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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02546/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: José Alberto Soares Barbosa

EMENTA: PODER EXECUTIVO MUNICIPAL - ADMINISTRAÇÃO


DIRETA - PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS - PREFEITO -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO 11,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 -
Divergência entre o valor da despesa com pessoal apresentado no
relatório de gestão fiscal do segundo semestre do período e o
apurado na prestação de contas - Carência de realização de diversos
procedimentos de licitação - Recolhimento a menor de obrigações
patronais devidas ao Instituto Próprio de Previdência Municipal -
Transgressão a dispositivos de natureza constitucional,
infraconstitucional e regulamentar Conduta ilegítima e
antieconômica - Necessidade imperiosa de aplicação de penalidade -
Eivas que comprometem o equilíbrio das contas de gestão.
Irregularidade. Aplicação de multa. Concessão de prazo para
pagamento. Recomendações. Comunicação. Remessa de cópias dos
autos à Procuradoria Geral de Justiça do Estado.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DO ORDENADOR DE


Vistos, relatados e discutidos os autos da
DESPESAS DO MUNICÍPIO DE BOA VISTA/PB, SR. JOSÉ ALBERTO SOARES BARBOSA,
relativa ao exercício financeiro de 2006, acordam, por maioria, os Conselheiros integrantes
do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária realizada nesta
data, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir e dos votos dos
Conselheiros Flávio Sátiro Fernandes e José Marques Mariz, bem como do Conselheiro
Substituto Marcos Antônio da Costa, vencidas as divergências dos Conselheiros Fernando
Rodrigues Catão e Fábio Túlio Filgueiras Nogueira, em:

1) Com fundamento no art. 71, inciso 11, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.O 18/93, JULGAR IRREGULARES as
referidas contas.

2) Com base no que dispõe o art. 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual
n.° 18/93 - LOTCE/PB, APLICAR MULTA ao Chefe do Poder Executivo, Sr. José Alberto
Soares Barbosa, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos).

3) CONCEDER-LHEo prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da penalidad


ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3 ,
alínea "a", da Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuraaes "
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Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do
Estado da Paraíba, e na Súmula n.? 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB.

4) FAZER recomendações no sentido de que o Prefeito da Urbe não repita as irregularidades


apontadas no relatório dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os
preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

5) COMUNICAR ao Presidente do Fundo dos Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM,


Sr. Bartos Batista Bernardes, acerca da necessidade de apuração e cobrança das
contribuições previdenciárias incidentes sobre as remunerações dos servidores municipais
relativas ao exercício de 2006.

6) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETER
cópias das peças técnicas, fls. 2.129/2.141 e 2.282/2.283, do parecer do Ministério Público
Especial, fls. 2.285/2.294, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado
da Paraíba para as providências cabíveis.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, Jg d:j ~ 'Y) $11,,/1 ,) de 2008

Fui Presente A" ~~


Representant~~inistério Público Especial
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Tratam os presentes autos da análise das Contas do Município de Boa Vista/PB, relativas ao
exercício financeiro de 2006, de responsabilidade do Prefeito e Ordenador de Despesas,
Sr. José Alberto Soares Barbosa, apresentada a este egoTribunal em 02 de abril de 2007,
mediante o Ofício n.o 93/2007, datado de 30 de março do mesmo ano, fi. 02.

Os peritos da então Divisão de Acompanhamento da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com


base nos documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 2.129/2.141,
constatando, sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas no prazo legal;
b) o orçamento foi aprovado através da Lei Municipal n.o 291/2005, estimando a receita em
R$ 8.907.150,00, fixando a despesa em igual valor e autorizando a abertura de créditos
adicionais suplementares até o limite de 25% do total orçado; c) a Lei Municipal
n.O 304/2006 autorizou a abertura de créditos adicionais especiais, no valor de
°
R$ 50.000,00, e a Lei Municipal n. 309/2006 autorizou a abertura de créditos adicionais
suplementares, na soma de R$ 623.500,50, alterando, portanto, o limite do orçamento de
25% para 32% da despesa orçada; d) durante o exercício, foram abertos créditos adicionais
suplementares e especiais, nos valores de R$ 2.237.282,00 e R$ 50.000,00,
respectivamente; e) a receita orçamentária efetivamente arrecadada no exercício ascendeu à
soma de R$ 7.624.897,38; f) a despesa orçamentária realizada atingiu o montante de
R$ 7.307.941,11; g) a receita extra-orçamentária, acumulada no exercício financeiro,
alcançou a importância de R$ 708.588,85; h) a despesa extra-orçamentária, executada
durante o exercício, compreendeu um total de R$ 635.745,31; i) o somatório da Receita de
Impostos e das Transferências - RIT atingiu a importância de R$ 6.334.655,64; j) a Receita
Corrente Líquida - RCLalcançou o montante de R$ 7.277.500,30; e k) a cota-parte recebida
do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do
Magistério - FUNDEFsomou R$ 826.246,90.

Em seguida, os técnicos da antiga DIAGM VI destacaram que os dispêndios municipais


evidenciaram, sinteticamente, os seguintes aspectos: a) as despesas com obras e serviços
de engenharia totalizaram R$ 485.410,11, sendo R$ 260.788,79 pagos com recursos
estaduais e R$ 224.621,32 custeados com recursos próprios; e b) os subsídios do Prefeito e
do vice-Prefeito foram fixados, respectivamente, em R$ 6.000,00 e R$ 3.000,00 mensais,
mediante a Lei Municipal n.o 270, de 01 de dezembro de 2004.

Quanto aos gastos condicionados, verificaram os inspetores da unidade de instrução desta


Corte que: a) o Município despendeu com saúde a importância de R$ 1.176.179,96 ou
18,57% da RIT; b) as despesas com pessoal da municipalidade, já incluídas as do Poder
Legislativo, alcançaram o montante de R$ 3.714.395,55 ou 51,04% da RCL; c) a aplicação
na manutenção e desenvolvimento do ensino atingiu o valor de R$ 1.859.710,55 ou 29,36%
da RIT; e d) a despesa com recursos do FUNDEFna remuneração dos profissionais do
magistério alcançou o montante de R$ 588.582,70, representando 71,24% da cota-parte
recebida no exercício.
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Ao final de seu relatório, os analistas da unidade técnica apresentaram, de forma resumida,


as irregularidades constatadas, quais sejam: a) divergência entre as informações
consignadas no Relatório de Gestão Fiscal - RGF, relativo ao segundo semestre do período,
e as apuradas na Prestação de Contas Anual - PCA; b) realização de despesas sem licitação,
no montante de R$ 645.716,65, representando 8,84% da despesa orçamentária total e
29,29% da despesa Iicitável no exercício; c) pagamento a menor referente às despesas com
obrigações patronais devidas ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, na importância
de R$ 163.865,47; e d) repasse de contribuições previdenciárias devidas pelo empregador ao
Regime Próprio de Previdência Social - RPPS inferior ao montante estabelecido na legislação
municipal, em R$ 10.365,40.

Devidamente citado, fls. 2.141/2.144, o Prefeito Municipal, Sr. José Alberto Soares Barbosa,
apresentou a contestação de fls. 2.14512.280, na qual juntou documentos e argumentou, em
síntese, que: a) o valor dos gastos com pessoal informado no RGF divergiu dos dados da
PCA diante da contabilização como transferência financeira da contribuição patronal devida
ao Instituto de Previdência Municipal; b) em 2007, foram realizadas licitações para aquisição
de impressos, materiais de construção, peças para veículos, refeições, transporte estudantil
e leite, bem como para locação de caminhão; c) as despesas com locação de veículos foram
devidamente licitadas em 2005 e 2006; d) esta Corte tem entendido como caso de
inexigibilidade os dispêndios com produção de eventos musicais; e) a aquisição de
medicamentos era urgente e imprevisível, os gêneros alimentícios foram comprados de
hortifrutigranjeiros e os materiais de limpeza constituem demanda das diversas secretarias
municipais; e f) os credores das despesas com exames laboratoriais, refeições e botijões de
gás são os únicos fornecedores no Município.

Encaminhados os autos à unidade de instrução, esta, examinando a referida peça processual


de defesa, emitiu o relatório de fls. 2.282/2.283, onde manteve in totum o seu
posicionamento exordial relativamente a todas as eivas apontadas.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria,


fls. 2.285/2.294, pugnou pela (o): a) emissão de parecer contrário à aprovação e
irregularidade das contas anuais do Chefe do Poder Executivo do Município de Boa Vista;
b) cominação de multa pessoal ao Sr. José Alberto Soares Barbosa, em seu valor máximo,
por força das irregularidades constatadas; c) envio de recomendações ao Prefeito Municipal;
d) remessa de cópia dos autos ao Ministério Público Comum; e e) representação ao Instituto
Nacional do Seguro Social - INSS, ao Ministério Público do Trabalho - MPT e à Procuradoria
da República na Paraíba, acerca do recolhimento parcial das contribuições previdenciárias.

Solicitação de
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Da análise efetuada pelos peritos do Tribunal, constata-se que as contas apresentadas pelo
Prefeito Municipal de Boa Vista/PB, Sr. José Alberto Soares Barbosa, revelam algumas
irregularidades remanescentes. Entretanto, impende comentar ab initio que a diferença
referente ao pagamento das obrigações patronais junto ao Instituto Nacional do Seguro
Social - INSS, R$ 163.865,47, não subsiste, tendo em vista que a base de cálculo utilizada
para a apuração do valor devido, R$ 2.212.287,42, incluiu parte da folha de pagamento dos
servidores efetivos vinculados ao Regime Próprio de Previdência Social - RPPS,
R$ 1.290.561,78, fi. 1.022/1.083. Portanto, as contribuições previdenciárias a cargo do
empregador, relativas ao exercício de 2006, empenhadas e pagas pelo Município ao INSS,
R$ 294.313,96, estão condizentes com o montante da folha de pagamento do pessoal
vinculado ao Regime Geral de Previdência Social- RGPS, R$ 921.725,64.

Por outro lado, foi observado pelos inspetores da Corte, fi. 2.138, que os dados constantes
do Relatório de Gestão Fiscal - RGF do segundo semestre do período apresentaram
imperfeições técnicas, notadamente no que respeita à ausência de registro de despesas com
pessoal, na importância de R$ 568.150,02, sendo R$ 346.406,00 relativos a 9astos
incorretamente contabilizados como OUTROS SERVIÇOS DE TERCEIROS - PESSOA FISICA,
R$ 163.865,47 referentes a obrigações patronais supostamente devidas ao INSS e
R$ 57.878,55 concernentes aos encargos sociais relativos ao PASEP. Sendo assim, segundo a
apuração realizada inicialmente, fi. 2.136, as despesas com pessoal do Poder Executivo
somaram R$ 3.418.503,71 ou 46,97% da Receita Corrente Líquida - RCL, R$ 7.277.500,30,
enquanto o valor informado no RGF - 20 semestre foi de apenas R$ 2.895.737,26 ou
39,86% da RCL, fi. 619.

Ressalte-se, porém, que é necessário excluir do montante apontado, R$ 3.418.503,71, as


presumidas contribuições previdenciárias devidas ao INSS, R$ 163.865,47, pelas razões já
expostas anteriormente, e incluir aquelas repassadas ao Instituto Próprio de Previdência da
Comuna sob a forma de transferências financeiras, no valor de R$ 21.533,68. Dessa forma,
as despesas com pessoal do Poder Executivo somam, em verdade, R$ 3.276.171,92,
representando 45,02% da RCL, valor este ainda divergente do apresentado no Relatório de
Gestão Fiscal - RGF em comento.

Tal fato, além de demonstrar um certo desprezo da autoridade responsável aos preceitos
estabelecidos na lei instituidora de normas gerais de direto financeiro - Lei Nacional
n.o 4.320/64 -, prejudica a transparência das contas públicas pretendida com o advento da
reverenciada Lei Complementar n. o 101/2000 - Lei de Responsabilidade Fiscal -, onde o
RGF figura como instrumento dessa transparência, conforme preceituam seus dispositivos,
in verbis.

Art. 1°, (omissis)

§ 10 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada


transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios cap e de
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afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas


de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições
no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da
seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de
crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e
inscrição em Restosa Pagar.

...
( )

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações de
contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução
Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
destes documentos.

Em relação à carência de certames Iicitatórios, é necessário subtrair do total apontado pelos


analistas deste Tribunal, R$ 645.716,65, as despesas com locação de veículos respaldadas
por aditivos contratuais decorrentes de licitações efetivamente realizadas, na importância de
R$ 23.437,35, consoante documentação apresentada na defesa, fls. 2.175/2.246, reduzindo,
portanto, o montante para R$ 622.279,30. Neste sentido, cabe destacar que a licitação é o
meio formalmente vinculado que proporciona à Administração Pública melhores vantagens
nos contratos e oferece aos administrados a oportunidade de participar dos negócios
públicos. Quando não realizada, representa séria ameaça aos princípios constitucionais da
legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem como da própria
probidade administrativa.

Nesse diapasão, traz-se à baila pronunciamento da ilustre representante do Ministério


Público junto ao Tribunal de Contas do Estado da Paraíba, Dra. Sheyla Barreto Braga de
Queiroz, nos autos do Processo TC n.O 04981/00, vejamos:

A licitação é, antes de tudo, um escudo da moralidade e da ética


administrativa, pois, como certame promovido pelas entidades
governamentais a fim de escolher a proposta mais vantajosa às
conveniências públicas, procura proteger o Tesouro, evitando
favorecimentos condenáveis, combatendo o jogo de interesses escusos,
impedindo o enriquecimento ilícito custeado com o dinheiro do erário,
repelindo a promiscuidade administrativa e racionalizando os gastos e
investimentos dos recursos do Poder Público.

Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização dos mencionados
Iicitatórios exigíveis vai, desde a origem, de encontro ao preconizado
especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbatim:
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TRIBUNALDE CONTASDO ESTADO

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

1-( ...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços,


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigação de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações. (grifo ausente no original)

É importante salientar que as hipóteses infraconstitucionais de dispensa e inexigibilidade de


licitação estão claramente disciplinadas na Lei Nacional n.o 8,666, de 21 de junho de 1993,
Neste contexto, deve ser destacado que a não realização do certame, exceto nos restritos
casos prenunciados na reverenciada norma, é algo que, de tão grave, consiste em crime
previsto no art. 89, do próprio Estatuto das Licitações e dos Contratos Administrativos,
verbo ad verbum:

Art. 89 - Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei,


ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à
inexigibilidade:

Pena - detenção, de 3 (três) a 5 (cinco) anos, e multa.

Parágrafo Único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo


comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-
se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder
Público.

Ademais, consoante previsto no art. 10, inciso VIII, da lei que dispõe sobre as sanções
aplicáveis aos agentes públicos nos casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato,
cargo, emprego ou função na administração pública direta, indireta ou fundacional - Lei
Nacional n,O 8.429, de 2 de junho de 1992 -, a dispensa indevida do procedimento de
licitação consiste em ato de improbidade administrativa que causa prejuízo ao erário,
verbum pro verbo:

Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão a


erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou culposa, que enseje per a
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patrimonial, desvio, apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens


ou haveres das entidades referidas no art. 10 desta lei, e notadamente:

1-( ...)

VIII - frustrar a licitude de processo Iicitatório ou dispensá-lo


indevidamente; (grifo nosso)

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à manifestação


do eminente representante do Parquet especializado, Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos
autos do Processo TC n.o 04588/97, ipsis /itteris:

Cumpre recordar que a licitação é procedimento vinculado, formalmente


ligado à lei (Lei 8.666/93), não comportando discricionariedades em sua
realizaçãoou dispensa. A não realização de procedimento Iicitatório. fora das
hipóteses legalmente previstas. constitui grave infração à norma legal.
podendo dar ensejo até mesmo à conduta tipificada como crime. (grifamos)

Em referência às contribuições previdenciárias correntes devidas pelo empregador ao Fundo


dos Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM, é importante esclarecer, de pronto, que
o recolhimento enunciado pelos técnicos deste Pretório, no valor de R$ 89.926,18, trata-se,
em verdade, de parcelamento de débitos dos exercícios de 2004 e 2005, R$ 83.803,19, bem
como de contribuição patronal paga ao Instituto de Previdência dos Servidores Municipais de
Campina Grande - IPSEM, relativa a servidores desta Comuna à disposição do Município de
Boa Vista/PB, R$ 6.122,99, fls. 1.013/1.016. Na realidade, as obrigações patronais
correspondentes ao exercício de 2006 efetivamente recolhidas ao Regime Próprio de
Previdência Social - RPPS da Urbe, mediante transferências financeiras, somaram apenas
R$ 21.533,68, conforme informações da PCA e do RGF referente ao segundo semestre,
fls. 65 e 619.

Logo, considerando a alíquota de 8% (oito por cento), estabelecida pela Lei Municipal
n.O 53, de 12 de janeiro de 1998, sobre as folhas de pagamento do pessoal efetivo da
Comuna referentes ao exercício sub studio, R$ 1.290.561,78, depreende-se que o montante
das contribuições previdenciárias, a cargo do empregador, devidas ao Instituto Próprio de
Previdência do Município, é de R$ 103.244,94, evidenciando um recolhimento a menor no
período de R$ 81.711,26 e não de R$ 10.365,40, como apontado na peça inicial. Tal
procedimento, além de suscitar a imperfeição nas informações contábeis do Município,
representa séria ameaça ao equilíbrio financeiro e atuarial que deve perdurar nos sistemas
previdenciários, com vistas a resguardar o direito dos segurados em receber seus benefícios
no futuro.

Além disso, referida irregularidade pode ser enquadrada como ato de improbidad
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, conforme disR-
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art. 11, inciso I, da já mencionada lei que trata das sanções aplicáveis aos agentes
públicos - Lei Nacional n.o 8.429, de 2 de junho de 1992, in verbis.

Art. 11. Constitui ato de improbidade administrativa que atenta contra os


princípios da Administração Pública qualquer ação ou omissão que viole os
deveres da honestidade, imparcialidade, legalidade e a lealdade às
instituições, e notadamente:

I - praticar ato visando fim proibido em lei ou regulamento ou diverso


daquele previsto, na regra de competência; (grifos inexistentes no original)

Nesse ponto, importa comentar ainda, por oportuno, que a mencionada Lei Municipal
n.o 53/98, vigente em 2006, que fixou a alíquota de 8% (oito por cento) sobre a folha de
pagamento dos efetivos tanto para a contribuição previdenciária dos servidores, quanto para
a parte patronal, estava em desacordo com as determinações consignadas na lei que dispõe
sobre as regras gerais para a organização e o funcionamento dos regimes próprios de
previdência social dos servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos
Municípios, dos militares dos Estados e do Distrito Federal - Lei Nacional n.o 9.717, de 27 de
novembro de 1998 -, na sua atual redação dada pela Lei Nacional n.o 10.887, de 18 de
junho de 2004, verbatim:

Art. 2° A contribuição da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos


Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, aos regimes próprios de
previdência social a que estejam vinculados seus servidores não poderá ser
inferior ao valor da contribuição do servidor ativo, nem superior ao dobro
desta contribuição.

...
( )

Art. 3° As alíquotas de contribuição dos servidores ativos dos Estados, do


Distrito Federal e dos Municípios para os respectivos regimes próprios de
previdência social não serão inferiores às dos servidores titulares de cargos
efetivos da União, devendo ainda ser observadas, no caso das contribuições
sobre os proventos dos inativos e sobre as pensões, as mesmas alíquotas
aplicadas às remunerações dos servidores em atividade do respectivo ente
estatal.

Somente ao final de 2006 a situação foi regularizada, mediante a Lei Municipal n.O 307, de
04 de dezembro de 2006, que fixou a contribuição do ente em 13% sobre o valor total da
folha de contribuição dos segurados ativos e em 11% a alíquota de contribuição dos
segurados ativos, inativos e pensionistas, incidente sobre o valor da remuneração, segun
análise realizada pelo Ministério da Previdência Social - MPS, fi. 2.117.
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Diante deste contexto, merece destaque o fato de que duas das máculas remanescentes nos
presentes autos constituem motivo de emissão, pelo Tribunal, de parecer contrário à
aprovação das contas do Prefeito Municipal de Boa Vista/PB, conforme disposto nos itens 2.5
e 2.10, do Parecer Normativo PN - TC - 52/2004, verbo ad verbum:

2. Constituirá motivo de emissão, pelo Tribunal, de PARECER CONTRÁRIO à


aprovação de contas de Prefeitos Municipais, independentemente de
imputação de débito ou multa, se couber, a ocorrência de uma ou mais das
irregularidades a seguir enumeradas:

( ) ...
2.5. não retenção e/ou não recolhimento das contribuições previdenciárias
aos órgãos competentes (INSS ou órgão do regime próprio de previdência,
conforme o caso), devidas por empregado e empregador, incidentes sobre
remunerações pagas pelo Município;

( ...)
2.10. não realização de procedimentos licitatórios quando legalmente
exigidos;

Por fim, ante as diversas transgressões a disposições normativas do direito objetivo pátrio,
decorrentes da conduta implementada pelo Chefe do Poder Executivo da Comuna de Boa
Vista, Sr. José Alberto Soares Barbosa, resta configurada a necessidade imperiosa de
aplicação da multa de R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria n.o 039/06 do TCE/PB -,
prevista no art. 56, inciso II, da Lei Orgânica do TCE/PB - Lei Complementar Estadual
n.o 18, de 13 de julho de 1993, verbum pro verbo:

Art. 56 - O Tribunal pode também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:

I- (omissis)

II - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) Com fulcro no art. 71, inciso I, c/c o art. 31, § 1°, da Constituição Federal, no art. 13, §
1°, da Constituição do Estado da Paraíba, e no art. 1°, inciso IV, da Lei Complementar
Estadual n.O 18/93, EMITA PARECER CONTRÁRIO à aprovação das contas do Prefei
Municipal de Boa Vista/PB, Sr. José Alberto Soares Barbosa, relativas ao exercício financei o

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'I
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de 2006, encaminhando-o à consideração da ego Câmara de Vereadores do Município para


julgamento político da referida autoridade.

2) Com fundamento no art. 71, inciso II, da Constituição do Estado da Paraíba, bem como
no art. 1°, inciso I, da Lei Complementar Estadual n.o 18/93, JULGUE IRREGULARES as
contas do Ordenador de Despesas da Comuna no exercício financeiro de 2006, Sr. José
Alberto Soares Barbosa.

3) Com base no que dispõe o art. 56, inciso II, da Lei Complementar Estadual
n.° 18/93 - LOTCE/PB, APLIQUE MULTA ao Chefe do Poder Executivo, Sr. José Alberto
Soares Barbosa, no valor de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos).

4) CONCEDA-LHE o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da penalidade


ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto no art. 3°,
alínea "a", da Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à Procuradoria
Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o término daquele
período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do Ministério Público
Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da Constituição do
Estado da Paraíba, e na Súmula n.O 40, do ego Tribunal de Justiça do Estado da
Paraíba - TJ/PB.

5) FAÇA recomendações no sentido de que o Prefeito da Urbe não repita as irregularidades


apontadas no relatório dos peritos da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os
preceitos constitucionais, legais e regulamentares pertinentes.

6) COMUNIQUE ao Presidente do Fundo dos Servidores Municipais de Boa Vista/PB - FUSEM,


Sr. Bartos Batista Bernardes, acerca da necessidade de apuração e cobrança das
contribuições previdenciárias incidentes sobre as remunerações dos servidores municipais
relativas ao exercício de 2006.

7) Com suporte no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETA
cópias das peças técnicas, fls. 2.129/2.141 e 2.282/2.283, do parecer do Ministério Público
Especial, fls. 2.2 294, e desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado
da Paraíba par as pro ldênclas cabíveis.

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