Você está na página 1de 71

O PROCESSO SAÚDE-DOENÇA E O PROJETO

DA SAÚDE PÚBLICA

PAULO SABROZA
RIO DE JANEIRO
SETEMBRO de 2007
COMPOSIÇÃO DA BIOSFERA

-MATÉRIA
-ENERGIA
-INFORMAÇÃO

A QUESTÃO DA UNIVERSALIDADE
O QUE É VIDA
“como Deus, como música, carbono e energia, é um eixo
rodopiante de seres que crescem, fundem-se e morrem.”
“É a matéria desenfreada, capaz de escolher sua própria
direção para prevenir indefinidamente o momento
inevitável do equilíbrio termodinâmico – a morte. A vida é
também uma pergunta que o universo faz a si mesmo,
sob a forma do ser humano.”
( Margullis e Sagan, 2002)

A VIDA PODIA SER BEM MELHOR, E SERÁ


MAS ISTO NÃO IMPEDE QUE EU REPITA
É BONITA, É BONITA, É BONITA.

GONZAGUINHA
NÍVEIS DE ORGANIZAÇÃO DA VIDA E PROCESSO
SAÚDE-DOENÇA-CUIDADO
A QUESTÃO DA INTEGRALIDADE
REPRESENTAÇÕES DO PROCESSO
SAÚDE-DOENÇA-CUIDADO
 MÁGICA
 RELIGIOSA
 FILOSÓFICA
 CIENTÍFICA
"São os espíritos que causam a maioria das doenças, ao
aparecerem para os humanos na floresta, e são eles que
ajudam os xamãs a curá-las. Os espíritos são invisíveis,
só aparecendo para os doentes e os xamãs em transe.
Os seres espirituais estão usualmente em toda parte,
menos dentro da aldeia, onde surgem apenas em
situações extraordinárias de doença, xamanismo e ritual.
Sua relação com os humanos ocorre em bases
predominantemente individuais, sob a forma básica da
doença. Consideram que todas as doenças decorrem de
um contato com o mundo sobrenatural, seja pela atuação
de um feiticeiro ou pelo encontro acidental com um
espírito."
Viveiros de Castro (2002:81),
Só no folclore persa havia 99999 demônios para doenças
específicas.

Em outras sociedades, onde já se concebia um número


limitado de deuses, sempre se encontrava ao menos um
para cuidar dos problemas de saúde:
- Hórus dos egípcios
- Asclépio, do panteão greco-romano
-O orixá Omolu-Obaluaê da Umbanda.
A doença passou a ser vista como impureza moral ou
pecado, resultado da desobediência a códigos de
condutas prescritos pelos deuses e vigiados pelos
sacerdotes, sendo atribuída ao indivíduo enfermo toda a
responsabilidade tanto por seus sofrimentos como o dos
outros.

IMPUREZA MORAL DOENÇA CULPA

PUNIÇÃO
“Os hebreus nos legaram um universo de leis morais, mas os gregos
claramente visualizaram, pela primeira vez na história da humanidade,
um universo de leis naturais.”
Wislow,1967. The Conquest of the Infectious Diseases p:55

O EQUILÍBRIO DOS HUMORES NA MEDICINA DA ESCOLA HIPOCRÁTICA

QUENTE SECO FRIO ÚMIDO

FOGO TERRA AR ÁGUA

BILE AMARELA BILE NEGRA FLEUGMA SANGUE


Variação da população da Inglaterra: 1234-1489

Curva estimada segundo estudo das razões de


sobrevivência de gerações.

Adaptado de Holligsworth, 1969. Historical A Dança da Morte, de Hans Holbein the


Demography Elder, 1491.
Quadro de Reimbrandt - A Lição de Anatomia do Dr. Tulp, de 1632

O corpo humano, depois da morte, já não era mais sagrado, e


podia ser objeto de pesquisa das ciências médica e biológica
POPULAÇÃO ESTIMADA PARA A EUROPA DIMENSÕES DA REPRODUÇÃO
NO PERÍODO DE 0 A 1900 DC SOCIAL NAS ORGANIZAÇÕES SOCIO-
ESPACIAIS CAPITALISTAS

Nas organizações sócio-espaciais capitalistas a reprodução da vida


se faz de modo articulado e simultâneo com a reprodução do capital,
mas uma não pode ser reduzida à outra.
O PROJETO DA SAÚDE PÚBLICA

CIÊNCIA
POLÍTICA
COMPROMISSO ÉTICO
MODELO DE EXPLICAÇÃO DAS CAUSAS DAS DOENÇAS NA PRIMEIRA ETAPA
DA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL NO SÉCULO XIX
“Algumas destas medidas são urgentes como clamores
de humanidade e justiça para grandes multidões de
nossos irmãos e necessárias, não menos, para o bem
estar dos pobres e para a defesa e para a segurança
do rico”.
Relatório do Comitê Especial para a Saúde das Cidades (Londres, 1840).
Citado por George Rosen - Uma história da saúde pública, 1994:173
“A maneira como a sociedade atual trata os pobres é
verdadeiramente revoltante. Atraem-nos para as
grandes cidades onde respiram uma atmosfera muito
pior da que na sua terra natal. Privam-nos de todo o
prazer, exceto o prazer sexual e a bebida, mas em
contrapartida fazem-nos trabalhar diariamente até o
esgotamento total das suas forças físicas e morais,
levando-os para os piores excessos nos dois únicos
prazeres que lhes restam. E se isto não bastar, se
resistirem a tudo isto, são vítimas de uma crise que os
transformam em desempregados e que lhes retira o
pouco que até então tinham deixado.”
Friederich Engels, A situação da classe trabalhadora na Inglaterra.
1998, p.117
Na segunda metade do século XIX, em um período de pouco mais de
cinqüenta anos, foram formuladas e admitidas novas concepções
científicas que suplantaram completamente os conhecimentos e valores
relativos à vida, às doenças e à saúde que haviam prevalecido por mais
de dois mil anos:

 A vida como organização.

 A célula como nível elementar da vida.

 A impossibilidade da geração espontânea da vida.

 A estabilidade do meio interno e a relevância das trocas com o meio


externo para a manutenção da vida e da saúde.

 Causas externas e específicas para cada doença

 A evolução permanente das espécies vivas por seleção natural ou


seleção sexual
"A estabilidade do meio interno é a condição da
vida livre e da existência independente... Assim,
longe dos animais superiores serem indiferentes
ao mundo exterior, eles, ao contrário, existem em
uma relação precisa de intercâmbio com ele, de
tal modo que este equilíbrio resulta de
compensações contínuas e delicadas, definidas
através do mais sensível dos balanços."

Claude Bernard - Leçons sur les phénomènes de la vie


communs aux animaux et aux végétaux. Albert Dastre,
editor. 2 volumes, Paris, 1878-1879. Volume 1
Reedited by G. Canguilhem, Paris, 1966.
"a novidade da revolução pasteuriana foi
ter constituído objetos de ciência que não
se identificam ao homem sofredor e
doente da tradição médica neo-
hipocrática; foi ter inaugurado disciplinas
que transcorrem em outro lugar que não
o hospital, segundo regras e métodos
que não são os da cura.
Disciplinas que se realizam num universo
específico - o laboratório, onde a relação
do cientista com seu objeto é
mediatizada por um conjunto cada vez
mais complexo e sofisticado de técnicas
e instrumentos.
Suas experiências visam, é claro, a
compreensão e erradicação da doença,
quer seja no homem, nos animais ou no
mundo vegetal - mas esse é seu objetivo
último, não sua causa ou motivação
primeira.

Benchimol ,1990 -Origens e evolução do


Instituto Oswaldo Cruz no período 1899-1937
MODELO DE EXPLICAÇÃO DAS CAUSAS DAS
DOENÇAS NA SEGUNDA ETAPA DA REVOLUÇÃO
INDUSTRIAL, NO FINAL DO SÉCULO XIX
Modelo de representação da saúde e da doença como estados decorrentes do
equilíbrio ente agentes agressores, as respostas dos hospedeiros e
características do meio externo.
No âmbito mais geral da Práticas de saúde fundamentadas
sociedade, a medicina pelo modelo pausteriano
pasteuriana decantou-se numa
multiplicidade de práticas que, Eliminação dos dejetos humanos
com o passar do tempo, Pausterização do leite
acabaram por se incorporar ao Cuidado no manejo de alimentos
cotidiano e ao senso comum Cuidado com a higiene individual
das populações, ao menos das Vacinação das crianças
que habitam os centros Esterilização das mamadeiras
urbanos, onde ainda é mais Isolamento dos portadores de doenças
intensa a medicalização das transmissíveis
relações sociais. Assepsia nas cirurgias e nos partos
(Benchimol, J. -1990. p.7) Assepsia das feridas nos campos de
batalha
"As epidemias artificiais são
atributos da sociedade, produtos
de uma falsa cultura ou de uma
cultura não acessível a todas as
classes. São indicativas de
defeitos produzidos pela
organização política e social e
conseqüentemente afetam
principalmente aquelas classes
que não participam dos
benefícios da cultura."

(Virchow apud Rosen, George. Da


polícia médica à medicina social:
ensaios sobre a história da
assistência médica. Rio de Janeiro:
Graal, 1979. p. 84).
“enquanto num sentido o mundo estava se tornando demograficamente
maior e geograficamente menor e mais global, um planeta ligado cada
vez mais estreitamente pelos laços dos deslocamentos de bens e
pessoas, de capital e de comunicações, de produtos materiais e idéias,
em outro sentido este mundo caminhava para a divisão.” (pg31)
“Portanto, ao abordar 1880, estamos menos diante de um mundo único
do que de dois setores que, combinados, formam um sistema global: o
desenvolvido e o defasado, o dominante e o dependente, o rico e o
pobre.”

Hobsbawn E. – A Era dos Impérios 1875-1914. São Paulo: Editora Paz e Terra,
2006 p.33
Segundo o British Medical Journal, o médico e parasitologista inglês
Patrick Manson, considerado um dos fundadores da Medicina Tropical,
relatou que:
"sob a influência das primeiras observações, ele concordava com as
opiniões pessimistas então correntes sobre a colonização dos trópicos
pela raça branca. Em anos recentes, entretanto, sua visão deste
assunto sofreu uma completa revolução. Esta revolução começou com
o estabelecimento da teoria mocrobiana das doenças."

( Editorial - The possibility of acclimatization in tropical countries. British Medical


Journal, 1:,1168,1898)
Número anual de óbitos de febre amarela
ocorridos no Rio de Janeiro - 1890-1908
Nº óbitos
6000

5000

4000

3000

2000

1000

0
1890 1892 1894 1896 1898 1900 1902 1904 1906 1908 Ano

Fonte: PROPHYLAXIA da febre amarella. (Memoria apresentada ao 4o Congresso Medico Latino-


Oswaldo Cruz. Pintura a óleo por Americano). In: OSWALDO Gonçalves Cruz: Opera omnia. [Rio de Janeiro: Impr. Brasileira], 1972. 747p.
p.541-555.
Batista da Costa
“As condições sanitarias do Brazil melhoram de anno em anno,
acompanhando de perto as vantagens colhidas na luta contra
molestias infectuosas e melhoramentos materiaes
emprehendidos no Rio de Janeiro, que constituia o principal
fóco de disseminação das infecções por todo Brazil.
A acção dos serviços sanitarios locaes dos principaes Estados
do Brazil tem conseguido manter as boas condições sanitanias
do paiz e de seus portos”.

Trecho da apresentação de Oswaldo Cruz, representante do Brasil


na 3a Convenção Sanitária Internacional na Cidade do México, em
1907
“As epidemias – gripe, varíola, febre
amarela, peste, etc – de evolução
rápida e caráter agudo ao como os
tufões: espaçadamente e com maior
ou menor violência vem e vão-se.
As endemias- verminoses,
impaludismo, tripanossomíase,
úlceras, lepra, tracoma, filariose,
bouba, sífilis, tuberculose- mantidas
estimuladas pelos três flagelos –
politicalha, ignorância e alcoolismo –
minam permanente, sorrateira e
progressivamente a coletividade,
corrompem o sangue e o caráter,
abatem o organismo e obliteram a
inteligência e consciência.
As primeiras atacam muitos e eliminam
alguns indivíduos; as outras
desvalorizam e extinguem lentamente
todos os indivíduos, degradam a
espécie, degeneram a raça e matam a
racionalidade.”

Belisario Penna. Saneamento do Brasil. Rio de Janeiro: Ed. Jacintho


Ribeiro dos Santos. 1923. Página 8.
“A uma Era de Catástrofe, que se estendeu de 1914 até
depois da Segunda Guerra Mundial, seguiram-se cerca
de vinte e cinco ou trinta anos de extraordinário
crescimento econômico e transformação social, anos
que provavelmente mudaram de maneira mais profunda
a sociedade humana que qualquer outro período de
brevidade comparável. Retrospectivamente, podemos
ver esse período como uma espécie de Era de Ouro, e
assim ele foi visto quase imediatamente depois que
acabou, no início da década de 80.”

Eric Hobsbawm, 1995 – Era dos Extremos. O Breve Século XX . 1914-


1995 pg.15
MODELOS DAS ORGANIZAÇÕES SÓCIO-ESPACIAIS DAS CONJUNTURAS
CAPITALISTAS NO BRASIL DURANTE A PRIMEIRA METADE
DO SÉCULO XX

CAPITALISMO MOLECULAR
COMPETITIVO

1930
É deste período a
identificação, pela primeira vez
na história, de produtos
industrializados de uso
intensivo em saúde pública, de
grande eficácia, produzidos e
distribuídos em larga escala e
capazes de efetivamente
modificarem o comportamento
dos processos infecciosos:
vacinas, antibióticos, novos
antimaláricos sintéticos e
inseticidas de ação residual,
como o DDT. Albert Sabin, médico e
microbiologista que desenvolveu
a vacina oral contra a
poliomielite registrada em 1961
AS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS TIVERAM UM PAPEL
CENTRAL NA TRANSFERÊNCIA DE TECNOLOGIAS APLICADAS
À SAÚDE PARA OS PAÍSES PERIFÉRICOS, NA CAPACITAÇÃO DE
RECURSOS HUMANOS E NA COORDENAÇÃO DE CAMPANHAS
DE CONTROLE DE DOENÇAS
No período entre 1950 e 2000, a população mundial estimada
cresceu de 2520 bilhões para 6086 bilhões, representando um
aumento de 2,4 vezes.

Este aumento, entretanto, ocorreu de modo muito diferente nas


diversas regiões da Terra.

Nos continentes onde a transição demográfica havia iniciado desde o


Século XIX, a população cresceu bem menos neste meio século:

 1,3 vezes na Europa e 1,8 vezes na América do Norte

Já naquelas regiões periféricas do capitalismo industrial, como a


África (3,6 x) a América Latina e Caribe (3,1 x) a Ásia (2,6 x) e a
Oceania (2,4 x), o aumento foi muito maior.
CAPITALISMO MONOPOLISTA DE ESTADO
1950 – 1990

-ESTADO NACIONAL COMO AGENTE DE


PLANEJAMENTO ECONÔMICO E SOCIAL
--INVESTIMENTOS PÚBLICOS
CONCENTRADOS EM POUCOS PÓLOS DE
DESENVOLVIMENTO
-INDUSTRIALIZAÇÃO E PRODUÇÃO
ORIENTADA PARA MERCADO INTERNO
- INTEGRAÇÃO TERRITORIAL ATRAVÉS DE
EXTENSA REDE RODOVIÁRIA
-- SEPARAÇÃO DO CONTROLE SOCIAL (
ESTADO NACIONAL) E CONTROLE DOS
PROCESSOS PRODUTIVOS ( AGENTES
PÚBLICOS E PRIVADOS )

DESENVOLVIMENTO DESIGUAL E INTEGRADO


CAPITALISMO MONOPOLISTA DE ESTADO
1950 – 1990

É INICIADA E SE INTENSIFICA A TRANSIÇÃO DEMOGRÁFICA NO PAÍS,


RESULTANDO EM GRANDE CRESCIMENTO POPULACIONAL
EM CONSEQÜÊNCIA DA CONCENTRAÇÃO DE MIGRANTE SUSCETÍVEIS NAS
PERIFERIAS DOS CENTROS URBANOS, PASSAM A OCORRER IMPORTANTES
EPIDEMIAS NESTAS ÁREAS ESTRATÉGICAS
POLIOMIELITE –VARÍOLA – MENINGITES – ROTAVÍRUS – SARAMPO
O GOVERNO CENTRAL IMPLEMENTA PROGRAMAS NACIONAIS DE SAÚDE,
COM ÊNFASE EM IMUNIZAÇAO, VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÕGICA E DE
EXTENSÃO DE COBERTURA DE AÇÕES BÃSICAS NOS CENTROS URBANOS
INCORPORAÇÃO DA MEDICINA PREVENTIVA, COM ÊNFASE EM
PLANEJAMENTO E EPIDEMIOLOGIA , COM COMPREENSÃO DA SAÚDE COMO
INSUMO PARA O DESENVOLVIMENTO
MEDICALIZAÇÃO DA POPULAÇÃO COM PROPÓSITO DE REDUZIR
NECESSIDADES SOCIAIS A DEMANDAS INDIVIDUAIS
DISCIPLINAS ESTRUTURANTES DO ENSINO DA SAÚDE PÚBLICA

CAPITALISMO MOLECULAR COMPETITIVO


 MICROBIOLOGIA
 SANEAMENTO
 HIGIENE

CAPITALISMO DE ESTADO II
CAPITALISMO DE ESTADO I
(PREVENTIVISMO)
 ESTATÍSTICA VITAL  EPIDEMIOLOGIA
ADMINISTRAÇÃO SANITÁRIA PLANEJAMENTO
EDUCAÇÃO EM SAÚDE CIÊNCIAS SOCIAIS EM SAÚDE
TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA NO CAPITALISMO
MONOPOLISTA DE ESTADO
A MAIOR REDUÇÃO PERCENTUAL DA PROPORÇÃO DE MORTES POR
DOENÇAS INFECCIOSAS OCORREU NO PERÍODO DE 1940 A 1995
Brasil: Esperança de vida ao nascer por UF - 1970 / 2002

1970 1991

1980 2002

< 51 anos 51 a 57 anos 58 a 63 anos 64 a 69 anos > 69


anos
Mortalidade Infantil. Brasil: 1930 - 2000

180

160
Por mil nascidos vivos 140

120

100

80

60

40
20
Ano
0
30 40 50 60 70 80 90 00
19 19 19 19 19 19 19 20

Brasil \ Fundação IBGE – Séries Históricas


TENDÊNCIA DA POPULAÇÃO BRASILEIRA: 1823 - 2004

BRASIL: POPULAÇÃO ESTIMADA INCREMENTO


1823 - 2004 POPULACIONAL

200000
PERÍODO I: 1,5%
180000
(1823 – 1889 )
POPULAÇÃ0 EM MILHARES

160000
140000 PERÍODO II: 2,1%
120000
(1890 – 1949 )
100000
80000 PERÍODO III: 2,8%
60000 (1950 – 1984)
40000
20000
PERÍODO IV:1,7%
0 (1985 - 200_ )
23 35 47 59 71 83 95 07 19 31 43 55 67 79 91 03
18 18 18 18 18 18 18 19 19 19 19 19 19 19 19 20
ANO
BRASIL: POPULAÇÃO RURAL E URBANA, 1940/2000

Brito, Fausto. O deslocamento da população brasileira para metrópoles


ESTUDOS AVANÇADOS 20 (57), 2006
“O circuito superior utiliza uma tecnologia importada e de
alto nível, uma tecnologia capital intensivo, enquanto que no
circuito inferior, a tecnologia é trabalho intensivo e
freqüentemente local ou localmente adaptada ou recriada.

Milton Santos, 1978. - O espaço dividido. Os dois circuitos da economia


urbana dos países sub-desenvolvidos. Rio de Janeiro. Editora Francisco
Alves.
“Não resta dúvida
de que a incidência
INCIDÊNCIA ANUAL (POR 100000 HAB.)DE DOENÇA desta doença é
MENINGOCÓCICA POR FAIXAS CONCÊNTRICAS,
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, 1960 A 1969 E 1974 determinada
historicamente e
INCIDÊNCIA que o modelo de
ZONA 1960 - 1969 1974
desenvolvimento do
CONCÊNTRICA país, mediado pelo
CASOS COEF. CASOS COEF. processo migratório,
CENTRAL 150 1,2 1516,0 109,9 está na raiz do
INTERMEDIÁRIA 511 2,0 5174,0 137,7 problema”.
PERIFÉRICA 239 2,4 5283,0 374,7 José Carvalheiro, 1986:
Processo migratório e
disseminação de doenças.
MÉDIA ANUAL NOPERÍODOENDÊMICO(1960-1969): 90CASOS In: ENSP, 1986 - Textos de
Apoio de Ciências Sociais I,
CASOS NOANOENDÊMICO(1974): 11973 Rio de Janeiro, ENSP. mimeo
POPULAÇÃO RESIDENTE, NATALIDADE E MORTALIDADE NO BRASIL:
1940 - 2005

50 200

Milhões
45 180
40 160
por mil habitantes

35 140
30 120
25 100
20 80
15 60
10 40
5 20
0 0
40

50

60

70

80

91

00

05
19

19

19

19

19

19

20

20
Ano
mortalidade natalidade população

Fonte: IBGE
Distribuição proporcional (%) da população por sexo e idade.
Brasil, 1940 e 2000
1940 2000
Faixas etárias

% da população por faixa etária Faixas etárias % da população por faixa etária

Fonte: Carvalho, JAM e Garcia, RA. O envelhecimento da população


brasileira: um enfoque demográfico, Cad. Saúde Pública. Rio de
Janeiro. 19(3: 725-733. 2003
UMA DAS INOVAÇÕES SOCIAIS MAIS IMPORTANTES DO CAPITALISMO
DO SÉCULO XX FOI O ESTADO DE BEM ESTAR SOCIAL E, INSERIDO
NELE, OS SISTEMAS PÚBLICOS DE SAÚDE

NESTE CONTEXTO É QUE FOI PROPOSTA A REFORMA SANITÁRIA


BRASILEIRA E TEVE INÍCIO A IMPLEMENTAÇÃO
DO SUS

-NATUREZA PÚBLICA

-UNIVERSALIZAÇÃO

-INTEGRALIDADE

-EQUIDADE

-DESCENTALIZAÇÃO

-CONTROLE SOCIAL
“ O intenso processo de urbanização ocorrido nas últimas duas
décadas do século passado gerou um rearranjo populacional, social
e cultural. Hoje, mais de 80% da população vive em cidades.
Embora as camadas pobres da população permaneçam
marginalizadas nas cidades (periferias urbanas e favelas), houve
melhoria no acesso aos serviços de saúde, principalmente a partir
da organização do SUS, que estendeu a cobertura de serviços
médico-sanitários a grandes contingentes da população brasileira de
maneira universal e gratuita.”

Noronha, JC; Pereira, TR e Viacava, F. As condições de Saúde dos


Brasileiros. In: Saúde e Democracia: História e Perspectivas do SUS. Lima,
NT, Gerchman, S. Edler, FC e Suárez, JM (orgs.) Editora Fiocruz, Rio de
Janeiro. 2005. p. 154
“Nos últimos anos aumentou a consciência sobre a crise atual
da saúde pública, entendida como a incapacidade da maioria
das sociedades de promover e proteger sua saúde na medida
requerida por suas circunstâncias históricas. Neste contexto, a
própria concepção de crise se reencontra com suas origens na
medicina hipocrática, quando esta a ela se referia como
exarcerbação ou debilitamento durante a evolução das
enfermidades. Porem a consideremos em toda sua amplitude
ambivilalente, como propôs André Béjin, compreendendo “de
modo formal o momento da verdade ( em que o objeto se
prende a seu espaço atual ) e a emergência evolutiva ( para
um espaço potencial ).”

Traduzido de Ferreira, 1992 – in OPS - La crisis. in La crisis


de la salud publica. Reflexiones para el debate.
COMPONENTES DA PRÁTICA DA SAÚDE PÚBLICA QUE
ATUALMENTE VEM RECEBENDO MAIOR DESTAQUE

- ASSISTÊNCIA MÉDICO-HOSPITALAR
- ASSISTÊNCIA FARMACÊUTICA
- ATENÇÃO BÁSICA

- PROMOÇÃO
-MONITORAMENTO
- VIGILÂNCIA
- AVALIAÇÃO
“Paradoxalmente, uma era cuja única pretensão de benefícios
para a humanidade se assentava nos enormes triunfos de um
progresso material apoiado na ciência e tecnologia encerrou-se
numa rejeição destas por grupos substanciais de opinião pública e
pessoas que se pretendiam pensadoras do Ocidental.”

Eric Hobsbawm, 1995 – Era dos Extremos. O Breve Século XX . 1914-1995 pg.20

“o Século XX não se sentia à vontade com a ciência que fora a sua mais
extraordinária realização, e da qual dependia. O progresso das ciências
naturais se deu contra um fulgor,ao fundo, de desconfiança e medo, de
vez em quando explodindo em chamas de ódio e rejeição da razão e de
todos os seus produtos.”

Eric Hobsbawm, 1995 – Era dos Extremos. O Breve Século XX . 1914-1995. p. 511
O que é Globalização?

Unindo-nos: Globalização significa reconectar a


comunidade humana
“O crescimento exponencial do intercâmbio de bens, idéias,
instituições e pessoas que vemos hoje em dia faz parte de
uma tendência histórica duradoura. Ao longo da nossa
história, o desejo de algo melhor e maior tem nos motivado
a mover nossos bens, nossas idéias e nós mesmos por todo
o mundo.”
Nayan Chanda. Yale Global, 19. November 2002
BRASIL: PRINCIPAIS CAUSAS DE MORTE EM 2002

ANO DE 2002 - CID-BR-10 ÓBITOS %

Doenças cerebrovasculares 87344 8,89


Doenças isquêmicas do coração 81505 8,29
Agressões 49695 5,06
Diabetes 36631 3,73
Doenças crônicas das vias aéreas 34857 3,55
inferiores
Acidentes de transporte 33288 3,39
Pneumonia 32712 3,33
Doenças hipertensivas 25464 2,59
Doenças do fígado 21606 2,20
Transtornos do período perinatal 18301 1,86
BRASIL: CASOS DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS COM
IMPORTANTE REDUÇÃO NO PERÍODO DE 1980 A 2003

Fonte: SVS - MS
BRASIL: CASOS DE DOENÇAS TRANSMISSÍVEIS SEM REDUÇÃO RELEVANTE
NO PERÍODO DE 1980 A 2003

Fonte: SVS - MS
DIVERSAS CARACTERÍSTICAS VÃO FAZER COM QUE O ATUAL
PERFIL DE MORBI-MORTALIDADE SE DIFERENCIE TANTO DAQUELE
ANTERIOR À TRANSIÇÃO EPIDEMIOLÓGICA COMO DO PADRÃO DOS
PAÍSES INDUSTRIALIZADOS DESENVOLVIDOS:
 MORTALIDADE EXCESSIVA POR CAUSAS EXTERNAS
ELEVADA TRANSMISSÃO DE DOENÇAS INFECCIOSAS ADAPTADAS
AO ESPAÇO URBANO: TUBERCULOSE
DENGUE
LEPTOSPIROSE
CALAZAR
MALÁRIA
EXPOSIÇÃO A RISCOS QUÍMICOS E RISCOS BIOLÓGICOS
DURANTE O TRABALHO, PRINCIPALMENTE EM REAS RURAIS
INTENSO DESGASTE DECORRENTE DAS CONDIÇÕES DE VIDA E
TRABALHO NO CIRCUITO INFERIOR INTEGRADO
BRASIL : MUNICÍPIOS BRASIL : MUNICÍPIOS
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
MUNICIPAL (IDH-M), 1991 MUNICIPAL (IDH-M), 2000

IDH-M

0,00 - 0,30 (baixo)

0,30 - 0,50
0,50 - 0,65 (médio)
0,65 - 0,80
0,80 - 1,00 (alto)
PERÍODO IV – CAPITALISMO TÉCNICO-CIENTÍFICO:
1990 – 200_
A SEGMENTAÇÃO SOCIAL E A EMERGÊNCIA DO CIRCUITO
INFERIOR URBANO INTEGRADO
O processo de globalização e de restruturação traz como
conseqüência a forte segmentação da sociedade em pelo menos três
pedaços: excluídos, vulneráveis e integrados. Será que transitamos da
pluralidade da reforma urbana para a sua fragmentação?
( Ribeiro,L.C.- Globalização, Fragmentação e Reforma Urbana,1994)

Uma nova segmentação da população urbana é produzida, com aqueles


integrados ao circuito principal, os denominados vulneráveis, por sua
inserção no circuito inferior, dinâmico mas inseguro, e os excluídos,
aqueles que não com seguem mais trabalho ou outra fonte de renda, e
acabam perdendo até mesmo sua condição de cidadania.
(Sabroza, 1999)
O Globo, 25 de abril de 2006, página 9
TIPOLOGIA DOS ESPAÇOS SOCIAIS NO CAPITALISMO
TÉCNICO-CIENTÍFICO-INFORMACIONAL NO BRASIL

DOMÍNIOS TRADICIONAIS CONSERVADORES

RESERVAS DA BIO E DA SÓCIODIVERSIDADE

REGIÕES DE ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS E


EXTRATIVAS INTENSIVAS

REDE URBANA
CIRCUITO PRINCIPAL
CIRCUITO INFERIOR TRADICIONAL
CIRCUITO INFERIOR INTEGRADO
MARCADORES RECENTES DE VULNERABILIDADE GLOBAL

 A DIFUSÃO DA PANDEMIA DE AIDS

 A PERSISTÊNCIA DE BOLSÕES DE MISÉRIA

 O AUMENTO DAS VIOLÊNCIAS

O AQUECIMENTO GLOBAL

O RISCO DE UMA NOVA PANDEMIA DE GRIPE

O ESGOTAMENTO DE RECURSOS NATURAIS CRÍTICOS


JEFFREY SACHS – O FIM DA POBREZA, 2005
DETERMINANTES DA VULNERABILIDADE
SÓCIO-AMBIENTAL

AUMENTO DO TAMANHO DA POPULAÇÃO


URBANIZAÇÃO E AUMENTO DA DENSIDADE EM PÓLOS URBANOS
ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO
REDUÇÃO DA RESISTÊNCIA POR EXPOSIÇÃO A PRODUTOS
TÓXICOS
DESGATE POR OBESIDADE E OUTROS PROBLEMAS DO CONSUMO
DEGRADAÇÃO AMBIENTAL E PERDA DA BIODIVERSIDADE
COMERCIO E CONSUMO DE ANIMAIS SELVAGENS
AUMENTO DA MOBILIDADE POR INSTABILIDADE NO TRABALHO
PERSISTÊNCIA DE BOLSÕES DE MISÉRIA
DESIGUALDADE SOCIAL E EXPANSÃO DO CIRCUITO INFERIOR
URBANO
“A desconfiança e o medo da ciência eram alimentados por quatro
sentimentos: o de que a ciência era incompreensível; o de que suas
conseqüências, tanto práticas como morais, eram imprevisíveis e
provavelmente catastróficas; o de que ela acentuava o desamparo do
indivíduo e solapava a autoridade. Tampouco devemos ignorar o
sentimento de que, na medida em que a ciência interferia na ordem
natural das coisas, era intrinsecamente perigosa.” (pg. 512)

Eric Hobsbawm, 1995 – Era dos Extremos. O Breve Século XX . 1914-1995

Atualmente considera-se que os contextos de grande vulnerabilidade


sócio-ambientais decorrem diretamente dos processos produtivos
humanos, e portanto decorrem do modelo de desenvolvimento
implementado no Século XX, e não da falta de desenvolvimento
econômico.
NOVOS CONHECIMENTOS E TECNOLOGIAS QUE MUDARAM NOSSA
CONPREENSÃO DA VIDA E DOS PROCESSOS SAÚDE-DOENÇA NA SEGUNDA
METADE DO SÉCULO XX

A GENÉTICA MOLECULAR
A MICROSCOPIA ELETRÔNICA
A COMPUTAÇÃO ELETRÔNICA
A NANOTECNOLOGIA
A PESQUISA COM CÉLULAS TRONCO
A ENGENHARIA GENÉTICA
NEUROCIÊNCIAS
OS NOVOS ESTUDOS SOBRE A ORIGEM E A
EVOLUÇÂO DA VIDA

E EM RELAÇÃO ÀS INOVAÇÕES
SOCIAIS?
O PRÓPRIO MUNDO SE INSTALA NOS LUGARES,
SOBRETUDO NAS GRANDES CIDADES, PELA PRESENÇA MISTURADA,
VINDA DE TODOS OS QUADRANTES E TRAZENDO CONSIGO
INTERPRETAÇÕES VARIADAS E MÚLTIPLAS QUE AO MESMO TEMPO
SE CHOCAM E COLABORAM NA PRODUÇÃO RENOVADA DO
ENTENDIMENTO E DA CRÍTICA DA EXISTÊNCIA.
A GLOBALIZAÇÃO ATUAL NÃO É IRREVERSÍVEL. AGORA
QUE ESTAMOS DESCOBRINDO O SENTIDO DE NOSSA PRESENÇA NO
PLANETA PODE-SE DIZER QUE UMA HISTÓRIA UNIVERSAL
VERDADEIRAMENTE HUMANA, FINALMENTE, ESTÁ COMEÇANDO.

MILTON SANTOS
O RECOMEÇO DA HISTÓRIA, 2000

Você também pode gostar