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Viianny 1

♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Já em casa, Anny estava pensativa deitada em um sofá na varanda de frente


pra piscina. Ver ali as árvores balançando muito pelo vento lhe trouxe recordações
emocionantes junto com Poncho. Ele sempre será o amor de sua vida. As palavras
de Mari só confirmaram tudo que já teimava em não pensar. A brisa suave que se
chocava contra seu corpo a levou a um estado de sono inesperado. Mergulhou nas
profundezas de suas lembranças já imaginando o que viria pela frente.

***

Aqui não, meu amor…

Não tem ninguém aqui! Só nós dois e essa lua linda pedindo pra ser
testemunha do nosso amor…

E se aparecer alguém?

Não vai aparecer! Confia em mim!

Mas e… — foi interrompida

Mas nada! — abriu a blusa dela com um rasgo enorme bem na frente — Só
me beija!

Eles já estavam bastante excitados. Continuavam se beijando como se o dia


de amanhã não fosse mais existir. O barulho de solitários carros que raras vezes
percorriam essa avenida àquela hora da madrugada só aflorava mais as emoções.
Os corpos se moviam um contra o outro com admirável destreza. As roupas eram
um mero detalhe — e único — que separava inevitavelmente suas fortalezas de
paixão. Os sussurros ecoavam pela imensidão do silêncio que ali reinava. A brisa
fria escorregava ao longo das costas dele, contrastando com o calor que irradiava
pelo contato com a pele ardente dela. Sua mão ousada já passeava impaciente por
dentro do blazer dela, lutando contra o botão da calça que teimava em não colaborar
com a situação. Mas finalmente parece que os atos iam evoluir. A calça dela já
estava deslizando calmamente entre as coxas…

Anahí!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Aos poucos ela foi acordando do transe. Ainda aérea, reconheceu a voz da
mãe a tempo de responder seu chamado.

Anahí: oi… — abriu os olhos com dificuldade

Marichelo: há horas tava te chamando pela casa e não respondia…

Anahí: há horas? Duvido…

Marichelo: vamos almoçar… Sophie tá com fome…


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♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Anahí: e eu não tenho fome não?

Marichelo: e eu lá sei! O estômago é teu… — deu de ombros

Anahí: e como sabe de Sophie?

Marichelo: ela me disse.

Anahí: ah sim… — disse revirando os olhos — Mas a mãe dela me disse outra
coisa…

Marichelo: diga pra mãe dela deletar a loucura do Orkut!

Anahí: a mãe dela não conhece essa senhora…

Marichelo: como que não?! Se eu mesma que apresentei?

Anahí: cala a boca e me ajuda a levantar…

Marichelo: olha que não posso levantar peso extra assim de uma vez…

Anahí: e eu por acaso tenho cara de academia?

Marichelo: nem eu de guindaste…

Anahí: tá me chamando de gorda?

Marichelo: gorda não… grávida…

Anahí: sei, sei… — olhando com cara feia pra mãe — Mas vai me ajudar ou não?

Marichelo: tá… — o celular de Marichelo começou a tocar — Vou atender e depois


volto… — saiu em direção à sala, onde estava seu celular

---: bom dia! De onde fala?

Marichelo: da sala, querido! — calma

---: bem, eu não me referia a isso, é que… — foi interrompido

Marichelo: olha, se vocês querem me mandar algum cartão novo ou abrir pra mim
alguma conta bancária pode desistir porque já tenho um monte disso… Bye! —
desligou

---: droga! Ela desligou, Oscar!

Oscar: já fiz a minha parte em conseguir o número dela no celular da Lala… O resto
é contigo, Poncho…
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♥ Sólo dé
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Alfonso: do teu número não posso ligar mais… Tenho que pensar em algo…

Oscar: tem mesmo…

#Do outro lado da linha já desligada…

Marichelo: voltei…

Anahí: quem era?

Marichelo: Poncho…

Anahí: quem?! — assustada

Marichelo: ele deve ter conseguido meu número. Reconheci a voz dele, mas fingi
que não tinha descoberto…

Anahí: e o que ele queria?

Marichelo: adivinha? — irônica — Pedir emprego é que não era…

Anahí: mas o que ele chegou a te falar?

Marichelo: nada, eu cortei logo… Vamos almoçar ou não? — impaciente

Anahí: tá… — com a ajuda da mãe se levantou do sofá

Marichelo: da próxima vez, vê se encomenda um neto menor…

Anahí: engraçadinha…

Marichelo: e é neto viu? Quero um casal…

Anahí: não sonha tá?

Marichelo: por que? Prefere duas meninas?

Anahí: filha grávida chamando mãe lesada! Filha grávida chamando mãe lesada!

Marichelo: alô! Dá pra mandar uma pizza enorme?

Anahí: vou dizer algo que pensei que nunca fosse dizer…

Marichelo: sim, eu aceito…?

Anahí: não! — segurando o riso


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♥ Sólo dé
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Marichelo: e o que é?

Anahí: desisto! — falou pausadamente e rindo

Teresina, apartamento de Dulce, 05/04/09, 20h13

Melanie: quer dizer que ainda não tem data?

Dulce: não… — rindo — Anny já pensou em tudo, mas eu ainda não decidi a data…

Melanie: daqui a pouco já começa a mandar os convites do casamento e não tem o


dia certo.

Dulce: não exagera, tá? E também falta tempo ainda…

Melanie: e detalhe… Uma grávida que nem se levanta sozinha direito é que tá
arrumando tudo… Cria vergonha!

Dulce: vai te catar! Sabe como é Anny… Tem teimosia pra dar de lembrança… Se
eu não aceitasse, ia ter dois casamentos no final…

Melanie: e como ela tá?

Dulce: Mari disse que ela tá insuportável de tão carente… Que tá pra mandar
Poncho ir buscar ela… — riu muito

Melanie: e por que não manda mesmo? Aposto como ele ia amar…

Dulce: sabe que eu nunca mais soube dele… — pensativa

Melanie: Oscar uma vez me disse… — foi interrompida

Dulce: ah! Apareceu a palavra mágica!

Melanie: quê?! — sem entender

Dulce: Oscar…

Melanie: não começa!

Dulce: vocês é que tem que começar de uma vez algo sério! Já cansei de te falar
isso…

Melanie: e eu já cansei de escutar…

Dulce: então desenrola logo essa história… Acha mesmo que eu acredito que
aquele agarramento todo é só curtição?
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♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Melanie: e por que não seria? Já fiquei com vários assim… Até parece que não me
conhece…

Dulce: é exatamente por conhecer é que digo isso. Aí rola sentimento que eu sei! E
nem tente me convencer que os encontros foram todos por acaso que eu não
acredito!

Melanie: mas foram por acaso sim!

Dulce: ah claro! Vai dizer que na inauguração daquela loja foi coincidência?

Melanie: e por que não seria?

Dulce: ah sim… Um homem na inauguração de uma loja de bijuterias… Normal… —


irônica

Melanie: não vejo problema algum…

Dulce: e naquele aniversário infantil?

Melanie: que tem?

Dulce: um solteirão numa festa num Buffet infantil… Muito comum…

Melanie: e eu uma solteirona numa festa num Buffet infantil. Não é tão estranho
assim…

Dulce: a diferença é que você é amiga da mãe do pirralho… Oscar nem convidado
era!

Melanie: um mero detalhe…

Dulce: bora parar de mentir?

Melanie: então cala a boca, cacatua cabeça de fogo!

Dulce: vai se lascar, Catrina coração de pedra!

Melanie: tá me chamando de velha ou de feia?

Dulce: das duas coisas! — rindo

Melanie: é, né? Pois deixa eu cortar essa história pelo pavio! — pegou uma
almofada e atirou no cabelo da ruiva, bagunçando-o totalmente

Dulce: vai ver só! — devolveu o golpe com outro, iniciando uma guerra de
almofadas; depois de algum tempo elas se cansaram e se atiraram uma em cada
sofá — Vai confessar ou não?
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♥ Sólo dé
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Melanie: confessar o que?

Dulce: que os encontros não foram por acaso.

Melanie: tá, nem todos foram… Mas alguns sim…

Dulce: e como vocês combinavam?

Melanie: ele me ligava e falava umas indiretas… Até que eu passei a entrar no jogo
e devolver também com indiretas…

Dulce: como com indiretas?

Melanie: por exemplo, ele me ligava pra dizer que ia a tal lugar… Então eu também
ia a esse lugar…

Dulce: ah sim… Agora só falta confessar que gosta dele.

Melanie: como que não ia gostar? Se ele é tão gente boa!

Dulce: sonsa!

Melanie: chata!

Dulce: bora que eu tô com sono, mas tu não sai daqui enquanto não me falar tudo…

Melanie: se não há nada, como que vou falar tudo?

Dulce: tô esperando…

Melanie: e se Chris aparecer pra transar contigo?

Dulce: ele não passa da porta…

Melanie — respirou fundo: eu não sei se gosto dele… Na verdade, não sei como é
gostar de alguém.

Dulce: antes tudo era só na pista ou no máximo num motel. Agora não entende a
dimensão das coisas. Acertei?

Melanie: mais ou menos.

Dulce: e o que falta?

Melanie: com ele nunca passei de beijos e amassos… Mas a cada vez que a gente
se pega parece que a emoção se renova, como se fosse a primeira vez de novo… e
de novo… e mais uma vez…
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♥ Sólo dé
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Dulce: tu gosta dele, gatinha… Aprende a aceitar isso…

Melanie: não sei se gosto! E se gostar, não sei se é o certo!

Dulce: esse povo de hoje parece que não sabe mais o que sente. Primeiro foi Anny,
depois Poncho, depois Oscar e agora tu… Vai por mim… Tá gostando dele de
verdade! — o celular de Melanie começou a tocar

Melanie: é Lala! — atendeu — Oi, vaca!

Lawyse: mais respeito, dona Melanie!

Melanie: sabe que é brincadeira… A que devo a honra da sua ligação?

Lawyse: tenho uma novidade que vai adorar! — animada

Melanie: novidade?! — contente — Conta!

Lawyse: será que eu devo?

Melanie: maldade ligar só pra dizer que tem fofoca nova na programação…

Lawyse: Oscar me pediu em namoro! — quase gritando de entusiasmada

Na mesma hora, Melanie deixou uma lágrima solitária escorrer tímida de um


olho. Escondeu-a com um movimento natural dos cabelos esvoaçantes. Dulce,
mesmo bastante observadora, não a percebeu. Mas bastou acompanhar a crescente
palidez da amiga pra deduzir a consideração à tal novidade.

Melanie: que bom, Lala! Fico muito feliz por vocês! — engasgou de leve com a
própria saliva pelo nervosismo

Lawyse: pois é… Eu fiquei surpresa com o pedido. Nunca pensei que a gente fosse
passar da amizade. Na verdade, vejo nele um grande irmão, não um namorado, mas
quem sabe dê certo… Tem tudo pra dar!

Melanie: é… Tem tudo pra dar… Agora tenho que desligar…

Lawyse: tá… Tchau!

Melanie: bye… — desligaram

Dulce: que foi?

Melanie: Lala tá namorando…

Dulce: sério?! Isso sim é uma surpresa… Não que ela seja uma encalhada — parou
de falar de repente — Não é o que eu tô pensando, é?
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Melanie: eu não sei o que você tá pensando… — séria

Dulce: canalha! — furiosa — Os dois irmãos são iguaizinhos! Não valem nada!
Safado! — o celular de Melanie tocou de novo

Melanie: é ele…

Dulce: se ele tiver um pingo de bom senso tá ligando pra te dar alguma
explicação…

Melanie: oi… — desanimada, atendeu à ligação

Oscar: tá triste…? Não fica assim! Eu sei como resolver já isso… Vai ter um DJ
maneiro hoje…

Melanie: ah, brigada… — seca — Vou ver se encontro alguém pra ir comigo…

Oscar: já encontrou… — sorrindo

Melanie: olha, quer que eu dê algum recado a Lala é? — impaciente

Oscar: não…

Melanie: então, vou desligar.

Oscar: espera! — ela desligou

Melanie: cara de pau! — irritada

Dulce: eu tô chocada!

Melanie: e no mínimo tá achando que sou uma vagabunda, né? Tá certo que eu e
Lala não somos as irmãs melhores amigas, mas achar que eu aceitaria ser a outra
do namorado dela é demais…

Dulce: carta fora do baralho então?

Melanie: na verdade, ele nunca pertenceu ao baralho…

*DIAS DEPOIS…*

Teresina, promotoria/ sala de Cláudia, 11/05/09, 15h10

Cláudia: te acordei?

Juliana: não.
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Cláudia: e por que demorou a atender?

Juliana: porque eu não encontrava meu celular…

Cláudia: certo. Olha, já tá tudo certo, né?

Juliana: tá sim… Só aguardando suas últimas instruções…

Cláudia: pois bem. Hoje vou te dar as últimas instruções…

Juliana: então já vai ser?

Cláudia: sim… E amanhã…

Juliana: ai, meu Deus! — aflita

Cláudia: guarde esse sentimentalismo pra sua irmã… Tu nem conhece Anahí e
pode apostar que se conhecesse ia fazer isso com maior gosto…

Juliana: vocês são tipo inimigas?

Cláudia: arquinimigas…

Juliana: então, minha cara, eu ia ficar do lado dela…

Cláudia: mas agora você está na minha mira, então deve obediência a mim… E cale
sua boca que eu não posso demorar aqui…

Juliana: fala aí…

Cláudia: houve uma pequena mudança de planos… Com as informações que me


passou ontem, não vamos usar mais a Diane Summerset. Achei uma melhor… O
nome dela é Alison Hart. Esquizofrênica. Deu entrada ontem mesmo no hospital. Por
isso que temos que agir logo…

Juliana: temos? Até onde sei eu é que vou fazer quase tudo e tu não vai fazer
nada…

Cláudia: entenda uma coisa, colombina… Se eu disser que o céu é violeta você só
diz “sim, senhora”… Estamos entendidas?

Juliana: sim, senhora… — irônica

Cláudia: esses chantageados de hoje em dia são muito esquisitos… A gente tem
que ameaçar pra eles receberem dinheiro em troca de uns favorezinhos…

Juliana: pra você ver…

Cláudia: tu tem sorte de eu ser muito paciente e ter um sincero carinho por ti…
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Juliana: agora quer que eu agradeça tua amabilidade? Era só o que faltava! —
incrédula

Cláudia: e por que não? Tô sendo tão boazinha contigo!

Juliana: vai pro inferno!

Cláudia: olha aí! Se fosse outra pessoa, tua cabeça tinha explodido agora…

Juliana: e por que não faz isso?

Cláudia: porque você não tem vocação pra assassinada em missão… Se bem que
tá fazendo um ótimo papel de camicase…

Juliana: tenho que desligar…

Cláudia: você só desliga quando eu mandar…

Juliana: o que quer falar ainda?

Cláudia: sabia que tua missão tá acabando?

Juliana: graças a Deus… Não ia agüentar mais muito tempo te aturando…

Cláudia: não fala assim… Eu vou sentir saudades…

Juliana: não mente…

Cláudia: sério! É tão bom ter um robozinho… Você manda e ele obedece… Teus
circuitos precisavam de uns ajustes ainda, mas pouca coisa…

Juliana: não sou um robozinho…

Cláudia: ah é sim… — começou a rir

Juliana: posso desligar agora?

Cláudia: não, eu é que desligo… Até breve! — desligou na cara de Juliana

Juliana: Céus! Essa mulher é louca! E pior é que não tenho como não fazer o que
ela tá mandando… É a minha vida e a da minha irmã em jogo… Sem falar que ela
não vai parar por aqui… Ela ainda vai infernizar muito a vida dessa tal de Anahí…
Será que eu consigo evitar?

Houston, casa dos Puente, 12/05/09, 08h21


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Anny toda manhã gostava de se refrescar com a brisa suave no jardim de sua
casa na companhia de um bom livro. Para uma grávida típica, poderia ser algum
romance regado a inúmeras lágrimas e um belo final feliz. No entanto, se tratando
de Anahí Giovanna, não era de se estranhar que fosse um romance policial cheio de
assassinos misteriosos e crimes polêmicos. Ela adorava esse mundo perigoso e
sombrio, principalmente pelo fato de tentar levar a luz até ele. Trabalhar com Janete
lhe trouxe grande satisfação. Sua ex-secretária — uma agente do FBI disfarçada —
fora chamada de volta ao país natal com a proximidade da finalização da missão.
Talvez se não tivesse ido, estaria na lista de vítimas da invasão.

Quando se via pensando sobre esse cruel episódio, Anny sempre se


perguntava sobre o dia em que poderia retornar ao seu cargo. Uma hora teria que
sair do castelo blindado em que estava agora e assumir seu posto de dama de ferro
novamente. A situação só ajudava a condição de gestação, mas depois do
nascimento de sua filha teria que mergulhar mais uma vez no obscuro de seus
casos… E nessa hora também teria que incorporar um escudo em torno de sua
pequena Sophie…

Perdida em suposições, se assustou quando Fernanda se aproximou


trazendo alguns envelopes consigo.

Fernanda: te assustei? Desculpa…

Anahí: tem nada não… — calma

Fernanda: chegou um envelope pra ti…

Anahí: envelope?! De quem?

Fernanda: tá em nome de J. Só isso…

Anahí: estranho… Deixa eu abrir então…

Fernanda: pega… — entregou a carta

Anahí — lendo em voz alta: cuidado! Alguém quer te fazer muito mal…

Fernanda: tá dizendo isso aí?

Anahí: tá…

Fernanda: será que é sério?

Anahí: sei lá! Até onde sei ninguém me conhece aqui… E nem eu dou bobeira por
aí…

Fernanda: será algum tipo de trote então?


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Anahí: se for, é de uma pessoa que não me conhece… Porque quem me conhece
sabe que não tenho medo dessas coisas…

Fernanda: isso é verdade…

Anahí: onde está minha mãe?

Fernanda: numa sessão de massagem.

Anahí: outra? Mas ela não teve uma ontem?!

Fernanda: teve sim… Mas disse que a chegada de Sophie tá deixando ela muito
ansiosa…

Anahí: ela disse isso? — com cara de poucos amigos

Fernanda: foi.

Anahí: eu sou a grávida e ela que fica ansiosa…

Fernanda: Mary disse que vai ser mais uma pessoa pra admirá-la, então tem que tá
muito bem… — segurando o riso

Anahí: Nanda, me dê sua opinião sobre uma dúvida cruel que tenho…

Fernanda: pode falar…

Anahí: como eu seria se tivesse morando com minha mãe até hoje?

Fernanda: sinceridade?

Anahí: por favor!

Fernanda: nesse momento estaria retocando as luzes de um dos Poodles…

Anahí: e minha carreira profissional…?

Fernanda: não teria porque teu pai já trabalha pra bancar o luxo até das pulgas dos
Poodles das cinqüenta gerações futuras de descendentes…

Anahí: é, eu fiz a coisa certa ao viajar sozinha pra Nova York… — pensativa

Fernanda: e como foi parar no Brasil?

Anahí: castigo… Era um colégio interno na Inglaterra ou ir pro Brasil com tia Blanca.
Tinha nem o que pensar…

Fernanda: foi muito difícil?


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Anahí: na verdade não… Dulce me ajudou muito. Tia Blanca era como uma mãe…
Uma mãe normal… — começou a rir — Ou melhor, mais ou menos normal… Fora
que mammy me enchia de grana praticamente todo dia… Acho que o castigo aos
olhos dela era não poder desfrutar de sua enorme beleza e magnitude… — deu uma
gargalhada

Fernanda — rindo: duvido não… Mas é… — foi interrompida pelo celular de Anny
que começou a tocar

Anahí: deixa eu atender e depois continuamos… — atendeu sem ver quem era —
Oi!

Alfonso: Anny? — surpreso

Ao ouvir a voz de Poncho, ela ficou paralisada. Nem passou por sua cabeça,
talvez pela distração da conversa com Fernanda, que ele pudesse ligar a essa hora.
Não sabia nem o que fazer. E nem conseguia também… Pensava ora em desligar o
celular, ora em encarar tudo e falar de uma vez por todas… No entanto, seu corpo
parecia estar enestesiado. A mente trabalha a mil por hora enquanto o resto
minguava a cada instante.

Alfonso: é você mesmo? — ela não conseguia responder — Deve ser… Pra não
falar comigo… — triste

Anny abriu a boca na intenção de falar, mas as palavras fugiam por sua
garganta cruzando com o sabor salgado de lágrimas independentes e indiscretas.
Fernanda já entendia a situação, tentava inclusive aconselhá-la sobre como agir, só
que os sentidos dela estavam voltados única e exclusivamente pra ligação. Até
Poncho sentia o pranto que se instalava do outro lado da linha.

Alfonso: não chora, minha princesa! Dói muito saber que você está sofrendo por
minha causa… — emocionado — Pra mim tá sendo maravilhoso saber que você
está aí… tô te sentindo bem mais perto de mim… Mas se quiser eu desligo. — os
dois ficaram calados por algum tempo — É isso o que você quer? — ela não
respondeu tamanho era o choro — Tudo bem, eu vou desligar…

Com gigantesco esforço, dominando todas as dores e as fraquezas, ela


conseguiu reagir…

Anahí: não… — falou de forma arrastada e angustiada

Alfonso: não quer que eu desligue? É isso?

Anahí: é… — tímida, tentando controlar as lágrimas

Alfonso: tô no meu escritório. Tava analisando uns documentos que trouxe de casa
e encontrei uma pétala das tuas rosas… Resolvi te ligar… Ontem quando fui dormir
é que me dei conta que já faz cinco meses que não te vejo ou te escutava… Quando
te beijei pela primeira vez, mesmo sem saber quem era realmente, senti que era
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uma pessoa que marcaria muito a minha vida… Quando te beijei sabendo quem era,
vi que isso não era verdade… Você não marcaria minha vida porque você é a minha
vida! E vai continuar sendo… Tem situações na vida em que a gente sofre muito,
mas no fundo sabe que vai passar… Essa é uma delas… Nós estamos sofrendo
bastante, mas um dia vamos estar juntos novamente… Eu tenho certeza! Eu preciso
ter certeza! É isso o que me levanta a cada manhã… Se lembra daquela noite em
Malibu? Daquela música no hotel que a gente dançava? Uns dias atrás comecei a
ouvi-la repetidas vezes… Oscar faltou me matar dizendo que não agüentava mais a
mesma música… — ela esboçou um sorriso calmo e silencioso — Até que um dia
resolvi procurar outras deles dois, da Jessica Simpson e do Nick Lachey. Achei uma
que tem tudo a ver com o que acabei de te dizer… Sei que adora quando eu canto,
apesar de péssima afinação… — agora ele é que riu, mas de forma casual e
descontraída — I wanna love you forever! And this is all I'm asking of you: ten
thousand lifetimes together is that so much for you to do? 'Cause from the moment
that I saw your face and felt the fire in your sweet embrace I swear I knew… I'm
gonna to love you forever. (Eu quero te amar pra sempre! E isso é tudo que irei te
perguntar: dez mil vidas juntos é muito para você? Porque no momento que
contemplei o seu rosto e senti o calor de seu doce abraço eu juro que entendi… que
irei amá-lo para todo o sempre.) [I wanna love you forever – Jessica Simpson]
Espero que tenha gostado. Se pudesse passava o dia todo aqui contigo, mas não
posso… E agora tenho que desligar… Não se esqueça que te amo acima de tudo!
Não demora muito a voltar, por favor… A gente já perdeu muito tempo separados.
Te amo! — desligou

Anny foi voltando a si aos poucos. Permaneceu quieta e calada por algum
tempo, somente sentindo a força transmitida de Fernanda. Mari, que se aproximava,
notou de longe o ar de melancolia que pairava.

Marichelo: aconteceu alguma coisa?

Fernanda: Poncho ligou pra Anny de novo…

Marichelo: não fica assim, bonequinha da mamãe! — sentou ao lado da filha e a


abraçou forte — Tem que se cuidar pela minha outra bonequinha… Sei que ainda
deve sofrer muito pelo que ele te fez, mas bola pra frente! Tem que pensar em
recomeçar agora que vai ser mãe…

Anahí: mas não tô chorando pelo que ele me fez…

Marichelo: e por que é então?

Anahí: finalmente descobri a verdadeira causa de toda a minha tristeza quando ele
me liga…

Fernanda: e qual é? — curiosa

Anahí: saudade… — derramou uma lágrima solitária — Quando eu ouvi a voz dele
agora, me dei conta de que por mais que eu fique longe, que eu tente tirá-lo dos
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meus pensamentos, ele sempre vai estar comigo… E agora ele está da forma que
mais machuca… que é com a saudade…

Fernanda: que lindo! — emocionada

Marichelo: calma aí que aqui não tem cebola! Anny, olha pra mim… — mãe e filha
se encararam — Sem rodeios… Essa ligação te deixou mais mexida do que as
outras. Tô com uma impressão na cabeça e por isso quero que me responda
sinceramente. O que quer fazer?

Fernanda: como? — sem entender

Marichelo: deixa ela responder, Fê!

Anahí: eu… — respirou fundo — Eu quero voltar… Quero voltar pro Poncho…

Marichelo: tá certa disso?

Anahí: tô…

Marichelo: então vamos arrumar as malas e pegar um vôo pro Brasil…

Fernanda: como assim? Tá louca, Mari?

Marichelo: pelo contrário, Fê… Há meses eu sei que Anny precisa é ficar com
Poncho, mas ela tinha que descobrir por si só.

Fernanda: só que é arriscado uma grávida de oito meses pegar um vôo assim…

Marichelo: Anny tem uma consulta marcada para daqui a pouco. Ela vai, conversa
com a médica e se for preciso contratamos uma equipe pra nos acompanhar…

Anahí: brigada, mammy!

Marichelo: de nada, meu anjo! Vai se arrumar que eu tenho muitas coisas pra
resolver… E a primeira delas é desdobrar teu pai… — riu — Fê, você vai me ajudar
a fazer as malas… Então, mosqueteiras, mãos à obra!

#2h depois…

Marichelo: Anny, o motorista vai te levar e depois resolver algumas coisas para mim
da viagem. Quando a consulta terminar é só ligar que ele vai te buscar…

Anahí: tá certo. Então… bye… — desanimada

Marichelo: que cara é essa? — abraçou a filha

Anahí: sei lá! E se não der certo? E se eu encontrar Poncho com outra? E se a
médica não me deixar viajar? E se… — foi interrompida
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Marichelo: não precisa ficar assim… Você falou com Poncho. Ele te ama… E se a
doutora não deixar, eu dou um jeito… Nem que eu traga meu genro aqui, mas
quando acordar amanhã vai ver o teu amor… — disse sorrindo

Anahí: é, tá certa… Nada de preocupações… Tenho que ir pra não me atrasar…

Marichelo: isso. Se cuida, minha flor! Me abraça forte?

Anahí: assim tá bom? — apertou forte o corpo contra o da mãe

Marichelo: assim minha neta nasce daqui a pouco… — as duas riram — Vai lá!

Anahí: te amo… — se afastaram

Marichelo: amo vocês duas também… — olhou pra barriga da filha — Coisinha
linda da vovó! Cuida da tua mãe, Sophie…

Anahí: tá mandando um bebê cuidar de mim?

Marichelo: claro! Ela vai ser que nem eu… Linda, elegante, inteligente, irresistível e
responsável!

Anahí: responsável você? — boquiaberta

Marichelo: lógico! Tem outro eu aqui?

Anahí: só espero que não tenha sido uma indireta para dizer que eu seja feia, brega,
burra, resistível e irresponsável…

Marichelo: claro que não, Anny! Como que eu, Marichelo Portillo, teria uma filha
assim? Impossível, minha cara!

Anahí: falei demais, confesso! Vou indo… — saiu pra frente da casa, onde estava o
carro, e entrou nele

Cerca de meia hora depois, Anny chegou à clínica pra sua consulta. O
motorista a deixou na entrada do estacionamento, já que o congestionamento na
avenida principal estava sufocante. Calmamente ela foi caminhando até a entrada
da área de obstetrícia. Havia muitos carros por lá. Tudo parecia muito agitado. Sua
atenção foi focada numa ambulância que acabava de trazer uma vítima
provavelmente de algum acidente. A parte de urgências era ali próximo. Anny estava
explicitamente horrorizada. Aquele sangue todo… A tensão que se instalara…
Talvez agora com a gravidez tenha desenvolvido mais seu lado emocional. Antes
veria aquela cena como uma fatalidade que precisava ser investigada. Agora
enxergava uma vida que se apagava a cada segundo.

Parou numa calçada para analisar melhor o rosto de todos os envolvidos. Uns
para-médicos balançavam a cabeça negativamente enquanto o acidentado ia sendo
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transportado pro interior da clínica. Sentiu-se até culpada por se preocupar com
pequenas coisas enquanto pessoas estavam por um fio. Ficou um pouco a refletir
sobre isso ainda parada no mesmo lugar com a cabeça baixa. Ouviu alguns gritos
meio ao longe, mas não ligou. O ambiente por si só explicava. Foi quando levantou o
olhar para seguir em frente que viu aquela luz enorme vindo em sua direção. Em
uma fração de segundos conseguiu desviar do carro desgovernado que vinha, mas
se desequilibrou e saiu rolando pela calçada.

Médicos e enfermeiros da urgência correram de encontro ao corpo de Anny,


enquanto uma mulher apavorada saía tremendo do carro que acabara por bater
numa árvore e agora estava parado.

Mulher: ai, meu Deus! — desesperada — Ela tá morta?

Médico — falando rápido: os sinais vitais estão fracos. Ela precisa ser atendida
urgente! Uma maca! Tragam uma maca! — gritou

Quase que imediatamente Anny foi levada pra emergência. Partiu direto pra
uma sala de exames pra verificar a situação do bebê e a dela mesma. O médico que
a atendia detectou uma hemorragia interna. Ela precisava ser operada
urgentemente, não só pra conter o sangramento, mas também pra fazer uma
cesariana e salvar a vida da criança.

#Na recepção…

Mulher — agitada: ai, meu Deus! Ela não pode morrer! Ela não pode morrer! Ela
não pode morrer! — foi interrompida

Enfermeira: com licença… Mas aquele policial precisa conversar com a senhora…

Mulher — nervosa: polícia? Os tiras? Eu vou ser presa? Ai, meu Deus, eu vou ser
presa! Eu vou ser presa! Eu vou ser presa!

Enfermeira: a senhora quer algum calmante?

Policial: é uma boa idéia, já que vamos levar um papo sério daqui pra frente…

Mulher — assustada: não precisa…

Enfermeira: ok! — se afastou

Policial: muito bem. Documentos, por favor. — ela entregou — Juliana Abreu Lages.
Brasileira. 23 anos. Veio como turista? — devolveu os documentos

Juliana: sim…

Policial: há quanto tempo?

Juliana: há mais de um mês…


Viianny 18

♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Policial: trabalha? Estuda?

Juliana: acabei de me formar. A viagem foi um presente da minha irmã.

Policial: tem uma vida boa sua irmã?

Juliana — séria: quer saber do acidente ou da vida da minha irmã?

Policial: pelo jeito, preza muito sua irmã… Por acaso tá fazendo isso a mando dela
ou por ela?

Juliana: tá vendo muito CSI.

Policial: falando nisso, não gostei da saída do William Petersen.

Juliana: dá pra direcionar a conversa ao que interessa? — impaciente

Policial: ok… Por que atropelou aquela grávida?

Juliana: não sei o que aconteceu! O freio não funcionava e a direção tava travada!
— angustiada

Policial: isso vai ser verificado na perícia. Deve ser comum em carros mal
fabricados. Trouxe do Brasil? — disse se achando

Juliana: na verdade, comprei aqui… — segurando o riso

Policial: você ingeriu algum tipo de bebida alcoólica?

Juliana: na verdade, não comi nada ainda hoje… Vim pra fazer uns exames e
agradeceria muito se me deixasse comer algo no refeitório. — quase implorando

Policial: de acordo. Ao que me parece não foi um crime doloso. Depois voltamos a
conversar. Ah, só mais uma pergunta. Me disseram que a senhora pegou a bolsa da
vítima.

Juliana: ah sim… Está aqui… — entregou a ele

Policial: obrigado. Tenho que localizar a família. Enquanto isso, a senhora é a


responsável pela paciente.

Juliana: claro. Pode contar comigo. Se for preciso até preencho alguma ficha em
meu nome pra ela. Posso pagar também… O que vocês quiserem! — preocupada

Policial: voltamos a conversar depois… — saiu


Viianny 19

♥ Sólo dé
déjate amar ♥
Juliana se encaminhou nervosa em direção ao refeitório. Tomou um farto
café-da-manhã, realmente estava com muita fome, e depois de pagar entrou no
toalete feminino individual. Ligou na mesma hora pra Cláudia.

Cláudia: por que não ligou antes? — nervosa

Juliana: calma! Tava morrendo de fome! Era isso ou desmaiar por aí…

Cláudia: já tá num hospital mesmo! E pelo menos eu ia saber de tudo já!

Juliana: mas tu é egoísta, hein?

Cláudia: cala a boca e me conta tudo…

Juliana: ocorreu conforme o planejado.

Cláudia: tá tudo bem então?

Juliana: bem não tá. Ela tá em cirurgia agora!

Cláudia: ah, mas isso é maravilhoso! — comemorando — Me conta mais!


Lembraram de pegar os documentos dela?

Juliana: um figurante pegou.

Cláudia: qual? O taxista?

Juliana: não, foi a que ia se consultar.

Cláudia: droga! Imaginei a cena com ele pegando… Ninguém viu não, né?

Juliana: não… Só viram que eu peguei a bolsa dela. E também já dei pro guarda
que veio me interrogar.

Cláudia: enrolou bem?

Juliana: acho que sim… Bem que tu podia ter pagado um também, né? Morri de
medo dele no começo. Mas depois vi que era maior lesado…

Cláudia: minha aprendiz de vingativa, ouça bem o que sua mestra vai lhe falar.
Quanto mais gente envolvida, mais furos podem ocorrer… Fora que policiais são
espertos quando se trata de dinheiro.

Juliana: ah, brigada! — irônica

Cláudia: agora, vai lá, faz a ficha da doentinha e não tira o pé daí pra nada! Amanhã
completamos a missão.

Juliana: tá… — desligou


Viianny 20

♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Cláudia: desligou na minha cara?! Isso é demais pra mim! — ofendida — Espera só!
— ligou de novo pra Juliana

Juliana: que é agora? — Cláudia desligou na cara dela — Idiota… — rindo

#Horas depois…

Juliana — se aproximou da recepção: com licença, mas eu gostaria de saber como


está uma paciente que eu registrei algum tempo atrás…

Recepcionista: como é o nome dela?

Juliana: eu não registrei um nome, porque não tenho nenhum documento de


identificação dela…

Recepcionista: é parente?

Juliana: não.

Recepcionista: então não posso lhe passar nenhuma informação. Com sua licença,
mas preciso sair um instante. — ia saindo, mas Juliana foi rápida e a agarrou pela
gola do terno bem polido

Juliana — nervosa: escuta aqui! Se eu não posso saber de nada por não ser
familiar, você não deveria ter permitido nem que eu fizesse a droga desse registro!
Até porque é o meu nome que tá aí na linha que pergunta quem é que vai pagar
pela merda desse hospital! Tá me entendendo?

Recepcionista — apavorada: sim… — Juliana a soltou — Nome completo…

Juliana: Juliana Abreu Lages.

Recepcionista: ok. Já encontrei. A paciente ainda está na sala de cirurgia. A


cesariana foi bem sucedida apesar de algumas complicações e agora estão
cuidando da hemorragia.

Juliana: o filho dela tá bem?

Recepcionista: é uma menina. Apesar de prematura, é muito sadia. Tem quase três
quilos e meio e cinqüenta e um centímetros de comprimento. Vai ficar em
observação até amanhã na incubadora.

Juliana: e a mãe? Vai conseguir se recuperar?

Recepcionista: isso só conversando com os médicos depois da cirurgia.

Juliana: eu posso ver a menina?


Viianny 21

♥ Sólo dé
déjate amar ♥
Recepcionista: ela tá no berçário, pode sim… Vou anotar um código pra enfermeira
poder identificá-la pra senhora. — anotou um número num papel e entregou a
Juliana

Juliana: obrigada…

Juliana então saiu em direção ao local indicado nas placas de onde seria o
berçário. Ao mandar aquela carta à casa de Anny, imaginou que pelo menos
reforçariam a segurança dela. Mas nem isso. Ao contrário, Anny ousou sair sozinha
por uma clínica que parecia uma cidade. Só restava torcer pra que algo conseguisse
atrapalhar os planos malignos de Cláudia.

O prédio da obstetrícia era vizinho ao de emergências. Isso sem considerar


que todos os prédios eram interligados no subterrâneo. Chegando ao pavimento
desejado, só faltava seguir umas últimas indicações para Juliana chegar aonde
queria. De longe já ouvia os choros constantes de inúmeros bebês desesperados.
Achava aquilo insuportável, mas não conseguia resistir quando via o rostinho
inocente e doce de cada um deles.

O berçário era enorme. Uma das paredes era toda de vidro, pra fornecer um
contato melhor entre o recém-nascido e sua família. Ao chegar lá, Juliana chamou
uma das enfermeiras e mostrou o papel com o código fornecido pela recepcionista.
Em alguns instantes, lá vinha a enfermeira trazendo uma linda menininha dentro de
uma incubadora móvel. Juliana se apaixonou pela pequena na mesma hora. A
emoção foi marcante em cada segundo. Estava se sentindo culpada pelo que fizera.
Tá certo que não teve escolha, mas essa que foi obrigada a seguir não se
aproximava nem um pouco com o justo para a situação.

Seus remorsos foram interrompidos pela agitação da linda bebezinha. Apesar


de ter nascido antes da hora e há pouco tempo, já estava com os olhos meio
abertos. Eram azuis celestes. Iguais aos de Anny. A pele era extremamente alva.
Nisso não parecia com nenhum dos pais e nem com os avós maternos. Talvez fosse
alguma semelhança com o pai ou a mãe de Poncho. Estes Juliana não conhecia
para poder afirmar. E já tinha cabelos! Eram castanhos, nem claros nem escuros.
Um tom um pouco diferente. Além disso, tinha um jeitinho tão doce! Parecia uma
princesinha…

Houston, casa dos Puente, 12/05/09, 14h42

Marichelo: como você quer que eu fique calma, Fernanda? Me diz! —


extremamente alterada — A minha filha gravidíssima sumiu assim do nada! Cadê
minha bonequinha, Fê? — começou a chorar mais uma vez

Fernanda — abraçando a amiga: eu sei que tá certa em se desesperar assim… Eu


também tô bastante angustiada… Mas temos que tentar nos concentrar em
encontrar ela, Mari! Eu é que pergunto agora cadê a minha bonequinha usada cheia
de garra e valente…
Viianny 22

♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Marichelo: me lembra depois que tá me chamando de bonequinha usada pra eu te


demitir…

Fernanda: tá, depois me demite, agora temos que caçar nossa mosqueteira… —
tentando se fazer de forte

Marichelo: ela tava com medo de acontecer algo errado e não poder voltar com
Poncho… — encheu os olhos de lágrimas — Disse que me amava… Ela disse que
me amava, Fê!

Fernanda: mas isso você já sabia…

Marichelo: mas ela nunca tinha me dito do jeito que disse! Será se aquela foi a
nossa despedida? — apavorada

Fernanda: claro que não!

Marichelo: será esse nome que traz alguma marca da vida passada?

Fernanda: que nome?

Marichelo: Sophie…

Fernanda: nada a ver, Mari… — pensativa

Marichelo: será que Sophie quer levar a irmã e a sobrinha?

Fernanda: para de falar besteira, Mari! — se engasgando com um início de choro

Marichelo: não é besteira… — Enrique entrou na sala em que elas estavam

Enrique: já providenciei tudo… — abatido — Eu vou trazer nossa filha de volta,


Mari… Anny e Sophie serão encontradas ainda hoje! Isso eu te garanto!

Fernanda: o que vai fazer?

Enrique: o que já fiz, no caso, foi contratar todas as empresas de investigação


particular dos Estados Unidos…

Marichelo: e eles vão encontrar nossas pequenas? — caminhou rumo ao marido,


lhe estendendo os braços pra um abraço forte

Enrique: vão… E quando encontrarem vou me livrar de um por um dos


responsáveis… — sério

Fernanda: cruzes! — assustada


Viianny 23

♥ Sólo dé
déjate amar ♥
Enrique: é uma questão de honra, Fernanda… Ninguém mexe com minha filha sem
se arrepender depois…

Houston, St. Joseph Medical Center, 12/05/09, 17h41

Juliana: alô! — assustada

Cláudia: que foi?

Juliana: nada… Tava dormindo…

Cláudia: dormindo? Tá aonde, sua idiota?

Juliana: no hospital… E não se preocupe que tá tudo indo bem…

Cláudia: realmente tá tudo indo bem… Anahí na UTI… Até rimou… — riu — Mas
não notou uma movimentação estranha aí não?

Juliana: eu não…

Cláudia: claro que não, né? Tava dormindo! — brava

Juliana: aconteceu alguma coisa?

Cláudia: aconteceu que o hospital tá cheio de policiais e detetives… A qualquer


hora vão conseguir cópias das câmeras de segurança e descobrir o que ocorreu
mais cedo! — quase gritando

Juliana: e agora?

Cláudia: agora que vamos ter que concluir o plano hoje mesmo…

Juliana: hoje quer dizer agora? — preocupada

Cláudia: isso… Todos já estão avisados… Vai lá ver de novo a pirralha e dar
cobertura…

Juliana: tô indo… Posso desligar?

Cláudia: nossa! Tá aprendendo mesmo! Só que você não desliga, eu e somente eu


é que posso desligar…

Juliana: desliga aí então…

Cláudia: bye… — desligou

Juliana: que coisa insuportável! — suspirou — Que bom que tá acabando…


Viianny 24

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déjate amar ♥

Juliana novamente foi ao prédio de obstetrícia. Chegou ao berçário. O


movimento do lado de fora estava grande. Todos atores contratados por Cláudia.
Sem coragem, encostou-se à parede de vidro mostrando o código da filha de Anny
escrito num papel para uma enfermeira. A de jaleco branco com detalhes vermelhos.
Ao lado de Juliana estava uma senhora vendo sua suposta netinha. A enfermeira
trouxe nos braços a pequena menina ao encontro da comparsa de Cláudia. Quando
seu corpo se posicionou de costas totalmente para o campo de filmagem da câmera
de segurança, calmamente tirou a pulseira de identificação da bebezinha de Anny.
Após alguns minutos, depois de devolver a criança ao seu berço, se dirigiu a uma
incubadora. Trocou as pulseiras. Voltou e colocou outra pulseirinha na filha de Anny,
que agora era filha de Alison Hart.

Houston, St. Joseph Medical Center, 12/05/09, 20h18

Marichelo — entrando desesperada numa das recepções térreas: onde tá minha


filha? Onde ela tá, Enrique? — chorando

Enrique — se aproximando da esposa: calma, Mari! Toma esse comprimido aqui…

Marichelo: o que tá acontecendo, Enrique? Não quero droga de remédio nenhum!


Eu quero a minha filha!

Enrique: toma que eu te digo… E até te levo até ela…

Marichelo: vai me levar até Anny? — animada, limpou as lágrimas que inundavam
seu rosto

Enrique: vou… — ele estendeu a mão; logo ela pegou e engoliu o comprimido

Marichelo: vamos… — apressada — Quero ver minha filha.

Enrique: antes preciso te contar o que aconteceu… — sério

Marichelo: no caminho me conta… — saiu puxando ele em direção a um elevador

Enrique: pra onde tá me levando?

Marichelo: pra onde deve tá Anny…

Enrique: e como sabe que é por aí?

Marichelo: isso é um elevador, meu amor! Filha de Marichelo deve estar em algum
andar nas alturas… — eles entraram no elevador

Enrique — abraçou-a bem forte: sabia que você é quem me dá forças?

Marichelo: ah é, meu Sansão?


Viianny 25

♥ Sólo dé
déjate amar ♥

Enrique: é sim…

Marichelo: e você sabia que eu te amo?

Enrique: sei sim… Desde aquele nosso primeiro encontro no Japão… — apoiou o
rosto dela em seu ombro pra que ela não visse o desespero que se instalava em seu
olhar

Chegando ao pavimento certo, eles saíram de mãos dadas do elevador.


Juliana estava lá sentada na sala de espera. Quando viu a mãe de Anny, tratou logo
de fingir que dormia na cadeira apoiada na parede. Já falara com Enrique, que foi
bem civilizado. Mas sabia da fama de Marichelo através de Cláudia. Com ela seria
difícil lidar.

Enrique: (pensando) acho que o calmante já deve tá fazendo efeito… (falando) Vem
aqui comigo, Mari… — levou-a até outra sala mais reservada ao lado

Marichelo: o que é?

Enrique: senta aqui comigo… — a puxou pra sentar num sofá

Marichelo: fala…

Enrique: tenho que te contar o que tá acontecendo com Anny… E acredite… Tá


sendo muito difícil ter que te contar sem me descontrolar…

Marichelo: fala, meu amor… — segurou forte a mão dele

Enrique: Anny chegou até a clínica. Tava passando lá perto da parte de emergência
quando foi… — respirou fundo — atropelada…

Marichelo — séria: e o que aconteceu?

Enrique: fizeram uma cirurgia urgente. Sophie nasceu bem… prematura, mas tá
muito bem…

Marichelo: e Anny? — receosa

Enrique: Anny tá na UTI… Ela teve uma parada cardíaca logo depois da cesariana
e seu estado é bem delicado. — derramou uma lágrima

Marichelo: quem fez isso com ela, Enrique? Foi aquela magricela da outra sala?

Enrique: você não vai fazer nada, Mari! É quase certo de que a causa de tudo foi
uma falha mecânica… Só falta receber o resultado dos peritos e… — foi
interrompido
Viianny 26

♥ Sólo dé
déjate amar ♥
Marichelo: eu não vou fazer nada. Não tenho forças pra nada… Não comi quase
nada o dia todo só de preocupação… Só chorei e gritei o tempo todo… Só quero ver
minha filha, Enrique… Minha filha e minha neta…

Enrique: vou te levar até elas…

Marichelo: antes me responde. É aquela mulher ou não?

Enrique: é sim… Como adivinhou?

Marichelo: quando entramos, ela tratou de fingir que dormia… Vi quando piscou
seis vezes seguidas…

Enrique: também percebi… Acho que ela tá com medo de falar contigo…

Marichelo: por eu ser a mãe de Anny?

Enrique: acho que sim… Ela ficou meio sem jeito quando veio conversar comigo,
mas depois ficou mais à vontade… O nome dela é Juliana.

Marichelo: Juliana. Juliana de que?

Enrique: Juliana Abreu Lages.

Marichelo: é brasileira?

Enrique: é, como sabe?

Marichelo: pela forma como pronunciou o nome e os sobrenomes… — se levantou


— Primeiro quero ver Sophie…

Enrique: certo…

Eles saíram da sala e se encaminharam a um corredor reservado.


Rapidamente chegaram ao andar do berçário já no outro prédio (era mais uma
passagem secreta de emergência). Viram então a pequena Sophie. Tão pequena e
frágil aos olhos de Marichelo, apesar de Enrique afirmar que segundo o médico ela
estava bem.

Marichelo: depois de ver Anny, vou falar com Fê pra trazer umas roupinhas pra
ela… Esse conjunto rosa tá muito sem graça… De onde será que tiraram mesmo?

Enrique: soube que foi uma enfermeira que deu pra ela…

Marichelo: essa enfermeira tem um mau gosto… Mas fez uma boa ação… Isso é o
que importa… Depois quero que me apresente pra agradecer e retribuir…

Enrique: tá certo… Também tava pensando nisso… Será que ela vai gostar de uma
viagem pro Caribe com a família por dez dias? — Mari não respondeu — Mari?

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