Você está na página 1de 6

Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

A ADOÇÃO NO BRASIL
PERFÍRIO MENDES*

Resumo: A adoção é o ato jurídico de trazer ao seio familiar uma pessoa no status de
filho, sem que este tenha sido concebido naturalmente. No Brasil, este instituto está
disciplinado no Código Civil de 2002, em seus artigos 1.618 a 1.629, e no Estatuto da
Criança e do Adolescente, Lei n° 8.069/90, que seguem os mandamentos da
Constituição Federal de 1988, a qual estabelece a igualdade entre os filhos de qualquer
natureza. Assim, busca-se esclarecer neste artigo os requisitos para adotar em território
brasileiro e o procedimento de legalização dos filhos adotivos.

Palavras-Chave: Adoção. Procedimento. Legalização.

Abstract: The adoption is the juridical act to bring to the heart of a family a person in
the son or daughter position, who was not naturally conceived. In Brazil, this institute is
taught by the Civil Code at 2002, in its articles 1618 to 1629, and by the Children and
Teenage Statute, Rule n○ 8.069/90, which follow the mandaments of the Brazil’s
Constitution at 1988, which says the equality between children from any origin. So, we
want to show in this article the requests for adoption in the Brazilian lands and the
procedure for adoption children legalization.

Keywords: Adoption. Procedure. Legalization.

1. Introdução

Em 13 de julho de 1999 foi criado o Estatuto da Criança e do Adolescente -


ECA, diploma legal que, dentre suas normas, regulamenta o instituto da Adoção de
crianças no Brasil, tanto aquela feita por brasileiros, quanto por estrangeiros, residentes
ou não no País.
A adoção estatutária, que é definida ao menor de 18 anos não exclui a doção
civil, que é prevista na lei civil e destina-se a todos que sejam maiores de 18 anos,
devendo ser feita mediante escritura pública em Cartório de Notas.
Embora o ECA seja uma lei federal, Istoé, de aplicação em todo território
nacional, a prática da adoção é realizada de forma diferente nos diversos estados, neles,
de forma diferente, por cada juiz da infância e da juventude.

*
Aluno da Graduação em Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC).

5
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

No caso da adoção nacional, porque, ante a inexistência de regra de


procedimento definidas e a necessidade de verificação do caso concreto para a aplicação
do que melhor atenda ao interesse daquela criança, existe um poder de arbítrio muito
grande.
O foro do domicílio dos adotantes é inquestionável para o processo de adoção
plena. Deferida esta, será sentença escrita, mediante mandado do registro civil, no
cartório de residência dos adotantes, se houver mais de uma circunscrição.

2. Quem pode adotar

O estatuto da Criança e do Adolescente, com as modificações introduzidas pelo


novo Código Civil, prevê quem pode adotar:

1. Os maiores de 18 (dezoito) anos1, independentemente do estado civil, o que quer


dizer que os solteiros, casados, separados ou divorciados têm o mesmo direito à adoção,
mantida a diferença de 16 (dezesseis) anos entre o adotante e o adotando2 .
2. Também os companheiros podem adotar em conjunto, provada a estabilidade da
família3.
3. “Ninguém pode ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher,
ou se viverem em união estável”4.
4. Iniciado a adoção por ambos os cônjuges ou companheiros, a adoção será
deferida mesmo que um deles vier a falecer no curso do processo, sendo que idêntica
regra se aplica em caso de separação ou divórcio, nesta última hipótese, havendo
necessidade de estipulação clara sobre quem fica com a guarda da criança e o direito à
visita, e que o estágio de convivência entre adotantes e adotados tenha se iniciado na
constância da vida em comum5. Não pode adotar os ascendentes e os irmãos dos
adotandos, o que significa que os avós não podem adotar os netos, nem se pode adotar
irmãos.

1
Código Civil, art. 1.618.
2
Código Civil, art. 1.619.
3
O Código Civil altera a idade prevista no ECA, que é de 21 anos.
4
Código Civil, art. 1.618, parágrafo único.
5
Código Civil, art. 1.622.

6
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

5. “Enquanto não der contas de sua administração e não saldar os débitos não
poderá o tutor ou o curador adotar o pupilo ou curatelado”.

Preenchidas estas condições, não havendo impedimento para a adoção, ao


pretender iniciar um projeto adotivo, o adotante deve, sempre, procurar o juizado da
criança e juventude da cidade onde vive.
Existe em várias varas o juizado da criança e da juventude programa objetivando
o imediato acolhimento, numa família substituta, da criança recém-nascida em situação
de risco ou abandonada, para evitar o risco do abrigamento.
Através deste programa, imediatamente após o ato de abandono, o interessado
adotante já inscrito no programa é chamado para conhecer e buscar a criança, que fica
em seu poder sob o termo de guarda, mas em garantia de quem poderá adotá-la. Porém,
se for este o caso, ele terá preferência na adoção que se legitima para requerê-la.
Em geral, espera-se um prazo aproximado de 45 (quarenta e cinco) dias para o
início do processo de adoção, que é mais ou menos o prazo equivalente a ao estado
puerperal. Isto porque a mãe pode abandonar um filho em conseqüência de distúrbios
ocasionados pelo parto, passado este período pode procurar reaver o filho que, em sã
consciência não abandonaria.

3. Processo de adoção

Para o início do processo da adoção, necessária a verificação da situação jurídica


da criança, ou seja, se os pais biológicos foram ou não destituído do poder familiar.
Caso haja litigiosidade configurada pela resistência dos pais biológicos ou em virtude
destes encontrarem-se em lugar incertos ou não sabido, exige-se a propositura da ação
destituição do pátrio poder ou mesmo a deflagração cumulando o pedido evidentemente
com a destituição do prévio pátrio poder .
A petição deve ser acompanhada, ad judicia, da certidão de nascimento do
menor e eventual declaração ou certidão sob existência de bens de direito ou rendimento
em nome da criança ou do adolescente. Se o menor não tivesse sido registrado o
advogado pode pedir, em caráter de liminar, o registro dos dados disponíveis, à vista do

7
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

disposto no parágrafo 1°, do artigo 102, do ECA. Deve ser qualificada a criança ou seus
genitores, exceto quando forem desconhecidos.
Em seguida, após decidir sobre a guarda provisória ou suspensão liminar do
pátrio poder, o juiz determinará a citação pessoal dos genitores, realizando um estudo
social do caso em conjunto com a assistente social ou psicólogo, podendo estabelecer o
inicio do eventual estágio de convivência. Logicamente, caso o menor não tem idade
superior ao um 1 (ano) ou, qualquer que seja a sua idade, já estiver em companhia dos
adotantes em tempo suficiente de avaliar convivência da medida, o estágio será
dispensado.
Se o citado não alegar falta de condições de constituir um advogado ou se deixar
passar o prazo legal para impugnar o pedido, o juiz dará vista aos autos ao representante
do Ministério Público, que poderá requerer diligências, as quais serão avaliadas pelo
juiz que designará a audiência de instrução de e julgamento, na qual deve prevalecer o
principio da oralidade.
Em seguida, o representante do Ministério Público emitirá parecer técnico sobre
o pedido. Finalmente, o juiz proferira sentença na própria audiência ou marcará
audiência para a leitura, no prazo de cinco dias. Normalmente, o juiz não fazendo na
própria audiência, prolata a sentença, entregando-a ao cartório para a intimação das
partes.

4. Efeitos da adoção

Como previsto no caput do artigo 1626, do Código Civil “a adoção atribui a


situação de filhos ao adotado, desligando de qualquer vínculo com os pais, parente
consangüíneos, salvo quanto aos impedimentos para o casamento”. A única exceção é
prevista para o caso de quando os cônjuges ou companheiro adotar o filho um do outro.
Nesta hipótese, conforme previsto no parágrafo único, do artigo 1626, Código Civil
“mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o cônjuge ou companheiro do
adotante ou respectivo parente”.
No artigo 1628 do Código Civil, temos:

Os efeitos da adoção começam a partir do trânsito em julgado da sentença,


excetos se o adotante vier a falecer no curso do procedimento, caso em que

8
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

terá força retroativa à data do óbito. Esta relação de parentesco se estabelece


não só entre o adotante e o adotado, como também entre os descendentes
deste e entre o adotando e todos os parentes do adotante.

A criança adotada como filha do adotante, adquire todos os direitos de filha, sem
nenhuma restrição, há uma equiparação plena entre os filhos naturais e adotivos. Não se
faz um novo registro da criança, nem mesmo alusão ao fato da adoção, em respeito ao
princípio constitucional da igualdade entre os filhos de qualquer natureza. Qualquer
alusão à origem da filiação afronta a ordem vigente.
Com o efeito do artigo 1.627 do Código Civil, a sentença de adoção confere ao
adotado o sobrenome do adotante, podendo determinar a modificação do seu prenome,
se menor, a pedido do adotante ou do adotado.
A característica mais concludente da adoção é que ela é irrevogável por previsão
expressa contida no artigo 48, do estatuto da Criança e Adolescente, o que significa que,
uma vez realizada, é definitiva, não há retorno.
E mais, adoção não pode ser revogada por decisão expressa, nem convencional,
entre os adotantes e adotados. A irrevogabilidade da ação não é mais questionada.
Nem mesmo o eventual falecimento dos adotantes restabelece o pátrio poder dos
genitores naturais, situação contemplada no artigo 49, do dito Estatuto.
Isto, entretanto, não significa que os pais adotivos não possam vir a perder o
direito de poder familiar sobre o adotado. Aos genitores adotivos são aplicadas todas as
hipóteses previstas para a suspensão ou extinção do poder familiar. Eles estão sujeitos
aos mesmos deveres de assistência, educação, etc., impostos a qualquer genitor natural,
em decorrência do exercício deste poder/dever. Ocorrida qualquer situação de
negligência, maus tratos ou abandono, os pais adotivos podem ser destituídos do poder
familiar. Esta é uma decorrência, também das disposições legais, pois, ao prever a
isonomia entre filhos naturais e adotivos, sujeita os pais adotivos a todas as
conseqüências decorrentes do exercício indevido do poder familiar.
Da mesma forma, o filho adotado está sujeito aos deveres e conseqüências da
filiação, como por exemplo, o dever de assistência aos pais necessitados, pois o direito a
prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos. E, por disposição constitucional,
no artigo 229, os filhos maiores têm o dever de ajudar a amparar os pais na velhice,
carência ou enfermidade. O filho adotado se sujeita, também, aos efeitos da indignidade
e da deserdação.

9
Revista dos Estudantes da Faculdade de Direito da UFC (on-line). a. 2, v. 5, fev./abr. 2008.

5. Conclusão

A adoção nacional é uma forma de fornecimento de um novo lar a crianças e


adolescentes que foram afastados, pelas mais diversas razões, do seio de suas famílias.
Para que este instituto se formalize é necessário é necessário um processo que
vise à destituição do pátrio poder dos pais biológicos, que só pode ocorrer se
comprovado graves violações aos deveres à paternidade ou à maternidade.
Assim, o princípio constitucional da equiparação de todos os filhos deve ser
respeitado, garantindo ao filho adotado tratamento isonômico em ralação ao filho
biológico.

6. Referências

BANDEIRA, Marcos. Adoção na prática forense. Ilhéus: UESC, 2001.

NOGUEIRA, Paulo Lúcio. Estatuto da criança e do adolescente comentado. São


Paulo: Saraiva, 1996.

10

Você também pode gostar