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Um “toc” na cuca – técnicas para estimular a  

criatividade 

por Cecília Yoshiko Itchikawa Nishimura

Praticamente todo o nosso sistema educacional objetiva ensinar às


pessoas uma única resposta certa. Isso pode ser ótimo em alguns
problemas de matemática. Mas a vida é ambígua, nela existem
muitas respostas certas e estas dependem do que você está
procurando. Se pensar que só existe uma resposta correta, é óbvio
que vai parar de procurar outras e, portanto, só vai encontrar uma.

Uma técnica para achar outras respostas certas é mudar as perguntas


que servem para sondar um determinado problema. Por exemplo,
quantas vezes você ouviu questões como “Qual é a resposta?”, “O
que significa isso?”, “Qual o resultado disso?”. Se você formular as
perguntas no plural - “Quais”, descobrirá que as pessoas tenderão a
pensar com um pouco mais de profundidade e a propor mais de uma
idéia. Essa é a técnica das respostas múltiplas.

As respostas que você encontra, dependem das perguntas que faz.


Brinque com a formulação das perguntas para obter respostas
diferentes, utilize em suas questões “e se...”.

Segundo Roger Von Eoch, existem dois grupos de pensamentos:


Difuso e Concreto. O Pensamento Concreto tem um perfil definido de
certo e errado e o Pensamento Difuso possui muitas respostas certas.
Pensamento Concreto, por sua vez tem de ser lógico, preciso, exato,
específico e consistente. Pensamento Difuso é metafórico,
aproximativo, nebuloso, humorístico, brincalhão e capaz de lidar com
as contradições.

O Pensamento Difuso é muito eficaz na fase de germinação, quando


alguém está procurando novas idéias, pensando globalmente e
manipulando problemas. O Pensamento Concreto é mais utilizado na
fase prática, no momento em que está avaliando as idéias, fazendo
com que caibam nos limites das soluções práticas, analisando riscos e
preparando a idéia para transformá-la em ação.
Utilizar o pensamento difuso quando se está na fase prática pode
impedir a execução de uma idéia. Na fase germinativa, o pensamento
concreto pode limitar o processo de criação. A lógica e a análise são
instrumentos importantes, mas depender excessivamente deles pode
limitar o pensamento.

Utilizem metáforas, pois elas nos ajudam a compreender uma idéia. A


chave do pensamento metafórico é a similaridade, faz crescer nossos
pensamentos: “Compreendemos o que é estranho a partir das
semelhanças que possua com o que é familiar”.

Você questiona as regras? Por que será que as pessoas tratam a


maioria dos problemas e das situações como se fossem sistemas
fechados, com padrões definidos, ao invés de considerá-los sistemas
abertos, com os quais se pode brincar?

Uma razão preponderante para isso, é que, em nossa cultura há uma


enorme pressão no sentido de se obedecerem as regras. Esse é um
dos primeiros valores que aprendemos na infância. “Não pinte fora do
contorno”, dizem à gente. Os alunos recebem mais recompensas se
regurgitarem informação do que se trabalharem com idéias e
pensarem em usar as coisas de modo original. As pessoas se sentem
mais seguras seguindo do que questionando as normas.

Verifique periodicamente suas idéias para ver se elas estão


contribuindo para seu pensamento ser mais eficaz. Pergunte-se:
“como foi que se começou esse programa, conceito ou idéia?”
Continue depois: “Essas razões ainda existem?” Se a resposta for
“não”, elimine a idéia.

Evite se apaixonar definitivamente pelas idéias, se você se


desapaixonar por ela, você estará livre para procurar novas idéias.

Por que as pessoas não usam o recurso “e se” e os pontos de apoio


com mais freqüência para gerar idéias? Razões existem várias. Uma
delas é que, à medida que as pessoas envelhecem, ficam prisioneiras
do hábito. Elas se acostumam ao “é” da realidade e se esquecem das
possibilidades geradas pela pergunta “e se”.
É muito pouco provável que uma determinada pergunta “e se” resulte
de imediato em uma idéia prática e criativa. Logo, é necessário
formular várias perguntas “e se” e partir de vários pontos de apoio
para se chegar a uma idéia criativa aplicável.

Todos nós aprendemos a evitar ambigüidades por causa dos


problemas de comunicação que elas podem provocar. Isso é válido
em situações práticas, quando as conseqüências de um mal-
entendido seriam graves. Por exemplo, num incêndio de grandes
proporções, o chefe dos bombeiros em ação precisa dar suas ordens
com o máximo de clareza, para que não hajam dúvidas.

Em situações germinativas, porém, existe o perigo de imaginação ser


sufocada pelo excesso de especificidade. Suponhamos que o mesmo
chefe de bombeiros peça para você pintar um painel na parede do
quartel. Se ele disser exatamente como quer o painel, nos mínimos
detalhes, você não vai ter espaço para usar a imaginação. Se a tarefa
for definida com um pouco mais de ambigüidade, você já terá mais
amplitude para imaginar. Em outras palavras, há um lugar para
ambigüidade, talvez não tanto quanto você estiver executando idéias,
mas certamente quando estiver procurando por elas.

Percebemos o quanto podemos fazer por nós mesmos para aumentar


nossa capacidade de criação. E, para que dê certo basta aplicarmos
estas pequenas ações em nossas vidas. Afinal de contas, existem “mil
maneiras de se preparar Neston”.

Bibliografia:

EOCH, VON ROGER, Um “TOC” na cuca, Editora Cultura, 1999

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