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Exercícios de Equacionamento de Problemas de Redes de Serviços e Sistemas

de Saúde

Elaborado por: Carlos Eduardo A. Campos, Ligia Bahia e Maria de Lourdes T.


Cavalcanti

Tema: Mercado de Trabalho Médico

Sub-tema: Inserção dos Médicos no Mercado de Trabalho Brasileiro

Justificativa e motivação atual: A recusa de médicos (especialmente de


determinadas especialidades) de aceitar os padrões de remuneração praticados
por instituições públicas de saúde, ocorre em várias unidades da federação,
inclusive no Rio de Janeiro, explicitando as insatisfações de profissionais de saúde
com os valores pagos por seus serviços. Os ingredientes da crise de valorização
do trabalho médico são sobejamente conhecidos, contudo as alternativas
apresentadas para corrigir/reduzir as disparidades da remuneração dos médicos
implicam mudanças no sistema de saúde pouco debatidas. Por afetarem a
organização dos serviços de saúde e incidirem diretamente sobre a formação
profissional e o futuro mercado de trabalho médico no Brasil, o tema justifica-se
duplamente.

Conteúdos: 1) Caracterísiticas da profissão médica; 2) Perfil dos médicos


brasileiros; 3) Distruibuição dos médicos no Brasil e em outros países; 4) relaçoes
entre o perfil dos médicos e a organização das redes de serviços e sistemas de
saúde; 5) implicações das diferentes modalidades de remuneração dos médicos
para a qualidade e acesso aos cuidados e assistência nos sistemas de saúde.

Leitura obrigatória:
O Globo (2008) Cooperativa pede para especialistas salário de R$ 13 mil, maior
que o do governador. Secretaria oferece R$ 6 mil. p.12, Rio, 27/01/2008
e Jornal do Sinmed (Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro), 2007. Movimento
volta a se reunir e ganha novos aliados

Sobrinho, C.L.N., Nascimento M.A e Carvalho, F.M (2005) Transformações no


Trabalho Médico. Revista Brasileira de Educação Médica. v .29(2):129-135

O trabalho médico no Estado de São Paulo (2007). CREMESP (Conselho


Regional de Medicina de São Paulo)

Leitura Complementar

Health workers: a global profile, The World Health Report 2006. Capítulo 1.
Disponível em http://www.who.int/whr/2006/06_chap1_en.pdf
Enunciado do Problema:

O número, a distribuição por especialidades e geográfica dos médicos bem


como as formas de remuneração de seu trabalho variam de acordo com os
modelos de sistemas de saúde. Os sistemas baseados na oferta pública
costumam adotar o assalariamento de seus médicos como forma de
pagamento de suas atividades e o pagamento per capita, já os seguros sociais
e os privados clássicos utilizam o denominado fee-for-service (pagamento por
procedimento).

No contexto do debate sobre as reformas dos sistemas de saúde, as polêmicas


em torno do modelo mais adequado de remuneração dos serviços de saúde,
incluindo a dos médicos, concentram-se em torno da associação entre os
gastos crescentes com saúde e o fee-for-service. De forma lateral, questiona-
se também os problemas do assalariamento por seus possíveis efeitos, ainda
que distais, sobre o não incentivo à produtividade dos profissionais de saúde
e à restrição a adoção de inovações tecnológicas e gerenciais. Pode-se dizer
de maneira simplificada que, enquanto o modo de remuneração fee-for-service
induz a realização de procedimentos (parte dos quais são induzidos pela
perspectiva de ganhos dos provedores de serviços), o assalariamento pode
associar-se com a não realização de atividades diagnóstico e terapia que
seriam importantes para a melhoria dos níveis de saúde.

Em virtude das implicações indesejáveis das formas tradicionais de


remuneração, especialmente perante um perfil epidemiológico exigente de
atenção integrada e continuada, surgiram alternativas intermediárias. O
denominado diagnosis related group (DRG)1, a capitação com adicionais de
produtividade e especialmente o pagamento mediante o cumprimento de metas
1
Diagnosis Related Groups'' (DRGs) constituem sistema de classificação de pacientes
internados em hospitais, desenvolvido no final dos anos 60, por uma equipe interdisciplinar de
pesquisadores da Yale University, EUA. O sistema de classificação busca correlacionar os tipos
de pacientes atendidos em regime de internação, com os recursos consumidos durante a
estadia no hospital, criando grupos de pacientes coerentes, do ponto de vista clínico e similares
ou homogêneos quanto ao consumo dos recursos hospitalares, denominados DRGs. Para tal,
foi desenvolvida uma metodologia que utiliza técnicas estatísticas e computacionais,
juntamente com conhecimentos de medicina e dos processos de atendimento hospitalar. Os
critérios de agrupamento levam em conta o CID, idade, sexo e presença de co-morbidades. Os
grandes grupos de diagnóstico são compostos pela subdivisão do CID 9 (ICD –9 –CM) em 25
áreas de diagnóstico: 0) Ungroupable; 1) Nervous System; 2) Eye; 3) Ear, Nose, Mouth And
Throat; 4) Respiratory System; 5)Circulatory System; 6) Digestive System; 7) Hepatobiliary
System And Pâncreas; 8) Musculoskeletal System And Connective Tissue; 9) Skin,
Subcutaneous Tissue And Breast; 10) Endocrine, Nutritional And Metabolic System; 11) Kidney
And Urinary Tract; 12) Male Reproductive System; 13) Female Reproductive System; 14)
Pregnancy, Childbirth And Puerperium; 15) Newborn And Other Neonates (Perinatal Period);
16) Blood and Blood Forming Organs and Immunological Disorders; 17) Myeloproliferative DDs
(Poorly Differentiated Neoplasms); 18) Infectious and Parasitic DDs; 19) Mental Diseases and
Disorders; 20) Alcohol/Drug Use or Induced Mental Disorders; 21) Injuries, Poison And Toxic
Effect of Drugs; 22) Burns; 23) Factors Influencing Health Status; 24) Multiple Significant
Trauma; 25) Human Immunodeficiency Virus Infection.
sanitárias são estratégias que visam minimizar os problemas do acesso,
qualidade e garantia da atenção à saúde.

O indicador clássico para análises do mercado de trabalho médico é número


de médicos por habitante (mil habitantes). A tabela 1, contendo dados sobre a
quantidade de médicos em países selecionados da OECD e a tabela 2, ao
sinalizar a heterogeneidade da distribuição dos médicos no Brasil, segundo
unidade da federação procuram subsidiar as controvérsias sobre os cenários
futuros do mercado de trabalho no país e a respeito da necessidade ou não da
abertura de novas faculdades de medicina no país.

Tabela 2
Número de Médicos no Brasil e População Residente, Brasil,2007
Tabela 1
UF Inscritos Ativos População Méd/1000
Número de Médicos por Habitantes (por AC 1115 564 703.432 0,8
mil hb) em Países Selecionados, 2005 AL 5144 3516 3.085.109 1,1
AM 5470 3229 3.389.072 1,0
Austria 3,5 AP 869 522 636.654 0,8
Belgium 4,0 BA 19756 14345 14.083.710 1,0
CE 10920 7913 8.335.874 0,9
Canada 2,2 DF 15493 8566 2.434.033 3,5
Finland 2,4 ES 9332 6379 3.519.742 1,8
GO 12950 8454 5.840.653 1,4
France 3,4 MA 5200 3694 6.265.077 0,6
Germany 3,4 MG 46941 33759 19.719.285 1,7
MS 5620 3382 2.331.248 1,5
Italy 3,8 MT 4859 3198 2.910.264 1,1
Mexico 1,8 PA 9024 5577 7.249.160 0,8
PB 6559 4271 3.650.303 1,2
Netherlands 3,7 PE 16867 11376 8.590.845 1,3
PI 3760 2565 3.065.459 0,8
Norway 3,7 PR 24903 16786 10.511.862 1,6
Portugal 3,4 RJ 87666 53077 15.738.510 3,4
RN 5629 3746 3.084.107 1,2
Spain 3,8 RO 2559 1282 1.590.001 0,8
Switzerland 3,8 RR 1084 477 415.281 1,1
RS 32017 22992 11.080.322 2,1
United Kingdom 2,4 SC 14446 10115 6.049.234 1,7
United States 2,4 SE 3309 2383 2.033.405 1,2
SP 129068 94995 41.663.623 2,3
Fonte: OECD Health Data 2007 TO 2171 1440 1.358.922 1,1
Total 482731 328603 189.335.187 1,7

Fonte: Portal CFM (Conselho Federal de Medicina)


http://www.portalmedico.org.br/novoportal/index5.asp
Acesso em 4 de fevereiro de 2008
Além dos problemas de distribuição geográfica dos profissionais, o mercado de
trabalho médico no Brasil mostra-se extremamente complexo em relação a
inserção pública e privada. É voz corrente que os médicos considerados bem
sucedidos são aqueles que exercem simultaneamente atividades em
instituições privadas, dispõem de consultórios particulares e são docentes de
faculdades públicas. Na publicação intitulada “Os Mais Admirados da Medicina”
2008 constam entre os melhores médicos, aqueles que declaram múltiplos
vínculos (entre os quais com instituições públicas e privadas de assistência e
universidades). Não é por menos que a natureza do trabalho médico
(considerando as especialidades, a quantidade de profissionais e a inserção no
sistema de saúde) encontra-se na raiz da complexa estrutura do sistema de
saúde brasileiro.

O gráfico 1 abaixo, elaborado a partir da declaração de médicos (eleitos como


os melhores por seus colegas) expõe a distribuição da inserção no mercado
de trabalho de 4 tipos de especialidades, evidencia a predominância dos
múltiplos vínculos dos médicos brasileiros e certa variação da inserção pública
ou privada desses profissionais de acordo com as especialidades.

Proporção de Médicos segundo Especialidades Selecionadas por Tipo de Inserção no


Mercado de Trabalho (Brasil, 2007)

Neurocirurgia

Público Docente
Triplo
Cirurgia Plástica
Só Privado
Privado Docente
Cirurgia Só Público
Cardiovascular
Público-Privado
Sem Informação
Cardiologia

Fonte: Os Mais
0% 20% 40% 60% 80% 100% Admirados da
Medicina, 2008

A preocupação com informações sobre a prática médica como indicadores da


perfomance dos sistemas de saúde integra os estudos realizados pela OECD,
o gráfico seguinte mostra a variação dos valores de remuneração dos médicos
segundo a condição assalariada ou autônoma e especialidade (generalistas) ou
especialidade (especialistas).
Considerando essas informações e com base nos textos para leitura obrigatória
responda:

1) Quais são, na sua opinião, as tendências de curto, médio e longo prazo


para o mercado de trabalho médico no Brasil? Justifique.

2) Leia os perfis dos médicos e identifique qual ou quais as forma de


remuneração (assalariada, fee-for-service, per capita, outras, não
identificável) que correspondem a cada vínculo. Justifique.

a) Destaque da cardiologia brasileira como um dos maiores cardiologistas do século


XX pela Sociedade Brasileira de Cardiologia.

b) Médico no Centro Integrado de Atenção à Saúde Hospital Unimed Vitória, da Clínica


Particular Centrocor e no Instituto de Cardiologia de Laranjeiras.
c) Cirurgião cardiovascular e diretor da divisão de cardiologia do Hospital Regional da
Unimed em Fortaleza, Cardiologista e ecocardiologista do Instituto do Coração e do
Pulmão (Icorp), Cirurgião cardiovascular vinculado a Universidade Federal do Ceará.

d) Diretor clínico e médico do Instituto de Cardiologia de Brasília, médico do Hospital


do Coração do Brasil e Hospital Santa Lúcia de Brasília.

e) Cirurgião vascular do Hospital Albert Einstein, do Hospital Sírio Libanês, do Hospital


Nove de Julho, do Hospital e Maternidade São Luiz e do Hospital São Camilo.

f) Presidente da Braile Biomédica Indústria.

g) Professor Titular de Cirurgia Cardiovascular da Universidade Federal Fluminense,


médico proprietário de clínica particular.

h) Médico cirurgião da equipe do Dr. Paulo Paredes Paulista no Hospital Beneficiência


Portuguesa de São Paulo, Cardiologista do Instituto Jaqueline Issa e Mario Issa de
Cardiologia, Médico Assistente do Instituto do Coração (InCor).

i) Chefe do serviço de cirurgia cardiovascular da Rede D`or de Hospitais e da Casa de


Saúde São José.

j) Diretor de dedicação exclusiva do Serviço de Coronariopatias da USP.

l) Médico assistente do InCor.

m) Médico colaborador da USP.

n) Atua como cirurgião plástico de clínica particular.

0) Médico em consultório particular e no Hospital Albert Einstein.

p) Médico proprietário de clínica particular. Coordenador do Núcleo de Atendimento à


Mulher na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro.

q) Fundador da Clínica Fluminense.

3) Quais as possíveis implicações da atual estrutura do mercado de trabalho


médico no brasileiro para:

a) o acesso oportuno e adequado da população aos cuidados médicos e serviços


de saúde;
b) a qualidade dos serviços de saúde;
c) a satisfação e bem estar dos médicos

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