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Pedro E. Gontijo1
Introdução
Procuro fazer uso de Foucault como uma caixa de ferramentas que possibilite
um apreender, um “bisbilhotar” e um escavar as relações de poder existentes
no cotidiano de escolas a partir da experiência vivenciada em algumas escolas
da periferia de Brasília, mas que certamente não é exclusividade destas
experiências e sim, pode ser vista como amostra do que pode está ocorrendo
em muitos espaços educacionais, se não na maioria deles. Neste bisbilhotar o
cotidiano, me interessa identificar os processos de subjetivação e
disciplinamento dos corpos.
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Universidade Católica de Brasília. Doutorando em Filosofia da Educação –
UNICAMP.
Anais do III Colóquio Franco-Brasileiro de Filosofia da Educação Rio de Janeiro, UERJ, 9 – 11 outubro 2006.
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Foucault pode ser bastante frutífero para uma abordagem que se assume local
e fragmentada. Possibilita revelar aspectos pouco observados do cotidiano de
instituições como a escola. Pretendo ter como objetivo o mesmo que
FOUCAULT (1994:778) revela ter em seu trabalho:
O texto pretende ser coerente com o título, ou seja, trata-se apenas de notas
que focalizando uma ou outra questão que envolve o cotidiano escolar possa
ser caracterizado a partir do referencial construído por Foucault.
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Houve época, e não faz muito tempo, em que o discurso dominante na prática
pedagógica era capaz de mobilizar parcelas significativas dos estudantes em
função de ser centrado na preparação para o espaço universitário e, sobretudo,
para o mercado de trabalho. Todavia, hoje, quando assistimos no Brasil uma
expansão do ensino superior (mesmo que prioritariamente privado) diminuindo
a concorrência de forma significativa nos vestibulares e de crescimento do
desemprego estrutural, que cria uma distância ainda maior entre nível de
instrução e empregabilidade, tal discurso já não possui o mesmo efeito de
outrora.
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Parece que podemos afirmar que a escola tem um importante papel neste
“regime de verdade”. O lugar de onde falam a direção escolar e os professores
é o pretenso espaço da verdade. Este espaço é, muitas vezes, tão bem
ocupado por estes que pouco ou nada sobra de espaço de verdade no discurso
dos alunos. Os professores, em geral pouco ou nada vivenciam o entendimento
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1) O poder pastoral é exercido como uma forma de poder cujo objetivo final é
assegurar a salvação individual num outro mundo;
2) O poder pastoral não é uma forma de poder que se comanda, deve-se estar
preparado para se sacrificar pela vida e salvação do rebanho;
4) O poder pastoral não pode ser exercido sem o conhecimento da mente das
pessoas, sem explorar suas almas;
2) Ainda é corrente se dizer que professor não é profissão, mas sim vocação.
Como vocação é chamado e este é para se cumprir uma missão: estar a
serviço dos educandos. É alguém que se sacrifica pela aprendizagem dos
alunos. A própria escola “é para os alunos”;
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A transferência de sala que cada turma deve fazer a cada cinqüenta minutos,
provoca um mexer nos corpos dos alunos que substitui ou faz às vezes de
alguma ginástica laboral que teria como perspectiva reorganizar o corpo para
poder ficar mais algum tempo sentado, comportado adequadamente para a
próxima aula. Possibilita também, conforme relatos, que professores não
precisem sempre escrever novamente no quadro a cada nova turma que entra
em cada novo horário, pois se o assunto for o mesmo, o professor ganha
tempo e se cansa menos.
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A grade horária que organiza a distribuição das aulas ao longo das horas é a
forma privilegiada de disciplinamento no tempo dos alunos.
O conteúdo a ser ensinado tem um tempo para isso em cada disciplina Tem
que seguir todo quase “a risca”. Nada de adiantar muito, pois se entrará no
conteúdo do ano seguinte, nada de ir muito devagar, pois “há conteúdo a
vencer”. O conteúdo é fracionado e distribuído ao longo do ano. Há conteúdos
para o início, para o meio e para o fim do ano. Este processo que entende o
conhecimento como tendo uma progressividade positivistamente obrigatória é
tão forte que é comum expressões entre os professores como: ”estou
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Por outro lado, percebemos também que parte significativa do que é ensinado
na escola é considerado pelos estudantes sem sentido para suas vidas. Não
vêem nem enxergam pessoas de seu convívio fazendo uso dos conhecimentos
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É verdade também que parecem existir situações em que por mais que se
distribua notas, estas já não produzem o mesmo efeito controlador de mentes e
corpos. Volta e meia há convulsões individuais e coletivas. Há alguns que já
nem se importam tanto com os pontos e nem ir para a escola desejam mais.
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FOUCAULT, Michel. Dits et écrits. Paris:Gallimard, 1994, vol. IV, pp. 777-783,
trad. de Wanderson F. do Nascimento in http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/.
Consultado em 20/08/2006.
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