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A escrita da História: A natureza da representação histórica
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A escrita da História: A natureza da representação histórica

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A obra apresenta textos inéditos e que expressam as preocupações mais atuais da escrita da história, acompanhados por uma entrevista, também inédita, de Frank Ankersmit. Os textos e a entrevista são apresentados em capítulos, a saber-: Capítulo 1: O uso da linguagem na escrita da história; Capítulo 2: Virada Linguística, teoria literária e teoria da história; Capítulo 3: Da linguagem para a experiência; Capítulo 4: Experiência histórica: além da Virada Linguística; Capítulo 5: Representação e Referência; Capítulo 6: Verdade na história e na literatura; Capítulo 7: Sobre história e tempo; Capítulo 8: Entrevista com F. R. Ankersmit.
LanguagePortuguês
PublisherEDUEL
Release dateJun 1, 2016
ISBN9788572168458
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    A escrita da História - Franklin Rudolf Ankersmit

    Apêndice

    Agradecimentos

    Abaixo endereçamos alguns agradecimentos a instituições e pessoas pela sessão dos direitos de ensaios do autor não publicados originalmente neste livro.

    O capítulo 1, O uso da linguagem na escrita da história, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. History and tropology: the rise and fall of metaphor. Los Angeles, EUA: University of California Press, 1994, capítulo 3, p. 75-96.

    O capítulo 2, A Virada Linguística, teoria literária e teoria da história, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Historical representation. Stanford, California, EUA: Stanford University Press, 2001, capítulo 1, p. 29-74.

    O capítulo 3, Da linguagem para a experiência, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Sublime historical experience. Stanford, California, EUA: Stanford University Press, 2005, capítulo 2, p. 69-108.

    O capítulo 4, Experiência histórica: além da Virada Linguística, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Meaning, truth and reference in historical representation. Nova Iorque, EUA: Cornell UP, 2012.

    O capítulo 5, Representação e referência, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Representation and reference. In: Journal of the Philosophy of History 4 (2010), p. 374-408.

    O capítulo 6, Verdade na história e na literatura, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Meaning, truth and reference in historical representation. Nova Iorque, EUA: Cornell UP, 2012.

    O capítulo 7, Sobre o tempo e a história, foi originalmente publicado em: ANKERSMIT, Frank. Meaning, truth and reference in historical representation. Nova Iorque, EUA: Cornell UP, 2012.

    O apêndice, A trajetória intelectual de Frank Ankersmit, escrito por Alfredo dos Santos Oliva e Jonathan Menezes, foi originalmente publicado na Revista Antítese, v. 6, n. 12, 2013, p. 468-488.

    Apresentação

    No ano de 2009, organizamos uma série de seminários, nos quais historiadores e participantes do grupo de pesquisa em Epistemologias e Metodologias da História eram convidados a oferecer, cada um à sua maneira, uma resposta aos desafios da teoria da história e da historiografia contemporânea. O resultado desse trabalho foi publicado, em 2011, num livro nomeado Epistemologias da história: verdade, linguagem, realidade, interpretação e sentido na pós-modernidade. Percebemos que importantes temas da historiografia contemporânea foram ressaltados nesta obra coletiva, bem como as principais referências teóricas a eles pertinentes. E foram esses temas e referências que reconhecemos circulando no pensamento e nos textos do historiador holandês Frank R. Ankersmit.

    Propusemos a ele uma entrevista que deveria ser publicada, inicialmente, como apêndice ao livro supracitado. Posteriormente, o projeto editorial e de pesquisa ganhou uma nova dimensão, a tal ponto que criamos um grupo de trabalho para a tradução de uma seleção de textos de Frank Ankersmit. Ao longo dos últimos anos, dedicamo-nos a essa tarefa, sempre em contato com o historiador holandês, que generosamente colaborou o tempo todo, inclusive aprovando e até aplaudindo a escolha dos ensaios, como sendo alguns dos melhores escritos que havia produzido até então.

    Já durante o processo de leitura, discussão e tradução dos textos, fomos percebendo que se tratava de uma reunião de sete capítulos bastante significativos e representativos de toda obra desse autor, e que expressam as preocupações mais atuais da escrita da história – acompanhados, aliás, por um prefácio e uma entrevista inéditos, concedidos pelo autor, Frank Ankersmit, especialmente para esta edição. Entendemos que deverá servir não apenas para o leitor que deseja conhecer a obra desse autor, mas também perceber algumas de suas mudanças nas décadas de 1990, 2000 até o presente ano de 2012, em que se situa a produção e publicação destes textos.

    Os dois primeiros capítulos, por exemplo, têm em comum preocupações concernentes ao papel da linguagem na escrita da história. No primeiro, originalmente publicado no livro History and tropology: the rise the of the metaphor (1994), vê-se um Ankersmit ainda bastante imerso numa filosofia da história narrativista (perceptível, aliás, já desde sua primeira obra, Narrative logic, de 1983), com afirmações tais como a de que as narrativas são tudo o que temos e de que a linguagem do historiador é composta não por um contato direto dele com o passado, mas por meio de substâncias narrativas, isto é, objetos linguísticos utilizados pelo próprio historiador para falar do passado. Já no segundo capítulo, publicado sete anos depois em seu Historical representation (2001), o leitor poderá observar um Ankersmit buscando um juste millieu entre os pressupostos da Virada Linguística e da Teoria Literária, e as posições que ele defenderá nos ensaios seguintes, em que o autor passava por uma fase intelectual de transição da linguagem para experiência histórica (posição expressa em seu Sublime historical experience, de 2005); de um retorno ao historicismo de Ranke e de Humboldt (defendido em seu Meaning, truth and reference in historical representation, de 2012); e, como o leitor verá no último capítulo, que é a entrevista, de uma saída declarada do pós-modernismo para uma nova filosofia da história, preocupada com questões tais como a reabilitação da experiência e da presença (do passado) na escrita da história.

    É este trabalho que agora apresentamos ao público brasileiro, ao leitor interessado nos principais temas da teoria e da historiografia contemporânea. Para quem conhecia, unicamente, a produção deste historiador holandês disponível no Brasil até a presente data, se surpreenderá com o Ankersmit desta coletânea. Contudo, o problema posto por ele, desde seus textos mais conhecidos, continua atual, a saber: a linguagem tomada como um problema e, mais ainda, um problema que o historiador deve enfrentar. Dito em outras palavras, o problema da narratividade está posto, em Ankersmit, do começo ao fim. Nesse sentido, podemos dizer que é bastante expressivo o percurso trilhado pelo historiador holandês, ele indica a incorporação intelectual de um racionalismo mais duro, tanto na dimensão da pesquisa quanto da representação. E a forma escolhida por ele para dar expressão ao seu pensamento, particularmente nesta coletânea, é indicativa dessa rigidez. Sabemos que pensar na linguagem como um problema nos sugere, também a pensar na questão de como, afinal, eu conto uma história. Ankersmit sabe disso, e desse pecado não pode ser acusado. Ele articula, com a intimidade de quem transita há décadas nesses territórios, os problemas da filosofia da linguagem com os da historiografia.

    Como uma espécie de guia, oferecemos ao leitor um mapa intelectual dos problemas propostos pelo historiador holandês ao longo deste livro.

    Capítulo 1: o uso da linguagem na escrita da história

    A partir da questão: como o conhecimento historiográfico é possível? Que remonta a Kant em seu aporte filosófico à epistemologia, porém que a entende como uma pergunta equivocada, Ankersmit não tentará demonstrar a possibilidade do conhecimento histórico, reforçando o status científico da historiografia moderna, mas partirá do reconhecimento da inexorável subjetividade do historiador, e de que a história não é uma ciência, nem produz conhecimento no sentido próprio da palavra e, por fim, de que isso não é tão ruim quanto pode parecer à primeira vista. Isso será linguística que ordinariamente associamos com a expressão do conhecimento científico) e, segundo, da narrativa histórica (isto é, a forma linguística empregada pelos historiadores). Concluir-se-á, assim, que, se a história tem uma epistemologia própria, esta não teria um caráter de conhecimento, mas de uma organização do conhecimento, que, por sua vez, traduz-se em uma proposta de como o passado poderia ser visto.

    Capítulo 2: virada Linguística, teoria literária e teoria da história

    No capítulo seguinte, Virada Linguística, teoria literária e teoria da história, Ankersmit permanece ocupando-se do tema transversal da escrita da história, levando agora em consideração a questão da relação entre a chamada Virada Linguística e a introdução à teoria literária como um instrumento para a compreensão da escrita da história. Postula, dessa forma, (1) que há uma assimetria entre as reivindicações da Virada Linguística e os da teoria literária; (2) que a confusão entre esses dois tipos de reivindicação tem sido mais infeliz sob a perspectiva da teoria histórica; e que (3) a teoria literária tem muito a ensinar sobre a escrita da história ao historiador, mas não tem qualquer tipo de influência sobre os tipos de problemas que são tradicionalmente investigados pelos teóricos da história. Ainda assim, chega à conclusão de que qualquer um que desejar escrever uma história sobre a escrita da história não deve deixar de fora a questão de sua relação com a teoria literária.

    Capítulo 3: da linguagem para a experiência

    No capítulo intitulado Da linguagem para a experiência, Ankersmit toma como ponto de partida as leituras de Rorty, Gadamer e Derrida a respeito da possibilidade (ou não) da linguagem dar conta da experiência do mundo. Crítico do transcendentalismo linguístico, o autor opta pela experiência como única maneira de se projetar o passado sobre o presente. Para Ankersmit, os acontecimentos passados são textos que não possuem significados intrínsecos, tais significados são atribuídos a eles pela mente que lê. Por isso, diz Ankersmit, [...] a história que o historiador conta sobre a transição de uma maneira de experenciar o mundo para outra mais tardia é uma história que toma lugar no próprio tempo de vida do historiador. Afirmativamente, o autor finaliza seu texto acreditando que depois de jogarmos fora as teorias transcendentalistas de explicação do passado seremos [...] presenteados com um novo tipo de escrita da história.

    Capítulo 4: experiência histórica: além da Virada Linguística

    Diferentemente da ingênua concepção do século XIX de uma historiografia que pretende provocar a ilusão de que estamos olhando para o próprio passado em vez de um texto, no século XX, particularmente a partir da publicação de Meta-história de Hayden White, entendemos que não olhamos por meio de textos, mas para eles. Essa descoberta abriu caminho para o reconhecimento de que o texto histórico gera significado histórico, ao mesmo tempo em que regulamenta as possibilidades criativas do historiador. A preocupação com a linguagem, principal marca do pensamento historiográfico contemporâneo, é, ao mesmo tempo, um convite a um olhar não linguístico da história. Buscando ir além, e não contra a Virada Linguística, Ankersmit explora o conceito de experiência histórica. Guerras, revoluções, descobertas científicas – em suma, grandes acontecimentos que conformam a experiência histórica coletiva – poderiam ser contrastados à experiência cotidiana e ao olhar individual sobre o passado, capaz de subitamente apreender a indelével marca de que as coisas já não são como outrora.

    Capítulo 5: representação e referência

    Traçando um paralelo entre metáfora e representação, o pensador holandês sugere que a história possui o poder de caracterizar uma representação do passado como algo. Essa ideia o leva a afirmar que as criações dos historiadores (como, por exemplo, o Renascimento) nos convidam a ver períodos históricos como aquilo que associamos a esses conceitos. Ou seja, a história representa o passado, criando sentidos que necessariamente exigirão do leitor tomar certa atitude com relação a certos acontecimentos, sujeitos, ou conceitos. Conceber o texto histórico como representação é, para Ankersmit, crucial para uma compreensão adequada da representação histórica, e requer a aceitação de que o passado funciona como uma tela em branco, em que o historiador projeta significados.

    Capítulo 6: verdade na história e na literatura

    Esse ensaio lida com o papel da narrativa em ambas, ficção e escrita da história. Admite-se que o tópico não é nada original, pois vem sendo trabalhado por muitos desde Roland Barthes até Hayden White. Ambos endereçam o interesse na dimensão literária da escrita da história. Todavia, aqui se propõe também o caminho inverso: investigar a contribuição da escrita da história para um melhor entendimento do romance, ou pelo menos de algumas variantes dele.

    Capítulo 7: sobre história e tempo

    Neste capítulo, Ankersmit se dedica a um debate de suma importância para o trabalho historiográfico, como o título deixa evidente. Diferentemente de grande parte dos historiadores, que considera a questão do tempo de crucial importância para o seu trabalho, Ankersmit pensa que a temporalidade é sempre um ponto de partida importante, mas as suas marcas devem desaparecer para que o trabalho do narrador seja considerado bem-sucedido. O tempo teria, assim, um papel paradoxal, pois de um lado ele é imprescindível como ponto de partida da historiografia, por outro, as suas marcas devem desaparecer do texto para que os demais historiadores reconheçam a competência narrativa de um profissional desse campo. Que historiador profissional estaria disposto a reconhecer como historiografia bem feita um trabalho que se limitasse a apresentar uma sequência cronológica de fatos?

    Capítulo 8: entrevista com F. R. Ankersmit

    A entrevista que realizamos com Ankersmit enriquece por demais a visão que podemos ter de sua perspectiva teórica. Por meio dela, podemos obter esclarecimentos de pontos complexos de seu trabalho, além de sermos introduzidos nos temas mais recorrentes de seus escritos. Poderíamos arriscar a dizer que, à medida que o confrontamos com nossas perguntas e curiosidades, vemos desvelar-se à nossa frente uma faceta surpreendente de nosso personagem. Esperamos que o leitor também seja pego de surpresa com suas respostas!

    Gabriel Giannattasio

    Jonathan Menezes

    Alfredo Oliva

    Maria Siqueira Santos

    Gisele Lecker de Almeida

    Preface

    Hegel once observed that the word ‘history’ has a double meaning in most languages. ‘History’ may refer to both ‘res gestae’ (that is, the past itself) and to ‘historia rerum gestarum’ (that is, the story we may tell about the past). Two kinds of philosophy of history correspond to this double meaning of the word. So-called speculative philosophy of history is a philosophical reflection on the past itself. It takes into account all that happened in the past and then tries to discern some hidden meaning in it. A meaning that is argued to be not accessible to historians themselves, since they are professionally content to describe the past and refuse to speculate about this deeper meaning of the past. This is the kind of philosophy of history that we may find in Hegel, in Marx and in Spengler or Toynbee.

    Though we will all be fascinated by the amazing and challenging panorama’s painted by speculative philosophers of history, though we may be deeply impressed by the profundity of the historical insight that is sometimes displayed by these speculative philosophers, this kind of philosophy of history acquired a bad reputation since the 1950s. Speculative philosophy of history was accused of presenting us with a pseudo-knowledge of the past. More specifically, it was pointed out that speculative philosophy of history was a branch of metaphysics, since it claims to knowledge were not so much false as unverifiable. For example, when Kant or Hegel argued that history is the march of Reason through the human past, they took care to formulate their claim in such a way that each potential counter-example could be transformed into a confirmation of their views. Self-evidently, the recognition of this feature of speculative philosophy of history was enough to discredit it in the eyes of the positivist, and scientistically minded theorists of some forty to fifty years ago. And this attack on speculative philosophy of history has been so successful that even though metaphysics made a most surprising come-back since the 1970s, speculative philosophy remained an approach to the past shunned by both historians and philosophers.

    So this left us with so-called critical philosophy of history drawing its inspiration from a philosophical reflection on the ‘historia rerum gestarum’, i.e. on how historians may succeed in telling a truthful story about the past. This changed philosophy of history into a branch of epistemology. For if the epistemologist asked how knowledge of the world is possible and what requirements have to be met if a statement is to be counted as true, critical philosophy of history investigated how knowledge of the past is possible and how the historian’s language and the past itself are related to each other.

    Three phases can be discerned in critical philosophy of history as it developed since the 1950s. The first phase is to be associated with the by now so infamous ‘covering law model’. One began with the wholly unexceptionable observation that historians not only describe the past but that they also tried to explain it. And then one now asked oneself what formal requirements a valid historical explanation would have to satisfy. The idea was, roughly, that for the explanation of a historical event, say E, two things were needed. In the first place a general law of the form x(C1 …. Cn) → xE; next the state of affairs x(C1 … Cn) should have been observed in actual historical fact. If these demands were met, E (i.e. the consequence to be causally explained) could be logically derived, by means of the modus ponens rule, from the general law and the statement x(C1 … Cn) (i.e. the event’s cause). One could say, finally, that the law x(C1 … Cn) → xE ‘covers’ both cause and consequence – hence the model’s peculiar name. This undoubtedly was a neat and compelling story about historical explanation. Moreover, it had the advantage of implying that historical writing is (applied) science. This seemed to assuage positivist worries about the unity of science. For history could now be claimed to make use of the same methods as the sciences.

    But the problem with the covering law model has always been that an impartial look at what historians are actually doing makes abundantly clear that the model is completely at odds with the practice of historical writing. There simply never is any talk in historical writing about general laws and about how they apply to the past. Worse still, the model makes no sense for the sciences themselves since the scientist does not justify the theories proposed by him by deriving them from ‘covering laws’ that should be previously given to him. And ten to fifteen years of vain struggle to adapt the covering law model to historical practice did not succeed. So the model was quietly abandoned in the sixties, though it succeeded in continuing its agony down to the present day in the writings of some historical theorists drawing their inspiration from the social sciences, such as sociology or economy.

    This may explain why historical theorists now turned to hermeneutics in order to account for historical explanation and why historical theory moved to a second stage in the 1960s. The crucial assumption in hermeneutics is that historians do not rely on historical laws in order to explain the past; they do so, in the famous words of R.G. Collingwood ‘by re-enacting the past in their own mind’. That is to say, they ask themselves what they would have done themselves if they had been in the shoes of the historical agent whose actions they investigate. But this model was not without its problems, too. Covering law modelists were quick to point out that all this is mere heuristics. It may well be that this is how we hit upon our intuitions of what might well be an acceptable explanation of the historical agent’s actions. But, as they went on to argue, after you have made this first step, you will have to provide proof that your intuitions about what made a person do something are really correct. And for this, as they eagerly pointed out, you will inevitably need a general law or some statistical generalization about human behavior demonstrating that this is how human beings ordinarily behave under the relevant circumstances. Though the hermeneutic model was endlessly refined – as, for example, in the so-called teleological model and in the ‘logical connection argument’ – hermeneuticists never succeeded in producing a really convincing riposte to the covering law modelist’s queries.

    This was, more or less, the situation in historical theory when Hayden White published in 1973 his immensely successful Metahistory. The historical imagination in nineteenth century Europe and by, doing so, made historical theory enter a third phase and in which we still find ourselves. Two aspects of White’s book deserve our attention here. In the first place, White sidestepped this whole discussion of covering law modelists and of hermeneuticists about historical explanation by emphasizing the cognitive importance of the historical text as a whole. That is to say, he reminded us of the fact that we should always discern three levels in the historical text. There is the most elementary level of historical description; i.e. the level where the historian describes individual states of affairs in the past. Next, there is the level of historical explanation and that had always been at stake in the discussion between the covering law modelists and the hermeneuticists. But, as White went on to demonstrate, there is the still far more important third level, i.e. the level of the historical text as a whole and where the historian presents us with a certain representation of the past. Think, for example, of how Burckhardt’s Die Kultur der Renaissance in Italien (The Culture of the Renaissance in Italy) presents us with a representation of 15th and 16th century Italian culture as a ‘rebirth’ of classical antiquity. The descriptions and explanations we may find in the text are merely the components of the text as whole, and their function is only to contribute to this whole. So what was, in the end, wrong with the discussion between the covering law modelists and the hermeneuticists is that they had always remained blind to this third level. And this accusation was all the more pertinent, since from a cognitive point of view this is the level that truly counts. It is no coincidence that historians write books and do not just jot down individual statements about the past or about how two individual events are causally related to each other. This is because historians know that it is the book as a whole where they present the essence of their conceptions about the past.

    I admit that a certain amount of interpretative benevolence will be needed to discern this claim in White’s Metahistory. But I am nevertheless convinced that the claims has been part of White’s intentions and, moreover, that the claim was completely correct and wholly to the point. The claim meant a decisive paradigm-change in historical theory; and it was a tremendous improvement on the rather helpless and fruitless discussions of the covering law modelists and the hermeuticists. I tend to be somewhat more critical, though, about a second aspect of White’s opus magnum. For in order to deal with the historical text as a whole White developed a structuralist grid within which, according to him, all historical texts could be fitted in one way or another. The grid consisted of four tropes, four ‘modes of emplotment’, four ‘modes of argument’ and four ‘modes of ideological implication’. And the idea was that as soon as the historian would have chosen in favor of a certain trope this would compel him to chose for a certain mode of emplotment, argument and ideological implication as well.

    Now, one may well have one’s doubts about the merits of the tropological grid as such – but this is an issue that I shall leave aside here. There is, however, a question of a more general theoretical significance that we cannot afford to ignore. We should note that White’s theory of history, as developed in Metahistory focuses on the level of the historical text exclusively. That is to say, it leaves no room for an analysis of the relationship between the historical text and that part of the past itself that is expounded in the text. Consequently, it excludes the possibility of a discussion of the epistemological aspects of this relationship between historical writing and the past. Because of this, we cannot expect from White’s theory of history to inform us about the epistemological problem of why one text may succeed in doing better justice to the past than some other. Or, to put it differently, White’s historical theory is indifferent to the issue of representationalist success. In this way Metahistory has been the counterpart in historical theory of Derrida’s notorious ‘il n’y a pas de hors-texte’ (‘there is nothing outside the text’): for in both cases an exclusive focus on the text invited a neglect of what the text is about and of how the text and the world are related. This may also explain why so many commentators have inferred a relativist or scepticist position from White’s historical theory. And, indeed, it is true that White does not clarify why we could justifiably hold that one historical account is better than some other. But this is not so because White’s theory should explicitly aim at a relativist or scepticist position.

    It is, rather, that White simply does not address in any of his writings the issue of how the historical text relates to the past. The significance of White’s theory is, therefore, exclusively historiographical. That is to say, it may help us understand how meaning is generated in the historical text and how we should therefore read and interpret historical texts once they have come into being. But his theory does not offer us a theoretical guide for how to decide between alternative historical accounts of part of the past – nor has it ever meant to be such a guide. So my view would be that White’s theory of history is immensely valuable for the historian of historical writing – but it will yield no answer to the question for how best to account for the past.

    This book’s main intention is to remedy this. In the first part the emphasis is on the so-called linguistic turn, that is to say, on the recognition that no account of truth should be taken seriously that is blind to what language may bring to truth. The linguistic turn was introduced into philosophy of language by Quine. Quine had emphasized that truth claims cannot be decided by comparing bits of language with bits of the world as was suggested by empiricism. Rather, truth claims tend to cluster in theoretical wholes evading a direct confrontation with reality. To put it metaphorically, the coherence of language and its affinity with linguistic holism challenges the empiricist model of a direct confrontation of language and reality.

    Firstly, Quine’s holism is transferred here to the domain of historical writing on the basis of the assumption that historical concepts, such as trade unionism, the industrial revolution or ‘the age of globalism’ also comprise such wholes as expressed by the texts used for presenting individual accounts of trade unionism etc. Hence, the conceptual apparatus developed and used in historical writing can only properly be analyzed in terms of the historical text as a whole of perhaps many thousands of sentences about some part of the past. All understanding of the writing of history is only partial and unsatisfactory as long as it remains blind to the text as a whole – for the text as a whole determines the meaning of historical concepts. And any account of historical truth demands and presupposes an account of how historical concepts come into being and how we decide about their capacity to contribute to our knowledge of the past.

    Secondly, the focus on the historical text as a whole effects a rapprochement between my argument in the essays presented in this book and Leopold von Ranke’s and Wilhelm von Humboldt’s historicist doctrine of the so-called ‘historical idea’. They conceived of the ‘historical idea’ as a kind of entelechy inhering in historical phenomena themselves and determining how they would develop in the course of their history. Just as Aristotle had argued that we must postulate an entelechy in an acorn that determines its eventual development into a large and mighty oak.

    Admittedly, nobody will nowadays feel any sympathy for Aristotelian entelechies and for how it was put to use in the historicist’s doctrine of the historical idea. It is argued, however, that if we transform Ranke and Humboldt’s notion of the ‘historical idea’ from a theory on historical phenomena into a theory on the historical concepts we use for describing and discussing such phenomena, we will obtain a most successful theory of the practice of historical writing better explaining that practice than any of its rivals.

    Thirdly, this historical text is argued to be a representation of the past much in the way that we may say that a portrait is a representation of its sitter or that our parliaments represent the electorate. In all these three cases something that is absent (the past, the person portrayed or the electorate) is made present by the representation. The concept of representation has been investigated by several theorists – especially by Arthur Danto in a series of brilliant studies. So what these theorists have written on representation may enable us to obtain a more satisfactory insight into the nature of historical concepts and of how they are used by historians. Indeed, the notion of representation will undoubtedly be our best guide in philosophy of history’s future.

    Frank Ankersmit

    Groningen University

    Prefácio

    Hegel certa vez observou que a palavra História tem um duplo significado na maioria das línguas, podendo se referir tanto a "re gestae (isto é, ao passado em si mesmo) quanto a historia rerum gestarum" (a história que podemos narrar sobre o passado). Dois tipos de filosofia da história correspondem a esse duplo significado da palavra. A chamada filosofia especulativa da história é uma reflexão filosófica sobre o passado em si mesmo. Ela leva em conta tudo o que aconteceu no passado e então tenta encontrar algum significado ali escondido. Um significado que se argumenta não ser acessível aos próprios historiadores, uma vez que eles estão profissionalmente contentes em descrever o passado e se recusam em especular sobre o significado mais profundo do passado. Esse é o tipo de filosofia da história que vamos encontrar em Hegel, Marx, Spengler ou Toynbee.

    Embora todos possam ficar fascinados pelo maravilhoso e desafiador panorama pintado pelos filósofos especulativos da história, ainda que fiquemos intensamente impressionados pela profundidade do conhecimento histórico por eles às vezes exibido, esse tipo de filosofia da história adquiriu uma má reputação a partir dos anos 1950. A filosofia especulativa da história foi acusada de nos apresentar um pseudoconhecimento sobre o passado. Mais especificamente, afirmou-se que a filosofia especulativa da história era um ramo da metafísica, uma vez que suas pretensões ao conhecimento não eram tão falsas quanto inverificáveis. Por exemplo, quando Kant ou Hegel defenderam que a história é a marcha da razão por meio do passado humano, eles tiveram o cuidado de formular sua alegação de tal forma que cada potencial contraexemplo poderia ser transformado em uma confirmação de suas opiniões. Evidentemente, o reconhecimento dessa característica da filosofia especulativa da história foi suficiente para desacreditá-la aos olhos dos teóricos positivistas e de mentalidade cientificista de uns 40 ou 50 anos atrás. E esse ataque tem sido tão bem-sucedido que, mesmo com o surpreendente retorno da metafísica durante os anos 1970, essa se manteve como uma abordagem ao passado a ser evitada tanto por historiadores quanto por filósofos.

    Isso nos deixa com a chamada filosofia crítica da história, inspirada na reflexão filosófica sobre a "historia rerum gestarum", isto é, em como historiadores podem ser bem-sucedidos em narrar uma história confiável a respeito do passado. Isso transformou a filosofia da história em um ramo da filosofia. Pois, se o epistemologista perguntou como um conhecimento do mundo é possível e que requisitos precisa-se encontrar se queremos que uma declaração seja contada como verdadeira, a filosofia crítica da história investigou como o conhecimento do passado é possível e como a linguagem do historiador e o passado em si mesmo estão relacionados.

    Três fases podem ser discernidas na filosofia crítica da história tal como se desenvolveu desde a década de 1950. A primeira fase pode ser associada com o agora infame modelo de cobertura legal (covering law model). Começou-se com a irrepreensível observação de que os historiadores não apenas descrevem o passado, mas também tentam explicá-lo. E então alguém se perguntou que requerimentos formais uma explicação histórica válida deve ter para satisfazer. A ideia foi, grosseiramente, que, para a explicação de um evento histórico E, duas coisas seriam necessárias. Em primeiro lugar, uma lei geral da forma x(C1 …. Cn) ® xE; a seguir o estado de coisas x(C1 …. Cn) deveria ser observado em fatos históricos reais. Se essas demandas fossem preenchidas, E (isto é, a consequência a ser causalmente explicada) poderia ser logicamente derivada por meio de uma lei de modus ponens,¹ da lei geral e da declaração x(C1 …. Cn) (isto é, a causa do evento). Alguém poderia dizer, finalmente, que a lei x(C1 …. Cn) ® xE cobre tanto causa como consequência – daí o nome peculiar do modelo. Essa foi indubitavelmente uma pura e convincente história sobre a explicação histórica. Ademais, ela teve a vantagem de sugerir que a escrita da história é uma ciência (aplicada), o que pareceu amenizar as preocupações positivistas acerca da unidade da ciência. Pois a história então poderia reivindicar o direito de uso dos mesmos métodos das ciências.

    O problema com o modelo de cobertura legal sempre foi o de que um olhar imparcial sobre o que os historiadores têm feito, atualmente, mostra muito claramente que este modelo está em completo desacordo com a prática da escrita da história. É simplesmente incomum qualquer conversa na escrita da história sobre leis gerais e sobre como elas se aplicam ao passado. Pior ainda, o modelo não faz sentido também para as ciências, uma vez que o cientista não justifica as teorias propostas por ele, derivando-as de uma cobertura por leis que deveriam ser dadas previamente a ele. Assim, os dez a quinze anos de luta vã para adaptar o modelo de cobertura legal à prática histórica não foram capazes de fazer com que o modelo parecesse sequer um pouco melhor. Então, o modelo foi silenciosamente abandonado nos anos 1960, embora tenha se perpetuado em sua agonia até o presente nos escritos de alguns teoristas da história, extraindo sua inspiração das ciências sociais, tal como a sociologia ou a economia.

    Isso pode explicar a razão pela qual os teoristas da história migraram para a hermenêutica a fim de prestar contas para a explicação histórica, e por que a teoria da história passou para um segundo estágio nos anos 1960. A suposição crucial na hermenêutica é a de que os historiadores não dependem das leis históricas para explicar o passado; eles o fazem, nas famosas palavras de R. G. Collingwood, reencenando o passado em sua própria mente. Isso quer dizer que eles perguntam a si mesmos o que teriam feito se tivessem estado nos passos do agente histórico cujas ações eles investigam. Mas, esse modelo também não esteve livre de problemas. Adeptos do modelo de cobertura legal foram rápidos em dizer que isso tudo não passou de mera heurística. Pode bem ser que assim é que batemos em cima de nossas intuições sobre o que poderia muito bem ser uma explicação aceitável das ações do agente histórico. Mas, como eles passaram a argumentar, depois que se dá esse primeiro passo, ter-se-á de provar que suas intuições sobre o que faz uma pessoa fazer alguma coisa estejam corretas. E por isso, como eles ansiosamente pontuaram, você inevitavelmente precisará de uma lei geral ou alguma generalização estatística sobre o comportamento humano, demonstrando que essa é a maneira como seres humanos ordinariamente se comportam sob condições relevantes. Embora o modelo hermenêutico tenha sido infinitamente mais refinado – como, por exemplo, no chamado argumento teleológico ou no argumento de conexão lógica – os hermeneutas nunca tiveram êxito em produzir um contra-ataque realmente convincente às inquirições dos adeptos do modelo de cobertura legal.

    Essa era, mais ou menos, a situação na teoria da história quando Hayden White publicou, em 1973, seu imensamente bem-sucedido livro Meta-História: a imaginação histórica na Europa do século XIX, e, por meio dele, fez a história entrar em uma terceira fase na qual ainda permanecemos.

    Dois aspectos do livro de White merecem nossa atenção aqui. Em primeiro lugar, ele evadiu toda

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