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CEARÁ 25.05.2009 O POVO ECONOMIA Análise Econômica 21

http://www.opovo.com.br/opovo/economia/880058.html

Crise econômica e instituições no Brasil


Raimundo Porto Filho

“Instituições são as regras do jogo em uma sociedade; mais formalmente,


representam os limites estabelecidos pelo homem para disciplinar as interações
humanas. Em conseqüência, elas estruturam os incentivos que atuam nas trocas
humanas, sejam elas políticas, sociais ou econômicas. As mudanças
institucionais dão forma à maneira pela qual as sociedades evoluem através do
tempo e, assim, constituem-se na chave para a compreensão da mudança
histórica”.
Douglass C. North.

Refletir sobre a erosão da confiança no contexto da atual crise econômica


internacional nos remete à escola Neoinstitucionalista ou Nova Economia
Institucional (NEI). Douglass North, prêmio Nobel de economia em 1993, em sua
obra Custos de Transação, Instituições e Desempenho Econômico, defende que o
desempenho econômico de uma sociedade, em determinado contexto histórico,
é influenciado pela qualidade das suas instituições. North, Ronald Coase, prêmio
Nobel de economia de 1991 por seus estudos dos custos de transação, e Oliver
Williamson, são os principais expoentes dessa corrente do pensamento
econômico, classificada como liberal, que se dedica ao estudo das relações entre
economia, direito e política, e cuja gênese remonta ao início do século XX e aos
estudos de Thorstein Veblen e de outros autores da chamada Velha Economia
Institucional. Para os institucionalistas, novos e velhos, as instituições são o
quarto fator de produção, complementando recursos naturais, capital e
trabalho.

A economia brasileira tem demonstrado elevada resiliência na presente crise


econômica que assola o planeta. O efeito desse autêntico tsunami econômico
mundial na economia nacional supera largamente a “marolinha” apregoada
inicialmente no discurso governista, mas os indicadores econômicos apontam que
seus impactos na economia interna têm sido menores do que os observados nas
economias centrais, especialmente EUA, União Européia e Japão, diversamente

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do observado em outras crises vivenciadas no final do século anterior. Isso
configura um excelente case para os economistas e o instrumental conceitual e
metodológico da NEI ser-lhes-á de utilidade. Mas, atrevo-me especular que
estudos sérios comprovarão o que o nosso bom senso já aponta: as instituições
nacionais, especialmente as econômicas, são fator determinante para a nossa
maior resiliência nessa crise, habilitando-nos também a uma saída mais rápida
da mesma.

As instituições, as “regras do jogo” na conceituação de North, constituem o


capital institucional de uma nação que, junto com seus capitais natural, físico,
financeiro, humano, intelectual e cultural, constituem a riqueza dessa sociedade
em determinada circunstância histórica. Não se deve confundir o capital
institucional com o Governo ou mesmo com o Estado, embora as ações e as
omissões dos agentes desses sejam determinantes, positiva ou negativamente,
para a formação daquele.

Com avanços e recuos próprios da dinâmica social, o capital institucional


brasileiro tem crescido em anos recentes. Apesar da cultura patrimonialista
ainda predominante na política nacional, o que propicia o clientelismo, o
fisiologismo e a corrupção nas esferas pública e privada; da leniência de agentes
do Estado com as ameaças à propriedade privada, perpetradas por grupos
paralegais; da relutância do legislativo e do executivo em promover reformas
modernizadoras efetivas nas áreas fiscal, tributária e política; da manutenção de
regimes previdenciários com regras díspares para os trabalhadores do setor
público e do setor privado, o que configura cidadãos de primeira e de segunda
categoria, em fragrante afronta à igualdade de direitos constitucionais; e de
outras mazelas que, igualmente, encerram ameaças à fortaleza das instituições
nacionais, o saldo positivo é inegável, particularmente na sua subdimensão
econômica.

Como em um processo darwiniano de natureza social, o capital institucional do


Brasil tem crescido com as lutas que levaram à redemocratização e à
consolidação das instituições republicanas pós-constituição de 1988, e que
culminou na eleição do Presidente Lula; com a vitória contra a inflação; com a
reforma patrimonial decorrente do processo de privatização; com a Lei de
Responsabilidade Fiscal; com a reforma do sistema bancário nacional; com a
implantação de programas de proteção social; e com outros importantes avanços
institucionais no âmbito do Estado. Destaque-se que iniciativas de setores da
Sociedade em todo o país também têm contribuído para elevar o capital
institucional do Brasil, como, por exemplo: o fortalecimento dos sindicatos e a
criação das centrais sindicais; as mudanças promovidas no Mercado de Capitais a
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partir do Plano Diretor do Mercado de Capitais, coordenado pela Apimec, e da
adoção dos níveis diferenciados de governança corporativa do Novo Mercado da
Bovespa.

Se os mercados nacionais (de bens e serviços, financeiro, de capitais) têm se


mostrado mais bem preparados para enfrentar os impactos da presente crise
econômica, com a normalidade das respectivas transações, cada qual em sua
própria dinâmica, característica dos sistemas complexos em busca do seu
equilíbrio instável, é resultado, em grande parte, da qualidade do ambiente
institucional do país, conforme asseveram os neoinstitucionalistas.

Mas, o capital institucional é intangível e se fundamenta na confiança que os


agentes depositam nas “regras do jogo” que praticam. Por isso volátil e sujeito a
efeitos colaterais depreciativos decorrentes das atitudes desses agentes, mesmo
quando movidos por interesses legítimos e propósitos elevados. Nesse contexto,
cabe refletir sobre os efeitos colaterais decorrentes de algumas ações de
agentes do Estado no campo fiscal. A garantia de que os municípios receberão
este ano recursos do FPM em valor no mínimo igual ao do ano passado, a
elevação continuada dos gastos públicos federais com pessoal e custeio e a
autêntica “farra” com o dinheiro do contribuinte que se observa no Congresso
Nacional e em algumas Assembléias e Câmaras Legislativas por todo o País são
demonstrações de uma atitude permissiva no campo fiscal, o que é incompatível
com um cenário de crise econômica e de queda na receita tributária, podendo
comprometer o frágil equilíbrio fiscal do país e levantando dúvidas que abalem a
confiança nos fundamentos da economia nacional.

A Sociedade Brasileira não pode tolerar que a crise, financeira em sua gênese e
econômica em seus efeitos, se transforme em fiscal, o que poderá comprometer
a retomada do crescimento econômico do País, quando o mundo experimentar
um novo ciclo expansionista.

> Raimundo Porto Filho é sócio-diretor da BFA e presidente da Apimec Nordeste

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