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♥ Sólo dé
déjate amar ♥
***
Não tem ninguém aqui! Só nós dois e essa lua linda pedindo pra ser
testemunha do nosso amor…
E se aparecer alguém?
Mas nada! — abriu a blusa dela com um rasgo enorme bem na frente — Só
me beija!
Anahí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Aos poucos ela foi acordando do transe. Ainda aérea, reconheceu a voz da
mãe a tempo de responder seu chamado.
♥ Sólo dé
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Anahí: ah sim… — disse revirando os olhos — Mas a mãe dela me disse outra
coisa…
Marichelo: olha que não posso levantar peso extra assim de uma vez…
Anahí: sei, sei… — olhando com cara feia pra mãe — Mas vai me ajudar ou não?
Marichelo: olha, se vocês querem me mandar algum cartão novo ou abrir pra mim
alguma conta bancária pode desistir porque já tenho um monte disso… Bye! —
desligou
Oscar: já fiz a minha parte em conseguir o número dela no celular da Lala… O resto
é contigo, Poncho…
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♥ Sólo dé
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Alfonso: do teu número não posso ligar mais… Tenho que pensar em algo…
Marichelo: voltei…
Marichelo: Poncho…
Marichelo: ele deve ter conseguido meu número. Reconheci a voz dele, mas fingi
que não tinha descoberto…
Anahí: engraçadinha…
Anahí: filha grávida chamando mãe lesada! Filha grávida chamando mãe lesada!
Anahí: vou dizer algo que pensei que nunca fosse dizer…
♥ Sólo dé
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Marichelo: e o que é?
Dulce: não… — rindo — Anny já pensou em tudo, mas eu ainda não decidi a data…
Melanie: e detalhe… Uma grávida que nem se levanta sozinha direito é que tá
arrumando tudo… Cria vergonha!
Dulce: vai te catar! Sabe como é Anny… Tem teimosia pra dar de lembrança… Se
eu não aceitasse, ia ter dois casamentos no final…
Dulce: Mari disse que ela tá insuportável de tão carente… Que tá pra mandar
Poncho ir buscar ela… — riu muito
Melanie: e por que não manda mesmo? Aposto como ele ia amar…
Dulce: Oscar…
Dulce: vocês é que tem que começar de uma vez algo sério! Já cansei de te falar
isso…
Dulce: então desenrola logo essa história… Acha mesmo que eu acredito que
aquele agarramento todo é só curtição?
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Melanie: e por que não seria? Já fiquei com vários assim… Até parece que não me
conhece…
Dulce: é exatamente por conhecer é que digo isso. Aí rola sentimento que eu sei! E
nem tente me convencer que os encontros foram todos por acaso que eu não
acredito!
Dulce: ah claro! Vai dizer que na inauguração daquela loja foi coincidência?
Melanie: e eu uma solteirona numa festa num Buffet infantil. Não é tão estranho
assim…
Dulce: a diferença é que você é amiga da mãe do pirralho… Oscar nem convidado
era!
Melanie: é, né? Pois deixa eu cortar essa história pelo pavio! — pegou uma
almofada e atirou no cabelo da ruiva, bagunçando-o totalmente
Dulce: vai ver só! — devolveu o golpe com outro, iniciando uma guerra de
almofadas; depois de algum tempo elas se cansaram e se atiraram uma em cada
sofá — Vai confessar ou não?
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Melanie: ele me ligava e falava umas indiretas… Até que eu passei a entrar no jogo
e devolver também com indiretas…
Melanie: por exemplo, ele me ligava pra dizer que ia a tal lugar… Então eu também
ia a esse lugar…
Dulce: sonsa!
Melanie: chata!
Dulce: bora que eu tô com sono, mas tu não sai daqui enquanto não me falar tudo…
Dulce: tô esperando…
Melanie — respirou fundo: eu não sei se gosto dele… Na verdade, não sei como é
gostar de alguém.
Dulce: antes tudo era só na pista ou no máximo num motel. Agora não entende a
dimensão das coisas. Acertei?
Melanie: com ele nunca passei de beijos e amassos… Mas a cada vez que a gente
se pega parece que a emoção se renova, como se fosse a primeira vez de novo… e
de novo… e mais uma vez…
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Dulce: tu gosta dele, gatinha… Aprende a aceitar isso…
Dulce: esse povo de hoje parece que não sabe mais o que sente. Primeiro foi Anny,
depois Poncho, depois Oscar e agora tu… Vai por mim… Tá gostando dele de
verdade! — o celular de Melanie começou a tocar
Melanie: maldade ligar só pra dizer que tem fofoca nova na programação…
Melanie: que bom, Lala! Fico muito feliz por vocês! — engasgou de leve com a
própria saliva pelo nervosismo
Lawyse: pois é… Eu fiquei surpresa com o pedido. Nunca pensei que a gente fosse
passar da amizade. Na verdade, vejo nele um grande irmão, não um namorado, mas
quem sabe dê certo… Tem tudo pra dar!
Dulce: sério?! Isso sim é uma surpresa… Não que ela seja uma encalhada — parou
de falar de repente — Não é o que eu tô pensando, é?
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Melanie: eu não sei o que você tá pensando… — séria
Dulce: canalha! — furiosa — Os dois irmãos são iguaizinhos! Não valem nada!
Safado! — o celular de Melanie tocou de novo
Melanie: é ele…
Dulce: se ele tiver um pingo de bom senso tá ligando pra te dar alguma
explicação…
Oscar: tá triste…? Não fica assim! Eu sei como resolver já isso… Vai ter um DJ
maneiro hoje…
Melanie: ah, brigada… — seca — Vou ver se encontro alguém pra ir comigo…
Oscar: não…
Dulce: eu tô chocada!
Melanie: e no mínimo tá achando que sou uma vagabunda, né? Tá certo que eu e
Lala não somos as irmãs melhores amigas, mas achar que eu aceitaria ser a outra
do namorado dela é demais…
*DIAS DEPOIS…*
Cláudia: te acordei?
Juliana: não.
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Cláudia: e por que demorou a atender?
Cláudia: guarde esse sentimentalismo pra sua irmã… Tu nem conhece Anahí e
pode apostar que se conhecesse ia fazer isso com maior gosto…
Cláudia: arquinimigas…
Cláudia: mas agora você está na minha mira, então deve obediência a mim… E cale
sua boca que eu não posso demorar aqui…
Juliana: temos? Até onde sei eu é que vou fazer quase tudo e tu não vai fazer
nada…
Cláudia: entenda uma coisa, colombina… Se eu disser que o céu é violeta você só
diz “sim, senhora”… Estamos entendidas?
Cláudia: esses chantageados de hoje em dia são muito esquisitos… A gente tem
que ameaçar pra eles receberem dinheiro em troca de uns favorezinhos…
Cláudia: tu tem sorte de eu ser muito paciente e ter um sincero carinho por ti…
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Juliana: agora quer que eu agradeça tua amabilidade? Era só o que faltava! —
incrédula
Cláudia: olha aí! Se fosse outra pessoa, tua cabeça tinha explodido agora…
Cláudia: porque você não tem vocação pra assassinada em missão… Se bem que
tá fazendo um ótimo papel de camicase…
Cláudia: sério! É tão bom ter um robozinho… Você manda e ele obedece… Teus
circuitos precisavam de uns ajustes ainda, mas pouca coisa…
Juliana: Céus! Essa mulher é louca! E pior é que não tenho como não fazer o que
ela tá mandando… É a minha vida e a da minha irmã em jogo… Sem falar que ela
não vai parar por aqui… Ela ainda vai infernizar muito a vida dessa tal de Anahí…
Será que eu consigo evitar?
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Anny toda manhã gostava de se refrescar com a brisa suave no jardim de sua
casa na companhia de um bom livro. Para uma grávida típica, poderia ser algum
romance regado a inúmeras lágrimas e um belo final feliz. No entanto, se tratando
de Anahí Giovanna, não era de se estranhar que fosse um romance policial cheio de
assassinos misteriosos e crimes polêmicos. Ela adorava esse mundo perigoso e
sombrio, principalmente pelo fato de tentar levar a luz até ele. Trabalhar com Janete
lhe trouxe grande satisfação. Sua ex-secretária — uma agente do FBI disfarçada —
fora chamada de volta ao país natal com a proximidade da finalização da missão.
Talvez se não tivesse ido, estaria na lista de vítimas da invasão.
Anahí — lendo em voz alta: cuidado! Alguém quer te fazer muito mal…
Anahí: tá…
Anahí: sei lá! Até onde sei ninguém me conhece aqui… E nem eu dou bobeira por
aí…
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Anahí: se for, é de uma pessoa que não me conhece… Porque quem me conhece
sabe que não tenho medo dessas coisas…
Fernanda: teve sim… Mas disse que a chegada de Sophie tá deixando ela muito
ansiosa…
Fernanda: foi.
Fernanda: Mary disse que vai ser mais uma pessoa pra admirá-la, então tem que tá
muito bem… — segurando o riso
Anahí: Nanda, me dê sua opinião sobre uma dúvida cruel que tenho…
Anahí: como eu seria se tivesse morando com minha mãe até hoje?
Fernanda: sinceridade?
Fernanda: não teria porque teu pai já trabalha pra bancar o luxo até das pulgas dos
Poodles das cinqüenta gerações futuras de descendentes…
Anahí: é, eu fiz a coisa certa ao viajar sozinha pra Nova York… — pensativa
Anahí: castigo… Era um colégio interno na Inglaterra ou ir pro Brasil com tia Blanca.
Tinha nem o que pensar…
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Anahí: na verdade não… Dulce me ajudou muito. Tia Blanca era como uma mãe…
Uma mãe normal… — começou a rir — Ou melhor, mais ou menos normal… Fora
que mammy me enchia de grana praticamente todo dia… Acho que o castigo aos
olhos dela era não poder desfrutar de sua enorme beleza e magnitude… — deu uma
gargalhada
Fernanda — rindo: duvido não… Mas é… — foi interrompida pelo celular de Anny
que começou a tocar
Anahí: deixa eu atender e depois continuamos… — atendeu sem ver quem era —
Oi!
Ao ouvir a voz de Poncho, ela ficou paralisada. Nem passou por sua cabeça,
talvez pela distração da conversa com Fernanda, que ele pudesse ligar a essa hora.
Não sabia nem o que fazer. E nem conseguia também… Pensava ora em desligar o
celular, ora em encarar tudo e falar de uma vez por todas… No entanto, seu corpo
parecia estar enestesiado. A mente trabalha a mil por hora enquanto o resto
minguava a cada instante.
Alfonso: é você mesmo? — ela não conseguia responder — Deve ser… Pra não
falar comigo… — triste
Anny abriu a boca na intenção de falar, mas as palavras fugiam por sua
garganta cruzando com o sabor salgado de lágrimas independentes e indiscretas.
Fernanda já entendia a situação, tentava inclusive aconselhá-la sobre como agir, só
que os sentidos dela estavam voltados única e exclusivamente pra ligação. Até
Poncho sentia o pranto que se instalava do outro lado da linha.
Alfonso: não chora, minha princesa! Dói muito saber que você está sofrendo por
minha causa… — emocionado — Pra mim tá sendo maravilhoso saber que você
está aí… tô te sentindo bem mais perto de mim… Mas se quiser eu desligo. — os
dois ficaram calados por algum tempo — É isso o que você quer? — ela não
respondeu tamanho era o choro — Tudo bem, eu vou desligar…
Alfonso: tô no meu escritório. Tava analisando uns documentos que trouxe de casa
e encontrei uma pétala das tuas rosas… Resolvi te ligar… Ontem quando fui dormir
é que me dei conta que já faz cinco meses que não te vejo ou te escutava… Quando
te beijei pela primeira vez, mesmo sem saber quem era realmente, senti que era
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uma pessoa que marcaria muito a minha vida… Quando te beijei sabendo quem era,
vi que isso não era verdade… Você não marcaria minha vida porque você é a minha
vida! E vai continuar sendo… Tem situações na vida em que a gente sofre muito,
mas no fundo sabe que vai passar… Essa é uma delas… Nós estamos sofrendo
bastante, mas um dia vamos estar juntos novamente… Eu tenho certeza! Eu preciso
ter certeza! É isso o que me levanta a cada manhã… Se lembra daquela noite em
Malibu? Daquela música no hotel que a gente dançava? Uns dias atrás comecei a
ouvi-la repetidas vezes… Oscar faltou me matar dizendo que não agüentava mais a
mesma música… — ela esboçou um sorriso calmo e silencioso — Até que um dia
resolvi procurar outras deles dois, da Jessica Simpson e do Nick Lachey. Achei uma
que tem tudo a ver com o que acabei de te dizer… Sei que adora quando eu canto,
apesar de péssima afinação… — agora ele é que riu, mas de forma casual e
descontraída — I wanna love you forever! And this is all I'm asking of you: ten
thousand lifetimes together is that so much for you to do? 'Cause from the moment
that I saw your face and felt the fire in your sweet embrace I swear I knew… I'm
gonna to love you forever. (Eu quero te amar pra sempre! E isso é tudo que irei te
perguntar: dez mil vidas juntos é muito para você? Porque no momento que
contemplei o seu rosto e senti o calor de seu doce abraço eu juro que entendi… que
irei amá-lo para todo o sempre.) [I wanna love you forever – Jessica Simpson]
Espero que tenha gostado. Se pudesse passava o dia todo aqui contigo, mas não
posso… E agora tenho que desligar… Não se esqueça que te amo acima de tudo!
Não demora muito a voltar, por favor… A gente já perdeu muito tempo separados.
Te amo! — desligou
Anny foi voltando a si aos poucos. Permaneceu quieta e calada por algum
tempo, somente sentindo a força transmitida de Fernanda. Mari, que se aproximava,
notou de longe o ar de melancolia que pairava.
Anahí: finalmente descobri a verdadeira causa de toda a minha tristeza quando ele
me liga…
Anahí: saudade… — derramou uma lágrima solitária — Quando eu ouvi a voz dele
agora, me dei conta de que por mais que eu fique longe, que eu tente tirá-lo dos
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meus pensamentos, ele sempre vai estar comigo… E agora ele está da forma que
mais machuca… que é com a saudade…
Marichelo: calma aí que aqui não tem cebola! Anny, olha pra mim… — mãe e filha
se encararam — Sem rodeios… Essa ligação te deixou mais mexida do que as
outras. Tô com uma impressão na cabeça e por isso quero que me responda
sinceramente. O que quer fazer?
Anahí: eu… — respirou fundo — Eu quero voltar… Quero voltar pro Poncho…
Anahí: tô…
Marichelo: pelo contrário, Fê… Há meses eu sei que Anny precisa é ficar com
Poncho, mas ela tinha que descobrir por si só.
Fernanda: só que é arriscado uma grávida de oito meses pegar um vôo assim…
Marichelo: Anny tem uma consulta marcada para daqui a pouco. Ela vai, conversa
com a médica e se for preciso contratamos uma equipe pra nos acompanhar…
Marichelo: de nada, meu anjo! Vai se arrumar que eu tenho muitas coisas pra
resolver… E a primeira delas é desdobrar teu pai… — riu — Fê, você vai me ajudar
a fazer as malas… Então, mosqueteiras, mãos à obra!
#2h depois…
Marichelo: Anny, o motorista vai te levar e depois resolver algumas coisas para mim
da viagem. Quando a consulta terminar é só ligar que ele vai te buscar…
Anahí: sei lá! E se não der certo? E se eu encontrar Poncho com outra? E se a
médica não me deixar viajar? E se… — foi interrompida
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Marichelo: não precisa ficar assim… Você falou com Poncho. Ele te ama… E se a
doutora não deixar, eu dou um jeito… Nem que eu traga meu genro aqui, mas
quando acordar amanhã vai ver o teu amor… — disse sorrindo
Marichelo: assim minha neta nasce daqui a pouco… — as duas riram — Vai lá!
Marichelo: amo vocês duas também… — olhou pra barriga da filha — Coisinha
linda da vovó! Cuida da tua mãe, Sophie…
Marichelo: claro! Ela vai ser que nem eu… Linda, elegante, inteligente, irresistível e
responsável!
Anahí: só espero que não tenha sido uma indireta para dizer que eu seja feia, brega,
burra, resistível e irresponsável…
Marichelo: claro que não, Anny! Como que eu, Marichelo Portillo, teria uma filha
assim? Impossível, minha cara!
Anahí: falei demais, confesso! Vou indo… — saiu pra frente da casa, onde estava o
carro, e entrou nele
Cerca de meia hora depois, Anny chegou à clínica pra sua consulta. O
motorista a deixou na entrada do estacionamento, já que o congestionamento na
avenida principal estava sufocante. Calmamente ela foi caminhando até a entrada
da área de obstetrícia. Havia muitos carros por lá. Tudo parecia muito agitado. Sua
atenção foi focada numa ambulância que acabava de trazer uma vítima
provavelmente de algum acidente. A parte de urgências era ali próximo. Anny estava
explicitamente horrorizada. Aquele sangue todo… A tensão que se instalara…
Talvez agora com a gravidez tenha desenvolvido mais seu lado emocional. Antes
veria aquela cena como uma fatalidade que precisava ser investigada. Agora
enxergava uma vida que se apagava a cada segundo.
Parou numa calçada para analisar melhor o rosto de todos os envolvidos. Uns
para-médicos balançavam a cabeça negativamente enquanto o acidentado ia sendo
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transportado pro interior da clínica. Sentiu-se até culpada por se preocupar com
pequenas coisas enquanto pessoas estavam por um fio. Ficou um pouco a refletir
sobre isso ainda parada no mesmo lugar com a cabeça baixa. Ouviu alguns gritos
meio ao longe, mas não ligou. O ambiente por si só explicava. Foi quando levantou o
olhar para seguir em frente que viu aquela luz enorme vindo em sua direção. Em
uma fração de segundos conseguiu desviar do carro desgovernado que vinha, mas
se desequilibrou e saiu rolando pela calçada.
Médico — falando rápido: os sinais vitais estão fracos. Ela precisa ser atendida
urgente! Uma maca! Tragam uma maca! — gritou
Quase que imediatamente Anny foi levada pra emergência. Partiu direto pra
uma sala de exames pra verificar a situação do bebê e a dela mesma. O médico que
a atendia detectou uma hemorragia interna. Ela precisava ser operada
urgentemente, não só pra conter o sangramento, mas também pra fazer uma
cesariana e salvar a vida da criança.
#Na recepção…
Mulher — agitada: ai, meu Deus! Ela não pode morrer! Ela não pode morrer! Ela
não pode morrer! — foi interrompida
Enfermeira: com licença… Mas aquele policial precisa conversar com a senhora…
Mulher — nervosa: polícia? Os tiras? Eu vou ser presa? Ai, meu Deus, eu vou ser
presa! Eu vou ser presa! Eu vou ser presa!
Policial: é uma boa idéia, já que vamos levar um papo sério daqui pra frente…
Policial: muito bem. Documentos, por favor. — ela entregou — Juliana Abreu Lages.
Brasileira. 23 anos. Veio como turista? — devolveu os documentos
Juliana: sim…
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Policial: pelo jeito, preza muito sua irmã… Por acaso tá fazendo isso a mando dela
ou por ela?
Juliana: não sei o que aconteceu! O freio não funcionava e a direção tava travada!
— angustiada
Policial: isso vai ser verificado na perícia. Deve ser comum em carros mal
fabricados. Trouxe do Brasil? — disse se achando
Juliana: na verdade, não comi nada ainda hoje… Vim pra fazer uns exames e
agradeceria muito se me deixasse comer algo no refeitório. — quase implorando
Policial: de acordo. Ao que me parece não foi um crime doloso. Depois voltamos a
conversar. Ah, só mais uma pergunta. Me disseram que a senhora pegou a bolsa da
vítima.
Juliana: claro. Pode contar comigo. Se for preciso até preencho alguma ficha em
meu nome pra ela. Posso pagar também… O que vocês quiserem! — preocupada
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Juliana se encaminhou nervosa em direção ao refeitório. Tomou um farto
café-da-manhã, realmente estava com muita fome, e depois de pagar entrou no
toalete feminino individual. Ligou na mesma hora pra Cláudia.
Juliana: calma! Tava morrendo de fome! Era isso ou desmaiar por aí…
Cláudia: droga! Imaginei a cena com ele pegando… Ninguém viu não, né?
Juliana: não… Só viram que eu peguei a bolsa dela. E também já dei pro guarda
que veio me interrogar.
Juliana: acho que sim… Bem que tu podia ter pagado um também, né? Morri de
medo dele no começo. Mas depois vi que era maior lesado…
Cláudia: minha aprendiz de vingativa, ouça bem o que sua mestra vai lhe falar.
Quanto mais gente envolvida, mais furos podem ocorrer… Fora que policiais são
espertos quando se trata de dinheiro.
Cláudia: agora, vai lá, faz a ficha da doentinha e não tira o pé daí pra nada! Amanhã
completamos a missão.
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Cláudia: desligou na minha cara?! Isso é demais pra mim! — ofendida — Espera só!
— ligou de novo pra Juliana
#Horas depois…
Recepcionista: é parente?
Juliana: não.
Recepcionista: então não posso lhe passar nenhuma informação. Com sua licença,
mas preciso sair um instante. — ia saindo, mas Juliana foi rápida e a agarrou pela
gola do terno bem polido
Juliana — nervosa: escuta aqui! Se eu não posso saber de nada por não ser
familiar, você não deveria ter permitido nem que eu fizesse a droga desse registro!
Até porque é o meu nome que tá aí na linha que pergunta quem é que vai pagar
pela merda desse hospital! Tá me entendendo?
Recepcionista: é uma menina. Apesar de prematura, é muito sadia. Tem quase três
quilos e meio e cinqüenta e um centímetros de comprimento. Vai ficar em
observação até amanhã na incubadora.
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Recepcionista: ela tá no berçário, pode sim… Vou anotar um código pra enfermeira
poder identificá-la pra senhora. — anotou um número num papel e entregou a
Juliana
Juliana: obrigada…
Juliana então saiu em direção ao local indicado nas placas de onde seria o
berçário. Ao mandar aquela carta à casa de Anny, imaginou que pelo menos
reforçariam a segurança dela. Mas nem isso. Ao contrário, Anny ousou sair sozinha
por uma clínica que parecia uma cidade. Só restava torcer pra que algo conseguisse
atrapalhar os planos malignos de Cláudia.
O berçário era enorme. Uma das paredes era toda de vidro, pra fornecer um
contato melhor entre o recém-nascido e sua família. Ao chegar lá, Juliana chamou
uma das enfermeiras e mostrou o papel com o código fornecido pela recepcionista.
Em alguns instantes, lá vinha a enfermeira trazendo uma linda menininha dentro de
uma incubadora móvel. Juliana se apaixonou pela pequena na mesma hora. A
emoção foi marcante em cada segundo. Estava se sentindo culpada pelo que fizera.
Tá certo que não teve escolha, mas essa que foi obrigada a seguir não se
aproximava nem um pouco com o justo para a situação.
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Fernanda: tá, depois me demite, agora temos que caçar nossa mosqueteira… —
tentando se fazer de forte
Marichelo: ela tava com medo de acontecer algo errado e não poder voltar com
Poncho… — encheu os olhos de lágrimas — Disse que me amava… Ela disse que
me amava, Fê!
Marichelo: mas ela nunca tinha me dito do jeito que disse! Será se aquela foi a
nossa despedida? — apavorada
Marichelo: será esse nome que traz alguma marca da vida passada?
Marichelo: Sophie…
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Enrique: é uma questão de honra, Fernanda… Ninguém mexe com minha filha sem
se arrepender depois…
Cláudia: realmente tá tudo indo bem… Anahí na UTI… Até rimou… — riu — Mas
não notou uma movimentação estranha aí não?
Juliana: eu não…
Juliana: e agora?
Cláudia: agora que vamos ter que concluir o plano hoje mesmo…
Cláudia: isso… Todos já estão avisados… Vai lá ver de novo a pirralha e dar
cobertura…
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Marichelo: vai me levar até Anny? — animada, limpou as lágrimas que inundavam
seu rosto
Enrique: vou… — ele estendeu a mão; logo ela pegou e engoliu o comprimido
Marichelo: isso é um elevador, meu amor! Filha de Marichelo deve estar em algum
andar nas alturas… — eles entraram no elevador
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Enrique: é sim…
Enrique: sei sim… Desde aquele nosso primeiro encontro no Japão… — apoiou o
rosto dela em seu ombro pra que ela não visse o desespero que se instalava em seu
olhar
Enrique: (pensando) acho que o calmante já deve tá fazendo efeito… (falando) Vem
aqui comigo, Mari… — levou-a até outra sala mais reservada ao lado
Marichelo: o que é?
Marichelo: fala…
Enrique: Anny chegou até a clínica. Tava passando lá perto da parte de emergência
quando foi… — respirou fundo — atropelada…
Enrique: fizeram uma cirurgia urgente. Sophie nasceu bem… prematura, mas tá
muito bem…
Enrique: Anny tá na UTI… Ela teve uma parada cardíaca logo depois da cesariana
e seu estado é bem delicado. — derramou uma lágrima
Marichelo: quem fez isso com ela, Enrique? Foi aquela magricela da outra sala?
Enrique: você não vai fazer nada, Mari! É quase certo de que a causa de tudo foi
uma falha mecânica… Só falta receber o resultado dos peritos e… — foi
interrompido
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Marichelo: eu não vou fazer nada. Não tenho forças pra nada… Não comi quase
nada o dia todo só de preocupação… Só chorei e gritei o tempo todo… Só quero ver
minha filha, Enrique… Minha filha e minha neta…
Marichelo: quando entramos, ela tratou de fingir que dormia… Vi quando piscou
seis vezes seguidas…
Enrique: também percebi… Acho que ela tá com medo de falar contigo…
Enrique: acho que sim… Ela ficou meio sem jeito quando veio conversar comigo,
mas depois ficou mais à vontade… O nome dela é Juliana.
Marichelo: é brasileira?
Enrique: certo…
Marichelo: depois de ver Anny, vou falar com Fê pra trazer umas roupinhas pra
ela… Esse conjunto rosa tá muito sem graça… De onde será que tiraram mesmo?
Enrique: soube que foi uma enfermeira que deu pra ela…
Marichelo: essa enfermeira tem um mau gosto… Mas fez uma boa ação… Isso é o
que importa… Depois quero que me apresente pra agradecer e retribuir…
Enrique: tá certo… Também tava pensando nisso… Será que ela vai gostar de uma
viagem pro Caribe com a família por dez dias? — Mari não respondeu — Mari?