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ROBÔ DE INSPEÇÃO PARA AQUISIÇÃO DE DADOS AMBIENTAIS NA

REGIÃO AMAZÔNICA COM O USO DA NORMA IEEE1451

1
OTAVIO A. CHASE, 2JORGE R. BRITO-DE-SOUZA, 3JOSÉ F. S. ALMEIDA
1,2
Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará – ITEC/UFPA
Rua Augusto Corrêa, 01 – Guamá. CEP66075-110. Caixa Postal 479
E-mails: 1chase@neoradix.com.br, 2jrgbrito@ufpa.br
3
Instituto Ciber Espacial da Universidade Federal Rural da Amazônia – ICIBE/UFRA
Avenida Presidente Tancredo Neves, 2501 – Terra Firme. CEP66077-530. Caixa Postal 917
E-mail: jfelipe@ufra.edu.br

Abstract  This paper presents a remotely operated mobile robot, named ClimaBot, which has a data acquisition system that
collects measured data from smart sensors and uses the IEEE1451 standard. The task of the robot is to carry out inspection and
remote sensing of environmental variables in forests nearby urban areas, a feature that is very common in the Amazon. The sys-
tem is composed of STIM (Smart Transducer Interface Module) modules ─ whose function is to manage and store collected data
from sensors, and a NCAP (Network Capable Application Processor) module that is responsible for capturing and calibrating the
data received from STIM modules, which then are sent to a computer that runs a supervisory system. The flow of information ─
measured data from the sensors and control commands to the robot, is made by a wireless communication channel of the Zigbee
802.15.4 standard. The robot supports up to four STIM modules, which are set in the NCAP module in a plug & play fashion.
This feature reduces the overall development time and does not require any change in the hardware of the system. In this work
two STIM modules are used to measure temperature and moisture. The ClimaBot core processor is a PIC18F548 microcontroller
whose software was developed in C language with assistance from the FreeRTOS library.

Keywords  Mobile Robotics, Smart Sensors, Environment Data Acquisition.

Resumo  Este artigo apresenta o desenvolvimento de um robô móvel operado remotamente, denominado de ClimaBot, que é
dotado de um sistema de aquisição de dados para sensores inteligentes que faz uso da norma IEEE1451. A tarefa do robô é reali-
zar inspeção e sensoriamento remoto de variáveis ambientais em florestas próximas de áreas urbanas, característica muito co-
mum na Amazônia. O sistema é composto por módulos STIM (Smart Transducer Interface Module), cuja função é gerenciar e
armazenar as informações de sensores, e um módulo NCAP (Network Capable Application Processor) responsável pela captura
e calibração dos dados provenientes de módulos STIM, que em seguida são enviados para um computador que executa um sis-
tema supervisório. O fluxo de informação de dados dos sensores e comandos de controle para o robô é feito por um canal de
comunicação wireless, padrão Zigbee 802.15.4. O robô suporta até quatro módulos STIM, cuja integração ao módulo NCAP é
feita na base do plug-&-play. Este modo diminui o tempo de desenvolvimento do projeto e não requer qualquer alteração no
hardware do robô. Este trabalho usa dois módulos STIM para medir temperatura e umidade. O núcleo de processamento do
ROV ClimaBot é um microcontrolador PIC18F548 programado em linguagem C com auxílio da biblioteca FreeRTOS.

Palavras-chave  Robótica Móvel, Sensores Inteligentes, Aquisição de Dados Ambientais.

1 Introdução o que facilita as suas decisões de orientação e contro-


le é preciso que o ROV conte com uma série de sen-
Na última década os sistemas robóticos experimenta- sores. Assim, a especificação do sistema de aquisição
ram grande evolução técnica graças principalmente de dados medidos pelos sensores torna-se um fator
aos avanços ocorridos nas áreas da computação, mi- crítico no projeto de um ROV. Na prática ocorre que
croeletrônica e mecatrônica. Dentre esses sistemas a maioria dos sensores hoje disponíveis no mercado
destacam-se os veículos operados remotamente possui apenas a função de transdutor, e ainda pior,
(VOR), que pertencem à classe dos robôs de inspe- com variados padrões de saída. Tudo isso acarreta
ção, e que são usados em larga escala nas áreas in- um maior tempo para realização do projeto global do
dustrial, militar e espacial. Em geral eles são empre- ROV.
gados em ambientes de difícil acesso ou que conte- Diante da necessidade de definir-se uma interface
nham materiais perigosos (NOAA, 2006). padrão para a aquisição de dados, e de atribuir-se
Os VORs ou ROVs (Remotely Operated Vehi- novas funcionalidades aos diversos sensores, genera-
cles) ganharam visibilidade e/ou popularidade mun- lizou-se o uso de microcontroladores como instru-
dial graças ao seu emprego em missões arrojadas, tais mento para o suprimento dessas necessidades. Esses
como no caso do robô Spirit ─ um ROV terrestre dispositivos podem executar em seu firmware pro-
enviado pela NASA ao planeta Marte; ou no caso do gramas de correção, calibração, diagnóstico e identi-
robô Scorpio-45 ─ um ROV submarino da real mari- ficação de sensores, além de conectá-los em rede. A
nha inglesa que atuou com sucesso no resgate dos integração entre um sensor e um microcontrolador
tripulantes do submarino russo AS-28. em um único dispositivo constitui o que se conven-
Para que o operador do ROV disponha de um me- cionou denominar de sensor inteligente (Viegas,
lhor conhecimento sobre o seu ambiente de atuação, 2003).
Nos últimos anos tem havido uma disputa acirra- namento de qualquer sensor em qualquer rede que
da, entre diferentes fabricantes, para a produção e funcione com qualquer protocolo.
venda de sensores cada vez mais inteligentes, bara- Em setembro de 1993, reuniram-se na Filadélfia
tos, compatíveis com um número cada vez maior de (EUA), representantes do NIST (National Institute of
protocolos de rede e auxiliados pelas melhores fer- Standards and Technology) e do IEEE (Institute of
ramentas de software. O resultado dessa competição Electrical and Eletronic Engineers), para discutir
foi o lançamento no mercado de muitos e diferentes sobre as tecnologias dos sensores inteligentes. Nesta
produtos, o que deu lugar a um grave problema de reunião foi definida a criação de uma interface de
falta de compatibilidade, decorrente do crescimento comunicação comum aos sensores inteligentes. Para
abrupto do número de protocolos de rede, cada um tanto foram criados quatro grupos de trabalho para
deles com suas vantagens e desvantagens. A solução atender os diversos aspectos desta interface (Viegas,
para este problema foi a criação e adoção da norma 2003). Os grupos criados foram:
IEEE1451 que constitui uma interface universal para → P1451.1 – Responsável por definir a arquitetura
sensores inteligentes, e com a qual todos os protoco- do processador de rede, denominado NCAP.
los de rede são compatíveis. Sua função é interfacear os sensores inteligentes
Este trabalho apresenta o desenvolvimento de um com as redes de comunicação.
ROV terrestre denominado de ClimaBot, cuja função
é realizar a leitura dos sensores de temperatura e u- → P1451.2 – Responsável por definir um modelo
midade do ar em florestas urbanas. Ele conta com a de referência para o módulo de sensor inteligen-
versatilidade para a adição automática de mais senso- te denominado STIM. Sua função é descrever as
res (plug-&-play), com o uso da norma IEEE1451. funcionalidades do sensor, como será feita a sua
Isto possibilita que a qualquer tempo o robô possa interface digital de comunicação com o NCAP e
receber novas funções, mediante a simples adição de a memória descritiva do sensor, conhecida co-
novos sensores para a realização da nova aplicação. mo TEDS (Transducer Eletronic Data Sheet).
O ClimaBot conta com um sistema embarcado → P1451.3 – Responsável por definir uma interfa-
que foi desenvolvido para adequar a leitura dos sen- ce de comunicação em sistemas distribuídos de
sores do robô à norma IEEE1451. A principal missão sensores inteligentes.
do ROV é monitorar a temperatura e umidade de → P1451.4 – Responsável por definir uma interfa-
florestas próximas ao meio urbano, pois estas variá- ce de comunicação mista para sensores que tem
veis influem diretamente no clima das regiões metro- saída analógica.
politanas, como é comum em regiões da Amazônia
de clima tropical. Os dados coletados ao longo de um
2.1 O Módulo NCAP
ano serão objetos de estudos para a determinação dos
fatores determinantes das variações das temperaturas
A norma IEEE1451.1 – Network Capable Applicati-
média, mínima e máxima no parque experimental de
on Processor (NCAP) – define um modelo orientado
manejo florestal da UFRA.
a objetos para representar qualquer sensor inteligente
O restante deste artigo é organizado da seguinte ligado a uma rede.
maneira. Na Seção 2 são apresentados os detalhes da
O modelo genérico visto na Figura 1 deve ser
norma IEEE1451 e sua aplicação no sistema embar-
implementado em um processador (processador de
cado desenvolvido. Na Seção 3 é apresentado o de-
rede) que possua ao menos duas portas de comunica-
senvolvimento e o modelo cinemático do ClimaBot.
ção – uma para servir ao sensor inteligente (módulo
Os resultados experimentais e a conclusão do projeto
STIM) e a outra à rede de comunicação. O NCAP
são apresentados nas Seções 4 e 5.
realiza a leitura dos módulos STIM e os dados adqui-
ridos são enviados para a rede de comunicação assim
2 A Norma IEEE1451 que solicitados por algum computador da rede (Vie-
gas, 2003). Portanto, o NCAP cumpre o papel de
interface entre o sensor inteligente e a rede.
A norma IEEE1451 define um conjunto de diretrizes
de hardware e software, ao invés de um novo proto-
colo de rede. O objetivo é direcionar o problema de
interface entre sensores e os diferentes protocolos de
redes, a fim de separar o projeto dos sensores da es-
colha da rede de comunicação. Com isto os fabrican-
tes de sensores preocupam-se apenas na melhoria da
tecnologia dos sensores, o que acarreta a melhoria da
qualidade destes dispositivos, bem como na redução
do seu preço, uma vez que não existem problemas
para adaptá-los às diversas redes hoje existentes. O
principal objetivo desta norma é permitir o funcio-
Figura 1. Módulo NCAP e suas conexões.
O módulo NCAP desenvolvido neste trabalho é se fosse uma extensão de memória: todas as funções
apresentado na Figura 2 e ele utiliza um microcontro- do STIM são chamadas através de um endereço de
lador PIC18F458 no gerenciamento de suas funções. função e são encaminhadas para um sensor, através
de um endereço de canal.
O segundo nível define a interface de comunica-
ção digital entre os STIMs e o NCAP, denominada
interface independente do sensor (TII ─ Transducer
Independent Interface). Desta forma o fabricante do
STIM pode abstrair-se da rede (tratada pelo NCAP) e
orientar o seu desenvolvimento apenas para a interfa-
ce normalizada (Viegas, 2003).
O módulo STIM desenvolvido neste trabalho é
implementado com um microcontrolador PIC16F877,
e sua configuração é mostrada na Figura 4. Este
Figura 2. Hardware NCAP hardware realiza a aquisição dos dados de temperatu-
ra e umidade através do sensor integrado SHT75.
Este sensor tem saída digital cujas características
Este hardware tem capacidade para leitura de até estão gravadas na memória e2prom do microcontro-
quatro canais com módulos STIM. A interface nor- lador. Referidas características, que constituem a
malizada entre os módulos é um barramento de co- memória descritiva do sensor (TEDS), são as que
municação do tipo RS-485, que o NCAP rastreia a constam na Tabela 1.
cada minuto para leitura dos sensores. A interface
com a rede de comunicação é feita por um transcep-
tor Zigbee 802.15.4, também ligado ao barramento,
que realiza a comunicação com o sistema supervisó-
rio.

2.2 O módulo STIM

A norma IEEE1451.2, que trata dos Smart Transdu-


cer Interface Module (STIM) e dos Transducer Ele-
tronic Data Sheet (TEDS), define a arquitetura do
módulo de transdução inteligente e a comunicação
deste com o NCAP, de acordo com a Figura 3. Figura 4. Hardware STIM
O STIM realiza as tarefas de aquisição, condicio-
namento e digitalização do sinal medido por cada
O módulo STIM tem cinco fios: tensão de alimen-
sensor. Os sinais recebidos por este módulo podem
tação, terra, emissão de dados, recepção de dados, e
ser analógicos ou digitais. No caso de sinais analógi-
uma saída TTL em nível alto para indicar ao NCAP a
cos, estes devem ser primeiramente condicionados e
presença do módulo. Não há restrições na escolha da
convertidos para o formato digital. Esta norma não
interface normalizada TII. Neste trabalho o barra-
impõe restrições com relação aos sensores a serem
mento de comunicação RS-485 entre os módulos foi
utilizados, portanto, a escolha destes dispositivos fica
escolhido devido à facilidade para a adição de novos
a critério do fabricante. A norma IEEE1451.2 especi-
módulos STIM em seu barramento, às suas altas ta-
fica a forma de comunicação entre os STIMs e o
xas de transferência (de 1 a 10 Mbps), e à sua imuni-
NCAP, que é feita em dois níveis.
dade a ruídos.
O primeiro nível define as funcionalidades do
STIM e o modo como estas são acessíveis ao NCAP.
Segundo a norma, o NCAP se junta ao STIM como Tabela 1. Organização do TEDS para cada sensor

Parâmetros Posição de memória


Tipo do Sensor N°
N° de série do Sensor
Modelo
Fabricante 10 posições de 8 bits
Data da Fabricação para cada parâmetro.
ID de leitura
Faixa Dinâmica do Sensor

Figura 3. Módulo STIM e suas conexões


3 Características do Robô Móvel ClimaBot 3.1 Modelo Cinemático do Robô ClimaBot
O ClimaBot conta com duas rodas independentes,
A Figura 5 mostra uma foto do robô móvel Clima- à esquerda e direita de sua parte dianteira, e uma ter-
Bot, da classe ROV, desenvolvido no presente traba- ceira roda de sustentação na parte central traseira. O
lho. Ele ainda é uma versão do tipo protótipo, mas já seu movimento é diferencial com três graus de liber-
executa todas as funções descritas neste artigo. dade, e de natureza não-holonômica.
Um robô móvel terrestre pode ser especificado
em seu ambiente de atuação por seu vetor de configu-
rações q (t ) cuja dimensão é o número de graus de
liberdade do robô e representa o número mínimo de
variáveis independentes que, juntamente com sua
geometria, são necessárias para especificar comple-
tamente o robô (Pereira e Chaimowicz, 2008). O
robô móvel terrestre ClimaBot pode ser especificado
pelo vetor
T
q (t ) = [ x (t ), y (t ), θ (t ) ] (1)

onde x(t ) e y (t ) especificam a posição cartesiana


Figura 5. Protótipo do robô móvel ClimaBot
do robô em relação a um referencial fixo {W } do seu
ambiente de atuação, e θ (t ) especifica sua orienta-
Este robô conta com uma série de periféricos,
dentre eles uma câmera de vídeo IP Linksys ─ para a ção. As velocidades dos atuadores (motores) são re-
captura de imagens; e uma bussola digital CMPS03 lacionadas às velocidades de um referencial fixo no
─ para orientar o operador do robô. Para monitora- robô, que em geral é o seu próprio centro de massa.
mento do ambiente usa-se dois sensores: o LM35, de O modelo cinemático de um robô móvel é dado
temperatura, com saída analógica de 10mV/°C e fai- por
xa dinâmica de -55°C a 150°C; e o SHT75, de tem- q& (t ) = G(q )u (t ) (2)
peratura e umidade, com saída digital do tipo 2-wire,
com faixas dinâmicas de -40°C a 125°C e 0 a 100%. onde q& (t ) é a derivada de q (t ) , e u (t ) é o vetor de
A estrutura física do robô é feita de alumínio na- controle, cujas componentes são as velocidades de
val com revestimento pneumático, e suas dimensões atuação do robô. A matriz G (q ) é quadrada quando
são de 40cm x 50cm. Possui duas rodas independen-
o vetor de controle possui dimensão igual ao número
tes, à esquerda e direita, e uma roda de sustentação
de graus de liberdade do robô. Porém, para a grande
traseira. As rodas laterais são acopladas a dois moto-
maioria dos robôs móveis, a matriz G (q ) não é qua-
res DC de 115RPM, com tensão de 12V e torque de
44Kgf.cm. O acoplamento é feito através de mancais drada, já que o número de velocidades de atuação é
para evitar que o peso do robô sobrecarregue os eixos menor que o número de graus de liberdade do siste-
dos motores. Os motores são alimentados por uma ma.
bateria DC de 12V/9Ah. O circuito de controle é Isto geralmente é caracterizado por restrições de
alimentado por outra bateria independente, de 6V/ movimento que não permitem o controle independen-
3Ah, para reduzir o nível de ruído. te de todas as variáveis do vetor de configurações.
O núcleo de processamento é o microcontrolador Desta forma o robô não pode se mover lateralmente,
PIC18F458 que, além de exercer a tarefa de NCAP, e assim diversas manobras devem ser executadas para
tem a função de controlar a velocidade e tração dife- aproximá-lo de uma parede ou movimentá-lo em um
rencial dos motores. Os sinais de controle são duas ambiente estreito, isto é, para controlar sua configu-
saídas PWM que regulam as velocidades, e quatro ração ( x , y ,θ ) . Restrições deste tipo são conhecidas
sinais TTL para o sentido de giro. O chaveamento como restrições não-holonômicas.
destes sinais é feito por pontes-h modelo LMD O efeito deste tipo de restrição é reduzir o número
18201T, uma para cada motor. A freqüência do sinal de velocidades independentes do robô, o que o torna
PWM é de 500Hz. O núcleo é programado em lin- um sistema subatuado (Pereira e Chaimowicz, 2008).
guagem C com uso da biblioteca FreeRTOS para Os robôs com restrições não holonômicas são cha-
gerenciamento das tarefas em tempo real. mados de robôs não holonômicos. Os robôs que não
Os sinais de comandos para movimentação do ro- possuem estas restrições são sistemas (plenamente)
bô, assim como os dados capturados dos sensores, atuados e são conhecidos como robôs holonômicos.
são transmitidos por comunicação wireless através de O robô móvel diferencial em seu projeto é consti-
um módulo Zigbee padrão 802.15.4. Trata-se de uma tuído de duas rodas montadas em um eixo imaginário
tecnologia de alta confiabilidade, baseada em radio- e controladas por motores independentes, conforme
freqüência, que opera a 2.4GHz, em modo half- mostra o do seu modelo cinemático (Figura 6).
duplex bidirecional, e com canal criptografado.
Decompondo-se a velocidade linear do robô em
suas componentes x(t ) , y (t ) e ω (t ) , onde
ω (t ) = θ&(t ) , chega-se às seguintes equações:

 x& (t ) = V (t ) cos(θ (t ))
 (5)
 y& (t ) = V (t ) sen(θ (t ))
 θ&(t ) = ω (t ).

Figura 6. Plano de referência global e local do robô Substituindo V e ω em (5), chega-se ao seguinte
modelo cinemático em espaço de estados para um
robô móvel diferencial terrestre:
O par {WX ,WY } representa o frame de coordenadas
do ambiente de atuação do robô, {W } , e { RX , RY }  x& (t )   r cos θ (t ) / 2 r cos θ (t ) / 2
    ωr (t )  (6)
representa o frame de coordenadas locais (próprias)  y& (t )  =  r senθ (t ) / 2 r senθ (t ) / 2  ω (t )  .
θ&(t )   r / L
  −r / L   l 
do robô, { R} (Siegwart e Nourbakhsh, 2004).
O modelo cinemático deve relacionar a velocida- Em (6) observa-se que o número de entradas de
de das rodas com as velocidades do referencial fixo controle independentes é menor que o número de
em seu centro de massa. As rodas do robô só se mo- graus de liberdade devido à existência de uma restri-
vem na direção em que estão apontadas, e possuem ção não-holonômica, que é representada por
velocidade zero na direção perpendicular a esta. Des-
ta forma não ocorre derrapagem lateral. x& sen(θ ) − y& cos(θ ) = 0 (7)
Para que esta condição seja satisfeita, deve existir
um ponto em torno do qual cada uma das rodas do A equação (7) mostra que a componente de velo-
robô segue um caminho circular, mesmo que este cidade perpendicular do robô móvel deve ser nula, e
ponto esteja no infinito (caminho retilíneo). Este pon- a conseqüência disso é a dependência entre as velo-
to é chamado de centro instantâneo de curvatura, ICC cidades x& e y& . A restrição não-holonômica de robôs
(Instantaneous Center of Curvature). O ICC sempre móveis terrestres é conseqüência direta da forma em
fica localizado no ponto do eixo comum das rodas que as rodas são usadas em sua locomoção (Pereira e
laterais. Chaimowicz, 2008).
Como o robô é um corpo rígido, as rodas direita e
esquerda devem se mover simultaneamente ao redor
do ICC com a mesma velocidade angular ω , que é 4 Resultados Experimentais
dada por
A Figura 7 apresenta a tela principal do programa de
controle do robô móvel diferencial terrestre Clima-
 vr r ⋅ ωr
ω = R + L / 2 = R + L / 2 Bot. Ele foi desenvolvido em linguagem C++, através
 (3) do ambiente de desenvolvimento Microsoft Visual

ω = vl r ⋅ ωl C++ 6.0, e com o uso do conjunto de bibliotecas
=
 R− L/ 2 R−L/2 DirectX para aquisição de imagens da câmera IP e
dos sinais de comando do joystick.
Onde vr e vl são as velocidades lineares das rodas
direita e esquerda, respectivamente, ωr e ωl são as
correspondentes velocidades angulares, r é o raio
das rodas, L é a distância entre os seus centros e R
é o raio de curvatura instantâneo do caminho do robô
móvel. Resolvendo-se para R e ω as equações (3),
e dado que a velocidade linear V do centro de massa
do robô é o produto de R e ω , obtém-se

 L (ωl + ωr )
 R = 2 ⋅ (ω − ω )
 r l

 r (ωr − ωl )
ω = (4)
 L
 r (ωr + ωl ) Figura 7. Programa de controle do ClimaBot.
V = L

O programa tem as funções de enviar os coman- 5 Conclusão
dos de controle do ClimaBot, e realizar a aquisição
das strings referentes aos dados dos sensores de O robô ClimaBot cumpriu as tarefas iniciais de nave-
temperatura e umidade das regiões florestais e urba- gar no interior do parque experimental de manejo
nas respectivamente. Os dados referentes à coleta são florestal da UFRA, situado na periferia de Belém e
gravados em um banco de dados desenvolvido com o próximo do campus da UFPA. Durante a navegação
sistema gerenciador MySQL. ele coletou dados ambientais referentes à temperatura
Para isto o programa é processado em um compu- e à umidade relativa do ar.
tador dotado de um transceptor Zigbee para o fluxo No estágio atual, o projeto ClimaBot encontra-se
de strings, um roteador wireless para aquisição dos na fase de prototipagem e constitui um projeto de
sinais de vídeo, e comunicação com um coletor me- baixo custo, cuja ênfase didática é a aplicação de
teorológico local de temperatura e umidade. Este tecnologias para solução e prevenção de problemas
aparato é localizado na estação de controle do robô. do meio ambiente, principalmente em regiões como a
As informações climáticas obtidas no interior das Amazônia, que devido suas particularidades biológi-
florestas apontam que a temperatura do ar, diária ou cas, demanda de sistemas exclusivos para o monito-
mensal, é inferior àquela obtida fora do domínio flo- ramento ambiental.
restal. As diferenças maiores ocorrem durante os Por ser flexível, o ClimaBot também pode atuar
períodos mais quentes, e as temperaturas máximas em plantações de milho, arroz e outros cereais onde
são mais afetadas do que as mínimas. os parâmetros de temperatura e umidade do solo e do
A baixa temperatura no interior das florestas é ar são fatores importantes para integridade de uma
responsável pela umidade relativa do ar mais alta. boa colheita (EMBRAPA, 2008). Nessas aplicações,
Por isto, as florestas são mais úmidas mesmo que a faz-se necessário o uso de um invólucro impermeável
temperatura do ponto de orvalho e a pressão do vapor para adaptar o sensor, de forma que ele possa ser
d’água ambiental sejam aproximadamente iguais às imerso na terra.
da área externa (cidade). A Figura 8 mostra o gráfico Em futuro breve pretende-se incorporar ao robô
da evolução da temperatura (29°C) e umidade relati- ClimaBot outros sensores, tais como anemômetros,
va do ar (58%) em aproximadamente cinco dias. detectores de poluição do ar, medidores de pressão
atmosférica, que integrados a módulos STIM poderão
ser instalados fácil e/ou automaticamente no sistema
de aquisição de dados do robô, mediante o bom uso
da boa norma IEEE1451.

Referências Bibliográficas

NOAA. (2006). Remotely Operated Vehicles (ROV):


<http://oceanexplorer.noaa.gov/technology/subs/r
ov/rov.html> Acesso em: Novembro de 2007,
EUA.
Viegas, V. M. R. (2004). Projeto e Implementação de
um Sistema de Sensores Inteligentes Baseado na
Norma IEEE1451, Dissertação de mestrado em
Figura 8. Temperatura e umidade do ar versus Tempo Engenharia Eletrotécnica e de Computadores,
Universidade Técnica de Lisboa, 241f., Portugal.
Com o uso e análise destas informações é possível AFUBRA. (2004). A Floresta e o Ar. Disponível em:
identificar comportamentos climáticos nas regiões <http://www.sefloral.com.br/> Acesso em:
florestais quando comparadas a dados climáticos das Dezembro de 2007, Brasil.
cidades. Um exemplo é detectar altas temperaturas e Pereira, G. A. S. e Chaimowicz, L. (2008).
baixa umidade na região florestal, isto indica um for- Enciclopédia de Automática – Controle &
te risco de incêndio. A vantagem de se detectar estes Automação. Vol. 3. Editora Edgard Blucher
comportamentos antecipadamente é que assim pode- Ltda, Brasil.
se prevenir e evitar possíveis acidentes ambientais, e Siegwart, R. and Nourbakhsh, I. R. (2004).
que tais situações se alastrem para a região urbana. Introduction to Autonomous Mobile Robots. MIT
O robô pode ser usado em ambientes antropiza- Press, EUA.
dos, que são áreas rurais como pequenas cidades ri- IBAMA. (1992). Cartilha ECO-92 de Emergencias
beirinhas ou encravadas na floresta. E em centros de Ambientais na Região Amazônica. 33f., Brasil.
pesquisa do campo (IBAMA, 1992). EMBRAPA. (2008). Guia do Cultivo de Cereais.
80f., Brasil.

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