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PROCESSO TC-02123/0S
Adrnínístração Indireta Municipal. Instituto de Previdência do
Publicado no D, O. E Município de João Pessoa (IPM). Prestação de Contas relativa ao
Em, .Jl.--'4-' CJ cf
exercício de 2004. Regularidade (período: 01/01/2004
31/03/2004). Irregularidade (período: 01/04/2004 a 31/12/2004).
Imputação de débito. Multa. Constituição de processo autônomo.
a
Recomendação.
RELATÓRIO:
o Processo TC-02123/05 corresponde à Prestação de Contas relativa ao exercício de 2004, do
Instituto de Previdência do Município de João Pessoa (IPM), tendo por gestores o Sr. Durval Ferreira
da Silva Filho (período: 01/01/2004 a 31/03/2004) e o Sr. Antonio Roberto Vasconcelos Mota (período:
01/04/2004 a 31/12/2004).
A Diretoria de Auditoria e Fiscalização - Departamento de Acompanhamento da Gestão Municipal I -
Divisão de Acompanhamento da Gestão Municipal I - (DIAFI/DEAGM I/DIAGM I) deste Tribunal
emitiu, com data de 24/03/2006, o Relatório de fls. 145-154, cujas conclusões são resumidas a seguir:
1) A prestação de contas foi entregue dentro do prazo legal.
2) A receita efetivamente arrecadada atingiu o valor total de R$ 18.920.395,68, sendo 99,33%
deste valor referente às Receitas de Contribuições.
3) A despesa realizada atingiu o valor total de R$ 26.364.444,26, evidenciando um déficit na
execução orçamentária no valor de R$ 7.444.048,58.
4) A Receita Extra-Orçamentária atingiu R$ 85.619.311,65 e a Despesa Extra-Orçamentária
totalizou R$ 78.108.002,83.
5) O Balanço Patrimonial apresentou o valor total do ativo e passivo em R$ 2.325.586,44.
6) A Demonstração das Variações Patrimoniais apresenta um superávit patrimonial no valor de R$
2.084.353,17.
7) O Balanço Financeiro apresentou um saldo para o exercício seguinte de R$ 136.949,16.
Em razão das irregularidades apontadas pelo Órgão Auditor e em atenção aos princípios
constitucionais da ampla defesa, do contraditório e do devido processo legal, previstos na CF, art. 5°,
L1V e LV, foram notificados os interessados para apresentação de defesa, todavia as partes
interessadas deixaram escoar o prazo regimental sem qualquer apresentação de esclarecimentos ou
documentos, permanecendo, assim, as seguintes irregularidades:
1) Relatório de Atividades sem atender o que preceitua a Resolução TC 07/9i;
2) Falha na elaboração do Balanço Financeiro;
3) Ausência de Plano de Avaliação ou Reavaliação Atuarial e Equilíbrio Atuarial;
4) Inexistência de levantamento inerente à dívida da Prefeitura e da Câmara Municipal para com o
IPM;
5) Inobservância ao que preceitua o § 3°, do art. 17 da Portaria MPAS 4992/992, tendo as
despesas de custeio (despesas administrativas) atingido 2,29% da folha bruta da Prefeitura e
da Câmara Municipal;
6) Inexistência de Registro Individualizado das Contribuições dos Servidores;
7) Inexistência de almoxarifado e tombamento dos bens móveis e materiais permanentes;
8) Gratificações sem embasamento legal. r
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1 Art. 2°,§ 1° - relatório detalhado das atividades desenvolvidas contendo informações de caráter técnico-operacional e eco-
nômico-financeiro do ente.
2 Limite máximo de 2% da folha bruta da Prefeitura e da Câmara Municipal para as despesas de custeio (despesas administra-
tivas) dos Institutos de Previdência.
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Chamado mais uma vez aos autos, o Ministério Público junto a este Tribunal emitiu novo parecer de
nO 0341/2009 (fls. 2621265), da lavra do ilustre Procurador André Carlo Torres Pontes, o qual após
discorrer sobre a fundamentação legal das irregularidades apontadas pelo Órgão Auditor,
acompanhou o posicionamento deste, destacando que:
VOTO DO RELATOR:
Nos presentes autos, o relatório da Auditoria evidenciou a permanência das seguintes irregularidades
com relação aos gestores do Instituto no exercício de 2004:
1) Relatório de Atividades sem atender o que preceitua a Resolução TC 07/971:
O Relatório de Atividades constante nos autos não apresenta informações de caráter técnico-
operacional e econômico-financeiro, inviabilizando uma visão no que se refere aos dados
quantitativos, qualitativos e financeiros relativo às atividades fins do Instituto, descumprindo a
Resolução Normativa TC nO07/97.
2) Ausência de Plano de Avaliação ou Reavaliação Atuarial e Equilíbrio Atuarial:
A legislação previdenciária federal, em especial a Lei nO 9.717/98 e a Portaria MPS nO4.992/99,
estabelece a obrigatoriedade de realização de avaliação atuarial inicial e em cada balanço, a fim de
realizar a revisão do plano de custeio do RPPS, constituindo instrumento de suma importância
para a manutenção do equilíbrio financeiro e atuarial, visando a preservação da viabilidade do
regime e o pagamento dos benefícios aos segurados. O IPM só implementou seu Plano de
Avaliação Atuarial a partir do exercício de 2005.
3) Inexistência de Registro Individualizado das Contribuições dos Servidores:
3
Tal situação contraria o inciso VII, art. 1° da Lei 9.717/98 , bem como o inciso VII, art. 2° c/c o art.
12° da Portaria MPAS nO4.992/994. Os registros individualizados iniciaram no exercício de 2005.
4) Inexistência de almoxarifado e tombamento dos bens móveis e materiais permanentes:
A inexistência dos controles citados impossibilita a verificação documental e física da entrada dos
materiais e bens móveis adquiridos pela Edilidade.
5) Gratificações sem embasamento legal:
O Instituto não possui quadro próprio de pessoal, conseqüentemente inexiste fundamentação legal
para as gratificações pagas a funcionários, concedidas através de portaria do superintendente do
IPM, sem a existência de critérios objetivos para a determinação de seus valores, infringindo os
princípios constitucionais da legalidade e da isonomia, bem como o art. 61, inciso li, alínea "a" da
Constituição Federal'', o qual determina que as gratificações devem ser concedidas através de lei
de iniciativa do Executivo Municipal.
6) Despesa não comprovada de R$ 7.000,00 com pagamento de serviço de reavaliação atuarial
relativo ao exercício de 2004 que não foi apresentado:
Não há nos autos, mesmo após notificação e apresentação de defesa por parte dos interessados,
o trabalho referente à Reavaliação Atuarial realizada pela empresa Atuarial Consultoria e
Assessoria Empresarial LTOA, identificação constante no recibo e na nota fiscal encaminhada
pelos defendentes. O IPM só i~plementou seu Plano inicial de Avaliação Atuarial a partir do
exercício de 2005. ~_,.:
3 Art. 1!! Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municipios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal deverão ser organizados, baseados em normas gerais de contabili-
dade e atuária, de modo a garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial, observados os seguintes critérios:
VII - registro contábil individualizado das contribuições de cada servidor e dos entes estatais, conforme diretrizes gerais;
4 Art. 2° Os regimes próprios de previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, e dos militares dos Estados e do Distrito Federal, incluídas suas autarquias e fundações, deverão ser organizados
com base em normas gerais de contabilidade e atuária, de modo a garantir o seu equilíbrio financeiro e atuarial, observados
os seguintes critérios:
VII - registro contábil individualizado das contribuições do servidor e do militar ativos e dos entes estatais, conforme estabele-
cido no art. 12 desta Portaria;
Art. 12. No registro individualizado das contribuições do servidor e do militar ativos de que trata o inciso VII do art. 2° desta
Portaria, devem constar os seguintes dados:
1- nome;
11 - matricula;
111 - remuneração;
IV - valores mensais e acumulados da contribuição do servidor ou do militar;
V - valores mensais e acumulados da contribuição do respectivo ente estatal referente ao servidor ou ao militar.
§ 1° O segurado será cientificado das informações constantes de seu registro individualizado mediante extrato anual de pres-
tação de contas.
5 Art. 61. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou Comissão da Câmara dos Deputados,
do Senado Federal ou do Congresso Nacional, ao Presidente da República, ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Supe-
riores, ao Procurador-Geral da República e aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta Constituição.
§ 1° - São de iniciativa privativa do Presidente da República as leis que:
11 - disponham sobre:
a) criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta e autárquica ou aumento de sua remuneração;
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flsA
Pelo que se observa, os gestores ao longo do exercício deixaram de atender a vários dispositivos
legais com repercussão direta na continuidade do sistema de previdência municipal. Nesse sentido,
esta Corte vem alertando, na análise das contas anteriores de diversos institutos municipais, de que a
conduta administrativa adotada pelo gestor poderia, no médio e longo prazo, trazer sérios problemas
na gestão financeira do Instituto, tendo em vista a não utilização de projeções de fluxo de caixa
aderentes a uma análise atuarial consistente, fato agravado pelo saldo financeiro verificado no
Balanço Financeiro de apenas R$ 136.949,16, o qual robustece a tese de possível inviabilidade do
sistema previdenciário municipal, uma vez que em face do seu volume de despesas, a concessão de
benefícios previdenciários aos aposentados e pensionistas estará, no futuro, comprometida.
Conforme destacado no Parecer Ministerial, as irregularidades apresentadas não podem ser
atribuídas ao ex-gestor Durval Ferreira da Silva Filho, que esteve à frente do IPM apenas por três
meses do exercício em análise, pois as citadas irregularidades poderiam ser evitadas ou corrigidas
durante os oito meses de gestão do seu sucessor.
Desta forma, voto em conformidade com o Parecer emitido pelo Ministério Público, ou seja:
1) Julgar regular a presente prestação de contas de responsabilidade do senhor DURVAL
FERREIRA DA SILVA FILHO (período: 01/01 a 31/03/2004), na qualidade de ex-gestor do
Instituto de Previdência do Município de João Pessoa - IPM, relativamente ao exercício de
2004;
2) Julgar irregular a presente prestação de contas de responsabilidade do senhor ANTONIO
ROBERTO VASCONCELOS MOTA (período: 01/04 a 31/12/2004), na qualidade de ex-gestor
do Instituto de Previdência do Município de João Pessoa - IPM, relativamente ao exercício de
2004;
3) Imputar débito ao Sr. ANTONIO ROBERTO VASCONCELOS MOTA, no valor de R$ 7.000,00
(sete mil reais), tendo em vista a realização de despesa não comprovada referente a serviço
de reavaliação atuarial relativo ao exercício de 2004;
4) Aplicar multa no valor de R$ 1.000,00 (um mil reais) ao Senhor Antonio Roberto Vasconcelos
Mota com fulcro no art. 56, 11, da LOTCE/PB, por infração grave à norma legal;
5) Determinar à DIAFI a constituição de processo autônomo para apuração de gratificações
indevidamente concedidas pelo IPM-JP;
6) Recomendar ao Instituto de Previdência e Assistência do Município de João Pessoa a estrita
observância às normas constitucionais, aos princípios administrativos e, sobretudo, à
necessidade de planejamento e organização de suas atividades.
4. IMPUTAR débito ao Sr. Antonio Roberto Vasconcelos Mota, no valor de R$ 7.000,00 (sete
mil reais), tendo em vista a realização de despesa não comprovada referente a serviço de
reavaliação atuarial relativo ao exercício de 2004, assinando-lhe o prazo de 60 (sessenta)
dias para recolhimento voluntário ao erário municipal, sob pena de cobrança executiva, desde
logo recomendada, inclusive com assistência do Ministério Público, de acordo com os
Parágrafos 3° e 4° do artigo 71 da Constituição do Estado;
5. DETERMINAR à Diretoria de Auditoria e Fiscalização (DIAFI) a constituição de processo
autônomo para apuração de gratificações indevidamente concedidas pelo IPM-JP;
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Conselheiro Fábio Túlio Filgue' as Nogueira
Relator