Você está na página 1de 2

Em Paris contacta com os seus contemporâneos, Picasso, Duchamp,

Braque. Está atenta aos novos movimentos, mas não se insere em


nenhum. Em 1928 visita a Itália. Observa as obras dos grandes
mestres italianos. Estuda a perspectiva, as formas. De tudo tira lições
para melhor encontrar o seu próprio caminho. Quer que os seus
quadros transmitam tudo o que a faz admirar - a forma, o som, o
cheiro. Um dia ela própria o dirá: "Procuro pintar algo dos espaços,
dos ritmos, dos movimentos das coisas".
Vai para Paris e em Paris está também Arpard Szenes, pintor
húngaro. Conhecem-se. Não mais se hão-de separar. O trabalho de
Vieira da Silva surpreende-o: "Quadros a tal ponto poéticos, simples,
adultos, que fiquei profundamente impressionado".
Arpard incentiva-a na sua pintura, na procura do seu caminho. Em
1930 casam e no mesmo ano visitam a Hungria e a Transilvânia. Da
viagem, Maria Helena recolhe a imensidão do espaço, a paisagem que
observa. É a contínua busca de uma forma de ver. Quando voltam a
Paris participam com outros nas reuniões dos "Amis du Monde". Aí
discutem ideias, correntes, caminhos, divagações. E a pintura de
Vieira da Silva vai-se tornando um pouco mais abstracta. Mais do que
se vê, importa como é que se vê. O casal não pára de trabalhar.
Participam nalgumas exposições.
Entretanto, por encomenda, faz cópias de Braque e de Matisse, para
projecto.
Pinta também por encomenda do Estado um quadro com destino à
Exposição do Mundo Português.
Vai para o Brasil. Imagina o que não vê, pelas notícias da guerra,
lembra-se das outras guerras e das leituras do Apocalipse. Quando
lhe são contadas as experiências vividas, Vieira da Silva decide pintar
"O Desastre". Para atenuar, vem a encomenda de um painel de
azulejos para Escola Agrícola do Distrito Federal, Rio de Janeiro.
"Quilómetro 44" é o titulo.
Já não é só à pintura que Vieira da Silva se dedica. A tapeçaria e o
vitral terão também a sua atenção. Em 1965, é-lhe feita a
encomenda de 8 vitrais para a Igreja de Saint Jacques, nos quais irá
trabalhar durante algum tempo. Entretanto, vão-se sucedendo as
retrospectiva sobre a pintora em várias cidades. Entre elas, a de
Lisboa, que estará a cargo da Fundação Gulbenkian.
Em 1974, Portugal conhece finalmente o fim de um regime que não
favorecia propriamente os artistas. É a revolução dos cravos. Vieira
da Silva não fica indiferente aos acontecimentos que ocorrem no país
onde nasceu. Faz dois cartazes sobre a revolução, que mais uma vez
a Função Gulbenkian se encarregará de editar.
Em 1983 aceita o convite para realizar a decoração da nova estação
do Metro de Lisboa - Cidade Universitária.
No ano seguinte à morte do marido pinta "O fim do mundo". Apesar
de tudo, Vieira da Silva continua a pintar. Ainda em 1992 pinta uma
sucessão de têmperas, com o título "Luta com um anjo". É o
prenúncio do fim. Vieira da Silva não é dada a grandes místicas, mas
há sempre interrogações que se colocam: "Às vezes, pelo caminho da
arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por
momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas
pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a
mística explica tudo. Então é preciso dizer que não sou
suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me
dará a explicação que não consigo encontrar".

Você também pode gostar