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Cetim Vermelho
A Mulher do Ministro
A pessoa que ligou disse que era do gabinete da Presidência. Nice, uma
eficiente secretária apressou-se a repassar a ligação. Ele impostou a voz e
limpou um fio imaginário no paletó.
-Pois, não? Deputado Sandro Albuquerque falando...
© Copyright 1996-2009 by Osair de Sousa.
All Rights Reserved. This story may not be reproduced in any form or distributed without the author's
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Goiânia, Goiás, Brazil - 1996,
-Oi, deputado... Como vai?
-Desculpe... Quem está falando? Não é da Presidência?
- Não, nobre deputado... Eu acho que é bem melhor que qualquer
presidência.
- É mesmo? Qual o seu nome? Trabalha aqui no Congresso?
- Não, mas vi você no restaurante do Senado, na semana passada... Não o
conhecia de perto. Gostei... E pode me chamar de Mara.
- E posso saber o que fazia no restaurante do senado, Mara? – aquela
conversa, estranha, fora do comum, estava agradando ao deputado Sandro,
num dia especialmente chato e repleto de reuniões improdutivas. Uma maluca
inteligente, com uma voz sensual e cheia de promessas, era um bom pretexto
para quebrar a rotina.
- Tinha até lá para encontrar um velho amigo, de Santa Catarina -. A voz
era melodiosa, parecia até apresentadora de telejornal da Globo.
- E qual o motivo da ligação, senhora?
- Dispenso o “senhora”, deputado...
- Dispenso o “deputado”, Mara...
- Ótimo. Acho que estamos na direção correta. Voltarei a ligar, Sandro.
Avise à sua secretária... Assim não preciso dizer que é do gabinete de
Presidência, não é?
- Não vai dizer o motivo da ligação, Mara?
-...Puro desejo de conhecê-lo melhor. Mas teremos tempo... Ou não?
- Claro. Ligue, sim. Estarei aguardando.
Voltou a ligar outras vezes. Deixou escapar de propósito que era casada,
mas gostava de variar um pouco. Duas semanas depois, marcaram um almoço
para que ele a conhecesse. O deputado não se empolgara nem um pouco com
esse acontecimento. Estava casado há pouco tempo com Luciana, sobrinha de
um senador de Alagoas e ainda se encontrava na fase do homem apaixonado e
fiel. O simples fato de marcar um almoço com uma estranha e sedutora
mulher, dera-lhe um certo remorso, daqueles que só recém-casados têm.
Desmarcou o encontro.
- Estou num período de muito trabalho, votações da reforma, entende?
Vamos esperar a poeira baixar, aí podemos ficar mais à vontade.
Mara não voltou a ligar. O deputado, ocasionalmente lembrava-se da
mulher misteriosa e sentia um vago arrependimento de tê-la despachado.
Numa noite, sozinho em seu apartamento funcional, sonhou com uma bela
mulher que o beijava e se esfregava sinuosamente por todo o seu corpo com
extrema sensualidade. "Olha só o que você perdeu... Só penso em você, só
queria você por uma noite...", dizia-lhe no sonho. Acordou com o toque
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insistente do telefone. Pensou, entre preocupado e ansioso, que pudesse ser
ela. Não era. Fora uma ligação da secretária do ministro da Agricultura. “Até
que não foi um sonho ruim”, pensou, enquanto se levantava para mais um dia
de uma agenda lotada.
Ao final da tarde, uma surpresa.
- A senhora Mara na linha. O senhor fala com ela?
Pensou por alguns instantes e sorriu o sorriso do macho gostoso. Não era
um ato involuntário – realmente era sincero com o seu narcisismo.
- Falo. Pode passar... Alô! Como vai a minha misteriosa sedutora?
- Bem. Estou ligando para saber se já está tudo limpo por aí e, também,
para reiterar o meu convite para um almoço...
- Como assim, “limpo por aqui?...”
- A poeira ainda não baixou?
- Ah! Entendi... Baixou um pouco. Podemos marcar para qualquer dia
desta semana, você é quem manda...
Estava resolvido a saber se ela valia um remorso. Não já invadia até os
seus sonhos? Luciana estava na praia com a família dela. Não teria com o que
se preocupar. Motivos e desculpas não lhe faltavam. “Tô precisando de um
pouco de adrenalina sexual, mesmo”.
Mara, a senhora Negrini, sugeriu o Gerônimo, um restaurante freqüentado
pela High-Society de Brasília. Sandro percebeu que ela queria jogar no seu
campo. Para ele estava tudo bem, ela é quem convidava.
"Acho que sou um pouquinho mais velha que você..." Havia dito essa frase
como se pedisse, antecipadamente, desculpas caso não o agradasse. O
deputado não se importava com essa coisa de mulher “um pouco mais velha”.
Para ele, experiência era um aditivo altamente excitante. Na verdade ficou
ainda mais curioso depois dessa informação. Imaginou que ela devia ter uns
36, 38 anos. Ele, com 34 bem vividos, disse-lhe adorar que fosse assim, o que,
de certa forma, a tranqüilizou.
Perguntas e respostas importantes:
- Como vou saber quem é você?
- Estarei sentada numa das mesas do fundo, vestido azul-turquesa...
- Como é o seu cabelo? (Não era tão importante assim, mas...).
- Curto, liso, corte chanel e ruivo. Mas eu te conheço, não é? Quando você
entrar, acenarei discretamente.
Tudo certo para o dia seguinte. À noite, ligou para Luciana. Disse estar
com saudades e que a amava. Por que resolveu ligar e dizer isso, ele não
soube ao certo, mas que disse a verdade, isso disse. Encontrava-se num
período de tranqüilidade conjugal, curtindo essa nova fase da vida. Luciana
O Ciúme
Equívocos
Divina
- Existecoisa pior que uma bem prometida e não realizada transa? Existe?
Vai, me diz se existe. Fala pra mim.
A Vizinha de Cima
A Espera
Sem Fantasia
Queria ver Sandra novamente. Liguei no seu trabalho, pelo sexto dia
consecutivo. Estava, finalmente. Combinamos de ela ir à minha casa. "Nove
horas tá bom?" Estava mais do que ótimo.
Ela é gerente de uma empresa de telemarketing. Nos conhecemos no mês
passado, na festa de aniversário da Helena, minha ex-mulher. Foram amigas
de faculdade. Helena me convidara com uma desculpa... "Afinal, você é o pai
de meus filhos, temos de nos relacionar bem". Queria que eu conhecesse seu
novo namorado, não tive dúvidas. Era simpático e calvo, uma associação,
aliás, bastante comum. Me apresentou ao cara, depois a Sandra.
"Se foram amigas de faculdade, por que não nos conhecemos antes?"
Passou dez anos viajando, depois de formada, como relações públicas de uma
indústria de cosméticos. Depois de ouvir a clássica frase: "Então, você é o ex
da Leninha, hem!?" e ser avaliado discretamente, combinamos de tomar um
chope "qualquer dia desses".
Me ligou na segunda, logo de manhã. Eu tinha planos de ligar no final da
tarde. Emancipação e antecipação parecem ser o lema das mulheres
"modernas". Elas, quando estão a fim, não perdem tempo, o que eu acho
muito bom, embora alguns amigos digam que assim "perde a graça". Saímos
logo após o expediente, como recém-conhecidos, e terminamos a noite como
namorados, de uma forma assim meio implícita. O apartamento de Sandra é
aconchegante e, como se não bastasse, tem cheio de fêmea. Foi lá, entre
móveis de notável bom gosto e uma cama macia como sua pele, que tive o
prazer de desnudá-la calmamente. Estava sedenta de sexo. Eu, idem.
"Há muito tempo eu não gozava tão gostoso assim", disse, enquanto
fumava um cigarro. Das mulheres que conheci, e não foram poucas, Sandra
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foi a que mais me excitou, fisicamente e em imaginação. Nessa noite, se deu
inteira, não poupando gemidos, gritos e frases picantes, sem ser vulgar. Mas
não foi somente sexo. Passamos o restante da noite conversando, rindo e
ouvindo música. Era inteligente e alegre. Falou do marido, de quem estava
separada há seis meses. Era lobista em Brasília. O negócio dele era só
negócios. "Não quero mais me prender a ninguém que não me tenha em
primeiro lugar". Perguntou do meu casamento. "Não deu certo, depois de um
certo tempo: nada mais". Helena certamente já tinha dado a minha ficha. Só
não sei se era a parte boa ou a ruim. Quando saí, pela manhã, brincou: "Pensei
que todos os arquitetos fossem bichas, mas agora sei que só alguns é que são".
A categoria me deve uma.
Passei o restante da semana pensando nela e em nosso encontro. Me
contive o máximo que pude para não lhe telefonar e dizer que estava
apaixonado. Esperei que me ligasse, mas não deu sinal de vida.
No final de semana saí com minha secretária, a Maria Cláudia. Fomos até
Caldas Novas. A única coisa boa que aconteceu foi ter podido descansar e
tomar uma sauna. No resto, brochei geral. O pensamento estava sempre em
Sandra. Desci do apartamento para dar uma volta, na noite de sábado, e não
resisti: liguei em sua casa. Ninguém atendeu. Voltamos no domingo à tarde,
calados e frustrados. Maria Cláudia não fez nenhum comentário, como boa
secretária que é.
A vida não é lá muito fácil para um descasado de 35 anos de idade. A
situação financeira regular e o status profissional ajudam, em se tratando de
namoradas. É claro que um pouco de simpatia pessoal é fundamental, e isso,
modéstia às favas, eu até que tenho. Mas a vida, no dia-a-dia, é bem mais
complicada. Exemplo: almoço com cliente que faz questão de levar a esposa
ou a amante a tiracolo. É preciso ter alguém disponível para essas ocasiões, o
que nem sempre se consegue. Aí é que entra a Maria Cláudia, boa secretária e
amante sensual. Não nos amamos, nem namoramos. Tudo acontece de forma
mais ou menos espontânea. É uma relação sem cobranças, embora eu perceba
um dissimulado ciúme quando ela recebe telefonema de alguma de minhas
inúmeras e fugazes namoradas. Às vezes não entendo certas mulheres, como
Maria Cláudia, por exemplo, que aceita esse tipo de situação. No seu lugar,
jamais aceitaria.
Difícil, também, quando se está solteiro, é ficar em casa à noite, sem
programa, querendo companhia. Nessas horas não se encontra ninguém. A
gente passa a agenda de A a Z, inutilmente. Quando isso acontece, fico
bebendo meu uísque doze anos, ouvindo um bom jazz e pensando na vida,
como estou fazendo agora. Tem o lado bom também, não posso ficar
reclamando. Nesta situação em que vivo hoje, a liberdade é bem maior,
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embora em alguns momentos não saiba o que fazer dela. Paciência. E
crianças? Criança é um ser adorável quando está em um porta-retratos em
cima do criado-mudo. Ainda bem que Helena fez questão de fica com a
guarda de nossos filhos, embora eu os ame. Quando a saudade aperta, ligo
para eles e saímos fazendo um tour pelos shoppings. Tomamos sorvete,
pegamos um cinema e, ocasionalmente, fazemos compras. Depois os levo de
volta à casa da mãe, que lá eles estão muito bem e felizes.
Um descasado de 35 anos sofre, mas tem a possibilidade de ter várias
namoradas. Variar é ótimo. Durante os quatro anos em que fiquei casado, me
sentia entediado a maior parte do tempo. Fidelidade ao pé da letra é algo
asfixiante, opressivo mesmo. Eu sentia inveja dos meus amigos, que faziam
questão de exibir para mim as suas "últimas aquisições". Não nasci, confesso,
para a monogamia. Posso até vir a mudar de idéia, mas percebo que é coisa
muito remota. Segurei o quanto pude o casamento.
Helena percebia como eu me sentia, é uma mulher legal. "Vamos acabar
nos separando, dia menos dia. Por que não agora?" Topei. Na verdade, acho
que se casou comigo só para sair da casa dos pais. Nunca houve amor de
verdade, mas uma amizade em que a compatibilidade de valores era muito
forte. Hoje sei que fizemos a coisa certa.
Na última semana, esses pensamentos vêm me atormentado. Pode ser a
crise dos quarenta, antecipada. Tenho pensado até em fazer análise, porém não
sei se conseguiria me expor, ainda que fosse para um profissional. O problema
maior é que me sinto meio cafajeste, quando o assunto é mulher, embora elas
sejam o motivo de tudo o que faço na vida. Uma delas me disse, certa vez, que
eu tinha um que de Nélson Rodrigues. Pode ser...
Atualmente, Sandra é quem vem fazendo a minha cabeça. Melhor:
desfazendo. Só saímos àquela vez e foi o suficiente para me deixar
macambúzio e com a idéia fixa de nos encontrarmos de novo. Será por causa
dela, esse estado de espírito meio pra baixo? Depois da frustrante viagem com
a Maria Cláudia, iniciei a semana disposto a encontrá-la o mais breve
possível. Liguei na sua casa e no seu trabalho, inúmeras vezes, sem obter
sucesso. Não havia chegado, tinha acabado de sair ou estava em reuniões
intermináveis. Deixava recados, não dava retorno. Cheguei a ponto de ligar
para a Helena procurando saber se tinha notícias dela. "Sandra não é para o
seu bico, cara!" Helena sabe, de vez em quando, ser desagradável.
Agora estou tão ansioso quanto um adolescente que vai transar pela
primeira vez. Fiz umas arrumações no apartamento, tentando deixar com a
melhor aparência possível. Comprei flores, joguei um spray com fragrância de
flores silvestres em todas as dependências e coloquei uma meia luz no quarto.
Por fim, encomendei um delicioso jantar italiano. O lobista de Brasília só
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pode ser veado. Essa mulher é simplesmente maravilhosa, uma amante de
primeira, linda, inteligente, sedutora, alegre, independente... Perfeita! Às
nove, começaria a matar todos os meus desejos. E os dela, naturalmente.
"Você está divina, minha adorável Sandrinha! Pensei que não a veria
mais". Disse que teve uma semana conturbada com problemas na empresa e
na família. Ela é muito mais sensual do que eu imaginava. Estava
simplesmente irresistível num vestido de noite decotado, deixando todo o colo
e parte dos seios à mostra. Elogiou o apartamento: "Era o que eu esperava de
um bom arquiteto". Coloquei um CD do Phill Colins, para dar mais clima, e
suavemente a abracei por trás. "Você tá me deixando maluco, Sandrinha!"
Virou-se para mim, sorriu como uma garotinha levada e se afastou, indo
sentar-se numa cadeira próxima ao hall. Naquele instante não tive dúvidas:
estava mesmo apaixonado.
"De quem é o quadro à sua direita?" Era um Siron. "Não consigo gostar do
seu estilo", disse. Percebi que ela estava sem saber o que dizer e pouco à
vontade. "Vou tomar um drinque. O que você quer para beber?" Não queria
nada, só uma água tônica. Busquei as bebidas e ficamos nos olhando por
alguns instantes, sentados frente a frente. "Posso servir o jantar agora, se você
desejar..."
Levantou-se, foi até a janela. Olhou a cidade iluminada por suas luzes
artificiais e pela lua, sem responder. Era uma noite linda. Noite feita para o
amor.
"Não vou poder ficar... desculpe". Acho que seu embaraço, pela minha cara de
espanto e decepção, foi maior do que por ter sido forçada a dizer que não
poderia ficar. Falou que iria a uma boate com o seu patrão, que ciceroneava
um cônsul espanhol e a esposa. Inacreditável! Lembrei-me da Maria Cláudia e
uma raiva incontrolável tomou conta de mim. Sandra me olhou com olhos que
demonstravam uma enorme tristeza. Tentei me controlar, enquanto ela ia até a
uma mesa no canto da sala, onde tinha deixado sua bolsa. Pegou-a. Fiquei
parado, olhando. Aproximou-se de mim, me deu um beijo na face e foi
embora.
O CD do Phill Colins chegou ao final. Fiquei olhando a porta por onde Sandra
saíra há pouco. Fui até a mesa, tirei uma flor champagne do ramalhete e a
olhei distraidamente, pensando no delicioso mistério das mulheres. Devagar a
raiva desapareceu e consegui até sorrir. Liguei para a Maria Cláudia.
Passamos uma noite sensacional na cama, sob uma meia luz, depois, é óbvio,
de um apetitoso jantar italiano.
Sexo Frágil
Happy Hour
Ele, ao desligar:
Ela, ao desligar:
A procura
Elisa saiu da piscina exausta. Nadara por mais de meia hora, com braçadas
vigorosas, de um lado a outro, os vinte e cinco metros, ininterruptamente.
Enxugou-se com a toalha rosa que colocara na cadeira sob um guarda-sol, que
naquela hora, às quatro da manhã, não tinha nenhuma utilidade. Sentiu-se
melhor, respirando profundamente o ar da madrugada fresca de março. As
luzes que iluminavam a piscina refletiam-se na casa em penumbra. A essa
hora, todos dormiam. Estava sozinha, observou. Nada, ninguém, tinha
consciência de sua existência. Somente o céu, repleto de estrelas,
testemunhava a sua solidão e angústia.
Começara a noite no bar do Castro's, às dez horas, onde encontrara Lídia e
Norton Villa. Bebiam uísque com água gaseificada e gelo. Pedira um.
O bar repleto e a animação das pessoas estavam em desacordo com o seu
estado de espírito. Esperava conversar com Jaime naquela noite, e o lugar
mais provável para encontrá-lo seria aquele local. Suspirou resignada e tentou
relaxar para o que poderia ser uma longa espera.
Há uma semana não via Jaime. Não dera notícias desde o último sábado,
quando aparecera em sua casa e lhe dissera tudo aquilo que desde então a
angustiava. Elisa sabia que chegara ao limiar de mudanças em sua vida. Era o
momento de começar a tomar decisões e isso, descobriu, implicava ganhar e
perder.
Vermes e Eclipse
Intenções
Ela me disse que era bailarina. Usava roupas soltas e graciosas, como seus
gestos. Fala macia e sorriso amplo. Fomos apresentados por Eliane, uma
modelo com quem trabalhei umas fotos de moda.
- Se tenho uma frustração na vida, é essa.
- Qual?
- De não saber dançar.
- Começa... Sempre é tempo, não?
- Quem sabe, um dia te procure pra me dar algumas aulas?
- Qual o teu signo? – Perguntou.
- Peixes, ascendente em Touro.
- Ah... - Sorriu, me olhando de uma maneira que me fez ficar encabulado.
Desde os quinze anos não tinha mais esse tipo de reação.
- É tão grave assim?
- Não, eu gosto. Você é um sonhador, um romântico... Posso conhecer seu
estúdio?... Dá licença, eu volto.
Alguém a chamara. Fiquei dando voltas pela galeria, bebendo lentamente o
meu vinho. Olho um quadro desinteressadamente. "Poxa, que garota!",
suspiro involuntariamente.
Tinha saído de casa com a finalidade de encontrar alguém com quem
pudesse passar a noite. Estava carente de uma boa transa. Há dois meses eu
tinha terminado uma relação de dez anos. Foram dois meses só de trabalho e
muito uísque. Não estava preparado para levar um fora. A casa ficou vazia
Lua de Agosto