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Auditorias ambientais: competências

legislativas

PAULO DE BESSA ANTUNES

SUMÁRIO

1. Introdução. 2. Auditoria ambiental: defini-


ção. 3. A auditoria ambiental é norma de Direito
Ambiental? 4. Auditoria ambiental: competência le-
gislativa. 5. O papel dos tribunais de contas.

1. Introdução
Este artigo é a base de um trabalho apre-
sentado em seminário promovido pelo Tribu-
nal de Contas do Estado do Paraná sobre audi-
torias ambientais. As auditorias ambientais são
um instrumento jurídico gerencial que, indis-
cutivelmente, está vocacionado para dominar
todo o cenário jurídico ambiental na próxima
década. O motivo para que assim seja é muito
simples: em meio ambiente, também, prevenir
é melhor do que remediar.
O desenvolvimento das práticas de audito-
ria, efetivamente, tem ocorrido em função da
redescoberta desse velho ditado popular. Atu-
almente, aqueles que militam na área da prote-
ção ambiental sabem, por experiências doloro-
sas, que a grande limitação apresentada pelo
Direito Ambiental deriva do fato de que ele age,
fundamentalmente, como instrumento de repa-
ração de danos; isto é, a sua atuação básica está
voltada para o momento após o dano. É lógico,
no entanto, que existe todo um conjunto de
normas e princípios voltados para a prevenção1
de danos. Tal fato, entretanto, não é suficiente
para descaracterizar o aspecto de sanção a pos-
teriori que está amplamente presente no Direi-
to Ambiental. O Presidente do importante En-
Paulo de Bessa Antunes é chefe da assessoria vioronmental Law Institute – ELI, J. William
jurídica da Secretaria de Estado de Meio Ambiente
1
do Estado do Rio de Janeiro, Procurador Regional ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambien-
da República, Mestre em Direito (PUC/RJ) e Dou- tal. Rio de Janeiro : Lumem Juris, 1996. p. 21 e
torando em Direito (UERJ). segs.
Brasília a. 35 n. 137 jan./mar. 1998 119
Futrell2, afirmou que: verificação concebido para confirmar se
“Já alcançamos nos Estados Unidos as diretrizes de uma empresa em relação
tudo o que era possível no âmbito de um ao meio ambiente, e todos os procedi-
direito que trata dos impactos depois do mentos e regulamentos aplicáveis são
fato ocorrido. Do começo do século até cumpridos (...)”.
hoje o Direito Ambiental tem sido um Dada a existência da dificuldade conceptu-
direito de reação (...)”. al acima apontada, necessária se faz uma bre-
A mudança de perspectiva, isto é, a trans- víssima incursão no Direito Comparado para
formação do Direito Ambiental de um direito que o assunto possa ser tratado de forma ade-
de reação para um direito de promoção, em quada.
grande medida, será definida pelo desenvolvi- Nos Estados Unidos, em 1986, foi publica-
mento que o Instituto das auditorias ambien- do o Environmental Auditing Police Statement
tais tiver. Felizmente, no caso particular, nós que tem por objetivo incentivar indústrias e
ainda temos a possibilidade de moldá-lo de for- órgãos públicos a realizar processos de audito-
ma que ele seja capaz de corresponder às imen- ria ambiental. Em 1990, o Congresso norte-
sas esperanças que nele são depositadas. Não americano rejeitou proposta de emenda ao Cle-
podemos transformar as auditorias ambientais an Air Act, que determinava a realização obri-
em mais um instrumento burocrático e ambi- gatória de auditorias ambientais. As auditori-
entalmente irrelevante. as, portanto, são voluntárias. Heliana Vilela de
Oliveira e Silva4 afirma que:
“Em abril de 1995, procurando in-
2. Auditoria ambiental: definição centivar as empresas a apresentar aos
O primeiro e mais importante passo para órgãos ambientais as não-conformidades
que possamos definir as competências legisla- detectadas no processo de AA5 e a saná-
tivas em matéria de auditoria ambiental é o es- las, a EPA publicou o Voluntary Envi-
tabelecimento de sua definição. Em seguida, ronmental Self-Policing and Self Disclo-
faz-se necessário que saibamos claramente qual sure Interim Policy Statement, cujo teor
é o objetivo que esperamos alcançar com as au- especifica: ‘toda empresa que, volunta-
ditorias ambientais. Sem uma correta compre- riamente, identificar, apresentar e cor-
ensão desses dois aspectos, lamento dizer, as rigir violações ambientais encontradas
auditorias ambientais limitar-se-ão a reprodu- durante o processo de AA, será comple-
zir mais uma rotina administrativa e cartorial. tamente eliminada de penalidades ba-
As auditorias ambientais são uma seqüên- seadas em escalas de gravidade, desde
cia de auditorias de qualidade utilizadas pela que estejam em consonância com as con-
indústria e outros setores empresariais que bus- dições indicadas no relatório’”.
cam uma certificação da gestão de qualidade Igualmente, no Canadá, a auditoria ambi-
da empresa. Conforme a correta afirmação de ental é um processo voluntário. Segundo a au-
Jones3: tora recém-citada,
“Não existe definição universalmen- “(...) a AA se baseia, principalmen-
te aceita de auditoria ambiental. A ativi- te, na política interna, no sistema de ges-
dade, portanto, significa coisas diferen- tão da empresa e na avaliação do poten-
tes para pessoas diferentes, existindo cial de riscos. Compete ao governo, como
considerável confusão acerca do seu re- estimulador da AA, o papel de dar su-
lacionamento com tópicos como avalia- porte às empresas através de conferênci-
ção ambiental, avaliação de impacto am- as, workshops, apoio àqueles que quei-
biental, análise ambiental, análise do ci- ram implantá-la e endosso público para
clo de vida e rotulagem ambiental. Toda as que já adotam”.
essa confusão é desnecessária, no entan- Trata-se, portanto, de um instrumento volun-
to, se nos lembrarmos que auditoria am- tário, incentivado e apoiado pelo governo ca-
biental é simplesmente outro processo de nadense. Vale notar que, em 1992, a Canadian
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FUTRELL, J. William. Direito Ambiental : SILVA, Heliana Vilela de Oliveira. Auditoria
novos caminhos nos Estados Unidos. Revista de de estudo de impacto ambiental. Rio de Janeiro :
Direito Ambiental, n. 1, p. 10, jan./mar. 1996. COPPE, UFRJ, 1996. p. 120. Dissertação (Mestra-
3
JONES, David G. Auditoria ambiental. Rio de do) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1996.
5
Janeiro : UERJ : PROENCO, 1997. p. 1-3 AA – Auditoria Ambiental.
120 Revista de Informação Legislativa
Standards Association deu início à elaboração a seguinte:
de um plano federal de auxílio às empresas que “(...) uma ferramenta gerencial com-
desejem promover auditorias ambientais. preendendo avaliação sistemática, docu-
No Reino Unido, está em vigor a norma BS mentada, periódica e objetiva do desem-
7750 que, igualmente, é de aplicação voluntá- penho de organizações, gerências e equi-
ria para as empresas. Na França, existe a nor- pamentos com o objetivo de contribuir
ma NF X30-200 que, assim como as demais, para salvaguardar o meio ambiente, fa-
estabelece um sistema voluntário de auditorias cilitando o controle gerencial de práti-
ambientais. A Comunidade Européia estabele- cas ambientais, e avaliando o cumpri-
ceu o Environmental Management and Audit mento de diretrizes da empresa, o que in-
Scheme – EMAS que, como os demais, estabe- cluiria o atendimento das exigências de
lece o critério de voluntariedade para as audi- órgãos reguladores e normas aplicáveis”.
torias ambientais. É desnecessário falar da sé-
rie ISO 14000, pois tais normas, ainda que ex- 4. Auditoria ambiental: competência legislativa
tremamente importantes, não integram o uni-
verso jurídico estatal que, no momento, é o Após esta longa introdução, necessário se
objeto de nosso interesse. faz que seja abordado o cerne desta nossa in-
Podemos dizer, diante da experiência inter- tervenção que é a competência legislativa para
nacional, que as auditorias ambientais são ins- estabelecer normas de auditoria ambiental. A
trumentos voluntários de gestão ambiental que questão é árdua e tem sido pouco abordada pe-
permitem verificar a compatibilidade da ativi- los juristas brasileiros. Como se sabe, a com-
dade empresarial com a melhoria constante dos petência para legislar sobre meio ambiente está
padrões ambientais e com o atendimento das estabelecida pelo artigo 24 da Constituição
normas aplicáveis. Federal. Essa competência é concorrente entre
a União, os Estados e o Distrito Federal7. No
caso a competência concorrente é não-cumu-
3. A auditoria ambiental é norma de lativa, pois a própria Carta Magna estabeleceu
Direito Ambiental? limites precisos para a intervenção dos Esta-
Uma questão que não pode passar em bran- dos na matéria, como se verá. De fato, a hipó-
co neste trabalho é aquela que diz respeito à tese em tela é exatamente aquela mencionada
localização das auditorias ambientais no pró- por Cretella Jr8, que a define
prio Direito Ambiental. Com efeito, a audito- “quando o poder legislativo central pode
ria ambiental, como foi visto acima, é um ins- editar normas até determinado nível, fa-
trumento de gestão ambiental e não pode ser cultando-se ao Estado-membro a com-
considerada como um instrumento de controle plementação da norma já editada”.
ambiental. A diferença entre um e outro está Efetivamente, na hipótese, a Lei Federal sobre
no fato de que, na auditoria, não é estabelecida normas gerais já existe e foi recepcionada pela
qualquer norma a ser seguida. O que se busca Constituição de 88. Tal lei é a Lei nº 6.938/819.
é o conhecimento de se as normas existentes Segundo a lição de Pinto Ferreira10: “É a regra
estão sendo observadas pelo empreendedor6, e do Direito Alemão. (...) O direito federal que-
mais: se a empresa possui uma política ambi- bra ou prima sobre o direito estadual”.
ental, se a empresa é capaz de melhorar o seu Deve ser observado que a Lei nº 6.938/81,
desempenho ambiental constantemente. Esses que estabeleceu a Política Nacional do Meio
elementos, em minha opinião, fazem com que Ambiente, em seu artigo 9º, não tratou das au-
a auditoria ambiental não seja vista, apenas, ditorias ambientais. Como é do conhecimento
de todos, é naquele artigo que estão definidos
como uma análise momentânea da vida de uma
7
empresa, mas, ao contrário, seja o coroamento CF art. 24, VI, VII e VIII.
8
de um processo de aperfeiçoamento de méto- CRETELLA JR, José. Comentários à Consti-
dos de gestão ambiental. tuição de 1988 : artigos 23 a 37. Rio de Janeiro :
Foi na linha da definição acima que a Co- Forense Universitária, 1991. v. 4. p. 1777.
9
A propósito veja: SILVA, José Afonso da. Di-
missão Européia estabeleceu o seu conceito de reito Ambiental Constitucional. São Paulo : Malhei-
auditoria ambiental. Em assim sendo, a defini- ros, 1994. p. 143 e segs.
ção dada pela Comissão Européia ao tema foi 10
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constitui-
ção brasileira : artigos 22 a 53. São Paulo : Sarai-
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Auditoria de conformidade legal. va. 1990. v. 2, p. 115.
Brasília a. 35 n. 137 jan./mar. 1998 121
os instrumentos da Política Nacional do Meio frágeis ou ameaçados. Positivamente, não é
Ambiente. Dessa forma, para o Direito brasi- disso que se trata.
leiro, a auditoria ambiental não é um instru- Ora, parece-me, portanto, que a auditoria
mento da Política Nacional do Meio Ambiente ambiental é um instrumento de gestão que so-
(PNMA). Penso que a lista estabelecida no ar- mente poderá ser introduzido em nosso Orde-
tigo 9º é taxativa e não meramente exemplifi- namento Jurídico pelo caminho da legislação
cativa. Existe ali uma relação que se constitui federal. Entretanto, a realidade é que vários
em numerus clausus. Somente uma norma de Estados têm legislado sobre a matéria. No caso
hierarquia igual ou superior àquela da Lei nº do Estado do Rio de Janeiro existe, inclusive,
6.938/81 pode estabelecer uma alteração nos previsão constitucional11 sobre a matéria. Pen-
instrumentos da PNMA. so, entretanto, que dificilmente se possa afir-
Penso que a Lei nº 6.938/81 preenche per- mar, com tranqüilidade, a constitucionalidade
feitamente os requisitos estabelecidos pelo ar- do dispositivo, vez que no nível da legislação
tigo 24 e seus parágrafos da Constituição Fe- geral (federal) o instrumento é inexistente. Isso
deral. Não há dúvida de que a Lei nº 6.938/81 não impede, contudo, que as empresas reali-
é uma lei que estabelece normas gerais de pro- zem auditorias ambientais. Impede, parece-me,
teção ao meio ambiente e, no particular, define que a auditoria ambiental seja exigida pelo
os instrumentos legais e administrativos capa- Estado.
zes de tornar efetiva a proteção ambiental em A matéria, entretanto, tem sido pouco tra-
nosso País. A Lei nº 6.938/81 é norma geral tada pelos doutrinadores. O próprio Professor
porque não se confunde com uma simples lei Paulo Affonso Leme Machado12 não enfrentou
federal aplicável apenas pela União. Ela, de as questões referentes à constitucionalidade das
fato, é uma lei nacional, pois estabelece um sis- leis estaduais sobre o tema, limitando-se a afir-
tema nacional do meio ambiente. Esse siste- mar que a lei municipal de Vitória sobre audi-
ma, composto por órgãos federais, estaduais e toria ambiental “está plenamente dentro da
municipais, tem por objetivo ações integradas autonomia constitucional do município”.
de proteção ao meio ambiente em todo o País. A Lei estadual (Rio de Janeiro) nº 1.898,
Dentro do mesmo sistema, cada um dos inte- de 26 de novembro de 1991, possui um erro
grantes tem a possibilidade de aplicar as nor- fundamental de concepção, que é o de se colo-
mas gerais, válidas para todos, de forma a aten- car como um instrumento de fiscalização am-
der às suas peculiaridades locais. Entretanto, biental e não como um instrumento de gestão.
não é facultado aos integrantes do sistema, em O melhor exemplo da concepção punitiva pode
razão do regime constitucional, a criação de ser encontrado no artigo 6º da mencionada lei,
instrumentos diferentes daqueles previstos para que determina:
a totalidade da nação. “Sempre que constatadas quaisquer
A autonomia estadual e municipal se mate- infrações, deverão ser realizadas audito-
rializa na livre aplicação dos instrumentos na- rias trimestrais até a correção das irre-
cionalmente reconhecidos. Aliás, o teor do § gularidades, independentemente da apli-
3º do artigo 24 da Constituição é bastante cla- cação de penalidades administrativas”.
ro: mesmo na inexistência de lei federal sobre Na prática, o artigo tende a criar uma re-
normas gerais, os Estados-membros somente sistência nas empresas que somente com mui-
poderão exercer as suas competências legisla- ta dificuldade pode ser superada. Se a lei, ao
tivas plenas para “atender a suas peculiarida- contrário, tivesse estabelecido estímulos para
des”. Com o devido respeito que os legislado- a realização das auditorias ambientais, a sua
res estaduais merecem, não consigo perceber implementação seria muito mais fácil e a lei
que o estabelecimento de leis estaduais sobre seria, evidentemente, eficiente. Tal não é o caso
auditorias ambientais, na inexistência do ins- do Estado do Rio de Janeiro.
trumento em nível federal, tenha a função de Existe em tramitação no Congresso Nacio-
atender a peculiaridades regionais. Admite-se, nal o Projeto de Lei nº 3.160/92, que visa esta-
perfeitamente, que uma legislação especial so- belecer o instituto da auditoria ambiental em
bre o pantanal, sobre a caatinga, para a prote- nosso sistema jurídico normativo. A aprova-
ção dos pinheirais etc., possa prever mecanis- 11
mos especiais de auditoria, com vistas a um Art. 258, § 1º, XI.
12
MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito
maior conhecimento técnico-científico e, por- Ambiental brasileiro. 5. ed. São Paulo : Malheiros,
tanto, para a maior proteção de ecossistemas p. 197-211.
122 Revista de Informação Legislativa
ção do projeto de lei, em minha opinião, terá o 99.274, de 6 de junho de 1990, que determina:
mérito de reconduzir a legislação estadual ora “as entidades governamentais de finan-
existente aos trilhos da constitucionalidade, ciamento ou gestoras de incentivos con-
desde que a mesma não seja revogada. dicionarão a sua concessão à comprova-
ção do licenciamento previsto neste De-
creto”.
5. Papel dos Tribunais de Contas Veja-se que, no caso, a Corte de Contas pode
A Constituição Federal, em seu artigo 70, efetivamente participar dos mecanismos de
determina que é da competência do Congresso controle ambiental de forma bastante eficien-
Nacional a “fiscalização contábil, financeira, te. Há que se considerar, contudo, que os Tri-
orçamentária, operacional e patrimonial da bunais de Contas, para o bom desempenho des-
União e das entidades da administração direta se aspecto peculiar de suas competências, deve
e indireta, quanto à legalidade, legitimidade, promover um novo tipo de capacitação profis-
economicidade, aplicação das subvenções e re- sional de seus quadros, do qual resultará uma
núncia de receitas”, mediante o controle exter- maior familiaridade com as normas ambien-
no. Tal controle externo, nos termos do artigo tais, sua compreensão e aplicação.
71 da CF, é realizado pelo Tribunal de Contas Naquilo que diz respeito à competência es-
da União. O princípio estabelecido na Lei Fun- pecífica à realização, pelos Tribunais de Con-
damental tem aplicação para todos os integran- tas, das auditorias de procedimento13, não é lí-
tes de nossa federação. cito que se afaste, liminarmente, a análise de
O sentido que, até aqui, foi conferido ao conformidade com a legislação ambiental. Esse
conjunto de competências e atribuições dos Tri- provavelmente é o aspecto no qual a atuação
bunais de Contas tem sido restrito aos aspectos das Cortes de Contas, em matéria ambiental,
puramente contábeis e financeiros. pode se desenvolver mais. Com efeito, não ra-
Há que se considerar, contudo, que a Lei nº ras vezes, os órgãos ambientais têm lutado com
8.666, de 21 de junho de 1993, que enormes dificuldades para fazer com que os
“regulamenta o artigo 37, inciso XXI da demais órgãos administrativos cumpram as
Constituição Federal, institui normas suas obrigações para com a legislação ambien-
para licitações e contratos da adminis- tal. Com freqüência, as exigências ambientais,
tração pública e dá outras providências”. impostas aos particulares, não são cumpridas
Em seu artigo 12, VIII determina que: pela própria Administração. Ora, tal fato im-
“nos projetos básicos e projetos executi- plica, ipso iure, em uma desconformidade ope-
vos de obras e serviços serão considera- racional com as normas legais de proteção ao
dos principalmente os seguintes requisi- meio ambiente.
tos: (...) VIII – impacto ambiental”. O Tribunal, devido à sua própria natureza,
O dispositivo legal recém-mencionado de- tem instrumentos muito mais eficientes do que
monstra que os Tribunais de Contas, sempre aqueles que estão à disposição dos órgãos am-
que examinem aspectos de processos licitató- bientais para impor à própria Administração o
rios concernentes a obras públicas e interven- cumprimento de normas de proteção ao meio
ções físicas no meio ambiente, não devem dei- ambiente.
xar passar despercebidos os impactos ambien- Outro aspecto que, em meu ponto de vista,
tais deles resultantes. O Tribunal, evidentemen- pode ser melhor desenvolvido é aquele em que
te, não tem competência para examinar a ma- os Tribunais de Contas ajam como controlado-
téria ambiental em si mesma. Todavia possui res dos próprios órgãos ambientais. De fato, é
competência para examinar o contrato entre a bastante comum que distorções orçamentárias
Administração e o contratado e para verificar e/ou operacionais impliquem na paralisação ou
se o mesmo está de acordo com a legislação diminuição de qualidade da atuação das agên-
ambiental, naquilo que diz respeito à adequa- cias de controle ambiental. Orçamentos mal
da avaliação do impacto ambiental. Ainda den- dimensionados ou mal executados, orçamen-
tro do campo das atribuições específicas dos tos voltados para as atividades meio e não para
Tribunais de Contas, especialmente daquelas as atividades-fim, são fatores altamente noci-
tipificadas no artigo 41, IV da Lei nº 8.443, de vos para a sadia qualidade do meio ambiente.
16 de julho de 1992, há que se verificar a con- Enfim, as medidas que vêm a ser menciona-
formidade da concessão de empréstimos e fi- das, em meu entendimento, são auditorias que
nanciamentos com o disposto no Decreto nº 13
Lei nº 8.443/92, artigo 38, I.
Brasília a. 35 n. 137 jan./mar. 1998 123
estão, perfeitamente, enquadradas nas atribui- caminhos nos Estados Unidos. Revista de Di-
ções constitucionais e legais dos Tribunais de reito Ambiental, n. 1, jan./mar. 1996.
Contas e que, se bem implementadas, podem JONES, David G. Auditoria Ambiental. Rio de Ja-
redundar em um expressivo aprimoramento da neiro : UERJ, PROENCO, 1997.
qualidade ambiental em nosso País. MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambi-
ental brasileiro. 5. ed. São Paulo : Malheiros.
FERREIRA, Pinto. Comentários à Constituição
brasileira : artigos 22 a 53. São Paulo: Saraiva,
Bibliografia 1990. v. 2.
SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Consti-
ANTUNES, Paulo de Bessa. Direito Ambiental. Rio tucional. São Paulo : Malheiros, 1994.
de Janeiro : Lumem juris, 1996. SILVA, Heliana Vilela de Oliveira. Auditoria de
CRETELLA JR., José. Comentários à Constituição estudo de impacto ambiental. Rio de Janeiro :
de 1988 : artigos 23 a 37. Rio de Janeiro : Fo- COPPE, UFRJ, 1996. Dissertação (Mestrado)
rense Universitária, 1991. v. 4. — Universidade Federal do Rio de Janeiro,
FUTRELL, J. William. Direito Ambiental : novos 1996.

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