Você está na página 1de 1

Público - 13 de Maio 2009

Polémica põe associações e médicos em confronto


Associações escandalizadas com terapias para mudar
de orientação sexual
13.05.2009 - 08h02 Andreia Sanches
Dez associações, entre as quais a Panteras Rosa e a Médicos pela Escolha, consideram “escandalosas” as declarações de
psiquiatras feitas há dias ao PÚBLICO sobre terapias de “reorientação de orientação sexual”.

E acusam a Ordem dos Médicos (OM) de estar a deixar que se promovam o preconceito e as “práticas atentatórias dos
direitos e da saúde” das pessoas.

Em causa estão, desde logo, as declarações do presidente do Colégio de Psiquiatria da OM, que tinha admitido que, pelo
menos nalguns casos, é possível “reenquadrar a identidade de género” de alguém que pede ajuda médica para fazê-lo.

“Irresponsabilidade” e “ausência de ciência” são algumas das expressões usadas no comunicado que pede ao bastonário da
OM que se pronuncie. E foi o que Pedro Nunes fez, ontem mesmo, questionado pelo PÚBLICO: diz que o conselho
nacional da OM nunca debateu o assunto. Pelo que não tem posição.

Ainda assim, admite que “se há um pedido de alguém que está em sofrimento” por causa da sua orientação sexual “não se
pode criticar um psiquiatra que ajude” essa pessoa. O assunto, admite, pode vir a ser alvo de um debate maior.

Um estudo recente feito no Reino Unido revelou que 17 por cento dos profissionais de saúde mental assumiram já ter
tentado “reorientar” lésbicas, “gays” e bissexuais. Isto apesar de a Associação Americana de Psiquiatria afirmar que os
médicos devem abster-se de o fazer. Porque estas intervenções podem ser prejudiciais.

Questionado sobre o assunto (PÚBLICO de 2/5/2009), João Marques Teixeira, do Colégio de Psiquiatria, afirmou que se
alguém pede ajuda porque não quer sentir atracção sexual por pessoas do mesmo sexo pode haver margem para intervenção.
Ideia semelhante foi defendida por Adriano Vaz Serra, presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental.

Agora, em comunicado, as associações lembram que a homossexualidade deixou de ser considerada uma doença em 1973. E
que estas posições são “graves” e perigosas. “Este debate está encerrado há 30 anos”, lembra Sérgio Vitorino, da Panteras
Rosa. E surpreende-se com a opinião do bastonário: “O que ele está a dizer é que os psiquiatras podem violar orientações”
internacionais.

Marques Teixeira diz que as suas palavras estão a ser mal-entendidas. “Em primeiro lugar, dei a minha opinião pessoal, não
a da Ordem ou a do colégio; em segundo, houve uma má interpretação por parte das associações de alguns termos técnicos
que utilizo. Eu falo de 'reenquadrar’, não de 'reorientar’. O meu papel é perceber o tipo de pedido que os clientes me fazem,
compreender e ajudar as pessoas a perceber os seus comportamentos e a tomar opções e tenho o respeito máximo pelas
opções das pessoas.”

Vaz Serra acrescenta que é “uma realidade clínica” que há pessoas que desejam mudar de orientação sexual e que “nestes
casos o que se coloca é o respeito pela liberdade pessoal”.

Você também pode gostar