Não seria absurdo dizer que, neste início de século XXI, há um consenso a respeito dos malefícios que o chamado império norte-americano vem causando ao planeta. Do escritor Gore Vidal e os fundamentalistas muçulmanos, passando pelo cinema europeu e pelas grandes bandas de rock, ao intelectual Noam Chomsky e mais recentemente ao explícito cinema anti-Bush de Michael Moore, o mundo volta seus olhos àquele país que se autoproclamou o paraíso da democracia e da liberdade. Dito isso, não é difícil entender a importância deste álbum de Robert Crumb, América.
O pano de fundo na maioria de seus trabalhos no tempo da Zap Comix, ou em personagens como Fritz, The Cat ou Mr. Natural (todos publicados pela Conrad Editora), é uma fina e corrosiva crítica à sociedade americana - mesmo que nem sempre seja este o alvo principal de suas histórias. No entanto, em América - que reúne histórias da década de 1970 até 1997 -, Robert Crumb mostra as diversas nuances de uma sociedade abduzida pelo consumo, um país que produziu heróis da democracia e da contracultura e parece ter perdido o fio da meada. O que acontece com a América? Essa é a pergunta que Crumb nos faz, entre a angústia e o cinismo.
As histórias desta coletânea são seus trabalhos mais explicitamente críticos e politizados. De certa forma, a auto-ironia mesclada à perplexidade e o sarcasmo fundido ao ressentimento e impotência fazem Crumb buscar uma América idílica, vista pelo retrovisor, e despertam nele profundos sentimentos niilistas diante do presente. Talvez por tudo isso, o que chamamos de estilo crumbiano esteja aqui representado com 40 graus de febre.
Porém, o grande diferencial deste livro em relação às obras de outros "inimigos da América" é seu cinismo e ironia também voltados à ele mesmo: Eu desenho o mundo para tentar entendê-lo.
É essa tentativa de compreender o mundo que gera ótimos personagens, como Whiteman - o americano branco cristão de classe média -, o Cabeça de Cebola - o caipira hostilizado pelo homem urbano -, Frosty, o Boneco de Neve guerrilheiro, os Bombados Barra-Pesada - os típicos pitboys reacionários - e o Ganso e a Gansa - uma sátira ao casal mediano.
E, quando o próprio Crumb se expõe em suas histórias, há espaço para tudo, menos para culpa ou piedade. Ninguém jamais poderá dizer que Crumb é adepto de O inferno são os outros...
Se hoje gente como Michael Moore e Morgan Spurloc fazem tanto sucesso, eles o devem às portas abertas por Robert Crumb.
Não seria absurdo dizer que, neste início de século XXI, há um consenso a respeito dos malefícios que o chamado império norte-americano vem causando ao planeta. Do escritor Gore Vidal e os fundamentalistas muçulmanos, passando pelo cinema europeu e pelas grandes bandas de rock, ao intelectual Noam Chomsky e mais recentemente ao explícito cinema anti-Bush de Michael Moore, o mundo volta seus olhos àquele país que se autoproclamou o paraíso da democracia e da liberdade. Dito isso, não é difícil entender a importância deste álbum de Robert Crumb, América.
O pano de fundo na maioria de seus trabalhos no tempo da Zap Comix, ou em personagens como Fritz, The Cat ou Mr. Natural (todos publicados pela Conrad Editora), é uma fina e corrosiva crítica à sociedade americana - mesmo que nem sempre seja este o alvo principal de suas histórias. No entanto, em América - que reúne histórias da década de 1970 até 1997 -, Robert Crumb mostra as diversas nuances de uma sociedade abduzida pelo consumo, um país que produziu heróis da democracia e da contracultura e parece ter perdido o fio da meada. O que acontece com a América? Essa é a pergunta que Crumb nos faz, entre a angústia e o cinismo.
As histórias desta coletânea são seus trabalhos mais explicitamente críticos e politizados. De certa forma, a auto-ironia mesclada à perplexidade e o sarcasmo fundido ao ressentimento e impotência fazem Crumb buscar uma América idílica, vista pelo retrovisor, e despertam nele profundos sentimentos niilistas diante do presente. Talvez por tudo isso, o que chamamos de estilo crumbiano esteja aqui representado com 40 graus de febre.
Porém, o grande diferencial deste livro em relação às obras de outros "inimigos da América" é seu cinismo e ironia também voltados à ele mesmo: Eu desenho o mundo para tentar entendê-lo.
É essa tentativa de compreender o mundo que gera ótimos personagens, como Whiteman - o americano branco cristão de classe média -, o Cabeça de Cebola - o caipira hostilizado pelo homem urbano -, Frosty, o Boneco de Neve guerrilheiro, os Bombados Barra-Pesada - os típicos pitboys reacionários - e o Ganso e a Gansa - uma sátira ao casal mediano.
E, quando o próprio Crumb se expõe em suas histórias, há espaço para tudo, menos para culpa ou piedade. Ninguém jamais poderá dizer que Crumb é adepto de O inferno são os outros...
Se hoje gente como Michael Moore e Morgan Spurloc fazem tanto sucesso, eles o devem às portas abertas por Robert Crumb.
Direitos autorais:
Attribution Non-Commercial (BY-NC)
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Não seria absurdo dizer que, neste início de século XXI, há um consenso a respeito dos malefícios que o chamado império norte-americano vem causando ao planeta. Do escritor Gore Vidal e os fundamentalistas muçulmanos, passando pelo cinema europeu e pelas grandes bandas de rock, ao intelectual Noam Chomsky e mais recentemente ao explícito cinema anti-Bush de Michael Moore, o mundo volta seus olhos àquele país que se autoproclamou o paraíso da democracia e da liberdade. Dito isso, não é difícil entender a importância deste álbum de Robert Crumb, América.
O pano de fundo na maioria de seus trabalhos no tempo da Zap Comix, ou em personagens como Fritz, The Cat ou Mr. Natural (todos publicados pela Conrad Editora), é uma fina e corrosiva crítica à sociedade americana - mesmo que nem sempre seja este o alvo principal de suas histórias. No entanto, em América - que reúne histórias da década de 1970 até 1997 -, Robert Crumb mostra as diversas nuances de uma sociedade abduzida pelo consumo, um país que produziu heróis da democracia e da contracultura e parece ter perdido o fio da meada. O que acontece com a América? Essa é a pergunta que Crumb nos faz, entre a angústia e o cinismo.
As histórias desta coletânea são seus trabalhos mais explicitamente críticos e politizados. De certa forma, a auto-ironia mesclada à perplexidade e o sarcasmo fundido ao ressentimento e impotência fazem Crumb buscar uma América idílica, vista pelo retrovisor, e despertam nele profundos sentimentos niilistas diante do presente. Talvez por tudo isso, o que chamamos de estilo crumbiano esteja aqui representado com 40 graus de febre.
Porém, o grande diferencial deste livro em relação às obras de outros "inimigos da América" é seu cinismo e ironia também voltados à ele mesmo: Eu desenho o mundo para tentar entendê-lo.
É essa tentativa de compreender o mundo que gera ótimos personagens, como Whiteman - o americano branco cristão de classe média -, o Cabeça de Cebola - o caipira hostilizado pelo homem urbano -, Frosty, o Boneco de Neve guerrilheiro, os Bombados Barra-Pesada - os típicos pitboys reacionários - e o Ganso e a Gansa - uma sátira ao casal mediano.
E, quando o próprio Crumb se expõe em suas histórias, há espaço para tudo, menos para culpa ou piedade. Ninguém jamais poderá dizer que Crumb é adepto de O inferno são os outros...
Se hoje gente como Michael Moore e Morgan Spurloc fazem tanto sucesso, eles o devem às portas abertas por Robert Crumb.
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