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VIEIRA, Alberto (2001):

As Migrações e os Descobrimentos Portugueses.


Séculos XV e XVI,

in Imigração e Emigração nas ilhas, Funchal, CEHA,


pp.27-62,

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

VIEIRA, Alberto (2001): As Migrações e os Descobrimentos Portugueses. Séculos XV e XVI, in


Imigração e Emigração nas ilhas, Funchal, CEHA, pp.27-62, Funchal, CEHA-Biblioteca Digital,
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IMIGRACAO E EMIGRAÇÃO
NAS ILHAS

REGIAO A U T O N O M A DA M A D E I R A
AS MIGRAÇÕES E OS DESCOBRIMENTOS PORTUGUESES

Séculos XV e XVI

"Deus dcu aos put?ugucscs um berço estreito


para nascer c um mundo inteiro parn inorrcr"
Pe A rttónio Virirri

Os Descobrimentos Portugueses, a partir do século XV, forain o inicio a um novo


processo de transinigração das populaç8es europeias. Portugal, porque pioneiro neste
processo, assumiu um lugar de destaque. A tradicional moviinentaç%o interna das
populações, resultante da reconquista e ocupação do espaço, sucederam-se outros
movimentos para fora do continente, de acordo com os rumos dos descobrimentos e a
necessidade de ocupaç%ode novos espaços. Seguiido CamTies os portugueses chegaram as
sete partidas do mundo: "e se mais inundo houvera, lá chegara".Aiiiis, a vida do poeta e a
rnaterialização disso. Em Ceuta e, depois, na Índia, em 1553 foi degradado, aventureira,
soldado e funcionsrio. Por tudo isto o vate estava devidamente informado para evocar
esta mobilização nacional em (7.s ~ u s í f l d u . ~ ' .
Aquilo que aconteceu a partir do sdculo XV foi um movimento dinhinico. Os que
partiam cruzavam-se com os que chegavam. Os ultiinas tanto podem ser os escravos,
resultantes das razias africanas, presas da conquista marroquim, ou estrangeiros sedentos
de noticias e de participar na aventura do descobrimento e comércio. Os iinpulsos de
saída evidenciam que esta foi uma empresa nacional. A.J. RUSSELL-WOOD' não hesita
em afirmar que "O império maritiino portugu&scaracterizou-se por uin constante fluxo e
refluxo humano. Algumas estavam ao serviço da coroa, outras ao serviço de Deus, outras

Veja-se Armando de C~qtro,Canloes e a sociedctcle do sei/ tempo, Lisboa, 1980: IDELI,


"CamDes emigrante, i do drama da ernigraçgo", in Revista Caiizfies, nU.2-3, 1980. Liiis de
ALDUQUERQUE, "Luis dc Camões. O cantor de uma obra coIectivn", in Nnvegmiurcs viajoi~lese
. menitri-eiros porhiguescs se'cs. XV e XVJ, voI. I, Lisboa. 1987, pp. 143-156; Martim dc
AI,BUQUERQUE, A expressrlo c h puder ern L ~ í de s Camõps, Lisboa, 1988.
1 U m mrrndo enn Moviniento. Os Portugi!eses na i f i i c a , Ásia e Amiricn (14Ij-i81l8),Lisboa,
1 1398
ao serviço dos homens, outras ainda, cativas dos seus interesses e da ganância pessoal e
Iiavia ainda outras, que eram parte essencial do vaivdm humano do iiiiptrio." Por aqui se
vê quão variado foi o processo.
Aqui a nossa atenção está reservada ao período que decorre da conquista de Ceuta a
meados do sdculo dezasseis. Durante este intervalo de tempo definiu-se o espaço de
ocupaçlo portuguesa no novo mundo e os principais rumos das migrações, encaradas
como inovimento individual ou colectivo. De acordo com A.J. RUSSEL-WOOD' o
primeiro foi evidente iio indico, enquanto o segundo está expresso no Atlâiitico. Tudo isto
é resultado da política subjacente a ocupação dos mesmos espaços4.

AS MIGRAÇÕESUMA CONTANTE DA CULTURA E SOCIEDADE PORTUGUESA

As migrações são uma constante na Histbria de Portugal e fizeram com que os


portugueses atingissem os mais recónditos recantos do Mundo. A forrnnç% e
consolidação do espaço peninsular acontece por força de uma política de povoamento que
deu corpo ao primeiro movimento das populações. Nos dculos XV e XVI o processo de
expansão no Atlantico e Indico projectou esta mobilidade a novos espaços descobertos e
ocupados. A polftica de povoamento e aproveitainento econóinico de alguns destes
conduziu a um surto migratório de gentes capazes de lançar as bases da nova economia
agrícola. A isto acresce a política de defesa e consolidação das fronteiras das novas
areas de ocupação em A,frica, América do Sul e Asia que obrigam a uma permanente
intervençgo com levas de militares.
Esta constante da sociedade portuguesa, que ganha dimensão desusada a partir do
século XV, actua ao nlvel do imaginário e da cultura. A literatiira portuguesa foi
contagiada por esta realidade, sendo evidente a influCncia que esta conjuntura exerceu
como motivo principail da escrita. Já em 1534 Garcia de Resende testemunhara esta
múltipla mobilidade da sociedade portuçiiesa nos dois sentidos.
Vim0.s muito mpalhur
pormguese.7 no viver,
B~asil,ilhas povoar
r iis índias ia inorar,
nalltreru Ihe.~esquecer

Aqui s%oevidentes duas formas de expressão dos ffuxos rnigrathrios: por uin Iado o
espaço atlsntico, onde o portuguks teve que criar as condições para a sua instalação, isto
o "povoar", e, por outro, as indias, entendidas como o Oriente, onde se lhe deparou uma
sociedade estruturada e, por isso, o que deve fazer é integrar-se, no entender de Garcia de
Resende "morar". Foi este segundo destino que atraiu maior número de migrantes,

Ob.cit., pp. 175-1 85


Illdio do Amnral, "Medidas portiiguesas para a organiznçfio dos novos territorios nas
margens continentais do Atlbitico Sul, no skcculo XVI(apontri1netitos de Geografia e I-iistiirin)". in
Revista da Universidade de Coitiibrn, vul. XXXVI, 1991, 277-3 16.
motivando uma completa sangria populacional, pois como refere, de novo, Garcia de
Resende:
"ao cheiro desta carieku
o reino se despovoa".

Tudo isto releva-nos duas atitudes distintas que resumeiii a foriiia de expressão de
ambos os fluxos migratdrios: dum lado foi a plena ocupação dos espaços desertos ou
ocupados, do outro a intervenção no coinércio, por ineio do estabeleciinento de feitorias e
fortalezas, consideradas instrunientos de controlo dos circuitos coinerciaiss.
Sucedeu depois um fluxo inverso de escravos, que atemorizou os que ficaram, inas
que veio a ser um factor de equilíbrio do sector produtivo:
Veriros no reino nlcter
tantos cativos, cre.yccr,
c irem-se O,? nufurui.s,
que se assin~for, serão n1ai.v
c h que nris, u meu ver

Destes Últimos já inuito se tem dito, mas dos primeiros pouco ou nada se sabe. Fata-
se de uma verdadeira sangria populacional do reino mas quase ninguém aiiida questionou
a dimensão assumida por este movimento: quantos partiram h aventura? Qiiem são estes
aventureiros da conquista do Norte de Afi-ica e Oriente, do descobrimento das illias, costa
africana e Brasil? Por fim, importa saber porque se sai? VTio todos de livre voiitade,
guiados pelo espírito de aventura ou por outros interesses e objectivos?
A História e a tradição testemunham a presença de uni grupo heterogkneo: viajantes,
aventureiros, militares, funcionários e missionários. Foi uma gesta nacional pelo que
estão representadas todas as localidades do reino. A salda aconteceu em Lagos ou Lisboa
mas as gentes que acudiam As plagas lusitanas para a partida ou despida são de todo o
pais. Não são os algarvias os únicos a aderirem de alina e cornção a este processo. O
Norte e o interior tainbém estiveram representados. Os marinheiros, lavradores, e oficiais
mecânicos que aderiram a aventura sgo de todo o pais. A alguns as crónicas lavraram o
nome em letras douradas, mas a maioria ficoit inclignita e seri diflcil, senão impossivel,
reconstituir a lista.
O tema n%ose esgota neste breve enunciado de nomes e números. H a que dedicar
muito tempo a recolha de dados avulsos em docu~neiitos,crónicas e relaçães de viagens
que testemunhem esta realidade. A literatura reserva um apartado para esta situação.
Algumas das páginas de ouro da nossa escrita do sdculo XVI estão baseadas nesta
vivência. A lista extensa e contempla todas as hreas literhrias. Desde Gil Vicente,
passando por Carnbes, Fernão Mendes Pinto é evidente a prernència das migrações
geradas pelos ~escobrimentos~.
-

Confronte-sc Joiío l'nulri COSTA, "A ColonizaçSu Portuguesa lia Ásia", in I'oi?ilgnl rio
Miindo, vol. 111, 158- 179: Ilidio do AMARAL, "Medidas portuguesas pnw n organizaçiio dos novos
ierritrírios lias innrgcns coniiiientnis do AtlUntico sul. nu scculo XVI (apontainenios de Geognlia
Histórica)", in Revisto de Universidade de Coirnbru, XXXVI, 199 1. 277-3 16.
Coiifronte-se Hernani CIDADE, A Litern~tiraPorlrrgaesn e a Exponsiio Wtrnrnarina, vol. I,
Coiinbra, 1 963.
Fernando Pessoa em o "mar português" dá-nos coiita deste movimento:
" hmar salgado, quanto tea sal
são Iágrinia.~de P ortzigal!
por te cruzarmos, quuntus mães choraram,
qiranto.~filhosem vão rezaram!
quantas noivasficaram por casar
para que fosses nosso, d mar!"

A historiografia para a#m do tratamento diferenciado dos principais protagonistas


dos descobrimentos, parece querer ignora-la. Continua a iiisistir-se iio estudo das
personalidades: navegadores, ou funcionários. A coinpilação mais recente & de Luis de
Albuquerque, que publicou em dois voluines a biografia de 31 aventureiros, viajantes e
navegadores7. Ao mesino nível temos o projecto de investigaçrio dirigido por Kenneth
Macpherson e Sanjai Subrahmanyan com o titulo "From Bioçrapliy to History. Essays in
the social History of portuguese in Asia.1500-1800"'. Faltain estudos sobre as migrações
provocadas pelos descobrimentos" devido A ausencia de registos ou skries que o
documentem. Todavia, a exemplo do que sucede para Espanha, é possivel suprir esta falta
com o recurso a outro tipo de fontes''. Há que decantar a documentação disponivel e
crónicas para chegar-se a aproximações quantifichveis deste movimento.

A EMIGRAÇÃOPORTUGUESA NO ATLANTICO E INDICO

QUANTOS: Qualquer tentativa de quantificação dos fluxos migratórios na tpoca


prk-estatística esta condenada ao fracasso. Faltam registos de saida mas também os de
entrada. Apenas é possivel estabelecer uma ideia do voluine assumido por estes".
Carecemos, ainda, de contabilizar as campanhas a Marrocos no decurso dos séculos XV e
XVI, as armadas que rumaram ao 0rienteI2. Compilados os dados da documentação

'tVav&adores viajnnfes e avenfi,i-eirosPorti,gireses. Sics.Xl'e XVI, 2 vols. Lishusi, 1987.


Veja-se Mure Liberunr, no. 5, Junho de 1993.
Os estudos de Joel SERRÃO ( A tmigrnçfio portifgiresci, Lisbon. I977; "Emigração", iii
Dicioncirio de Hisidria de Porfiigol, vol. 11, Porto, 1981. 363-373) e Viiorino Mngnlhlzs
GODINHqEstrutirra dn antiga sociedade portuguesa. Lisbon. 1980: "Sociedade Portligueçri". in
Diciondrio de História de Ponrignl, vol. [V;"L'emigration portiignise(XVe- XVle síi.cIcs).Unc
constante structurale et les rifponses aiix changements du moiide", in Revista de tlistbria Econónlica
e Social, no. 1, 1978, 1-32).
'O Peier Boyd Uowman, Jndice ideobiogrdjico de cunrenin mil pobladores espaEoles de
AmGrica en e1 sigla XVI, 2 vols., Bogoth, 1964. 1968. Magnus Morner, "Un informe de1 estado de Ia
investigsición sobre Ia cmigración espahola n Aintrica anterior a1 'ai10 18 1 0 , in Anuario de fiiirdios
Anjericnnos, XXXlI, Sevilha, 1975. Veja-se ainda as actns do seminsrio coordenado por Antíinio
EIRAS ROEL(ed.), Lu ernigracib espfiola o ultrurnar. 1492-1914, Mridrid, 1991.
' Veja-se Vitorino MagalhIes GODINHO, Mito e h4ercadoriu, iitopin e prútica de ilavegar.
séclrlos XIII-XVIII, Lisbon, 1 990, pp.364-3o.
l 2 O estudo mais recente António LOPES, Edunrdo FRUTUOSO E Paulo GUINOTE. "O
movirnenio da carreira da india nos séculos XVI-XVII. Revisão e propostas", in Mare Liberzini, 4,
1992. 186-265. Com bibliognfin actualiuidn.
oficial com a que surse nas diversas cr6iiicasib ppossivel fazer uma ideia. C.R. ~ o x e r ' "
que este fliixo migratbrio conduziu B saída do reino nos séculos XV e XVI de I rniltião e
cento e vinte e cinco mil alinas. Magalhães ~ o d i n l i o é' ~mais inoderado neste valor,
referindo apenas a salda de 280.000 entre 1500 e 1580. Neste contexto s%oinais evidentes
os dados dos fluxos com destino a Marrocos e Oriente.
As cainpaiihas marroquinas iniciadas em 14 15 coiitinuarain até a décnda de vinte do
século XVI, quando ein 1524 ganhou forma a política de abandoiio das praçns africaiias.
Dos que partiram, levados, muitas veres, pelo espirito de cruzada para combater o infiel,
I alguns cairain no campo de batalha e dos outros, uns ficaram na guarniç%ade defesa das
praças e outros regressaram ao reino com a esperança de uin titulo ou da coiniitaçáo da
t pena a que estavam sujeitas antes da partida. Em 1415 D. Pedro de Menezes ficou em
Ceuta com 40 nobres e 2700 Iioineris de armas.
P
I
Noutras alturas tivemos frotas com O objectivo especifico de consti'iiir tiin recinto
: fortificado. Assim sucedeu em 1489 para Graciosa, onde em duas frotas seguiraili ns
operários especializados e os materiais necessários i construç30. Já em 1482 Iiavia
, sucedido a rnesino com a ida de 500 Iiomens de arinas e 100 artesãos para S. Jorge da
I Mina.
Quanto ao Oriente, após a priineira viageni de Vasco da Gama, tivemos outras
quatro nos anos imediatos com o inesnio objectivo. Depois, traçado o runio e os
objectivos sucederam-se as armadas para conquista do espaço ou domiiiio do com&rcio,
atingindo a media de 10 por ano. Daqui resultou lima activa mobilidade da população
motivada pela atracção deste novo destino. No primeiro quartel do s&culo XVI podeinos
referir apenas 2500 portugueses, inas lia ddcada de quarenta atinge-se os 6 a 7000. A este
propósito refere Joel S E R R Ã O ' Q U ~ein 1527 saiam ein média 2400 portugueses nas
armadas com destino Índia.
'
Dificil, senão impossivel, será saber quantos partiram corii destino as illias, Brasil
ou Costa da Guiné. Nada nos permite antever uiiia possivel quantificação das expedições
de ocupaçãto e das gentes que as inteçravam. Quantos acompanharam João Gonçalves
Zarco na expediçlo de povoamento da Madeira? Quantos seguirem coin Martiin Afonso
de Sousa rumo ao Brasil? Estas sfio qiiestfies que dificilmente eiicontrarh resposta nos
anais da Historia.

QUEM: A questão imediata a quantificação prende-se com a categoria socio-


-profissional daqueles que foram lançados para a aventura do descobrimento e ocupação
dos novos espaços. Militares, inissionarios e funcionários da coroa tiiiliain lugar cativo

"'or exemplo para ri Oricnte tcnios FernSo Lopcs de CASTANHEDA, tJisthririn clo
d~scobritttenior congriistn do j~fdicipelos ,iortirgiiesPsb livros 1-11, Coirnbra. 1924. livros Ill-!V,
1928, livros V:VI. 1929. Confiontc-sc Gcrmana da Silva CORREIA, Ilisfrjrirr d(t coloni:c1~~70
portirgiresn na Ii~din,6 vols. Lisboa, 1948-56: Viscondc LAGOA, Grondes e hrintildes no epopeia
portuguesa do O r i e t ~ r c ( ~ ~ c iX 1 0 Xl'l e ,XI'II), 2 vols, I,isbon. 1942-43. Ficou pclo aiitropónimo
1I:
Albuquerque.
I l3 D impbrio coloniril pnrtlig~iês.Lisboa. 1977.
I' "Socicdade Porlugiiesa", iin Dicionrirto de I.listcii-ia úe Porii,gnl, vol [V,Lishoa, 1978,
, pp.18-50
l 6 A ernigrnçfioportiigucsu, Lisboa, 1 977,93.
em todas as expedições. Aos primeiros foi, sem duvida, com destino ao Norte de África e
a índia que engrossou o seu número. Esta questão prende-se com outra que tem ocupado a
Historiografia dos Descobriinentos. Para o século XV estabelece-se uma dualidade de
opções entre a burguesia e a aristocracia, expressa tambtm no confronto de duas figuras:
os infantes D. Pedro e D. ~ e n r i ~ u e "Enquanto
. os primeiros estariam empenhados nas
campanhas de defesa das praças africanas ou de conquista dos entrepostos orieiitais, os
segundos postaram na linha da frente do descobrimento de novas terras, na senda de
encontro de novos mercados e produtos. Dualidade de políticas, de rumos e protagonistas
eis a forma simplista de definir este mcessa. A realidade não foi assim tão linear como
se pode provar em qualquer listagein . it
A preocupação da nobreza pelos descobrimentos é considerada posterior As
campanhas marroquinas e a morte do Infante D. Henrique. Ate 1460 a nobreza, excepção
feita a Nuno de Góis e Vide de Sousa, estava empenhada na conquista e defesa das praças
marroquinas. Para alguns, os Descobrimentos até esta data foram protago~iizados,
maioritariamente, por aqueles que estavam próximos da sua Casa. O primeiro docuinento
que testemunha esta mudança de atitude é a carta r6gia de 24 de Março de 1462'"
autorizando D. Duarte de Menezes a enviar ernbarcaçfies a Terra dos Negros. Todavia, tal
como o refere Vitorino Magalhães ~odinho'~,e dificil distinguir a bcirguesia da
aristocracia, uma vez que somos confrontados com mercadores-cavaleiros e cavaleiros-
mercadores, por isso, "no mundo que os portugueses vão criando nestes séculos o vector
social dingmico t o cavaleiro-mercadora
N a india, segundo Luis F. Reis Thomaz e Genevieve ~ o u c l i o n a~ classe
~, dirigente
apresenta-se como um clã, composto por um grupo restrito das fnmilias, na sua maioria da
velha nobreza anterior h crise de 1383-1385. Ainda, segundo os mesmos, há uma con-
tinuidade das familias no processo de descobrimento e ocupação: "les fils se combattants
A Ceuta em 1415 se battent h Tanger en 1437 ou a Alcacer-Ceguer en 1458, leurs petits-
fils conquitrent Anila en 1471 ou se battent k Toro en 1475, les fils de ceux-ci
cornrnencent i apparaitre en ~ n d i e " Esta
~ ~ . ideia pode ser certificada com o testemunho de
um dos descendentes da primeiro capirão do Funchal: Joso Gonçalves Zarco. Em 1526
João de Melo da Chmara, irmão do capitão da ilha de S. Miguel, justificava a capacidade
de povoador do seguinte modo: "porque a ilha da Madeira meu bisavb a povooii, e meu
avB a de São Miguel e meu tio a de São Torné, e com muito twhalho, e todas do feito que
t '.,-, .i ,:, v

, .i' ,
l7 Confronte-se Armtindo de CASTRO, Histbria Econbntica de Porrtigal, vol. Ilt, Lisboa,
1985,59 e segs.
I R Confronte-se Armando de CASTRO, Histriria honbmicn de Porhrgni, vol. 111, Lisboa,
1985, pp.59-84.
Monumenta Henricirla, XIV,208-2 1 0.
20 'Sociedade Portuguesa". in Dicionário de Histórici de Portugal, vol. IV. Lisboa, 1978,
pp. 18-50
2 ' Vitorino Magalhiles Godinho, "As ilhas atllnticns. Da g c o p f i a mítica à construção das
economias oceanicas", in Actas do I Colóquio Infernncional de Iiistória da Mudeira, Funchal,
1989-47.
Voyage drrns les Deltas dtr Cange et de I'lrrnmrnddy. 152 1, Paris, 1988, pp. 367-4 13.
23 Ibidem, p.4 10.
se v8 Estes dois mil colonos que ele se propunha levar para a cotonizaçlo do Brasil
n%oeram "da esptcie de tomarem Índias por concubinas e de viverem na terra sem a
fazerem produzir". Não sabemos se, com tão valiosa tradição e inten*, conseguiu os
seus intentos.
Outra famllia d tambem protagonista de rumo idêntico. São os Betencourts, que da
Nomandia, através das Canarias. evoluem a todo o espaço atlântico. São um exemplo de
familia atl~ntica~~.
No caso do Brasil o processo foi distinto. Primeiro, entre 1532 e 1548, foi o sistema
de capitanias. Os seus usufrutuários são capitães e altos funcionários a quem a coma
procurava compensar os serviços prestados no ~ n d i c oA ~ ~mudança
. foi operada em 1549
por iniciativa de D. João 111, que apostou na unidade política e administrativa do Brasil
atravks da criação do cargo de governador-geral, entregue a Tome de Sonsa. É a política
de povoamento dos demais espaços atlânticos, que levara a uma forte presença dos
obreiros madeirenses para o lançamento da cultura da cana de açúcarz7.
Tal como o refere Jogo Paulo COSTA*' este permanente fluxo migratbrio C alargado
a todos os estratos sbcio-profissionais, com especial incidência para os "comerciantes,
sacerdotes, marinheiros, guerreiros e missionários" que "trilharam juntos os mesmos
caminhos, falaram as mesmas gentes, perscrutaram o mesmo horizonte infinito de
água...". A bordo das embarcações iam os soldados para a peleja, os funcionhrios que
defendiam os interesses da coroa e os missionários como arautos da fé. Estes ultimos,
segunda José Pereira da costa'" ssão na maioria estrangeiros, "sob a égide da coroa
portuguesa". E de salientar que eles são companheiros inseparkveis de povoadores e
conquistadores. Sucedeu assim na Madeira, em 1420, como para o Oriente no século
XVI. Vasco da Gama em 1498 fez-se acompanhar apenas de dois religiosos, mas Pedro
~lvaresCabra1 em 1502 levou 8 padres capelks, 1 vigário e um grupo de franciscanos
sob as ordens de Frei Henrique Á l v a r e ~ A~ ~missão
. destes religiosos não se resumia
apenas a assegurar a actividade de culto, a bordo e nos locais de fixação, a conversão dos
gentios, pois podem ter também a missão específica de embaixadores. Depois, foi a
fixação com a criação de casas de franciscanos, dominicanos e, finalmente, jesuitas. Isto
provocou a ida de muitos clérigos, oriundos do reino ou estrangeiro3'.

da Coloniznçrio Porti!giresa do Brasil, vol. 111, 90.


24 Hisibria
2s 1. Moniz BETTENCOURT, Os Beiifencourt. Das origens normandas h expansão
aflünticn, Lisboa, 1993.
26 veja-se História do Coloni:oçiio f orhrgilesa do Rrasil, vol. I II, pp. 1 60-25s.
27 Gilberto FREIRE, Aventilrn e Rotina, 2' ed., s.d., 440-449; David F. GOUVEIA, "A
maniifactun açucareira madeirense 1420- 1 55OU, in Aifâtziico, no. 10, 1987, 1 15-1 3 1.
2g ""Asmissúes crista em África". in Porfuga1 no Mwndo, vol. 111, 1989, p.88.
"Coinunicação sobre a RelaçBo da viagem que fizetfio de Lisboa para Macao nn gnlern
Novo paquete 5 congregados de rnissao: Henriques e Almeida sacerdotes: cinco subdiaconos
Amorim e Pinto menoristas em 183I", in Sludia. n0.48, 1989,369-444.
30 Manuel dos Santos ALVES, "A cruz, os diamantes e os cavalos: Frei Luis do Salvador,
priineiro missioniirio e embaixador", in Mare Liberum, n0.5, 1993, pp.9-20.
I Sobre esta temhtica confronte-se: Antbnio B ~ S I OHistória
, e missiolagia, Luanda, 1973;
C. R. BOXER, A igreja e n expnnsfio ibkrica.1440- 1770, Lisbm 1975; Francisco Leite de FARIA,
"EvangcIizaçBo das terras descobertas no tempo de Bartolomeu Dias", in Congresso Internacional
A estes juntam-se outros grupos de degredados ou aventureiros3' e tmnbém os
judeus, que fundiram a sua dihspora com a dos Descobrimentos. O ano de 1497 inarca o
inicio dessa diáspora da comuiiidade judaica portuguesa, que os conduziu ao Norte de
África, hs ilhas, Costa da GuinC e ~ r a s i l ~ Um
' . dos factos niais significativos deste fluxo
étnico sucedeu em S. Tomé com a ida em 1470 de 2000 crianças judias, arrancadas do
seio da família para as terras inóspitas do Golfo da ~ i i i n ~ E~ 'de. salientar que a presença
da comunidade judaica nas terras da Costa da Guiiie foi importante. tornando-se, por
vezes, incómodos pela sua condiçso de t a ~ i ç a d o s ~Tudo
~ . isto 6 revelador de algumas
especificidades deste fluxo migratório provocado pelos descobrimentos. AS crianças
judias enviadas para S. Tomé juntam-se as "órfãs dei rei" no Oriente a partir de 1545.
Estas foram recrutadas em Lisboa e Porto e conduzidas i india com a promessa de um
dote e ca~aniento'~.
A presença da mulher nas expedições rege-se por determinadas regras37. Aqui, ao
contrbrio de castela3', a coroa portuguesa nunca promoveu a saída da mulher, pois toda a
política foi, no início, de desencorajamento. Os descobrimentos parecein conjugar-se no
masculino. Primeiro, ela so esta presente nos casos de ocupaçgo nas ilhas e Norte de
Africa, sendo proibida, nos primeiros dez anos, a bordo das caravelas da india. Depois a
necessidade de fixação no Indico mudou a política promovendo a coroa a migração da
sexo feminino. E de salientar que, quer em Marrocos, quer no Oriente, algumas mulheres
ficaram nos anais da Mistbria pelo empenho na defesa das praças ou guarniçbes em
momentos de afliçgo.

Bnrtolomert Dias e a saio época. Actas, vol.V, Porto, 1989; João Pwlo Oliveira e COSTA. "As
misdes crist3s em Africa", "As missões cristiàs na China e iio .lapãoM,inPortugal no Adiindo, vol.Il1,
1989, 88- 103, 143-157; Luís Filipe F. R. THOMAZ, "Descobrimentos e cvangelirnção. Da criimdn
à inissno pacífica", in Congresso Internacionni de Hisf brin. Missionaçfio Porticgiresa e encontrn dc
-
ciilhiras. Actns. v01 I, Lisboa. 1993. 8 1 129.
32 Veja-se LiiIs de ALRUQUERQUE. A'avegndores. viajuntes e eaventilreiros porttipieses.
séciilos XY e XI'1, 2 vols, Lisboa. 1987
33 Sfio muitos os estudos sobre os Judeus em Portugal, coiifronte-se a síntese actualiznda de
Maria J o k FERRO, Los judíos en Portugal, Mndrid. 1992.
34 Sainucl USQUE, ConrolaçCo às tribulações d~ Israel, Coiinbrk 1906.
35 Mnria Ernilia Madeira SANTOS, "Origcin e desenvolvimento da colonizaç~o.Os pri-
meiros lançdos na Costa da Guine. Aventureiros e comerciantes", Por~rigrrlno hlr~ndo,vol. Il,
pp. 125-136.
36 Confronte-se C.R.BOXER, A mulher na expnnsâ'oporiugtiesa i~ltronicirinaibGrica, Lisboa,
1977.
37 Sobre a presença da mulher na expansão veja-se: Eiaine Sancem, Mirllteres portugi~esas
no uliramar, Porto, 1979; C.R. Boxer. A niuliter na expansfi ~iltrnrnarinoiberica, Lisboa, 1977:
Mnria Regina lavares da Silva, Hei-oinas dn Expansfio c Descnbrinsenfos, Lisboa, 1989.
38 Veja-se Richart KONETZKE, "La imigracion de rnujeres espafiolm a América durante Ia
tpoca colonial", in Revista Internncionol de Sociologia, n".9-10, Madrid. 1945.
I
A COMUNIDADE SEFARDITA DA MADEIRA E O A Ç ~ C A RNO ATLÂNTICO

No Portugal dos séculos XV e XVI a presença de comunidade sefardita era


importante detendo um a el destacado na economia e finanças39.Note-se que judeu era
EP
sinhnimo de negociante . O despoletar do processo dos descobrimentos atlânticos e os
consequentes mercados e rotas comerciais fez com que a sua atenção estivesse para ai
virada assumindo idêntico protagonismo41.Neste contexto, a Madeira, porque assumir um
papel evidente em todo o processo, será o primeiro pólo de atracçgo desta comunidade.
As perspectivas eram promissoras, pois o lançamento em meados do skulo XV da
cultura açucareira transformou a Madeira num dos principais mercados atlânticos.
A atracção principal era o açúcar que tinha mercado no Mediterrãneo e norte da Europa.
E por ele a Madeira acolheu, primeiro judeus, genoveses e venezianoç e, depois,
fiamengos e franceses. Com o açúcar estavam encontrados os ingredientes ficeis para
atrair os agiotas da finança e com&rciointernacional.
Um dor factor comprovativos do interesse da comunidade refardita pela apúear
revela-se em meados do seculo XVI em que a crise da produção madeirense fez alargar a
diáspora a novos mercados mais promissores como Pemambuco no BrasiI. Para a
comunidade judaica a Madeira foi o primeiro alvo da expansão europeia que os levou
depois aos quatro cantos do Novo Mundo, acompanhando o rasto do açúcar e do tráfico
dos escravos no espaço atlântico. Perante isto importa conhecer qual o papel que estes
assumiram neste primeiro poiso da diáspora atlântica. Atd ao estabelecimento do tribunal
de inquisição em Portugal (1536) não é fhcil identificar a comunidade judaica na
documentação. Todavia a sua presença fazia-se sentir de forma evidente em múltiplos
dominios de sociedade e economia portuguesa. A evidente xenofobia, testemunhada pela
documentação, fazia que estes procurassem iludir as suas crenças religiosas, apagando
todo o rasto possivel. Apenas com a instituição do tribunal do santo offcio foi possível
estabelecer o rasto do grupo deste convertidas ao cristianismo, e por isso considerados
cristãos-novos4'.
A Madeira n8o foge a regra de modo que a xenofobia 6 uma das armas entre a
concorrência das diversas sociedades mercantis. Na ddcada de sessenta o principal alvo
dos madeirenses era os judeus e genoveses que monopolizavam o com6rcio do açúcar.
Deste modo os moradores reclamaram em 1461 perante o infante D.Fernando no sentido
de proibir a sua activiclade na ilha, como compradores de açúcar ou arrendadores dos
direitod3. E fhcil encontrar os judeus em ligação estreita aos genoveses, controlando parte
significativa do comercio rendoso gerado pelos novos espaços atlânticos. E deste modo a
sua presença nas ilhas t evidente desde os inicios de sua ocupação. Difícil é encontrar o
rasto da sua presença, pois tal como nos diz José Gonçalves "muitos vão para
as ilhas e se acobertam sob a capa de cristãos".

I
. 39 A Bibliografia C extensa. apenas destacamos os textos de Maria Jose Ferro Tavares.
40 Cf. Jost G.Salvador, Os Cristãos-novos e o comércio no Ailâniico meridional. S . Paulo,
1978, 149; António Jost Saraiva, Inquisição e Cristãos Novos, Lisboa, 1 994, 1 34- 1 35.
4 1 Vide Maria José Ferro Tavares osjudeus na época dos descobrimenios, Lisboa, 1995.
42
Para a Madeira n8o existe estudo completo sobre a inquisição como t o caso de Paulo
Braga, A Inguisição nos Açorex, P.D., 1997.
41
AHM, Vol. XV, 1972, 14-1 5,3 de Agosto de 1461.
" Os cristãos novos e o comêrcio Atlúntico Meridional, S . Paulo, 1978,246.
Os judeus esta0 envolvidos em todas as actividades, todavia, como nos refere Maria
Jose Ferra Tavares, "a ac~ividndenlercaniil e n ocupaqüo principar'. E dentro destas
parecem ter uma predilecçgo especial pelos iiegócios baseados no açucar. Pelo inenos 6 a
opinião de José Gonçalves que t pereniptoria ein afirmar que "os hehreiis
sefurdita.~uparecem idenliftcadfi~ com a.7 actividude.~ligadas ao açúcar prinseiro nas
ilhm adjacente.^ a Porriigal e depois nas demais pos,~es.~õc~''.
A estrattgia dos judeus para o domínio do mercado açucareiro do espaço atlântico
passa por uma estreita aliança cam os mercadores flamengos e italianos nomeadamente os
genoveses. Esra aliança fora já denunciada nas Cortes de 1471-72, inas continuarjl a
progredir nos decdnios seguintes. No caso do comdrcio do açúcar da Madeira 6 comuin
encontrar-se esta forma de actuaçZío. Assiin quando o coinkrcio do açúcar estava sujeito a
um monopdlio da Coroa, mandado a sociedadcs estes surgein aliados aos Leme,
Lomellini e Marchione. N o caso do monopblio do comkrcio do açúcar com a Flandres e
uma sociedade entre os Leme e Abravanel que controla o processo. Jh para as cidades
italianas sao Moises Latam e Guedelha Palaçam que se associam a B. Marchione.
De acordo com o livro de estimos do açúcar do Funchai em 1 4 9 4 e~ evidente
~ a
presença de judeus, como Isaac Abeacar, M o i s b Benagaçarn e David de Negro naq
transacções açucareiras, achando na ilha através de procuradores italianos como era o
caso de Dinis Sernige, Lucas Ctsar, Sisto Lomellini. Ainda segundo V. Rau os judeus
junto com outros estrangeiros, aqui dominados pelos genoveses, dominavam em 1494 as
transacções açucareiras coin 11.373 arrobas, o equivalente a 64% do total eni causa".
Esta posição não está longe da realidade desta e posterior centúria, uma vez que os dados
por n6s apurados entre 1490 e 1550 apontam de novo para esta esmagadora presença dos ,
mercadores italianos com 80% das operaçaes comerciais do açúcar rna~leirense~~.
Os aferidores mais importantes da religiosidade dos madeirenses são, sem duvida,
os testemunhos exarados, primeiro nos diversos livros das visitações e depois nos
processos perante o Saiito Oficio. A inquisição exercia a actividade atraves do tribunal de
Lisboa, a quem pertencia todo o espaço atlântico. A acção do tribunal nestas paragens não
era permanente e fazia-se através de visitadores aí enviados. Na Madeira e nos Açores
realizaram-se t d s visitas: em 1575 por Marcos Teixeira, em 1591-93 por Jerónimo
Teixeira Cabral e em 1618- 19 por Francisco Cardoso Tomeo, mas só é conhecida a
documentação das duas últimas.
Nas ilhas foi evidente a conivbncia das autoridades com a presença da comunidade
judaica, o que resultou em facilidades a sua fixação quando perseguidos no reino. Eni
finais do sdculo dezasseis foram amolados 94 cristãos nnoos, mas em 16 18 o seu iiúmero
não passou de 5, quando sabemos que em 1620 eram 58 os judeus que pagavam a taxa. A
presença da comunidade judaica era evidente. Os judeus, maioritariamente comerciantes,
estavam ligados, desde o início, ao sistema de trocaç nas ilhas, sendo os principais
animadores do relacionamento e comtrcio a longa distância.
A criação do tribunal do Santo Oficio em Lisboa conduziu a que os cristãos-novos
avançassem no Atliintico: primeiro nas ilhas e depois no Brasil. A dikpora fez-se de

45 OSmagnatas do Trgfico Negreiro. S.P., 1981,87.


46 Publ. V. Rait, O açticar na hfadcira, Funchal, 1962.
47 Ob.citL.p. 24
O Comircio Irster-Insular, Funchal. 1987, 1 30.
C acordo com os vectores da economia atllntica pelo que deixavam s t h um rasto evidente
na sua rede de negocios. O açúcar foi sem diivida uin dos principais mbbeis da sua activi-
1 dade, quer nas ilhas, quer no Brasil. O relacionamento destes espaços com os portos

i nbrdieos conduziu a uma maior permeabilidade hs ideias protestantes, o que gerou


inúmeras cuidados por parte do clero e do Santo Oficio. A incidência da corntrcio da
Madeira no açúcar, pastel e vinho conduziu ao estabelecimento de contactos asçiduos com
os portos da Flandres e Inglaterra, que não era bem visto pelo tribunal. Isto deverii ter
favorecido a presença de uma importante comunidade, o que veio a avolumar as
preocupações dos inquisidores.
As perseguições movidas pelo Santo Oficio conduziram a que muitos cristãos-novos
1 se refugiassem nas ilhas Canarias. Cabo Verde, S. Tome e, finalmente o Brasil. A juntar a
isto está a crise da produção açucareira madeirense em contrastante com a promissora
cultura nas terras brasileiras que conduziu a que a dihspora se alargasse até aqui. E de
novo as judeus estarão ligados B produção açucareira49.

FORMAS DE RECRUTAMENTO

Outra questgo, de não somenos importância, prende-se com a forma como se


procedeu ao recrutamento. H&os que vão, de livre vontade, a aventura, os que cumprem
uma missão como funcionArios da coroa ou que se dispõem a qualquer serviço na mira de
uma compensaçãos0.A estes junta-se uin grupo com grande destaque em todo o pmesso,
os degredados ou prisioneiros. No momento de organização das amadas de defesa das
praças marroquinas5', de ocupaçiio das ilhas ou do Oriente, a coroa permitia aos seus
organizadores o recrutamento de homens entre os condenados em diversos delitos e os
degredados.
A política moderna de degredo como forma de incentivo ao povoamento dos lugares
ermos não era novidade, pois vinha sendo utilizada para o povoamento do litoral algarvio
e zonas fronteiriças de Castela. A coroa, de acordo com o seu interesse, ordenava aos
corregedores o destino a atribuir aos degredados. Depois do Algarve, tivemos Ceuta e
demais praças marroquinaç, aq ilhas atlânticas. A sua presença em Marrocos 6 mais
insistente a partir de 1431. Esta mudança é justificada por Zurara da seguinte .forma:
"muitos de meus naturaes que per alguuns negocios ssam desterrados de meus regnos,
melhor estaram aqui fazendo serviço a Deos, conprindo sua justiça, que sse hirern pollas

49 MELLO. Jod Antbnio Gonsalves de, Gente da naçfio: cristr70s-novos e jirdetis ersr
Pernarnbi~co,Recife:, 1989; RIBEMBOIM. José Alexandre, Senhores de Engenlio ,judeits em
Per~iambucocoloninl1542- 1654, Recife, 1 995: SAL,VADOR, José Gonçalves Os Cristãos-Novos.
Povoamento e Conqriisia do Solo Urusileiro (1 330- 1684, S.Paulo, 1976.
50 Veja-se no caso do Oriente o estudo de Luis de ALBUQUERQUE e José Pereira da
COSTA, "Cartasde serviço da índia( 1 500- 1 550)", in Mure Liberi~rn,no.1, 1 990,309-396.
Confronte-se Luis Miguel DUARTE e José Augusto P. de Sotto Mayor PIZARRO. "Os
forçados das galts(os barcos de João da Sílvn e Gonçalo FalcBo na conquista de Arzila em 1471)".
in Congresso Internacional. Bar~olonieiiDias e n sua época. Actas, vol. 11, Porto, 1989, pp. 3 13-
-328.
I
terras estranhas e desnaturarem-se pera todo o sempre de sua terra"". Mais tarde, Lufs
~ ~ que "o Brasil povoou-se com degredados, gente que se
Mendes de ~ a s c o n c e l o srefere
tirava do reino por beneficio dele". Neste caso recorde-se que Martim Afonso de Sousa
fez-se acompanhar de 600 degredados. Não será isto um indicio de que esta emigração
funcionava como uma vdlvula de escape para os conflitos sociais54?.
Para as ilhas as orientações de envio dos degredados sucedem-se conforme a
evolução do processo de povoamento do espaço atlântico: primeiro a Madeira, depois, os
Açores, Cabo Verde e S. Tomé. Note-se que a partir de 1 45455D. Afonso V determina, a
pedido do Infante D. Henrique todos os homens condenados a degredo iam "povoarem as
ditas ilhas que então começava de povoar...". No caso da Costa da Guiné - os
-
arquipklagos de Cabo Verde e S . Tomé ternos para o periodo de 1463 a 1500 temos 19
casos em que foi solicitada a carta de perdgo a coroa5!
Ao Oriente também chegaram os degredados. O recrutamento da tripulação para as
primeiras expedições, a partir da viagem de Vasco da Gama, fazia-se tarnbkm entre os
prisioneiros que aguardavam degredo nas terras do alem. Vasco da Gama em 1497 fez-se
-
acompanhar de dois - Fernão Veloso e Martim Afonso lançados em busca de novas do
-
semo. Em 1500 Pedro Álvares Cabral fez-se acompanhar de dois Jogo Machado e Luis
-
de Moura que deixou em Melinde com intuito de ir ao encontro do Preste Jo50. Uin
deles foi Jo%oMachado, natural de ~ r a ~ aEle~ ' .fora condenado ao degredo para S. Tome,
mas acabou por acompanhar Vasco da Gama, como língua. Ficou em Moçambique e
lançou-se a uma vida de aventura por Quiloa, Mornbaça, Melinde e Cambaia. Colocou-se
ao serviço dos turcos e depois passou para o lado dos portugueses, acabando por falecer
em 1517 numa escaramuça contra o inimigo. Este não é caso único. Outros o sucederam
como lançados no sertão, onde se perderam ou desertaram. O que mais se evidenciou
neste grupo foi a grande capacidade de adaptafio as adversidades da aventura, como o
exemplifica o caso de João Machado.

DONDE: Este processo rnigratbrio é materializado por portugueses e tambtm


estrangeiros j6 residentes em Portugal ou que acudiram ao apelo dos Descobrimentos.
Não d passível saber qual a regi50 do pais que mais contribuiu para este movimento.

52 Ciiado por Pedro de AZEVEDO, Ducume~rlosdas cliancelorias reais anteriores a 1531


relativos a Marrocos, t.1, Lisboa, 1915 , p.XI11.
53 "Dihlogosdo sitio de Lisboa", in Antologia dos Descobrimentos Poririgziest=s(siculoXI'II).
Lisboa, 1974.
54 Veja-se o que aduz, ainda que para uma situaçiío distinta Manuel HERNANDEZ
GONZALEZ, "La emigración a America como valvuln de escnpe de Ias tensiones sociales en
Canarias durante el siglo XVIII. Las actitudes sociala ante Ia delinduencia", in Antonio EIRAS
ROEL(wl.), La enzigración espaiiola a ultramara, 1492-1914, Mndrid, 199 I, pp. 3 1 1-3 16.
j5 Carta rkgia de 18 de Maio, ANTT, Chanc. de D. Afonso 1.: 1°.lO, fl.44P, publ. V.M.
Godinho, Docrrmenios sobre a expansão, t. 1, pp.2 15-2 16.
56 Veja-se Vitor RODRICUES, "A Guiné nas cartas de perdão(1463-1500)", in Congresso
Iniernacional. Bnriolomu Dias e a sua Época. Actas, vol IV, Porto, 1989, pp.397-4 12.
57 Elaine SANCEAU, "O degredado JoBo Machado", in Casos e Curiosidades. Porto. 1957,
pp. 18 1- 191: Maria Auguçta Lima CRUZ, "As andrinças de um degredado em terras perdidas -Joiío
Machado", in Mam Liberum, n0.5, 39-47.
A tradição, que filia os Deçcobriinenios na região algarvia, vê nesta faixa litoral sul do
país a incidência dos agricultores, marinheiros e mercadores. Esta dedução resulta do
facto de as primeiras expedições terem partido de ~ a ~ o es de' ~nelas se comprometerem
muitos da casa do Infante que ai viviam, oriundos de várias localidades do pais59.
É certa a participação dos a ~ ~ a r v i o snomeadamente
~~, na primeira fase dos
Descobrimentos, conhecidos como henriquinos, mas este foi um processo que empenhou
todo o pais. Note-se que no caso da primeira expedição a Ceuta o infante D. Henrique
percorreu o norte do pais a recrutar as gentes para a armada. Note-se que no caso do
Oriente foi precisamente na regifio entre o Sado e o Minho que Joaquim Verissimo
S E R R Ã ~ encontrou
I maior número, que contrasta com o valor reduzido do Alentejo e
Algarve. Igual é a situação a partir do século XVI, com a expansão no Indico, ainda,
segundo J . Verissimo SERRÃO~'.
Outro factor importante e a presença de estrangeiros em todo o processo. Eles
actuavam como marinheiros, mercadores e povoadores. Alguns residiam já em Portugal e
estavam naturalizados, outros afluem ao pais pela nova dos descobrimentos. Aqui
merecem destaque os italianos, oriundos das diversas cidades-estados, e os flamengos. No
primeiro caso 6 de salientar a presença genovesa que remonta ao tempo de D. ~inis".
Manuel Pessanha, encarregado pela coroa de organizar a armada, estará na origem dos
descobrimentos. Aliás foram os genoveses, venezianas e florentiitos quem mais usu-
fruíram desta abertura da coroa h participação estrangeira nos descobrimentos. Estes,
mediante solicitação da coroa, ou através da naturalização, por carta regia ou casamento,
integraram-se nas viagens de descobrimento, povoamento e comercio",

AS ILHAS NO CONTEXTO DAS MIGRAÇÕES ATLANTICAS

As ilhas atlânticas assuiniram uma situação particular no contexto das migrações


portuguesas do século XV. Perante os portugueses depararam-se ilhas nlo povoadas, que

j8 Rui LOUREIRO, Lagos e 0,s Descobrinientos at6 1460, Lagos, 1989.


59 Confronte-se Joorliiim Veríssimo SERRAO, flistdrili de Porhigd, vol. [I, Lisboa, 1979,
pp.135- 140.
60 Veja-se Rui LOUREIRO, Lcigos e os descobrimentos n!é 1160, Lagos, 1989;Mnria
Benedita ARAUJO, "Algnrviosem S. Tomé no inicio do século XVI", in Cndernos Hixtbricos, IV,
Lagos, 1993, 27-39.
6 1 flistdrin de Portilgrrl, val. 111, Lisboa, 1980, 164- 169.
62 Ibidem, vol.lII, Lisboa, 1980, pp. 164- t 69.
63 Confronte-se Morais do ROSARIO, Genoveses na Históio de Poi./ilg~d.Lisboa, 1977;
Virginia RAU. Esfudos sobre História Econdnlicn e socinl do antigo regime. Lisboa 1984: IDEM,
"Uma família de mercadores italianos em Portugal no stculo XV: os Lomellini", in Revista du
Facriidude de Letras, Lisboa, 1956. XVI, n02, 56-69,
" Prospero PERAGALLO, Cenni in torno alia coloniu italiano in Porfogallo nei secoli XIY.
XY e XYI, Torino, 1904; Chnrles VERLINDEN, "L'influenza italiana nela colonizzazione
iberica.Uomini e metodi", in Niiovcr Hivistrr Storica, XXXVI, 1952, 234-270; Isabel Castro
IiENRfQUES, "Os italianos como revelador do projecto político português nas ilhas atlânticas
(skuIos XV e XVI)", in Ler Jfistdria,no.16, 198 1.
s&Lo ocupadas pela riqueza do solo ou posiçfio geográfica65. Para isso foi necessário
encontrar, não 96 marinheiros, mas tambbm, lavradores, disponíveis para esta tarefa. Por
outro lado o facto de algumas, como sucedeu com a Madeira, terem servido de modelo do
sistema econbmico, institucional e tecnolbgico, conduziu a que o movimento de
populações fosse uma realidade desde o primeiro momento da sua ocupação. Isto revela
que as sociedades insulares foram definidas desde a sua origem pela inabilidade
populacional. A sua origem esth nas primeiras migrações de povoadores peninsulares mas
de imediato estes se transformaram de imigrantes em emigrantes, atraídos por novos
espaços, merecendo o epfteto de obreiros dos novos espaços e soldados na defesa das
fionteiras e expulsão dos usurpadores.

OS POVOADORES: Em todas as ilhas as dificuldades sentidas no momento da


ocupação foram inúmeras, variando o grau a medida que se avançava para Ocidente ou
Sul. A coroa e o senhorio sentiram-se na necessidade de atribuir incentivos ii fixação de
colonos: a entrega de terras de sesmaria, privilCgios e isenções fiscais variadas, a saida
forçada com o degredo dos sentenciados. Tudo isto começou na Madeira, alargando-se
depois As restantes ilhas.
A concessão de terras foi, a par dos inúmeros privilégios fiscais, um dos principais
incentivos h fixação de colonos, mesmo em áreas inóspitas como Cabo Verde e S. Tom&.
A avidez de terras e tftulos por parte dos filhos-segundos e da pequena aristocracia do
reino contribuiu para alimentar a difispora.
Sabe-se, de acordo com um capítulo de uma carta de D. João I inserido noutra de
1493, que foi o rei quem regulamentou a forma de entrega das terras na Madeira. Ela
deveria ser feita de acordo com o estatuto social do colono. Assim os vizinhos de mais
elevada condição e possuidores de proventos, recebem-nas sem qualquer encargo. Os
pobres e humildes que viviam do seu trabalho só a elas tinham direito mediante requisitos
especiais, e apenas as terras que pudessem arrotear e tornar aráveis num prazo de dez
anos. Com estas clliusulas restritivas favorecia-se a concentração da propriedade num
reduzido número de povoadores.
Para os Açores o processo evoluiu num segundo momento mas mesmo assim n%
foi atractivo para a fidalguia. Gaspar Fniaroso testemunha varias Ievas. Ao lançamento de
gado por Gonçalo Velho associam-se gentes marroquinas, como foi o caso do sobrinho do
~ ~ . foi o começo do povoamento sob as ordens de Gonçalo Vaq da casa
rei de ~ e zDepois,
do Infante, que trouxe consigo "homens principais e honrados. alguns deles de casa do
infante e outros naturais do Algarve, que o dito infante mandaria para povoarem esta ilha
(...)afora outros homens, tambkm fidalgos e honrados, que depois doutras partes a ela
vieram, uns solteiros e outros casados, e com seus filhos e filhas"".

OS DEGREDADOS: O primeiro sentenciado de degredo para a Madeira, de que


ficou notícia, foi João Anes. Ele, entretanto, fugira para Ceuta e em 144 1, passados onze
anos, veio a solicitar o perdão régio. Para os Açores o encaminhamento dos degredados

65 Luis de ALBUQUERQUE, "O avanço no Atllntico. Necessidade estratkgica de ocupqiio


das ilhas atlânticas", ín Porwgal no Mundo, vol. I, pp.20 1-2 1 I.
66 Saudades da Terra, livro IV, vol.1, p. 1 7.
67 Ibidem, p. 17. Nos capítulos I V a X X X V I o autor apresenta uma reiação dessas familins.
passou a ser fèito por pedido expresso do infante D. Henrique no período da regência de
D. Pedro. Mas as ilhas pouco cativavam a sua atenção, como se depreende do
requerimento feito por João Vaz para que lhe fosse comutada a pena para Ceuta, pois no
seu entender "as dictas ilhas nom eram taes pera em ellas homens poderem viver". Gaspar
~rutuoso", no entanto, refere qiie o povoamento de S. Miguel não incluiu degredados,
rematando: "nos tempos passados, logo quando esta ilha se descobriu (...) vieram(...), para
a povoar, de muitas partes, Iiomens nobres e fidalgos de várias qualidades e cavaleiros de
muita conta, e não degradados, como alguns, ou invejosos ou pouco curiosos ou
praguentos e maliciosos, querem dizer contra a verdade sabida."
A partir da década de setenta do sCculo XV o principal destino dos degredados foi o
arquipélago de Cabo Verde, que na centúria seguinte foi substituido por S. Torné. Em
1493 Álvaro Caminha foi autorizado a conceder cartas de segurança, por 4 meses, aos
degredados para poderem vir ao reino vender os seus bens e fixarem-se em definitivo na
ilha. Segundo o corregedor de S. Tome em 1 5 1 7 o ~ ~nnijrnero de degredados lia ilha
representava um quarto da população, o que era motivo para sérias preocupações, inercê
do comportamento insubmisso. Aqui ou em Cabo Verde muitos deles fugiam e faziam-se
homiziados, o que veio a determinar inúmeros problemas, estabelecendo a coroa alguma
ponderação na politica de degredo com destino 21s ilhas. Assim em 157570o rei ordenou h
Casa da Suplicaçgo que no degredo para S. Tome e Mina se tivesse em conta aqueles que
não fossem acusados de crimes ruins, uina vez que eram maus exemplos para os escravos.
Em 1622 Manuel Severim de Faria apontava-os como a principal causa das dificuldades
sentidas no ensino da doutrina os escravos caboverdeanos7'. Mas nem todos eram motivo
de queixa, pois em 1498'' em carta de Pêro de Caminha h referida a vida exemplar de
João Mendes, "bõo homem e que est8 o milhor afazendado da ilha".
Para o periodo de 1461, a I500 Vitor ltodrigues7' reuniu 19 de cartas de perdão
sobre sentenciados com a pena de degredo, sendo 7 para Cabo Verde e os restantes para
S. Tomd. Um dos casos mais significativos t4 Diogo, escravo de Diogo Leiao, degredado
por agressão para Cabo Verde viu comutada a pena a pedido do propriet8rio74.

ETNOGENIA: O povoamento dos arquipélagos atl2nticos faz-se em consonância


com as condições oferecidas pelo meio, o satisfazer as necessidades cerealiferas ou
válvula de escape para os atritos sociais e pollticos da península. No caso ponugiiês a
inexistencia de população nas ilhas entretanto ocupadas levou a canalitriçzo dos
excedentes populacionais ou os disponíveis no reino.
O fenomeno de transmigração da época qitatrocentista apresenta, ao nlvel da
mobilidade social, um aspecto particular das sociedades insulares. Elas foram, primeiro,

" S~riudadesda Terra, livro [V, Ponta Delgada. 1964, p.7


69 António CARREIRA, Cnbo l,ei.de, Lisboa, 1983, 300-301.
70 Moneimento Missionúria Africana, I, 770.
71 Ibidem, IV, 625.
72 Ibidern.
73 " AGuine nas cartas de perda0 ( 1 463- 1500). in Congresso Internrrcional Bortolonleit Dias
e a sua época. actas, vol. IV,Porto, 1989, pp. 368-4 12.
74 ANTT, Chnnc. de D.A,lani~el,1°.46, fl.50, publ. I-iisldrin Geral de Cabo V ~ i d c CO~IJO
.
documentni, Lisboa, 1988, p. 129.
p6los de atracção e, depois, viveiros disserninadores de gentes para a faina atlãntica. No
começo, a novidade aliada aos inumeros incentivos de fixação definiram o primeiro
destino, mas, depois, as escassas e limitadas possibilidades econbmicas das ilhas e o
fascinio pelas riquezas das índias conduziram a novos rumos. No primeiro caso a
Madeira, porque foi rápida a valorização econ6mica, gaIvanizou as atençães portuguesas
e rneditewAnicas. S6 depois surgiram novos destinas insulares, como as Ganirias, Açores,
Cabo Verde e S. Tomt, onde os madeirenses jogaram um importante papel. Desta forma a
Madeira do século XV poderá ser definida como um pólo de convergincia e
redistribuiç80 do movimento migratorio no mundo insular.
No stculo XVI desvaneceu-se todo o interesse pelas ilhas, estando todo o empenho
virado no Ocidente, descoberto por Cristbvão Colombo ou Pedro Alvares Cabra], e o
Oriente a que Vasco da Gama chegard por via marítima.

OS PORTUGUESES: Os fermentos da geografia humana das ilhas foram


peninsulares, de origens diversas, cuja incidência as fontes histdricas nos impedem de
afirmar com firmeza. Insiste-se para a Madeira, Açores e Cabo Verde que as primeiras
levas de povoadores foram de proveniência algarvia, mas não há dados suficientemente
claros sobre a sua dominância. Esta dedução resulta do facto de o infante D.Henrique ter
fixada morada no litoral algarvio e de lá terem partido as priineiras caravelas de
reconhecimento e ocupação das ilhas. Mas como encontrar colonos disponiveis gente
numa hque carecia deles? Os que partiam do Algarve eram mesmo dai oriundos ou
gentes que a1 afluiarn atraidas pela azáfama maritima que Ih se vivia?"
Orlando ~ibeiro'' afirma, a este proposito, que nas ilhas da Madeira, Porto Santo,
Santa Maria e S. Miguel, ao primeiro impacto de gente do sul seguiu-se o nortenho.
Numa listagem sumkia dos primeiros povoadores, onde foi possivel reunir 179, a
presença nortenha e rnaioritkia: a norte do Tejo temos a maior incidência dos nacionais.
Além disso os registos paroquiais da freguesia da Sd para o período de 1539 a 1600
corroboram a ideia, dando-nos um numero maioritario de nubentes das regiões de Braga,
Porto e Viana do ~astelo". Esta mesma ideia é corroborada nas restantes freguesias da
ilha". T a m b h na listagem do grupo de mercadores, nos primeiros anos é dominante a
presença de gentes de Entre-Douro-e-Minho, nomeadamente dos portos costeiros de

75 Vejam-se as aportacfics de Alberto IRIA(0 AIgm-ue e n illrri drr iIhdr?iin no sicido Xt'
(clocttinentos inéditos), Lisboa. 1974)e a crltica de Fernando lasinins PEREIRA ("O Algurve c ri
ilha da Madeira. Criticas c aditamentos a Alberio Iria". in fittidos sobre flistórin rln Mc~deirn.
Funchal, 1991, pp. 283-296). O tema foi rctomado por Arhir Trtodom de MATOS("Dricontribiito
algarvio no povoamento da Madeira e dos Açores", in Actas rins I J m n d t ~ s(/e Histcirin medieval do
Algaiw e Andalilzia, I,oulé, 1987). que releva a irnportfincia das gentes algamias no povoainento da
Madeim e Açores.
"Aspectos e problemas da expansão portuguesa", in fi~zidas de Ciêncins Poliiicas e
Sociais. n0.59, Lisboa, 1962.
77 Luis de Sousa MELO, "O problema da origem geográfica do povoamcnto". in Islenlta,
n0.3, 1988.20-34.
78 Maria Luts Rochn PINTO e Teresa Mnrin Ferreira RODRIGUES, "Aspectos do
povoamento das ilhas dx Madeira e Porto Santo nos stculos X V e XVI", in Actas do IJI Coldqziio
Inrmm~1ml(de HrsI~Iriurkr Mmk.iru, Ftinchal. 1993.40347 I.
Ponte Lima, Vila Real e Vila do condem. Os livros de matricula do Cabido da Sé do
Funchal, para o periodo de 1 5 3 ~ - 1 5 5 8a~ maioria
~, dos ordinandos do continente situa-se
lias regiões a Norte do Tejo, com forte incidencia em Braça e Porto.
Para os Açores são diversos os estudos sobre a etnogenia da população açoriana. A
ideia mais usual de que as ilhas de Santa Maria e S. Miguel foram povoadas por gentes
da Estreinadura, Algarve e Alentejo, os da Terceira e Graciosa são do Norte, eiiquanto no
Faia1 e S. Jorge tivemos a dominância dos flamengosS1.
Em S. Miguel, a listagem dos primeiros povoadores fornecida por Gaspar Fmtuoso
leva-nos a concluir por uma idêntica afirmação das gentes do Norte de Portugal: em 177
farnilias ai referenciadas 59% eram do reino e 24% da ~ a d e i r a " . Das primeiras a maior
percentagem situa-se na região de Entre-Douro-e-Minho. E podeinos concluir coin Luis
da Silva Ribeiro: "A grande maioria dos povoadores foi constituida por portugueses e no
povoamento colaboraram, mais ou menos, todas as provincins de ~ o r t u ~ a l " ~ ' .
A inexistência de registos capazes de elucidar esta realidade leva-nos a buscar outro
tipo de testemunhos capazes de denunciarem a origem destes primeiros colonos. Os dados
fornecidos pela Genealogia, Antroponímia, Linguística e Etnologia referem uma oripein
variada para os priineiros colonos que actuaram coma o fermento da nova sociedade
açoriana: minhotos, alentejanos, algarvios, madeirenses e flamengos corporizain o
começo da sociedadex" E compreensível que, a exemplo do que sucedeu na Madeira, no
grupo de povoadores das ilhas de Santa Maria e S. Miguel surgisse gentes alçarvias ou n f
residentes, que corporizarain a oligarquia local. Mas depois a principal força motriz da
sociedade e economia açorianas deveria ser, necessariamente, do norte de Portugal. E se
no começo os contactos eram, preferencialmente, com o Algarve diversificaram-se depois
a exemplo da Madeira manteve-se uina forte vinculação as terras norteiihas.
Partindo do principio de que o povoamento das ilhas foi um processo faseado, qiie
atraiu a totalidade das regibes peninsulares e ate mesmo mediterrâneas, é de prever a
confluência de gentes de varias proveniências, em especial iios espaços ribeirinhos de
maior concentração dos aglomerados populacionais. Se é certo que o litoral algarvio
exerceu uma posição d e relevo nas primeiras expedições henriquinas no Atlântico,
também não 6 menos certo que esta era uma área de recente ocupação e carenciada de
gentes. Assim o grosso dos cabouqueiros do mundo insular português deveria ser de
origem nortenha, sendo em muitos casos os portos do litoral algarvio o local de .partida.
Do Algarve vieram, sem duvida, os criados ou servidores da Casa do Infante, ciija origein
geográfica está ainda por esclarecer. Eles tiveram uma função de relevo no lançamento
das bases institucionais do senhorio das ilhas.

'4 Altierto V I E I RA, O Comércio inter-insular nos skculos AV


' e ,YXXVI. Mmleirn, Açores I?
Cancirias, Funchal, 1987. pp. 87-89.
José Pereira da Costa, Livros de Matricula do Cabido dct S& do finclial 1538-1558,
Funchal, 1994.
Confronte-se Carreiro da COSTA, Etnologia dos Açores. vol.1, Lagoa, 1989, pp. 355-395.
8Z João Marinho dos SANTOS. Os Açores nos sécs. XY e XYI, vol.1, Pontn Delgada, 1989,
pp.131-13s.
g3 "Formação histiirica do povo açorinno", in Açoreana, vol. 11, 194 1, 195.
Tenha-se em conta os comentirios de Carreiro da COSTA, ob. cii., pp.365-369.
Também em Cabo Verde 6 referenciado nas illias de Santiago e Fogo, uma
incidência inicial de algarvios na criaçiCão da nova sociedade, a que depois se juntaram os
negros, como livres ou escravos. Mas será de manter esta filiação dos primeiros
povoadores com o litoral algarvio, quando o processo teve lugar apos a morte do infante
D. Henrique?
De S. Tomé sabe-se apenas da presença de uma forte comunidade judaica, resultado
da segunda leva de povoadores ordenada por Álvaro Caminha, desconhecendo-se a
origem dos primeiros ai conduzidos por 1080 de Paiva. Aqui canliecem-se alguns
algawios, que acompanharam Álvaro de Carninlia em 149385.
Cedo reconheceu-se os efeitos nefastos da presença dos judeus nestas paragens,
responsabilizados pela quebra do comercio e das receitas do erhrio régio. Deste modo em
1516 D. Manuel ordenou que eles so poderiam residir em Cabo Verde mediante ordem
régia, o mesmo sucedendo em 1569 para S. Tomé.
Não dever8 esquecer-se que o processo de formação das sociedades insulares da
Guine foi diferente do que sucedeu na Madeira e Açores. Aqui, a distância do reino e as
dificuldades de recrutamento de colonos europeus devido h insalubridade do clima
condicionaram, de modo evidente, a forma da sua expressão etnica. A par de um reduzido
número de europeus, restrito em alguns casos aos familiares dos capitges e funcionários
régios, vieram juntar-se os africanos, que corporizaram o grupo activo da sociedade. Mas
a presença de negros, sob a condiç%ode escravos, incentivada no inicio, foi depois alvo
de restrições. O seu espírito insubmisso, de que resultaram algumas e serias revoltas em
S. Tomd, foi a principal razão destas medidas.

OS ESTRANGEIROS: Confrontadas as Canirias com as ilhas portuguesas


conclui-se que o processo de ocupação e agentes que o corporizaram foram diversos,
sendo tambkm diferente a conjuntura ein que tal se desenrolou. Nas Canárias a iiiiciativa
da conquista partiu de um estrangeiro e o processo de povoamento foi marcado pela
presença genovesa, enquanto nas ilhas portuguesas todo eIe foi um fenomeno nacional
sob a orientação da coroa.
A presença estrangeira nas ilhas portuguesas t evidente desde o inicio do
povoamento. Primeiro a curiosidade de novas terras, depois a possibilidade de uma troca
comercial vantajosa: eis os principais m6beis para a sua fixação nas ilhas. A sua
permanência esta j i documentada na Madeira a partir de meados do século XV,
integrados nas segundas levas de povoadores. E mais não entraram porque estavam, até
1493, condicionados a concessão de carta de vizinhança.
Aliás, foi a Madeira a primeira ilha a despertar a atenção dos mercadores
estrangeiros, que encontraram nela um bom mercado para as suas operações comerciais.
Note-se que o rincão madeirense foi o primeiro a merecer uma ocupaç50 efectiva e
imediata, apresentando um conjunto variado de produtos com valor mercantil, o que
despertou a cobiça dos mercadores nacionais e estrangeiros. Nos demais arquipélagos este
processo foi moroso e tardou em aparecer produtos capazes de gerarem as trocas externas.
No caso das Canárias e dos Açores isso só foi conseguido em pleno a partir de princípios

E5 Veja-se Maria Benedita ARAUJO, "Alprvios em S. Tomt no inicio do stculo XVI", in


Cadernos Histbricos, IV, Lagos, 1 993, pp. 27-39.
do século XVI, com a oferta de iiovos produtos, como o açúcar, o pastel e cereais. Depois
no último arquipélago a sua afirtnaçilo coino importante entreposto do coniércio oceano
fez convergir para aí os interesses de algumas casas comerciais empenhadas no con-
trabando dos produtos de passagem.
Na Madeira, ultrapassadas a partir de 1489 todas as barreiras a presença de
estraiigeiros, a comunidade forasteira ainplia-se e ganha uma nova diinensão na sociedade
e econoinia. A existência de agentes habilitados para 'a dimensão assuiiiida pelas
transacções comerciais e a injecção de capital no sector produtivo e coimercial
favoreceram a evolução do sistema de trocas. Neste contexto destaca-se a comunidade
italiana, que veio em busca do açúcar. A importh~ciaassumida pela cultura na illia e o
comdrcio do seu produto no mercado europeu foi resultado da intervenção desta
comunidade. Florentinos e genoveses foram os principais obreiros. Os primeiros
evidenciaram-se nas transacçbes comerciais e financeiras do açúcar rnadeirense no
mercado europeu. A partir de Lisboa controlavain h distância, por ineio de unia rede de
feitores, o comércio do açlicar inadeimnse. Para isso coiiseguiram da Fazenda Real o
quase exclusivo do comércio do açúcar resultante dos direitos cobrados na illia, bem
como o inanop6lio dos contingentes de exportação estabetecidos pela coroa em 1498.
Noines conio Benedito Morelli, Marchioni, João Francisco Affaitati, Jerbnimo Sernigi,
têm interesses na ilha onde actuam por iniciativa própria ou por interniedio dos seus
agentes, iiiadeirenses e coinpatricios seus.
A penetraçrio deste grupo de mercadores na sociedade mdeirense e por deinais
evidente. O usufruto de privilégios reais e o relacionamento matrinioníal favoreceram a
sua integração na aristocracia rnadeirense. Eles são iiiaioritarianiente proprietários e
mercadores de açucar. São exeinplo disso Rafael Cattano, Luís Doria, João e Jorge
Lomelino, Lucas Salvago, Giovanni Spinola, Sinião Acciaiolli e Benoco Ainatori.
Convein referenciar que os estrangeiros tiveram aqui unia presença forte na agricultura,
pois o conjunto destes produtores de açúcar alcançou os 20% da produção iio século XVI.
Também os flamengos e franceses surgiram na iltia, desde finais do século XV,
atraidos pelo comércio do açúcar. Todavia destes são poucos os que criam raizes lia
-
sociedade madeirense Jolo Esirieraldo é uma excepção -, o seu unico e excliisivo
interesse k o comércio do açúcar.
Nos Açores a situação foi diferente. Os flarnengos surgem desde o coineço como
importantes povoadores. Foi por isso que as illias açorianas ficaram conhecidas conio as
ilhas flamengas8? Eles forain imprescindiveis para o povoaniento das ilhas do Faial,
Terceira, Pico e ~ l o r e s ' ~ O
. primeiro a desembarcar nos Açores teri sido Jhcoiiie de
Bruges, apresentado em docuinento de 1450 como capiMo da ilha Terceira. Da sua acçán
pouco se sabe e hB quem duvide da autenticidade do titulo de posse da capitania de ilhaRK.

86 Confronte-se Jules MEES. "FlistOrin dn dcscobcrtn das illins dos Açores c dn ririgciii J;t sii;i
denominação de ilhas flaiiiciigaq". Kevistri Iiicl~ocleme,lhsc. 2 c 3, Ponta Delgnrln. 19 19.
87 Ferreira SERP A, Os /l~,rnengosnn illtli r h Fniol. A jiinlílin CTt,o(ll~irtere),Lis hoti. 1 (379;
Mnrcelino LIMA, Foiinií1in.s fciinletives, t Irirta. 1833: M. Martiin Ciinha da SILV1:IIIA. "Do
contributo flainengo 110s Açorcs". in Rolr~iini do Inst~tiito Il!sihricn dc~11lrn Terceirn. 11-21-27,
Angra dri lieroisino, 1963-64.
88 Ferreira SERPA. "tliii documeiito hlrri ~trihiiídorici ixil'sintc D. I lcnriquc o11 a carta de
d o m o da ilha Tcrccin a Jicon~cdc Urugs". iii I<~>i~i,~iri
tlr, .-lrrlirrolrqici r ffistOrin, IBsç. V11, I X .
Mais importante foi, sem dúvida, a vinda de Josse Huerter ein 1468 como capitão das
ilhas do Pico e Faial. Acompanharam-no inhineros flamengos que contribulrain para o
arranque do povoamento das ilhas do grupo central e ocidental. Martim ~ e h a i r n ~refere
'
para 1466 a presença de dois rni l flamengos no Faial, enquanto Jeronimo ~ u n z e vinte
c
e oito anos depois, diz serem apenas mil e quinhentos os que residiam aqui e no Pico.
Na ilha de São Miguel Fala-se da existência de uma comunidade bretã no lugar da
Bretanha91. Segundo alguns ela deriva do inicial fluxo de povoadores inas para outros
deverh ser tardia, situada entre 1515 e 1527, pois so na última data o local surge com tal
nome. Todavia é de estranhar que Gaspar Frutuoso não faça qualquer coinentario sobre
ela e os registos paroquiais sejam omissos. Mas isto não invalida a presença desta
comunidade, talvez em data posterior, comprovada alihs em alguns apelidos, topónimos,
caracteristicas fisicas da população, das casas e dos moinhos de vento.
A esta primeira leva de estrangeiros como povoadores sucederam-se outras com
objectivos distintos. O progresso econbmico do arquipélago despertara a atenção da
burguesia europeia, que surge a i a procura dos seus produtos. O pastel atraiu, primeiro os
flamengos e, depois os ingleses. Daqui resultou a importante colónia na cidade de Ponta
Delgada.
Para os arquipélagos de Cabo Verde e S. Tome a comunidade estrangeira assume
menos importância, sendo, em certa medida, delimitada pela política exclusivista da coroa
portuguesa, que criou sérios entraves B sua presença. Todavia a facto de S. Toiné ter
merecido uma exploração diversa coin a cultura da cana sacarina levou a que aí afluíssem
tkcnicos e mercadores, ligados ao produto. Por outro lado, no entender de um piIoto
anónimo no s~culodezasseis, havia a preocupação de cativar colonos de diversas origens
para o povoamento da ilha: "Habitam ali muitos comerciantes portugueses, castelhanos,
franceses e gnoveses e de qualquer outra nação que aqui queiram viver se aceitam todos
de rnui boa vontade..."".
Numa listagem posslvel deste grupo é evidente o reduzido número e o facto de eles
na maioria terem adquirido a nacionalidade e aportuguesado os nomes. Num e noutro
arquiptlago encontrámos alguns italianos e flarnengos. Aliás à descoberta do arquipélago
de Cabo Verde estão associados dois italianos - Cadamosto e António da NoIi -, que se
encontravam ao serviço do infante D. Henrique. A des poderemos juntar, para Cabo
Verde, Joham Pessanha, Pero Sacco, Antonio Esplndola, Bastiam de Lita. Rodriço
V i l h a m , Fernam Fiedde Lugo, para S. Tomé: Cristóvão Doria de Sousa, Andre Lopes
Biscainho, .lácome Leite, Pedra e Luis de Roma, Francisco Corvynel, Antonio Rey, Jorge
Aliote. Note-se que Cristóvão Dbria de Sousa era em 1561 o capitão e governador da ilha
de S. Tomd.
A existCncia da comunidade estrangeira, maioritariamente composta por merca-
dores, esti em consonância com a conjuntura peninsular e europeia, por um lado, e os

"Archivo dos Açores, 1,442-443.


O liirterbrio do Dr. Jerdninlo Munrer, Coirnbra, 1 926,65-66.
91 Herculano Augusto de MEDEIROS, "Subsldios para a monografix da Bretanha", in
Arqirivo dos Açores, vol. XIII; Eugénio PACI-IECO, "A Uretanha Micaelense", in A'lbilm Açoriano,
Lisboa, 1903.
91 Viagem de Lisboa a S. Tonné. Lisboa, s.d., 5 1.
i atractivos de índole econbmica que elas ofereciam, por outro. Desta forma o lançamento
de culturas com elevado valor comercial, como o pastel e o açúcar, esta associado a isso.
: Eles surgem nas ilhas como os principais financiadores da referida actividade agricola e
animadores do comércio. Na Madeira e nos Açores a introdução e incentivos As culturas
do pastel e cana-de-açucar, encontram-se-lhes tainbém ligadas. Assiin o pastel e apontado
i pela historiografia açoriana como uiii legado da c o l h i a flainenga do Faial, enquanto o
açilcar madeirense é considerado como sendo resultado da presença genovesa.
i Em sintese poder-se-á afirmar que as comunidades italiana e flamenga deram um
I
contributo relevante ao povoamento e valorização econbmica das ilhas. Na Madeira e lias
Canhrias evidenciaram-se os genoveses coino principais arautos da economia açucareira,
enquanto nos Açores os segundos afirmaram-se como povoadores de alguinas illias e
V
principais promotores da cultura do pastel. A presença flainenga na Madeira e Canárias é
tardia, o que não prejudicou a sua viiiculação B cultura e coinércio do açúcar. Entre eles
merece especial referência os Weselers coin impoi-tantes interesses na Madeira e em La
Palma.
Se tivermos em conta que a presença do grupo de forasteiros na sociedade insular
resulta fundamentalmente de interesses mercantis, coinpreenderemos a maior incidência
nas ilhas ou cidades onde a actividade foi mais relevante. Deste inodo as da Madeira,
Gran Canaria e Tenerife galvanizaram muito cedo o seu empenho e conduziram a que
eles estabelecessem uma importante rede de negbcios a partir de Lisboa ou Sevilha. $6
assim se pode explicar a posição dominante ai assumida.
Nos Açores a comunidade estrangeira divide-se entre os interesses fundifirio e
comercial, mas foi sem duvida este último, derivado da iinportância que ai assumiu a
cultura do pastel. Este produto chamou à atenção dos mercadores flairienços, franceses e
ingleses para os portos de Angra e Ponta Delgada. Mais tarde, a iinportância definida por
esta iirea nas rotas comerciais do atlâiitico atraiu a cobiça dos estrangeiros coino corshrios
e
ou mercadores empenhados no contrabando. Em idêntica situaçilo surgiram inuitns dos
forasteiros nas ilhas de Cabo Verde e do Golfo da Guind, atnidos pelo rendoso combrcio
de escravos. Apenas as limitaçbes impostas pela coroa B sua permanência levaram a que
não estabelecessem um vinculo seguro.
Registe-se, por fim, os ingleses, que adquiriram um lugar relevante nos arquipélagos
da Madeira, Açores e Canarias a partir do s&culo XVII. O seu priiiciprtl interesse era o
vinho de que se salientaram como os mais importantes consumidores na terra de origem
ou nas colbnias orientais e ocidentais. Eles permaneceram atk a actualidade, deixando
-astos evidentes no quotidiano das illias.

OS ESCRAVOS DE CANARIAS: A populaçrio aborígene de Canárias foi a


priineira vítima dos assaltos peninsiilares. Estes escravos surgein coni alguma frequsnciri
I
!
na Madeira e Algarve, sendo raros nos Açores. Aqui contam a assiduidade dos contactos
e a vinculação destas gentes as diversas tentativas de conquista henriquina de algumas
lhas do arquipélago.
A sua presença na Madeira é um facto natural. Para isso contribuirain a proxiniidade
da Madeira e o total comprometimento dos inadeirenses na empresa heiiriquina.
Decorridos, apenas 26 anos do inicio do povoamento da Madeira, os inadeirenses
embrenharain-se na complexa disputa pela posse das Canárias ao serviço do senhor, o
infante D. Henrique. Tais condiçbes supracitadas definiram a intervenção madeirense
neste mercado de escravos, surgindo. na primeira metade do século XV, algumas
incursões de que resultou o aprisionamento de escravos. Destas referem-se três (1425,
1427, 1434) que partiram da Madeira. Mais tarde, com a expedição de 1445 à costa
africana o madeirense Alvaro de Ornelas fez um desvio a ilha de La Palma onde tomou
alguns indfgenas que conduziu h Madeira. Ali&, nas inúmeras viagens organizadas por
portugueses entre I424 e 1446, surgem escravos que, depois, são vendidos na Madeira o11
em Lagos.
A partir de meados do século XV, são assfduas as referências a escravos canarios na
ilha da Madeira corno pastores e mestres de engenhog3. A sua presença na ilha deveria ser
importante nas últimas dCcadas do seculo XV. Os documentos clamando por medidas
para acalmar a sua rebeldia são indício disso. Muitos deles, fiéis a tradição de pastoreio,
mantiveram-se na Madeira fitis a este ofício. Estranhamente, nos testamentos do século
XV, não encontramos indicago de qualquer escravo guanche. Para alem dos dois
escravos que possuia o capitão Simão Gonçalves da Cgmara, sabe-se que João Esmeraldo,
na Lombada da Ponta do Sol, era também detentor de escravos desta origem, sem ser
Cadamosto, na primeira passagem pelo Funchal em 1455, refere ter
referido o 116rnero~~.
visto um canário cristãa que se dedicava a fazer apostas sobre o arremesso de
Será que o Pico Canário (Santana) e o lugar do Canário (Ponta de Sol) referem-se ao
escravo ou ao pássaro tão comum nestes arquiptlagos?
Nos anos de 1445 e 1446 estão documentadas diversas expedições As Canarias, que
contribuíram para o aumento das presas de escravos do arquipélago na Madeira. Em 1445
- -
ambos os capítges da ilha Tristão Vaz e Gonçalves Zarco enviaram caravelas de
reconhecimento h costa africana, mas o fracasso da viagem levou-os a garantirem a
despesa com uma presa em La Gomera. Álvaro Fernandes fez dois assaltos em La
Gomera e em 1446 foi enviado por João Gonçalves Zarco, referindo Zurara a intenção de
realizar alguma presa. A últinia expedição, bem como as aciina citadas revelam que os
escravos canários adquiriram uma dimensão importante na sociedade madeirense pela sua
intervenção na pastorícia e actividade dos engenhos. Aqui, a exemplo das Canárias, eles,
nomeadamente, os fugitivos foram um quebra-cabeças para as autoridades. Foi como
resultado desta situação insubmissa, de livres e escravos, que o senhorio da Madeira
determinou em 1483" uma devassa, seguida de uma ordem de expulslo em 1490~'.De
acordo com este 6ltimo documento todos os escravos canarios, oriundos de Tenerife, La
Palma, Gomera e Gran Canaria, exceptuando-se os mestres de açúcar as mullieres e as
crianças, deveriam ser expulsos do arquipélago. As reclamações dos fünchalenses,

93 Lothar SIEMENS y Lilinnri BARRETO, "Los eçclavos aborigenes canarios en la isla de Ia


Madera (1455-1 SOS)", in A. E A,, n" 2 4 1974, 1 1 1-143. Aqui utilizamos o tcmo canário para
designar os escravos oriundos do nrquipilrigo das Ganirias, n3o obstante esse ierino quercr
significar os habitrintcs de Gran Canhria. Mas segundo Gnspar FRUTUOSO (06. cit.. livro
priniciro, p. 73) "desta ( G m Caiiaria) tornaram o noinc geral de caniirios os habitadores das outras.
ailida qiie também çeiis particulares iiomcs".
84 Gnspar FRUTUOSO, Livro prinzciru Ars Su:,(/ndr!sr i i Terrn, P. Delgada, 1979, 124.
85 lo& Manuel GARCIA, i-ingens dm dcscohriinei~f~s, Lisboa, 1983. p. 86.
%A.H.M, vol.XV. pp.122-134.
97 Ibidem, vol. XVI. pp.-740-244
sintoma de que se sentiam prejudicados e de que esta comunidade era importante, levou o
infante a considerar apenas os forrosgs.
A 4 de Dezembro de 1491 houve reuni80 extraordinaria da câmara para deliberar
sobre o assunto. A ela assistiram o capitão do Funchal, Simão Gonçalves da Câmara,os
oficiais concelhios e homens bons. Ao todo eram vinte e cinco, destes onze votaram a
favor da saida de todos, nove apenas dos forros e quatro a sua continuidade na ilha. Dos
: primeiros registe-se a opinião de João de Freitas e Martirn Lopes, que justificam a sua
1 opç!lo, por todos os canarios, livres ou escravos, serem ladrões. Todavia para Mendo
Afonso não io assim que se castigava tais atropelos, pois existia a forca como soluçiio. Se
consideramos, por hipótese, que cada um dos presentes pretendia defender os seus
interesses, podemos concluir que catorze dos presentes eram proprietkios de escravos
canhrios.
Em 1503" o problema ainda persistia, ordenando o rei que todos eles fossem
expulsos num prazo de dez meses. De novo o rei retrocedeu abrindo uma excepção para
-
aqueles que eram mestres de aç6mr e dois escravos do capitão Batiam Rodrigues e
Catarina-, por nunca terem sido pastores'0D.
Por tudo isto podemos concluir que as Canhriaç afirmaram-seno stculo XV como o
principal fornecedor de escravos, complementando com as presas dos assaltos A costa
marroquins e viagens para sul. Os canários foram na ilha pastores e mestres de engenho.

O MOURISCO: Os cronistas do sécuIo XV e XVI relevam o activo protagonismo


dos madeirenses na manutenção e defesa das praças de Marrocos. A principal aristocracia
da ilha fez delas o meio para o reforço das tradiçnes da cavalaria medieval, uma forma de
serviço ao senhor e fonte granjeadora de titulos e honras. Esta acç%o foi evidente, e
imprescindivel a presença portuguesa, na primeira metade do século XVI, destacando-se
diversas armadas de socorro a Arzila, A m o r , Mazagão, Santa Cruz de Cabo Gd,
Safim. AI os principais protagonistas foram os capitães do Funchal e Machico, bem como
a aristocracia da Ribeira Brava e Funchal.
A dupla intervenção dos madeirenses na conquista e manutenção das praças
rnarroquinas e portos da costa alem do Bojador contribuiu para a abertura das rotas de
earndrcio de escravos, dai oriundos. No caso de Marrocos a assidua participação deles na
defesa trouxe-lhes algumas contrapariidas favorhveis em termos das presas de guerra. Dai
terão resultado os escravos mouriscos que encontrámos.

C
Gaspar Frutuoso refere, quanto h ilha de S. Miguel (Açores), que em 1522, quando
o sismo e derrocada de terras que soterraram Vila Franca do Campo, era numeroso o
grupo de escravos mouros que o capitiio Rui Gonçalves da C h a r a e acompanhantes
detinham, quando anos antes haviam ida a socorrer a Tanger e ~rzila"'. Identico foi o
comportamento dos madeirenses que participaram com assiduidade nestas campanhas.
Talvez, por isso mesmo, os mouriscos surgem com maior incidência no Funchal e Ribeira

98 Ibidem, voI.XV1, pp.260-265.


99 Ibidem, vol.XV11, pp.440441.
'Oo Ibidem, vol.XVI1, pp.450-451
I?' Francisco de Athayde M. de Faria e MAIA, Capitães dos Donattirias (143P1766), Lisboa,
1972,60.
Brava, areas em que os principais vizinhos mais se distinguiram nas guerras iiiarroquinas.
Eles situam-se, quase que exclusivamente, no skculo XVI, se exceptuarmos iiin caso
isolado do Funchal da dkcada de 1631 a 1640. Poder-se-á entender a situação coino
corolkio das medidas restritivas a posse de escravos mouros, estabelecidas pela coroa a
partir 1 597?1°'.
Tambdrn os açorianos estiveram empenhados na defesa das praças africanas,
resultando disso algumas presas que depois eram ostentadas no regresso coino
escravos10J.Gaspar ~rutuoso'~?estemunha-os relacionaiido-os coin uma fome que Iiouve
em 1521 na costa marroquina. E foram estes mesmos mouros chefiados por Badail que
protagonizaram uma revoitaio5.

O NEGRO DA GUINE:O cornprometiinento dos madeirenses com as viagens de


exploração e comdrcio ao longo da costa africana, e a importância do porto do Funchal no
traçado das rotas definiram para a ilha uina posição preferencial no comércio dos escravos
negros da Guini. Deste modo não seria diBcil de afirmar, embora nos faltem dados, que
os primeiros negros da costa ocidental africana chegaram a Madeira muito anies de serein
alvo da curiosidade das gentes de Lagos e Lisboa.
A situação da Madeira e dos niadeirenses nas iiavegações supracitadas, a par da
extrema carência de mão-de-obra para o arroteamento das diversas clareiras abertas na
ilha pelos primeiros povoadores, geraram, inevitaveliiiente, o desvio da rota do coinercio
de escravos, surgindo o Funchal, eni meados do século XV, como uin dos principais
mercados receptores. E nenhum outro loca! o escravo era tão importante como na
Madeira.
Há varios indlcios de que o coinircio de escravos era activo e de que a Madeira era
uma placa giratória para esse negocio coiii a Europa. Ein 1492"" coroa isentava os
madeirenses do pagamento da dizima dos escravos que trouxessein a Lisboa. Esta
situação, resultante da petição d e Fernando Pó. revela que havia ji na ilha um gmpo
numerosa de escravos e que niuitos deles eram dai levados para o reino.
6 pouca a informaçlo disponível mas o suficiente para revelar a iniportbncia que
assumiu na Madeira o comkrcio coin o litoral africano. onde os escravos deveriam
preencher uma posição dominante. Todavia ela impede-nos de avaliar coin segurança o
nível deste movimento e a importância que os mesmos escravos assumiram, no século
XV, na sociedade madeirense. A insisteiite refergncia, na documentação da época, aos
negros, obviamente desta área, poderá ser o testemunho da sua importância. Em 1466"'

'O2 V. M. GODINHO, ob. cit., IV. 191; Fortuliato de Alineida, ob. cit., vol. Xl, 1 10.
Carreiro dn COSTA, "Reminixtncias inouriscns em terrns açorianas", in Efnologia dos
Açores, vol. I, Lagoa, 1989, pp.364-368.
'O4 Saudades da Terra, livro IV, vol. 11.
'O5 Sobre este episúdio veja-se: Carreiro da COSTA, Menrorinl da vila da Lagoa e do seu
concellro, P. Delgada, 1974.
'O6 A.R.M., C.M.F.. tomo I, 11s. 223 vo-725, sentença regia isentando os momdores da
Madeira do pagamento de dizima nos escrnvos que Icvnrcrn para Lisboa, pan seus erviço, piibl. in
A.H.M., Vol. XVI, 1973, no 161, pp. 269-271.
A.R.M., Ch4.F. t. I, fls. 226.229vo.. 7 de Novcmbro de 1466, "AponLqmentos do infante
D. Fernando, em resposta dc outros", in A. H. M.. XV, 1972, doc. 13, 38.
'os moradores representavam ao infante contra a redizirna lançada sobre os moços de
soldada que condicionava a presença em favor dos negros escravos, situação em que
temiam "vir algum perigo". Passados vinte e tres anos o capitão do Funchal representara
ao duque o perigo em que estava a ilha, por os vizinhos sairem para Lisboa ou para o
litoral africano, "por bem dos muytos negros que ai haIo8".A par disso, já em 1474'09, a
infanta D. Beatriz, em carta aos capitães do Funchal e Machico, estabelecera medidas
limitativas dos escravos e forros quanto a posse de casa, para impedir os roubos que
vinham sucedendo.
A primeira referencia ao envio de um escravo de Cabo Verde para a Madeira surge
apenas em 1557"~ na testamento de Isabel de Sousa, onde diz ter entregue dez cruzados e
sete ou oito bocetas de marmelada a Diogo liodrigues para Ihe trazer um escravo de Cabo
Verde. Em 1587 um Lorenm Pita de Gran Canaria surge em Cabo Verde a compra a
troco de vinho. Manuel Lobo Cabrera aponta, a este propdsito, que os portugueses tinham
uma participaç%oactiva no trato das Canárias com a ~ u i n t " ' .
Certamente que o documento mais importante sobre a intenienção dos rnadeirenses
no comércio de escravos da Costa da Guiné, d o testamento do rnadeirense Francisco
Dias, feito em 22 de Outubro de 1594"~na Ribeira Grande (ilha de Santiago-Cabo
Verde).Os encargos e dívidas testemunham que ele foi um importante interlocutor do
Mfico negreiro na ilha. Ele mostra-se bem relacionado com o comercio de escravos no
interior dos Rios da Guint, com mercadores de Sevilha e com o mercado negreiro das
ilhas de S. Domingos e Honduras. A sua morte veio quebrar esta cadeia de negdcio e ao
mesmo tempo revelar-nos, atravds do testsmento, que este era um negócio rentável. Daí
v conclui por uma importante fortuna, subdividida por encargos pios aos sobrinhos e
cunhados, aos três escra~os"~.
Francisco Dias, com morada fixa na Ribeira Grande, intervinha no trato de escravos
nos Rios da Guint por meio do escravo Antbnio: ai no Rio Grande mantinha contactos
w m Diogo Femandes. As referências a dividas de alguns rnadeirenses poderão ser o
indicativo do envio de escravos para a Madeira, que poderá ter sido o começo do seu
wgbcio. No testamento anotam-se dividas a Jo%o Gonçalves, JerrSnimo Mendes,
hmcisco Afonso, Antbnio Gonçalves e Francisco Femandes. todos vizinhos da Madeira.
A prova da existência deste activo c o m h i o de escravos entre a Madeira e Cabo
áferde temo-la em 1562'" e 1547'''. Nesta ddcada as dificuldades sentidas na cultura do

l o 8 ~ . ~ . C.M.F..
~ . , t. I,fl.169, inA.H.M.,vol.XV, 1973,doc. no 131,p.226.
'O9 Ibidem, tomo velho, fl. 1 1.
i IoA.R.M., Misericórdia do Funchol, no 7 10, fls. 308-309,testamento de 3 de Fevereiro de

"I A.H.P.L.P., Lorenzo de Palenmela, no 844, fl. 109; Manuel LOBO CABRERA, "tos
rcadores y Ia trata de csclavos en Gran Canaria", in Homenaje a Alfonso Trwjillo, 11, Santa Cruz
Tenerife, 1 982,59 e 71.
'I2 A.R.M.. Misericúrdia no Funchal, 684, fl. 785-90 vo.
'I3 Os seus bens m6veis foram avaliados em I.23 1.000rs a que se dever&somar as dividas no
or de 30.600 rs; desse elevado peclilio entregou 74.000 rs para encargos pios e 209.999rs pelos
iliare~escravos e testamenteiro.
A.R.M., Documentos Avulsos, cx.2, no 194.
'IsIdem, C . M E , t. 3, fl. 137 vo-138.

*
açúcar levaram os lavradores a solicitarem junto da coroa, facilidades para o proviniento
de escravos na Guint, com o envio de uma embarcação para tal efeito. O rei acedeu a esta
legítima aspiração dos lavradores inadeirenses e ordenou que, apos o rermin2t.s do contrato
de arrendamento com Ant6nio Gonçalves e Duarte Leão - , isto é, em 1562, aqueles
piidessem enviar anualmente uma einbarcação a buscar escravos. Em 1567 foi necessário
regulamentar, de novo, o privilggio atribuído aos rnadeirenses, sendo-lhes concedido o
direito de importar anualmente, por um período de ciiico anos, de Cabo Verde e dos Rios
de Guint, cento e cinquenta peças de escravos, dos quais cem ficariam no Funchal e
cinquenta na Calheta.
Para os Açores a presença de negros e muito menor. Mesnio assim os cronistas,
como Gaspar Frutuoso, referem a presença destes escravos nas diversas ilhas. Muitos
acompanharam os primeiros colonos, sendo trazidos do reino. É o caso de Feriião Cameto
Pereira, natural de Castelo Branco, que não hesitou em acompanhar Rui Gonçalves da
Camara no povoamento da ilha de S. Miguel, trazendo "cavatos e escravo^""^. Outros
mais vieram directamente da Costa da Guine, faltando um texto que testemunhe a
importhcia que assumiram na sociedade açoriana117-
A EMIGRAÇÃO INSULAR
I
A elevada mobilidade social é uma caracterlstica da sociedade iiisular. O fentimeno
da ocupação atlântica lançou as bases da sociedade e a eniigraçfio ramificou-a e
projectou-a alhn Atlântico. As ilhas foram assim, num primeiro momento, p6los de
atracçao, passando depois a actuar como áreas centrífugas. A novidade aliada h forma
como se processou o povoamento, activaram o primeiro moviinento. A desilusão, as
escassas e limitadas possibilidades economicas e a cobiça por novas e prometedoi-as
terras, o segundo surto.
Primeiro foi a Madeira, depois as ilhas prdxirnas dos Açores e das Canarias e,
finalmente, os novos continentes ou ilhas. O madeirense, desiludido coin a ilha, procurou
melhor fortuna nos Açores ou nas Canarias, e depositou, depois, na costa africana as
prometedoras esperanças comerciais. Neste grupo incluem-se principalmelite os filhos
segundos desapossados da terra pelo sistema sucessorio. É disso exemplo Rui GoiiçaIves
da CAmara, filho do capit%o do donatário no Funchal, que preferiu ser capitão da ilha
distante de S. Miguel a manter-se como mais um mero proprietário na Ponta do Sol. Com
ele surgiram outros que deram o arranque decisivo ao povoainento desta illia. Deste modo
a Madeira evidencia-se também no século quinze como um centro de divergencia de
gentes no novo mundo.
A elevada mobilidade do ilhéu levou os rnoiiarcas a definirem m a política de
restrições no movimento emigratorio em favor da fixação do colono a terra, como forma
de se evitar o despovoamento das ireas jã ocupadas. Mas o apelo das riquezas ficeis, do
resgate africano ou da agricultura americana eram mais convincentes. tendo a seu favor a
disponibilidade dos veleiros que escalavam com assiduidade os portos insulares. A
emigração era inevitfivel.
I
Giispar FRUTUOSO. Sni,dcidcs da
I ICi Turra, livro IV, vot. 1I, pp. 1 0 1.
I
'I7 Eriieslo REBELO, "Notas açori;uiastl, in .4l*qiiiv0 dos Açores, vul.VIII. Ponta Delgadii,
1886; Carreiro da COSTA, "Pretos nos Açores", in Etnologin dor Açores, vol. IIIII. Lagoa, 1989,
pp.374-377.
I
A Madeira desfrutava no dculo XV, a exemplo das Caniirias, de uma posição
privilegiada perante a costa e ilhas africanas. Deste modo ela afirmou-se por muito tempo
como um importante centro emigratbrio para os arquip6Iagos vizinhos ou longínquos
continentes. Para isso contribuiu o facto de estar associada ao madeirense uma cultura que
foi a principal aposta das arroteias do AtlAntico, isto 6, a cana sacarina.
Os madeirenses aparecem nas Canarias, Açores, S. Tomé e Brasil a dar o seu
contributo para que no solo virgem brotem os canaviais, apareçam os canais de rega ou de
serviço aos engenhos, a que tambhn foram seus obreiros nos avanços tecnolhgicos. A
crise da produçBa açucareira inadeirense, gerada pela concorrência do açucar das areas
que os seus habitantes contribuíram para criar, empurrou-nos para destinos distantes.
Nesta diáspora atlântica, iniciada na Madeira, 6 de referenciar o caso da emigração
inter-insular dos arquipdlagos do Mediterrâneo Atlântico. As ilhas, pela proximidade e
forma similar de vida, aliadas ks necessidades crescentes de contactos comerciais,
exerceram tambtm uma forte atracção entre si. Madeirenses, açorianos e canirios não
ignoravam a condição de insulares e, por isso mesmo, sentiram necessidade do
estreitamento destes contactos.
A Madeira, mais uma vez, pela posição charneira entre os Açores e as Canárias e da
anterioridade no povoamento, foi, desde meados do skculo XV, um importante viveiro
fornecedor de colonos para estes arquipélagos e elo de ligação entre eles. A ilha
funcionou mais como p61o de emigração para as ilhas do que coino drea receptora de
imigrantes. Se exceptuarmos o caço dos escravos guanches e a inicial vinda de alguns dos
conquistadores de Lnnzarote, podemos afirmar que o fenomeno 6 quase nulo, não
obstante no s6culo dezasseis os açorianos surgirem com alguma evid&ncia no Funclial.
Note-se, ainda, a presença de uma comunidade de açorianos nas ilhas Canhrias,
principalmente nas ilhas de Gran Canaria, Tenerife e Lanzarote, dedicados a cultura dos
cereais, vinha, cana sacarina e pastel. Mas açorianos e canarianos, bem posicionados no
traçado das rotas oceânicas, voltamm a sua atenção para o promissor novo mundo.

6, A MADEIRA E AS CANÁRIAS: Um doi aspectos reveladores das conexães


madeirenses e açorianas foi o relacionamento com as Canhrias. Para Perez ~ i d a l " %
presença portuguesa no arquipélago resultou da sua intervenção em dois momentos
decisivos: um primeiro, demarcado pelas acções da coroa e do infante D. Henrique, nos
stculos XIV e XV que terS. o seu epílogo em 1497 com o tratado de Alcaçovas; o
segundo, de iniciativa particular, abrangendo os séculos XVI e XVIII, ein que os
impulsos individuais se sobrepõem à iniciativa oficial. Este ultimo foi o momento de
expressão plena da presença lusiada e do seu paulatino definhar em face da RestauraçZío
da monarquia portuguesa e da guerra de fronteiras mantida atk 1665.
A questão ou disputa pela posse das ilhas Canarias foi o prelúdio de novos
confrontos com o objectivo de inonop6Iio das navegações atlânticas. O inicial
afrontamento foi entre Portugal e Castela, tendo como palco as ilhas Canárias. Esta
disputa começou ein meados do século catorze mas $6 na centúria seguinte por iniciativa
do infante D. Henrique teve a sua maior expressão.

H 8 "Aportaci6n portuguesn a Ia poblacion de canarias. Datos". in Ilnilwio de firudins


Ailfinticos, no 14, 1968. Este e oiitros estudos foram reunidos em Los poritrgtreses en Conarins.
portugilesismos, Las Pnlmas, 199 1.
A expedição de Jean de Betencourt em 1402 marca o inicio da conquista das
Canárias enquanto a sua subordinaçao lo soberania da coroa castelhana e o reconhe-
cimento em 1421 pelo papado desta nova situação fez reacender a polémica do
sdculo XIV. Ao infante porhiguês restavam apenas duas possibilidades: a solução
diplomática, fazendo valer os seus direitos junto do papado e o recurso a uma intervenção
Elica, legitimada pelo espirito de cruzada que a ela se pretendia associar. Desta ultima
situação resultaram as expediFes de D. Fernando de Castro (1424 e 1440) e de Ant6nio
Gonçalves da Câmara (1427). Mas em todas as frentes as conquistas foram efkmeras e de
pouco valeu, por exemplo, a compra em 1446 da ilha de Lanzarote a Maciot de
Bettencourt, por 20.000 reais brancos ao ano e regalias na ilha da Madeira. Disso apenas
resultou a ramificãç%odesta importante familia a Madeira e, depois, aos Açores. O litígio
encerra-se em 1480 com a assinatura de um tratado em Toledo. Desde então a coroa
pcrmiguasa abandonou a sua reivindicação pela posse dessas ilhas com garantias de que a
burguesia andaluza não se intrometerh no trato da Guink.
A conjuntura destas ilhas e do relacionamento das coroas peninsulares acompanhou
desde o início as conexões canhrio-madeirenseç. No skculo XV a vinculaçãa da Madeira a
Lanzarote filia-se na célebre na disputa das coroas peninsulares pela posse das Canárias.
Em finais do skculo seguinte a sua reafirmaçao e alargamento a todo o arquipklago
cankio foram resultado da ocupação da ilha em 1582 por D. Agustin Herrera, acto que
materializou na Madeira a unilio das duas coroas peninsulares119.Entretanto nos Açores
tivemos desde 1582 a presença de importantes contingentes militam espanhbis, mas
sendo reduzida a presença de canhios. O efeito social dos dois fenbmenos em ambos os
arquipélagos foi diverso. O primeiro permitiu a afirmação rnadeirense em Lanzarote,
enquanto o segundo, para aldrn do natural reforço da realidade condicionou a presença
caniuia no Funchal, que nunca foi muito significativa. Talvez o momento de maior
intervenção seja o do siculo XV com a presença dos aborigenes candrios, como escravos,
ao serviço da pastoricia e safra do açúcar'20.
Se a componente política se deverá conceder o mérito de abertura e incentivo das
conex8es humanas, ao econdmico ficou a missão de reforçar e sedimentar este
relacianamento. Os contactos comerciais surgem em simultâneo como consequência e
causa das migraç5es humanas. Tal interclmbio so adquiriu a plenitude no século XVI,
incidindo preferencialmente no comércio de cereais dos mercados de Tenerife,
Fuerteventura e hzarote.
A proximidade da Madeira ao arquipklago canlirio e o rApido surto do povoamento e
valorimção sócio-economica do solo orientou as atenções do madeirense para esta
promissora terra. Assim, decorridos apenas vinte e seis anos ap6s a ocupaçEio do solo
rnadeirense, embrenharam-se na controversa disputa pela posse das Canárias ao serviço
do infante, em 1446 e 145 1.

'I9 h t h a r SIEMENS HERNANDEZ, "La expedición de Ia Mndera de1 Conde de Lanzarote


desde la perspectiva de Ias fuentes madeirensesn, in Anuario de htudios Atlân~icm,n0.25, Las
Palmas, 1979; A. RUMEU DE ARMAS, "El conde de Lanzarote. capitán generaI de Ia Madera". in
ibidem, n0.30, 1984.
I2O Lothar SIEMENS HERNANDEZ e Lilianx BARRETO, "Los esclavos nborigenes
canarios en Ia isla de Ia Madera (1455-1 505)", in Anuario de Estudios Atldnticos, n0.20, 1974, 1 1 I -
-143.
1 A presença rnadeirense na empresa canária conduziu a uma maior aproximação dos
dois arquipklagos ao mesmo tempo que influenciou o tmqado de vias de contacto e
: comCrcio entre os dois arquipélagos. Pela Madeira tivemos, primeiro, o saque facil de
i mão-de-obra escrava para a safra do açúcar e, depois, o recurso ao cereal e a carne,
necessiirios a dieta alimentar do madeirense. Pelas CanBrias foi o recurso a Madeira com
o porto de abrigo das gentes molestadas com a conturbada situação que ai se viveu no
sdculo XV. Em 1476 com a conquista levada a cabo por Diogo de Herrera, muitos dos
descontentes com a nova ordem emigraram para a Madeira ou Castela. De entre eles
podemos referenciar Pedro e Juam Aday, Juan de Barros, Francisco Garcia, Bartolome
Heveto e Juan Bernal.
Esta corrente migratória resultante do descontentamento gerado em face da
conquista e ocupaç%o do arquiptlago cankio iniciara-se ja por volta de meados do
skculo XV, sendo seu arauto Maciot de Bettencourt. O sobrinho do primeiro concluistador
das CanBrias, amargurado com o evoluir do processo e ein litígio com os interesses da
burguesia de Sevilha, cedeu o direito do senhorio de Lanzarote ao infante D. Henrique
mediante avultada soma de dinheiro, de fazendas e regalias na Madeira. Iniciava-se assim
uma nova vida para esta família de origem norrnanda que das Canarias passa h Madeira e
aos Açores, relacionando-se ai com a principal nobreza da terra, o que lhe valeu uma
lugar de relevo nas sociedades madeirense e micaelense do século XV.
Acompanharam o desterro de Maciot de Bettencourt a sua filha Maria e os
sobrinhos e netos Henrique e Gaspar. Todos eles conseguiram uma posição de prestlgio e
avultadas fazendas mercE do relacionamento matrimonial com as principais famílias da
Madeira. D. Maria Bettencourt, por exemplo, casou com Rui Gonçalves da Câmara, filho
seguiido do capitgo do donatario do Funchal e futuro capitão do donatario da ilha de S.
Miguel.
A compra em 1474 por Rui Gonçalves da Câmara da capitania da ilha de
S. Miguel implicou a ramificação da famtlia aos Açores. Com D. Maria Benencourt
seguiu para Vila Franca o seu sobrinho Gaspar, que mais tarde viria a encabeçar o
morgadio da tia em S. Miguel, avaliado em 2.000 cruzados. Os filhos, Henrique e João
evidenciaram-se na época pelos serviços prestados a coroa, tendo recebido em troca
muitos beneficias. Henrique de Bectencourt preferiu o sossego das terras da Band'AMm,
na Ribeira Brava, ande viveu em riquissimos aposentos. Aí instituiu um morgado e
participou activamente na vida municipal e nas campanhas africanas. Os descendentes
destacaram-se na vida local e nas diversas campanhas militares em África, Índia e
Brasil.
Se esta primeira vaga migratória traçou o rumo e destino madeirense, a expedição
pacificadora de D. Agustin Herrera, conde de Lanzarote, em 1582, sedimentou e estreitou
os contactos entre a Madeira e ~anzarote"'. O pr6prio conde de Lanzarote, na curta
estadia na ilha, foi um dos arautos deste relacionamento, pois ligando-se aos Acciaiolis,
importante casa de mercadores e terra tenentes florentinos, fixada na ilha desde I5 15. As
suas hostes seguiram-lhe o exemplo, tendo muitos dos trezentos homens do presldio

l2) Lothar SIEMENS HBRNANDEZ. "LA expedicion a Ia Madera dei Conde de Lanzarote
desde Ia perspectiva de Ias fuentcs inadeirenses", in An~toriode Esitrdios Atlanfico.~,ti0.25. 1979.
criado famllia na ilha. No eriodo de 1580 a 1600 os espanhóis surgem em primeiro lugar
na imigraçgo madeirense1 8.
O descem em 1640 trouxe consigo consequEncias funestas para tal relacionamento.
Assim os madeirenses residentes em Lanzarote foram alvo de represhlias, sendo de referir
o confisco dos bens do filho varão de Sim80 Acciaioli que casara com a filha do Conde de
Lanzarote.
O impacto lusiada nas Canhrias surgiu muito cedo tendo a Madeira como um dos
principais eixos do movimento. A presença alargou-se às ilhas de La Palma, Lanzarote,
Tenerife e Gran Canaría. Os portugueses assumiram um lugar de relevo, situando-se entre
os principais obreiros da valorização económica das ilhas. Eles foram exímios
agricuitores, pescadores, pedreiros, sapateiros, mareantes, deixando marcas indeldveis da
portugalidade na sociedade ~anária"~.
A tradição bélica e aventureira de alguns madeirenses levou-os a participar
activamente nas campanhas de conquista de Tenerife, recebendo por isso, como
recompensa, inúmeras dadas de terra. Dai resultou a forte presença lusiada nesta ilha,
onde em algumas localidades, como Icode e Daute, surgem como o grupo maioritario.
Aliás Granadilla foi fundada por Gonzalo Gonzalez Zarco filho de João Gonçalves Zarco,
capitão do donatArio do Funchal. A prova mais evidente da importância da comunidade
lusfada na ilha estfi documentada nos "acuerdos de1 cabildo de Tenerife" onde foram
sempre referenciados em segundo lugar. O mesmo se poderá dizer para a ilha de La
Palma onde os portugueses marcaram bem forte a sua presença, tendo a testemunha-to a
existgncia de alguns registos paroquiais feitos em português. Entretanto em Lanzarote o
impacto madeirense esth comprovado pelas inúmeras referências da documentação e pelo
testemunho de Vieira y Clavijo de que a Madeira era familiar para os lanzarotenhos que
era ai conhecida como a "ilha".
A acentuada participação lusiada no arquipdago foi resultado das possibilidades
econdmicas que o mesmo oferecia e as necessidades em m%o-de-obrae da possibilidade
de penetraça0 no comtrcio com a costa africana e depois com o novo continente
americano. Assim, num primeiro momento, fomos confrontados com um numeroso grupo
de avenmreiros dos quais se recrutaram os oficiais mecânicos e agricultores e s6 depois
surgiram os agentes de comércio e transporte, todos eles com uma acção decisiva na
economia do arquipélago nas skculos XV e XVII.
E fácil testemunhar a assiduidade dos contactos mas difícil se torna avaliar a
dimensgo assumida pela presença portuguesa neste arquiptlago, quanto h sua origem
geogrAfica. Nos diversos actos notariais, que compulsámos, ignora-se, muitas vezes, a
origem geográfica dos intervenientes portugueses. O facto de muitos surgirem em
diversos actos relacionados com oubos da Madeira ou outorgando poderes para a
cobrança de dividas e administração das heranças leva-nos a suspeitar a sua origem
madeirense.
Uma vez que os contactos entre a Madeira e as CanBrias foram mais frequentes é
natural a presença de uma importante comunidade madeirense nesse arquipblago, com
principal relevo para as ilhas de Lanzarote, Tenerife e Gran Cankia. A i foram agentes

122 Luis Francisco de Sousa Melo, "ImigraçBo na Madeira. Paróquia da Si: 1539-1600. in
História e Sociedade, no 3, 1979, 52-53.
23 Cf .I.Perez Vidal, Los por~uguesesen Conorias. portugriesismos, Las Palmas, 199 1.
$estacados do comércio e transporte entre os dois arquipélagos ou artífices, nomea-
@ente sapateiros. Os açorianos. maioritariamente das ilhas Terceira e S. Miguel,
?urgem em menor número e preferentemente ligados a faina agricola.
A classe mercantil de origem madeirense nas Canirias segue um rumo peculiar.
lianos não se avizinham de imediato, mantendo o

suas operações comerciais e dos investimentos fundilios.


As mudanças operadas na conjuntura politica a partir dos acontecimentos do ano de
presença do madeirense. Ele que at& então usufruia de um estatuto
edade e economia lanzarotenha, por exeinplo, desaparece
Ilinarnente do palco de acçiio. E, facto insblito, os poucos que conseguimos rastrear
documentação procuram ignorar ou apagar a sua origem, surgindo apena? como

Esta situação coincide com o fim do relacionamento comercial incidindo sobre os


is de Canarias pois a partir de 1641 deixou de aparecer no Funchal, sendo
ituido pelo açofiano ou por novos mercados como a Berberia e Arntrica do Norte.

árias propiciou inúmeras influgncias, hoje ainda


Isticas e etnogrificas. Neste caso k evidente os poitu-
os na nomenclatura dos ofícios, utensilios e produtos a que estiveram ligados:
rico de c a ~ ~ a d o "N~o. inverso tmMm temos
a dos aborígenes de Canárias na Madeira e Açores. A sua
a como escravos ou os assíduos contactos entre as ilhas favoreceu estas
es. Na ilha de S. Miguel, não obstante estarem testemunhados apenas dois
mestre de engenho- a sua presença deixou rastro na
canario. Na Madeira para além disso os demais vestigios
a presença não são seguros, podendo apenas afirmar-se com precisão no Porto Santo
generalizado do gofio.

to emigratdrio entre a Madeira e os Açores e


orn Rui Gonçalves da C h a r a , que a partir desta data foi

cornpanheim de Iácorne de Bruges, que em


Flores e Corvo, o certo 6 que s6 a partir da dCcada de

Iz4 Confrontese J. P E R U VIDAL. Los portugueses en rannrim. portttgtiesistnnr. Las

WHO, "Diogode Teive povoador da ilha Terceim, descobridor dns ilhas das
setenta se generaliza esse movimento, que conduziu As illias de S. Miguel, Terceira Santa
Maria e Pico muitos fillios segundos da aristocracia madeirense. Aliás, a carta da infanta
D. Beatriz, autorizando a venda da capitania refere que "a dita ilha des o começo da sua
povoaç%oatd o prezente he muy mal1 aproveitada e pouco povoada1112'.
Na Madeira havia-se esgotado a possibilidade de livre aquisição de terras, coisa que
nos Açores era facilitado. Note-se, ainda, que o incentivo de culturas, como a cana
sacarina e a vinha, estão tambem ligados os madeirenses. Daqui resulta uina forte
presença madeirense nas ilhas de Santa Maria, S3o Miguel, Terceira, S. Jorge, Graciosa,
Faial e ~ l a r e s " ~ .
O movimento inverso foi pouco frequente e só teve lugar a partir de princípios do
século XVI. Para isso deverá ter contribuido a assiduidade dos contactos entre os dois
arquipklagos provocada pelo comércio de cereais e, ainda, o temor das crises sísmicas que
asilaram as ilhas açorianas, com especiaI relevo para as de 1522 e 1563'~'.

AÇORES E CANARIAS: Os contactos eiitre as ilhas dos dois arquipélagos nTio


assumiram a dimensão das situaçfies supracitadas. Aqui as migrações são mais evidentes
no sentido dos Açores para Canárias. Os emigrantes açorianos, oriundos na sua maioria
da Terceira e S. Miguel, fixam-se nas ilhas de Gran Canaria, Lanzarote e Tenerife. Nesta
iiltima ilha estão associados h introdirç%odo pastel'2v.

AS ILHAS DA GUINÉ: As tigações dos arquipdlagos da Madeira e Açores com os


dois da-costa e golfo da Guinb não foram freqiientes, sendo a priineira niotivação a busca
de escravos negros. Neste contexto a abordagem feita pelas gentes insulares e quase
sempre sazonal, o teinpo suficiente para as operaçries comerciais. Todavia encontramos
ein S. Tome e Santiago referências a presença de madeirenses e açorianos avizinhados.
Esta presença B resultado da ida de técnicos ligados i cultura do açúcar e, depois, de
camerciantes interessados no-comercio de escravos para a Madeira ou para as Antilhas,
como sucedeu no século XVII. Um caso exeinplificativo disso é Francisco ias'?' que se
fixou na Ribeira Grande e a partir dai coordenava uma rede de negócios que ligava os
Rios da Guinb aos Açores, Madeira e Antilhas de Castela.
Em Cabo Verde e S. Tom& os inovimenios inigratbrios foram definidos por outros
impulsos, estando-se perante uma imposição das contingências da economia atlintica.
A necessidade de mão-de-obra escrava, do outro tado do Atlintico, conduzi11 a saída
forçada dos africanos, tendo em Cabo Verde e S. Tome dois eixos importantes do

126 Manuel Monteiro Velho ARRUDA, Colecção de docunientos relativos ao descobrimento


epovuumen#o dos Açores, Ponta Delgada, 1977, pCXLV.
e
Esta situaçào evidenciada por Gaspar Prutuaso, Saridlrdcs da Terra, livros terceiro,
quarto e sexto.
i28 Confronte-se Luís de Sousa MELO, "Contribuição açoriana na formação da populaçno
madeirense no século XVI". in Girtio, n0.7. 199 1. pp.328-33 1.
129 Manuel LOBO CABRERA e Elia TORRES SANTANA, "Aproximacion a Ias relaciones
entre Canarias Azores en 10s siglos XVI y XVII". in Bolrfimt do Instituto Histórico dti Ilha Terceira,
vol. XLI, 1983.
13' Arquivo Regional da Madeira, Mberic61-diado F~irichnl,n0.684, fls.785-790v0.
movimento a partir do stculo dezasseis. Tal conjuntura levou à vinculação extrema das

I,
ilhas ao litoral africano com o reforço das conexões econfimicas e humanas.
No grupo, que divergia a partir de Santiago, evidenciam-se os lançados ou
,tmgomaos, que foram um dos suportes mais importantes do comércio ilegal de escravos.
Eles eram na sua maioria africanas "ladinizados" que ai se aventuravam ao serviço dos
mercadores caboverdeanos.

' AS ILHAS AO LITORAL


Os fenbmenos emigratorio açoriano e madeirense ultrapassaram as barreiras do
mundo insular e projectaram-se além fronteiras no Brasil e no Oriente. Num e noutro
espaço os insulares foram importantes como povoadores, guerreiros e descobridores. Para
tnuitoç filhos segundos esta foi a unica alternativa que a sociedade Ihes possibilitava no
acesso a comendas, titulos e cargos: primeiro a defesa das praças africanas a atrair a
atenç50 dos bravos cavaleiros, depois as prometedoras terras orientais e, finalmente, o
Brasil.
No caso madeirense existiu uma relação permanente, desde o seculo quinze, coin as
<praçasmarroquinas, sendo eles que acudiam com o cereal e mais mantimentos para as
guarniç8es das praças, os homens para as defender, o dinheiro e materiais de construção
para as fortalezas. Muitos at morreram na defesa das possessões e outros que adquiriram
.fitulos e honras. As praças eram um local de "diversão" para a cavalaria madeirense,
mmeadamente para os filhos segundos, sedentos de aventura e beneficias'.". Por outro
i d o alguns madeirenses usufruíram de cargos governativos, sendo exemplo disso n caso
de Antbnio de Freitas, provido em 1508 no de comendador de Safirn, Fern%oGomes de
Castro, em 1610 nomeado capitão de Tanger. Talvez, por isso mesmo, foi com desagrado
que os madeirenses encararam a polltica de abandono de muitas das praça- por D. João 111
e aderiram em força h campanha africana de D. Sebastião.
Madeirenses e açorianas tiveram um papel importante na conquista e defesa das
feitorias do oceano Indico. Pelo lado madeirense evidenciaram-se João Rodrigues de
Noronha como comandante de Ormuz (1521), Jordão de Freitas, capitão de Maluco
(1 533), Antonio de Abreu, capitão de Malaca (1 522) e Tristão Vaz da Veiga. Este ultimo
~nibarcouem 1552, com apenas 16 anos, para a Índia, ande ficou notável pelos seus

CONCLUSAO: Os séculos XV e XVI podem ser considerados os niomentos de


wande mobilidade das populações europeias no espaço atlintico e indico, em que os

I portugueses assumiram um papel destacado. Neste contexto as ilhas assumirrim iiin


protagonismo evidente, não apenas, como espaqos receptores dos novos colonos, como
também, de diverghcia de gentes capazes de projectar a nova realidade noiitros espaços e
de defende-la atk a morte. Tudo isto permitiu a afirmação portugiiesa no novo inundo e

1 3 ' Joáo .lost de SOUSA. "Eniigrnçso inadeirense nos séculos X V a XVII", in Atlinlico,
n0.1985, pp.46-52.
132 Gapar FRUTUOSO, Livro sepindo das Sui~dudesda Tei-1-0, Ponta Delgaila 1979.
caps.XXl- XXIX, pp. 157-2 14; C. R. BOXER, Fidulgos no ertrelno Oiirt~te,Mncaii, 1690.
conduziu a que o s espaços insulares assumissem um papel fundamental na construção
desta nova realidade que corporiaou os impérios europeus.
Até ao sécuio XVlII o emigrante continuará a confundir-se como o colono,
funcionirio e soldado. Deste modo toma-se dificil enquadrar esta mobilidade das
populações dentro do contexto do fenbmeno da emigraçao. O sdculo XIX com o advento
de uma nova conjuntura dos espaços coloniais e de acentuadas transformações com a
abolição da escravatura e a internacionalizaç3odo mercado de trabalho. As ilhas, porque
são espaços limitados que n%ose compadecem com o crescimento natural da população,
assumem-secom interventores activos no processo de transformação do mercado da mão-
de-obra da centiiria oitocentista.

INSTRUMENTOS DE TRABALHO

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