. Vieira Natividade. Para ele aquilo que
conta na ilha que veio encontrar em pleno século XX foi a acção do Iioi11ein. Aliás,
a "A Madeira é obra de ciclopes", sendo o próprio viliio lia sua fisionoinia a "per-
sonificação da paisagein". Ele "não venceu a rocha apenas com a picareta e a força
dos seus inúscu!os, senão coin a iérrea têmpera e a sua indómita coragein". Para ele
a ilha não é o Eden, inas siin "a epopeia do trabalho, a glorificação da sua labuta
heróica", por isso, estamos perante uin "campo de luta do homein contra as forças
Iiostis da natureza". Esta opção foi definida desde o inicio da ocupação pois Zarco e
Tristão lançaram uin olhar cobiçoso "para os troncos dos arvoredos preciosos c para
o solo fecundo em qiie a floresta vicijava".
O traballio secular expresso lios poios, nas produções agrícolas e no casario que
emoldura as ravinas da ilha, é aquilo que se fica da primeira iiiipressão da relina que
se sobrepõe i visão do paraíso. Este labor do ilhéu para humanizar o iiieio adverso é
também testemunliado por Raul Brandno, Edinundo Tavares e Maria Lainas.
Para além desta repetitiva viagem da ilha pode-se coiistalar o interesse por outras
realidades, por vezes reveladoras de preocupações aiiibientalistas.
Bullião Pato, após o deslumbraiiiento cla Quinta do Pall~eiroFerreiro, detém-nos
nos "bosques, ern que os raiiios de flora europeia abraçam e beijain as árvores dos
trópicos ..." Aqui a bondosa floresta não é unia realidade aiióniiiia.
Ferreira de Castro vai mais longe nas suas observaçóes. Primeiro teiido ein conta
a iiiiagem do empenho que devastou a ilha nos inícios de ocupação coiicl~iifeliz q ~ i c
o mesmo não chegou ao recôndito Rabaçal. No Poiso fica preso da iinagein do "seu
despovoado, aiiirnal e vegetal" que contrasta com o vale de loureiros da encosta de
S. Vicente. Mesino assim a acção do homein 1180 é condenada pois ela foi capaz de
transí'orina-Ia: "A ilha deixara de ser bosque para ser bosque, horta c jardiin".
Já iio volume que o Marqiiês de Jácome Correia dedicou d madeira as preocu-
pações são distintas dos demais que acabamos dc reí'erir. Não é o espect8culo visual
de natureza que o atrai mas a forina coiiio tudo isto aconleceu. Primeiro é s forma de
forinação da ilha e a descrição do seu solo, a que se juntiiiii as espécies autóctones da
flora local. Eiii contraste coin a realidade evidêiicia a acç8o do Iioineia no repovoa-
mcnto florestal da ilha coin eucaliptos, pinheiros, acácias, carvallios e pinlieiros, que
invaclirain a ilha, noineadameilte a vertente sul desflorestada, a partir do século XIX.
D o testemunho d e escrila inadeirense retivemos apenas Eduardo Nunes e Horácio
Bento d e Gouveia. Eilquanto n o primeiro o olhar d a natureza se espelha através da
imagem e escrita d o s visitantes, para o segundo é a própria vivência rural que o leva
A exaltaçiío d o ruralisino d a ancestral ligaçgo do homem ao meio que o envolve e
domina.

BIBLIOGRAFIA GERAL

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VIEIRA, Gilda França, e FREITAS, Antóriio Aragão de, M d e i ~ n Ii~i~estigação
- Bibliogi.ájica,
3 vols, Fuiichal, 1981-1984
,&,. 7.
h..

FRANCISCO TRAVASSOS VALDEZ 11825-18921

SÃO tantas as maravilhas que encerra em si a Madeira que em verdade quem a vê


acreditara por momentos que os jardins de Armida e os Campos Elisios da fábula
deveriam ser como esta formosa ilha, chamada por excelência a Flor do Oceano.
Julgar-se-ia mesmo que aquelas maravilhas não são uma realidade, mas sim um
sonho ou ficção de poetas !
(...)
- Do Jardim da Serra seguimos para diante e fomos admirar o maravilhoso quadro
do Curral das Freiras, na proximidade da propriedade do referido cdnsul.
E um sitio tão interessante da ilha que quase sempre e o primeiro que os viajantes
costumam visitar e aonde têm lugar repetidos e agradáveis piqueniques, um dos
recreios muito em voga na Madeira, como quase tudo o que são usos e costumes
ingleses, por causa do grande número de pessoas desta nação que frequentam a ilha
e nela residem, principalmente os que procuram remédio contra a tisica naquele belo
e saudável clima.
- Não há pena ou pincel que descreva a impressão que o viajante experimenta
quando ao chegar ao cimo dum caminho c o n s t ~ i d oa 800 metros de altura, pouco
mais ou menos, -se lhe apresenta de repente o vale do Curral das Freiras, desen-
rolando-se-lhe aos pés como um quadro fantástico.
Suspende-lhe os passos uiii estremecimento invol~iiitário,e, clieio de surpresa e
terror, vê-se A borda de uiii medonho precipício de extraordiriária profiiiididade;
parece que as rochas basálticas se abrirarri, se tènderaiii por iiieio dalg~iinaSorinidáv-
el explosão vulcânica, que provaveliilente leve lugar eiii remotíssiiiias eras, e que
despedaçando as camadas fiiiidainentais originarain acluclc vaso pasmoso, que a
acçao poderosa das torrentes, que desde séculos c s6culos sc clespenliam por aqiieies
serros abaixo, teiii ido alargaiiclo cada vez mais !

[Fraiicisco Travasses Valdez, ~:fi-icnOcici'~nlrr/,cap. I, (1 864)in Cabra1 do


Nasciineiito, Lzigo~*csSelectos de At/to~.e.sPor.tz/gucLscsq1ic E2sc~r.ei~e/*~iin
sobre o
A/*qiiipélczgoLJLI M~ideim,FLIIIC~RI, 1959, pp 25, 28-30]

RAIMUNDO ANTÓNIO BULI-[Ão PATO 11829-19121

EI-aili cliias da tarde. Não Iiavia iiiiia iiliveiii iio cé~i.


Espectdculo paradisiaco! País privilegiado, não te111 no iiiuiicio toriilo, que lhe tlC
d e rosto!
As grandes eminêiicias - o mbo Giriío, ~írotiio~ltório inais nllo cln Etiiapa; o
C'ampiin6tio, lia iiioiitanlia; a Sciiliora do Morite, sobre a cid:itlc; c as Sreclias tios
picos, cravando-se no azul deiiso de um cCii, que 6 j6 ali-içano! Lcvadns c sriltos de
íígiia, precipitaiitlo-se eiii catadupa; bi.ocaclos peliis altivi6cs c rolos, os iiioiites!
Bosqiim, ciii cliie os ramos da llora e~iropeiaabraçam c bci.j~imas círvorcs dos trópi-
cos, embaladas pclíis brisas do inar! Rosas agrcslcs, Scstonando os vrilnclos; lirios nos
iiiipdrvios; violetas binvsis, mais iiromáticas que as dc f'arma, nos brqjos viqosos!
Aiiras maiisas e resccndeiites, suspirando coiii a inorL~itlezdos amantes ... 'krni para
os iílílios de Mosco, e para as tiágicas í'aiitasias clc l':scl~iiloc SIial<cspcarc.
(...I
Nos recessos daqiiclas serras, entre breiilias clc verdura, as Iòntcs fiias I'crveiii, c
clerivriiii por veias, a ciijas iiiargeris ílorilas iiioclestas ribrciii lia força do (lia e, ~ioilc
ccrr~ida,kçliaiii, ~~aracesoncfer o aroinn com que hão-tlc sniiclar o iiiaclr~igada,
ciiti.eabrind» os iiiiaculad»s tiiribiilos! Ali iião revoaiii as avcs; iilns das alturas, caii-
t:indo, Ia Ilies aii~iiiciati?,coiiio eili paga hs priinicins tlo scu pcrliime, os primeiros
I~iiiipcjosdo Sol! LAbios cle miillici; que nestes mciiiorosos valcs tr«cai.cin ~iinbei.jo,
deveiii sentir os priineiros elliivios do Paraíso Lci-rcal!
Coni as Ilores rivalizain os Srutos. O aiianas, a anona, crcine Iiiiissiinc), Ihbricaclo
a o a r livi,e, por i n b s igtiotns; a baiianeira rcserva, rojaiiclo os çaçlios, c até o tabaibo,
na sebe viva, eriçado tlc espiiilios, abritido o seio liostil c bravio, C Sriito delicioso!
Pfi~iipaiiosnas ciicostas, c sobre Sragiicdos alcantilatlos, tlBo o i.nçiniri, c ~ i j osumo, 110s
siiiiililoosos banqticles, atila n inteligência e alegra o coi'ac;ão!

[Bulli5o Pato, Memdi~irrs,ccl. 1OX(i, vol. LI. PP. 126- 1271


ANTÓNIO DA COSTA DE SOUSA MACED0[1824-18921

QUEM iião contiece a illia da Madeira, ainda que ali não aportassc ntinca !
Ceinitério d e florcs, onde tudo fala de ainor e tudo é formoso. Já rim talento definiu
a ilha: "Uiiia porç5io do paraíso trazida pelas miios dos anjos para o meio daquelas
Agiias".
É ein verdade ~ i i i paraíso,
i onde a aliiia se espraia eni contemplação.
Tudo ali respira iiiiensidaclc. Os ollios descobrem horizontes sein teimo; a verdu-
m apresenta variações novas que cnlèiliçam a vista; as flores aos inilhões transfor-
rnain a povoação I I L I I jardim,
~ cuja atmosfera balsâiuica se respira já do mar e que fez
supor aos primeiros descobridores Lrin eiicaillo das negras inatas, ao iiiesmo tempo
medonlias e feiticeiras, para atrair os aveiitureiros; a temperatura dulcissiina coiiverte
as quatro estações iiuiii Abril perniaiieiite, que só não reanima os que são já qiiase
cadhvcres; as iguas acordaiii esperanças nos que a brisa tépida já salvou, e gemein
sobre a areia sons de saudade aos que vão A praia ver se avistam) pela Ultima vez, o
navio que Ilics traga da terra, onde dcixaraiii as suas afeições, a certeza duma recor-
dação que o tiirnulo não apaguc. Moribuizdos, querein ainda levar consigo para aléin
inundo utn seiitiiiiento daquclcs a qucm amaraili.
Se aquelas águas repctisscm o que lêin ouvido ao serei11 coiitewpladas! Se aqiie-
Ias flores delatasseiii os segreclos da esperaiiça ou do desengano que ihes foram rev-
elados ! S e de todas aquelas saudades, desaleiitos, pedidos, desejos e penas se
fizessem phgiiias dum livro, que Ihgrimas seriam suficientes para ler uni tal livro das
tristezas liumaiias !
C. a .>
[Ailldriio da Cosia de Sousa Macedo, ANa Illia da Madeira@, in ./os& de
Cnslilho o l?eldi c10 MincIego, 1874, in Cnbral do Nascimelito, Lzign1.e~Selectos de
Autores P»r-t~~gtie,scs sohrr n Arqvip6lçrgo da M'ndeirw, Fuiiclial,
que E,S!SC~L>VCI^LII~
1959, pp. 19-20]

ACÚRCIO GARCIA RAMOS [1834-?]

E111 volta desta baia é quc esth edificacla iilda de inoiitanlias e, ein anfiteatro, a
cideidc CIO Futiclial, al:,iiiiadn ]>elaaincnídade do seu clima, risonha pela sua casaria
de brilhatite alvura, entrcineacla clas árvores seinpre verdes das suas praças e jardins.
Mas o que particulariiiciite a recoii~ciida,além da imerecida consideração ein que é
tida como esiaçilo ir-iveriinl para doentes, sfío os encantos dos seus arredores. D o iiite-
rior da cidade c111 pouco teiiipo sc cliega aos inontes quc demorain por detrás dela c
de c i ~ j ocii~lo180 Sasciiiador espcclác~ilose goza pela fortiiosura dos panoramas que
dali os 01110s rclaiiceiatu. para qualquer lado que se voltem. Urn desses paiioramas é
segiirainente o que se clcsfruta do adro da igreja da Seiiliora do Monte.
A eiicosta duin monte que sc eleva a 649 iiielros acii~iado nível do inai; encosta
nssombracla por árvores e plaiilas clc diversas regiões e cliinas oposlos e regada pelas
águas dalguns riachos que correm em plácido curso, está povoada de pequeiias casas
a alvejar por entre os claros daquelas abóbadas e arcarias de vegetais" e ein uma
clareira, dominando a paisagem variadamente pitoresca, eleva-se a igreja da Senhora
do Monte a mostrar de longe aos navegantes as brancas cúpulas das suas torres,
depois, estendem-se diante do templo, ein dilatado horizonte, vales amenos, bosques
irondosos, sessailias alcantiladas, vkios acidentes nat~iraisdo terrei-io, e, como coln-
plemento do formosíssimo quadro que naturais e estrangeiros apreciam e contem-
plam, negras roclias de basalto defendendo a ilha das vagas do Atlfintico. Espectáculo
sublime !
O Palheiro do Ferreiro, rica quinta no gosto inglês, com bela casa, tanques, lagoa,
iiiontado d e veados, e ferregiais, pertence ao Conde de Carvalhal; a Carilaclia, que é,
c01110 O Monte, uni continuado jardim somente interronlpido por elegantes casas de
campo; e Santo António da Serra, coin os seus deliciosos pontos de vista e coin a sua
lagoa i10 cimo da montanha, enchendo a cratera dum vulcão extinto, são bonitos
arredores d a cidade que os visitantes percorsein com entusiasnio. A quinze quilómet-
ros para o noroeste do Funchal, i frente das duas mais iinportanles e prodiitivas
freguesias rurais, Câmara de Lobos e Estreito, fica o Jardim da Serra, círculo quase
coilipleto de montes; arborizados, somente interrompido por uma abertura para o
mar, limitada mas graciosa, onde está fundada, ein assento eminente e ein meio dos
ondeados terrenos cultivados do vale, a abra para o Isido do norte o fainigerado sitio
do Rabaçal, vasto seinicírculo de montanhas vestidas de verdura, donde brota111
claras e sussurrantes águas que constituen-iuma solitiria e encantadora cascata, cuja
descrição é superior à energia da palavra e ao vigor do pincel mais hábil. Essas águas,
que iam perder-se no inar ao 1101-teda serra que do oriente ao ocidente divide toda a
ilha por urna alta eilcurneada, encanadas e rcunidas e111 unia levada, foram
aproveitadas, fazendo-as atravessar ao sul da mesma serra por meio d ~ i ~ ngaleria
a
subterr5nea de 430 metros de extensão, a fim de irem levar a fertilidade a loi~gos
tratos de Lerrenos incultos e iiiiprodutivos. Em meio, porém, destes bosques fron-
dosos foriiiados d e árvores sec~ilaresque encobrem coin as suas copas o sol e o hor-
izonte, e111 meio deste ambiente risonho onde rebcntani fontes que serpeiam por entre
pedras e verduras e que nos dão ein cada represa uin espelho e em cada trago a saúde,
como é consolador ver o traball~ointeligente do lioinein realizar uina obra que não
só vivifica a agricultiira mas que acredita o povo que a empreeiideu e não inenos o
governo que a custeou ! O espectador fica absorto em meio deste concerto da
iiatureza e da artc e, ao despedir-se desse quadro magnífico, lança sobre ele uiii
volver d e 01110s como quem lamenta que. seja aquela a vez derradeira duma tão
arrebatadora contemplação !

[Acítrcio Garcia Ramos, Ilha da Madeii*n[1879], i11Cabra1 do Nascimento,


Lzrgures Selectos de Autores Portugz~esesqzlc Escreveram s o f ~ ios Arquipélago
Madeira, Funclial, 1959, pp.43-491
JOAQUIM GUILHERME GOMES COELHO
(JULIO DINIS)[1839-18711

Quero mostrar-lhe a Madcira através das iiidividualíssi~na~ iinpreçsões que o ineu


espanto rccebe nela, e isto sem plai~o,seiii método, sem coorde~iaçBodidáctica e só
cooforiíie a correnle irregtilar e capricliosa das iiiiiilias ideias.
(. * $1
- Quaiido a forinosa ilha da Madeira'? Levantando-se da espurna do mar coino a
ipiilológica Cilereia, crescia para nós a reccbcr-nos, abriiido o seu seio beiikfico e
inaterilal aos dcsconfortados quc iiela só depositava111as suas derradeiras esperanças,
seritínmos todos penctrar-nos o coraçiío iini desses suaves prazeres coiilo o que nos
produz, iio mcio clunia lurba de. estranhos, o enco~itrodum rosto e dum sorriso de
aiiiigo.
-
Formava uin co~~sol;ldor contraste coiil a tsemciida severidade do inar a amena
perspectiva da ilha !
(. * .).
Para que zi Madeira iios sorria, pala qiie lios apareça foilnosa como a descreve o
poeta ilíglCs e li-agrante coino uma verdsicleira flor do Oceario, é ilecessário sair do
recinto cla cidade, prociirar As íi.egiiesias riirais, subir as íiigreines ladeiras que
coslçiarn os picos e espraiiir então a vista pelos forinosissiii~osvales que vão desco-
brindo o seio lèciiiiclissimo aos iiossos olhos inaravill~ados.
Que vigor e variedade dc vcgetaçtío !
O v e d e cloiradn da cana realça eiitrc as diiereiiles camlriiai~tesda rilesma cor de
plaiilas de todos os cliiuas. A palmeira de Ásrica agita a sua fronte graciosa juiito dos
carvallios cla Eliropa; a banaiicira, vergando ao peso dos seus cachos, cresce cheia de
viço 110smesiilos pomarcs onde se ciifeitaiii cle flores os pessegueiros e as laranjeiras
odoriferns. As rosas, as iiialvas, as ~nadressilvasfloresceii-i espontAneas à beira dos
caminhos;- debruçatli-sc dos muros as buganvílias eiitretecci~doos seus cachos roxos
com as florcs alarai~jadasclas bignónias; liido tem u111 ar de festa e alegria. A choça
mais humilclc tem um jarcliiii 21 entrada; as flores sorriem ii porta dos ricos e dos
pobres,
E q~taiitoinais nos clevaiiios mais se pronuiicia este magiiífico aspecto do país.
Duni lado vciiios aos iíosscis pcis o inar liso coino uii? espellio, azul coiiio safira, litn-
iloclo ao lorige 11clo grupo das Desertas vagainei.ite tingidas do azulaclo da distancia;
clo oulro lado as altas serraliias que rompem as nliveiis e cyios ciiiios aiitas vezes
tirigc n ofuscaiile alvura clas iicvcs. E 110s flaiicos, abertos em liiiídas quebradas, sul-
cridos c111 rilieiras pelas torrcntcs CIO Iiiverno, uma vegetação exuberante, cheia de
vida, ciicobrindo aqui lima; casa isolada, cnfeitaiido aléni uma povoaçEo risonha que
se agrupn ein toriio dum caiiipaii8rio.
Eiílilo sim, eiitEí« n atmoslèra eiiibringa, o peito aspira com voluptuosidade esse;
balsfii?iico, o cspirito libcrln-se de toclas as apreensões que nos gelnvan~os sorrisos
nos IÉlbios c goza-sc clesprcocu~íacloCIO mais sur~~reeiideiite espectáculo que pode
imegii~ar-se.
Mas tílo (S só a ilatureza que tão afkvel e acariciadora se mostra aos desesperados
ei~feriiiosque se rchigiiilii aqui; imprcssõcs iglialinenle gratas, igualinente conso-
ladoras Ilies vêm de origem diversa.
E geral a simpatia que os doentes inspiram à gente da Madeira. Se os doces afec-
Los de família, se os carinlios duma esposa, duma miíe ou duma filha se podem sub-
stituir no muildo, é aqui a terra para tcntar a experiência.
Sentis que vos rodeia uma atmosfera de siinpatia. Pessoas que nunca vos falaram,
que niío conlieceis, seguem passo a passo, com sincero interesse, os progressos das
nossas tnellioras ou as alternativas do vosso padecimento.
Coin o olhar que a experiência tem amestrado, estudam-vos 110 semblante as
probabilidades de boin ou inau êxito na luta pertinaz da tlat~irezacontra o influxo
Fatal que vos subjuga. E esse prognóstico é quase sempre infalível.

[Joaquiin Guilhennc Comes Coelho(Jú1io Dinis), I17éditos e Espar*sos,1910, t.


11, i11 Cabra! do Nascimento, Lzrgnres Selectos de Azrtores POI-tziguesesqzre
Esc~devemn~ sobre o Arqt~ipélngoda n/lcrdeira, Funchal, 1959, pp. 55, 58-60]

MANUEL TEIXEIRA GOMES [1860-19411

A primeira impressão da ilha da Madeira -tenebrosa e farta - é flagrante desacato


a esses inodelos respeitáveis e vem tributar-nos, a despeito de tudo, a estesia que hon-
ramos.
Mas como cliega depressa a reconciliação e corrio esmaece a aparente hostilidade
sii~ivizaclaem trechos surpreendentes, iiifinitameiite diversos e de engcnhoso arran-
jo!
Pois haverá no muiido paisagem mais aliciadora do que esta que eu desfruto,
agora niesino, do jardi11-i embalsamado e silencioso- da Quinta Vigia?
Tudo é irnobilidadc e sossego no panorama em gris que a n~inhavista abrange:
lilar de calinaria, adamascado, com a sua orla bordada de barcos em relevo - cascos
de seda ti-ouxa e tnastreações de retrós - a luz igual, branca, branda, que o alto céu
leitoso coa do Sol que se não vê; as verduras maciças da serra aliviando-se da espes-
sura em verdiiras inais tenras, ao contraste dos casais caiados, e ao longe, sombre-
jando o Iiorizoiite, uns arreinedos de Capri, ilhas perdidas cujas corcovas montam por
sobre a últiiiia linha do inar.
0 s jardiiis akreos da Quinta Vigia são refúgio inviolável a quein busca isolamen-
to duraiite o dia, e o predilecto lugar de reiinião, durante a noite, para quem não pre-
scinde de diversões mundanas - c0111 paradas à roleta. Paraíso com sol e Inferno com
lua, senteiiciarii talvez o tiioralista vivaz e iinportuno. Eu não inoralizo, amigo bem
sabe; eu venho aqui de dia, quando fico no Funchal a descansar dos meus coiitinua-
dos passeios pela serra.
Deiitro da cidade não há sítio rnais adequado a retiros intelectuais e, decerto,
merecem preferência a quaisquer outras as horas de calor, contanto que se aviste e
oiça o iiiar, para, sossegado o corpo, abrir ensaiichas a imaginação e senti-la então
largar pano, pouco a pouco, buscaiido ruino e hesitar na derrota até que, ao leve sopro
clo 111ais fortuito indício, se faça de vela direito a remotas, desconhecidas, almejadas
plagas.
(...>
Mas se as paisageris observadas a16 aqui, embora preciosas, não escapa111 h I i ~ l ~ ~ ~ i l -
hação.das analogias clepri~iieiites,urge notar-lhe que divisei aspectos de irrefutável
originalidade na iiiiiilia recente jornada ao Curral Graiide ou Curral das Freiras.
Esta p m o r o ~ d e e p r e s s ~geológica
o encerra ilo círculo das suas iiiuralhas de gran-
ito liegro, i proliindidade dc iiiuitas cciilenas de melros, uiii vastíssimo e deçlLiln-
brailie tapete de tiiitas fiiildidas a priiiior cin cultiiras variadas e prósperas. Tal é a sul-
presa de eiicoiitrar assim ciitreguc h iiionstruosa agloiiieraç20 de rochas bravias a
guarda daquela inarnvilliosa alfaia, cujo dcsenlio" e colorido soineiite se explicariam
lias co~i~binaçõcs dumri arlc rcflcctida e coiisuinada, que não sopeamos a falitasia e,
d incitaç$lo do coii.junto fabiilosci, para ali trasliidaiiios iiistiiitivameiite quadros
tiiitolbgicos, iinagiiiando q ~ i cali tnesino se coilgregaraiii os exércitos de titãs para
ocultar o seu palrídio, aiiles de acoiileter o céu.
O Prestava-se a luz ii visão perfeita, exaltadn iisi transparêiicia do ar que acendia
as cores coino cristal puríssiiiio, dsis alturas onclc liie sissoinci. Tudo ali era pintura;
ilelihuln relevo perceptivcl cicstrinçava as drvores clc oiitra vegetação mais cliá; as
casas denuiiciavam-sc iio rigor gcoiiiitrico das suas iiiaiiclias e iiiovimento algum
Lraduzia o gorgulliar do lioiiiciii i~riquclcliiiiclo matizado onde - a iinpressão do iso-
lameiito nbsolulo, cle allicaiiicnto cxpiallírio, cle iialureza eliclaustrada sobrepujava a
qualquer olitra.

[Maiiucl Tcixoirn Goiiics, CLlr*lersSen? Moral N ~ I ~ ~ L1904, I I ~ IiiiUCabra1


, do
Nasciiiiciilo, L~~gcrrt~.s
S~llcclo,rde Airto~*cls j?orlb~gi(eses~ L I Escrel)emn
C sobre o
/lr.r/i~i~~bltrgo
tlcr Adcrc'ci~*cr.Fiiiiclial, 1959, pp.66-67, 71 -721

Ao liiii cla larcle ccrlne<;aa crgiicr-sc tliniite tlc initii iitiia coisa azulada e indistiizta
coin uii~agraiicle iluvcm ciiizciira acticliapada cni ciiiia. O sol que bate lios altos ilu-
inii~aO coiic clum iiioiile c csguiclia dc eiilrc as ndvoas sobre a extreiiiiciade dum
inorro qunsc iicgro. .l6 sc disliiigucni as iioclosidaclcs disiorines da terra c paredões,
erivollos ein filinaça que cii1i.a ciii rolos pelas Iènclas nbertas cla pcclra; clestaca~n-se,
com mc?jestacle, clo liorixoiitc plúmbco. Accntua-se a durcze, as chapadas, as raviiias,
os corles perpeiiclicularcs c cor dc ICrrri, aclivinlia-sc o draiiin cliie deve ter sido este
parto, ciieio clc coiivulsõcs c cle tlcsiiicironamci7i»s, q~iaiidoO graiicle cataclisino
dilacerou c clesineinbi~ouo conlinciite subiiicrso, clcixanclo pnleiiles, iicste resto, feri-
das quç aincla hoje síiiigram. E iios bocaclos de cisco, qiie por acaso caíraiii e alas-
tramiii h beira-iiiar, agsirrarain-se iiieia dílzi~clc ca~ii~lias L ~ L I CLê111 por paiio de fiindo
a inassn cspcssci crguidti logo pelo laclri clc Lrds. Seis Iioras: - tudo avança e se impõe
em roxo, cain riscos vertles tle culturas c ciimcs cloiraclos clc iiionlanlias; para o norte
lixo~l-scuma agloiíicmçt?~clc pnstris solcncs que cscoiiclem a terra.
E 12 cosltz caiiiiizlia, direito a iniln, critla vez mais violeiita c mais negra. Mete
inedo. Mal se distinguem as florestas nos altos enevoados, e os vales profundos por
onde a água 110 Inverno deve cair em torrentes. O navio segue encostado a falesia,
que deste lado da ilha não tein f~indo,iiiostrando-nos a Madeira cortada por uni
inachado que a abriu de lés a lés, atirando com a outra parte para o fundo do mar. 12
iim bronze severo e trágico, que contrasta com a entrada do Funclial e a outra costa
da illia. Vou olhando para as povoações - Jardiin do Mar, Paul do Mar, agarradas as
m~iralhas,onde s ó distingo escorsências de zinavre. Só o homem! só o homein é que
se atreve a cultivar socalcos abertos a fogo na perpendicularidade da falésia! (Vamos
tão perto de terra que ouço os galos cantar. Madalena do Mar, esmagada entre dois
morros, cllie se reflecte111ein negro no veludo da água, Ponta do Sol e Cabo Girão,
q ~ i ea noite toriia inais espesso e inaior... Todo este panorama, na cinza do crepúscu-
lo, recortado ein negro nuin céu cor de chumbo, transfortnado pelas nuvens que baix-
ain ainda inais, e desdobrando-se ein sucessivos recoites sobre a tinta parada das
Aguas, assuiiie proporções extraordinárias. Já mal distingo a terra até A ponta desme-
clida da Cruz, por trás da qual nos espera o porto de abrigo. A cada moinento qlie
passa, mais alto e mais escuro se me afigura o paredão que nos intercepta o inundo.
Só h8 tinia vaga claridade para o lado do mar; o resto é negrume alcantilado e mon-
struoso colaborando coin a espessura da névoa e o indistinto da noite. Uma luzinha
se acende nrz iinensa solidfio e na n-iancha cada vez mais opaca. É o homem, subver-
tido, duas vezes isolado entre a inontanha e o mar. É uma alina. E essa pequenina luz
Iiuinilde cliega a ser para inim extraordinária de grandeza: é uma estrela que me faz
cismar.

14 de Agosto

De iilanliã acordo em terra. Abro a janela e entra-me pela janela dentro o cheiro a
trufa. Corro t~idono primeiro momento - as vielas animadas, as ruazinhas calçadas
de seixos eiisebados, onde deslizan~carros de bois sein rodas, pintados de amarelo,
c0111 toldos frescos e cortinas de ramagem apartadas ao incio. Olho para as casas
brancas e aimarelas, de beirais caiados de vermelho e gelosias pintadas de verde, que
clão ao Funchal um carácter fainiliar e intimo. Tudo me surpreende: o calor, a luz
Iòrlc, o jardim com fetos e uin grande jacarandá de flores roxas, arbustos penetrados
rle satisfaçsio, que na imobilidade e no silêiicio vão desfolhando sobre a terra e
deixando 11111 charco rubro em roda. Uma gota de água cai ali para o fundo sobre
outra água iiiiobilizada. O ar é um perfumc gordo. Sento-me sob os grandes plátanos
que nos recebem ao desembarcar do porto - mancha impenetrável e deliciosa. Subo:
i1111largo írregtllar e depois a igreja, grande cofre de sâudalo com doirados e incrus-
tnçõcs ein ii-iadre-pérola. Lá dentro cheira a incenso e a madeira preciosa; cá fora, por
cima cios telhados, descobre-se sempre a carcaça denegrida da serra. Vou ao merca-
do - o incrcado atrai-me: pequenino, com duas ou três árvores e uina fonte, todo ele
transborda de fruta c01110 uin cesto cheio - cachos de bananas amarelas, alcofas de
vindima a deitar fora, com dainascos, figos pretos suinxrentos e entreabertos, a des-
tilar suino. Toda a fruta aqui é deliciosa e a bailaiia deixa na boca um perfume per-
sistente para o resto da vida. Ao som da fonte de máriiiore que reluz em fios com unia
Leda 110 alto agarrada ao seu voluptuoso cisne, isto forma um quadrinho todo ein
ma11cllas coloridas, c0111 sol BS I~~OS-cheias por cima. A primeira vista, conflinde: telu
a gente d e colocar-se a distância, como nas pochadas, para distiilguir as uvas
doiradas3 as papaias, o verme1110 dos tomates, as araras e as aves exóticas pellduradas
110s trollcos, e sob 0s 1oldos, entre guinchos de macacos de S. Tom,$e o falatório can-
tado do povo da Madeira, as 1nLIilleres de lenço branco na cabeça e botas de cano alto
e rebuço, que Preparaln farnéis para a festa do Monte, 0s homens tisiiados e secos, as
inglesas de cabelo curto, vestidas de branco, cortadas pelo mesmo padrão que a
Inglaterra agora fa>rica e eXp0lbtapara todo o mundo. A vista falha e perturba-se, o
cheiro entontece. E preciso meter O pincel para aqueles fundos para dar as sombras
roxas com lll~litoazul, o verde-negro das couves, o quadro estonteailte oryalliado
pela fonte.
Reparern coino a própria sombra é luminosa e palpita. Coin ela palpita o doirado
das baiiailas, o amarelo dos inelões, o vennelhão intenso das malaguetas enfiadas em
rosário. E se uin cesto sai da soinbra para a luz, então os fnitos faíscam, ardem e
adquirem transpar~ticias extraordinárias. E a água cai aos pingos, a refrescar o
quadro, inistcirada coin sol rel~izinclo,que pincela aqui, pincela ali, por entre as
árvores,
Mas para ver a cidade e os subúrbios em conjunto sobe-se ao Pico de Barcelos. A
medida que me afasto do centro, vão aparecendo casinhas isoladas entre jardins, e as
largas folhas das bananeiras, aitida em botão roxo ou onde pende já todo o regime
amadurecido. LA do alto descobre-se enfim o inajestoso anfiteatro. E uma grande
coticl~a,que termina durn lado no Pico do Garajau e do outro na Ponta de Santa Cruz,
c o m o fin~dode serra oiid~ilado.Os vales e as linhas dos talvegues vêm lá de cima
rasgados pelos enxurros sobre um leito de pedras em estilhaços, escorregadias e azu-
lndas, Isto escuro, plí~inbeo?porque o céu forra-se de nuvens que envolvem os
montes.
Para o espectáculo coinpleto é preciso escolher a manha, a tarde, ou os dias puros
de Inverno, porque o céu da Madeira anda quase sempre nublado, correndo a fuma-
ceira pela barseira iinensa que toma todo o liorizoiite do lado da terra e desce até ao
m a r em rainpa retalhada de cultiiras e povoada de casinhas que se vão aproximando
e apinhando ao chegarem B cidade branca e sensual. Tudo que se avista. à excepção
dos cumes denegridos. foi dividido em hortas, ein poios de cana muito verdes, em
quinialejos de raina, donde irroinpein t~ifosde bananeira, numa amplidão que enton-
tece e deslumbra. S5io léguas de fertilidade, de jardins, de campos e cult~iras,que nos
iinpõein o recolliii~~ento e o silêncio. A direita, a serra estende-se até Câmara dos
Lobos. Só depois que me afaço - os olhos afogaranl-se-ine em azul- é que distingo
0s riscos violetas das encostas, as vivendas lá no alto entre vinhas e pomares, 0s pri-
dios rústicos peildurados na roclia e agarrados à montanha, aberta ao meio Por um
rasga0 violellto e roinaiitico. O carácter desta paisagem bem o procuro... Atrai-nos
p o r todos 0s seiltidos e só tein uin desejo - amolecer-nos e deconlpor-nos... Espreito
0s jardins dos palhcios, ollcle tudo se conserva alinhado e coFecto, e as casinhas fis-
tjcas, que são o lneu eillevo. Passo e cntrevejo uin banco. As vezes basta um muro
caiado coin lneia dúzia de vasos e flores - para ter tima sensação de encanto que não
encontro aclui, Falta uilla. ly~ntiill~a
de nielancolia, aqLleIa alma de certos reca1ltos por-
tugileses clkle, c0111 dois caininhos, uma igreja, riln pilll-ieiral e Llm sopro de erva,
comunicam uina impressão deliciosa de repouso e saudade. Faltam-me as manhãs
enevoadas e pálidas, os dias loiros e desconsolados com algumas sardas. Esta pais-
agem não se contenta com duas ou três árvores, O ar fi110 e POUCO azul derretido: é
exigerite e pesada. É materialista e devassa. Ao inesmo teinpo é bela.
AS palavras pouco exprimem nestes casos: o principal na Madeira é a luz que cria
e tanto ainadurece o panorama como os fr~itos,porque a única iinagein qne encontro
para este conjunto é a dum fruto maduro que ton10~1pouco a pouco, coin os vagares
de quem n&o tein mais que fazer, as cores do Sol, as da manhã e do poente, e que
c]legou a um estado perfeito que delicia e perfuma ao riiesino tempo. A tema emerge
da tinta azul com os tons quentes do ananás, que é 0 morango dos trópicos - paraíso
sem frio nein calor, a que se aj~intaainda o sabor dos vinhos bebidos aos golos e cllja
transparência se avalia através do vidro erguendo-o para a luz. A luz! dar a luz, seria
tudo, mas só um pintor encontra este doirado- azul diluído que envolve toda a pais-
agem deitada a nossos pés como as mulheres qiie oí'erecem os seios duros c0111 iiiipu-
dor e iilocência ao niesmo teinpo. As próprias árvores que irrompein de todos 0s
lados - estranlia vegetaçao tropical misturada com todas as outras: ciprestes, cactos,
plaiitas envewizadas, entre grupos de piiilieiros mansos e grandes seres iii~óveiçe
fortes, estendendo a rainaria sobre as ruas, selo de carne. Aprendi na escola aquela
santa história dos três reinos da Natureza - irias aqui as árvores, vigorosas e duina
verdura gorda, pertencem sem díivida nenliuina ao reino aiiiinal.

15 de Agosto

Todas as noites não pude pregar olho. Duas, três horas sei11 dorinir. Na rua passain
guitarras e rodam autoinoveis coin niullieres. A noite é uma voliipia e o ar deste cliina
tropical urna carícia logo que desaparece o Sol. De manliã bato para a serra.
O Funclial para o Sul a costa é quase seiiipre cortada a pniino: Santa Cruz, e lá no
alto o Senhor da Serra; uma fenda enorme por onde entra o mar - Machico, e logo o
Caniça1 A beira de água e o relevo capriclioso da Ponta de S. Lourenço. Para lá do
cabo começa a costa norte, a parte mais selvitica, mais vercle e talvez a msiis bela
desta ilha ião variada e decorativa. Ao lim da tarde os morros foriiiicliveis, vistos de
bordo, sucede~ii-selium cenário espesso, que se descniola erii inanclias escuras, coin
um resto de fuligem de sol pegada Aquela iiliensidade, que nessa hora ainda parece
mais vasta. A Madeira é iinl niaciço de serras cortadas a pique na costa oeste, descen-
do até ao mar na costa norte e inais cultivado nos vales e garganlas inundados pelas
águas.
O interior da ilha é iuontanha em osso com excepção do Paul da Serra. A parte
onde só fazem as culturas ricas, a mais agasalhada e onde não cai neve, a que eles
cliamam folheto, é o Sul, que produz a cana no litoral e a vinlia nas encoslas, No
Curral das Freiras - cordilheira central - c~iriosovale clc erupção, raviiia enorme aper-
tada eiitrc vertentes alcantiladas, coin pro~uiididadcsqiie ii~cteii~ medo e qiie vão até
oitocentos metros, deparam-se povoaçõezi~~has perdidas, o Livramento. a Fajã
Escrira, o Curral, etc. Estc sítio revolvido e dilaccraclo cxplicri. talvez a rorinaçâo da
ilha, onde se encontrari1 mais vestígios de crateras, coiii intlícios de enipções relali-
vameiite recentes, nos charcos do Porto Mo~liz,na Caniça, no Caniqal, etc.
Desfilam ainda diante de mim as gargantas apertadas, só sombra, e urna encosta
iluminada a toda a luz - profi~ndasvertentes alcantiladas, nuin rasgo a prumoccerros
pedregosos gerados pela erupção, a ribeira que escorre no sopé dos picos Ruivo e
Canário - aldeiazinhas tão isoladas no alto de morros - o Pico da Figueira, o Curral,
a Fajã Escura - barrancos formando o leito de torrentes - terrenos desolados e
pedregosos, por onde deve andar o diabo em dias de vento. Depois, outra vez a pais-
agem s e modifica: o s montes figuram castelos arruinados e ferozes da Idade Média.
E outra a vegetação - loiireiros e o til nos fundos onde encharca a humidade.
Desolação e surpresa, contrastes, amplos cenários de serra e mar, como no alto do
Senhor da Serra, onde os pulinões são pequenos para se encherem daqueLa atmosfera
perfirmada. Agora o sítio triste entre penedia negra, e cheirando a peixe, da Câmara
dos Lobos, logo algumas aldeias, à bcira de pequenos retalhos cultivados, com mol-
hos d e lenha secando à porta das choitpanas. Às vezes um açude para a rega, a greta
donde escorre a água, c lá para o fundo o abismo, com um espigão tremendo ao lado
que faz sombra e favor: 1iá sítios destes no Curral onde o sol só entra durante cinco
ou seis horas por dia."

[Raul Braiidão, As Ilhcls Desconhecihs, Lisboa, s.d.; 10 ed. 1926, pp.176-1821

VIRG~NIADE CASTRO E ALMEIDA[1934]

Os compêndios de geografia dizem, referindo-se às Desertas: "Um grupo de


ilhoas sem importância".
- Efectivamente sem importância.
- N ã o existem habitantes lias Desertas, nem culturas, nem fontes, nem arvoredo.
A vegetação e rara e magra, o solo é quase todo constituído pela rocha viva; não 11i,
se p o d e dizer, terra arável. E as cabras selvagens e os coelhos bravos que lá crescem
lutam coin sérios embaraços para conseguirem viver..
Mas para mim as Desertas são um mundo.
Têm uma alma; uma alina estranha, profunda, eloquente... e variável também.
c o m o as almas Iiuinaiias.
- A o conteinplá-las surgem-ine na imagem as mais assombrosas evocações.
Esqueço o tempo, encantada a ouvi-las, enquanto os meus olhos admiram os seus
cambiantes divinos, os seus aspectos sempre novos e inesperados.
O r a se afastam para distâncias infinitas (visões etéreas, longínquas, inacessiveis)
ora se aproxiinain claras, nítidas, coin um. ar de sonoridade e de graça, mostrando os
ângulos afiados das suas ravinas, os recortes agudos dos seus campanários, as rectas
das suas torres e das suas ameias de basalto, o estranho conjunto da sua arquitectura
de sonho que a luz transfor~ilae onde o hoinein não tocou.
- As vezes são azuis, opacas; entristecem lá no meio do oceano como se tivessem
nostalgias e se toriiassem de repente misantropas. Outras vezes desatam a rir, fíiteis.
trai~sparentes,radiosas de luz e de ligeireza.
Passam do azul escuro e turvo para o rosado macio da carne, como um barómetro
de cobalto.
Falam de todas as tristezas e de todas as alegrias; são expressivas coino gestos de
tribunas, como rostos de actores; são iinpressionantes coino vozes inspiradas de sibi-
las e de iluininados.
(...)
Ah, minhas lindas Desertas, que eu agora inesino estou vendo, irisadas, poisadas
sobre o luar com a ligeireza de nuvens transparentes e cfémeras! Que belas histórias
elas me coiitaiii e como povoam a minha solidão! - As vezes, a hora do poente, nos
dias em que o Sol mergulha no mar deixando no horizonte um brasiclo e o céu ein
volta semeado de nuvens resplandecentes, afigura-se-ine que a Iriz ao despedir-se
abraça e beija as Desertas e Ihes coiifia, até a madrugada seguinte, o depósito sagra-
do das cores. - E então, enquanto o horizonte se vai a pouco e po~icoapagando e que
as sombras da noite principiam já a surgir do lado do nascente, eu vejo as Desertas
imóveis e concentradas como três relicários. Tornani-sc côncavas, trailsliicidas;
transhrinain em cristal as suas rocl~asopacas; irradiam uma claridade sobrenatural
como a taça milagrosa do Santo Gral. Contem no seio, f~~ndidos, os amarelos páli-
dos, op~ileritosou alaranjados dos topázios, o vermelho luminoso e rico dos rubis, o
carmesiiii das granadas, o intenso e divino azul das safiras, o verde das esmeraldas
liinpido e profundo. Asseinelham-se a três virgens cristãs ajoelhadas defronte do altar
onde tivessem coinutigado e onde se -conservassem extiticas, transfiguradas pela
intensa ilusão de possuírem em si um Deus de infinita bondade e de supreina beleza.
Mas o poente empalidece a mais e mais; a noite avança lá do nascente ... E nas
Desertas as cores ainortecein lânguidas, descoradas, a morrer de saudades. Os rubis
perde111 o seu fulgor, as esmeraldas transf'olmam-se em opalas, as safiras em turque-
sas, os topázios ein ametistas doloridas, rnagoa.
Depois, tia illiota maior, as rochas altas e agudas desenham recortes vagos de cat-
edrais goticas; e as cores prisioneiras, que iiiomentos antes brilhavain como uin
tesouro pagão, cintilam agora ailiortecidos e inisticos vitrais iluininados iiiterior-
mente por círios lacritnosos e lâmpadas de azeite brujuleaiites ein volta de sacrhrios.
E eu evoco as lendas cristãs glorificadas na Idade Média, leinbro-ine dos milagres,
dos inai-tírios, dos prodígios; revejo as multidões de Belini ein volta de Santa Úrsula,
a Santa Catarina de Luini levada ao Céu pelos - três anjos, o S. Jorge de Carpaccio
coii-~bateiidoo dragão, todas essas coisas encantadoras e radiosas criadas pela fé e
enobrecidas pela arte.
Os Ultiiiios reflexos do Sol vão desaparecer no poente ... Ein torno das Desertas, d e
toda a orquestração das cores triuiifaiites fica apenas o verde puro que não se funde,
que envolve as ilhas moribundas numa auréola suave antes de ser absorvido pela
sombra.
E a noite desce; e a lua surge no seu quarto crescente, como a liiinina duina foice,
polida e fria, mostrando-iiie as Desertas negras boiando 18 ao longe no inar.;.
Então o ruino das iiiinhas ideias muda inais iiiiia vez: penso nas focas de ollios de
veludo que se abrigain rias niisteriosas grutas daqueles blocos de basalto, gemendo e
lainentaiido-se como almas penadas.
As focas ... E aí vai a iilii-iha imaginação ...
É que as Desertas tein a inagia de Xerazade; e eii compreendo o Sultão que
escutou as liistórias mwavilliosas, sem fastio e sein cansaço, durante mil e uma
noites.

[Virgínia de Castro e Alnieida, No Mo]. Tenebroso, 1934, in Cabra1 do


Nascimento, Lztgares Selectos de A~~toresPortzrgueses qzie Escr.eilercinr sobre o
Arqz~@élngodo Madeira, F~inchal,1959, pp. 123-1281

MARQUEZ DE JACOME CORREIA [1882/1937j

O apioi~eifcimentodo solo e do clima

Quaiito iiiais se serpei~teiaem autonióvel ou ein carro peta costa sul da Madeira,
mais se arreiga a coilvicçEo de que a ilha é uin immeriso rochedo fendido por todos
os Iados e que a terra aravel apparece alli aonde o antigo colono aguentou no socal-
co, industriosainente, e111 leito assente sobre armação de pedra, iiin qual-teiro d'essas
materias friaveis que são vestígios de deco~iiposiçãesde varias naturezas d'escoreas
de miiieraes arrefecidos apoz unia combustão produzida pelas forjas iilfcrnaes de
vulcões espantosos, que rcduzirarii os 760 Itillometros qi~adradosda superficie da
ilha da Madeira a niassas iiicaiidescentes. N'esse arrefeciineiito coilstituirain-se os
basaltos, c0111 o decorrer dos séculos, que se encoiitrain ein expessas cailiadas de
rochas e que serveiii aos habitantes de material iiidiistrial coiistructor, corno: diques
d'escoreas mais ou menos desaggregadas e barreiras de coiigloinerados que se aca-
tnain strdificados aos veios.
Tudo isso se vê ii'uma quebrada de raviiia ou n'um corte de barranco e olliando-
sc para os planos dos degraus da enor~neiiistalIação amphitlieatrica da Agricultura
da Madeira julga-se iiiiiiiediataiiieiite pelo colorido e pela qualidade do solo a que
constituiçÊio perteiicein. Assim, o terreno acascalliado é o for~nadopela deconi-
posição do aggloiiierado btisaltico; o de saibro, que é o 111ais conveiiiente á vinlia, é
lornecido pelo tufo verinellio e constituido por quasi inetade de sillex, quasi uin terço
d'oxido de ferro, vindo depois na composiçdo as inaterias organicas, ein maior quan-
tidade, alumina, agua c eiifiin soda: a pedra niolle, que e o t~ifoainarelio, inais desag-
gregado do que o vermellio, compoe-se mais ou rneiios das inaterias d'este; o inass-
apez contém bastante argila e é iiiais duro e coiisolidado do que os outros terrenos;
os barros de côr averinelliadsi, esses são de cotiiposição aluininosa.
Todos esses terrenos, esseiicialineiite seccos pela sua natureza areienta, desprovi-
dos de iiiderias organicas, portaiito pouco liumosos e Ii~in~idos, constituem uni solo
muito especial, solto, oxigeiiado e cerlo, mas poiico provido d'eleinentos nutritivos
proprios &, aliinentaçiio das plantas e sobretudo de vegetaes que exigein, pelo carac-
ter da sua cultura intensiva industrial, fostes e consubstanciosas massas de detritos
aniinaes, Iiutnidade e inesino dos proprios vegetaes decompostos, aonde possa111
prover- se de caivareos, pliospliatos, azotes e hydratos.
Assi~ii,excluindo os elementos chiinicos de que se coinpõe o solo e que são fra-
cos, se attendermos a extracção que fazem n'elles as culturas coiitinuadas e que não
deixam germens para uma transinutação, como nos bannanaes OU nas florestas que
vão guardando o producto da queda d'esses gemeils que assiiii engordurain o terreno
sob a protecção das proprias plantas; nein que tão pouco coiicorram para a fixação
do terreno solto como se dá egualinente com a arborisação que cobre e protege a
terra: excluindo esses elementos natiiraes do terreno, só os estrumes ou adubos
organicos, misturados com as regas das aguas das levadas, Lrazein a fertilidade á agri-
cultura da Madeira.
E não será erro afirmar que os primeiros povoadores que assentarain na vastissi-
ma fajã do F~inchal,estudaram n'ella os processos de fertilisar a terra e transformar
a ilha n'um paiz liabitavel e prospero ás coinmodidades da vida civilisada.
A ilha, segundo os chroiiistas, foi encontrada coberta d'arvoredo, e esse arvoredo,
que no litoral era constituido por arvores de madeiras tenras e irnproprias para obra,
como as dracenas, foi incendiado. Essas cinzas do bosque queiinado, que serviu de
clareira para o levantainenlo das primeiras liabitações, forain os primeiros feitil-
isarites de que se seivirain os colonos para os priineiros eiisaios agricolas que fizer-
ain na ilha; e as aguas das ribeiras de Santa Luzia e de João Goines foriiecerain os
hydratos e a liumidade ao solo secco e areiento.
Ainda em vida de D. João I, isto é, antes de 1431, oiize annos apenas apoz a
descoberta, a agua das ribeiras, ás suas nascenças, era de tão reco~illecidaimportan-
cia para a agricultura, que foi pelas auctoridades regulada por diplomas especiaes,
que tiveram por fiin excluil-a da propriedade partic~ilar,torriada Lirn beru comitiiirn,
utilisavel pela collectividade coin tanto inais direito quantos fossem os serviços por
ella prestados á sociedade, subinettida a principios juridicos discernidos pela inagis-
tratura, eni caso de litígio.
(...)
A Eiicuineada e a Costa Sul. Nas cercanias da Encuiileada a Madeira offerece o
aspecto pouco mais ou menos do eslado em que se achava quando os navegadores a
surpreheiiderain lia sua virgindade e no seu isolamento.
Subindo a encosta que vae da Serra d'Agiia á Eiicuineada na estrada da Ribeira
Brava para S. Vicente, desfsalda-se aos piis do viajante uni d'esses rnacissos densos
de verdura ein que a flora é constituida por especies autocthoilas, tão antigas coino a
descobei-ta ein 1418.
Por entre L I I ~tapete verde glaiico de folliados, de loureiros, de paus brancos e de
tis, dl~irzesarboreas que estendem os seus troilcos contorcidos por cima da estrada,
de 7 e 8 metros d'altura, nascem as uveiras, cujos ped~inc~ilos e foliias tenras d'um
ruivo aviiihado coloram a extensa encosta que desce cla serra ao mar, gretada inin-
terruptail-rente por grotas, desfiladeiros, gargantas, raviiias, lombos, riscando o solo
que, aonde é escalvado 110 corte abrupto d'alguina rocha OLI no cabeço de qualq~ier
monte, inanclia de preto dos basaltos ou do verinelho acobreado do oxido de Serro
dos barros, o panorama triste e solitario d'aquellas regiões sit~iaclasa inil metros
d'altitude, batidas pelas nevoas em farrapos que de quando eiii quaiido cobrein-nas
por coinpleto, juntando-se ein inassa corredia, açoitada pelo vento, esbraiiquiçando o
ainbieiite frio e cortante.
N'aquella inagiiif'icencia de linhas e prorusão de contornos em que os caprichos
D o Énr \ ..i.AR(...\ DE NOE

da natureza accentuaram a sua phantasia inexgotavel d'inspiração e de gosto, não se


repete mais 0 desenho; nuda se avista de vida animal ou se regista de cit ilis:tção mais
do que a nova estrada para onde t a e descer o autornovel. e que é das poucas estradas
que na Madeira não são ondiiladas a camalhiio, calcetadas a seixos e usadas por car-
rinhos e corças a patins deslisantes para transporte de gente ou de cargas.
Do desfiladeiro cortado no terreno para a passagem da estrada e que assenta no
cimo preciso da Encumeada entre o pico dos Ferreiros a leste e o Redondo a oeste,
avistam-se umas nesgas dos dois mares que banham a ilha a sul e a norte e por entre
as garganta da cavadissima ravina em que a comarca de S. Vicente se apega pelas
vertentes, lá muito pelo fundo e muito dispersa. invisi~eldo alto da serra, mesmo na
foz da ribeira que atravessa a viIIa, para poetisar a extensa solidão esquecida da civil-
isação e apenas lembrada. e mal. pela estrada, avista-se poisada quasi n'agua no
extremo da ravina, pelo fundo da qual serpenteia a agua da ribeira de S. Vicente. uma
capellinha de pescadores que parece um rochedo e que de facto é. no cimo do qual
foi collocada uina cruz da fé e aberta uma cavidade para o lado da terra em que foi
armado o altar no fundo do corpo do recinto, fechado por uma portinha rasgada
n'uma fachada de maçonaria caiada em branco, simulando os dois tectos de qualquer
constnicção vulgar.
Já n o caminho da Ribeira Braka por Figueiras e Serra d'Agua na vertente sul,
durante a subida, se toma conhecimento com essas construcções d'estylo priniiti\o
d'edades remotas e antediluvianas em que a rocha era aproteitada para camaras e
fundos d'edificios, utilisada para lojas, tabernas e mesmo casas de moradia nas mar-
gens da estrada. Para este lado a casaria dispersa das aldeias é frequente 6 maneira
que se vão offerecendo á vista os varios lanços da estrada galgando ribeirinhas. con-
tornando grotas, marginando sempre o curso da Ribeira Brata. escavada na vertente
oeste d o mais profundo e estreito valle de toda esta encantadora ilha: e além da esis-
tencia humana que se manifesta nas casinholas cobertas de telha, construidas de
pedra e cal, rebocadas d'argamassa e caiadas a côres vivas; não siío raros os gnrpos
de trabalhadores do campo que descem da serra com os seus molhos de folliado para
os gados guardados nos palheiros, ou companhias de camponezes que desviadas
roçam o matto para n'elle semearem cevada e trevo ou outras forragens e comidas.
A Enciimeada prolonga-se por quasi loda a extensão da ilha na direcção este-oeste
e constitue o berço aonde descançam secularmente tantas d'essas bellezas naturaes
d'esta terra e que extasiam d3admirac;ão os touristes que a vizitam. no Rabaqal, no
Paul da Serra, no Curral Grande, no Arieiro, nos Balcões, em Santo Antonio da Serra.
etc.,
E mesmo d'essa Encumeada, vertice da cordilheira estendida em espinha sobre o
dorso d a ilha, que descem como contrafortes, os lombos e os espigões em ondulações
convexas e salientes que se intercalam com as reentrantes oii concabas, nauma sinu-
osidade infinita e caprichosa. tão variada nas formas como constante e permanente
no movimento.
Quer pelo lado do norte das vertentes da cadeia montanhosa, quer pelo lado do sul.
raras são as chãs, as planicies, as rectas; o terreno é sempre em declive e corta-o uma
grota ou uma ravina, no fundo da qual corre ás vezes a ribeira; ou barra-o um com-
bro, uma sebe, uma collína; Um lombo. um barranco. A terra é por tal fonna acci-
dentada que mal cabe n'ella um espaço para conccntrar uma povoação, e as aldeias,
com raras excepções, são edificadas ao longo de ruas, e joeirani-se, offerecendo
então essa curiosidade da dissymetria caprichosa que dispoz as conveniências dos
Iiabitantes e dos proprietários da localidade, ein collocação desataviada, ao redor de
~1117cabeço, pelo fundo de um valle, no calço de um comoro, nos degraus d'uin d'es-
ses numerosos socalcos que ainphitheatram, de vinhedos e pequcnas culturas
caseiras, essa n.ionurnenta1 escadaria rochosa que é a Madeira do calhau á serra.
(...I
Duas habitações proprias á muda dos serviços de locoinoçFio - duas bem providas
tabernas coin um outro edifício desoccupado que serviu a moiiilio d'agua - cons-
tit~iem essa posta da Choupana, dividida pelo caininho do Meio, inarginado a
nascente por mattas do Visconde de Cacongo e a poente pela Ravina que no inverno
engrossa coni as suas aguas as da Ribeira de João Goines.
Os retoques do pincel espontaneos da natureza que outr'ora inatisarain estc local,
foram substituidos pelas decorações dos artistas da industria: a ravina reveste-se de
densas copas d'acacias floridas, aciina das quaes sobern as tiligranas dos ramos de
frondosos carvalhos, que inancham do luziinento doirado das suas folhas, ainda lá
ern baixo, o espesso guai-necinicnto da profunda cova. incensos guarnecem as partes
altas das suas bordas, onde dois chnlezinhos de verão se encassapitain em comoros
sobre o espigão que iorma uma das grandes paredes do Curral.
O sitio é isolado inas o solo offerece qualcjuer coisa de acoininodador, de con-
vidativo, sentindo-se a mão da Junta Agricola senieando e dispersando exeniplares
escolhidos dos seus jardins experiiiientaes, que agora mostrarn rideiites e decorados
os outr'ora ermos e vetustos terrenos, entregues e abandoiiados ás transniutações da
siia limitada flora.
As niattas extensas e espessas d'eucalyptos e pinheiros do Visconde de Cacongo
marginain a leste a estrada do Meio e a levada da Serra, cujas aguas veeiil do sopé
do Pico da Sersa na vertente norte, passam pelos Lainaceiros, ladeia111a encosta leste
da cordillieira do Santo da Serra e veem a 3 quartos d'altura na aba sul da cordilheira,
atravessando a Camacha, quasi juntarem-se 6s levadas que baiiharn o Fuiiclial.
São 40 killometros de callias de boa alvenaria, das qliaes se retira agua para exten-
sas c~ilturasde trigo, de vinha e de caiina d'assucar nos terrenos cultivados pela
encosta situados abaixo do aqueducto.
A inatta é extensa e percorre-se bem meia liora de caininho sob as sonibras do
arvoredo aromatisado a effluvios d'eucalypto e de piiilio, pisando-se a terra liuinida,
até 6 encosta do Pico do Infante doininando as ravinas. D'alii ve-se o Funclial lá
inuiio no f~nido,coino anicliado n'uina enoriiie concavidade abobadada, aberta ao
alto, aguardando os seus cimos a arcliivolta recortada na Serra. A nevoa cobre-o,
pairando por cima, n'uma iiiliiiobilidade protectora, propria da prinlavein, tLo teniie
e diaphana como gazes tafues dos paramentos festivos proprios da estação; atravez,
a casaria ein esmalte destaca-se e111 massa confusa, c01110 inosaico bysantiilo, desen-
Iiando a cidade, e n'esse fundo de abside invertida, guarnecida de verde, uina niyste-
riosa estrella ao acaso scintila as reverberaçoes dos raios solares, qiic incidem sobre
uina claraboia cl'edificio ou galeria enviclraçada d 'atelier, luminosos coino cliainas
de magnesio q~ieiiiiandode fogo branco a cidade ein todas as direcções.
Atravessada a matta e coiitornado o Pico do Infante chega-se adeaiite a outro
bosque plantado d'esseilcias varias em estylo de quinta d'acclimaçáo. agrupando
enumeras especies exoticas, n'um vasto predio que dá o iiome ao cabeça e lalle que
revestcCValle Paraizo; e para dentro, ao redor d'um jardim d'aleçretes, por entre
sébes d'arbustos, de pergolas tloridas cobrindo alamedas. eleva-se a casa de campo
dos viscondes d'esse titulo.
(. ..)
A região que vem da Choupana por Valle Paraizo á Camaclia, entre o caminho do
Meio e a estrada dos Pinheirinhos, que desce da Camacha para o Paiheiro, e que se
acha plantada de ab~indantestractos de matta, esta região era comprehendida no anti-
go Bardo, em parte logradoiro cornmuin, e ii'elle pastavam os gados manadios, que
os proprietarios lançavam para lá marcados e ferrados e que viviam sob os olhos dos
pastores inteiramente no estado selvagem. No Poiso a Santo Antonio da Serra.
dirigindo-me para o Cliarco, supposto ser uma extincta cratera de vulciio. v i uns
exeinplares d'esses animaes selvagens - uina porca rodeada de bacoros, que pastava
e que apresentava as caracteristicas d'animal serrano, com a espiril-ia dorsal acorcun-
dada, os pellos hirsutos e ccrdosos, um grunhir desvairado.
OS Ornellas, proprietarios da região e de tesras que se estendiam para Santa Anna
na costa do Norte, começaram logo no primeiro quarteiro do seciilo as culturas dos
pinheiraes para lá, assim como na Camacha e para os lados de Valle Paraizo e
Choupana, para onde se estendiam os tei-renos que Luiz d'ornellas e Vasconcellos
acabou de cobrir de arvoredo n'uma extensão de cerca de 22 rnoios de superficie.
(...I
N'um relatorio por elle dirigido ao Ministerio da Marinlia ein 10 de Agosto de
1823 se diz que 20 mil arvores tinllain sahido dos viveiros do Monte para varias pon-
tos da ilha da Madeira e do Porto Santo, o que da uma ideia da influencia que liver-
a m os viveiros na decoração florestal e florida d'esta encantadora ilha; e que hoje
mesmo em plena serra se verificam não só nos eucalyptos, nas acacias. nos carnal-
hos e nos pinheiros que cobrem os mattos e revestem as ravinas, como nas f~ichsias
que crescem sobre os muros e sobre as sébes, nos pelargonios arroxados ou aver-
melhados que se vêem em macissos, nas violetas que se intermedeian~pelas grotas
com os morangueiros, e nas margaridas, malmequeres e papoulas que nascem nos
campos.
A s mattas estendidas n'essa facha da aba do sul da cordilheira e que do monte cor-
rem até a Camacha e sobem até ao Santo da Serra, são bem um documento do movi-
mento florestal dos principias do seculo XIX, tiio genuino como o Palheiro, situado
na orla baixa d'essa zona d'arborisação, que acolheu uma variedade grande de plaii-
tas, entre as quaes aquellas que se desenvolvein mal 110s jardins do Funchal, conio as
camellias, os rhododendros arboreos, os loiros-cerejos, as carochas ou inagnolias, as
groselheiras, as betulas, os lilazes.
Os jardins da vivenda, que se estendem para os dois lados e para detraz do
palacete e dos tanques aquarios constr~iidospelo fundador, estáo prof~~sainente plail-
tados no coração do predio e correm ao longo de veredas cobertas de rosas margin-
aes, de bucheiros tosquiados em bordadura baixa, forinando nos angulos e nos
extreinos caprichosos modellos d'aves ou baiaustres: para dentro os canteiros jitiica-
dos d'arvores, arbiistos e plantas herbaceas cobrem-se de flores que desabrochain
exlialando subtis e delicados perf~iriiesque aromatisaiii o ambiente; para traz dos ulti-
mos alegretes flondos e da arborisação, que e rala, comcça a inatta, por entre a qual
desce a grota do Inferno, onde os fetos arboreos e negros se ellevam a 12 e 15 niet-
ros d'altura sob a copada de carvalhos. castanheiras e outras arvores a porte elevado
n'uni ambiente humido e a ingreme declive; enifiin, na parte rnais alta da q~iinta
crescem as gramineas, e os carneiros aos bandos pastam á solta.
Sem ter entrado nos edificios nem nas dependencias, nem tampouco ter visto as
cavallariças ou a grania, que constituem as outras curiosidades da Quinta do
Palheiro, vi o sufficiente para avaliar da fecuiididadc da flora de jardim aciina de 600
metros, que no Jardini da Serra, aciiiia do Estreito de Camara de Lobos, hoje pouco
se avalia da iiiflueiicia que teve na horticultura da Madeira. Situado a 750 metros, a
mais de 120 acinia da altilude do Pallieiro, o Jardini da Serra estende-se ao longo da
vertente leste do espigão que avaiiça pela raviria do Vigario e divide a Ribeira d'este
noine da do Jardim, que é sua affluente e que lhe passa á caiicella em correiite assaz
nutrida para conter a frescura no vallc.

[Marquez de Jacoine Correia, A Ilhír díl Mc~deirci-Irnpl-essões e Nofns


Ai.cl~eologicns,Xzirnes, A~tisticuse Sociaes, Escriptas de Jnnei1.0 a Maio de 1922,
Coimbra, 1927, pp.77, 119-122, 165-167, 172, 175-1761

J O S MARIA
~ FERREIRA DE CASTRO 11898-19741

Reunidos eni grupo, indicou-lhes o mar, de uni lado ate outro da illia. Estavain no
ponto inais clevado que a estrada atingia. Dali se escortinava o oceano, ao norte e ao
SLII,dali os olhos podiam iiiedir a largura da Madeira. Para o sul, a vista baixava,
entre a soberbia deslumbrante das inontanlias, ate as costas da Ribeira Brava; para o
norte, ia, entre urzcs e loureiros, salvando serras e abisinos, alcançar o Atlântico,
aléiii da capelinha de San Viceiite. E ali perto, mesmo no flaiico da estrada, nascia, a
qiierer prolongar a iiiontai-ilia, novo inamilo que as águias gostariam de ter para
iiinlio. Seguia-se-lhe logo outra proeminência, grave, pesada, estranha e tão capri-
chosa na forma que, mais do que obra natural, saída de primária c o w ~ ~ l s ãdir-se-ia
o,
niajestoso teinplo assírio. E a cordilheira coiitinuava ainda, coritiriuava seiiipie, a par-
tir-se, ao longe, em ciclópica fantasia.
Álvaro propôs:
- Se querein, podeinos almoçar aqui.
Mr. Crawley consultou o relógio:
- São dez e meia. Para iniin é cedo ...
- Bem; então, almoçareinos lá em baixo, antes, de chegarinos a San Viceiite.
Na descida, as lombas e desfiladeiros já não osteiitavarn apenas árvores dispersas,
córnoda outra banda. Agora, urzes e louros formavain mata cerrada, cobriam as
encostas, vestiam as barreiras da estrada e inurinuravam por toda a parle.
Centenárias, as urzes liaviain adquirido corpulência Ide árvores, de grossos c retor-
cidos troricos, C L I ~ O Sramos viiiliain debruçar-se na via, quase roçando a face de quem
passava. E, por entre elas, serra aciina e serra abaixo, os loureiros entregavam ao sol
as suas folhas duin verde vivo e mui lustroso.
-Mais devagar!Cpediu M.inc Lacretelle ao "cliaufreur".
O s automóveis desciam, lentamente, lia paisagem cortada de sornbras e clari-
dades. M.me Lacrctelle desejava porem, que aquele que a coiiduzia descesse inais
devagar ainda. Juvenal contemplou-a, um instante, rectificaiido Juízos apeiias
esboçados. "Tainbétii teria sido tocada, apesar da sua frivolidade, pelo
encaiito,daquela
- Devagar,,. Assiiii.
O carro que levava o casal Crailvley e Alvaro distanciara-se.
A mata era cada vez mais bela: a cada nova curva, a cada clareira visluinbrada, os
loureiros sugeriaiii Iioras pretéritas, gastas por outras civilizaçõesCos corlios vestidos
de tí~nicas,ondulaiido iI brisa que passara Ilá muitos séculos já. E, lá para cima, os
píncaros voltavain a adquirir a iinponêiicia perdida quando vistos de perto. O que
seinelhava uiii teinplo assírio dir-se-ia que acendera, com o revérbero do sol lias suas
peiledias, centenas de jaiielas e de pórlicos faiitasticos.
A uma volla do autoiiióvel, o corpo de M.me Lacretelle deslizou novamente, até
encontrar resistência 110 de Juveiial. E esteve assiin, colada a ele, alguiis segundos.
Depois, inclitiou o busto para a ii-ente e ordenou:
- Pare ai.
Jiivenal prociirou-lhe os ollios. Mas já ela, ludibriando o sentido do inonicnio,
sicresceiitava:
-Vamos um bocadililio a pé ... Estou fatigada de tanto vir sentada ...
E para o "chaufèur", coin o mesmo to111 autoritário de pouco antes:
-VB andando e espere-110s aí em baixo.
Desceram. Ele estava s~irpreendidocom aquelas transições da voz de M.ine
Lacretelle. Uma solidariedade com o "chauffeur" nascia de repente. Ela ficara para-
da, ao seu lado, e olliava e111 derredor.
-Que lindo isto é! Niio Ilie parece?
- Os gregos niio teria111 tanlos louros ...- disse ele, coiii uin sorriso .frio
(. ,-1
A cordilheira ia de uni a outro extremo da illia. Nascia lia vizinhança da Ponta de
S. Lourenço e cresceiido, ora ein cuivas de lonibo de droinedário, ora em ondulações
mais ainplas, I& ia, 18 ia, gigantesca e ciclópica, até a Ponta do Pargo. Floria em
jardiin e verdejava em sussurraiites bosques no Saiito da Sem; e, tomba aqui, levail-
ta acolá, entregava ao sol a calvície do Poiso. Soiiiaildo serras e outeiros, costelas do
espinhaço central, cainitilinva ainda, camiilliava sempre, abrindo bocarra eilortiie i10
Curral dc?s Freiras, daiido passo iI estrada ria Encumiada de S. Vicente e formando,
além, por súbito capriclio, a terra lisa do PLLLII
da Sem, larga e alta de inil e q~iitiheii-
tos metros. Mas essa lliaiiura, aberta de passageiil, sigiiificava excepçgo, pois A
cordilheira iião agradava solo livre de obstáculos para os ollios. O seu deleite era
criar aiífractuosiclades monstruosas, eiifiaiido serra coin serra, lombadas, inontes,
cocurutos, picos que parecia quererem traspassar o céu e precipícios e ravinas onde
regougavain torreriles, nas iioites de rijo te~iiporal.Seguiildo seiiipre, cada vez inais
irregular e variada, perspectiva aléin de perspectiva, ia esparramar-sc na Ponta do
Pargo, lia Madalena, no Porto Moiiiz, contornando do Sul para o Nor~e,sempre
abriipta e seinpre grandiosa.
A Madeira era a cordillieira. Posta no centro da ilha e a todo o seu coinpriineiito,
dir-se-ia que se derretera pelas bandas, escorregando lentaineiite, para u m lado e
outro, a inassa ainda informe. Hesitando 110rolar de pesadelo, mais mole aqui do que
acolá, quedara-se, iiinas vezes, em proemiiiências, abrira-se, outras, em siilcos pro-
C~indos;e, na preguiça da descida, deixara por toda a parte encostas de arbitrária
expressão e acidentes de singiilar fantasia.
Logo, para cobrir mazelas que lhe ficara111do nascirneiito, se vestira de tâo dei~so
arvoredo que, inesiiio com o sol a pino, não havia palino de terra desprotegido dc
soinbra. Fora assim qiie a viram, sugerindo todos os mistérios, os descobridores; e
inais de uin inareante que, teiido coino roteiro bíblicas páginas, andava ein busca do
paraíso terinal, julgara tê-lo encontrado ali. Tanta opulêiicia vegetal, inuriii~iraiido,lia
solidão atldntica, árias de estremecer e oeiiltando, nos seiis abisiiios, quem sabia se
bichos temíveis OLI hoinens inais ferozes ainda CIO que os bichos, leva~itoiinos
priineiros trill~adorescautelas e perplexidacles. Dizia mesmo a tradiçgo oral, por
virios cronistas dada cotno segura, que, por essas ou outras razões, fora uin dia
laiiçado fogo A ilha de verde fisiononiia. Rabiando dc ponta a ponta, as cliainas teri-
ani formado igiiea apoteose, bein digna, pela grandeza, da iiiieiisidade oceinica onde
se retlectia. Mas tivesse tido o destruidor Iacil propagação ou houvesse caminhado
devagarinlio, revelando a siia marcha apenas coin ~iinrisco de fiiino a elevar-se da
inata, a ilha ficara ein tições, esbranquiçados, uns, pela ciiim, e outros enegrecidos.
Adubaram, então, a terra, destruidos, para seiiiprc, todos os réptcis c deiilais
aliiiiárias que causain dano e susto nas outias partes do Mundo. E posta assiiii ao léu,
sein regaços de ii.iistério, seiu recantos eiisoiiibrados, negra e nua, negra e iiiia, a
Madeira mostrava toda a siia grande carcaça, tão áricla e desolada coino se h s s e cle
novo iiin lòriiiiclável vói~litode lava, acabado de arrefecer.
Mas, coin o teinpo, raizcs inergiifhadas mais fundo ou seilientes perdidas o~icleas
labaredas não cliegaraiii, deraiii ein pôr i superficic rolliitas tenras, delicadas; e, se
havia huinidade, fora só crescer e inultiplicar, vcstiiido a toda a pressa o que o fogo
desniidara. Roclia cle onde brotava ágiia tevc logo em derredor, e onde quer que a viv-
ificadora passasse, bosques de encaiitainei~toe de fresciirn inigualável. Nunca inais,
porém, a cordillieira, iieiii q~iantodela descia alé o iiiar. se cobrira de Loclo. N c s ~ cc
iiaquele anfracto, tios cimos e na terra ribeirinha, Iicaraiii largas cicatrizes; unias,
estéreis, outras, propicias a ser ainailhadas pelos coloiios recéin-cliegados. E côiiioros
arriba OLI nas achadas, longe o11 perto do oceano, o Iiomeiii fora dissciiiiiiando a agri-
cultirra c elcvaiido o seu abrigo. A ilha dcixara de ser apeiias bosque, para ser bosq~ie,
Iiorta c jarcliin. Já não eraA só inancha vercle, ancorada no Atlântico c tendo a coroar-
Ihc os píncaros grande auréola de bruina. Era, agora, imenso painel de iiii~ilase vari-
atlas cores.
No Poiso, poréni, a Lerra continuava sakm, coino se tivessein passado lirí pouco
tempo ainda as labaredas j6 leiidbrias, Nein iiiata a substituir a que teria existido, iiciu
couve, roseira oii vinlia ineticla a deritc cle ciixada. O seu clespovoado, animal c veg-
ctal, só podia ser aprazivel a quem necessitasse dessa brte solidão cin que o Iioinciii,
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

nos Seus S O ~ ~ ~ Ó ~ COllStallte~


~ L I ~ O S OU Se transforma a si próprio ein centro do Mundo ou
finda por criar O vício das interrogações sei11 resposta.
(.*.I
Fora uma cena muito rápida. H01dswoi.th 1150 a notara sequer e, coin um senti-
mento prático, perguntava:
- Para onde vai esta água?
- Para os campos - i-espoiideu Juvenal. E explicou-lhes que toda a ilha estava
cortada por essas cordas líquidas, que rabiavam ao longo das seil-as, por elitre as
matas S L ~ S S L I S ~fiirando
~ I ~ ~ ~asS ,rochas, atravessando as lnoiltanlias, salvando precipí-
cios abissais, outrora entre duas tábuas de til, format-tdo calha, hoje ein aquedutos de
boa pedra, que a humidade tornara limosa e escura. A linfa corria, assiin, quilóinet-
ros e quilóinetros, para ir irrigar canaviais e vinlias, Iiortejos e poinares da tewa baixa,
que nem por estar à beira do oceano tinha nienos sede. Nas levadas, que se contavain
por centenas, residia toda a econoinia da Madeira, pondo de fora os bordados.
Alguii~astinham origein reinota: as suas águas cantavain há inuitos séculos já, dia e
noite, noite e dia, por entre a folhagem murtnLirosa e o silêncio dos grandes abismos.
Pertença do Estado ou de "liereos", seus donos associados, cada uma das suas horas,
disputaclas e valiosas, representava a vida da agric~iliiira- aqui, ali, acolá, em toda a
parte onde verdejasse o que dava sulno ou se podia trincar. Tinliain-se gasto fortunas
na abertura dos líricos canaizitos, nessa obra hidra~ilicasingular de que a Madeira
legitiinanlente se orgulhava, pois 1180 era só tltilidade que ali se colhia, inas também
beleza e da inellior, uiiia beleza ora discreta, intima, ora diiina espectaculosidade
deslumbraiite. Queiii visse a ilha por fora, do Ftimhal, de Machico, de Santa Cruz ou
d e Câinara de Lobos, não poderia avaliar quanto ericantaiiiento paradisíaco ela brin-
dava a quein trilliasse os maiiiéis das siias levadas. Metro que se andasse, ou sugeria
um parque original ou abria janela festonada para vales e montanlias de inverosímil
recorte, c01110 se tudo Iioiivesse sido feito para ultrapassar o mais imaginativo de
todos os criadores. Só ao longo das Icvadas o, espírito conseguia apreender a mag-
nilicência e a sedução da ilha fainosa.
E não era das mais belas aquela que trilhavam. A do Rabaçal e das Queimadas
superavam ainda toda a volúpia já sentida pelas pupilas curiosas. A ágiia, o arvore-
do, os despenhadeiros abruptos, as siiiuosidades do teireno, os seus esporões e alcan-
tilados imprevistos, criavani uma variedade panorâmica de fulg~irantee inefável
beleza. A água era Liina ladainlia, uma sinfonia da ilha. Ia inúrinura ali, ila estreita e
intérmina prisfío, mas antes de adquirir esse ritmo suavissimo, qiie era quase silên-
cio, cantava nos desfiladeiros, nas gargantas, de fraga em fraga, por entre musgos e
arbustos, ou caía de alto, nuin jacto, como se fosse despejada de cântaro colossal, qiie
nunca inais se esgotasse. As vezes, era pingo sobre pingo, gota após gota, praiito
maliando de ignorados ollios verdes, que só o verão enxugaria; outras, um fio ténue,
inolhando cliapé~ise ombros cle quein passava segurando-se à ribanceira, 11ão fosse
escorregar; outras, ainda, deslizava lentamelite ao longo de altíssimas penedias - e tão
certa, tão constailte se mostrava lia largura e na descida que, vista a distância, mais
d o que água l ~ ~ z i n dao
o sol, parecia Iâinina de prata. Só o Rabaçal tinha, juntos uns
dos outros, vinte e cinco jorros, iiiais belos do que todos os repuxos de jardiin; e não
havia levada que, i10 seu andamento de flanco para flanco, não fosse capturalldo e
coiid~iriiidopara lonyc. pecluenas cataratas cle miisica vigorosa oii fontes d e terno
cicio.
Xo nicsi-no teiiip». a p~p~ilaçãocgetal ostentava Lima vida opulenta e fantástica.
Era coriio se O 111~Gndio tradiciolial não houvesse chegado ate ali ou as cirizas das
ir\ores que iiiorrrrarii ti\essrrn servido de Iiúmus a vegetação fiitura. Except~iaiidoa
de Santa Luzia c ti1n;i ou outra vizinheira de povoaclos, as levadas aliiiientavam, no
SCLI trajecto. bosqiies de bíblicas sugestões. Ele próprio, iia das Queimadas, sobre a
pontezitri do Arrochete. titesa. uiii dia. a scnsação de que ia ali s~irgir,nu, peludo,
niiiac;acado. o honicm edénico. A serra recolhia-se, em aguda e alta verteiite, ofere-
cendo de cada Iado iim tumefacto quadril. De cima, ao longo duma rocha, a água
escorregiiLa. luzidia e caritaiite. Acompanhava-a lia descida, a urn lado e outro, densa
rii~iltidàode riibustos, musgos. fetos, azevinlios, de frutos que lembravam contas ver-
iiielhiis, urzes de todas as idades, loureiros esgrouviados, frondes por toda a parte.
Eriiararilia\am-se erri ramos de extraordinárias expressões, folliitas que erain rendas
vegetais. conjunto que matava o indivíduo para dar uma visão de totalidade maravil-
hosa. E sempre. sempre, na frescura dominante, a catavina da ágiia. musicando o
silencio de floresta virgem.
Menos recatados e mais teatrais eram o Caldeirão Verde e o Rabaçal, onde se sen-
tia. imperativamente. a necessidade de um ser inverosímil, de Lima inulher enigináti-
ca e de eterna juventude, para quem a água executasse, nas iriierisas solidões, a sua
intérmiiia riielodia. As ánores, os recantos soiiibrios, as clareiras, discretas coino
uma alcova. o que se via e o que se imaginava e a água, sempre a água em inelopeia,
sugeriarii uni amor extra-humano, a vida feita só de ainor - seni outra preocupação,
sem outro objectivo. sem outra realidade !

[Ferreira de Castro. Ete~xidude,Lisboa, 1977, 130 edição, pp. 65-66, 147-149,


i 96- 1971

ANTÓNIO ASSIS ESPERANÇA 11892-19753

Para o atrakessarnios, acendemos archotes de urze ressequida, porque tudo aqui é


simples e primitivo. Iniciamos a marcha coino penduradas na abóbada, ou cabeleira
verde das pedras, os fetos e avencas das humidades sombrias; aqui e alem a cair :em
gotas, pingue-que-pingue, como se toda aquela terra fosse espremida p o r mãos
crispadas. as paredes ressuinani hgua. Faço a primeira centena de passos, e o ponto
lurninoso, que é a outra entrada do tiii-iel, perinailece niinúscula, marcando a grande
distância a percorrer.
O circulo vermellio do clarão do archote mal chega para nos indicar por onde
corre n levada. Guardo silencio porque tudo me é conhecido Surge - o primeiro per-
calço.
A riieio caininho, extirigiie-se a -luz que nos guiava. O vento, que assobia rieste
corredor abobadado, fizera que a chama depressa consuinisse a urze seca.
O caminho toma-se doloroso, inquietante. Gracejamos uns com os outros, mas a
escuridão é completa e separa-nos. Nós e o negnime da iioite daquelas paragens; nós
e a sensação de que vai abrir-se uin abismo a nossos pés, pronto a tragar-nos. A terra
encliarcada que pisamos torna-se lama fétida; a imaginação põe ali répteis de
cabeçosras disforiiies, repugnantes; as arestas das pedras que tocamos são escamas
de monstros; tacteando o inurozito da levada, arrepios friorentos percorrem-nos o
corpo, como sc os nossos dedos tocassem eiii cadáveres. Apetece-nos gritar, e ime-
diatamente receamos a nossa própria voz; tentamos gracejar, e as palavras soaiii
entararneladas, fiinebres.
Como farol em noite de trevas, a nossa esperança é o orifício branco do fundo do
ginel. Apressarnos, o inais que podemos, os passos, mas ele nega-se a abrir-se inais,
corno ein caminhada sem fiin. Um minuto que passa é ali enternidades.
É então que se apossa de nos o desejo de comer, de fugir, e para bem longe daque-
le pesadelo. Mas como nos sonlios de quando ansiamos voar e nos sentirnos presos,
a corrida é impossível naquele terreno escorregadiço, de inolliado. As primeiras pas-
sadas perco o equilíbrio. E o descoi11iccido. Apaga-se a sensação de que atravesso L I ~ I
túnel, para nie possuir a certeza de habitar um inundo diainetralmeiiie oposto Aquele
ein que vivera. A meu lado, tanto podein viver monstros, ou espíritos enfeitiçados,
como haver tesouros escoiididos.
É depois, quando estainos a poucos inetros do -Fim do túriel, que começaiiios a
encontrar o sabor inédito daquela travessia sem perigos, só a iinaginação a toi~iá-la
arriscada. A luz, que vem cliegando até nós, é júbilo de alma; apetece sorrir e cantar.
Desembocamos num terreiro abesto na falda duni imonte acima das nuvens, tiío próx-
imo do céu !
Píncaros altíssin~os.E, como toallia inuilo alva cle aliar, o nevoeiro espesso, que
ficara todo a meia-encosta, é o clião tnacio eni que, na infância, soiiliainos brincar.
Mansão de fadas ou residência favorita de sereias, certaii-ieiite as priiiieiras horas da
manhã as veremos, ali, cabriolaiido e rindo, para depois se precipitarcii~no retalho de
oceano que muito lá ao fundo, se divisa. Com aquele tapcte de arminho a cobrir SLIII-
dos de abismos, a paisagem é esplendorosainente bela. Sobre terras feitas coin a luz
branca do luar, construírain-se castelos de roclias que o oceano embala coin a canção
das suas ondas.
A vereda que seguimos agora é tão estreita que não consente duas pessoas a pac
A tena foi, aqui e além, soerguida por inãos dum gigante eiilouquecido. Siío vales
profundíssimos, cortados a pique. As próprias cabras da iiiontanlia, assustadas à
nossa passagem, escollierii os carreiros por onde descer. I-Iá encostas esçalvatlas,
negras, e outras atapetadas coin o verde das urzes centenirias. Inquiro do coiitrasle.
Meia diizia de anos antes, os pastores da serra lançara111 fogo As matas, e o fogo
lavrara por todo o interior da ilha.
( S . . >
-Oincêndio ...; o incêndio ...
Esboça gestos, como aterrorizado, e tão infantis como infantis, eiitaraineladas são
as suas palavras. Ergue, um pouco, o braço, a mão esboça unia curva leve, e é seti?-
pre assim. Significa terror, corno depois esse iliesmo aceno lhe servirá para sigriiiicar
alegria.
-Foi em 19109, e eu estava só. Vi o liometn e depois o fogo, que sallava de árvore
ei-ii árvore que neiii gato bravo. Três dias durou três dias. EU preparei tudo ! preparei
tudo. Eu só ! Havia água, e foi só encher os baldes; /
Uni risiiilio seco, sarcástico, coiitra o fogo, corno a castigar-lhe o omiiipotencia, e
os mesmos gestos: um erguer do braço, e a inão ossuda, enormc, a esboçar uina curva
leve ...
- O fogo vinha daqui, e eu \Ta de lhe deitar água; viiiha dalein, e j8 eu lií estava de
plantão. Nunca me apanhou de mãos a abanar, 0111e, meii senhor, que tudo isto eraiii
chamas A roda, e eu vá de deitar-lhes água para ciina. Que eu cá, sou rijo !
A voz teiii sempre o inesriio roin plangente. Recordaçgo única, por espectáclilo
único, sorri. Bebe para inolhar os lábios.
-Que eu salvei isto. Eu só ! Ao segundo dia, já duni lado estava tudo apagado, veio
cá ciina Liin cliiihado ineu para ine dizer que a initiha irinã iiiorria com cliorar. E que-
ria - levar-me de ganclio ! queria que eu abalasse pela levada fora c abandonasse esta
casa!
- E Foi?
- Qual?! Eu queria lá saber da ininha irinã ! Quaiido isto ... quando "a tasca"
ardesse, ficava menos Lim hoi-riein no n~undo,foi o que respondi ao iiieu cunliado. E
cá fiquei ! eu só! Eu a brincar coin o fogo, e o rogo a ralliar coiiiigo. Mas venci eu !
Que eu c i s o ~ rijo.
i Eu podia lá abalar ! E então isto ? Se eu abalasse, ardia luclo !
Não queriam mais nada, não ?
Fito-o. A narração eiigrandecc-o. Ganlio~iinaior cstatLira; o dever etuprestou-llie
ao rosto uin luaceiro de heroicidade. Desaparcceiii o falar e a tiiiiidez dos gestos.
Ante inini, esta uni Hoinei~i,e sem desiiierecer daqueles que acreditam haver, para
eles, uina missão na terra, e não vacilam ein sacrifcios, anles os procurain, coii-
scieiites, em proceder por forilia diferente das maiorias.

[Antóiiio Assis Esperança, "Uin Homem", iii IlustroçGo, Lisboa 1929, iii Cabra1
do Nascimento, Li[gcri.esSelectos de azltores pol.llrgrreses que csci.ever*crnzsohiv o
ri]-qz,ipélngou'n Mnúeiro, Fuiichal, 1959, pp. 177-1 80, 184-1861

FERNANDO AUGUSTO DA SILVA (19341

Madeira (Paisageiii). São inumer8veis as coiiiposições em prosa c verso, tanto ciii


vernáculo como c111 Ií~iguasestrangeiras, que cantam e enalleceiii as conliecidas e jB
provei-biais belezas da Madeira, eni que admiravelmeiire se salieillaiii o niaravilhoso
acideiitado das suas altas inonlai-ilias,o apruino inverosímil das suas raviiias e des-
filadeiros, a profuiididade dos seus vales, o relevo capriclioso do seu solo, as difer-
entes tonalidades e matizes das suas ricas c~ilt~iras agrícolas, a vnrieclade c Tiagiiii-
cia das siias flores, a eterna priinavera do seu cliina, os fainosos vinhos, fr~itose bor-
dados, os típicos e interessantes cosluincs regioiiais, a patriarcal Iiospitalitlade dos
l~abitantes,etc., etc. Neni patidaineilte teiitareinos clescrever, einbora iii~iitode
relance, todo esse coiijiiiito de inaravillias coin que a oinnipotência divina dolou cste
privilegiado torrão eiii que iiasceinos e vivemos, iiias vaiiios transcrevci. alguns tre-
clios de autorizados escritores, quc poiiliam em saliente e brilliilnte relevo a
descrição dessas maravilhas, suprindo deste inodo a nossa manifesta iilsuficiência e
a nossa suspeita opinião neste assurito.
Sem obediência a qualquer espécie de selecção, no que respeita A época o11 cat-
egoria literária dos autores, farcmos essas transcrições A medida que 110s foram pas-
sando a vista, numa ligeira pesquisa a que procedemos.
O ilustre geógrafo M. dYAvezac,o seu livro Illes d'Afrique, uiila larga descrição
da Madeira, donde destacainos estas : - Nada conhecemos de belo e majestoso do
que a ira, vista a distancia da coberta de uni navio; de toda a se elevam rochedos
marítimos gigantescos escarpas forinidiveis de lava; nos quais o tempo e as aguas
fazem enonnes rasgões, que formam os portos e as baias abertas à navegação. Ora,
as rochas basalticas revestem a forma e aparêmia de vellios castelos em ruínas, ora
as camadas de lava descem livreineiite até o mar em pilares gigantes que marcam
com toda a precisão a direcção das torreiitcs fogo que iilundarain a ilha, e que parece
haverem sido detidas em seu curso para atestar hoinens de hoje a violêilcia dos plie-
noinenos de que a ilha foi sede em épocas remotas.
Uma eterna verdura cobre seus cumes, atingindo altitudes que os sábios só teem
constatado em inuito poucas regiões do globo. Esta vegetação vigorosa participa da
riqueza de todas as latitudes, desde o morango até à banana, e desde a vinha, que
cobre o sopé das inoiitailhas, até i s inui-tas, os feos e os loureiros que lhe revestem
os píncaros mais elevados. Assim como os navios de toda as nacionalidades e prove-
nientes de todas as partes do inundo tocain na Madeira, primeiro poito de escala da
navegação transatlântica, assim a vegetação d'esta ilha participa da de todos os
paizes; e o seu cliina favorece todas as culturas, coilio o seti horto acollie todos os
viajantes. Por entre o verde soinbrio das plaritas tropicaes, destaca-se a foll~agem
mais clara dos nossos climas temperados; e os Iíqueiles, que rastejam nas fendas das
rochas ou trepam ao longo das arvores, recahein treinulando ao sabor dos ventos
como longas cabeleiras verdes,
Uina cadeia de inoiltanhas, que não é outra coisa mais que o iiíicleo da ilha, per-
corre-a ein todo o seu cuinpriineiito e lhe deter~niilaa direcção Ella apresenta-se em
geral menos elevada nas duas extreii-iidades que na parte media. Alli desdobra-se, se
licito é usar esta expressão,, para cingir tiin plateau cavado de profiindos valles, que
forma o centro do maciço. E na parte norte desta alta região que estão reunidos os
pontos culininantes da Madeira: o pico Ruivo, o das Torrinlias, o do Cidrão e o do
Areeiro".
O capitão Manyatt, grande e ilustre viajante, numa das suas belas phgiiias des-
critivas, fala deste n~odo:- Não coilheceinos sitio no globo que tanto assoinbre e
deleite, logo i chegada como a ilha da Madeira. O viajante tem talvez deixado a
Inglaterra no melancólico findar do outomno, ou inesino na fiigida coiiceiltração
d'um inverno britminico, e quando dese~nbarcaillia, qcie inuclaiiçsi! O inverrio í'ez-
se verao; as arvores que elle deixou nuas, transformarain se numa foll~ageililuxuri-
ante e variada; a neve e o gelo estão convertidos em calor e esplendor; as sceiias da
zona temperada na profusão e s-riagnificetitedos trópicos. O céu crystalo, o astro da
I~izscintilante, mar azul e sem limites, os outeiros en~apisadoscle vinl.ias, os ves-
tuhrios novos e pittorescos dos catnpiilos, tudo alegra e deleita os ollios exactalilente
no preciso iiloiiieilto em que inesmo que houvésse~nosdesembarcado n'uina ilha
escalvada, já isso teria sido julgado uma iiiapreciável delicia."
O distinto comaridante da gata a~istriaca Novara, W~ielstorf-Urbair, iiuma
descrição de viagem, que o nosso grande escritor e estilista Latino Coelho se dignou
traduzir ein língua portuguesa, Iêein-se estas palavras: - " E extraordinariamente deli-
ciosa e magnifica a primeira impressão que a vista do Fuiichal causa ao viajante com
a perspectiva dos seus jardins e das suas flores e com a opulenta vegetação, que
engrinalda e coroa os montes, que se elevaiii desde a margem. Não ha ali, é verdade,
a selvática majestade, nem as forinas colossais da vegetação, que é própria dos paizes
dos trópicos. Seiitein-se ali antes as feições de uma ilha da Itália meridioiial do que
as magriiticência de uma paisagem do equador. Desenrola-se, porém, ao aspecto do
observador, Liin tão grato painel, onde a vida da natureza aparece em tão rica var-
iedade e fornlosura, que a mais creadora phantasia nada pode conceber de inais
amorável e encantador. As mais fornlosas plantas das zonas ten-iperadas e subtropi-
cais deleitam aqui os olhos em seu pleno desenvolvimento, ao passo qiie aparecem
também alguns dos mais bellos representantes da flora dos trópicos no esplendor lux-
uriante d'esta maravilhosa vegetação, que uin naturalista da Allemanha comparou ha
pouco tempo aos fabulados Iiortos pensis de Semiraniis. "
"Nenhum logar nos pareceu mais apropriado, diz o celebre naturalista Hiiinboldt,
para dissipar a melancliolia, e para restaurar a paz ao espirito perturbado, do que
Teneriffe ou Madeira. Se a bella descrição da ilha Pheacia feita por I-Iomero, em que
os frutos sucedem aos fructos. e as flores ás flores, numa variedade rica e sem fim,
pode ser aplicavel a alguma ilha moderna, é seguramente a Madeira."
O prirneiro governador civil do Funchal Luiz Mousinho da Silva Albuquerque,
literato e ilustre homem de ciência, deixou exaradas estas palavras, numa memória
que escreveu acerca do arquipélago madeirense: -"...se a mão devastadora e iinprev-
ideiite do liomern 1180 tivesse despojado a qliasi totalidade dos montes e das encostas
da sua antiga verdura sem a substituir por novas plaiztações, a ilha da Madeira fora
sem dúvida um dos países mais formosos e mais agradáveis do Universo. Quando
deixadas as sinuosidades dos vales e as bordas das torrentes, se sobe aos cunies e as
partes elevadas das montanlias, a ilha da Madeira apresenta a cada passo vistas exten-
sas e variadas ciija descrição excede as forças da eloquência e da poesia, e das qiiais
nem o lhpis do paisagista nem o pincel do pintor podem da mais que uina mui
imperfeita ideia ... "
Ilustre escritor D. António da costa, no seu livro "O Herói do brigue Mondego"
escreveu:" ...uin taleiito feminino definiu ai il!ia: irma porção do paraíso trazida pelas
mãos dos anjos para o meio daquelas hguas. E em verdade um paraíso ... Tudo ali res-
pira a imensidade. 0 s olhos descobrem horizontes sem termo; a verdura apresenta
variações novas que enfeitiçam a vista ...as flores... transfoimain a povoação num
jardim, cuja atmosfera balsâtnica se respira já do inar e que fez supor aos primeiros
descobridores u m encanto das negras inatas, ao mesmo tempo medonhas e feiti-
ceiras, para atrair os aventureiros, a temperatura dulcíssitna converte as quatro
estações - num Abril permanente ... "
O grande romancista Júlio Diiiiz, que passou alguns meses no Funclial, diz-nos
o seguinte:
Quando a formosa ilha da Madeira, levantando-se da espuma do mar como a
mitologia Citerea, crescia para nós a recebemos, abrindo o seu seio benéfico e inatrr-
na1 aos descorifortados que nela só depositavan~as suas derradeiras esperanças. sen-
tíamos todos penetrar-nos O coração um desses suaves prazeres cotno O que nos
produz, no meio duma turba de estranhos, o encontro de um rosto e de um sorríso
de amigo.
Formava um coi-isolador contraste coin a tremenda severidade do mar a amena
perspectiva da ilha !
Horas depois de a avistar, a marcha rápida do vapor fez-nos dobrar o cabo de S.
Lourenço transpondo o amplo pórtico que ele forma com o grupo das penhascosas
Desertas, sentira-se uma súbita mudança de clima, como se de repente se tivessem
vencido muitos graus de latitude. Afagou-nos a face a brisa tépida e perfumada da
ilha, aspirámos com prazer o hálito acaientador e salutifero desta fada marítima;
achavamos-nos sob o seu abençoado encantamento, reconhecíamos enfim a
Madeira!
A costa do s ~ t lia passando em revista com as suas rochas escarpadas, as suas
ribeiras profilndas, a sua vegetação vigorosa, as suas formidáveis quebradas e os
altos picos onde poisam as nuvens, os vales fertilíssimos e as povoações graciosas.
Momentos depois, vencida a ponta do Garajão, as casas e as quintas do Funchal.
iluminadas por um esplendido sol de outono, que doirava as extensas plantações de
cana, saudaram-nos por sua.
A magia do espectáculo emudecera-nos. De um lado o mar, do outro as serras, e
entre estas duas grandezas majestosas, a cidade sorriu-me, como a criança adorme-
cida entre os pais, que a defendem e acalentam.
Para que a Madeira nos sorria, para que nos apareça formosa como a descreva o
poeta inglês e fragrante como uma verdadeira flor do Oceano. é necessário sair do
recinto da cidade, procurar as freguesias rurais, subir as íngremes ladeiras que
costeiam os picos e espraiar então a vista pelos formosíssimos vales que vão desco-
brindo o seio fecundissimo aos nossos olhos maravilhados.
Que vigor e variedade de vegetação !
O verde doirado da cana realça entre as diferentes cambiantes da mesma cor de
plantas de todos os climas. A palmeira de Africa agita a sua fronte graciosa junto dos
carvalhos da Europa; a bananeira, vergando sob o peso dos seus cachos, cresce cheia
de viço nos mesmos pomares onde se enfeitam de flores os pecegueiros e as laran-
jeiras odoríferas. As rosas, as malvas, as madressilvas florescem espontâneas i beira
dos caminhos; debruçam-se dos muros as bouganvilias entretecendo os seus cachos
roixos coin as flores alaranjadas das bignonias; tudo tem um ar de festa e alegria. A
choça mais huinilde tem um jardiin à entrada; as flores sorriem a porta dos ricos e
dos pobres.
E quanto mais nos elevamos mais se pronuncia este magnifico aspecto do pais.
De um lado vemos aos nossos pés, o mar liso como um espelho, azul como safira,
limitado ao longe pelo grupo das Desertas vagamente tingidas do azulado da dis-
tancia; do outro as altas serranias que rompem as nuvens e cujos cimos tantas vezes
tinge a ofuscante alvura das neves. E nos flancos, abertos em fundas quebradas, sul-
cados em ribeiras pelas torrentes do inverno, uma vegetação exuberante, cheia de
vida encobrindo aqui uma casa isolada, enfeitando além uma povoação risonha, que
se agrupa em torno de i1111 cainpanário.
Então siin; então a atmosfera cinbriaga, o pcito aspira ~0111vol~~pt~iosidade esse ar
balsâinico, espirito liberta-se de todas as apreensões que 110sgelavain os sorrisos 110s
lábios e goza-se despreocupado do iiiais surpreencleiite espectáculo que pode imagi-
nar-se."
São do graiide escritor e psicólogo italiano Mantegaza as linhas que vão ler-se: -
"...O prilneiro aparecer do paraíso da Madeirsi melhor sc diria ser unia cena do infer-
no daiitesco. Massas gigantescas de basaitos negros, negros e roclias riigosas coin
0s pés no mar, laceradas, coiitorcidas em urn arbusto, sem uina única casa, e c0111 as
ondas espumantes a romperem-se fragorosas a seus pés. Aq~iie ali, perto cla costa,
illiotas, negras, taiiibém, sem arvores, seiii flores, corroídas pelas ondas despe-
daça&~e tresgastadas, quási r~iínasduiii m~indoininaclo pelo fogo. Cliegainos
Ponta de São Lo~irenço;deixámos ii esq~ierciaas três iiiias que tio próprio lioiiie
encerram a sua triste Iiistói-ia: Desertas; poucos momentos depois alcançáinos uin
proinontório de basalto, inaior que os outros O Cabo Garajão. Aquele cabo assinala
os limites do Paraíso.
Passado o Cabo Garajiío Lim perfriiiie de jardii1-i Zlorido veio ao nosso eiicontro
com as brisas da terra, e aquela terra era L I I ~encanto, Lini sorriso de jardins e casas
de carnpo, de campos verdejaiites e de bosques eiicantaclorcs; era uma grinalda com-
posta de todas as flores, Litn desses quadros de toclas as cores que alegram o coração
do Iioineiii e lhe arraiieain proliindo mas sereno suspiro.
Po~icoinomeiitos depois estávainos diante clo F~iiichalcapital da illia, que parece
estar branda e carinliosan~eritedisposta entre cainpos de cana clc açúcar e de iiiliaiiies,
e entre hoitos cheios das iiossas arvores da Europa, c bosq~iesiiiliosfaiitisticos de
bananeiras de Solhas gigantescas e aveludadas; cin volta, abre-se uni grande
arifrteatro de inoiites altíssiii~os,verdaclciras rochas de gigantes; por íiltiiiio, a COIII-
pletar o quadro, dois oceaiios, talvez clciiiasiaclo grandes para atliiele nitiho de
amores: o oceano do tilar e o oceano do céu; e naquela ocasião não se saberia dizer
qtial dos dois se vizinhava mais ao aztil ~iltrainariiioou ao cla salira.
Passei três vezes diante da Madeira, e seinprc a vi irrciinper tlo peito dos viajantes
mais v~ilgaresLiin grito da alma que dizia: poiq~icnão tcnho eu Lima casita neste
paraíso ?"
Nos "Portos Marítimos de Portugal e ilhas Adj:iceiites", diz-nos o ilustre eiigeii-
heiro e literato Adolfo Loiirciro: - "...é Liiiia das regicies da terra da iiiais extra-
ordinária acidciitação orograíia, cla iiiais rara e í'risciiiante bclcza, clas ii~aisbeiiélicas
e salutares condições climatéricas, e da maior í'aina e cclebiitlade, Ncla se reúne a
~naisagraclável doçura das campiiias da Ithlia, a mais agreste c rustica majes~iideclos
despenhadeiros e das serras dos Alpes e Periiicos e a mais luxuriante oplileiila vege-
tação das regiões equatoriais. Seni rival na terra, jainais se apaga, cla metite de qiicm
Liiiia vez pôde apreciar os seus encantos, a rccordaçiio claqlicle verclacleiro paraíso ter-
real."
O brilliaiite escritor Raul Brandão deixou ~ i i nSorinoso livro iiititulado As illias
Desconliecidas e dele vailios destacar cstcs trcclios: - "...l.'~incIcaiiiosa Macleira abre-
110s os braços, com a ponta do GaiL?ja~iilim extremo c a ponta cla Cruz no outro
extremo. Adivinho as casas, que por ora sTto Iàiitnsmas c clescciii 18 clo alto atC 5i praia.
Agora o tom cinzento desapareceu, clomina o azul e o oiro, e lia inin]ia frente o
graiicle aiiliteatro vercle dos inoiitcs ergue-se coiiio uiii altar até ao céu. É urna serra
a pique, é iiina serra voluptuosa e vcrde que se oferece lârigiiida e verde. Ao iiieio um
grande iiionte entreaberto; por tr6s a iiioiita~ilzaenorine e escalvada. Algurnas colinas
v80 terminar i10 farol e 1-10Sorte sobre ~11i.ipeileclo destacado e corroído.
Fico todo o dia a bordo, desluiiibrado, coiileinplaiido a Madeira, a eiiibeber-nie no
especláculo da luz, que passa do ciiizeiito ao azul, que ganha todos os tons e se mod-
ifica a ~oclosos iiioineiitos, alé ao l7iii da tarde, eiii 4ue o inar se torna diáfaiio e os
iiioiites trmisparcnles, Coi~iuma graiicle iiuvem pousada em ciina. Vejo perder a cor,
desfalecer, sumir-se :ilerra, qiie iio escuro cheira cada vez iiiais a fruta e iiie inebria.
Já o priiiieiro plaiio cslA roxo, o seg~iiidoé iitiia iiiancha enonne e indecisa, e o inar
i10 poeiite arfa coi~io11111 seio, aiiida iluiniiiado. A iiiedida que o vapor se afasta, a
iiioiilarilia que iiie atrai ptirccc inais negra c inaior: - sobe, ergue-se e chega ao céu."
M. Teixeira Goiiies, antigo prcsicleiile da repíiblica, cleixoii alguiiias páginas fiil-
giirantes, consagradas à Mndcira, iio seu conI1ecido livro dc viageiis "Cartas sem
iiioral ~~ciíhuma",doiide Iranscreveiiios algiii~iasliillias: - "...Pois haver8 iio inundo
paisagem ii~aisaliciadora do qiie esta que cii desfrulo do jarcliiii einbalsaiiiado e
sileiicioso da Q~iiiiLaVigia? Tudo é mobilidacle e socego no panoraiiia eiii gris que a
lilinha vista abrange, inar de calinaria, adamascado, coin a sua orla bordada de bar-
cos eiii relcvo - Cascos dc scda, frouxa e iiiastrec?çõcscle retrós- à luz igual, branca,
branda, que o alto céii leitoso coa do sol quc se não vê; as verduras iiiassiças da serra
aliviando-sc da espessura eni verduras iiiais tenras, ao coiltraste dos casais caiados,
c Loiige, soti~brejaiidoo Iiorizoiite uns arreiiiedos de Capri, illias perdidas cujas cor-
covas iiioiitaiii por sobre a últiiiin liiilia clo mas,.."
D o clistinto m6clico e escritor Sc João Aiigiisto Marliiis são as palavras que
segciciii, extraídas do excelente livro Madeira, Cabo Verde e Giiiné: - "... a sua pais-
agcriz rS quente de vida c colorido; salpicada loda ela por ceiitenas cle casas peqiie-
I I ~ Salegres
, c frescas, cluc parcceiil iiiarii.iliar pclas ciicostas e pelas elevações mais
iiivias, conio pigiiicus tcimosos iiuma grande í'cbre de toiiriste. Apreselita ein algutis
poiitos tratos acideiitnclos, Aspcros c pitorescos, quc fazciii Ieinbrar. os decantados
ptiiiora~iiasda Suissa, iiias i10 seu coiiji~iilo,COITIO síiitese de iinpressão, te111 o que
qucr qiie seja cle vago c coi~l'orthvelclas graciosas lelas cle Wateau, parecendo exalar
clc si com o hhlilo das Ilorcs cliie a revcsteiil, uiii aroina 180 saudhvel e tão iiiebriaiite
que sacoclc o torpor dos clcsaiiiiiios ii~aisprofuiidos, tendo vida e relevo aos relevos
d a vicia..,"
Olavo Bilac, 11111 dos i~iaisiluslres escritores e poelas brasileiros, traçou estas
-
apologéticns linlias: "...a illia eiicaiilacla era loda iiiiia fiilguração de ouro e prata iio
batiho luiniiioso da inaiitiã ... eslA cheia cle ruiiiores e de perfumes; mil instrumeiltos
~ i ~ h g i c oressonin
s conliisameiite; parece-iile que vejo al7rireil.i-se as iiuveiis mostraii-
do-ine tesouros qiie vtIo chover sobre iniiii,.. Ainda Iioje queiii pela priiiicira vez
nirnvcssa o Atlâriticci ein busca cla Europa, tctii a iiiipressão, ao cliegar c7 Madeira, de
11aver descobcrlo, 1180 Lima qualquer porçiío vulgar cla crosta do platieta, separada d o
coiitiiiente por iiiiia coi1vuls5o teliirica ,ou lcvariiacla do Siindo iiiar por unia erupc;Ro,
tiias uin Paraíso, ou iiiellior Paraíso, o Ecleii auleiitico e legitimo, esse jardiiii de cleli-
cias que lodos os S~~iiclaclorcs tle religiões idearam, berço eiicantado dos priineiros
Iiomens ainda na ingen~iidadee na pureza do brotar da vida. A chegada à Madeira é
a revelação do Fardés hebraico e caldaico, do Painir dos indús, do Hara Berezaiti dos
iranianos, do Beheschet dos persas, do Walhala dos escandiiiavos. Goiiçalves Zarco
e Trintão Teixeira, por menos poetas que fossein teriam, em 1419, O mesmo deslum-
bramento que fere os viajantes de hoje, poetas ou não, quando o mar Ihes depara
aquela verdura inesperada, aquele rernanso de águas azuis, aquele casario branco,
aqueles recortes caprichosos de angras, aqueles vultos de montes altos, tudo sorrindo
e f~ilgiiidoà luz de uin sol, que beija sem iilorder, dentro de ~niiar de veludo que entra
pelos pulmões em cai-icias e afagos... A tantos liigares lembrados para sede do horta
sagrado, teatro do primeiro drama amoroso, berço do primeiro beijo, é justo acres-
centar a Madeira ... Tudo concosse para dar a ilha um distintivo edénico. Nein calor
nem frio ... nunca ali se acendeu um fogareiro para aquecer corpo huinano, nunca ali
uma garganta escaldada de sede deixou de contentar-se coin a frescura natural das
aguas das levadas...
Dizem os geólogos que a Madeira foi antigamente uni foco de medonhas
erupções ... mas só existe uma recordação vulcânica: a excelência dos vinhos capi-
tosos, filhos da terra adubada de lava... Não foi sem razão que os iiaturalistas deram
ao arquipélago da Madeira e ao das Canárias o doce nome de Macaronesia, que quer
dizer - arquipélago dos Bem-aventurados.
São do distinto poeta Bulhão Pato, que passou algui~smeses na Madeira ein com-
panhia do Conde do Carvalhal, os trechos que se seguem: - "...Que privilegiado pais.
Tanta e tanta vez o tenho avistado e é sempre coino iinprevisto para mim o aspecto
dos seus vales, picos, montanhas, córregos, vertentes.
Os cedros já se não precipitain desde o viso dos montes conio em outras eras, inas
pelos atalhos, caminhos de pé - posto, de entre massiços de verdura recaiem as
povoações rurais, as casalitas, as vivendas senlioris... No Funchal ... abria-se o inar-
avillioso - o prodigioso - anfiteatro à luz do sol branda mente coada por iiuvens
ténues e dos algares fuiidos daquelas sessanias erguia-se, de onde eili onde, a nebli-
na, desaparecendo aqui e surgindo além sobre os viços, o que parecia dar aos cimos
das montanhas a ondulação das grandes vagas ... Para descrever as escarpas ein
escalões, as penedias medonhas, que se nos afig~irai-iia desabar por morneiitos nos
abisnios do oceano, ao fajãs verdejantes, a larguidês mórbida dos vales beijados pela
flor da onda ... seria preciso reunir de Moscho a Eschilo e Slialtespeare... Espectáculo
paradisiaco ! Pais privilegiado, não tein no inundo tori-ão, que lhe dê de costo. As
grandes eminências - o Cabo Girão, proinontório mais alto da Europa; o CaiiipanBrio
na tnontanlia; a Senhora do Monte sobre a cidade, e as freclias dos picos cravando-
se no azul denso dum céu, que já 6 africano. Levadas e saltos de água, precipitaiido-
se ein catadupa, brocados pelas aluviões e rotos os montes! Bosque, em que os ramos
da flora europeia abraçam e beijaiii as arvores dos trópicos, embaladas pelas brisas
do mar ! Rosas agrestes festivando os valados, Iáros nos iinpérvios, violetas bravas
mais arolnáticas que as de Parma nos brejos viçosos !...
Tem muito de beleza e de verdade estas palavras transcritas do livro "Meio-Dia"
da autoria de Manuel Carreira: - "...Transcorridos dias, coin lentidão de clepsidra,
dois moiiotonos dias fechados entre mar e céu, duma só cor, ou então indigentes de
cores, quando lobrigamos a Madeira alcaiidorada no Atlântico, senhora linda de ricas
roupagcils, com aquele sorriso que tem todo o inistério duin sorriso feininino, parece-
110s quc caminhamos para um sonho feito de aromas do Oriente, de oiro e azul, com
a aliila eiu festa e trazendo 110s olhos gaias de desluinbrailiento.
A característica da paisagein iiladeireiise é a sua falta de calma Cuina paisagem
febril, que tew ~1n1POUCO de criação dantesca.
E por ser grandiosa, ela dá à ininl~asensibilidade forte emoção e faz dos meus
olhos dois escravos para a servirem ein silêncio, ein adoração toda a vida.
AS paisagens caIinas nTio são inenos belas, mas tiem todas as selisibilidades estão
preparadas para as compreeiider. Correm o risco da monotonia para aqueles que não
educarain sua sensibilidade, não a banharaili de lirisn~o.
A paisagem avassalsidora da Madeira é toda ela voluntariosa. Tein precipícios que
rios cha~naiii,é um pouco cr~iel,tein braços invisíveis que se estendem e nos apertain
contra si. Tudo aquilo nos obriga a pasmar de admiração e com um pouco de pavor."
Aparecem-nos rnuitos outros a~itorizadostesteinunhos acerca das belezas da pais-
age111 ii~adeireiise,que somos forçados omitir, ein virtude da deinasiada extensa0 já
consagrada aos treclios que fica111 transcritos. E para encerrar este artigo leiil-
brareiiios que Camões, referiiido-se à Madeira, diz que ela se avantaja a quantas
vezes ailia; que Spciicer, o grancle escritor e filosofo inglês, lhe cl~ainoua oitava mar-
avilha do iniinclo; que I-Iunlboldt, o celebre sábio e naturalista aleinão, afirina que se
a ilha Phaecia, descrita por Iioiiiero podesse corresponder à realidade seria a
Madeira; que Ilughes lhe deu o nome, que universal~nentese generalizou, de flor do
Oceano tio seu belo poeina
Ocean Flower; que Bacon escreveu uma pequena epopeia, intit~iladaAtlantis
inspirada nas belczas desta ilha; e que finalmente tnuitos a, denoininam Ramallietc
das Aguas, Paraíso terreal, Priinavera Iinortal, Verdadeiro Eden, etc., etc.

[ Fernaiido Aug~istoda Silva, Dicio17d1-inCorogi.á$co do Aqzripélcrgo cio


kíadeiro, Funclial, 1934, pp.227-2371

HUGO ROCHA[1936]

ELOGIO DA MADEIRA

Desta vez o itinerário não foi mais extenso que o da primeira. O Fuiicl~al,o
Terreiro da Luta, o Funclial eis o roteiro singelo da iniillisi segunda visita A ilha da
Madeira. Então, os encaiitos panortimicos do Monte, 150 queridos, por exemplo, dos
estrangeiros que o turisino alrai ali, não n-ie coinovcram ineilos do que os encantos
do Pico dos Barcelos, marcados a vermel110 logo no princípio do catalogo turístico
da illia de Jogo Gonçalves Zarco ...
Po~icosanos depois, rumo ao arquipélago açoriano, a Madeira desluinbrou-ine
pela terceira vez. Na volta dos Açores, o desluinbrainento ii~tensificou-se,E eiltgo,
da quarta vez, a periiianeiicia de duas serranas deu-me azo a fartar os ollios da pais-
ageili da ilha. A Fartá-los'?Ali, nBo. Nunca os fartei, nunca os fartarei. Quanto mais
vejo a Madeira, inais desejo sinto de a ver. Na verdade, quem uma vez oll-iou a illia
iiiaravilhosa iião pode resignar-se a não mais a olhar. Mágico filtro da ela a beber, por
certo, a qliein por ela passa, seja para lá parar, seja para seguir viagein ... Assiin comi-
go.
Quaiido pude ver a ilha da Madeira, para além do Funclial, do Pico dos Barcelos,
do Terreiro da Liita, convenci-me de que ali e também nos Açores estavam as pais-
agens mais belas do inuiido português. Pelo inenos do inundo português, já vasto,
que eu conhecia. Vista do mar, a ilha esplende e encanta. Ninguéin, a não ser que seja
cego, poder8 alliear-se a contemplação eiiibevecida. Desde a Ponta de S. Lourenço i
Ponta do Pargo, passando pela Ponta do Garajau, pelo Cabo Girão, por todo esse
adinirável recorte da extensa costa meridiorial, abundam os iilolivos de beleza. A
beira tuar assciitain as povoações principais; o Fuiichal, cuja paisageii-i só é conl-
parável, talvez, i paisagem da Cidade do Cabo; Cainara de Lobos, Ribeira Brava.
Ponta do Sol, Calheta, tantas outras,; inais pequenas- mais escondidas nas aiifractu-
osidades do litoral, nas enseadas que ornainentain a costa, poiltos mais claros entre o
verde escuro das ribas e o azul escuro das águas. Pelas encostas, disserninados corno
reses tresn~alliadasdum grande rebanho, povoados sem conta mosqueando de gra-
ciosa claridade o sombrio verdor da orografia madeireilse, tão acidentada e tão
irnpressioi.iante.
No hinterland, porém, o terinómetro do desluinbrameiito atinge o supremo grau.
Vá-se para a esquerda, vá-se para a direita, as iiiaravilhas sucedem-se, ail~oi~toain-se,
assombraiido quem procura, em vão, estabeleccr confroi~tos,inedir grandiosidades,
deterininar a superioridacle desta ou daquela. As estradas que saciii do Fiinchal põein
a prova, aos primeiros q~iilómetros,a resistencia da seiisibilidade cio conteinplador.
Ora o mar, ora a serra, ora a riba arroteada, ora a ribeira vulcanica, de expressão dan-
tesca, - de tudo, c o n ~prof~isão,se patenteia aos olhos atóilitos de quein vai.
Santa Cruz, Machico, a Cainaclla, iilais junto ao inar; o Sailto da Serra, a Portcla,
S. Roque do Faial, Santaila, mais juiito da inoiitanha. Não posso escollier, e tião posso
dizer que esta paisagem emociona mais do que aquela, nada rne permite proclainar a
soberaiiia deste ou daquele aspecto. Evidentemente, posso sentir certa preferência
por um conj~intoou por um porineaor que se projecta com mais iiitei-isidade na tela
ampla das ~ninhasrecordações, sempre vivas e seinpre saudosas.
Evocarei, por exeil.iplo, coin particular emoção, o deslumbrainento da visita ao
Santo da Serra, ao belvedere dos Lamaceiros, coin a Penha de Águia e o Porto da
Cruz a ilustrarem grande parte do Norte da ilha, a destacarem-se no fundo maravil-
hosanlente azul do oceano e da atinosfera. E lembrarei, convencido de que i~ho
poderei lembrar paisagens inais assombrosas - direi iuesi-iio: inais forinidaveis - esse
imenso quadro lilápico de S. Roqiie do Faial e de Santana, a povoação inais pitoresca
e a vika inais extraordiiiária de aspecto que até hoje vi, para evocar, apenas de relance,
parte do Leste e do Norte dessa ilha que perfilma e einbeleza o Atlantico e torna iiiais
suave a rota longinq~iada Africa e da Ainerica do Sul.
A ilha da Madeira! Sempre que a evoco, é como se Deus fizesse passar ante os
ineus oll~osum filine maravilhoso que, para o ver bem, preciso de seinicerrar as
pálpebras Eis porque não tento, sequer, esboçar uma descrição do que já vi. Eis
porque prefiro evocai; isto é: dar livre curso i emoção constante das recordações.
[Hugo Rocha, Prit?znvercln~rsIllrm. 1936. in Cabra1 do Xasciinento. Lirgl~re\
Por.ircgitese.s qire Escrrrrrcr»i sohw o i1rqtripdlqc.y dix J í t u j ~ ~ l r t ~ .
Selectos de Airftwe.~
Funchnl. 1939, pp. 243-7J6j

Não se imagina com certeza. perfeitamente, o que são as quintas da hladeira. Elas
sofrem um conceito errado por motivo de idintica designação aplicada no continente
a grandes parcelas de terreno de cultura, Bs quais, com maior acerto. se debe antes
chamar herdade ou fazenda. Pois as famosas quintas da Madeira são parques, grandes
e lindissimos jardins, deslumbrantes de cor e maravilhosos de variedade. No centro
um bangaló de tom claro com interiores confortáveis de luxo e de b«ni gosto e . por
toda a parte, flores cobrindo canteiros largos e acolhedoras arcadas oii entrelaçando-
se na solubra dos caramanchéis, ao canto dos extensos relvados. Canta melancolica-
mente entre os troncos das faias e os bravos dos dragoeiros o melro triste e. dos
cadeirões, no terraço, vê-se o mar mordido nas lonjuras pelas quilhas de barcos que
partem para todos os destinos guardados no mistério azul dos horizontes em Lolta.
Na Quinta da Boa Vista conheci Mrs. G. Nunca \i mais absoluto domínio de ter-
nura de mulher do que quando Mrs. G. se entrega aos cuidados e zelos das suas flu-
res. Ela não as afaga carinhosamente, apenas. Educa-as. Dir-se-ia que as domestica.
Não se limita a mostrar-me o viço e a pureza das pétalas de cores t8o vibrantes e
estranhas. Vai mais longe. Apresenta-me, enlevada e enternecida, os seus exemplares
de begonias manchadas de bronze e prata, como folhas de antigos escudos de com-
bate, e as suas avencas miudinhas e delicadas como os bordados da British
Embroidery, vivendo sem contacto com a terra, sensacionalmente alimentadas si5
com ar e com água.
Depois da visita as estufas parei no relvado a ouvir a música dos vilões gemendo
nas "braguinhas", violas de arame e ferrinhos as melodias desconhecidas e belas que
são a doce expressáo sentimental deste povo, concentrado e ansioso de partir. Vi
dançar-o bailinho gentil das meninas vestidas com o traje gracioso e decorativo da
Madeira. Um rapazola de branco, com a agulha clássica da boina regional e as altas
botas de coiro claro, agitava o "brinquinho" em estndências alegres a frente do grupo
dos tocadores. Em volta era tudo um sorriso de Deus. Ouvia-se, na timidez dum eco.
o sino da Sé e, de vez em quando, cortando a quietação. os vapores, no grito de
arrepios das sirenas. Um ambiente romântico puro, quase iiiverosímil de tonalidade
e de sedução espiritual, envolvia as coisas e as pessoas. As nuvens brincavam na
crista das montanhas e espreguiçava-se em indolencia de meiguice pelos longes.
Viam-se enormes jardins em sucessivos declives e, por todos os lados, vicejava um
verde de cenário próprio para a representação ideal dos autos imaginosos e ingénuos
em louvor da Natureza, a viver a hora triunfal do parto milagroso da Primavera.
Pensei então que neste clima da Madeira, entre a terra quente e sensual e o céu azul
e perfumado, podem, efectivamente, nascer- no ar- as flores mais lindas e inéditas
para a nossa visão. Basta apenas que, de meses em meses, quando as cepas e as par-
reiras em toldo empalidecem, perdendo hannonia neste conjunto quase irreal de ver-
dura fresca, o inurinúrio einbalador das levadas continue o prodígio de renovação
fazendo crescer, por baixo das folhas inúteis, desenvolvendo-se e trepando, os
arabescos dos feijoeiros, a rama baixinha das batatas doces, a cabeleira cui-ta da relva
para aproveitamento. E dos altos montes e dos vales profundos do interior escorre
sempre. a seiva que é o Iiunlor nutritivo deste paraíso, canção maternal a modelar, em
ternura, a beleza e o encanto da "minha" ilha autêntico pais de nainorados.

[Luis Teixeira, "Minha Ilha da Madeira", Diário de Notícici.~de Lisboa, 1938, in


Cabral do Nascimento, Lugares Selectos de Autores Portzlgueses que Escreveranl
sobre o Arquipélago da Madeira, Funchal, 1959, pp.228-23 I ]

HENRIQUE CARLOS DA MATA GALVÃO 119411

-Que maravillia !
O navio cortava então as aguas limpas, por vezes quase acetinadas. A ilha, de todo
esclarecida, mostrava-se já, desde a linha nítida das cuineadas, vigorosainente desen-
hada no céu, até as penumbras dos vales, como uina fotografia ainda húmida, acaba-
da de revelar.
Como se a terra estivesse coberta por uin tapete fantistico, ressaltavain cores
duma variedade infinita? abertas para um sol puríssimo que escorria doidainente por
todas as quebradas, coin alegria comunicativa.
Dir-se-ia que toda a ilha estava ein festa.
Adivinhavanl-se flores e as próprias casas inuito brancas, coin os seus teliiados
vermelhos, pareciam pétalas dispersas a esmo sobre o tapete vede.
Não se define bem esta impressão instantânea de alegria que a Madeira nos dá. E
urna alegria, por assiin dizer, feita de todas as alegrias: a alegria interior do êxtase e
a alegria movimentada da festa; a alegria do bulicio e certas alegrias qtie sc gozam
em conteinplação.
Assim, de longe, não se adivinha nela a terra dos traballios e canseiras, onde uma
população excessiva suga o sangue do corpo para colher no solo o pão de cada dia.
Antes parece uma estância prodigiosa de turisino, em que a natureza e o liornem, de
inãos dadas, i160 deixaram lomba de monte ou caireiro de vale sem beleza e sein con-
forto.
Pela encosta, mal esta se liberta dos precipícios altaneiros que se ergue111 a prumo
sobre o mar, trepam centenas, milhares de casitas alegres, n u n ~milagre de povoa-
mento, de luz e de cor.
No alto, ein regiões do céu, copas de arvores inuito juntas, frisadas, vão descer.
Sente-se cá de longe, da arnurada, o prodigio que deve ser esta paisagen-i vista de
cada curva do terreno, do alto de cada outeiro, do inirante de cada inonte.
Depois, ein iguas mais transparentes, num ponto que todas as casas da ilha pare-
cem deinandas, surge o Fuiicl~al,doce presépio desta romagem dos Oceanos, uma
grande cidade europeia em ar de jardim, uin grande bordado in~ilticor,garrido, inovi-
mentado e alegre.
Tantas vezes tenho passado nestes caminhos e sempre me comovi como na vez
primeira.
- E ainda lioje não coinpreendo que havendo já em Portugal tanta gente que viaja
por prazer, haja tantos ingleses que vão ti Madeira e tão poucos porhigueses que a
coillieçain.

[Hemique Carlos da Mata Galvão, Otltras Tei'ras ozlfrns Gentes, vol. I , 1941, in
Cabra1 do Nascimento, Lugares Selectos de Azltai.es Poi.tlig~iesesque Escrevernm
sobre o Arqz~ipelngoda Madeira, Funchal, 1959, pp. 194-1961

EDMUNDO TAVARES [I9481

QUADROS, PRESÉPIOS E LAPINI-IAS

A Ilha da Madeira, indisc~~tivel inaravilha da natureza pela sua incrível formosura,


pelo pitoresco extraordiiibrio da sua paisagein, pela graça dos seus costtimes, e pelos
primores das suas flores perfumadas e dos seus fiutos saborosos, é um imenso rincão
de inagia e de sonho, verdadeiro Éden ou Paraíso Tessestre que encanta, embriaga e
eiitolitece o visitante.
Ao aclinirar pormeiiorizadamente esta linda terra, fica-se toiiiado de emoção e
assoil-ibro. A graiideza do espectitculo eiiipolga-nos inteiraincnte. Os horizontes sur-
preendem-nos e doininam-lios a alma e os sentidos.
Desde os vagos e distantes planos, até aos trechos próximos e motivos parciais, os
traços de beleza rnultiplicain-se nuina riqueza estupenda e indescriptível. As grandes
linhas gerais sucedem-se num ritmo de grandiosidade e imponência. As manchas
polícroinas e d e forrna variada salpicarn todo o vasto ninbito, e tornam-no numa
grande e rica paleta de piiitor. Os Lrecl~osimprevistos impõein-se por toda a parte. Os
poriizenores característicos e graciosos abundam e gritam em uníssono um coro tri-
unfal d e vida, de caricter e expressiio.
De relevo inuito acidentado, de claro-escuro violento, e de cor forte e riquíssiina,
a illia da Madeira desdobra-se em ii-ifini~oshorizontes, ein matizes empolgantes, em
efeitos estraiihos, e em panoramas parciais de ní~ineroilimitado.
Cotitudo, iiiio é propiiainente a altura, a realidade da cota de nível ein que nos
eilconirainos, e as altit~idesdos pontos que se visluiiibram ein volta, que nos causain
aqui o seiitiineiilo aclinirativo, inas siiu os grandiosos contrastes que caracterizain
esta paisagein de gigantes na brusquidão, st rudeza verificada na escala de altitudes,
a vnriaçLo d e cotas existentes entre os pí~icarose os fundões, entre o cimo das agul-
has e pcnhas e a linha plana das hguas, que nos surpreendem. E o contraste teatral da
cor entre a iiegridão das serranias req~~eiinadas pelo sol, c a alvura azulada do inar, a
diferença de cambiantes entre os verdes da vegetação e as cliapadas amarelas dos
poiltos firiclos, a gradaçgo da luz entre a peniinlbra misteriosa dos vales e a auréola
apoteótica da claridade do céu, que nos desconcertaili, amesquiiiham e assoilibram.
Ein qualquer outra terra há harmonia, evolução gradual de região para região.
Aqui lia desordem, acaso, paisagem de cataclismo. Uin trecho idílico, uin recanto
virgiliano desdobra-se ao lado de uni colossal monstro de lava petrificada. O girinen
da criação está ao pé da morte, a fina penugem verde de uina vegetação exuberante
cobre a carcassa das serras desve~itradas,as plantas revestem as encostas, a vida fez
brotar a água, nascer as florinhas, criar as giestas e crescer os pinheiros. Mas o driiriia
lá está bem patente num cenário expressivo de luta de eleinetitos, em que sobressaem
o belo, o gigantesco e horrível.
Nesta privilegiada terra, todos os motivos iiiteressain, todos os recantos são típi-
cos, todos os aspectos são ciiriosos, todos os trechos sr70 q~iadros,e todos os quadros
são maravilhas.
Feliz conjiinto de terra e mar, a ilha da Madeira é uina terra de contrastes violen-
tos, pois reune em pouco espaço os mais assoinbrosos, e encantadores inotivos nat-
urais que se podei11 iinaginar. A serra e o inar acham-se juntos, ineteili-se um pelo
outro, colaborain na inesma obra de beleza trágica, dando consequenteii~entelugar a
uma variedade incrível de pontos de vista e cle ceiiários naturais.
A serra é Corte, brava, angulosa, maciça, cheia de mainelões, de precipícios, de
ravinas e de covões. As suas cores fundem-se ein tonalidades e cainbiaiites irreais, e
parecem a distância ~1111einbutido de esiiialtes, de ii~adrepérolas,e de pcdrarias pre-
ciosas.
O iiiar é aiiieno, tépido, transparente, ao pé; azul profundo, ao longe, e envolve
graciosamente esta paisagem alpestre e grandiosa, coiii vários colares de espliina
branca.
As povoações parecem presépios atulhados de casirilias brancas e de cores, recor-
tados de caminlios íngremes e ruas enladeiradas, ornados de ingénuas igrejas, de tor-
res altivas, de pontes ousadas, e de graciosos e singelos terreiros e iniradouros; as
fazendas são frescas, fecundas e paradisiacas; os pomares, ricos e perfuinados; os
hortedos, fartos viveiros de miinos e especialidades.
Ein parte alguma há jardins tão interessantes coino na Madeira. A Cragriiicia das
flores inais variadas e raras, os maciços espessos e eii~aranliadosdos arbustos e
ai-voredos, as sombras frescas e arroxeadas, as cliapadas de sol de oiro e alaranjado,
as ruelas calcetadas de seixo à iiioda local, os larguitos e pracetas de terra vermelha,
o colorido extraordiiiai-iainente iiitenso e variegado, e a exuberancia pasinosa de
ludo, estoilteiam c levam ao sonho e ao lazcr.
Os parques e bosques froridosos ostentam as inais lindas e irreais tonalidades nas
suas folhagens, possuem retiros ensoinbreados, eiica~itadoresmirantes de poesia
sobre o mar, socalcos e esplailadas sobre os terrenos inais baixos, fresq~iidão,água,
nascentes abundantes, fontes naturais, e aroinas eiiibriagantes.
O clima, iiidiscutivelinente um dos rnelhores do iniindo, complcta o Corinidável
co~ijuntode encaiitos deste paraíso. O ar leve, muito puro, doseado dos inais finos
elementos para a saiide, enche ainplameiite os puliilões, espallia u n ~bein estar
iiidefinível no corpo, e uina paz perfeita na aliiia.
Na serra há odores iinponderáveis. Há malmequeres de vkrias cores, flores sil-
vestres perftiinadas, ar vjvificante de cainpo sadio, e u111 vago clieiro a cera e a mel.
No inar, o ii~arull~ardas ondas junto das rochas e dos calliaus, Icvanta a iiiaresia,
toriia o ar afrodisiaco, um tudo-nada espevitante, tempera-o com o iodo, e torna-o
se a 'sa1e.z stauaj a solauiqu! SOB 'po1!1 nas op souez!q sauo3ar soe SE^& '83
-g~i2oaâ0~5e~nZyuos Ens ep a 'salueiiqeq ap e!suepunqeladns ep +aru 'm?ssv
.sope~!a~o~de aiuaure3~els!ew 05s souauai so anb ma sol
-uod sop urn aiuauia~uanbasuo:,a iro!sur oy5e1ndod ap apep!suap a apuo sasan%ni
-lod soiue3a1 SOP urn uraqurq el!apepq ep eyp e 's!an~au w a l a q mp U ? j v
.oso.~odena o a ~ y a *ouqyp
s 1-93urn a 'oqeqoa ap l e u wn 'mg lod a 'so.t!ao%tup a
se!1!1 L ~ ~ p ~ e l e s ~ c *ap
i e eues
s n j eap a siyaueueq ap sodure3 'wu!nbolreur sm!aq!aqel
ap sodnra' 'seiwq srrryaj!d ap sanbua~'sa]ua@p~a~ a sepez!ieui saiualrah 's~u&u;
scpedeqs 'selle souas 'spau! a s ! m 'sop!leqsa sa%uoi 'somol3!~od a sopszpuaui
- ~ o daluaurauoj soucld solraurud 'sopuoloa sapared 'saplah s!?ssrida~'razard ap sese3
.sep!io~s e l a u a ~ ~ s o s o ! ss?u!ureqD
e~~ 'sopeylai alqos sopeqlai 'saiuour solad samaBul
soqurures 'lew-el!aq e scue~dsepusa 'olle ou selades 'opunj ou ?I m f d !
-scJaqos sessou se alqos su!p~ef's?d sossou e sanbmd a~durasa s - u r a a ~.s!an!ssasuu!
uiasaled anb sailo o y 'sel~es!cw sese5 alduras as-waSA .souieliuo~uasou anb ma
lai!u o anb op sex!eq s!eur wses a~durasas-wa?.z 'aqio as anb opel lanbpnb eired
*st?umlorndso e p a u i
-curo anb opuoloa alade1 urn 'ur!plef epe3 .afiuol ap eureq3 sou anb ur!pn[ uIn 'ep
- u a n j e p e j .ruaã~s!edcp seis! i sou 'ourrope ouros e~.~eur anb msunlos a u n 'loparroa
npe.3 .sosleq sop spc81c1 c a cpc3ay~e 'wa3essed e ?.Aas apuop ' a ~ u a u ~ u ~ aop o~d
-eueldsa eurn a loiu!nb Epej .soueuas saiuoz!loq so emd a sow!i!reur saiuozuoq so
cled cpel! 2 od~ualoursaur ne 'cso!sn~8 o!ã! z ewn ese3 epe3 .aued e epol ap O J S ~
u13ure1 aiib a L ~ o pUIJ a ~?h opnl anb aiueJ!w urn *el!apaw au oiuod epe3 'ur!ssv
-sepcJisa selino a soyu!wes soimo 'sem seiino alqos 'su!plef soqno aJqos 'smes
selino sep sopeqlai so xqos '5oyu!z! i sop so!u!urop so a;rqos ope3mqap opgehiasqo
urri a~duias? 'Jeur o eazd a mia1 e eled ope1lo.z ornoperrur urn alduras a 'epmsa
ni7 oqu!uie3 'em 'auoi 'opeqlai 'ossequad epes 'ur!piec epzs 'ws ~ p e 3'ur!ssv
.souas se wa?z as aucd ianb~onbap oreur o a i as a p e ~ianblenb a a .som
-elrqeq anb se se^ scp sopeqlas so a ~ q o no s -ser5aqes sessou se aJqos reqesap m3eaure
anb a 'sou ap our!sc wcsy anb smsosua ap sepeuessap sedressa a s - m e ~ a s q o
-aqlo as anb uia ocba~!pe 104 ~ c n he&s saurc~ouedsosualxa as-ureu!uossaa
.~opadnsouqd ura u e s g sayl anb seual m l n o
a selem sellno 'scyleJnur selino 'svpuazq ap sos~csossoiino 'soses sellno 'seyso~
s ~ l i n o.uia~!li~c saisa~dse7alcvoj owos .sc~opeSaawe'ur?qurel wa?A as ouros ui!sse
bsopuiyo~d zor!aq!l sop omnf no 'salc i sop opunj oe opoflaysuose o!leses no saaui
.sepuaiíq 'soqems 'reqwl aldmas as-uia?~~cSrilranblcnb a a 'so~les!em m s y
a91 ouriii nas ~ o danb .so~lnolod opeu!wop a 'so~!eqs!ew wo3y aql anb s o p l ! ~
-121 SOP 9uad apuei8 a~duraseu!wnp oiuod epas .anb IEI a eql! ep ege~8orov
'es!un a akueaiuolça t7nuisueil curnu rur?s!qd!ilnur a uiapasns as slenb so 'lan!pa:,
-wur ols! ia~dw!ap soiaadsr! !nssod ol!spcjy e 'eyl! e ! l d ~ dnp oluod ~anblenbap a
.lt)uawod tua 'ou.xi ,3p CpeuaSqO e5. ~ a n 'Jeur b op a c!sueis!p e eis!.\ e-s ~ a n ò
.o@~e:, cwii a oquns wn ouro;, auosap
:, xlalap rui1 .I cpr I c apuu 'qsand a ornesua ap ol!ial oJ!apcplai wn qapety
v -r)risa,icli ~ uuprp~adoc!z.~cd o b ~ ~ oilc l c i ap e!{$ IJ~.UI!IWU! rmn 'utap.10 e BPOJ
a[' sog.4~-qap n scpua~dap r?!ayn cuai e u n 'eru!ss!sniu.q eyl! erun cJ!apcly v
'ocoi!iadc 3 opefiles aiuauie~!a8!1
dades, ein mil quadros de uma grandeza esmagadora e iinpressionante. E, em êxtase
e recolhiinento, adinirai a grandiosidade da natureza, a imensidade das sen-as, a
vastidão do mar, e a força e eternidade da matéria e do espírito diviiio do mundo.
Deitai pelas estradas fora em direcção as serranias interiores. S~ibipelas ladeiras
íngremes até ao Monte, ao Terreiro da Luta, ao Poiso, e descei em seguida a rcgião
ravinosa do Ribeiro Frio, onde uma vegetação exiiberante, fai-tas sornbras, e uma
fresquidão de mistério vos esperani, para vos encantarem, seduzirem, e embalarem
em sonhos vergilianos.
Deixai depois a pousada local com os turistas abancados as mesas. Esquecei os
olores dos manjares regionais, o tilintar dos copos e talheres, o vozear alegre, e as
risadas femininas. E ide até aos Balcões. Trilhai o carreiro macio, fofo de relva,
ladeado de água, e guarnecido de hortênsias, que vos coiiduz a esse lugar famoso,
pois um espectáculo desluii~braiiteespera-vos, - urn destes espectáculos que só a
natureza pode proporcionar, e ein que os protagonistas são as serras, os rios, o céu, o
mar e as nuvens.
O panorama é de grandeza e proporções excepcionais. Diante de vós, sob o piso
do balcão proeinineiite em que tendes os pés, rasga-se unia ravina de profundidade
iiiconcebível, ein C L ~ Oleito contorcido, pejado de pedras e cavado de socalcos e
cacl~oeiras,corre iim ribeiro frio, bravo e caudaloso.
Grandes linhas angulosas, rochedos nus, portelas e desfiladeiros, tudo parece
instável, desapruinado, pi-estes a desabar no abismo e a perder-se no fundo vago e
distante da ravina.
Uns farrapos de litivens ténues e soltas toldam parte das sei-ras fronteiras, o que
torna o espectácrilo, ainda niais inesperado, estupendo e belo.
No frindo, as foriilas são imprecisas. Mal se lobrigam as rugosidades do terreno,
as largas superfícies negras dos rochedos de basalto, e as chapadas de tufa vermelha
e vulcânica que foniiam a base desgastada das enorines peillias que nos assoinbram
e esinagain.
Catnirihos perigosos descem ern zigue-zagues, em degraus e rampas vertigiiiosas
até ao plano inferior, para depois novalilente se embrenharein em lrajectos idênticos,
esfalfantes, e escorregadios, e sumirem-se no labirinto serrano que se avista na
frelitc.
Divisam-se alguns pormenores isolados, tais como penedos fazeridas, bosques
dispersos, e f ~ ~ i i d ocinzentos
s do ziinbros e loureiros.
A alguns centenarcs de metros niais aciiiia, estão as iiLivens. niovediças e lentas,
tal como se fosseiii cortinas de fumo branco, impelidas por brisa suave. Neste nível
tudo é nevoeilto, arrepiante dc desconforto e frio. Mas mais alto ainda, em cota supe-
rior a esta faclia de penumbra e huinidade, a romper as nuvens, eis os píncaros
acíileos da cordillieira, as agullias intangíveis dos rochedos, e as fragas espantosas
das cuiniadas, a sobressaírein viioriosamente, tal coiiio torreões de castelos gigantes
ou rnurallias de fortalezas imaginarias que palrasseiu nas regiões etéreas.
Então, perante uin quadro de tais proporções, diante dos cutnes das serranias a
espreitarem a alturas prodigiosas e por sobre as nuvens, em face da nitidez dura dos
coiltoriios, da lutninosidade extraordinária do céu límpido, e da irradiação do sol
quente, belo e glorioso que enche todo o espaço de reflexos de oiro, o espectador
infindáveis e criadoras encostas em que se desdobra o território vulcânico. rugoso e
acidentado da Ilha, os sinais de vida vislumbram-se por toda a parte, numa estra-
ordinária variedade de circunstâncias, impossível de imaginar.
Existem vilas, aldeias, quintas e casais, em todos os lugares desta terra. Desde a
beira-mar até aos cumes formados pela lombada das serranias que constituem a
cordilheira principal, que se desenvolve no sentido Este- Oeste, a qual define em
duas grandes vertentes, a fisionomia orográfica e estrutural da Madeira, a vertente
Sul e a vertente Norte, as povoações sucedem-se numa profusão admirável. osten-
tando-se maiores ou menores, mais ou menos belas e típicas, mais ou menos ricas e
populosas, mais ou menos alpestres, camponesas ou marítimas, segundo as suas
condições de vida e a sua situação.
Algumas povoações anichain-se em recôncavos sombrios, e vales profundos e
estreitos, não sendo visíveis senão de muito perto. Outras dispersam-se pelas cha-
padas soalheiras das encostas, vendo-se perfeitamente a distância, com as suas car-
acterísticas igrejas a destacarem-se por entre os apinhados de casas e arvoredos.
Outras, ainda, espreguiçam-se a beira-mar, em vales ou encostas que descem até
junto dele, ou em fajãs recentes, situadas na base de ribas altíssimas.
Nestas condições, o homem habita desde a orla marítima, extremamente populosa
e cheia de recursos de vida, até aos pontos mais inacessíveis situados nas altas serra-
nias interiores, e que, falsamente, a primeira vista e de longe, parecem lugares
estéreis, inóspitos e adversos a vida.
Como complemento desta abundância extraordinária de povoações e de gente que
vive por toda a parte, vêem-se largas manchas de vegetação, riscas de estradas, cur-
vas que aparecem, para em seguida se esconderem, fontes pitorescas, levadas abun-
dantes, miradouros, caminhos bordados de opulentas flores, veredas tortuosas e
íngremes, e escadozes perigosos lavrados nas rochas.
E todas estas povoações, caminhos, fontes e matas, são verdadeiros quadros,
encantados presépios ou ingénuas lapinhas.
(...I

PAISAGENS DE TITÃS: OS BALCÕES DO RIBEIRO FRIO

Conheceis o Ribeiro Frio e os seus balcões de maravilha? Conheceis este lugar


admirável situado a meio da Ilha?
Vinde até ao Funchal. Vinde ate As terras portuguesíssimas da Madeira, onde há
mais sentido nacional e mais lusitanismo, do que em grande número de terras do
Continente.
Vinde até 6 sagrada terra onde há mil recordações da época gloriosa da expansão
racial e civilizadora dos portugueses. Vinde até estas paragens admiráveis do
Atlântico, onde as gentes descendem directamente dos inareantes e navegadores do
tempo das descobertas promovidas pela Escola de Sagres. Vinde até a terra onde
vereis caras, tipos e expressões, que vos lembrarão as figuras pintadas nas tábuas de
Nuno Gonçalves, e os decididos e bravos homens do Infante.
Vinde até esta privilegiada terra que se desentranha perante vós, em mil curiosi-
esinagado, inquieto e confiiiidido, sente-se Trágil, teiii a sensaç5o de se acliar deslo-
cado c111 meio de uiiia paisageiii de tilãs, reiide glória ao Criador, e conlèssa-se
pequeno, inisero e ef6mero.
[Edin~iiidoTavares, Terr-aA f l o ~ ~ t i cIi~?prc~,~sõe,s
~r- ~ ~ L I L J L L ~Lisboa,
~ L ~ , 1948,
pp.2 1-28, 79-83]

J. VlEIRA NATIVIDADE 119541

Que géiiese laboriosa, a desta illia de florestas c de briiiiia! Nada rliie leinbre ri
mitolOgico iiascimeiito de Aliodite quando ciiiergi~idocemente clo seio (Ias iiglias,
cobcr~apor alvo iiianto de esl~uinaque Ilic oculta a virgiiinl ii~idcz.A Madeira C obra
de ciclopcs, do deseiicadear bnital clc Iòrças eiiraiveciclas c iiisubmissas, produto de
treineiidas coiivulsões submarinas, do pavoroso conllito do liigo coiii a iglia.
Reinoiit~aiiia loiigíi~q~ias idades geológicas as giaiicles coiivulsõcs geticiiiBticas que
faze111 erguer das proS~indidadcsabissais Liiiia eiiorine iiiontaiilia, sobre c~ijosplaiial-
tos Lima outra inoiitanl-iase Icvantoii, erguendo seus altos picos cinco mil iiictros acima
dos IUiicIos subiiiarinos.
E durante milharcs de milénios esta pobre illi:~pcitlida iio mar 6 jog~ieledcssas
forças brutais q ~ i cii iiiodelaiii e traiislòrmaiii. A cLisla tlc levaiilí~mciilose de erupções
vulciiiicas cresce c coiisolicla-se o dorso iiionianlioso: & o priinciro c iní'orine esboço
do corpo tla ilha, trnballio gigantesco depois do qual se acalma a 1Uriii criadora. Mas
o íògo iiilo se extinguiu no ventre da moiitanlia c irroiiipc mais Larcle ciii Ii~cosvul-
câiiicos pcrifericas. De ilovo eslrcmece e se agita ii iiioiitaiili:i mártir, iiavas torrentes
de lava iiicandesceiite se despeiiliaiii no oceano que rcl'crvc raivoso cin cíicliõcs, sob
col~iiiasalterosas clc vsipoi; como se o próprio Vulçaiio, lia suíi gigaiilcsc:~fúria, Leiii-
perassc o coipo candente da ilha iia iiiiensa ccllia do iiiai:
Misteriosaiiientc liildaiaii-i uiii dia, coiiio iiiislcriosaiiiciite Iiaviriin coiiieçiiclo, as
convulsões submariiias e a rictiviclade vulcânica; cxtiiig~ic-se,pouco a pouco, o rogo
ii-iteriio, e a ilha trsiiislòrma-se nLiiii corpo fiio e inerte, enoriiic c lorturntlo esq~iclcto
rochoso, inancliaclo clc escórias c de ciii~as,ctiiitra o cl~iril ns oiicl~isiaivosaiiiciitc
einbatciii.
Triiitifara ri obra ciclópica do Iògo; porém, esse rocliedo E ~ i i i icoipo cslraiilio n:i
iiiiei-isa s~iperficieliquida, Lima inacula, uiii estorvo ao livrc orl'íir (Ias oiitlas. ri clicgou
cntiío a vez de a @ia teiililr tlcstruir o que o Iògo coiislr~iira.Dcsabaii~com rragor as
Ihlésisis corroídas na base pela abras8o; cliuvas diluviaiiíis Iòrmaiii L»rrciilcs tle 17rutal
violência e, cciiiio gigaiztesca garra, a erossio abre valcs c dcslil:iclcii.cis, provocri
tciiicrosos dcsabaiiieiilos, morde, clilaccra, iiiiilila a iiiontanli:~c ari'asla vil»riosaineiilc
para o inar os clcspo.jos cla Iiita titânica.
Piedosamciite, a vida vegetal surgiu ~iinditi ;i rcvcslir aclliclti iiiicicz, a opor unia
barreira viva A catastrófica clestniição. Dc sorEdios viiitlos de loiigc brota o Iícl~iciicliic
Iàbrica as priii~eiraspartículas clc solo vegccal; colaboríiiii coiii n plaiiln os íigciilcs
meteóricos iin dccomposiçiio cla roclia; trazcin as rivcs c as corrciilcs occâiiicas, ciii
~>icrlosaromagcm, as priineiras seiiieiitcs. Pouco a pouco, LIIIIii~aiilot6ii~ictlc vcrclu-
rn esconde as chagas da ilha clesi-iucla. E cluraiile iiiilhõcs dc anos s evoliiçiio
prossegui~iate que a floresta se pidc erguer. opuienta e magnifica: e durante mllharr-,
de milknioi kicejou esplendora~a,enwlb ida pelo seu manto de bruma.
Um dia chegou. por6m. cm que n barca da akentur~iacometeu aquele grlindc
negrume que a oculta\ a, e logo a acha incendiária flarncjou sinistmniente para cleitru-
ir em breve espaqci de tempo a floresta prtdigiosa que le~arainilinioz +em fim a o i n -
stituir-se. Em boa Lerdade, a ilha da Madeira deixou de ser a ilha da5 tlorestris no dia
em que Zargo e Tristão lançarani o primeiro e cobiçusti crlhar para os troncos dei,
arvoredos preciosos e para o solo fecundo em que a floresta kicejara.
Para mim, na fsionomia da &.ladeira.ficou sempre gra~adaa iua origem dolorow
e trágica, e talvez por isso i a Madeira agreste e sel.roia. a Xladeira da bruma e dn,
alcantilados cerras, rude, austera e triste. a %ladeiraque eu melhor sinto e compreen-
do porque só ai podemos entreker quanto trabalho e quanto sofrimento. quanto
esforço home que despender, e qliantas fadigas houke que suportar o homem, pura
domar os elementos insubmissos, para tomar a ilha liinguida. ho5pitaleira. amiga. r
para conseguir que brotassem da rocha os frutos e as flores. a riyuera e a ahund5nci;i.
(...I
Esta é a Madeira estática, cenográfica. sorridenteniente hospitaleira: a ilha mun-
dana que se esforça por atrair e catikar os I iajantes. Náo e para admirar. por isso, que
as singularidades da flora, o exotismo dos fmtos. a magnificencia da paisagem. os
milagres da água. o ambiente edénico apenas deem ao turista uma impressão epider-
mica da ilha.
Ora a Madeira é melhor do que tudo isto: a epopeia do trabalho, a glorificaçáo do
esforço humano. Tiio presente está por toda a parte a influrncia do homem, o fruto
magnífico da sua labuta heróica, o rude afago das suas mãos calosas e ispras, que a
paisagem, por assim dizer, se embebeu dessa preçenya e se humanizou. Por qite nãu
admitir que a Madeira tenha uma alma e tenha um coração '? Uin coração em que se
fundiram os coraçães de todos aqueles que durante cinco sEculos por amor dela
lutaram e sofreram; uma alma em que se fundiram as almas de justos e de pecadores,
e nobres e de vilões, de escravos e de homens livres de todos aqueles que no decorrer
de meio mjlénio, ou com o esforço rude dos seus braços. ou com a sua inteligência. a
sua coragem, a sua f6, e irmanados por um amor seni fim a este palmo de terra,
escreveram a mais bela epopeia agdcola de que se pode orgulhar um pok o.
A Madeira que nos comove e nos deslumbra é a Bfadein heróica, campo de luta do
homem contra as favas hostis da Natureza: e para a sentirmos. e para a comprcen-
dermos, não vejamos a Ilha do fim para a principio. do sul para o norte, como é cos-
tume, mas do principio para o fim. Antes do diamante lapidado. apreciemos a matéria
bruta que consentiu tal prodigio e debrucemo-nos sobre o titâ que realizou tal milagre.
(..-I
Neste cenário apoealíptico tudo é negro, frio, brumoso e triste. Contra as grandes
escapas Mlticas, como infatigá\el anete, teimosamente e raivosamente arremetem
as ondas, e a orla branca da sua espuma mais faz atultar o sinistro negnime da grande
mole rochosa. Nas cumeadas das serranias, quando a bmma se descerra, entre\ êem-
se as manchas sombrias da floresta primitiva: arvoredos estranlios, terde-negros.
cujas foihas jamais amarelecem ao desmaiar do Outono. ou tombam açoutadas pelas
ventanias do Inverno. Dos apertados \ales de erosão, abertos na escava, irrompe a
água ein torrentes tumultuosas, como que fugida ao contacto grosseiro e agressivo dos
rochedos e ansiosa por regressar ao mar natal.
Rochas e água, o eteilio conflito do estático com o dinâmico que tragicamente se
reflecte na orografia da ilha. A água paciente, ágil, perversa, desgasta e coi~óio
esqueleto rocIioso, hirto, impassível, severo. Coino há milhares de séculos atrás, a
água móvel parece einpenliacla em aniquilar a iiiontanlia inerte. E a abras"ao a corroer
as falésias e a provocar os grandes desabarneiitos; é ainda a própria água do mar que,
sob a ioinia de nuvem, vai coiidensar-se nas cumeadas das serranias para correr,
depois, tiimultuosa e devastadora pelas ribeiras. Na costa noite, dis-se-ia que se reno-
vam a nossos olhos todos os atormeiitados passos da longa história da illia.
O milagre dos iiiadeirenses foi harmonizar esses elementos hostis, tarefa ciclópica
que data de há quiiilientos anos, e que hoje prossegue coin a mesma coragem e o
inesmo ardor.
A orografia insular, até na própria vertente sul a inais favorivel aos cultivos agri-
colas, claramente mostra que, depois de destruida a floresta natural, só era possível
conservar OLI recuperar o solo pela construção de inuros de suporte que preildessein as
terras, e de praticar o regadio doininando a água que corria torrencialnierite pelas
ribeiras, ou brotava, inútil, nas cuineadas das serranias. Para tanto, havia que lutar com
a roclia e que vencer as torreiites.
E o homem, o pigmeu, atacou a niontanlia. Durante séculos niío cessou o trabalho
lude da picareta e da alavanca, e à custa de vidas, de suor e de sangue talliaram-se na
roclia as gigantescas escadarias, sein que o alcaiitilado das escarpas, a fundura clos
despenliadeiros ou a vertigem dos abismos detivessem os passos do titã. Moiiuiiiei~to
este único no inundo, porque janiais em parte alguma, com tão grande aiiiplitude,
tanto esforço hurnano foi einpregado na conquista da terra.
E o madeirense venceu a água o que era toi~enteperigosa e rebelde, força agressi-
va e clestruidora, sujeitou-se à vontade do liornem. E a igua corre agora doceii~eiite
pelas levadas; o estrépito das torrentes tratisforinou-se em brando muriiií~rio,e111terna
inelopeia de inofensivo e reinansoso regato; e a água impulsiva que desgastava a
roclia e sulcava a ill-iade prof~~iidos
vales fecundou a terra e permitiu o milagre da veg-
etaçfio luxuriante e os prodígios da sua agricult~ira.Pouco a pouco, aqui e ali, as flo-
res surgira111neste cenário grandioso, timidaii~entese eiilreabrirain, e por fim triunfal-
mente desabrocharam a coroar, como uma bênção, a obra portentosa dos obscuros
heróis.
(...I
E o vilão ataca e tritura a roclia para a transforinar em solo agrícola; geme sob o
peso de eiioriiies pedras para coi~struiruin socalco; inarinlia pclas falésias para con-
quistar UIII palino de terra, iiiescluinha gleba, pouco iiiaior por vezes do que uin nirilio
de iguias alcandorado no pendor de unia fraga. Antes de ser agricultor, é cabouqueiro
e arquilecto. Labuta de sol a sol e traiisfornia o seu horto, a sua courela, iiuiii jardiiii.
Onde a água corre, o agricultor heróico e operoso faz milagres; a levada ciiipurra-o e
ele empurra a levada. Novos poios se sobrepõein a outros poios, e assim esse trabal-
hador Iiuinilde, al6i.i~de transportar sobre os oinbros o peso da sua cruz, constrói nos
degraus da iiiontanlia o seu próprio calvário, É a Madeira sobrepovoada que lulsi.
Este vilão madeirelise, de torso liercúleo, iniscara rude e austera, perso~~ificação da
paisagem, figura de painel quinhentista; O homem que cinzela montanhas, escala abiç-
lllos e ainama tol~entes,é Uma figura estranha. Não se deixou vencer pelas seduCões
traiçoeiras do cliilla deita antessala dos trópicos que despertam em nós, lusíadas indo-
lentes, mnhadores e sensuais, O horror ao esforço paciente e metódico, A meus olhos,
0 vilão é porl~lguêsque teve a coragem de partir a guitarra, aquela guitarra que
todos nós trazemos na alina e no coração a consolar-nos, com seus acordes de plan-
gente fatalismo, dos deseiicantos e dos fracassos da vida.
A luta com a Natureza rebeldc fortaleceii-lhe o ânimo suportou durante séculos
iiifortíinios e iniquidades, fomes e inj~~stiças, sem que se alterasse a sua bondade
ingénita. Não venceu a rocha apenas com a picareta e a força dos seus músculos, senão
com a férrea tempera a sua indómita coragern.
Dir-se-ia que uma força espiritual poderosa o guia e ampara o amor da sua ilha, que
nele palpita seinpre vivo, exaltado, ardente.
E~iligranteein longínquos países, luta, sofre, tem renúncias heróicas, arrosta
provações e misérias para realizar o mais ardente sonho da sua vida: regressar h ilha,
adquirir a peso de oiro utiia parcela mesquinha daquele solo "ingrato e generoso" e
fazê-lo frutificar am?rosainente com os seus desvelos e o seu suor, os seus cuidados
e as suas caiiseiras. E a conquista da Madeira pelo agricultor, que assim acrescenta a
esta epopeia riistica uin novo cântico
Para coi~ipreeiidere para ainar a Madeira não basta, pois, debruçarmo-nos mar-
avilliados, coino poetas, perante a inexprimível e aliciante beleza desta ilha mitológi-
ca: rochedo de Ciclopes perdido na glauca e ondeante campina de Anfítrite, e em cujas
serranias teiiebrosas Flora e Pomona fizeram brotar o horto mimoso e florido, que
amorosaineiite granjeiam, c0111 suas niãos peregrinas, sob o afago tépido de uma per-
pét~iaPrimavera.
Para coiiipreender e para ainar a Madeira, não basta vivemos, como artistas, o
desluii~brameiitodeste iiiui~dode beleza; admirarinos a ilha acolhedora, florida, gen-
til, nos seus jardins inagnificentes, na euforia das flores, na sedução e no milagre da
paisage~n. Não basta que nos detenl~ainos, comovidos e extasiados, perante a
grandiosidade das agrestes serranias, oii a niodelação torturada dos montes, e nos
deixeliias embeber da cloce poesia da terra, do mistério da bruma, da melancolia das
i~iontai~lias verde-negras que emergeiii das névoas para de novo nas névoas se
dil~~írein, como que a arrastar a nossa fantasia para o irreal, o vago, o sonho...
Para amar e para coi~ipreendera Madeira, teiilos que nos debruçar sobre a ilha már-
tir, sobre o que cla contéin de drainaticanieiite humailo, de tenso e de comovente; ver
o hoii~elizhuiiíilde, rude e sitizpleç, nas suas mudas angiistias, na sua ~ersistência
heróica e na sua illlensa grandeza. E preciso que o pensamento se detenha nlolnea-
to sobre esta epopeia rústica, tecida de tragédia, e que nos debruceinos, enfim, num
gesto caloroso de solidariedade huinana, de compreensão e de enternecida simpatia,
sobre a Madeira que lnoureja porfiadatnente para ter mais terra, e Para dessa terra
venha a brotar mais p3o.

[I. Vieira Natividade, hhdeirn- n Epopeia Rziral, Fumlial, 1954, pp. 14-17,28-
3 1 , 39-42]
EDUARDO NUNES i19561

ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- até pelas nossas flores, pêlos nossos


jardins, pelo colorido das nossas quintas.
Não sei quem teria dito que as flores eram sinfonias completas da natureza. E eu
teiilio, sim! orgullio das flores da Madeira. Mais lindas? Mais raras? Outra variedade,
outros perfumes, outros matizes, outros fulgores... Do cliina? do sol? das brisas'? do
húmus. ? Diferentes-apenas.
Abundam de tal modo e em tão ailipla escala, e são tão variegadas, que coinple-
tain a roda do ano, sempre com assombrosa profusão. Temos de tudo-penso- da inais
Iiumilde violeta à mais preciosa orquídea. E temos rosas que começam em Janeiro,
fazem o percurso dos doze meses, assistem a passagem do ano - à fa~x~osíssiina Noite
de S. Silvestre- e na primeira manhã do Ano Bom lá estão para nova rota ao cal-
endário. Se aquela irmã Susana de Jírlio Dantas vivesse na minha ilha, niio teria sido
vítima do seu próprio juramento, porque, aqui, ao contrário do seu jardim, encon-
traria Rosas de todo o ano.
Na minha ilha, as flores são iim produto local: a orquídea oriunda do Brasil, sujei-
ta ou não a estufa, tem outras tonalidades, outros aveludados, outro colorido -é
menos impessoal e mais digna. Os processos técnicos-ou químicos de iiluitas regiões,
são aqui resiiitante natural do meio, sem as exigencias constantes, ou pei-maneiltes,
dos mais afamados centros floricolas. Aqui, o meio faz o produto, sem adulterá-lo na
sua identidade de conjunto. E se os perhiiies silo o~itrosé porque é outro o ambiente
da fecundidade e do desenvolviinento. A giesta (essa flor cor de inaii gosto) de entre
os pinlieirais, agrega a si um pouco da seiva dos pinheiros. O juiiqui1ho nascido nos
"camalhões " dos " regos " ou i beira das paredes, é de urn odor inuito mais intenso
do que os que nascem nos canteiros, entre roseirais. Por outro lado, as flores tran-
sitórias, ou estacioi~ais,possuem outro " aploinb", outro "chiquisino", outro "it" ...
reinotos vestígios da elegância fidalga da Descoberta, e a Iileswa inflexibilidade dc
pundonor.. .
A nossa situação climática, este nivelamento de frio e de calor, uma qiiase penna-
neiite estabilidade de temperatura (um banho de inar em Dezembro ou Janeiro, mais
delicioso do que de Julho a Setembro), tudo concorre para uina aiiibiência de afagos
e de protecções, benéfica aos homens e às coisas. Mallierbe, o grande lírico francês,
não conheceu as rosas da Madeira, porque na segunda metade do século XV só erani
conhecidos além fronteiras os nossos vinlios. Se assim não fora, elas não se destlo-
rariam na manhã seguinte... As nossas flores são eternas, porque estão ein perina-
nente reiiovação. Aqui, na minha ilha, aquele embaixador britânico não teria neces-
sidade de conservar o cravo na água, ao regressar do "Baile dos Diploinatas" ....
porque teria muitos outros ao amanheces.
Tudo, lia Madeira, floresce com singular exuberância. 1-16 riquissimos e vastos
jardins, sujeitos a cuidados e trabalhos natiirais, mas nada é infecundo, seja em que
local for: nos tesrenos agrícolas, num vaso, nuin vasilha, nuin alegrete, nos peritos
mais áridos ou entre as "inestras" das levadas, não lá uma só flor, de soca oii
semeadura, que não germine, que não cresça e que se não debruce na haste ou não se
espreguice ao sol. A terra é fértil e os ares anulam os eleinentos perniciosos.
Com as rosas da Madeira. poderíi bem dar-se o que diz L'ieira 3ntr.r idade. ;~lqr,~n:
os momentos mais ditosos da nossa \.ida 011 acorilpanham-ncr,. Jt,ltaidri\. riai hltr.ii
mais Pungentes de tristeza c dc saudade. Elas 5 à o oriunda', de tt&< pdr;igcn\ c
constituem a mais variegada colecção que jamais virnos. com ,Iindlur strrna dr ;irt?-
mas. Tanto, que eu ouso perguntar agora, numa retroyxctiia e hiperhilnca $li-r-
visão, se não teria sido aqiii, na Madeira, nestes jardins edénict~s-Olimp, milcndri-
amente anterior a Zargo -que Vinus quebrou a hnfora onde traria i ~seu5 i C\CLL~\O\r
divinais perfumes ...
É ainda na Madeira, cujas estufas pouco possuem de artificial. yiic ri autor da
"Jornada a um mundo de beleza eterna" poderia ratificar u concluiào a que ehcyou
as orquídeas, com requintada psicologia feminina. detestam-se m~iturimentc.
As nossas flores têm encantado o mundo- e hoje ficam ji a yuatr~bhnrcis de Li,boa
e a sete de Inglaterra. Caíram sobre D. Carlos e D. -4mi-lia: sobre a tígtira krnerdnd~
e simpática do Presidente Carmona: sobre a eicelsa e branca Imagem de ?It>s,u
Senhora da Fátima. Atapetaram molhes de desembarque e mas. pitios e sal&>. isrc-
jas e estradas; e debruçaram-se de prédios e paredes. de miruntes r janelas. Ik uriia
vez foram tão abundantes que levaram um ministro a esta pergunta: 3lai hatrra
ainda mais flores na Madeira '?
No momento em que escrevo, os nossos jardins e os nossos catripf)s são de um
encanto sem igual, duma soberba e opulenta tloração. A poucos metros dos rneus
olhos, as ameixieiras têm qualquer coisa de irreal. sem o menor espayo de ramo nu.
tal a arrumação das flores-flocos de ne\e que parecem imateriaic;. E líi prira diante.
galgando serras, cortando encostas e ravinas, ficam as cerejeiras. em esmeradas ren-
das alvinitentes, bagos compactos de sumaúma a que o sol empresta mtilãncias de
inebriamento. Agora, sim, Coelho Neto trocaria o seu "Jardim das Oli~eiras".pnr
este jardim das cerejeiras ...
É Abril - intenso, pleno, com braçados de perfumes. de cores. de sons... com a
orquestração pipilante da passarada desabrida. Fiatho, por esta altura. compunha a
sua "Sinfonia da Primavera3'-Eu bem na sinto! Eu bem na sinto! ... E como ele. reparo
no que os melros dizem de alegre e as borboletas viuem de contente. Vou pedir a Axel
Munthe o seu Livro de San Michele, para irmos ouvir nos jardins, nos prados. pelos
bosques adiante, o que diz a melrada em desatino, e ver o que são estas brisas odor-
íferas, esta música coral das plantas e das flores. das a\es e das borboletas-estas
aleluias que os anjos cantam no bico dos passarinhos.
Vasco da Gama teria hesitado entre flores e frutas de consena quando, ao passar
aqui, quis levar algo que mostrasse ao novo Império da India o que eram nas
"riquezas de Portugal".
Durante todo o ano se verificam espectáculos surpreendentes- porque as flores sàn
a pintura g a l a da paisagem. O turista encanta-se com elas: ontem. o Duque de
Kent enlevado com um cravo maculado de branco e roxo; hoje (ao abrir do Ano
Santo), Winston Churchill que, ao sair da Madeira. teve de sobrepor a politica aos
seus devaneios artísticos, no melhor dos seus somsos, beijando um ramo de kioletas-
Oh, kouely !-das mãos duma senhora. E, ontem ou hoje, se Camóes ~udesse\er as
flores da Madeira, acreditaria terem sido elas que deram cor a m.u-ora...
Foi no meio delas, das flores da minha ilha, que Rinder ensinou Bernard S h a ~a
dançar; que Anna Neagle-a magistral intérprete de "Rainha VictÓria"-depois de
reconhecer, contrariando-ine, que "até no Paraíso havia jornalistas", ine colifiden-
ciou: Um encanto, a maravillia mais linda que tenho visto! E foi nos jardins do Paço
Episcopal que o Dc Lopes de Melo-o grande orador sagrado companheiro do Padre
Cruz - teve esta frase forinal: Coilhcço um pouco do inundo, [nas nada conheço que
possa comparar-se a tudo isso; estou clieio de belezas e de perfutnes !
E, agora mesino, o Dr. Ailtónio Florillo, meu cainarada italiano no jornalismo,
vein de escrever: Não me recordo de ter visto noutro lugar a abundância de flores qLie
existe na Madeira. Depois de Lim hino aos nossos panoranias e aos nossos privilégios
naturais, acrescenta: Na Madeira, tudo parece saído de uin inundo de outros tempos.
Há uin sussLirro brando, diAfaiio, cadenciado, a diluir-se, a extinguir-se ... São as
ílores que conversam com as abelhas, com as borboletas, coni as outras flores. São
as vozes delas, enigmhticas, dolentes, na perturbação tangida dos sinos cle Carlos
Dicketis Uin borbiilhar de sons imperceptíveis, que os últi~iioslaivos do poente cal-
orem e eiifeitiçain. São as flores quese preparam para o repouso, para o silêiicio bib-
lico da noite-para a festa dos aroinas, H6 uina niadressilva que já iinpregilou o ar coin
um cheiro que abala as narinas, de tão inebriaiite-e já alraíu uma borboleta nocturna,
Unica confidente dos seus secretos aiiseios.
Vão entrar na volupia do escuro, na fantasinagoria do negro, na ausência da cor-
para, ainailha logo ao romper da alva, acordarem, clieiitilias de sereno, com o chilreio
orquestral da passarada novarilente ein alarido. Que será o seu soiiho 110 vácuo da
noite? Uina jarra de Sévres de seiihor fcudal? Uln colo de Vén~is?Uin altar de Deus?
Não! Antes a liaste, a prisão a vida, A Natureza-quiçh o melhor sonho das flores e dos
hoinens. Nos canteiros da Madeira, há, siin, daquelas iigurinhas de Taiiagra, de que
nos fala Vieira Natividade. Aqui, não é preciso organizar -se uni certaine
Internacional, porque todas estão e111perii~anentecertaine durante Lodo o ano. Aliis,
digam-no os passariiilios, que lia Madeira abundam eiii vol~iiiiosissímasvagas, sem
que viessem dos trigais da Argentina ou da América.
As flores da "Pérola do Atliiitico" siío do seu cartaz Iiistórico, do seu noine no
in~indo.Raríssirno é o estrangeiro que as não leva para bordo, quando em trânsi~o;
que as não teni no seu "apparteinent" do hotel; o11 que as não pede para o navio ou
para o avião, quando embarca. De resto, as flores da Madeira são outras coses da
cidade e dos cainpos numa só Flor do Oceano.

ORGULHO-ME DE SER MADEIRENSE- por t~idoque disserain de nós, antigos


e inodernos ...-São torrentes de aleliiias, que põein o meu orgulho a pular, a saltar
pelos p6rainos da nossa grandeza - esta arvore coin cinco séculos e ineio de existên-
cia, ridente ao sol e ao tempo, seinpre verde e seinpre tenra, que emerge do ventre do
Atlântico para maior glória da Phtria c melhor enlevo dos lioii~eiis.Caudais de encan-
tamento de que são arautos os "estranhos" (os de Sora); toclos dirão o que eu se o -
soubesse...-não diria por suspeição. Voii pôr, portanto, o ineu orgullio naquelcs que
se org~illiaramde vir até nos. Mas, de todas as peças que rebusquei para forinar este
coro de privilégios c0111 que se dignifica e eiigriiialda a iiiinlia illia, dispensarei largas
rcferêiicias, e só de passagem - sem qualquer ordein cronológica, repita-se - citarei
noines doutros séculos, que se dispersam na vasta bibliografia do arquipélago. Darei
relevo a afinnaçóes mais afastadas dos armários do Passado, mais próximas das nos-
sas últimas gerações, inais contemporâneas e mais jovens. Estou envaidecido com
Shelley, com Huinbolt, com Spencer, coin Ranken, com Bacon, com Garniei; com
Cannipieter.. E gratíssimo ao Rei Fernando da Bulgária, ao Iinperador de Áustria
(que na Madeira se exilou e moi+seu e aqui tem seu túm~ilona igreja do Monte); a
Marryatt, a Bilac, a Avezac, ao do~itorAsstiero,.. Sei que Shelley, um dos maiores
poetas da Europa, cujo cadáver Byron foi buscar ao Golfo de Spezzia, nos visitou no
auge do seu lirismo; que Alexandre Humboldt, sábio e naturalista alemão, teria sido
quein melhor se dedicou, então, as nossas espécies geológicas; que Spencer, o fim-
dador da filosofia evolucionista, chainou i minha ilha a oitava maravillia do inundo;
que Hugnes, um poeta, quere ser o priineiro a cliai~la-IaFlor do Oceano; que Bacon,
" pai da filosofia experimental. e o "enfant gaté de 1'Einpereur7', escreveu uma deli-
ciosa epopeia as nossas belezas naturais; que Pascal d'Avezac, geógrafo francês,
disse nada conhecer de inais belo e majestoso; que Frederico Manyatt - um
romancista inglês e "o homem inais viajado do inundo" não conheceu sítio no globo
de tanto assombro e deleite; que Olavo Bilac, o "príncipe dos poetas brasileiros" nos
seus ultimos anos, cliatnou à Madeira o arquipélago dos bemaventurados; disse que
toda a ilha era uma fulguração no banlio lun~inosoda inanliã, e que, nela, tiido con-
corria para dar-lhe um distintivo edéilico; que Roberto Garnier, tempestuoso e trági-
co como Byron-que tainbétn aqui esteve - transforniou a sua lira em doces melodias
a esta ilha de Deus; que Assuero, o grande medico espanhol, acliou-a o paraiso do
mundo, mais bonita que Nbpoles e Capri.. . .
Para mim, para o ineu trabalho e para esta ilha de que me orgull~o,para esta "ilha
dos Amores", a que se lhe availtaja~nquantas Vénus aina; a terra portuguesa desse
verdadeiro precursor dos que tem caiitado e enaltecido as maravil!ias da Pérola do
Oceano; para miin, que não posso cornpilar tudo que se ine depara, váo valer afir-
mações que não trazem a nafialina dos arq~~ivos, nein as possíveis detiirpações dos
historiadores.
E, agora-pondo na pedra cimeira deste livro o ineu orgulho de ser madeireiise,
diga eu como os latinos:. "Sursuin corda !" são cantar-se hosanas minha ilha da
Madeira!
Começo ... com um "santo da casa" -o grande jurisconscilto que foi João Augusto
Martins, porque a sua frase lapidar serve de niote aos que Il~eseguem:-... teinos o que
quere que seja de vago e coilfortáuel, das preciosas telas de Wateaii... e dá vida e rele-
vo aos relevos da vida.Bulhão Pato, que por aqui andou "a retoiçar" aos vinte e aos
sessenta e cinco anos, cliama a ilha uma Senhora linda, de ricas roupagens, e acres-
centa: Especiáculo paradisíaco ! Pais privilegiado, ii5io Lein no inundo toil.50 que the
dê de rosto.
Júlio Diniz esteve aqui alguns meses- a gosar, despreocupado, o inais surpreen-
dente espectbculo que pode imaginar-se; a espraiar a vista pelos i'orinosissin~osvales
que vão descobrindo o seio fec~lndissirnoaos olhos marauilhados, Emudecido coin a
magia que o cercava, inspirou-se a tal ponto que aqui escreveu "Os Fidalgos da Casa
Mourisca".
A um homem píiblico coino D. António da Costa, autor da "I-Iistória do Marechal
Saldanha" e nosso priineiro ministro da Iilstr~icão-naMadeira tudo faltou de amor e
tudo era formoso!
Latino Coelho traduz de um navegante austríaco.: ...a vida da Natureza aparece em
tão rica variedade e formosura, que a mais creadora fantasia nada pode conceber de
mais amorável e encantador.
Teixeira Gomes, que foi nosso Presidente da República, e escritor de renome, teve
esta interrogação Pois haverá no mundo paisagem inais aliciadora do que esta que eu
disfruto? E Brito Ca~nacho(escrevendo talvez, com a pena ao contrário... ), tem esta
frase: Sinto o deslumbramento dum panorama sem rival, o encanto duma bela que o s
mais delicados, os mais impressionantes e amoráveis paisagistas em todos os tempos
houvessem feito ein colaboração.
António José de Almeida-outro Chefe de Estado, declarou: A Madeira é um retal-
ho do Paraíso colocado neste ponto do globo; é obra da Natureza, obra dc Deus!
O Presidente Carrnona escreveu: Saio da Madeira maravilhado. Nunca poderei
esquecer a rnagnificencia da paisagem e as qualidades primorosas do seu povo. Logo
a chegada, no cais, ao atravessar o tapete de pétalas garridas, teve esta exclainação:
Isto não é uma terra; é um sonlio!
Com a vista a "falhar-lhe e a perturbar-se, o cheiro a entontecê-lo", Raul Brandão,
enlevado, escreve: Tudo isto vai do cinzento ao doirado, do doirado ao azul indigo -
e a montanha a escorrer azul e verde ...
Agora, o romancista de "Miss Século XX", Sousa Costa: Os ineus olhos fixam-se,
sem pestanejar, recolhidos na contemplação do inesperado espectáculo - tão formoso,
louvado Deus! que folheando os mil canhenhos da memoria não encoiitro outro a que
o compare. Percorre a ilha, magestosaniente bela, e conclue: Enquanto os nossos
"parveniis" diluem a sua insignificância nas terras estrangeiras, as pessoas
estrangeiras de bom gosto vcm alegrar os olhos e retemperar os nervos nesta inar-
avilhosa estância de Porh~gal.
Remonto um pouco a outras gerações e oiço o inegualável anotador da Guerra
Peninsular, Adolfo Loureiro: Sem rival na terra, jainais se apagou da mente de quem
uma vez poude apreciar os seus encantos, a recordaçdo daquele verdadeiro paraiso
terreal.
Travassos Valdez exige reivindicta para seu pai, o conde de Bonfiin: foi quem
primeiro denominou a Madeira de Flor do Oceano, estas marauilhas que não são urna
realidade mas um sonho de ficção de poetas, arrebatador, como se coiitemplassemos
uma região fabulosa.
Paulo Mantegazza, que três vezes passou aqui, diz ter ouvido dos viajantes que
todos desejariam ter uma casinha neste paraiso. O notável romancista italiano
escreveri no Funchal. Uma pagina de Amor-Uin dia na Madeira.
Von Blomberg, que aqui esteve a bordo do iate do chanceler do Reich, disse aos
jornalistas: Prefiro ver do que falar; quando os olhos se extasiam de beleza, a voz
sufoca-se, e tartamudeia ...
E Italo Balbo, Marechal do Ar da Itália, confessa a sua surpresa: Nem sei bem
onde cai ... No Paraíso? No Olimpo? Seja como for, estou numa ilha que ine pertur-
ba, por demasiada singularidade de encaiitos.
Depois ... as " estrelas. da Cinelândia: Bety Balfour, ali, na Quinta dos Cedros,
zangada por haver-lhe desvendado o incógnito: Devo confessar que estou num lugar
que a minha palavra não define. Lindo? Belo? ... Uin lugar unico! Dolores de1 Rio
esquiva-se, sorri, aponta Cedric Gibson, seu marido, inagnate da "Metrov-inaç não
resiste: Estou perdida de encaiiiainentos. E ollio que conheço muitas teiras lindas!...
Jeatl Murat, com Wiiia Winfried e uma equipa nuinerosa, desembarca de bordo do
"Pádua", onde Pierre Clieiial filinava "Les ainmotinées de l'Elseneur".Viiiham ape-
nas "pôr pé ein terra", nias "amotiiiaram-se" a tal ponto coin os encantos que se lhe
depararam, que ficarain para o dia seguinte. O grande galã francês dizia-ine, nos
varandins do Reid's Hotel": isto é de uma beleza eniginafica, elegiaca, aciina do iiat-
ural !
Pouco depois, a carninlio da Argentina, Marahoii-sábio catedratico e fundador da
República Espai~liola- olhava o Funclial da vigia do seu camarote e, sem respotlder
as minhas perguntas de ordem polltica, conieiitava: Soberbo! É uin postal, uma tela
única ... pintada por Deus ! de inatas, eiigrinaldado de flores; onditia encerrada numa
câmara de iiíivens- escreve Oliveira Martiiis.
FIenrique Galvão escalou a Madeira diversas vezes nas suas jornadas para o
Continente Afkicatio.Ao fim de unia delas, eiiraizadas as suas iinpressões, a natureza
havia-o seduzido. T L I ~conservava
O LIIII ar festivo, alegre ... alegria feita de todas as
alegrias, a alegria interior do êxtase, e a alegria inoviiiientada da festa. Também Júlio
Diniz já. o notara: Tiido tem uin ar de festa e de alegria.
De uma vez, disse-me Kostrukofi; maestro de "Os Cossacos do DonU:estabeleza
tnagnificente, que deleita, e suavisa, e embriaga, ilha pequeilina, onde a população é
uina faiililia, a faiiiília uni aconchego, o aconchego uin altar.
E Nicola~iGnibeda, scu inais directo tradutor, acresccnlou: A Madeira encantou-
nos, para sempre, para rcgalo cio espirito, para encanto dos olhos, posso dizer-llie que
nada hR i~ielhorno iiiiiiido.
Sim ! Tiido que se diz deve correspoiider a uma verdade insofisiiiável. Qucro con-
cordar que tmlto Ioiivor e tanta rnística de encaiitaiiieiito não são ineras forinas
litertirias, meros arroubos de poetas e de estilistsis. Ouço agora Vieira Natividade: Na
Madeira a Natureza abusou ein deinasia do subliine e o liomeiii excede o próprio
hoinem, Não 119 nada que 1130 seja niagnífico, iinpoiieiite, deslumbrador. O autor de
tatitissimos trabalhos cieiitííicos tainbéni se enainora da ilha, tar~~béiii se extasia por
ela, a ponto de concluir que seria L I I contra-sctiso
~ cantar-se O fado na Madeira, onde
o ambiente só admite Iiiiios triunfais e ciiiticos lieroicos.
Ferreira de Castro-o inais fainoso roiiiaiicisia português da acttialidade- ciiibrcn-
lia-se de tal inodo na iiiiiilia ilha, oiicle passou uma teinporada, que nela coloca toda
a acção do romance "Eieriiidade" e a ela torna cheia de ciicaiitos em. Peq~ienosni~iii-
dos, vellias civilizações.
Camilo tem a q ~o~seu i " Eusébio MacSírio", O entrecho cle "O Saiito da Montaiil~a"
e larga referência iio "Regicida ".
Arnaldo Gama desciivolve lia Madeira "A Caldeira dc Pero Botelho". Bocage sem
para ca viver, aqui se consorcia e aqui deixa clcscendentes. E o Épico, seguiido
TerSfilo Braga, teve tainbém aqui alguns pareiites.
Da nossa hospitalidade escreve ainda. noutro lado, Julio Diniz. Se os doces afec-
tos da farnilia, se os carinhos ciuiiia esposa, duma inãe ou duiiia filha se podein sub-
stituir no muiido, é aqui a terra para tentar a experiei~cia,
E Henrique Galvão diz tambem. A hospitalidade dos iiiadeirenses é a expressão
~UIII sentimento e a força dum Iiábito. São duma amabilidade fidalga, que não pre-
cisa dobrar a coluna vertebral para se nos meter no coração. Siinpaticos e dignos, na
medida exacta ein que se honrain os que oferecem e os que recebem.
Vou rematar todo este coro de fiosanas a minlia ilha com dois poetas-um que por
ca andou e111 busca de saude; outro, que por aqui se perdeu doido de beleza.
António Nobre, depois de procurar alívio por terras de Espariha, da Suissa, da
França, da América ... e por recomendáveis regiões de Portugal, viveu dezoito meses
na Madeira. Porque só podia cantar os seus sofrimentos, não poude cantar a ilha lias
suas maravilhas. Mais fraterno, mais íntimo, mais aconchegado ao povo- a sua cria-
da Catarilia, ao velho da rede, Aquela Riquinha que era a "flor mais bela do jardim
desta ill~a"e que Fora outrora, talvez, filha de Cristo, Se Cristo houvesse tido algu-
ma filha, e aquelas oiitras raparigas de quem disse: Fica-se doido, vendo-se a
priineira, Doido se fica se se vcin as inais, o grande intírtir do "Só" não inedito~isobre
a paisagem, porque a sua meditação era arigustiosamente subjectiva. Sede de iinen-
sa luz como a dos pára-raios, segundo gravou no tronco duiila iiespereira liirta e ariti-
ga. Encantado com a nossa hospitalidade, no meio da LLfi~la flor'' que então coni ele
se reunia para ouvi-lo dizer versos de Antero, não esqueceu, depois, a sua gratidão,
qiie sintetisou nestas palavras: As senhoras do Funchal tem sido ainabilissiinas para
coiiligo: manda-me "beeftee ", " custard", vinlio vellio, geleia, etc.. Nós, por nossa
vez, não o esquecernos-e ali esta, no Largo que tem o seu noine, o seu busto de sor-
riso triste e sofredor.
Mas ... toda a iuedallia tern anverso e reverso. Veja-se agora este coiltraste. Oiitro
poeta, que por aqui andou pulando de contente, doido de alegria, no desvario da
beleza, como um fauno a incendiar o bosque com estrofes dantescas e iiiágicas -esse
irrequieto, esse traquina poeta dos inliiiitos que é Miguel Trigueiros.
Socorro! Que isto e belo demais!
Calcul-reando ruas e montes por esta ilha do outro mundo, por este corpo de pais-
agens inlpossiveis, tem este Ii-enesi.
Apre! Que ser feliz dói a valer!
E espeineia, e baraf~ista,porque a beleza entrou-lhe na medula e aildti a coiiiicliar-
llie o sangue, e vá de iiiterrogar a própria ilha:
De que estranhas miragens nasces tu? Iaconformado, nesta al~~ciiiação de encan-
tos sucessivos, tenta ulua coinprcensão: Isto aqui não é a Natureza! É oulro Espaço,
e outro inundo, é oulro Sonho!
E a ideia tolda-se-lhe no espirito, toma ascensões siderais:
Olá, bom Deus, não Iiá que duvidar: Cristalizou aqui o Teu olliar!
Por fim,exausto de subliii~idades,cansado do Belo, conclue: Não se coinparaiii
formas coin milagres! E ao pé deste milagre, é tudo pequenino!
Na feitura deste capitulo f ~ l oi primeiro a não saber urdir as iniagens e a n,?o con-
seguir fiases de concordailcia que se ajustassein ao seu relevo com alguiii relevo,
taiiibéin. Piquei-iiie diante delas atónito,
Fiquei-ine diante delas atónito, sem discernir as de iiiaior elevaçilo, e acabei por
pensar que esta minha ilha da Madeira deixara de ser minha, por se iiie mostrar na
posse embevecida dos outros. Ao cabo, logrei encantar-me coiii os encantos cstraii-
110s.
Experimentei sensações diferentes, até a de julgar, perante as estrofes dos poetas,
que ngo possuía ji, tia iiíiiíha illia, qualquer direito de propriedade... E vá de sentir
saudades, essas inesn-ias que só se matam qiiaiido cotneqam a nascer.
Stefan Zweig diria: tcni tal tamanlio esta Beleza que eu, diante dela, prosto-me
C O I I ~ Oum covarde!
E eu, se Fosse poeta, ou filósofo, pensaria: pouco importa morrer; o que é preciso
6 que isso niio suceda antes de conhecer-se a Madeira.
(S..>

[Eduardo Nuines, Porqtle nze Orgtrlho de Ser Madeirense, Funchal, 1956, pp.57-
981

MARIA LAMAS 119561

HOUVE Eeinpo em que a floresta revestia deiisaineilte as montanlias e descia,


froiidosa, até mergulhar as suas raizes 110 próprio calhau da beira-mar. Assim
descreve Gaspar Frut~iosoaquela ilha a que o dito capitão (Gonçalves Zarco) pôs o
noiile de MADEIRA, por causa do muito, espesso e grande arvoredo de que era
coberta". Diz a LradiçEo e coiifirmam-no os cronistas da época, entre os quais o autor
das S a ~ ~ d a dda
e sTerra. que, não podendo doinar as alterosas ondas de verdura que se
lhe opuiiliatii ,?. abertura de carninhos e ao cultivo do solo, depois de ter vencido as
do temeroso Oceano, inanclou Zarco atear LIIII fogo que, durante sete anos, ardeu em
diversos politos da ilha, seni coi~seguirdevastar coinpletainente a sua pujante vege-
taç2io. Seguiiclo Azurara, era tal a abuiíd8ncia de madeiras, forinosas e rijas, na região
de Macliico, que, vinte alios depois da descoberta, o Infante as fazia transportar em
grande quaiitidade para o Reiiio, inaiídando construir com elas os yriineiros navios
de ghvea c castelo de avai~tee iiitroduziiido iinportaiites mudailças na arquitectura,
nssiiií coino no sistema de edificações urbanas usado at6 entEio.
Onde estRo os vestígios dessas matas exuberantes que o fogo não chegaria a
destruir? Que visões lios oLerecein Iioje as serranias inadeirenses,para alem das inon-
tailhas que enfientaiii o Atlgntico Coino será a ilha que se não avista do inar

A Tallia do lugar e o próprio camiiího preparain-nos para qualquer coisa excep-


cioliai. Mas quem espera beleza vulgar de cartaz turístico. pitoresca e colorida, terá
uma decepç5lo. O Rabaçal rogc ao coinuin dos pailoraiuas afamados: nem vastidões
incornensur8veis, nem sítios românticos oiide apeteça ficar. Porém, quem lá for,
nunca i~iaisse esquecerá daquelas paragetis. 1-16 uina estrada que vein da Calheta e
nos leva até casa-abrigo da Junta Geral. Mas tenta-me o antigo trilho, que dizem
ser loi~go,hspero, c vai subiiido pclo lado de c&,noutro flaiico da inontanlía, ate
embocar no Furado. Por ali seguiain, antes de se abrir a estrada, tanto vilões conlo
excursioiiisias - e não pode considerar-se aveiitura de somenos uina excursão ao
Rnbaçal, no tempo em que o meio de transporte em tais caminhos era a rede e se tor-
nava inevitável pernoitar num tosco abrigo em plena serrania. Act~ialinente, esse
primitivo itinerário é seguido apenas pelos cainponeses, mas oferece maior interesse
a quem quiser fazer ideia do que seja um furado" inadeirense e, sobretiido, a quem
desejar conhecer todos os caminhos dos hoine~is.
Lombo do Doutor, i1111 pouco acima da Calheta Aqui vivem o Alhinho e a senho-
ra Maria, que me acolnpanharão no velho percurso, espantados de que optasse por
ele, tal como o coiihecem, ermo e fatigante, mesmo para quem lhe está afeito, quan-
to mais para quem vein da cidade.
A habitaçào deste casal de vilões remediados, já com fillios casados e emigrados
na Venezuela, e das melhores do sítio: dois pisos, paredes caiadas e coberta de telha.
Interiormente, ~ i n característico
i desconforto, apesar do gosto da mulher, generaliza-
do ein toda a ilha, em alindar com bordados e rendas o seu bragal, por inodestíssinio
que seja. Não se trata duma excepção: para o camponês niadeirense a preocupação
absorventc é que o milho não falte e a terra não descanse - tudo o mais será como for.
Os utensílios da lavoura, mais o pote da graxa" (assim chamam, na região, a banlia
de porco com que temperam a sopa de verduras e o milho) mais um molho de cebo-
las, o lampião e o moinho caseiro, um banco desmantelado, cestos de feijão, pilhas
de batata doce e de seiliilha, ainda muitos outros objectos, variadíssiinos - t ~ i d ose
amontoa, em desordem, na casa de entrada, atravaiicando a pequena divisão, térrea e
escura. O reboco e a cal não passaram do lado de fora. A coinunicação carn o
primeiro andar faz-se por uma abertura no tecto, até onde se sobe por uma escada
rudimentar, sern corrii~lão.Lá em cima, no quarto, a cama de ferro tem almofadões
brancos, bordados, e no pequeno lavatório lia uma toalha cuidadosamente dobrada -
tudo assim hospitaleiramente preparado em minha honra. Também as janelas osteii-
tain o luxo de cortinas de croché. Nas paredes, oleografias baratas, cotn assuntos reli-
giosos. Sobre a cómoda, um Menino Jesus e uma jarra com flores de papel.
Este é, niais ou menos, o interior típico duma moradia rural considerada médin na
escala de categorias que os próprios camponeses estabelecem entre Si.
A família come na cozinha - ~iiiiaconstrução a parte, acanhada, escurecida pelo
fiinio, mal provida e sem alinho. Mas não foi lá que alii~oçamos.Para a nossa refeição
a mesa foi posta cá fora, sob a latada: toalha desencardida e manjares que a terra dá.
Como sobremesa saboreei as bêberas fresquinhas e apetitosas, colliidas de manhã
iiliina figueira da fazenda e servidas ein gatnelinha airosa. E mais de meio dia. O
tempo entrovisca-se ... Mas isso é corrente e não assusta ningué~ii.Voltamos costas ao
mar e partimos, finalmente, a caminho do Rabaçal.
A ladeira é íngreme. No alto, a vereda que seguimos deixa de ser caminho entre
pinhais, para flanquear penedias, sobranceiras a abismos, sem guarda nem qualq~ier
ponto de apoio. Só contamos com o bordão, no caso de vertigem ou de um pé
resvalar. Vou tentando regular o ineu passo pelo dos meus companheiros, seni o con-
seguir. Têm eles que moderar o andamento, para que eu não fique, sbzinha, para tras.
O homem fala ... Discorre sobre o seu viver arrastado, num tom insatisfeito mas
sem lainúria. Pelo contrário, tem na voz e 110 olliar Lima expressão de argúcia e iiina
vivacidade comunicativa que não condizem com a ináscara vincada e o scu toclo de
homem idoso e gasto.
Coiilpreeiidi então a diferença da impressão que em mim causaram estas duas
inaravillias da Madeira: as Vinte e Cinco Fontes, espectáculo surpreendente, raro e
belo, duina beleza UIII tanto roinintica; o Risco, uma grandeza imponente e esma-
gadora.
Sc alglléln teve a veleidade de iiiacuiar o cenário magestos0 do Risco, deixando o
sinal da sua passagem, iião dei por isso, tanta é a desproporção de um traço frívolo,
eni relaçfio àquela mole de basalto, gigantesca e draii~ática.Ali, a rocha e a água con-
Siindein-se nuina expressão de força invencivel.
No regresso, para encurtar distâticia, seguiiiios o itinerário dos carregadores de
reiteiras, que nos fora i~iclicadopelo guarda Manuel: subir uin monte, à esquerda:
descê-lo depois pela outra encosta. Lh viernos, confonne foi possível. Trepamos de
gatas, que o terreno era movediço, e valeram-nos troncos e arbustos a que deitáva-
mos a mão. O AlliiiiIio, coiiquaiito experinientado nestas siibidas e descidas acrobáti-
cas, iião Tez iieste passo brilhante figura... Gatilianios iiieia hora, mas estivemos na
iiniiiêlicia de descer, bom grado, mau grado, muito mais do que convinha...
Manli?í inesq~~ecível, niais intensa na sua brevidade que dias, seinanas e até anos
de viver asfixiado, convencional, apitico. Há uma espécie de avidez no meu desejo
de fixar tudo: cor, relevo, configuração do coi~juiito,pormenores de luz e até o que
só é possível pressentir. A natureza, exuberante de viço e força, tein nesta liora calma
uina expressão esthtica de mundo vegetal inviolado. Mas toda a sua grandeza e
esplendor não anulam o sinal do hoinein e da sua luta na caminhada penosa e lenta
para o filtiituro. Perante as serras do Rabaçal, recobertas de arvoredo niulticentenário e
ferlilizadns por inananciais assoinbrosos, envolvo os pioneiros que primeiro aqui
cliegarain e planearain o aproveitamento dos caudais que se precipitam de alturas
perpendiculares, abismando-se ein funduras insondáveis e correndo, até então,
desaproveitados para o mar. Ali estfio as levadas, os aquedutos e os tíineis a teste-
inui~liaro titanico labor. O plailo realizado ultrapassa a evolução do liomein que o
exccutou com o seu braço, dando-lhe, não raro, a própria vida, o hoinem que circula
lioje, igual ao que era onteiil, por estes lugares - IA vão na sua faina quotidiana os car-
regadores de "f'eiteira". Mas a obra prevalece nos seus beneficias gerais e como
Indice do coiiibate iiistiiitivo, sem tréguas, da Humanidade, contra o que se opõe ao
direito de viver e progredir. Penso isto, numa convicção e nu111 apelo, ao conteinplar
a serrariia iinenszi, de que ine aparto com pena. E a inoiitaiilia, e a floresta, e a bgua,
respoiidcin-ine: descubro unia força maior nos ineus passos, no meu olhar e na ininlia
atenção, cotno se uin sopro de vida reiiovada ateasse a ininlia chama interior e des-
pertasse energias que, scm eu saber, estavam em mirn, ainda intactas. Revigora-se a
illii~liaconfiança, E a certeza de que o deslino do Iiomeiii se cuinpriri ein coiiquis-
tas ii~aravilhosas,pelo esforço, pela firineza, pela consciência da dignidade humana
e pelo sentido fraterno da Vida, faz circular iiiais ardentemente o sa~igtienas ininlias
veias.

CAL DE^ VERDE


O encantaineiito começa Logo que cliegaiiios a Santaiia. Primeiro, as veredas
roin&nticas, c0111 altas sebes de buxo e "novelosa azuis, Sazem-nos peiisar que esta-
rnoz riiini parqtie ni:ira\ illiostr. f-lorc., L. riikiisflore\ por toda s parte 1 Otit e-se a \ci;r
d,i ,rgii:i. ora cni siirdilin. cciriiii urii iniirriiiirio. cltianto clii \;li sereiiri por entre inus-
goí e !>tk)i. rir,i i i i u i i h,trulli~.iit:i.yiiiindo \em dciccncio iiigreiiie ladeira ou cai de
iiltci.fci/c.iidi,rt~clarU1113 a~enliaL. ~eiii-seiiriiri srriinçrio sua\ e. rrpuiis:inte
.As niuritarilias Ia 2,150 ao tiintirb. coni o seii tiorso caprichoso e dominador. São as
~~icsi~i:i, que d~irdiite;i tr:itessi:i da illili. do Si11para o horte -tilias Iiorris de aiit«nib\-
cl. pelo tiienoi - nie eiicherain de pasriiu. 2las Saiitaiia espraia-se corri desafogo ati.
3 custa e. dayuclc Iado. iiciihiiin 2iytinte serergue a esconder o mar.
O iiiar... Quando. passada a Perihíi de Ayiiia. íl eitrrida recomeçou a subir e ele
surgiu de nojo. »iIIICII\ írlhos d e ~ l ~ ~ i i ~ b rcoin a r ~a n -isBo 1c)iiginqua da ilha de
Porto Santo - iiriia silli~ietna;riilada. qiissc irreal. ergiiidri na claridade d o horizonte
sciii tiiii. %lornentode eiifori;~' Como e hoiii tiler! ha luz do dia glorioso, o mar
refulgiu. (irecorte dos picoc no céii plirissinio deixou de ser agressito. os terdes qiie
11iatizain a terra reaiça\arri cni tonalidades que nenhuma paleta pode reproduzir.
.Ao fazer o reconhecimento da terra. no Iitor'il e no interior. o capitão Zarco "man-
dou entrar gente por entre o anoredo e pela ribeira acinia. o que eles fizeram sem
ricliareni coisa ~ i t a senãu . ates de d i ~ e r s a niarieiras,
s que tomataiii as mãos porque
nào erani acostumadas a l e r genteacassirn diz a tradiç8o oral e escreveu Gaspar
Frutiiosi, eni Saiidades da Terra. O mesmo testeniunham, entre outros, Diogo Gonies
e Luis de Cndaniosto, ein crónicas e narratilas de viagens datadas do século XV. Cita
Cadamosto em especial "pa\òes sehfiticos e, entre eles. algiiiis brancos", assim
cuino grande quantidade de pombos.
Tantas eram as a\es de t iirias cspicies que os prinieiros povoadores da Madeira.
h falta doutra carne. delas se alinienta\ am coi~iribundância. Aqui tindou a confiante
liberdade dos alados Iiabitantes das nintas da ilha; aqui principiaram eles a saber que
coiba era o liornem e a temer toda a fonna estranha que se Ilies aproximava. 0 s pom-
bos foram os inais perseguidas e sacrificados, pelo seu maior tamanlio e pelo
saborosissimo marijar qiie constituiam.
Era rudimentar o sisteiiia de caçar os ponibos, e foi iiifali~elenquanto as vítiinas
se não aperceberain dos seus efeitos: com uin laço habilidosamente preparado e sus-
penso da eitremidade duma \ara fininha ou duma cana, prendia-se o animal pelo
pescoço. puxando-o depois rapidamente para o chBo; como ele se não assustava ao
t e r o traiçoeiro engenho, tomava-se facílimo levar a bom termo o ardil. A devas-
tação foi enorme, quase total, enquanto nBo vieram do reino outras aves e animais
domésticos, aléiii de diversas espécies de gado. para se reproduzirein aqui e abaste-
cerem o arquipélago.
Entre as ates que o Infante envioii "para lançar na terra a vinha o faisão, que se
adaptou perfeitaiiiente js florestas virgens da ilha, onde viveu em liberdade e se
reproduziu enquanto ali o deixaram tranquilo. Tão numerosos se tornaram que, no
priiicipio do sEculo XVII, ainda a caça aos faisões, bein como aos pavões, era livre
na Madeira Depois. uns e outros forain escasseando, ein consequ6ncia das fre-
qiieiites moiitarias. que tanto apraziarn à nobreza. Qiinnto aos faisões, eram também
dizimados por lima terrivel caçadora - a manta. a maior ave da fauna rnadeirense,
que continua ri ser inimiga mortal dos coelhos, perdizes. codornizes e de todos os
pissaros que a sua voracidade cobice. Aves aristocratas, o pavão e o faisão evocam,
nesta ilha, tempos antigos de esplendores e privilégios, coutadas e arte de inoiltear,
donatirios e fidalgos. Hoje, apesar de várias tentativas para repovoar de pavões e
faisões as serras iiiadeirenses, não se conseguiu ainda qualquer resultado apreciáv-
el.
Pelo que respeita aos pombos, além daqueles que têm os seus pombais em viven-
d a s ricas e pobres, na cidade e iio campo, como coinpanheiros muito apreciados da
v i d a familiar, em toda a ilha, outras espécies existem, ein estado bravio, descen-
dentes directas dos que os povoadores aqui encontraram. Deixaram, porém, de ser
confiantes: defendem-se astuciosainente de quem invade os seus domínios, longe dos
sítios habitados.
O "pombo negro da serras vive na solidão das moiitaiihas e faz ninho nos recôn-
cavos naturais de penedias escarpadas, onde é tão difícil quanto arriscado chegar.
M a s desce aos vales, quando chegam os frios mais rigorosos. Ali o persegue o
homein, porque a sua carne continua a ser tão saborosa como outrora...Não contente
em fugir-lhe, quando o apercebe, o poinbo negro da serra, denuncia o caçador agi-
tando as asas de fonna especial, para que os compaiilieiros se afastem daquele lugar
e não voltem lá iiaqucle dia, pelo menos.
A "pomba brava"Cassiin chama o povo ao "poinbo da rocha - vive exclusiva-
mente lios rochedos, quer do litoral, quer do interior. Por toda a ilha há pombas
bravas". que derain o nome a nulilerosos sítios. Por exemplo: os Pombais de Porto
do Moniz.
O "ponibo galego" - bastante raro - encontra-se nas regiões mais montanhosas do
interior, mas nidifica nas árvores. O seu voo é sempre alto e tão desconfiado se
mostra que se torna dificílimo caçá-lo.
Os pombos têm direito a esta citação, por haverem sido, muito antes dos homens,
-
os priiiieiros senhores da ilha sem Talar agora na chacina que aineaçou exterminar-
I l ~ e sa espécie ein benefício dos usurpadores. Mas tudo isto vem a propósito do bis-
b i s que não chegou a saber se devia ou iião confiar em mim ...
O ilhéu que ine acompanha contesta a minha opinião, quanto à falta de pássaros
n a s inatas inadeireiises. Pelo contrario, ele afirma que 1iá muitos e que, se os não
tenho visto, é talvez por me absorver especialmente na contemplação da paisagem.
Coino caçador einérito, que é, coiiliece a palmos os campos e serranias da sua ilha,
a t é aos meiios acessíveis recessos. E não se cansa de louvar a variedade e encanto das
aves que alegraiii este pequeno inundo insular. Não é apenas o bisbis - na realidade
o único pássaro da ilha que Ilie é peculiar: é o teiitilhão, que chega a conviver sem
reservas coiii o hoineiii; é a toutinegra, coiii o scu canto vibrante e variado: é o pap-
inlio - o rouxinol da Madeira - a cantar ao desafio com outros innãos que lhe respon-
deni de longe, ein trinados ~iiaviososque enchem de alegria o alvorecer e põem suave
ilostalgia 110 eiitardecer canipestre; é o pintassilgo, esperto e habilidoso, todo pintal-
gado de cores vivas; é o iiielro preto, - o grande madrugador ! - que acorda o próprio
d i a coin os seus assobios proloiigados. E o canário da terra, que dá os seus concertos
onde quer que uma rírvore Ilie ofereça poleiro aprazível, seja nas serras, seja na
cidade, e coiitiiiua ainda a cantar por detrás das grades da gaiola, à janela da casinha
inais iiiodcsta, à porta cluii-ia barraca ou em balctio requintadamente florido - o
cailário madeirelise que teiii Talna em terras estrangeiras e para lá vai exportado em
grande quantidade; é a lavandeira, saltitante, airosa e iitilíssiina caçadora de insectos;
é o correcamiriko, com a sua leiida bíblica, ainante de terras áridas e acoinpanhante
fiel dos que por ali passain; é também o pardal, iildesejável onde houver seiiienteiras
e searas, sempre glutão, mau camarada e granizador - e mais e i~iais ...
Não são unicamente as espkcies e s~ib-espéciesindígenas, são tanibéiil outras,
trazidas pelos povoadores, e ainda as "visitantes regulares ou acidentais, pois qiie
passain aqui nluitas aves de arribação, lia sua viagem para outros continentes.

ENGENHOS E SERRAS DE ÁGUA - O aproveitameiilo da força inotriz clas


ribeiras para serrar a madeira de qiie a ilha era riquíssiina, etn quantidade, qualidade
e variedades, foi uma das primeiras iniciativas dos colonizadores. Só assim con-
seguiram desenvolver o aproveitamento e exportação de tão valiosa mercadoria que
o solo fertilíssiino Ihes oferecia.
"Serras de água" se chamavam esses eilgenlios construídos nas inargens das mais
caudalosas ribeiras, etn vários pontos da ilha Eram dum grande prinlitivisino, mas
ainda assim utilissirnos e de grande rendimento. O Infante D. Henriqiie, na carta de
doação da "minha ilha da Madeira" a João Gonçalves Zarco, datada de 1 de
Noveinbro de 1450, claramente especifica o direito que Ilie concede de reservar para
si, não só "todos os moinhos de pão que houver na parte da dita ilha de que Ilie dou
o encargo", de maneira que mais ninguém ali pudesse fazer nioinlio senão ele ou
quem Ilie aprouvera, corno acrescenta: Outrossiiii ine apraz que haja [ele, João
Gonçalves) de todas as guerras de água que aí fizerem de cada uma iiin 111arco de
prata em cada ano ou o seu certo valor ou duas tábuas cada semana das que costii-
inarein serrar lias serras, segundo paga111 todas as outras coisas o que serrar a dita
serra e isto Iiaja taiiibéin o dito João de qualquer engenlio que se ai fizer, tirando
viveiros de serrarias e outros inetais".
Não tardaram a inultiplicar-se as "serras de água", eiii todo o território da. capita-
nia doada a Gonçalves Zarco. O inesmo sucedeu na capitania que coube a Tristão
Teixeira e que abrangia a parte oriental da illia. Não se encoiitra lia siia carla de
doação qualquer referência a serras de água, mas Gaspar Frutuoso diz, em S a ~ ~ d a d e s
da Terra. que Iiavia nas freguesias do Seixal, Boaveiitura, Saiitaiia, Faial e Macliico,
todas pertencentes a essa capitania, sítios com aqucle noine.
Grande vantagem traziain estes engenhos, pois o seu funcionamento era siinples e
reqiieria pouco pessoal: o serrador, que o punha ein inoviinento coin LIIIIpé, e OS S ~ L I S
ajudantes, que Ilie iam chegando os troncos para serrar. Dali saiam as thbuas para as
caixas onde se exportava o açíicai-, eni qiiantidade sempre cresceilte, além de todas
as outras, de diversas grossuras e tai-iiaiihos, destinadas ao fabrico de móveis e con-
slrução de casas e eilibarcações, na ilha e fora dela.
A "sei~ade água" de maior fama e uma das inais antigas, pois já existia ein 1440C
antes da doação da capitania a Gonçalves Zarco ficava iio interior da illia, iin fregue-
sia da Ribeira Brava. Tal importância assuiiiiu, que deu o noinc a unia iiova frcgtie-
sia, criada em 1676. Oulras srio niencionadas em documentos antigos, sobretudo as
do Norte, que era ondc mais havia.
Estes engeiilios movidos a água não se destinavain excl~isivainetitea serrsçi'ío de
madeiras. Muitos eram utilizados para fabricar açúcar. Uma carta de inercê, datada
de 1492, menciona uma "serra de água", pertencente a "um cerrado de canaviais", na
Ribeira de Santa Luzia, cerca do Funchal.
O trabalho das "serras de água" era feito, na maior parte, por escravos. Ao falar da
introdução destes engenhos em S. Mig~iel(Açores), Gaspar Fr~ituosoalude a uin pro-
prietário de Ponta Delgada que comprou umas "boas casas sobre a Ribeira, junto da
ponte, onde mandou fazer um engenho de "serra de água", como os da ilha da
Madeira com seus escravos e um João Lourenço, seti criado, que era o mestre do dito
engenho e endereçava os escravos.

AZENHAS - Outros engenhos forain inontados nas margens das ribeiras, desde
o tempo dos primeiros Donathrios da ilha: as azenlias. Nelas se moia, pelo rudimen-
tar processo de duas grandes pedras circularesCas mós do trigo e o inilho que a terra
ia produzindo. O sistema era o inesmo do Reino e ainda hoje usado pelas populações
rurais mais atrasadas.
Tal como as "serras de água" e os engenhos de açíicar, as azenhas davam grande
proveito aos Donatários, que tiiihain o direito da sua exclusiva exploração, cobrando
determinada inaquia pela inoenda. Muitos cainponeses eximiam-se a esse eiicargo
moendo os cereais num pequeno inoinho manual. Esse trabalho estava e está a cargo
das mulheres, pois ainda hoje pcrsiste em várias freguesias da ilha.
Engenhos, "serras de água" e azenhas deram As inargei-is das ribeiras uin ambiente
de actividade huinana que se ia intensificando A medida que o povoainento progre-
dia e o aproveitanlento das madeiras e da terra, pela agricultura, se ia desenvolven-
do. Era sobretiido, e nalguns sítios exclusivamente, na Priiiiavcra, que essa aclivi-
dade existia. Então a vida animava-se de novas expressões, nesses lugares que só
conlieciain a majestade das montanlias e, conforme as Estações, a alegria e os
ímpetos da água. Muitas vezes os temporais e as enxurradas destr~~iainCcoino ainda
hoje toclo o trabalho do hotnetn e o próprio boniein. Mas tudo recomeçava, persis-
tenlemente, corajosamente, mal a tormenta passava e o renovo palpitava nas seivas
vegetais e no coração huinano.
Foi das margens das ribeiras que partiu o primeiro impulso 5i econoinia da ilha:
pelas regas, embora limitadas aos palinos de terreno que Illes ficavam perto, ein
plano acessível; pela serração das madeiras, pelo fabrico de açUcar e pela rnoenda de
cereais.

[Maria Lamas, Arqzripélago da Madeira Maravilha Atli~tica,Funclial, 1956,


pp.25-26, 47-49, 56-59, 100-1021
HORÁCIO BENTO DE GOUVEIA [I966 E 19701

Ruralisino O Mzindo começou assim

Na ausência do liomem, o mundo não era muiido. Sem haver quem percepcionasse
esta criação de mar e terra, iiein o espaço nem o tempo teriatn existência. A vida ein
plano inferior, sein atitude pensante, ignorava o mundo. E o vazio, o nada, seria uina
realidade que, afinal, não era. Não a obseivavarn os olhos conscientes. E um inundo
iníitiI rodava no espaço, no silêncio da noite e do dia, à espera da aparição humana e
ela surge. O mundo começa.
Devia de ser assim. A imagem de tarde de Inverno nos confins da freguesia rev-
elava o cenário físico do inundo quando principiou a ser E o tempo entra de marcar
no contingente e no perecível o determinisrno de tudo que está a ele sujeito.
Mas o homem ergue, irresoluto, a face, em tomo. Devia de ser assiin. Lutavam
com ele os elementos. Assoinbrado, esgazeava os olhos em volta, inas não meditava
porque a natureza era sobranceira i sua pequenez e o deprimia.
Quando coineçou de pensar no destino da vida, tinham volvido anos sobre anos.
Na riba penugenta de ervinhas maceradas do chicote do vento, aniontoavain-se
l~edras.E, lá ein baixo, ao fundo, o mar rebrainia acometendo as rochas. E a urrada
das ondas espedaçaiido-se era sensação pertinaz dentro do ouvido. O mato de bardo
resguardava as cercas das viiilias, e os tufões, ululantes, vergavam o tapume de urze.
Um cheiro adstringente a maresia penetrava etn todo o corpo.
Agora, vindo do largo, da superfície aborregada e movediça das águas, uma corti-
lia de iiévoa desfaz-se em cliuva e, outra, compacta sobe a iiioiitanha
Netn vivalnia Este carreiro que não chegou a ser aberto no alto da riba é Pouco
batido pelo caminhaiite. Mas conhece-se.
Fica entre a cabelugein da erva ainarelida sinuoso, quase sumido, vestígio
reinaliescente de passadas humanas, que de longe ein longe liouvessein trilhado a
beiça escalaviada da penedia.
O ambiente esporeia a reflexão. Coineçou o inundo, que teve iiin principio ao
haver existência, tal o do lioineiii ao estai-recer-se coin o especticulo que cleparo~i,da
montanha e da árvore, da chuva e do ve~ito.Ali o vejo, naquela fazendola os pés
descalços metidos na terra a enxada a levaiitar-se e a baixar-se, os regos a eiicherem-
se de água. Arregaçadas as mangas da cainisa, a cliuva a escorrer pelo rosto encor-
reado, tisnado e curtido da intempérie das estações, retrata-se nele o tipo físico da
raça mediterrânea, produto de uma educação de caricter espartano, priinitivesca; é
bem o hoinem que arreinete com a ilatureza, sentiiido-lhe o peso, coni todo seu
gravame.
Cérebro coin a centellia da razão, a ideia fixa do utilitário dorme com ele, iiias de
um utililtírio avesso a pretensões que não seja111 as coiicernentes ao seu nii~ndofainil-
lar.
Regresso à vida que coça. Deixo-ine imergir na simpleza riistica de uni teinpo que
já foi. O espírito retrocede.
O mundo esth ali figurativo, na imageni do hoinem a cavar a terra absorvido na
esperança da semente que Iiá-de germiiiar e produzir collieita pingue.
Que lhe importa outra ideia metafísica que não a de Deus!
Nunca ouvia falar, com certeza, das obras de pensamento de Santo Agostinho. E
para qué? As de que vivem seus sentidos e que constituem a realidade vegetativa,
sem as quais a vida nilo teria o significado do múltiplo que se vai desdobrando em
gerações sobre gerações, são do alvorecer do mundo porque sem elas o mundo nunca
fora
E no semblante se reflecte o estigma do pecado, depois que JeovA assiin falou ao
seu antepassado primeiro: - "Comerás o pão com o suor de teu rosto, até que tomes
à ferra de que foste feito."
Prevalecendo-se de uma experiência de hábitos ancestrais, o homein que ali
revolve o solo participa de quadro bíblico.
Agoniza a tarde. Esbracejam os galhos cadaverosos de uma figueira que hh-de
ressuscitar q~iaiidoo vento norte for mais macio.
Para trás ficaram os confins da freguesia, os coiifins do inundo.
O mar não se calou. Sente-se uma zoada que vem de u111 tempo ein que não havia
tempo.
Este caminho resvaladiço do lagedo, está metido entre iiiuros de rocha arruinada
a esmo, o qual a geração dos colonos de Afonso de Sanha teria dado a forma que per-
manece ainda nas curvas encolhidas; as paredes flaqueando as quais, de altura de
metro nuriia parte e para além da medida, etii outro, quase se tocam, de convizinhas.
Enconchou-se a gente do sitio. Enferrollio~i-sena ignorância feliz de que o tempo
vai corroeiido as vidas. Dentro de casa ouve-se, lá foi-a, o redemoinho da ventania
açoitando tudo que tem caule e ramos.
Não se surpreeiide o crepúsculo, agora, que a noite é o próprio céu a descer, a
tornar igual o que era dcsigual na forma e na cor.
Ensandeceu vulcaiio. Longe, na barra mariilha, constantes clarões facheiam o
cinzeiito-escuro que prenuncia a noite a envolver o mar, O deus roinano é apenas
lembrança da l-iistória antiga, dos l~oiiiensde 1iá dois inil anos. A gente da aldeola
encafurnada no seu casulo, atenta ao eco do trovão diz, de si para si, que o poder de
Deus é grande. Sempre considera a sua insignificância perante o Ser superior que
existe estranho i iinagiiiação, outrora criadora dos muitos Vulcanos, divindades
necessárias porque elas inai~ií'estavain os feiióinenos naturais, mas de causa iiiiste-
riosa.
Entreabei-ta, a porta despilitada, a minúscula lojiiiha do sapateiros, tia revolta do
velho caminho. não tem prateleiras coin sapatos. A qual indústria, limitada ao co~i-
serto, acha-se e111 vias de extinguir-se quanto ao fabrico de calçado novo. Sentado na
banca de til de três pés, 11ão sabe ele explicar que nada permanece, pois que a
mudança é lei dos seres e da vida. forem, a razão do progresso que inata a pequena
indústria inanual, niío a ignora: a máquina tudo suplanta.
- S6 a clluva é como a que caiu no teinpo de meus bisavós. e o vento corre da
mesma maneira. A gente é que eiivelliece.
I-Iá uiil principio da Razão que é iinp~ignadopelo raciocíiiio que se vai cxpondo:
O que é,
Mas se vai envelhece~~do, deixa-se de sei: logo o priiicipio da contradiçLo opõe-se
ao que se percepcioiia coin o decorrer do tempo.- Mas que é das vozes liuil-ianas'?
Parou de choves. Continua a azinhaga deserta. Cerrou-se a noite. A zoeira inter-
mitente do inar no desespero inútil de tragar a terra, funde-se o zunido do vento forte
desfrançando os pinheirais densos dos declives da montanha, a empinar-se em aba de
chapéu. Assim começou o mundo com a iinagein provinda da emoção geográfica e
huinaiia vivida nos confins da freguesia.

Funchal, Março de 1966

A árvore e o Homem. Os pllítnnos do nçozrgzle

Sempre teve o liomein familiaridade com a árvore. Ser que produz aliinento e
soinbra; ser utilitário desde que foi simples percepção para defesa da própria vida, o
Iioinein despojou-a dos ramos e esquaitejou o tronco para de ele fabricar tábuas e
com aquelas constr~iirseli tugúrio pobretana. Mas seria ein primeiro lugar o interesse
material que acorrentou o homem à Arvore possível.. Poré~ii,pode conjecturar-se out-
rossinl, que niio, se reflectirmos no factor religião. A q~ialnasceu quando os olhos se
abriram para o exterior, O mistério desvendado do aparente criou O espanto no iiiex-
plicável que envolvia esse mesino aparente. e a árvore, na pujança de seu todo, na
fascinação do tronco, ramos, follias, flores e frutos revelou-se o siinbolo da força cri-
adora, o princípio donde provém toda a existência. E o culto da árvore veio, como
todo o coi~lieciimento,de fora para dentro. A árvore é a vida, lorna-se a árvore da vida.
Prova da noite dos tempos o culto da árvore sagrada. Já entre os habitantes de
Creta, as jovens e as iiiullieres idosas ofereciam à diviiidade flores e frutos. Essa
deusa encontrava-se em santuirio cainpestre; no meio das árvores, adornada de flo-
res na cabeça e segurando flores nas rnilos.
Este priinitivistno pagão, ciilgido de mistério, continha sua essência poética.
Projectava o homeiu nos seres sein vida liumana o seu psíquico, a sua vida intcrioi:
e tudo se hunianizava. Não existe o ser ii~coiiiunicável,isolaclo, mas Liliia iinidade 110
contraste das formas e das s~ibstilncias.
Das Arvores que eram l-iome~lageadas,o plálano ocupava uma sit~iaçãode privilé-
gio. Prestava-se-lhe o tributo correspondente à siia espécie. Depois os fiéis con-
sagravam à deusa Réa. E as plantas jamais deixaram de associar-se 9s divindades
através do tc~lipo.Isto 110 politeísino e no inonoteisino. e cla arvore excedeu o peca-
do do I-~oiiiem.
O plAtano foi uma árvore sagrada. Anda a ela associado o noi-iie dc Plntao. Foi
quniido o filósofo, no regresso da sua jornada a ilha cla Sici 1ia, coinprou Lima casa
coin jardim nas cercaliias de Ateiias. A curta distancia da residência Iiavia LIIII canipo,
que pertencera a Academos, herói da Ática. Ali sc organizou L I I ~ Iginásio e se coii-
struiu ~1111sant~iirio.O discili~ilode Sócrates dava enlTio as suas lições 21 soinbra dos
plátanos que fechava111o reciiito.
E esta árvore de tradiçiio religiosa. e impregiiacla da voz do lilósolò, que proriisa-
mente se esparrama por terras mediterrâneas. E dé na illia, que é nosso habitat, o p16-
tailo viceja por toda a parte: lia cidade, nas vilas e nas freguesias.
O dia da irvore coinemorou-se neste Dezeinbro. Niio Soi einbalde q ~ i cno meu
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

espírito se retrataram os vellios plátanos do Zargo do Açougue da Ponta Delgada. Na


sua vetustez, revejo-os tais como aparece que uina cercadura deverá defender o tron-
co dos inaus tratos da gente ingrata, ausente de sentinieilto estético e de afecto pela
árvore que, enche de sombra o largo, 110s dias candentes de Verão. Partilliam do
pitoresco da aldeia os velhos plátanos do açougue. Esta nota devia ficar exarada no
livro que ainda iião existe inas que Lim dia será realidade na biblioteca do Muiiicipio:
"o livro de memórias das belezas naturais do Concellio"
O dia da árvore é dia em que o pei~sainentoanti-arboricida será a própria con-
sciêilcia: plantar a árvore, proteger a árvore, ver liela criação divina, necessidade da
vida Bsica e de nosso espírito que vive de seiisações afectivas do inundo vegetal,
dentro e fora dos povoados - a planla sempre foi objecto de culto: do religioso e do
belo. O culto da árvore faz parle do iiistiiito. Má que o despertar, ao ineiios Lima vez
por ano, para que se recalqiie outro instinto que é o da destruiçc?~.

Funchal, Setembro de 1970

[I-lorácio Bento de Gouveia, C~dónicasdo Norte, S. Vicelite, 1994, pp. 16- 19, 28-
3 O1
POESIA
A poesia é um dos momentos de exaltação da ilha como espaço paradisiaco. Isto
acontece de diversas formas mas o poeta rende-se quase sempre a alguns estereóti-
pos. De entre os mais comuns podemos referenciar as flores, silvestres ou dos
jardins, as montanhas e os recantos paradisiacos da ilha que se transfonnam rapida-
mente em atracção turistica: o Pico Ruivo, o Rabaçal.
Em muitos dos poetas a identificação com a ilha acontece de forma espontânea ou
forçada. como e o caso de Leandro de Sousa. Para muitosa verdadeira imagem da
ilha é a da iniãncia, onde a inocência da idade se confunde com a paisagem. Esta
devera ser uma impressão de saudade dos que partiram e que regressam a ilha em
sonho. E assim em Edmundo Betiencourt. A saudade, impregnada da total identifi-
cação com a ilha e exaltação extrema das belezas, domina os versos dos que partiram
e que cantam e exaltam a ilha para matar saudades. Comungam deste ideal Fernando
A. Gouveia, Armando Santos, João Vieira de Luz. A partida e a magoa de perder o
encanto, recanto do paraiso, é o mote de João da Câmara Leme.
As memórias e as vivências retêm-se por vezes em pequenos quadros do meio nat-
ural: Um pinheiro envolto em lenda (Eduardo Pereira) a murteira do quintal (Pe.
Jacinto da Conceição Nunes), o eucalipto que desafia o céu (Baptista Santos), a flor
agRste (Ana Bela Pita de Silva).
A presença do homem é também notada. É o ilhéu que desafia a natureza, traçan-
do as levadas (A. Figueira Gomes) ou hu~iianizando-a(Manuel Tliomas e Silvério
Pereira). O secular processo de humanização do quadro natural não é considerado
uma intromissão, antes pelo contrário define-se como uma forma Iiarmoniosa de
inter- acção. A iniciativa humana parece enlevar este recanto do paraíso. Manuel
Tl-iomas define o Funchal como uma criação do primeiro europeu, uma obra singu-
lar da natureza.
Para o forasteiro, como Bulhão Pato, é também esta aliança do ilhéu com o quadro
natural que o faz exaltar a beleza da ilha. O paraíso redescobre-se, não nas zonas
recônditas de floresta mas adentro das quintas, onde o verde do denso arvoredo se
confunde com o colorido das flores. É uma atitude dominadora do homem com pose
a condizer na varanda frontal da casa que dornina todo o conjunto.
O que mais se evidencia nas trovas e rimas da poesia do nosso século é a vivên-
cia do quadro natural da ilha através de imagens de infância. O poeta raralilente
evoca aquilo que vê e o envolve no momento da escrita e, quando o faz, refugia-se
em quadros particulares. Tão pouco a atenção presente e vivencial se enquadra
naquilo que desafia a liamonia e a beleza deste quadro.
A ilha continuará a ser a imagem do Eden, mesmo coni as encostas despidas de
arvoredo, ou face ao desafio da visão infernal do fogo devorados, A imagem, ainda
que só em sonho, é isso, o Paraíso. Todo o mais pertence ao real mas destas vivên-
cias não se constrói o discurso poético da ilha.
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MANUEL TBOMAS [I6351

A ribeira corrente, & espaçosa Brava será nas Rochas, cuja altura
Illuslrarh de sorte este Terreno, Chegar pretende aos Astros luminosos,
Que farh ser a Villa, a mais famoza, Brava nas Plantas, de alta ferniozura,
E todo seu districto sempre ameno, Que varios prados formaõ deleitozos,
De Tristão a vontade cobiçoza, Brava em agoa crystallina, & pura,
Seu porto 118 de estimar por mais sereno, Aganipe de engenhos curiosos,
Julgando a vista alegre, & a grandeza Pois por ser esta, em huma, & outra fonte
Por obra siiigular da Natureza. Parnaso hé junto della, qualquer Monte
(....)
Passando ao Fiinclial, darás abrigo Alem destas grandezas na cultura
Eiii os Ilhcos, as Náos, onde amparadas, Tera quanto ti vida hé importante
Nno teiiieráin d e Tlietis o perigo. De carnes, cassa, & fructas, com que apurn
Nciii as fi~riasd e E o l o indignadas, Melhor Pornana riqua, a gloria ovante,
E vendo na ei~seadao Porto amigo, Com livre Baccho, cobrari ventura,
E esta, iiiayoi que as outras enseadss, Que por da flava Ceres abundante
Morada erigirhs num sitio forte A sés çeleiro do Fuiiclial se applica,
Pcra abrigar, cõ'os ííllios a consorte . Como Siçilia o hé de Italia Rica.

Ondc dcspois, coiii gloria peregrina Daquy em huma Ponta que se estende
De seu Zelo Matliolico a memoria, Cõ'os Mares de Neptuno mais inchados,
Fabricarh Iium Templo a Cathcrina, Darás; em cuja rocha, & vista pende,
Que dará por priiiieiro, ao Funclial gloria Huin Sol coin claros rayos retratados,
Aqiiella Saiicla, que preqiosa lilina O Porto que dous montes altos fende,
Foi cla sçiençia que Ilie deu victoria, E podem Olympo, & Ossa sér chamados,
A que clcixou aos Sabios na estacada Pella Ponta em que P h ~ b oestá cifrado
Vencidos, Sanctos. & ella Laureada. Seri Ponta. do Sol despois chamado.

Despois coiisultarás sobre o intento Onde huma nobre Villa edificada


D:I terra, que ser deve cultivada, Se verá, tam segura eiii fortaleza,
Que pcra dar priiiçipio a seu aiigrilento, Que de Marte será Caza chamada
1-16 bcm que c o ~ ntrabalho tenlia entrada, E Torre forte que Bellóna preza
Mandarás Fogo pâr, ao ornamento, Que pello riquo sítio da Lombada,
Coiii cltic priineiro Iòi por Deos Criada E, por sua abundancia na riqueza,
Cuja violençia a todos p6rh medo Mais que por ser do Sol de quém se chama,
Atcacla no Iiumido lirvoredo. Anibas lerám no mundo nome, & fáma.

Logo tlo GyraA cabo onde chegaste, Tam riqua esta lombada venturoza
114s h liuma Ribeira caudaloza, Será, nnvs abundantes iiovldacles,
Que nti terra terá graininèo engaste, E em o Nectar do açuquar tam ditoza,
liida q ~ i cIii lia corrente f~iriosa, Que fáma gozará largas idades;
Vcr sua Gr61ii purcza a vista baste De tua Alta Progenie Generosa
I'era sei ao desejo cubigosa, Será riqueza, & be te persuades
Posto cliie por correr aprcsurada Se escolheres seus sitios exçellentes
VirB 13rav:i Ribeira a ser chamada Pera lioiirar teus Illustres Desçendentes.
Tainbeiii ein esta, villa aquellc cspiinto Mas na j~irisdiçámentain hniozu
De virt~itles,altivas Perigririas Dc Machico gloriosa por grandezas,
Lia6 Heiiriqiics, iiasçera; que tanto Avera outra Villa Populoza,
Coin ser Ii~iiiianas,as sara divii-ias; Que excederá de muitas, as riquezas,
Confiado Liaõ, Ministro sancto Em ediffiçios altos gloriosa,
Qiie ouro seri do Céo lias riquas minas, E de valor tarn claro nas nobrezas,
E de Iesus na sancta Coii-ipaiihia Que nella o Troculento, & gráiii Mavorte
Militará pera ii-iayor valia . Terá contra os de Agar ditosa sorte

Mas ja cortando de Ainphitrite os Máres Suas frescas Ribeiras, de agoas claras,


O Porto deixarás, do qiie a Phaetonte Fará111fertis, séus Cainpos deleitosos,
Dé~ipor honras a sy particulares Verdes séus valles, suas vistas raras,
O carro, que abrazou Pyrois, & Etlionte, I'ellos montes, & prados espaçosos,
E pastando coiii glorias sii-igulares, Responderlhe háin as terras nada advaras,
Hiiin Arco largo, de hiiiti subido monte, Com os Sriictos, oppiinos, & feriiiozos,
Verás Ii~inlPorto, aonde por regalo No Cainpo acrcscentai-ido Valle, & Serra
A maõ farás calheta pera entralo. Salubridade o Ar á fiesca Terra.

Este noine darás a hun-ia ferinoza Mas porque della vejas a exçellençisi
VilIa, fazendo ally que se edifiqiie Ein que coin iiieu favor ir8 cresçaiido,
Que ein gente nobre, rica, & generoza, Mostrarte qiiero a t ~ i adesçendeiiçia,
Com grandezas farei que niultiplique; Que Ilie esta mil graiidezas proiiietendo,
Dc qiiéin a esperança mais ditoza, De outros verás tainbeiu a preiniiieiiçia
Hé bein que a tuas glorias ho.je applique, Que por Feitos a iráni eiinobrcsçcndo
Pois ldm de dár coiti Noiiie de Exçelleiiçia E de todos aqueila iniinortal gloria
Nome inais alto à tua Desceiidencia. Qiie ás Musas pede Sán-ia, & doçe Iiistoriti.

Quiiiitlo nos fr~ictostanto a Terra augiiiente, De sêu trabalho a gloria ineresqicla


Serám iiovos Iiigares coiihesçidos Alegra a'o Zargo eiil ser lhe assi inostwda.
Effeitos da riqueza, que eiii a gente Considerando a pena padesçida
Altos Teinplos fará, sér erigidos; Sêr coin tai1-ijusto premio bem pagada,
O daquella Ditoza Penitente, Que por Paltna da luta coiiliesçida,
Qtie deixando de Christo os pés, uiigidos, E por Louro da gtierra atriis passada,
Teve na obra, Sing~ilarIiistiça Reiii hé que goze ein sêli descobrimeiito
Despertando de ludas a cobiça Gloria ~iitevisla,eiii tarn Ièliçe aiigitiento.

Eiii o lugar da Magdalena digo Bei-ii li6 qiie goze novas alegrias
Que este coin gloria se veia illustrado, Ein o augmeiito da Tcrra desc~iberta,
E pello iioiiie da que teiii coiisigo E que tr6s do trabalho ein tantos dias,
Com fánia ein partes varias divulgado, Veja a gloria qiic tinha por iilçcrta,
Tcri este Terreno por aniigo Avaritejaclo ein estas propreçias
O c60 beiligiio ein skii favor, & agrado, A graça de seu preniio terh certa,
E mostrara nos Sructos coiii riqueza, Que quéiii ].ximeiro no trabalho Iiá sido,
Quanto seu sitio. por tais glorias preza. No preinio a'os inais li6 beiii, ser lirefericlo.

(Manuel Tlioinas, Iri.sul~iri~r,


Aiitufipia, 1635)
TROILO DE VASCONCELOS DA CUNHA (1654-1729)

O Primeiro Homem

Na estátua imóvel inspirando vida, Como se o bnito instinto fora aviso,


A aura vital do soberano alento, Lhe tributaram sujeição discreta.
AO barro a forina huiiiana transferida A cada espécie o nome pôs preciso,
Teve o corpo insensível inovimento; Que a brutal propensão nunca indiscreta
E o racional, por luz nalina infuída Guiou aos pastos, Bs nativas fontes,
De queiii lhe dera o ser conhecimento, Aos bosques, grutas, vales, selvas, montes.
Pois o eterno poder, que ao Mundo impera, Adão, corno entendido, de enlevado
Claramente entendeu qiie o ser lhe dera. Na alta conteinp1ac;Bo da eterna essência,
Saiu Adão forinado seni dereito, Da terra e ceu no movimento e estado
Da ilat~irezaassoiiibro portentoso, Se traiiportou, por alta previdência.
Nas exteriorcs porpoções perfeito, De suave Morfeu arrebatado,
Nas perfeições internas prodigioso. Infuso por divina inteligência,
Influindo nos ânimos respeito Se rendeu ao primeiro êxtasis forte
Gesto severo, aspecto decoroso, Que a vida alenta, figurando a morte.
Tanta era a majestade que exprimia,
Que a Fereza cios brutos o temia.
Todos lòrarn buscá-lo ao Paraíso, [Luis Marino, Mtlsn Ir?szllar(poetasda
Jardim quc céu na terra se interpreta; Madeira). 1959, pp.32-331

FRANCISCO MANUEL ÁLVARES DE N ~ B R E G A [ ~ S O ~ ]

A4uch ico A Ilha da Madeira

Na lialcla d e dois ingreines rochedos Do vasto Oceano flor, gentil Madeira,


Que levai-itiio ROS ceus fronte orgulhosa, Que de murta viçosa o cimo enlaças,
Existe de Maxiin a Vila idosa Sóbria a teu seio amamentando as Graças
Povoada d e escassos arvoredos. Co'o o vitreo suco da iinortal Parreira

Pclo il~eio,alisando alvos penedos, Daquele, que ein ti viu a luz priincira,
Desce extciisa Ribcira preguiçosa; Se acaso 6 crive1 que ainda apreço fadas,
Poréiil Pio crespa na estaçlo cliuvosa, Entre o prazer das brincadoras taças,
Que aos Incolas inrunrle espanto c inedos. Iiecollie a minha produção rasteira.

As ~iiargei-isdella, em Iiora ateiiusida M: donativo escasso, eu bem conheço;


Vi a priiiieira luz do sol sereno Mas o desejo que acompanlia a off'renda,
Eii-i pobre siiii, iniis pateriial morada. Lhe avulta a estima, lhe engrandece o preço.

Aos trabalhos ine al'fiz desde peqiieiio, Deixa que a roda o meu Destino prenda;
O abrigo cleixei da Patri~ianiacla, Ein cessando estes inales, que padeço
F: vi111 ser iiil'eliz. noutros terrenos Talvez então mais altos dons te renda

[Francisco Mail~ielÁlvares de Nóbrega,


Rit~iasY,Lisboa, 18041
MANUEL GOMES PAIS(G0MES PAIS)?-1890

Flor do Ocenno
(A. Joaqzlim Pesfalzrr)

Pérola encantada! Ilha formosa! Lá, nessas tristes e crueis paragens,


Raínlia destes céus e destes mares! Ingrata e dura terra arroteando,
Ingrata para os teus! ... mãe carinliosa Junto cotos escravos e selvagens,
Dos louros filhos das nações polares ... Vão os erros passados lamentando!
Se iná estrela persegue e acompanha
Q~ie,deixando Liin país nubloso ... escuro O miserando e pobre aventureiro,
Buscando veein paragens mais amenas, Não hEi p'ra o desditoso terra estranha,
Até que em teu seio generoso e puro E sua pátria adoptiva o mundo inteiro!...
Eiicontrein lenitivo as suas penas!
Hospitaleira inãe do viajante, Mas trocar pela campa a estância piira,
O qual, duin a outro polo o mar sulcando, Deixar, dos seus, afectos e carinhos...
Aqui te encontra ... qual bondosa amante, E ir a uma plaga inóspita c dura
P'ra o desejado esposo caminhando! Cliorar saudades do patenio ninho...

Estância venturosa! pátria amada E excessa ambição! é desatino,


De iluslrados varões, c~ijaiilcmória Expor-se da fortuna, aos vis azares!...
Será eternainente respeitada Mas o argonauta após o velocino
Por quer11 ler, sem paixão a lua história. Morrer não teme... vai sulcando os mares!
Tiveste outrora a glória que inebria ... Icaro na prisão co'a vida incerta
Eras pod'rosa e bela! eras contente! As asas exp'rimenta ... e presunçoso
Hoje? uns longes, uns vivos dalegria Do negro labirinto se liberta,
Mostrando o teu sofrer interininente! E noutro vai cair, mais desastroso.
Coino todas as inães, filhos ingratos Tal o desventurado a quem a sorte
Abriga teu seio de inimosa fada! Por toda a parte perseguindo vai;
Q L I ~sem
, pudor te olvidarn, te dão tratos, Ancioso almeja a fortuna... ou a inorte
Coino se foras inãe desnatiirada! Até que descrido, no abisiilo cai!
Que ein lutas pueris passalido a vida Nobre Flor do Oceano! essa beleza...
Ou ria orgia, i10 jogo e lupanares OS teus atractivos ... teus encanlos
Dissipam a fortuna já esvaida Oferce~i-tosa sábia natureza
Privando de calor os próprios lares! Digna doutros louvores, doulros cantos.
Mas vendo-se a final do abisrno h beira
E o horizonte da vida a escurecer,
Da sua desventura a história inteira [Luis Marino, Mzrstr Iiisz~l~ri.@oetns
da
A estranhas regiões vão esconder! A4ndeii.rr), 1959, pp.75-761
~ 0 Ã FORTUNATO
0 DE OLIVEIRA 11828-18781

No pico niivo
(Exce~~tos)

Salvé! Salvé! penhasco alteroso, Que o pobre enfermo com tcu ar alentas,
Salvé! monte de núveiis c'roado, E Ilie acalentas uma esp'rança qu'rida!
Que coiitemplas ufano, orgiillioso, D'hoinens ignaros inda hoje os erros
Fuiido abisiiio nas peiilias cortado! Contam os cerros d'escalvado pico;
Qual riiadeixa, que a Sroiite rugosa, Mas teus jardins e teus vergeis donosos
Rara cinge d'altivo ancião, Dizem radiosos quanto o solo é rico!
Fresca raiiia te cerca viçosa, Por onde outrora se ostentavam iiiatas,
De urze adusta que afronta o tumo. IHoje retratas inquieto o mar,
Deste cinio, qiie se ergiie gigante, De loiras inesses na ondulailte espiga,
Coiiio apraz longas vistas lançar! Próvida aniiga de cainpónio lar!
Ver os raias do sol deslumbrante, D'estranlios climas, regiões distantes,
Ao surgirciii, as águas doirar! Contas bastantes no teu seio fillias,
Branca iiiivem, qual fioco de prata, Que em ti vicejam e florecein belas:
Ver libar-se na espalclii CIO monte; E tu com elas orgulliosa brillias!
E o Oceano, que uiii circlo retrata Madeira! ó pátria! quando alCrn dos mares,
Vir a terra abraçar no Iiorizonte Longe dos ares do torrão que é meu,
TLIme apar'cias na saiidade, 6 fada,
Sobranceiro As selvas e prados, Meiga, adornada de visões do céu;
Sobranceiro hs cristas erguidas,
Aos peiihascos p'ra os céus eriçados, Eiitiío da lira ine inspiraste os cantos,
As cncostas de Selos vesticlas. Por ti ineus prantos eu senti correr;
Que inigoa intensa que por ti gemia,
Coiiio a iiliiia se sente abrasacla, E aos céus peclia de inda aqui volver ! . . .
Coiiio se ergue o altivo pensar,
Abraçaiido co' ii visia enlevada, Volvi!-e agora iieste aliar erguido,
Céu, ribeiras, colinas, e mar! Eis-me atrevido coinpulsando a lira:
Madeira! 6 tcrrn de viçoso encanto! Aceita, 6 pátria, as derradeiras flores,
Que liiido niaiito, que veiclor. que aronins! Quantos amores o teu solo inspira!
De l'rescas 6guas cliie siiiicl»sas L'ontcs!
Que altivos iiiontcs! qiie fronclosas comas!
Madeira! ó terra cle suave clima, [ Luis Marino, M~rsabvt~lar(poetasda
Que o cku aniii~ncom Sulgoi; coin vida; Madei~.a),1959, pp.123-1241
JOGO DA CÂMARA LEME HOMEM DE VASCONCELOS
(JOÃO DA CÂMARA LEME)[1829-19021

Adeus a Pátria As tuas belas campinas.


... adeus!. .. Terrível Verdejantes, esmaltadas;
amargo adeus é este ... As aguas tão cristalinas
Eu parto. Força é deixar-tc, De tuas fontes nevadas:
Pátria ininlia idolatrada. Tudo quanto a natureza
Eu vou por outra trocar-te, Te ofertou com mais beleza
Terra doutras invejada; Do que as terras mais prendadas:
Mas, se partir resolvi,
Tornar-me digno de ti E, o11 céus ! como dizê-lo!
Só quero, mãe adorada. Um anjo arrebatados,
Q~reé o meu pensar, ineu anelo,
Se deixo o clima saudoso Que me enlouquece de amor;
Que possires tão criador; Anjo que em tudo diviso,
O teu ar delicioso, O sol deste paraíso
Perfuinado, animador; Que é do atlântico a flor;
O teu céu de azul escuro.
Tão lindo sempre, o mais puro Se tudo deixo e me ausento,
Que deu ao rnundo o Senlior: Se estranhas terras procuro,
O sol vivo e radiante Não só buscar eu intento
Que te desperta e dá vida; Porvir mais certo e seguro;
A clara lua brilhante, Nutro no peito outra esp'rança;
Raro ein niivens envolvida E' inaior a confiança
B e ~ ucorno as brancas estrelas, Que ora teiilio no f~~turo.
Que lá fulguram tão belas
Ein distância desmedida: A voz que pede riqueza
Os montes teus magestosos, Mal a ouve um coração,
Altivos, alevantados, Onde alto brada a pureza
Por frescos vales viçosos De filial gratidão;
Uns dos outros separados, Se a pátria ser proveitoso
Par'ceiido niedonhos mares Eu poder, serei ditoso;
Que a tormenta ergueu aos ares É essa a minlia ambição.
E íòrarn petrificados;
Tão puro, ardente desejo, Adeus. Sei que longa
Possa-o eu cumprido ver; Será minha ausência;
Possa sem corar de pcjo Se, porém, eterna,
Aos lares pátrios volver! Sabe a providência.
Se for neles acolhido, Mas antes que eu deixe
Como é sempre uni fillio qu'rido, Teu doce regaço,
k conipleto o meu prazer. Oh! não me recuses
Urn estreito abraço.
Terra onde nasci E tu, que inspiraste,
E que me geraste; O virgeni, meus cantos,
Berço que na infância Recebe ~iinadeus,
Meigo me embalaste: Meus ais e meus prantos
Formoso jardim,
Aonde ein folguedos Eu parto. Força é deixar-te,
Passei da poerícia Pitria minha idolatrada.
Os dias tão ledos; Eu vou por outra trocar-te,
Teatro aprazivel, Terra dc outras invejada;
Que ora i juventude Mas se partir resolvi,
Me mostraste encantos, Toniar-ine digno de ti
Que fugir niio pude, Só quero, inãe adomda.
E assim ine prendeste
Ein inaga ilusão,
Escravo tornando [Luis Marino, hl~isaIn.~ztln~~(poetas
dn
O meu coração: Madeira), 1959, pp. 126-1291

CARLOS OLAVO CORREIA AZEVEDO

A Francisco VLeirn

Cantas a natureza toda inteira, Ao contemplar a cena crepitante


Cantas o jiibilo, tainbéin a dor, E111 ti nasce mais uma inspiração.
Caillas a aura que corre ligeira, Se a núvem densa o Sol escurece
Nela respiras perfuiiies de llor. E a abóboda d'anil triste se toma,
Aiiias cio inai; quando calmo e sereno, E novo estro que p'ra ti se tece
A oncla iiiaiisinlia de terno vagar, E mais um verso tua arena adorna.
Aiiias da praia o inurinúrio aineno, Se a noite chorosa oculta as safiras
Nele ouves uin canto de inago toar. E o astro de prata resta escondido,
O pélago de ninbus que alto miras,
Til caillas da aurora o fausto raiar, TLIO retratas ein canto dorido.
Do sol o clarão, da selva o verdor Admira, poeta, a tua inspiração,
E o canlo das aves cedo a triiiar A tu'aria sentida, a melodia,
E p'ra li, poeta, concerto d'ainor. Do teu pensamento, essa elevação,
Se a lua divaga em noite tranquila E ideal de tamanha fantasia.
No inanto do céu a luz a espargir,
No teu intiiiio também ela brilha
E l i a poesia se vai descobrir! Funchal, 11-3-86.
Se o occano ruge ~LIIO, esclimailtc [Luis Marino, A4ztsa /nsztlnr(poetns da
E de refrega zumbe o orgão, Madeira), 1959, pp.197-1981
BULHÃO PATO [I8701

Que ainpliiteatro, o Deus! que paraizo! No pequeno cerrado, defendido,


Poinares entre as hortas regadias; Pelos cactos e silva lanceolada,
Chapadas, que saudam, num sorriso, De tempo iinrneinorial teiii conseguido
Os abismos clò mar! Mattas sombrias, O colono, agarrado seinpre à cnxada,
Valles, outeiros, picos... Catadupas Tornar inodelo o seu torrão nativo
Rebeiitaiido das broncas peiiedias! Dc fruta e de liortaliça aprimorada!

Uma vivenda além meio escondida, O tornateiro e a ervilha trepadeira


Nas sebes festoiladas de roseiras! No coração do inverno! Sasonado
Os dentes d'uina escarpa denegrida O caclio na recurva bananeira;
Cravaiido-se nas nuvens sobranceiras; No alegrete o ananáz, e j i corsido,
O cercial a brotar dos vãos das rochas; Sorrindo a branca irmã, a flor das ii~ipcias,
A cana pelas margens das ribeiras! O pomo na viçosa laranjeira!

Angras, baías, cabos, proiiioiitórios, Não se imagina o effeito prodiizido


Fajãs virentes, Sumas pavorozas, Pela névoa naq~iellaspaizagens!
Agullias nos phantásticos zi~iibórios, Como através, ás vezes, d'~initecido
Penedos ii~isdc forinas monstiilosas; Tenuissimo, apparecem-lios imagens
No cimo da iiioiitanlia a neve eterna, Iiidisíveis, Lraiisliicidas, pliantasticas,
E seinpre, aos pés, as vagas r~itnorosas! E iiuin momento apagaiii-se as miragens!

Saltos d'água, caindo eiii catarata; Aqui suspensa iiiiia árvore tios ares,
Rotos por dcntro agigantados montes; O pico d'uina rocha! - Aléii~uin lago,
Sobre os abysi~iosdas caudais de prata Que, si~bito,no ineio dos poiiiares,
Os arcos naturaes Iòrniando pontes; Se foriiiou por encanto! Ora, i10 vago,
O sol rompendo a cupula das nuvens, Uin casal, traiisfosiiiado iiliina villa,
E abrindo encatitadores Iiorisoiites! E iins pinlieiros em torres sec~ilares!

Que iiiysterios, que paz, que liberdade, Ao caiiiponez esbelto, alto e roblisto-
Nos Iiorlos e vergéis, lias fontes frias Canlpoilês, que 'iiida agora, em nossos dias,
Dos i~inbrosossubiirbios da cidade! Apelidam i~ilGn- surge-llie « busto
Que saudosas e gratas inelodias Na eininência daqiielas peiiedias,
Se alteriiani entre os pissaros das selvas Por entre o raro veu, como se Sora
E as torrentes cl'aquellas serranias! Inda mais colossal de qiie uni Golías!

Atalaias de Deus, as ermidinhas, Q~ia~ido a névoa é rnais clensa, o alvo lençol


No viso dos oiiteii.os! Nas qiiebradas Forina abaixo dos visos das iiiontaiiliils
Os casais, resaiticlo dentre as virilias; Como uin mar; e, batitlo pelo sol,
Nos vales as ribeiras seiiiaiisadas... Reproduz as liguras iiinis extraiilias-
Que vida a respirar-sc no ar diaphaiio! Monstros e arcaii.jos, teniplos e castellos,
Que pais para as alinas iiaiiioradas! V~ilcfiese cliaina, c tintas do arrcbol!
Voam cisnes co'as peniias infiiiiadas, 0convite do conde. O forasteiro
Naquele oceano aéreo, e quando a vista E velho amigo, nessa casa. Entreinos.
Se vae firmar nas scenas encantadas, Tudo quanto o iiiais fíno cavalheiro
Uin sopro as varre, e fogem pela crista Pode ter no primor do gesto afável
Das serras giganteas - convertidas, Tein o conde iio rosto prazenteiro!
Essas visões, ein n~ivensesiiialtadas!
A condessa - Matilde - a graça viva;
São íògo os montes, onde a flor rebenta! A distinção, a rnáxiilia elegância;
Em hido coi~ea vida exuberante! O corpo airoso de gazela esquiva;
Tem lume a vaga ao estoirar violenta! Senhora, irias sein soinbias de an.ogancia:
Tein sangue a rosa; e espera, palpitante, Raro exemplar de remiiiis encaiitos,
Por uin beijo do sol a violeta!... Miinoso como a folha sensitiva!
Que se dará num coração amante!
É uni dia vulgar; poriiii figura,
(...I Na lauta inesa, a secular baixela.
Ao parque Cnrvallial, leitor, clieg~~einos, Graciosas flores da iiiaior fiescura
Coino eu cheguei, no alvor da mocidade. Ornando a Sruta, sazonada e bela,
Referve o sol dlAgosto. Repousemos Da Europa e Novo-Muiido. Ein ctysiais liicidos,
Nas soinbras e na grata amenidade Cercial pálido e Tinia da inriis pura.
Do fresco Balancal, alta iiiontanlia
Que doinina os subítrbios da cidade. Ferve o "Cliaiiipagi~e"fi-io, e nos convivas
Palpita o coração, pulsa a alegria,
Sigainos pelas ruas einpedradas Que iiBo rebenta ein clainorosos vivas;
Onde as renques de horteiises priiiiorosas Ent~isiasmoque veiu da siiiipatia,
Resaein cin cainbiantes azuladas, Que nasceu improvisa, e que se expande
Das hllias verde-negras e viçosas. No faiscar de frases expressivas!
Que fo~~uosa iiiagnólia, alta e Irondilèra,
De flores rescendentes e nevadas! Vamos deixar a estancia eiicantadora.
Roiiipe a lua dos picos do iiasccnte;
As cariiélias são bosques, que no inverno Veiii afogiieada, coiiio o sol na a1iroi.a.
Se Iiiio-cle cobrir tle rosas aos iiiilhares! Mais alta ji, cliffiiiide braiidameiite
Inverno? Não - direi outono eterno. A luz pelo declivio clas cliapadas,
Das vertentes, dos inontes, dos algares, Onde a cidacle vae surgiiiclo agora.
Ein borl~otões,a forra das levadas
Reganclo seiiipre as 1ioiTas e os pomares. Prateia o mar, que jaz edoririecido;
Treine lias copas do piiilial Ccchiido;
Tiido possui o parque suinphioso DA nitido o perfil do monte crguido;
- Traçado com fidalga bizarria Bate sobre os casaes do tlescaiiil~ado;
A flor selecta, o fizito delicioso; Beija a cruz solitnria do coiiveiito,
Torseiites d'água cristalilia e kia, E o cemiterio, q ~ i cllie fica ao lado!
Que erii lagos se arredoiidain. O rirvoredo,
E o matagal lia bronca penedia! Quc niysterios ria piiz da iialureza!
Os Iioiiiens, hoje, cegos de f~iror,
O es&ícl~ilopavio desvaiiecido, Deixaiii i10 caiiipo, cota iiiaior vileza,
Ao sol absiiido a Iíibrica phiinagein; Os que cratn lioiiteiii seus iriiiãos no amor,
O veado saltão e pressenticlo E n lua, i iioite, triste beija os tuiiiulos,
O í'aisão iiiulticor, que 5i Icve ai-agcm Coino o sol n'alvorada beija a flor!
Sacode o inanto d'oiro; o passaredo
Eiii bando chilrcador pela ramagein. [BulliB~h l 0 , /'~7(/!lil(l - / J O ~ l i l <etrl
l XV/ íI't7ltlf>\, Li~bOli,

NBo podemos partir seiii que aceiteinos 1870, Caiitci VI1; pp.245-250, cniiio VILI, 764-2681
VIEIRA
ALBERTO

LUÍS ANTÓNIO GONÇALVES DE FREITAS [1858-19041

No Rabaçal (Ilha da Madeira) Junto a ti, nós sentimos germinar


Forças, que nos transportam
Deslumbras. corno o brilho resplendente Ao fundo, onde, entre jíibilo sem par,
Diim fantástico céu; Mágoas crueis abortam.
Da natureza altiva e imponente
Icvantas-rios o véu. A prata, que refiilge ein tuas ágiias.
Piiras como cristal,
Jorra do coração dos tetis rochedos, Irradia tainbém nas nossas mágoas
A água, em mil borbotões; Uns brillios sem igual.
Desenrolas uns inágicos segredos
De ignotas regiões. Ao ver tantas belezas, merg~illiaiiios
Num êxtase profiiiido;
Ao ver-te, colhe a alma, em mudo anseio, Nuin sublime cistnar tudo olvidainos,
Deliciosos poiuos; Esquecemos o riiundo.
Tu vens, como uin gigante, seiu receio,
Mostrar o que nós somos. [Luis Marino, M~i.snInszilcri.(poe/as C/LI
Mcrr/eir.a), 1959, pp.210-21 I]

PE JACINTO DA CONCEIÇÃO NUNES. [1860-19541

A inurteira do ineu q~iintal Minha inurteira c sevadillia linda,


Minha murteira verde, 111eu enlevo Deus vos conserve o viço e a frescura,
Nas tardes sonolentas do verão, P'ra darein aos ineus olhos jii cançados
As tuas Ilores brancas são urn iniino Uma réstea de cor e de ventura!
Dos mais apreciáveis da Estaçgo!
Tão alvas coino a neve da montanha, Então eu bendirei o Infinito
Tão puras con-10 os anjos do Senhor. Qiie ein cada flor nos deti uina delícia
E os males suavisa d'esta vida,
Essas ílorinhas simples, inocentes, Dando a cada amargura utna carícia !
Clainaill p'ra vós enternecido ainor!
Minha riiurteira, encanlo dos meus olhos,
Q L Iestás
~ sempre a inirar a sevadillia
Que perfiiina o quintal de Cunha Rosa, [Luis Marino, MWSIIIIISZII~I'QJOCILIS
LILI
De Lodos o mais bclo e que mais brilha. Mncfeirn), 1959, p.2631
Enamorada
(Funclial cidade de sonho)

Qual princesa eriainorada, Sonha, cidade bendita !


Num varandim debruçada E que uma paz infinita
Ela ollia o mar. Te possa sempre embalar,
E as ondas. uma por uma, Qual princesa enamorada
Franjadas de branca espuma Nuin varandirn debruçatla
Os seus pés vêm beijar, Ouvindo o canto do mar.

Num murmúrio suss~lrrante.


E ela, sempre anelante,
Cheia de mimo, adorrnece
A sombra do aivoredo,
Que ein segredo [Luis Marino, Mzan It?szrlai-(poetas do
Quase murmura uma prece. Mndeirn), 1959, pp.2831

ANTÓNIOPIMENTA DE FRANCA

A Coudilheim Central e Pico Ruivo


(Excer~o)
Após surgir das ondas; -a Madeira Da crista, Çorinarain a colutia vertebral!
Montes e serras lutaram p'la altura, De cada inoiite ou serrania:-uina costela,
Na ânsia de grandeza, de í'orinosura Dc cada espaçco costal:-uiti vale ou ribeira,
P'ra de beleza-ser ela-a priineim.
Dos 101nbos:-planaltos-Paul da Serra e Faial!
Pícaros, serras, cómoros, outeiros, E, assim, erguera;n a íòrinosa cordilheira,
Postados nas ribas, presos As fiagas, Desde o Pico Ruivo à Ribeira da Janela!
Das lombas fizeram soberbas dragas
Para elevar picos e cavar desfiladeiros! O Pico Ruivo forma-llie a alta cabeça,
Cravada nos largos ombros das serrariias,
Dentre os altos picos- o Pico Ruivo- Que segurain nos braços o Ribeiro Frio
Conseguiu-lia labuta a primazia, Acalentaiido-o . . .- dos vales - a mellior peça,
Elevando-se orgi~lhosoe altivo, Enquanto ele canta... . místicas melodias
Aiicho da vilória e da valentia! Ao Pico Ruivo, exaltando-lhto poderio!

Logo as serras fotmarain unia cordilheira


P'ra sua defesa de Levante ao Poente.
E, nessa luta de grandeza, tal, freinente, cla
[Liiis Marino, Mttsn l~?sz~lnr(poetas
Coiistituirain o arcaboiço da Madeira! Ahdeira), 1959, pp.299-3001
AUGUSTO CORREIA DE GOUVEIA(A. CORREIA DE GOUVEIA)[1880]

Aniversário (Na aldeia)

Onde vais, oh rouxinol, Onde vais, 011 leiteirinha


Manhgsinha, pressuroso? Prazenteira, jovial
Onde vais, oli triste rola Onde vais, o11 borboleta,
Com teii canto vagaroso ? Correndo pelo trigal?

Onde vais, oh mariposa Onde vais oh iioiva linda,


Saltitando p'los rosais ? Bo chefioha de Sores
Onde vais, oh passarinho Oode ides, todas alegres,
Com teiis temos rnadrizais ? Raparigas, meus amores . . .?

Onde vais, oh pomba inansa, -hinos todos jubilosos


Coin pressa cortando os ares ? Saudar os anos da Estela:
Onde vais, melro saudoso, Dar-llie os nossos parabens.
Que assim deixas os pomares ? E pedir ao Céu por ela.

Onde vais, pastor alegre,


Que abandonas o rebanho? Fajã da Ovelha, 20 de Agosto de 1912.
Onde vais, oh cachopinha, [Luis Marino, Mirsn In.szt/rir(poetns da
Depressa, com tanto etnpenlio ? Mndeit-a), 1959, pp. 319-3201

PE. EDUARDO CLEMENTE NUNES PEREIRA- (1887-1

Eu bem me leinbro. Vi-o ... Oiivio cantar


Já velho, esguio, Esta canção:
A balançar-se na montanha!
Guardai, pastores, a lousa,
Caia a tardc. Desdobrava Guardai, pastores, a terra,
A noite num manto de cstamanha ! Aonde o corpo repousa
De uma pastora da serra ! . . .
E toda a gente que passava
Nos torcícolos do caiiiinho,
Esse pinheiro-avô saudava,
Alto e magrinho!.,

. . . Ali,Coh
! santa devoção !
Em outros tenipos, que lá-vão...
Diz o bom povo do lugar: rlB
[Luis Marino, Mz~sciI~~sulrrr(lloetn.s
Lá reza ainda a tradiçcio Modeira), 1959, p.3731
JOÃO VIEIRA DA LUZ 1896
Madeira ... *Jardim de Flores"

Tantas saudades eu matei ao chegar


Ao meu torrão natal por excelência,
Que Deus quís tomasse a ver e a pisar
Depois de longos trinta anos de ausência.

Quando avistei o farol, puz-me a rezar


Coin devoção à Divina Providência,
Por ter ocasião de contemplar
O ineu solo outra vez com reverência.

Idólatra até me tornei, julgaúdo


Ver um cantinho do Céu Divinal,
Comovido com Iágrinias ... cliorando,

Saudei a bela cidade do Funchal


Que o mar e a poesia vêm einbalando
Coin amor terno, no seu litoral.

[Luis Marino, MZI.Y~I


InszrIar(poetas do Mc~deira).1959, p.4391

JULIA GRAÇA DE FRANÇA E SOUSA(UMA M U L m R ) 118971

Não canta, o nosso rouxinol?


De pássaros uin bando preguntava,
Numa algazarra doida que encantava,
Em hora em que dormia h&muito o sol.

A eira da lisura dum lençol,


Do passa1 uns minutos afastada,
Servia de palco i alegre revoada,
Que, descansando, esperava o arebol.

E o infeliz em tão muda aflição,


Gotejando-lhe sangue o coração,
Lesto. os golpes, oculta com um véu.

Soluçarido, levanta a meiga voz,


Cantando brando a sua mágoa atroz,
O sacrifício belo oferece ao céu.
[Luis Marino, Musn Ilisz~lar(poetasda i2ladeira), 1959, p.#O]
CARLOS MARIA DE OLIVEIRA 1898

A Primavera C chegada, O firmainento azulado,


Com seu inanto de verdura, Cobre a terra ein seli verdor,
Anda alegre a passarada, E o coração tiainorado,
A cliilrear na espessura. Fmliala RonhaR cI'ainor

Mas vive ern noite fechada, Mas quem anda angustiado,


Quem não gosa da ventura. Não tem no peito calor.

Passa uin regato cantando, Florescem lindas, viçosas,


Pela formosa deveza, As rosas nos roseirais;
Docemente inurmurando E as andorinlias Corinosas,
Uni louvor à Natureza. Voltain ledas p'ra os beirais.

Mas pobre, de quem cliorando, Mas rnuitas alinas saudosas


Vive inierso na tristeza ! Choram quem nLo volta mais !

[Luis Marino, M L Jn.v/il~~r.(poeftrs


~ u'n
Mcicieira), 1959, pp. 454-4551

EDMUNDO ALBERTO DE BETTENCOURTI 1899-1

O verde tenro e vivo, de folhagein,


Presépio dos ineus sonlios, em ineiiino,
Pôs-ine de lu10 a par coin ineu (lestino,
Cego-me a vê-lo iii~ageiiide inirageni ...

Quaiido, iludido, o busco na ramagem,


Já coin seus tons niais brandos não atiiio;
E nesta escuridão, só me il~iniino
Vendo-o coinpor-me interior paisagcin:

Paisagem de ouro verde, que de inim


Sai alongada eiii foco para a terra
A procurar vencer-llie a cerração,

E aoride iiuin crepúsculo sem fiin


Tonta, a esperançã, esvoaçando, ei-ra
Sobre torres de encanto e de traição.

[Luis Marino, M ~ a aJivulai(poetas ia Madeiici), 1959, p.4641


ARMANDO SANTOS

- Oh! Madeira dos meus soilliosl Rosas lindas, rubras rosas,


Madeira terra de encantos, Lírios brancos, açucenas,
Onde vegetam as flores Vós curais as nossas dores,
Nascidas d'alinas dos Santos. Aliviais nossas penas !

Oh ! flores da ininha terraC Violetas tão humildes,


Oh! flores belas da Madeira, Cultivadas nos jardins,
Com o odor das nossas flores, A esta terra trazidas
Não as há na teria inteira. Nas asas dos Serafins!

Aqui também há flores Mas tais flores tão lindas


Que vegetam c01110 lá, Que eu hoje estou a cantar,
Mas coin o belo das suas cores Não se encontram nas campinas,
Nesta terra não as há. A terra não pode dar.

[Luis Marino, Musa huzrlar(poefas da


Madeira), 1959, p.4881

011Madeira, coino és linda, Funchal, cidade-encanto,


Teti encanto é sing~ilar. Teus encantos não têm fim.
Tuas serras são uin inimo, Na Madeira és um presépio
O teli clima não tein par. E no inundo és uin jardim.

Madeira, ilha de sonlio, Os teus montes altaneiros


De beleza sem rival, São inãos erguidas aos céus,
E's a terra inais bonita Agradecendo as belezas
Que D ~ L Ideu
S a Port~igal! Que recebeste de Deus.

São Ilores, urzes, verduras, Madeira, ilha de encantos,


Água pura, cristalina, Orgulho dos filhos teus,
Montanhas, encostas, vales, Por aqui tennos nascido
E's unia obra divina. Nós damos Graças a Deus.

[Luis Marino, Musa bis~rlar(poetasda


Madeira), 1959, p.5491
LEANDRO DE SOUSA
* Pérola do Atlântico "

A belis.rima Ilhu que me,foi berço.

Baloiçando no Atlântico Ao constituí-Ia ao Criador


Que Ihe murmura aos pés, nuin cântico, Fez dela uni primor,
A nossa Iiumildade; Dando-lhe beleza sein igual,
Adorada pelo mundo, Qiie são org~~lhode Portugal!
Corno uina divindade;
Amada pelo Sol que a disputa ao mar E como o Criador
E tira ao resto do universo o calor para dar. S e desvanece com o seu amor,
Sern rival, Eu, da iiiinha rnaiieira,
A Ela, Sinto orgulho igual
Tão bela, CPorque nasci na Madeira!
Sob u m céu tão azul, nobre e altaneira,
Ergue-se a linda Ilha da Madeira. [Luis Marino, Mzís~rI~i.si~l~~i~(poetn.s
da
Mo~leirci),1959, p.5501

GERTRUDES MARCELIANA RODRIGUES CÂMARA (GERMA)1910

FIO D 'AGUA

Goteja urii fio d'água cristalina A água chora e hB terna inagia


No soluçar suave de Liina foiite ... Percorrendo valados, iioite e dia,
Correndo, sem descanso, o verde monte No caipir triste de uiiia dor puiigcnte!
E refrcscarido os lábios da p'regrina.
Quem sabe? ... Talvez seja a voz dc alguéin
Na paísagern sombria Iiá solidão: Que clioraiido, baixinlio, vem do Aléin,
Ao fundo, a luz, o mnc as brancas velas ... Perdida a vagucar por entre a gente !
E iiuin silêncio enno de oração
Passain vultos de tímidas donzelas.
Passain vultos [Luis Mariiio, Mirs~rIii.sz~lcrr~fi~oe/c~,s
d(i
M~rdeir~~), 1950, p.5611
ALBERTO FIGUEIRA GOMES [I9121
BALADA DAS LEVADAS

(Nas Queinrrrdas, enz Suntana - Verão de 1946)

Agiias mansas das levadas Levadas da minha aldeia


1180 sois como as das ribeiras, galgando de monte em inonte,
que ein vindo o inverno iniiiidain e~iclieide seiva esses vales.
casas vinhedos e leiras cantai nas pedras da fonte.

Na saiila paz da inonlaiiha, Solitário viandante


só se sente o scii caillar, que ides ern longa canseira,
seinpre igiial e seinpre iiovo, esta levada caiitailte
nuiii eteriio carninliar. é uma fiel coinpanlieira.

Essa VOZ S L I ~ cii~crra


V~ Tudo seria mais triste
iiiigiiia doce e proí'iirido ... na quietude da serra,
CCaiilais proinessiis CIO céii se a vossa voz n8o se ouvisse
ou cliorais inales do muiido '? coino a própria voz da terra.

A vossa bcira se cspelliain As aves já apreiiderain


hortêiicias, iiiusgos c Ilores: o vosso litido cantar;
Cvelhos loureiros inuriniirain Candam ensiiiaiido às flores
loucas Iiistórias dc amores como se deve falar.

AS urzes esvanecerni11 A serra já se não lembra


e os carvalhos ja dobraraiii das gerações que passaraiii,
ao peso cle fartos liqiieiies a vida vai e renova-se
...e as iíguas iiiiiiça pararniii. . . . e as águas niirica pararam.
[Luis Mariiio, Mt~saI/~sztlar(yoetascln
Madeira), 1959, pp.572-5731
SECUNDINO TEIXEIRA (DIN0)1926
MA DEIRA

Minha Terra,
eu não te canto
pelas tuas belezas,
nerii pelas tuas flores,
nein por esse verde impossível dos teus montes,
neni pelo canto cristalino das tuas fontes,
iietn pelo azul puríssimo do céu e do iilar
eu te respeito só.
Venero sim. os meiis antepassados
que nuin sonlio de 11i qliinbeiltos anos,
lograram criar-te sein esforço sobreliumano
e c~esbravaro mato,
qucbrar a pedra,
doiiiar o inar,
os ventos e a adversidade.
Gastar o sangue, os anos e a voiitade,
a construir poios,
a aproveitar a terra,
até onde os pisos altarieiros as nrivens apuiihalarn
e a desafiar as bocarras ciolópicas
e as gargantas da inontanlia;
doiili~iara torrente de frágua ein Frágua,
para coin as suas Iágriinas,
o seu suor e essa água,
pudesse existir hoje
este rincão florido,
esta pérola verdadeira,
MADEIRA !
[Luis Marino, MZISLI 1050, 11,6301
dli MLIC/~~I.CI),
II~.YLI~CII'(~OC~CISI.Y
MANUEL GONÇALVES

Talvez fosse por Deus, Mais tarde arrependeram-se,


o a~itorda Natureza, depois da terra abrazada,
esta Ilha da Madeira pois a madeira mais fina,
ser da nação portuguesa. ate entáo encontrada,
estava toda em carvão ...
Por dois nobres portugueses uma imensa derrocada1
foi descoberta a Madeira:
um-João Goncalves Zarco Ficou-lhe o nome-Madeira
outro-Tristão Vaz Teixeirt. do seu tempo florestal,
e tainbéin Flor d'oceano,
Tremendo os descobridores a jóia de Portugal.
pela massa florestal
não houvesse animais bravos
que pudessem causar mal,
largaram fogo na ilha
por sete anos agitados,
mas vestígios das tais feras [Manuel Gonçalves, Ve~xos,Funchal, 1994,
não consta ser encontrado pp.96-971

BAPTISTA DOS SANTOS


A MINHA CASA DA AZENHA
A niinba casa da Azenha Contra o chão,
Rescende a resina c flores SO por revelares que eu estava velho,
E sendo tio pequenina Em tua franca e limpida expressão!
Ncla cabem meus amores ...
Estilhaçado, tu, que em tantos anos,
Pobrinlia, huinilde, campestre, Todos os dias,
Não tem luxo nem brazão, Reflectiste os meus desenganos
Mas é rica de virtude E traduziste as minhas alegrias!
E nobre de coração!

Tein pinheiros em redor Despedaçado, tu iniquamente,


E lindas amendoeiras: Quando, com lealdade,
Junto a garboso loureiro Foste tu quem, unicamente,
Vicejam frescas roseiras. Me falou a verdade?!

Do jardim avisto o mar 0' meu saudoso, meu fiel espelho,


-Esteira das Descobei-tas!- Vítinia inocente
E vejo a torre da ermida Da minha altivez,
E as nossas ilhas Desertas. Releva a diabrura deste velho
Perdoa a minha insensatez!
Que loucura a minha,
O ineu fiel espelho,
Ao arrojar-te, lia dias, à tardinha,
Neste balcão de acacias onde estou
Sorvendo o ar agreste- o ar sadio
Oico uina voz que diz "avô-avô"
E duma ave o trilo "pio-pio".

São maviosos gorgeios,


Eco de brandos anseios
Que a ininha alma gozou
E que ninguem mais ouviu:
"Avô-avô-avo"Y
"Pio-pio", spio-pio" ...

Coino feliz me sinto entre as acacias


Da ininhn pobre "herdade",
Nove iiiil inetros longe dos "acácios"
Da b~iliçosacidade !

ELOGIO DO EUCALIPTO

Tem esta Iiumilde cailçáo Arvore bendita, colossal,


Alevaiitado fito: Corre em suasgrossas veias,
Proclamar a virtude No alto da encosta
E a nobreza Abundanteineiite
Do Eucalipto. A seiva das terras de Portugal
Oriiainental, oloroso, Que ela absorve, a toda a hori
Que é orgiilho da Natureza, Avidamente!
Pelo seu porte altivo, inajestoso.
Proclamando sua virtude
Balsâmico real, excelente, A tua alegre e doce coinpanhi
Antisséptico superior, E nobreza
Ele é a saiide da gente - Eu sai~doe venero o Eucalir
Que vive em seu redor Benfazejo, sàdio, altaneiro,
E tein a sorte de respirar Que é sombra e saúde
E absorver E riqueza
O perliiinado ar Da minlia casa campeslre,
Desta arvore gigantesca. D~iranteo ano iiiteiro.
Que se ergue os brac;os para o Céu,
E não pára de crescer!

Do abençoado Eucalipto
Suas folhas niedicinais
Curaiil as afecções piilinonares
Os estados catarrais Vivenda da Azenha, Caniço, (
E tanto inal imperliiiente [Baptista dos Santos, M Z I T I ~ I I ~
De que sofre e inorre inuita gente.. . Funclial, 196 1,
Do ÉDENA ARCADE NoÉ

ANA BELA A. PITA DA SILVA

ILHA DA MADEIRA FLOR SILVESTRE


Ollia
Coin 11150sbrtes desbravaste aquela
carniiilios eiii rocha dura Flor
coin 1i15osfortes seineaste silvestre
flores, videiras c brav~ira. sozinlia
eiilrc
Quais ribeiras siiltitantes erva
que bailaiii até o inar daninlia
vão os tciis cinigrantcs iiaquele
longe teu iioilie levar. rochedo
Tens paisagcin iiuortal agreste
de beleza Lotla inteira
das Terras clc Portiigal Cliega-tc
és a 17.riilcesa, Mndcirn. peito
ollia-a
Madeira bein
sonho vê
rcalidade. a cor
liiida
Madeira quc te111
grande és
na verclacle. [Ana Bela A. Pita (Ia Silva, illoi~i~ilentos.
Pocnicrs, Lisboa, 1985, pp.63 e 701
CAPA: W. Combe, 1821, Colecção M~iseuFrederico de Freitas

Página.
8: Andrew Piclcen, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
9: A. Pickeii, 1842, Colecção Museu Frederico de Freitas
11: Mrs Benett, 1809, Colecção Museu Frederico de Freitas
23 : James Bulwcr, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
25: I. H. Robley, 1845(?), Colecção Museii Frederico de Freitas
37: Jaines Bulwer, 1827 , Colecção Miiseu Frederico de Freitas
47: Susan V. Harcourt, 185 1, Colecção Museu Frederico de Freitas
49: W. S. Pitt Springett, Colecção Museii Frederico de Freitas
55: Jaines Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico dc Freitas
7 1: W. Combe, 182 1, Colecção Museu Frederico de Freitas
73: A. Picken, 1840, Colecção Museu Frederico de Freitas
76: Jaines Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
75: 4.256b Jaines Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
80: 4.257b Jaines Bulwer, 1827, Co1ecc;ão Miiseu Frederico dc Freilas
8 1: W. Combe, 182 1, Colecção Museu Frederico de Freitas
83 : John Drayron, 1846, ColecçBo Museu Frederico de Freitas
87: A. Piclten, 1840, Colecção Museu Frederico de Freiias
233: V. Tornam, Séc. XIX, Colecção Museri Frederico de Freitas
235: Jaines Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
239: Susari Vernoil Harcourt, 185 1 , Colecção Museu Frederico de Freitas
241: Jaines Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
303: Richard Westall, 18 12, Colecção Museu Frederico de Freitas
305: Jaines Bulwei; 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas
307: Jaiues Bulwer, 1827, Colecção Museu Frederico de Freitas

1. Para uma informação mais completa veja-se neste volume o capítulo: Aguarelas,
Estampas e Deseiilios da Madeira. Sécs. XVIII- XIX. Aproveita-se o ensejo para
agradecer à Di" Ana Magarida a dispoilibilidade desta ii~forinação.
CENTRO DE ES1UDOI
n~nbrirw rriAnri

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