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(Parte II)
Para chegarmos, analítica e conclusivamente, a esta tese acima, temos que ter em
mente, de modo claro e objetivo, o que de fato aconteceu em Honduras. A partir disso,
poderemos atestar se o rompimento paradigmático que ocorreu foi constitucional e legal ou
se foi, como a imprensa mundial e vários organismos internacionais – como a OEA e a ONU –
se posicionaram, mais um “Golpe de Estado” latinoamericano. Esse é o objetivo do ensaio de
hoje. Vejamos, então.
Desde o início deste ano – por influência da esquerda ditatorial da América Latina,
sobretudo, de Hugo Chávez, presidente “re-re-re-reeleito” da Venezuela – o então Presidente
de Honduras, Zelaya Rosales, sinalizou, politicamente, que gostaria de postergar o seu
mandato presidencial, nos mesmos termos que Hugo Chávez o fez na Venezuela e nos mesmos
termos que outros presidentes sinalizam fazer em seus respectivos países latinoamericanos
(como era o caso do terceiro mandato de Lula). Pois bem. A questão a ser levantada
inicialmente é: isso seria permitido constitucionalmente em Honduras? A resposta é
categórica: não. Só se houver uma alteração constitucional e não um simples referendo como
quis fazer Zelaya. Na realidade, ele achava que tinha o instrumental político necessário para
ludibriar o povo hondurenho, as demais instituições estatais e a imprensa do seu país, como o
fez Hugo Chávez na Venezuela. Mas não conseguiu, porque o Estado Democrático de Direito
em Honduras é mais maduro que em outras pseudo-democracias, como no caso venezuelano.
Seja como for, o fato é que em 23 de março, o então Presidente Zelaya publicou –
mesmo sabendo da sua inconstitucionalidade e forte oposição das instituições estatais – um
decreto (Decreto PCM05-2009), autorizando o Poder Executivo a realizar um processo de
consulta ao povo a respeito da reeleição do mesmo. O decreto – por ferir a Constituição – foi
julgado inconstitucional e ilegal, em 27 de maio, por um Tribunal hondurenho, exatamente,
porque, segundo este, tal decreto violentava o art. 5º da Constituição e o art. 15 da Lei
Eleitoral. Isso porque tais dispositivos do sistema jurídico hondurenho estabelecem que a
única instituição que teria prerrogativa para fazer um processo de consulta como esse seria o
“Tribunal Supremo Electoral” e não o Poder Executivo, como queria Zelaya. Assim, a decisão
judicial anulou o decreto e proibiu a consulta.
Por assim ser, tendo em vista a flagrante violação constitucional e legal cometida
por Zelaya – até mesmo porque este ato já tinha sido extirpado do sistema jurídico pela
decisão judicial anterior – e, sobretudo, por incorrer, ele, com a edição deste novo decreto
(por certo, atentativo aos valores democráticos), na violação ao art. 239 da Constituição
Hondurenha, a promotoria peticionou à Corte Suprema de Honduras a destituição imediata do
Presidente, sob os auspícios das Forças Armadas Hondurenhas, conforme determina a
Constituição em seus dispositivos. E assim ocorreu.
O texto do dispositivo constitucional é claro! Não pode haver reeleição e quem for
de encontro a esta norma constitucional, cessará DE IMEDIATO o exercício do seu cargo e
ainda ficará inelegível por dez anos! Na realidade, deve-se entender que o rigor desta norma
se fundamenta, tendo em vista a história político-constitucional de Honduras que, durante
muitos anos, viveu sob a égide de governos não democráticos que não respeitavam os anseios
do povo e os sistemas constitucionais estabelecidos.