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S190 REVISÃO REVIEW

Uma revisão sobre os conceitos de acesso


e utilização de serviços de saúde

A review of concepts in health services


access and utilization

Claudia Travassos 1

Mônica Martins 2

Abstract A utilização dos serviços de saúde representa o


centro do funcionamento dos sistemas de saú-
1 Centro de Informação The purposes of this article are to review the de. O conceito de uso compreende todo conta-
Científica e Tecnológica,
concepts of health services access and utiliza- to direto – consultas médicas, hospitalizações –
Fundação Oswaldo Cruz,
Rio de Janeiro, Brasil. tion and to analyze how these concepts interre- ou indireto – realização de exames preventivos
2 Escola Nacional de Saúde late. Access is a complex concept (often used in- e diagnósticos – com os serviços de saúde. O
Pública, Fundação Oswaldo
accurately) which changes over time and ac- processo de utilização dos serviços de saúde é
Cruz, Rio de Janeiro, Brasil.
cording to the context. Health services utiliza- resultante da interação do comportamento do
Correspondência tion is at the core of health systems functioning. indivíduo que procura cuidados e do profissio-
C. Travassos
Despite some disagreement, according to this re- nal que o conduz dentro do sistema de saúde.
Departamento de
Informações em Saúde, view the prevailing perspective is that access is O comportamento do indivíduo é geralmente
Centro de Informação related to characteristics of services supply. responsável pelo primeiro contato com os ser-
Científica e Tecnológica,
Fundação Oswaldo Cruz.
Health care services utilization can be applied viços de saúde, e os profissionais de saúde são
Av. Brasil 4365, as a measure of access, but use of services de- responsáveis pelos contatos subseqüentes. Os
Rio de Janeiro, RJ pends on other factors. Individual and contex- profissionais, em grande parte, definem o tipo
21045-900, Brasil.
claudia@cict.fiocruz.br
tual factors influence the use of services. The ar- e a intensidade de recursos consumidos para
ticle shows that the concept of access is becom- resolver os problemas de saúde dos pacientes.
ing more comprehensive and is changing its fo- Em linhas gerais, os determinantes da utili-
cus from entry into the health system to out- zação dos serviços de saúde podem ser descri-
come of care. Access is valued in relation to its tos como aqueles fatores relacionados: (a) à
impact on health and depends on the effective- necessidade de saúde – morbidade, gravidade
ness of care delivered. As an outcome measure, e urgência da doença; (b) aos usuários – carac-
access becomes multidimensional and difficult terísticas demográficas (idade e sexo), geográ-
to operationalize. Finally, the article discusses ficas (região), sócio-econômicas (renda, edu-
how health determinants differ from those of cação), culturais (religião) e psíquicas; (c) aos
health services utilization, which impacts di- prestadores de serviços – características demo-
rectly on illness, but only indirectly on health. gráficas (idade e sexo), tempo de graduação,
especialidade, características psíquicas, expe-
Health Services; Utilization; Health Services riência profissional, tipo de prática, forma de
Acessibility pagamento; (d) à organização – recursos dispo-
níveis, características da oferta (disponibilida-
de de médicos, hospitais, ambulatórios), modo

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de remuneração, acesso geográfico e social; (e) fator da oferta importante para explicar as va-
à política – tipo de sistema de saúde, financia- riações no uso de serviços de saúde de grupos
mento, tipo de seguro de saúde, quantidade, ti- populacionais, e representa uma dimensão re-
po de distribuição dos recursos, legislação e re- levante nos estudos sobre a eqüidade nos sis-
gulamentação profissional e do sistema 1. A in- temas de saúde.
fluência de cada um dos fatores determinantes Donabedian 2 distingue duas dimensões da
do uso dos serviços de saúde varia em função acessibilidade: a sócio-organizacional e a geo-
do tipo de serviço (ambulatório, hospital, as- gráfica e indica que essas dimensões se inter-
sistência domiciliar) e da proposta assistencial relacionam. Acessibilidade sócio-organizacio-
(cuidados preventivos ou curativos ou de rea- nal: inclui todas as características da oferta de
bilitação). serviços, exceto os aspectos geográficos, que
Acesso é um conceito complexo, muitas ve- obstruem ou aumentam a capacidade das pes-
zes empregado de forma imprecisa, e pouco cla- soas no uso de serviços. Por exemplo: políticas
ro na sua relação com o uso de serviços de saú- formais ou informais que selecionam os pa-
de. É um conceito que varia entre autores e que cientes em função de sua condição social, si-
muda ao longo de tempo e de acordo com o con- tuação econômica ou diagnóstico. Acessibili-
texto. A terminologia empregada também é va- dade geográfica: relaciona-se à fricção do es-
riável. Alguns autores, como Donabedian 2, em- paço que pode ser medida pela distância li-
pregam o substantivo acessibilidade – caráter near, distância e tempo de locomoção, custo da
ou qualidade do que é acessível 3 –, enquanto viagem, entre outros. Apesar de atributos dos
outros preferem o substantivo acesso – ato de indivíduos (sociais, culturais, econômicos e psi-
ingressar, entrada 3 – ou ambos os termos para cológicos) não fazerem parte do conceito de
indicar o grau de facilidade com que as pessoas acessibilidade de Donabedian, a relação destes
obtêm cuidados de saúde 4. com o uso de serviços é mediada pela acessibi-
Autores também variam em relação ao en- lidade, isto é, a acessibilidade expressa as ca-
foque do conceito: uns centram-no nas carac- racterísticas da oferta que intervêm na relação
terísticas dos indivíduos; outros focam-no nas entre características dos indivíduos e o uso de
características da oferta; alguns em ambas as serviços.
características ou na relação entre os indiví- Donabedian 2, por um lado, delimita o es-
duos e os serviços (oferta). Há também discor- copo do seu conceito de acessibilidade ao ex-
dâncias sobre se a avaliação de acesso deve cluir deste as etapas de percepção de proble-
concentrar-se nos resultados ou objetivos fi- mas de saúde (necessidades) e o processo de
nais (goals) dos sistemas de saúde ou na rela- tomada de decisão na procura de serviços pe-
ção entre os vários elementos que compõem o los indivíduos. Por outro, avança na abrangên-
sistema para atingir esses objetivos 5. cia do conceito de acesso para além da entrada
Neste artigo, pretende-se rever os conceitos nos serviços, pois, para ele, acessibilidade indi-
de acesso e utilização de serviços de saúde, ana- ca também o grau de (des)ajuste entre as ne-
lisar o que os distingue e, ao mesmo tempo, cessidades dos pacientes e os serviços e recur-
identificar os pontos de articulação existentes sos utilizados. Acessibilidade não se restringe
entre ambos. apenas ao uso ou não de serviços de saúde,
Em uma de suas primeiras publicações, Do- mas inclui a adequação dos profissionais e dos
nabedian 2 definiu acessibilidade como um dos recursos tecnológicos utilizados às necessida-
aspectos da oferta de serviços relativo à capaci- des de saúde dos pacientes.
dade de produzir serviços e de responder às ne- Andersen 6 prioriza o termo acesso. Em uma
cessidades de saúde de uma determinada popu- das versões iniciais do seu clássico modelo de
lação. Acessibilidade, neste caso, é mais abran- utilização de serviços de saúde 7, acesso é apre-
gente do que a mera disponibilidade de recur- sentado como um dos elementos dos sistemas
sos em um determinado momento e lugar. Re- de saúde, dentre aqueles ligados à organização
fere-se às características dos serviços e dos re- dos serviços, que se refere à entrada no serviço
cursos de saúde que facilitam ou limitam seu de saúde e à continuidade do tratamento. Abran-
uso por potenciais usuários. A acessibilidade ge, nesse caso, a entrada nos serviços e o rece-
corresponde a características dos serviços que bimento de cuidados subseqüentes.
assumem significado quando analisadas à luz Nesse modelo, a influência do acesso no
do impacto que exercem na capacidade da po- uso de serviços de saúde é mediada por fatores
pulação de usá-los. A acessibilidade é, assim, individuais, definidos como: fatores predispo-

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nentes (fatores que existem previamente ao sur- de acesso realizado (uso) que passa a incluir os
gimento do problema de saúde e que afetam a seus efeitos na saúde e na satisfação das pes-
predisposição das pessoas para usar serviços soas. O resultado do acesso potencial pode ser
de saúde). Um bom exemplo é o gênero, já que medido pelo uso de serviços (acesso realizado)
as mulheres tendem a mostrar maior predispo- e o do acesso realizado (uso) pelo acesso efeti-
sição para o uso de serviços de saúde do que os vo e eficiente.
homens 8,9; fatores capacitantes (os meios dis- Entretanto, é importante lembrar que tanto
poníveis às pessoas para obterem cuidados de o acesso realizado (uso) não se explica pelos
saúde); e necessidades de saúde (condições de determinantes do acesso potencial, como o seu
saúde percebidas pelas pessoas ou diagnosti- impacto na saúde e na satisfação (acesso efeti-
cadas por profissionais de saúde). Em concor- vo) não se explica apenas pelos determinantes
dância com Donabedian 2, acesso é uma carac- do uso de serviços. Como apontado anterior-
terística da oferta de serviços importante para mente, o uso de serviços depende de fatores
explicação do padrão de utilização de serviços predisponentes, das necessidades de saúde e
de saúde. de fatores contextuais, e o uso efetivo e eficien-
Em revisões posteriores do modelo de utili- te depende dos fatores individuais e de fatores
zação de serviços, Andersen 6 amplia e clareia internos aos serviços de saúde que interferem
seu entendimento sobre o conceito de acesso, na qualidade dos cuidados prestados.
que passa explicitamente a incorporar a etapa Por fim, para Andersen 6, a avaliação da
de utilização de serviços de saúde. O conceito eqüidade no acesso é inferida valendo-se da
torna-se multidimensional, composto por dois presença de fatores individuais capacitantes na
elementos: “acesso potencial” e “acesso reali- explicação do uso de serviços de saúde. Para
zado”. Acesso potencial caracteriza-se pela pre- este autor, a presença de outros preditores do
sença no âmbito dos indivíduos de fatores ca- uso, além da necessidade de saúde e dos fato-
pacitantes do uso de serviços, enquanto acesso res demográficas (predisponentes), denota
realizado representa a utilização de fato desses uma situação de iniqüidade. Aponta também
serviços e é influenciado por fatores outros que a avaliação do acesso deve ser feita separa-
além dos que explicam o acesso potencial. damente, segundo os tipos de cuidado (pre-
O conceito de acesso potencial incorpora venção, cura e reabilitação), tipos de serviços
os fatores individuais que limitam ou ampliam (hospital e ambulatório) e tipos de problemas
a capacidade de uso (fatores capacitantes), que de saúde (atenção primária, especializada e de
representam apenas um subconjunto dos fato- alta complexidade), pois expressam situações
res que explicam o acesso realizado (uso), já distintas com impacto diferenciado no acesso.
que estes incluem também os fatores predispo- Penchansky & Thomas 10 utilizam o termo
nentes, as necessidades de saúde, além de fa- acesso e centram esse conceito no grau de ajus-
tores contextuais. te entre clientes e o sistema de saúde, numa in-
Neste modelo, estabelece-se uma hierarquia terpretação da idéia desenvolvida por Donabe-
na qual fatores contextuais, que são aqueles re- dian 2. Diferem, no entanto, deste autor ao am-
lacionados às políticas de saúde e à oferta de pliarem o conceito para incluir outros atribu-
serviços, intervêm no uso de forma direta e in- tos que são tomados não com base na oferta,
direta, por intermédio dos fatores individuais mas sim na relação entre a oferta e os indiví-
6. Importante destacar, para fins de formulação duos. Identificam várias dimensões que com-
de políticas, que elementos próprios do siste- põem o conceito de acesso: disponibilidade (vo-
ma de saúde (oferta) são passíveis de mudança lume e tipo) de serviços em relação às necessi-
mediante intervenção governamental ou insti- dades; acessibilidade – tomada aqui como uma
tucional, enquanto apenas algumas das carac- dimensão do acesso –, caracterizada pela ade-
terísticas dos indivíduos são passíveis de mu- quação entre a distribuição geográfica dos ser-
dança por essas ações 5. viços e dos pacientes; acolhimento (accomoda-
Nas ultimas revisões, Andersen 6 busca in- tion), que representa a relação entre a forma co-
cluir explicitamente no modelo os efeitos dinâ- mo os serviços organizam-se para receber os
micos e recursivos do uso de serviços na saúde. clientes e a capacidade dos clientes para se adap-
Introduz os conceitos de “acesso efetivo” e de tar a essa organização; capacidade de compra,
“acesso eficiente”. O primeiro resulta do uso de definida pela relação entre formas de financia-
serviços que melhora as condições de saúde ou mento dos serviços e a possibilidade das pes-
a satisfação das pessoas com os serviços; o se- soas de pagarem por esses serviços; e aceitabi-
gundo refere-se ao grau de mudança na saúde lidade, que representa as atitudes das pessoas
ou na satisfação em relação ao volume de ser- e dos profissionais de saúde em relação às ca-
viços de saúde consumidos. Amplia o conceito racterísticas e práticas de cada um.

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A proposta de Penchansky & Thomas de am- com o nível de renda da população. Desta for-
pliação da abrangência do conceito de acesso ma, sua formulação não aponta para um mo-
com a incorporação de distintas dimensões não delo organizacional único, mas sim para várias
é seguida por muitos autores que, tal como composições de oferta de serviços organizadas
Frenk 11, preferem manter o conceito em um de acordo com o poder de utilização dos dife-
domínio mais restrito. Donabedian 12, prefere rentes grupos populacionais (sociais).
denominar de qualidade – eficácia, efetivida- No início da década de 90, o Comitê para o
de, eficiência, otimização, aceitabilidade, legi- Monitoramento do Acesso aos Serviços de Saú-
timidade e eqüidade – o domínio mais amplo de do Institute of Medicine (IOM) dos Estados
do desempenho dos sistemas de saúde. Unidos propõe que acesso seja definido como
Frenk 11 também desenvolve o conceito de o uso de serviços de saúde em tempo adequado
acessibilidade fundamentando-se na proposta para obtenção do melhor resultado possível 13.
de Donabedian. Dentre as contribuições desse Nessa definição, o eixo do conceito é desloca-
autor, estão a sistematização do fluxo de even- do dos elementos que o compõem para seus
tos entre a necessidade e a obtenção dos cuida- resultados e acesso passa a ser sinônimo de
dos necessários (necessidades de saúde ⇒ de- uso, além de ser incorporada ao conceito a di-
sejo de obter cuidados de saúde ⇒ procura ⇒ mensão temporal. Esta dimensão está presente
entrada nos serviços ⇒ continuidade dos cui- em outros autores 14,15 que consideram acesso
dados) e a explícita limitação do âmbito da (ótimo) como a provisão do cuidado adequa-
acessibilidade às etapas de procura e entrada do, no momento adequado e no local adequa-
nos serviços. Desta forma, os determinantes do. Acesso, neste caso, não abrange qualquer
das necessidades e do desejo de procurar cui- uso; limita-se ao uso qualificado, a saber, aque-
dados de saúde, que podem ser incluídos no le que ocorre no momento adequado ao aten-
que Andersen denomina de fatores predispo- dimento do problema de saúde do paciente,
nentes, assim como aqueles que determinam a utilizando recursos corretos e executado da
continuidade dos cuidados, permanecem fora forma correta. Este ajuste entre o problema de
do domínio da acessibilidade. Os primeiros com- saúde do paciente e os recursos e a forma co-
põem os modelos explicativos do uso e o últi- mo são empregados já havia sido indicado por
mo deve ser tratado no domínio da “continui- Donabedian 16 em seu conceito de acessibili-
dade”, que depende mais de fatores associados dade, como apontado anteriormente.
à oferta do que aos indivíduos. Na abordagem do IOM, a importância do
Frenk desenvolve o conceito de acessibili- acesso centra-se no uso de procedimentos de
dade pela idéia de complementaridade entre saúde com potencial para alterar positivamen-
características da oferta e da população. Para te o estado de saúde das pessoas. O acesso re-
esse autor, acessibilidade é a relação funcional fere-se ao uso, no momento adequado, de ser-
entre um conjunto de obstáculos para procu- viços/tecnologias de reconhecida eficácia. In-
rar e obter cuidados (“resistência”) e as corres- teressa saber se oportunidades de bons resulta-
pondentes capacidades da população para su- dos (alteração positiva nas condições de saú-
perar tais obstáculos (“poder de utilização”). A de) estão sendo perdidas por problemas de
resistência inclui aqueles impedimentos que “acesso”. Contudo, uma importante limitação à
não se referem à mera disponibilidade de ser- utilidade desse conceito é que a eficácia de
viços, condição sine qua non do uso. Esses obs- grande parte dos procedimentos preventivos e
táculos (resistência) são classificados como terapêuticos é desconhecida 17. A outra limita-
ecológicos, financeiros e organizacionais. De ção é que mudanças positivas no estado de saú-
forma correspondente, o poder da população é de dependem não apenas do acesso a procedi-
discriminado em poder de tempo e transporte, mentos de saúde de reconhecida eficácia, po-
poder financeiro e poder de lidar com a organi- rém, conforme já indicado, da adequação na
zação. Esse modelo assume que, dados um lu- realização do procedimento (qualidade técni-
gar e um tempo, vários ajustes entre o poder de ca), o que torna a operacionalização do concei-
uso da população e as resistências da oferta são to bastante difícil.
possíveis para um mesmo nível de acessibili- O conceito de acesso do IOM é semelhante
dade. O central nessa abordagem é que nenhum ao que Andersen 6 denomina de “acesso efeti-
desses dois componentes – resistência e poder vo”. No caso do IOM, este conceito assume um
de utilização da população – define o grau de caráter normativo, pois incorpora apenas um
acessibilidade, mas sim a relação entre eles. subconjunto de intervenções, aquele conside-
Por exemplo, o impacto na acessibilidade do rado, com base em critérios pré-estabelecidos,
aumento no preço dos serviços de saúde so- como capaz de produzir impacto positivo nas
mente pode ser avaliado quando comparado condições de saúde da população. Ao mesmo

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tempo, como conceito de resultado, não leva obtenção. Um outro problema é que, além da
em conta os fatores do sistema de saúde que ocorrência de subutilização pela população
explicam as variações nos padrões de uso des- que necessita, existe um percentual, dentre os
sas intervenções em diferentes grupos popula- pacientes que recebem o procedimento, que
cionais. O enfoque da avaliação de acesso vol- dele não necessitavam. Estes últimos não de-
ta-se para diagnosticar a existência de varia- vem compor o denominador da cobertura efe-
ções no acesso (uso) a procedimentos específi- tiva, no entanto, para identificá-los, há que pro-
cos e não para explicá-los. Para autores como ceder a estudos específicos (http://www.rand.
Gold 18, como as dimensões do desempenho org/helath/suerveys/sf36item/questinnaire.
dos sistemas de saúde – acesso, custo, efetivida- html, acessado em 24/Mar/2004).
de e satisfação – tornam-se cada vez mais in- Com base na definição do IOM foram pro-
ter-relacionadas, justifica-se o deslocamento do postas várias medidas de acesso, agrupadas em
eixo do acesso para os resultados dos cuidados. cinco objetivos, que cobrem as fases da vida
Numa abordagem semelhante, a Organiza- ( Tabela 1). Entretanto, as medidas de acesso
ção Mundial da Saúde propôs para discussão propostas são predominantemente represen-
um novo indicador de avaliação do desempe- tadas por indicadores tradicionais de cobertu-
nho dos sistemas de saúde que denominou de ra – proporção da população que tem acesso
“cobertura efetiva”. Cobertura efetiva foi defi- potencial – ou por taxas de utilização de deter-
nida como a proporção da população que ne- minados serviços ou procedimentos. São tradi-
cessita de um determinado procedimento de cionais, pois, na sua maioria, não exprimem o
saúde e que recebeu de forma efetiva este pro- resultado na saúde produzido pelo uso de ser-
cedimento 19. Tal como na definição de acesso viços, de acordo com o sugerido pelo conceito.
do IOM, representa uma medida de resultado Vários autores 18,20 assumem que acesso é
abrangente que mede tanto o acesso potencial, um conceito contexto dependente. Gold 18, ain-
quanto o acesso realizado (uso) e o acesso efe- da que reconhecendo a importância do uso de
tivo (qualidade do cuidado). Apresenta limita- medidas tradicionais de acesso (acesso poten-
ções semelhantes às da medida do IOM, acres- cial), destaca a necessidade do desenvolvimen-
cidas de problemas no cálculo da cobertura, to desse conceito e de sua operacionalização
devido às dificuldades para identificação do para dar conta das recentes mudanças e da
numerador e denominador. Estes têm que con- grande variação dos mercados em saúde nos
siderar apenas aqueles indivíduos para os Estados Unidos.
quais o procedimento em questão tem eficácia Contudo, variações contextuais devem afe-
reconhecida e esta informação não é de fácil tar menos o conceito e mais a especificação dos

Tabela 1

Áreas assistenciais e respectivos indicadores de acesso. Comitê de Monitoramento


do Acesso aos Serviços de Saúde, Instituto de Medicina, Estados Unidos.

Objetivos Atividades e indicadores

Promoção de bons resultados no nascimento Mortalidade infantil


Baixo peso ao nascer
Incidência de sífilis congênita

Redução da incidência em crianças de Vacinação


doenças imunopreviníveis

Detecção e diagnóstico precoce de doenças Rastreamento de câncer de mama e de colo de útero


passíveis de tratamento

Redução dos efeitos das doenças crônica Uso de consultas médicas


e prolongamento da vida

Uso de procedimentos eletivos de alto custo


Redução da morbidade e da dor através de tratamento Internações por grupos específicos de diagnósticos
oportuno e adequado Uso de serviços odontológicos

Fonte: Millman 13.

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modelos explicativos de acesso e a sua opera- processo de utilização dos serviços de saúde e
cionalização, de forma a ter em foco as carac- classificou os modelos revistos como: (a) mo-
terísticas particulares de cada sistema de saú- delos centrados nas etapas de tomada de deci-
de. Por exemplo, cobertura de plano de saúde é são e no comportamento individual; (b) mode-
um indicador tradicional de acesso nos Esta- los de interface, nos quais a utilização é produ-
dos Unidos, e importante atualmente no Bra- to da interação entre os indivíduos e os presta-
sil, mas inexpressivo nos países europeus que dores de serviço. Dentre os modelos existentes
dispõem de sistema de saúde com cobertura serão destacados neste artigo os seguintes: (a)
universal. O mesmo pode ser dito sobre os de- o modelo de crenças em saúde 23; (b) os mode-
terminantes da escolha do plano de saúde, pro- los de Andersen & Newman 7 e de Aday & An-
posto por Gold 18, que não compõem os mode- dersen 5; (c) o modelo de Dutton 24 e (d) o mo-
los explicativos do acesso em sistemas de saú- delo de Evans & Sttodart 25.
de baseados em seguro público de saúde. Va- O modelo comportamental baseado nas
riações nas coberturas a procedimentos espe- crenças dos indivíduos foi desenhado nos anos
cíficos, nos tipos de prestadores de serviços cre- 50 para explicar falhas na adesão aos progra-
denciados, nos incentivos financeiros para o mas de prevenção e detecção precoce de doen-
uso desses serviços, no emprego de outras me- ças. Posteriormente, esse modelo passou a ser
didas de racionamento do uso como o co-pa- aplicado na análise do comportamento dos in-
gamento, na existência de porta de entrada, de divíduos frente a sintomas e doenças e, sobre-
regras para encaminhamento de pacientes, no tudo, para estudar a aderência à prescrição te-
emprego de protocolos de cuidado e no moni- rapêutica 23. Ele busca explicar o comporta-
toramento de qualidade representam algumas mento dos indivíduos em relação à saúde e à
dessas características que diferenciam os mer- utilização dos serviços tomando por base as
cados de saúde. crenças, intenções e percepções dos riscos.
Starfield 17 distingue acesso de acessibilida- O comportamento dos indivíduos em rela-
de. Acessibilidade refere-se a características da ção à saúde depende se consideram suscetíveis
oferta e o acesso é a forma como as pessoas a um determinado problema de saúde, se acre-
percebem a acessibilidade. Outros autores 21 ditam na gravidade das conseqüências deste
também apontam que a forma como as pessoas problema e se acreditam que as ações de saúde
percebem a disponibilidade de serviços afeta a disponíveis podem trazer-lhes benefícios 23. A
decisão de procurá-los. Essa percepção é in- suscetibilidade percebida refere-se à percep-
fluenciada pela experiência passada com os ser- ção subjetiva do risco de ter doença. A gravida-
viços de saúde. Goddard & Smith 20 destacam o de percebida refere-se aos sentimentos e preo-
fato de que a disponibilidade de serviços pode cupações com relação a uma doença e suas
também não ser de conhecimento de todos e conseqüências na saúde (morte, dor ou inca-
que diferentes grupos populacionais variam no pacidade) e nas condições de vida (condições
grau de informação que possuem sobre os ser- de trabalho, vida familiar e relações sociais). A
viços a eles disponíveis. Desse modo, a expe- probabilidade do indivíduo adotar uma “ação
riência com os serviços e as informações que de saúde” é influenciada por três componen-
deles dispõem influenciam a forma como as tes: (a) a propensão à ação; (b) a avaliação das
pessoas percebem as dificuldades/facilidades vantagens e dos inconvenientes de adotar esta
para obterem os serviços de saúde de que ne- ação; e (c) os estímulos internos e externos pa-
cessitam e, portanto, o acesso aos mesmos. ra adotá-la. O balanço entre benefícios e barrei-
ras percebidas com relação à ação a ser adota-
da é descrito como uma análise inconsciente
Utilização de serviços de custo-benefício em que indivíduos pesam
os ganhos da ação contra a percepção de que
As primeiras tentativas de desenvolvimento de esta ação pode ser custosa, perigosa, desagra-
modelos teóricos sobre a utilização dos servi- dável ou inconveniente. A ameaça notada e a
ços de saúde datam das décadas de 50 e 60, des- percepção de que os benefícios são superiores
tacando-se como precursores o modelo de cren- às barreiras para ação são os elementos-chave
ças em saúde (health belief model), apresenta- para a adoção de uma determinada ação pre-
do na década de 50, e o modelo de Andersen 6 ventiva ou prescrição terapêutica 23.
de 1968. Esses modelos ganharam maior com- Dentre esses modelos de explicação da uti-
plexidade e evoluíram com base nos conceitos lização de serviços de saúde existentes, aquele
e relações neles esboçados. proposto por Andersen & Newman 7 tem sido o
Haddad 22 realizou uma extensa revisão bi- mais aplicado tanto nos estudos de utilização,
bliográfica sobre os modelos explicativos do quanto nos estudos de acesso. Neste modelo,

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cuja origem é o trabalho de Andersen de 1968 6, sultas subseqüentes. Porém, a necessidade de


o uso de serviços é dependente de determinan- saúde é um determinante importante tanto no
tes individuais agrupados nos fatores de pre- uso controlado pelo pacientes como no con-
disposição, fatores capacitantes e necessidades trolado pelo médico.
de saúde. O modelo indica a existência de uma Uma tentativa mais recente de pensar a in-
relação entre esses três fatores, de forma que ter-relação entre os elementos que explicam o
os fatores predisponentes influenciam os ca- uso dos serviços de saúde, sobretudo a relação
pacitantes. As necessidades representam o de- entre saúde e uso de serviços de saúde, é o mo-
terminante mais proximal da utilização dos ser- delo proposto por Evans & Stoddart 25, deno-
viços de saúde. Em sua evolução, passa a expli- minado “Modelo de Produção da Saúde”. Des-
car a utilização como produto não exclusivo taca-se por descrever a relação causal recípro-
dos determinantes individuais, mas sim como ca entre doença e utilização, em que somente a
fruto dos fatores individuais, do sistema de saú- doença, e não a saúde, é responsável direta pe-
de e do contexto social, da interação entre es- lo consumo de serviços de saúde. A saúde é to-
ses fatores e da experiência passada de utiliza- mada como fenômeno distinto da doença, que
ção dos serviços. Cumpre ressaltar que até re- não se reduz à sua simples ausência. Essa abor-
centemente os determinantes contextuais (de- dagem vem ao encontro do conceito de saúde
terminantes da sociedade e do sistema de saú- apresentado por Contandriopoulos 31, para o
de) tinham sido operacionalizados nos estudos qual não existe um contínuo entre a saúde e a
empíricos 26. doença, isto é, do estado mais completo de saú-
Vários autores apontam que fatores da ofer- de e bem-estar até a morte, passando pelos di-
ta podem induzir demanda aos serviços de saú- ferentes estágios das doenças e das perdas de
de 27,28,29,30. Tendo-se em conta a importância capacidade funcional. O modelo explicita que
dos fatores ligados à oferta no uso dos serviços, os determinantes da saúde diferem dos deter-
ainda são poucos os modelos que incluem as minantes do uso de serviços de saúde. A doen-
características individuais do prestador/profis- ça – fator diretamente associado ao uso – é um
sional de saúde como fator de explicação do dos elementos, dentre outros, como o grau de
uso; exceção é o modelo proposto por Dutton prosperidade e bem-estar de uma sociedade,
24 . Nele a utilização dos serviços de saúde é que determinam a saúde. A utilização de servi-
compreendida como produto da interação en- ços impacta diretamente a doença, mas apenas
tre clientes, prestadores de cuidado de saúde indiretamente a saúde.
(profissionais) e sistema de saúde. As caracte- Concebido teoricamente para dar conta da
rísticas dos pacientes são compostas pelos de- complexidade dos fatores e dimensões que in-
terminantes individuais definidos por Ander- terferem no processo saúde, doença e uso dos
sen 6. Nas características dos médicos são con- serviços, esse modelo não foi empiricamente
siderados os seguintes elementos: demográfi- testado, necessitando ainda de maior especifi-
cos, formação, experiência e atitudes. O siste- cação de seus elementos. Sua principal quali-
ma de saúde é abordado nesse modelo por in- dade até o momento é sua robusteza teórica.
termédio dos obstáculos estruturais que in-
fluenciam a utilização. Os principais são: obs-
táculos financeiros; temporais (tempo de espe- Considerações finais
ra e distância), organizacionais e aqueles liga-
dos à prática médica. Ao término desta revisão, percebe-se que, ape-
Dutton distingue, no modelo, o uso de ser- sar das discordâncias na terminologia e na
viços cujo controle é preponderantemente de- abrangência dos conceitos de utilização e aces-
terminado pelo paciente (exames preventivos so, podem ser traçadas algumas linhas de con-
e primeiro contato) daquele serviço cujo con- cordância entre os autores. Quanto à termino-
trole é determinado pelos médicos (consultas logia, a acessibilidade é preferida pelos autores
subseqüentes e tratamento prescrito). A utili- que a descrevem como uma característica da
zação dos serviços controlada pelo paciente oferta de serviços de saúde ou do ajuste entre a
dependerá de suas características e das barrei- oferta e a população, seja esta uma caracterís-
ras estruturais do sistema de saúde. Já o uso tica geral 2,11, seja restrita à acessibilidade geo-
dos serviços controlado pelos médicos depen- gráfica 10. Já os autores que optam pelo termo
derá da necessidade de saúde e das caracterís- acesso, em geral, centram-no na entrada inicial
ticas de tais profissionais. Por conseguinte, es- dos serviços de saúde, podendo-se citar, como
se autor também destaca que os elementos de- exemplo, o modelo de Andersen 6. De qualquer
terminantes de uma consulta de primeira vez forma, prevalece a idéia de que acesso é uma
são distintos daqueles que influenciam as con- dimensão do desempenho dos sistemas de saú-

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ACESSO E UTILIZAÇÃO DE SERVIÇOS DE SAÚDE S197

de associada à oferta. Quanto à abrangência do A atual tendência de se deslocar o conceito


conceito, observa-se uma tendência de am- de acesso para os resultados dos cuidados de
pliação do escopo, com deslocamento do seu saúde também apresenta limitações para sua
eixo da entrada nos serviços para os resultados avaliação, uma vez que requer medidas multi-
dos cuidados recebidos. Não obstante a ten- dimensionais de difícil compreensão, opera-
dência recente de empregar-se o conceito ba- cionalização e, muitas vezes, de baixa validade.
seado em resultados, argumenta-se sobre a im- Um outro aspecto importante destacado
portância de manterem-se as distinções entre pelos modelos analisados é a distinção entre os
acesso e uso de serviços de saúde; acesso e con- modelos explicativos da saúde e do uso de ser-
tinuidade do cuidado; e acesso de efetividade viços de saúde. Saúde é entendida como um fe-
dos cuidados prestados. A principal razão é que nômeno bem mais amplo que a doença e não
cada um destes processos corresponde a um se explica unicamente pelo uso de serviços de
modelo explicativo distinto. saúde. Desta forma, a saúde da população não
O uso de serviços pode ser uma medida de resulta diretamente da ação dos sistemas de
acesso, mas não se explica apenas por ele. A saúde.
despeito de o acesso ser um importante deter- Concluindo, considera-se que se deve prio-
minante do uso, o uso efetivo dos serviços de rizar o emprego de medidas que apreendam
saúde resulta de uma multiplicidade de fato- cada uma das etapas no processo de utilização
res. Fatores individuais predisponentes, fatores de serviços, de forma a permitir a verificação
contextuais e relativos à qualidade do cuidado do efeito dos múltiplos fatores explicativos das
influenciam o uso e a efetividade do cuidado. A variações no uso de serviços, como destas nas
continuidade também depende de situações condições de saúde das pessoas e desta forma
distintas daquelas que definem a entrada no orientar melhor a formulação de políticas para
sistema, o que indica a importância de que se- um melhor desempenho dos sistemas de saú-
ja analisada em suas particularidades. de. Para tal é fundamental a construção de mo-
delos teóricos que incorporem as particulari-
dades de cada contexto a ser analisado.

Resumo Colaboradores

O objetivo deste artigo é rever os conceitos de acesso e C. Travassos e M. Martins participaram de todas as
de utilização de serviços de saúde, identificando pon- etapas de levantamento e revisão bibliográfica, estru-
tos de distinção e articulação existentes entre ambos. turação e redação do texto.
Acesso é um conceito complexo, geralmente emprega-
do de forma imprecisa e que muda ao longo do tempo
e de acordo com o contexto. A utilização dos serviços
de saúde representa o centro do funcionamento dos
sistemas de saúde. Apesar das divergências, predomi-
na a visão de que o acesso relaciona-se a característi-
cas da oferta de serviços. O uso de serviços é uma ex-
pressão do acesso, mas não se explica apenas por ele.
Fatores individuais predisponentes e contextuais tam-
bém influenciam o uso. Observa-se uma tendência de
ampliação do escopo do conceito de acesso, com deslo-
camento do seu eixo da entrada nos serviços (uso) pa-
ra os resultados dos cuidados recebidos. O acesso é vis-
to pelo seu impacto na saúde e dependerá também da
adequação do cuidado prestado. Finalmente, destaca-
se que determinantes da saúde diferem daqueles do
uso de serviços e que a utilização de serviços impacta
diretamente a doença, mas apenas indiretamente a
saúde.

Serviços de Saúde; Utilização; Acessibilidade aos Ser-


viços de Saúde

Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20 Sup 2:S190-S198, 2004


S198 Travassos C, Martins M

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