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Síntese 4 – A CONSTRUÇÃO SOCIAL DA TECNOLOGIA

Eliane Abel de Oliveira1

O texto de Feenberg (1995) defende a idéia de remodelar o mundo tecnológico que nos
cerca apontando que não apenas a ciência e a tecnologia podem encontrar soluções para
as demandas existentes, mas também a ética, a estética e a cultura podem ajudar nessa
busca.

Ao contrário da Teoria Crítica da Escola de Frankfurt, Feenberg (1995) aponta para um


novo modelo de crítica social onde a hermenêutica, a sociologia da tecnologia, a
investigação e a ética contribuem para a discussão crítica da tecnologia.

Através do debate público, acredita que a tecnologia possa sofrer mudanças no sentido
de se tornar mais democrática, contudo essa liberdade de mudança sofre em virtude de
uma cultura hierarquizada da ordem técnica, pois acredita que a apropriação da
tecnologia, ao contrário do que dizem os deterministas, é social e que uma distribuição
desigual da influência tecnológica contribui para a injustiça social.

O texto “Alternative Modernity” defende que a tecnologia deva expressar todos os


autores sociais, desde burocratas governamentais até o cliente final, comparando o
desenvolvimento tecnológico às instituições públicas, pois acredita que ambos devam
ter os mesmos padrões democráticos, tendo um caráter público associado a debates.

Feenberg (1995) aponta ainda que os sistemas técnicos desenvolvidos não podem ser
considerados prontos antes de passar por testes sociais, onde um vasto público com
inúmeras influências possam opinar, uma vez que foram excluídos do processo de
concepção do produto, provocando desta forma, modificações à tecnologia através de
sua aplicabilidade.

Já o texto de Pinch e Bijker (1997) afirma que todo o conhecimento e todo crédito do
conhecimento devam ser tratados como algo socialmente construído. Assim como
Feenberg (1995), Pinch e Bijker (1997) também acreditam que o desenvolvimento
tecnológico deva estar aliado com a participação da sociedade, por impactar na cultura e

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Mestranda em Tecnologia pela UTFPR
no modo de vida das pessoas, que as tecnologias provêem de circunstâncias históricas e
épocas onde a ciência básica influenciou o modelo que está presente nos dias atuais.

Os filósofos propõem uma divisão entre ciência e tecnologia, contudo, para os autores,
ciência e tecnologia estão interligadas entre si, sendo que ambas são socialmente
produzidas obedecendo uma variedade de circunstâncias sociais. Essa divisão, que
propõe os filósofos, não está na diferença entre o saber e o fazer.

A diferença entre ciência e tecnologia é tênue, quase imperceptível, devendo ser


realizada uma análise minuciosa a partir de “seu interior como um corpo de
conhecimento e como um sistema social”, tendo consciência de que a inovação
tecnológica negligenciada a um estudo superficial tende a levar a modelos lineares.

Pinch e Bijker (1997) apontam também para duas abordagens: a Sociologia do


Conhecimento Científico (EPOR) que baseia-se numa investigação empírica e a
Sociologia da Tecnologia (SCOT) onde o desenvolvimento de um artefato é descrito
como alternância de variação e seleção. Como o desenvolvimento de artefatos
tecnológicos são socialmente construídos, a situação política e sócio cultural de um
povo molda suas normas e valores influenciando o sentido dado a estes artefatos.

Concluindo, a tecnologia não é apolítica, ela é acoplada ao processo de concepção e a


identidade de uma sociedade. O fazer e o saber tecnológico deve estar arraigado com a
cultura e as necessidades da sociedade que será afetada pelos desenvolvimento
tecnológico. A partir do momento que a discussão tecnológica estiver presente no
cotidiano da sociedade, “vamos descobrir o que realmente significa para viver e criar
em uma sociedade tecnológica”.

REFERÊNCIAS

FEENBERG, Andrew. Technology and freedom. In: Alternative Modernity. The


technical turn in Philosophy and Social Theory. Los Angeles: University of
California Press, 1995.

PINCH, Trevor & BIJKER, Wiebe. The social construction of facts and artifacts: or how
the Sociology of Science and the Sociology of Technology might benefit each other. In:
BIJKER, Wiebe; HUGHES, Thomas & PINCH, Trevor. The Social Construction of
Technological Systems. Cambridge, Mass.: MIT Press, 1997.

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