O cinema nunca foi totalmente mudo.Só não havia um método
eficiente de sicronizar o som a imagem, mas som, sempre teve. Acompanhar só imagens, ou só sons, era incomodo, trazia desconfortos. O Vitaphone, uma enorme e desajeitada máquina, onde o projetor tinha acoplado a vitrola surgiu em 1927, trazendo para o cinema uma nova forma de se ver filmes.
A música
A primeira inclusão da forma sinfônica numa “narrativa”, no
sentido dramático mesmo, foi a Sinfonia Fantástica do francês Hector Berlioz, considerado por muitos o exemplo concreto da primeira sinfonia descritiva.
A música encontra o cinema
Se, entre 1900 e 1910 Mahler une a tradição sinfônica à esta
associação de imagens, entre 1915 e 1920 Arnold Schoenberg (1874-1951) acaba com ambas as coisas, criando o dodecafonismo, sistema harmônico baseado no atonalismo. Cria então um conceito totalmente novo de imaginação musical. Harmonias dissonantes, acordes sem hierarquia tonal, estrutura formal sutil e sem aparente relevância, enfim, sons estranhos. As imagens formadas pareciam sempre desoladoras. Contudo, a saturação da música européia, em especial alemã, chamou os compositores mais ativos, a vanguarda, para este novo e inexplorado campo, que parecia ser promissor, na medida em que era inédito na história da música. Mas nem todos os compositores gostaram dos ares modernos da música atonal. Preferiram ficar no campo tradicional, em plenos anos 30, escrevendo sinfonias e concertos. Apenas os antigos mestres, já consagrados, como Rachmaninov, Sibelius, Shostakovich e Stravinsky conseguiam manter seu repertório tradicional em composições novas.
A música como personagem
Como definir o personagem fílmico?
Pode-se afirmar que trata-se de entidade que essencialmente age, ou seja, o que caracteriza o personagem é a ação (exercida sobre outros personagens e, por conseguinte, sobre o roteiro em geral). Ora, a partir do momento em que a música exerce influência, maior ou menor, sobre um ou mais personagens do filme, é lícito reivindicar para ela também a condição de personagem; note-se que, para tanto, é vital que os personagens do filme tenham consciência de sua existência, o que vale dizer que a música, se assim podemos dizer, passa a existir dentro da película, fazendo parte indissolúvel do roteiro. Como, quando e porque conferir à música esta função? A prática mostra que, na maioria das vezes, quando se opta por este recurso, destina-se à música papel de complemento da ação, entendendo-se o termo em sua acepção mais ampla, que pode apontar para uma série de alternativas
O emprego da música já existente
Quem se dedica ao estudo da música cinematográfica logo se dá
conta de instâncias em que o diretor dispensa o trabalho do compositor, e elabora sua trilha sonora a partir de material musical já existente, com vida autônoma. Nesta prática (da qual a história do cinema é pródiga em exemplos, alguns já clássicos), o diretor pode ou não recorrer à colaboração do músico (a primeira alternativa, porém, é muito menos comum que a segunda), pode ou não valer-se de música gravada, ou seja, pode utilizar a obra musical em gravações ou fazer gravá-la especialmente para a finalidade (e neste caso, a segunda hipótese é muito mais remota que a primeira).
Relação música e cinema
Não é possível falar da música ou do cinema “em geral”, sem
apagar tudo o que importa ou ficar endurecido ante as elegantes falácias de uma abstração. Não me parece haver uma categoria suficientemente ampla que demarque, inequivocamente, seus traços distintivos e ordinários, e mesmo se houvesse, para parafrasear o bergsonismo de Deleuze, suas malhas seriam tão frouxas que mesmo os maiores peixes passariam por ela. Incorremos cegamente em toda espécie de mutilação cada vez que a sombra duma generalização se aproxima.Vimos a polêmica em torno de
Eisenstein, em sua vertigem orgânico-dialética, quanto à
postulação de um princípio de correspondência entre música e imagem, que tinha na unidade do movimento o pivô da relação.A relação entre música e cinema é tão complexa que somos como turbilhonados num labirinto histórico (e extemporâneo), que multiplica em seus caminhos, todas as dobras da experiência e da sensação, que excedem, a história da cultura, do imemorial de um tempo só recuperável diferencialmente, falseando-se sob a rubrica de uma potência irracional e tateante.