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uma tarde de sol escaldante na Babilônia, Jeremias percorre com os olhos
tristes o cenário desolador de seus irmãos desterrados, como ele, em
trabalhos forçados e sendo humilhados pelos feitores caldeus. Os feitores
zombam da miséria do povo judeu, pedindo-lhes que cantem os cânticos da sua terra natal. Suportando a
humilhação, todos se recusam a fazer isto: não há motivo. Como cantar se não há alegria, somente
escravidão? E, já, pouca memória ficou dos dias áureos do povo em Jerusalém. Há muito, o povo saboreia
um coquetel amargo de tristeza e revolta, desejando que os inimigos dos caldeus espanquem e lancem os
filhos deles contra as pedras. Jeremias se recolhe e em suas lamentações, ora a Deus:
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eremias, naquele momento, via o resultado da quebra dos marcos antigos
colocados por Deus para que o povo respeitasse. Reconheceu que o motivo de
estarem todos ali foi terem se esquecido de Deus, de fazer o que cada um
julgava reto e acolher idéias e práticas estranhas à palavra de Deus. E apresenta a solução ao povo: voltar a
Deus; reconhecer onde cada um falhou e recomeçar com sinceridade para que suas vidas sejam
restauradas. Os marcos antigos constituem-se de todos os mandamentos, estatutos, juízos e ordenanças
dados por Deus para o povo israelita. Tanto no capítulo 22 quanto no 27 do livro de Deuteronômio, Deus
estabeleceu as consequencias para quem desobedece a Deus. Essas ordenanças foram lidas para todo o
povo do alto dos montes, de modo que chegasse ao conhecimento de todos ali presentes.
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s marcos foram estabelecidos não só para que Deus fosse glorificado pelo
cumprimento deles, mas para benefício do próprio homem, pois
obedecendo as leis, teria para si garantidas as bênçãos do Senhor, além de
praticar a justiça para com o próximo, sendo dela, também beneficiado. Deveriam ser ensinados às crianças,
pois a disciplina da Palavra de Deus liberta a alma do inferno. A quebra de marcos gera injustiças por parte
de quem não os obedece e punição direta de Deus, porque vê a injustiça produzir impiedade e desamor pelo
outro2. Sendo, a iniquidade, o resultado prático da quebra de marcos, também é uma abominação para
Deus, as leis injustas, pois são preceitos humanos fundamentados fora da Palavra de Deus. Embora o
descumprimento dessas leis – ainda que injustas – seja passível de punição humana, diante de Deus, essas
1 Lamentações 3:19 a 40
2 Provérbios 22:28; 23:10 a 11; 13 a 17
Não remova os marcos antigos - Mário Márcio Barros da Silva
leis são chamariz de maldições, pois por um preceito humano se violam os mandamentos eternos de Deus.
Ao cobrar obediência, Deus não se esquece do pobre, nem do necessitado, principalmente se forem eles os
alvos da injustiça humana3. Remover marcos gera, além de injustiças, o esquecimento de Deus. O Senhor
manifestou a Jeremias, o seu dissabor pela teimosia do homem, porque, apesar de tantas demonstrações
vivas de marcos estabelecidos ao redor do homem, o homem não pára a fim de refletir sobre o porquê de
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havê-los por toda a parte e ele ser o único a não cumprír os seus, impostos por Deus4.
m grave e claremanente reflexo da desobediência em nossos dias está cada
vez mais sendo observado: a transferência para os textos das leis humanas,
da exigência de atitudes que, desde os tempos antigos, eram consideradas
traços de caráter do homem. Não havia necessidade de se cobrar, por exemplo, o respeito aos idosos, o
trato honesto das coisas públicas, o tratamento sem violência às crianças e adolescentes; e outros
procedimentos porque eram ensinados no lar, eram preceitos monitorados na educação dos filhos pelos pais
e parentes. O Direito, como ciência, está sendo forçado a criar leis que absorvam o papel educacional dos
pais, pois pela quebra de marcos, famílias estão sendo desestruturadas. Vários exemplos podem ser dados
como consequencia de quebras de marcos: o caso dos quatrocentos casamentos anulados pela Igreja
Católica em Goiânia – GO, pois o padre era casado sem consentimento de seus superiores. Esses
casamentos foram legalmente reconhecidos em cartório. Muitos ali eram da vontade de Deus, mesmo assim,
a Igreja Católica mandou anular todos eles pois foram celebrados por um padre que estava fora das normas
– humanas, diga-se de passagem – sendo que o que Deus juntou não deve ser separado 5 Diga-se, ainda,
que a Bíblia também não condena o casamento de sacerdotes. Arão era sacerdote e, tanto ele como seus
filhos, ministravam no templo, diante do altar. Outro exemplo que podemos dar, é a questão da união entre
homossexuais, que fere frontalmente os mandamentos do Senhor 6 Citem-se, ainda, os casos de políticos
que usam e abusam do foro privilegiado para escaparem da condenação por diversos crimes7. Para
completar nosso elenco de exemplos, podemos citar as consequencias da prática corriqueira do adultério:
aumento, a ponto de causar morosidade à justiça nos tribunais, das ações por danos morais por parte de
cônjuges magoados. Resultado de adultérios são, também, os processos administrativos que culminaram
com a demissão de servidores públicos por utilização, no horário de serviço, de sítios pornográficos e de
relacionamento extraconjugal da internet em sistemas de propriedade de seus empregadores.
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omente Deus é onisciente, onipresente e onipotente, dentre outros atributos.
Uma das principais razões da existência de mandamentos é a necessidade –
e a maior dificuldade – de memorizar e praticar as ordenanças de Deus.
Deus promove a memória dos seus filhos e das obras dos que lhe são obedientes, mas extingue a memória
dos maus e dos seus atos8. Para o povo memorizar os feitos de Deus, foram estabelecidas as festas: Páscoa,
Colheita; Dos Tabernáculos e do Pentecostes. Os símbolos que compõem os adornos das vestes sacerdotais
de Arão são mnemônicos importantes9. Preservando a memória, os marcos se conservam. Daí porque é
ordenança contínua o sempre meditar na Palavra, de manhã, de tarde e de noite 10. O louvor é parte do
nosso dever11. O Senhor jamais permitirá que haja esquecimento de suas leis porque ele mesmo é seu
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próprio memorial, é um Deus vivo e atuante12
rmãos, façamos nossa a atitude de Jeremias: reconheçamos os nossos erros
em todos os pormenores. Lamentemo-nos diante do Senhor quanto aos
pecados, sobre os quais não temos conseguido vitória e peçamos seu auxílio.
Tenhamos gosto pela meditação constante na Bíblia, pedindo para que Deus nos capacite a viver todas as
coisas conforme nos mandou. Louvemos incessantemente ao Senhor que, por infinita misericórdia nos tem
preservado para ter um povo fiel para reinar com ele na glória. Aleluia!
3 Salmo 9:17 a 18
4 Jeremias 5:20 a 31
5 Diário da Manhã de Goiânia, Goiás, de 11/11/08
6 Levítico 18:22 e Romanos 1:26-27.
7 Isaías 10:1 e 2
8 Êxodo 13:6 a 10; Deuteronômio 8:18; Provérbios 10:7
9 Êxodo 28:29
10 Salmo 119:1 a 11 – Davi é exemplo de quem buscou praticar as ordenanças de Deus.; Salmo 1; Josué 1: 7 e 8.
11 Salmo 30:4.
12 Oséias 12:5