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Publicado O.O.E.

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADcErn -,"5:1 OH) 0;5:.

PROCESSO- TC-02883/0G -
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Administração Direta Municipal. Prefeitura de Soledade. Prestação de
Contas Anual relativa ao exercício de 2005 - Emissão de PARECER
CONTRÁRIO. Através de Acórdão em separado, atendimento parcial
às exigências da LRF, aplicação de multa, formalização de processo
apartado, representação ao INSS, recomendação.

RELATÓRIO
Tratam os autos do presente processo da análise da Prestação de Contas do Município de Soledade/PB,
relativa ao exercício financeiro de 2005, de responsabilidade do Prefeito e Ordenador de Despesas, Sro
José Ivanildo Barros Gouveia.
A Divisão de Acompanhamento da Gestão Municipal VI- DIAGM VI, com base nos documentos insertos
nos autos, emitiu o relatório inicial de fls. 1269-1292, evidenciando os seguintes aspectos da gestão
municipal:
1. Sobre a gestão orçamentária, destaca-se:
a) o orçamento foi aprovado através da Lei Municipal n.? 330/2004, de 21 de dezembro de 2005,
estimando a receita e fixando a despesa em R$ 6.940.482,00, como também autorizando
abertura de créditos adicionais suplementares em 10% da despesa fixada na LOA;
b) As Leis de nOs333/05, 341/05, 347/05 e 351/05 (fls. 821 à 824 ) autorizaram a abertura de crédito
especial, no valor de R$ 127.843,18, enquanto que a Lei de nO 353/05 (fls 0825.) acresceu em
mais 15% a autorização para abertura de créditos adicionais, passando ao montante de R$
1.735.120,50 que representou 25% da LOA;
c) durante o exercício, foram abertos créditos adicionais no montante de R$ 3.648.319,55;
d) a receita orçamentária efetivamente arrecadada no exercicio totalizou o valor de R$
7.300.647,18, superior em 5,19% do valor previsto no orçamento;
e) a despesa orçamentária realizada atingiu a soma de R$ 7.230.217,47, em 24,87% à realizada no
exercício anterior;
f) a receita extra-orçamentária, acumulada no exercício financeiro, alcançou a importância de R$
545.130,62;
g) a despesa extra-orçamentária, executada durante o exercicio, compreendeu um total de R$
463.362,56;
h) o somatório da Receita de Impostos e das Transferências - RIT atingiu a soma de R$
4.557.527,82;
h) a Receita Corrente Líquida - RCL alcançou o montante de R$ 7.273.618,24.

2. No tocante aos demonstrativos apresentados:


a) o Balanço Orçamentário apresentou superávit equivalente a 0,96% da receita orçamentária
arrecadada;
b) o Balanço Financeiro registrou um saldo para o exercício seguinte, no valor de R$ 165.468,69;
c) o Balanço Patrimonial evidenciou superávit financeiro no valor de R$ 83.700,63;
d) a dívida municipal atingiu, ao final do exercício, a importância de R$ 7.456.309,02,
correspondendo a 102,13% da receita orçamentária total arrecadada.
3. Referente à estrutura da despesa, apresentou a seguinte composição:
a) os recursos oriundos de convênios, escriturados no exercício, totalizaram R$ 56.028,00, sendo
todos provenientes de recursos do Governo Estadual;
b) as remunerações dos Vereadores foram analisadas junto com a Prestação de Contas da Mesa
da Câmara Municipal;
c) os gastos com obras e serviços de engenharia, no
correspondendo a 0,53% da Despesa Orçamentária To 1/<rn.I1"'''o

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PROCESSO- TC-2883/0a 2

4. Quanto aos gastos condicionados:


a) a aplicação de recursos do FUNDEF na remuneração e valorização dos profissionais do
magistério (RVM) atingiu o montante de R$ 570.749,36 ou 40,28% das disponibilidades do
FUNDEF (limite mínimo=60%);
b) a aplicação na manutenção e desenvolvimento do ensino (MDE) alcançou o montante de R$
1.099.941,27 ou 24,13% da RIT (limite mínimo=25%);
c) o Município despendeu com saúde a importância de R$ 669.251,56 ou 14,68% da RIT;
d) as despesas com pessoal da municipalidade alcançaram o montante de R$ 3.435.110,59 ou
47,23% da RCL (limite máximo=60%);
e) as despesas com pessoal do Poder Executivo alcançaram o montante de R$ 3.239.029,86 ou
44,53% da RCL (limite máximo=54%).

Tendo em vista que o Órgão de Instrução apontou irregularidades em seu relatório inicial, e atendendo
aos princípios constitucionais do contraditório e da ampla defesa, o Relator determinou a notificação do
Sr. José Ivanildo Barros Gouveia, sem que tenha se declinado aos autos para oferecer esclarecimentos
ou defesa.
As irregularidades apontadas pela Auditoria foram as seguintes:
Gestão Fiscal:
1) manutenção do equilíbrio entre receitas e despesas;
2) destinação dos recursos obtidos com a alienação de ativos;
3) compatibilidade de informações entre o REO e a PCA;
4) compatibilidade de informações entre o RGF e a PCA.
Gestão Geral:
1) Abertura de créditos suplementares sem autorização;
2) Divergências de valores com relação à receita orçamentária;
3) Não registro de receita de convênios;
4) Balanço Orçamentário não refletindo a real situação da entidade;
5) Balanço Financeiro não refletindo a realidade;
6) Balanço Patrimonial não refletindo a realidade;
7) Dívida Municipal sub avaliada;
8) Aplicação de apenas 40,28% dos recursos do FUNDEF no magistério;
9) Aplicação de 24,13% das receitas de impostos e transferências na MDE, infringindo o art. 212,
da CF;
10) Aplicação de 14,68% das receitas de impostos e transferências em ações e serviços públicos de
saúde, quando o mínimo constitucional exigido para o município seria 15%;
11) Não comprovação de recolhimento integral de Contribuição Previdenciária retida, devida pelos
segurados, bem como da integralidade da Cota patronal, por conta de serviços tomados pelo
Ente Público, referente a pessoal civil permanente;
12) Retenção de ISS (Imposto Sobre Serviços) indevidamente sobre serviços tomados.
13) Não Retenção de ISS (Imposto Sobre Serviços) incidente sobre as execuções de Construção
Civil e Shows musicais;
14) Alienação de ativos permanentes sem registro em demonstrativo;
15) Despesa sem licitação no montante de RS 131.389,04 para contratação de serviços de geração
de empregos, cursos de aperfeiçoamento pedagógico, serviços de medicina hospitalar e serviços
de informática.
16) Falta de registro na Dívida Flutuante de multa ambiental aplicada ao município pelo IBAMA.
17) Falta de registro na Dívida Fundada relativo a FGTS dos servidores.
18) Ocupação de Cargos em Comissão que não executam direção, chefia ou assessoramento (it
10.8);
19) Não incorporação de duas motocicletas ao acervo patrimonial do município;
20) Não tombamento do acervo de bens móveis da Municipalidade;
21) Propaganda eleitoral em recinto patrimonial público Municipal;
22) Constituição p.arciare conselhos mun.iciPais~ )f 1 i
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o Ministério Público emitiu o Parecer nO 1562/07 (fls. 7023-7030), da lavra do Ilustre Procurador André
Torres Ponte, fazendo considerações técnicas e jurídicas, divergindo da Auditoria, quanto aos seguintes
aspectos:
./ gastos condicionados em MDE e Saúde - citou o Parquet a jurisprudência desta Corte que tem
entendimento firmado no sentido de deduzir da receita base os valores pagos com precatório. Os
cálculos feitos pelo MPjTCE revelam que as aplicações em MDE alcançaram 25,87% e as aplicações
em Saúde atingiram 15,74%, de forma que os índices constitucionais aqui debatidos foram
alcançados .
./ obrigações previdenciárias - o Representante do MPjTCE, entendeu que o seu levantamento feito
pela Auditoria nos autos "não goza de presunção de certeza e /iquidez - atributos somente
alcançados quando a apuração do débito resultar de procedimento fiscal regular pelo agente público
competente perante a lei." Acrescentou ainda o Parquet, que "não foram consideradas eventuais
oscilações de alíquota e base de calculo conforme prevista ou citada no art. 22 da 8.212/91."
Concluindo seu entendimento, o d. Procurador afirmou que "o fato apurado pela d. Auditoria, pois, não
pode repercutir negativamente na apreciação das contas, sem prejuízo de recomendação à edilidade
e comunicação ao órgão federal encarregado da exação previdenciária."
./ propaganda eleitoral - afirmou o Parquet que esta matéria é competência da Justiça Eleitoral, cujas
providencias devem ser recomendadas ao gestor, notadamente diante da proximidade do pleito
eleitoral.

No mais, o MPjTCE concordou com o posicionamento do Órgão de Instrução, pugnando para que esta
Corte, em razão do exame das contas do exercício de 2005, sob a responsabilidade Sr. José Ivanildo
Barros Gouveia, na qualidade de Prefeito do Município de Soledade:
a) DECLARE o atendimento parcial dos requisitos de gestão fiscal responsável, previstos na LC
101/2000;
b) EMITA PARECER CONTRÁRIO sugerindo à Câmara Municipal de Soledade a reprovação das
contas de gestão geral relativas ao exercício de 2005;
c) JULGUE REGULARES com RESSALVAS as despesas executadas à margem da lei de licitações e
contratos, sem imputação de débito, em face da falta de danos materiais ao erário;
d) JULGUE IRREGULAR a administração de recursos no montante de R$ 293.572,60, sob o título de
omissão de receita, com imputação de débito contra o gestor com valor atualizado.
e) JULGUE REGULARES as demais despesas ordenadas;
f) APLIQUE MULTA ao Prefeito por infração as normas constitucionais e legais, com fulcro na CF/88,
art. 71, VIII e LCE nO18/93, art. 56;
g) ASSINE PRAZO para lançamento e cobrança dos tributos não arrecadados e adequação do
quadro de pessoal;
h) COMUNIQUE à Receita Federal (INSS) os fatos atrelados a cumprimento de obrigações
previdenciária para as providencias a seu cargo.
i) RECOMENDE diligências no sentido de prevenir a repetição das falhas acusadas no exercício de
2005.

Primando pelo devido processo legal, uma vez constatada a ausência de assinatura do AR, o Relator
determinou a renotificação do interessado, tendo este comparecido aos autos com encarte de defesa e
documento presentes, às fls.1315 a 1412.
Examinada a defesa apresentada, a Auditoria emitiu relatório
posicionamento inicial, mormente as seguintes irregularidades:
1) manutenção do equilíbrio entre receitas e despesas;
às fls. 1417-1436, modificando
C91
seu

2) destinação dos recursos obtidos com a alienação de ativos;


3) falta de registro na Dívida Fundada relativo a FGTS dos servidores; .
4) não incorporação de duas motocicletas ao acervo patrimonial do município;
5) abertura de créditos adicionais sem autorização legislativa decaiu de R$
374.551,74;
6) o índice de aplicação de recursos em RVM/FUNDEF ascendeu ao patamar de 54,98%;
7) as despesas sem licitação foram retificadas de R$ 131.389,04 para R$ 113.221,73;
8) omissão de receita no montante de R$ 293.572,60.
Em virtude de nova irregularidade apontada pela Auditoria, no que se refere à omissão de receita o
montante de R$293.572,60, e \~s prinCiPi~mPla defesa e y:rraditóriO' o R(;1
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determinou a notificação do interessado para apresentar as justificativas e/ou esclarecimentos cabíveis


quanto à divergência exposta no Relatório da Auditoria, tendo o gestor deixado transcorrer o prazo sem
comparecer aos autos.

Novel manifestação do MPjTCE aditando o parecer exarado às fls. 1298/1311, no que concerne ao
julgamento irregular da administração de recursos no montante de R$ 293.572,60, sob o título de
omissão de receita, com imputação de débito ao gestor com valor atualizado.
Foi emitido, em 29 de agosto de 2005, ALERTA GHL nO46/2005 ao Prefeito Municipal de Soledade, Sr.
José Ivanildo Barros Gouveia (fI. 519), tendo em vista a análise dos balancetes mensais referentes ao
período de janeiro de 2005 a junho de 2005 (fls.296-518), no sentido de orientar o gestor quanto à
observância dos percentuais previstos no artigo 212 da Constituição Federal e nos artigos 60 e 77 do
ADCT, informando que a análise da execução orçamentária procedida apontava:
a) os gastos com MAGISTÉRIO estão abaixo do limite da quota-parte do período analisado (51,41%);
b) os gastos com saúde inferior ao mínimo exigido (8,94%) da receita de impostos, inclusive
transferências;

Também foi emitido, em 28/11/2005, ALERTA GHL nO 86/2005 ao Prefeito Municipal de Soledade, Sr.
José Ivanildo Barros Gouveia (fI. 672), tendo em vista a análise dos balancetes mensais referentes ao
período de janeiro de 2005 a agosto de 2005 (fls. 665-671), e no sentido de orientar o gestor quanto à
observância dos percentuais previstos no artigo 212 da Constituição Federal e nos artigos 60 e 77 do
ADCT, informando que a análise da execução orçamentária procedida apontava:
a} os gastos com a manutenção e desenvolvimento do ensino inferior ao mínimo exigido (24,66%);
b) os gastos com MAGISTÉRIO estão abaixo do limite de 60% da quota-parte do período analisado
(49,31%);
c) os gastos com saúde inferior ao mínimo exigido (6,74%) da receita de impostos, inclusive
transferências;
O processo foi levado à sessão de 30/07/2008, tendo, naquela ocasião, o Relator expressado a
necessidade de complemento de instrução por parte da Auditoria, no sentido de esclarecer alguns
aspectos referentes à abertura e utilização de créditos adicionais suplementares.
Relatório da Auditoria, às fls. 1452-1453, informando que mesmo considerando todas as leis autorizativas
de crédito orçamentários, o gestor abriu e utilizou créditos orçamentários suplementares no montante R$
178.078,55.
O Relator fez retornar o feito na pauta desta sessão, informando que os interessados foram previamente
notificados na Sessão Plenária do dia 30 de julho de 2008.

VOTO DO RELATOR
O relatório da Auditoria noticia atos de gesUlo em descompasso com os regramentos estabelecidos na
legislação, pois restaram apuradas varias irregularidades, que passo a comentar, explicitamente, aquelas
de maior relevância para decisão a ser tomada por esta Corte:
Inicialmente, é de bom alvitre destacar que os itens 3, 4, 5,6, 7, 16 e 20 do Relatório inicial da Auditoria
são derivados de imprecisões, omissões, falhas e erros de natureza contábil que afrontam a veracidade
da posição patrimonial, fonte de informação imprescindível às análises das prestações de contas por
parte deste Sinédrio. Se há divergências entre os demonstrativos contábeis-financeiros, estas
possivelmente têm seu nascedouro na falta de utilização da boa técnica de registro e de evidenciação
contábil.
Por outro lado, a ausência ou imprecisão de documentos que torne dificultoso o exame da PCA é tão
grave quanto a omissão do dever de prestá-Ias. Neste sentido, o Tribunal, mediante PARECER
NORMATIVO PN-TC-52/2004, item - 2.9, elencou as incompatibilidades não justificadas entre os
demonstrativos, inclusive contábeis como motivo de PARECER CONTRÁRIO à aprovação de contas de
Prefeitos Municipais, independentemente de imputação de débito ou multa, se couber.
Quanto à abertura de créditos suplementares sem autorização no montante de R$ 374.551,74, acato os
argumentos da defesa de que a Lei nO372/2005 autorizou créditos adicionais suplementares em 50% dos
valores da LOA, o que, em valores absolutos, totalizam R$ 3.470.241,00. Contudo, foram abertos
Créditos Adicionais Suplementares, no exercício de 2005, no montante de R$ 3.648.319,55, evidenciando
abertura de créditos orçamentários sem autorização legislativa no valor de R$ 178.078,55, co~o
atesta Relatório da Auditoria insertos às fls. 1452-1453.
Abertura de Crédito Suplementar além do autorizado, contraria, portanto, o artigo 167, inciso .
Constituição Federal, bem como o disciplinado no art. 42 da Lei nO4.320/64, in verbis:4-

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Art. 167. São vedados:


( ...)
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização legislativa e sem indicação
dos recursos correspondentes

Art. 42. Os créditos suplementares e especiais serão autorizados por lei e abertos por decreto
executivo

Assim, a abertura e utilização de créditos adicionais sem que o Legislativo tenha autorizado constitui ato
ilícito, porquanto realizado ao arrepio ao normativo legal que regulamenta a matéria, e principalmente por
afetar um mandamento constitucional, motivos que ensejam emissão de Parecer Contrário, nos termos
do PARECER NORMATIVO PN- TC-52/2004, item - 2.1.
Acerca da divergência de valores das receitas entre os demonstrativos da PCA e as informações
constantes do SAGRES, a defesa alegou que, nos demonstrativos da PCA, foram consolidadas as
informações contábeis do Fundo Municipal de Saúde. De fato, assiste razão à defesa, pois os valores
presentes no SAGRES dizem respeito apenas às contas da Prefeitura Municipal. Diante deste cenário, a
Auditoria fez a consolidação das informações e concluiu que ocorreu uma omissão de receita no valor de
R$ 293.572,60.
Ante a esta nova irregularidade, foi ofertado ao Sr. Prefeito do Município de Soledade o direito de vir aos
autos prestar esclarecimentos, contudo, o mesmo não utilizou o direito que lhe foi concedido.
Assim, em face das constatações de natureza técnica aduzidas pelo Órgão de Instrução, diante do valor
expressivo e tendo em vista a necessidade de maiores informações acerca da irregularidade
apresentada, vislumbro a necessidade da abertura de processo apartado para uma apreciação mais
criteriosa da matéria.
Referente à aplicação de apenas 40,28% dos recursos do FUNDEF no magistério, a defesa trouxe aos
autos despesas no montante de R$ 851.233,00, o que corresponderia a 60,07% das receitas do fundo. A
Auditoria, em seus cálculos, excluiu o montante de R$ 71.991,15 referente ao pagamento das
contribuições previdenciárias (patronal) com recursos alheios ao FUNDEF.
Feitas as exclusões citadas, a aplicação passou para 54,98% dos recursos do FUNDEF na remuneração
dos profissionais do magistério e capacitação de professores leigos, quando o § 5°, do art. 60, do ADCT,
e o art. 7° da Lei n° 9.424/961, prevêem o mínimo de 60% dos recursos vinculados ao fundo. Ocorre que,
para alcançar o piso legal, o gestor utilizou recursos de outras fontes não vinculadas ao FUNDEF,
desrespeitando, assim, as normas legais.
Acrescente-se que, a inobservância das normas de aplicação em educação indica ainda um
descompasso entre a ação administração e o bem-estar sócio-cultural da população, princípios
inarredáveis a serem observados no gerenciamento público, justificando, assim, a emissão de parecer
contrário à aprovação das contas deste exercício financeiro, à luz do item 2.7 do Parecer Normativo
52/04.
Quanto à inaplicação dos recursos vinculados em Manutenção e Desenvolvimento do Ensino -MDE e
Ações e Serviços de Saúde, acosto-me ao entendimento do MPjTCE de que a "jurisprudência do Tribunal
de Contas do Estado da Paraíba tem firmado entendimento no sentido de deduzir da receita base valores
decorrentes do pagamento de sentenças judiciais (precatórios), em razão da indisponibilidade do gestor
para gerenciá-los. "
Destarte, fazendo a exclusão dos valores pagos com precatórios no exercício de 2005 que alcançaram
R$ 305.475,40 das Receitas de Impostos e Transferência, base para efetivação dos cálculos do
percentual, têm-se que as aplicações em MDE alcançaram 25,87% e as aplicações em Saúde atingiram
15,74%, acima do mínimo constitucionalmente exigido.
Quanto ao não recolhimento integral das contribuições previdenciárias devida aos empregados e
empregador (patronais), bem como as divergências existentes entre as informações repassadas ao INSS
(GFIP), a esta Corte (SAGRES) e os cálculos da Auditoria, o quadro abaixo demonstra os valores
envolvidos nestas rubricas:
Descriminação das parcelas GFIP CR$) SAGRES CR$) AUDITORIA CR$)
Retenções do Servidor 209.440,49 329.323,74 326.786,21
Parte Patronal 685.962,26 393.874,96 722.369,53
Total 895.402,75 723.198,70 1.049.155,74

É de se destacar que os cálculos da Auditoria para as retenções previdenciárias


foram feitos a partir de
uma alíquota média (9,5%) que não representa a situação da folha de pagamento da Edilidade, visto q~

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Art. 7° Os recursos do Fundo, incluida a complementação da União, quando for o caso, serão utilizados pelos tados, Distrito
Federal e Municípios, assegurados, pelo menos, 60% (sessenta por cento)~ra a remuneração dos profissi ais
em efetivo exercício de suas atividades no enSi~unda~al público.
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a maioria dos servidores recebia salários abaixo de R$ 800,45, cuja alíquota fixava o percentual de
7,65%.
Por outro lado, é de se notar que a GFIP é um programa disponibilizado pela Previdência Social que
importa os dados da folha de pagamento para sua base e efetua os cálculos da previdência. Feita esta
colocação, entendo ser mais adequado utilizar a informação que o gestor forneceu ao INSS de que as
contribuições devidas perfaziam um total de R$ 895.402,75, e que foi recolhido o montante de R$
723.198,00, deixando, assim, de ser recolhidos R$ 172.204,05, em desacordo com a norma
previdenciária, como também com o PARECER NORMATIVO PN-TC-52/2004, item - 2.5, que prevê a
emissão de parecer contrario na ocorrência desta irregularidade.
Além desses aspectos, está demonstrado que o Passivo da Prefeitura Municipal de Soledade foi
evidenciado de forma subavaliado, posto que as informações repassadas ao INSS divergem da PCA e do
SAGRES, revelando a fragilidade dos Demonstrativos Contábeis em divulgar a realidade patrimonial do
município.
Atinente a retenção de ISS (Imposto sobre Serviços) indevidamente sobre serviços tomados, acompanho
o entendimento ministerial de que o fato apurado diz respeito a direitos subjetivos de contribuintes,
podendo ser vindicado pelos mesmos em momento oportuno, com os fundamentos no Código Tributário
Nacional.
Referente à não retenção de ISS (Imposto Sobre Serviços) incidente sobre as execuções de Construção
Civil e Shows musicais, não procedem os argumentos da defesa de que as construtoras gozam de
isenção fiscal nos termos da Lei Municipal n° 345/2005.
A Lei Municipal n° 345/2005 promoveu isenção fiscal em desacordo com o disciplinamento da LRF
descrito no art. 14:
Art. 14. A concessão ou ampliação de incentivo ou benefício de natureza tributária da qual decorra
renúncia de receita deverá estar acompanhada de estimativa do impacto orçamentário-financeiro no
exercício em que deva iniciar sua vigência e nos dois seguintes, atender ao disposto na lei de
diretrizes orçamentárias e a pelo menos uma das seguintes condições:
I - demonstração pelo proponente de que a renúncia foi considerada na estimativa de receita da lei
orçamentária, na forma do art. 12, e de que não afetará as metas de resultados fiscais previstas no
anexo próprio da lei de diretrizes orçamentárias;
11 - estar acompanhada de medidas de compensação, no período mencionado no caput, por meio do
aumento de receita, proveniente da elevação de alíquotas, ampliação da base de cálculo, majoração
ou criação de tributo ou contribuição.
§ 12 A renúncia compreende anistia, remissão, subsídio, crédito presumido, concessão de isenção
em caráter não geral, alteração de alíquota ou modificação de base de cálculo que implique redução
discriminada de tributos ou contribuições, e outros beneficios que correspondam a tratamento
diferenciado.
§ 22 Se o ato de concessão ou ampliação do incentivo ou benefício de que trata o caput deste artigo
decorrer da condição contida no inciso 11, o benefício só entrará em vigor quando implementadas as
medidas referidas no mencionado inciso.
§ 32 O disposto neste artigo não se aplica:
I - às alterações das alíquotas dos impostos previstos nos incisos I, 11, IV e V do art. 153 da
Constituição, na forma do seu § 12;
11 - ao cancelamento de débito cujo montante seja inferior ao dos respectivos custos de cobrança.
Pelo que constam nos autos, o gestor não observou o disposto no art. 14 da LRF, porquanto ficou
configurado a renúncia de receita, irregularidade que se encontra sob julgo do Tribunal de Contas, nos
termos precisos do art. 70, caput, da Carta Maior.
Por outro lado, nos termos do art. 10, VII e X, da Lei n. 8.429/92, é considerada como ato de improbidade
a concessão de benefício administrativo ou fiscal sem a observância das formalidades legais ou
regulamentares aplicáveis à espécie, bem como ação negligente do administrador quanto à arrecadação
de tributo, renda e ao que diz respeito à conservação do patrimônio público. Ademais, cabe
recomendação ao gestor para proceder à exação tributária, caso possível, porquanto não incidentes os
institutos da decadência ou prescrição.
Por fim, o Parecer Normativo nO52/04 prevê, no item 2.4, que a não arrecadação das receitas próprias do
Município, inclusive retenções de IRF e ISS incidentes sobre pagamentos feitos pelas Prefeituras,
constituem motivos para emissão de parecer contrário.
Despesa sem licitação no montante de RS 131.389,04 para contratação de serviços de geração de
empregos, cursos de a~içoamento

informática, quais sejam - /


pedagógico, serviços de medicina hospitalar e

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IV (J)
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PROCESSO- TC-2883/0a 7

Descrição Valor CR$)


1. Serviços de informática - PRIMENET INFORMATICA LTDA 12.043,06
2. Bens e serviços médicos - Fundação Médico Hospitalar de Soledade 89.628,67
3. Curso de Pedagogia -Fundação Universitária de Apoio ao Ensino 11.550,00
Total 113.221,73

A defesa alegou que as despesas com o CEGEPO - Centro de Geração de Empregos e da FUNDAÇÃO
MÉDICO-HOSPITALAR DE SOLEDADE tratam-se de repasses (subvenções) regularizados por meio de
TERMO DE PARCERIA com o município, porém não trouxe aos autos documentos que comprovassem
as alegações, restando configurada, pois, a inobservância aos dispositivos estatuídos na Lei nO8.666/93,
motivos que ensejam multa nos termos do Inciso 11 do art. 56 da LOTCE.
Diante do exposto e acompanhando o entendimento do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, à
exceção da imputação de débito no valor de R$ 293.572,60, referente às receitas não registradas que
devem ser analisadas em processo específico, pelas razões esposadas no presente ato, VOTO no
sentido de:
a) encaminhar ao Poder Legislativo do Município de Soledade Parecer Contrário à aprovação das
Contas do Sr. José Ivanildo Barros Gouveia, referente ao exercício de 2005;
b) declarar atendimento parcial às exigências essenciais da LRF, porquanto ficaram evidenciadas
irregularidades de incompatibilidade entre REO, RGF e PCA ;
c) aplicar multa no valor de R$ 2.805,10 ao Sr. José Ivanildo Barros Gouveia, por infração grave à
norma legal, nos termos do art. 56, 11, da Lei Orgânica desta Corte (LC 18/93), assinando-lhe o
prazo de 60 dias para o recolhimento voluntário;
d) formalizar processo apartado para examinar possível omissão de receita, no valor de R$
293.572,60, em decorrência de divergência nos valores da receita orçamentária apresentada na
PCA após a consolidação da receita do Fundo Municipal de Saúde de Soledade;
e) encaminhar cópia dos autos ao Instituto Nacional do Seguro Social para as devidas providências
no que pertine ao não repasse e ao não recolhimento das contribuições previdenciárias;
f) recomendar ao gestor para não mais repetir as falhas acusadas no exercício de 2005, em
especial a exação tributária, caso possível, porquanto não incidentes os institutos da decadência
ou prescrição, reagrupar os servidores de natureza efetiva que constam na listagem de
comissionados.
DECISÃO DO TRIBUNAL PLENO DO TCE - PB
Vistos, relatados e discutidos os autos do PROCESSO -TC-02883/06, os Membros do TRIBUNAL DE
CONTAS DO ESTADO DA PARAIBA (TCE-Pb), à unanimidade, com impedimento declarado do
Presidente, Conselheiro Arnóbio Alves Viana, na sessão realizada nesta data, decidem EMITIR E
ENCAMINHAR ao julgamento da Egrégia Câmara Municipal de Soledade, este PARECER CONTRÁRIO
à aprovação da Prestação de Contas do Prefeito Municipal de Soledade, sro José Ivanildo Barros
Gouveia, relativa ao exercício de 2005.
Publique-se, registre-se e cumpra-se.
TCE-Plenário Mt istro João Agripino

uL

Fui presente,

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