Você está na página 1de 6

TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO Te 2.323/06

Prestação de Contas do Prefeito do Município


de Boa Ventura, Sr. José Pinto Neto, relativa ao
exercício financeiro de 2005 - Atendimento
parcial aos dispositivos da LRF.

ACÓRDÃO APL TC N° ?t f /08

Vistos, relatados e discutidos os presentes autos do Processo TC


2.323/06, que trata da Prestação de Contas apresentada Prefeito do Município de
BOA VENTURA, Sr. José Pinto Neto, relativa ao exercício financeiro de 2005.

CONSIDERANDO que a Auditoria, após análise dos documentos que


instruem o presente processo, inclusive das denúncias a ele anexadas e dos
esclarecimentos apresentados pelo Prefeito Municipal, constatou as seguintes
irregularidades:

1) Falta de manutenção do equilíbrio entre receitas e despesas;


2) Ausência de empenhamento e pagamento de despesas da
competência de 2005, relativas a Vencimentos de Pessoal e de
Recolhimento Previdenciário, no montante de R$ 189.733,67;
3) Incorreta elaboração dos Balanços Orçamentário, Financeiro e
Patrimonial e do Demonstrativo da Dívida Flutuante;
4) Não realização de 04 processos licitatórios no montante de R$
101.126,36, representando 2,49% da despesa orçamentária
realizada no exercício;
5) Procedimentos licitatórios, no montante de R$ 414.230,01,
apresentando irregularidades diversas, a exemplo da falta de
certidão negativa de débitos previdenciários dos licitantes; da não
habilitação dos licitantes junto ao Fisco Estadual; da não
apresentação da habilitação do licitante vencedor e licenciamento
em atraso em licitação de locação de veículo; licitação de 02 (duas)
obras, cujo licitante vencedor apresentou certidão negativa quanto à
dívida ativa da União com data de validade vencida;
6) Diferença negativa de R$ 3.312,75 entre o saldo contábil apurado
negativo de R$ 6.647,84 e o saldo conciliado de R$ 3.335,09,
quanto à movimentação financeira da conta corrente do FUNDEF;
7) Aplicação de 9,31 % das receitas de impostos e transferências em
Ações e Serviços Públicos de Saúde, para um mínimo
constitucionalmente exigido de 15%;
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO Te 2.323/06

8) Contratação de serviços de capinagem de ruas e avenidas, no


montante de R$ 22.774,80, com a firma Araújo Construção, cuja
atividade principal e secundária são, respectivamente, obras de
engenharia e reboco, e serviços de pintura em edificações em geral,
segundo registro na Junta Comercial, portanto, incompatíveis com
os serviços contratados;
9) Contratação de serviços de locação de veículo, no valor de R$
50.000,00, com a firma LOCAR, vencedora de processo licitatório
irregular, tendo em vista que o licitante não apresentou certidão
negativa de débitos previdenciários e encontrava-se, á época do
certame, não habilitado perante o Fisco Estadual, conforme consulta
realizada pela Auditoria junto ao SINTEGRA;
10)Despesas injustificadas com a contratação de bandas musicais e
festividades, no montante de R$ 139.081,20, correspondendo a
44,33% das despesas com saúde, não tendo o município aplicado o
mínimo legalmente exigido nesta área e não tendo efetuado o total
do pagamento de pessoal no exercício;
11)Diferença de preço injustificada com a contração de banda musical,
para as festividades carnavalescas do Município, no valor de R$
5.000,00, quando a mesma banda recebeu da Prefeitura de
Itaporanga, nas festividades juninas do mesmo ano, apenas o valor
de R$ 3.000,00;
12)Veículos locados pela Prefeitura com emplacamento em atraso e
despesas com locação de veículos no montante de R$ 101.350,00,
em afronta ao princípio da economicidade;
13)Divergência de informações sobre as condições dos veículos entre a
listagem fornecida ao SAGRES e o que foi constatado durante a
inspeção "in loco";
14)Execução de despesas com obras no prédio locado ao Programa
PETI;
15)Transporte de estudantes executado por meio de caminhões e
camionetas com carroceria aberta, conforme constatado na
inspeção "in loco", em descumprimento à norma deste Tribunal;
16)Existência de inúmeros servidores comissionados e prestadores de
serviços contratados que têm parentesco com o Prefeito, entre eles
a esposa, o filho, irmãos, cunhada e primos, caracterizando atos de
nepotismo;
17)Ausência de escritura pública referente à aquisição de um terreno ao
Sr. Ernande Cândido Pereira, para a construção do aterro sanitário
municipal, que encontra-se hipotecado junto ao Banco do Nordeste;

(/J1
/
/

2
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO TC 2.323/06

CONSIDERANDO que o Ministério Público desta Corte, em parecer de


fls. 4.660/4.667, pugnou pela:

a. Emissão de parecer contrário à aprovação das contas e


irregularidade das contas anuais nos termos do Parecer Normativo
TC 52/2004;
b. Declaração de atendimento parcial aos requisitos da Lei de
Responsabilidade Fiscal;
c. Rejeição da denúncia/representação subscrita pela Procuradoria do
Trabalho da 13a Região;
d. Imputação de débito ao Prefeito de todas as despesas não
comprovadas ou achadas antieconômicas e irregulares pela
Auditoria, combinada com a cominação de multa pessoal, prevista
na Lei Orgânica deste Tribunal;
e. Recomendação à Administração Municipal no sentido de evitar e
não mais repetir as irregularidades apontadas;
f. Remessa de cópias dos autos ao Ministério Público Comum para as
providências de sua competência;
g. Comunicação formal do teor da decisão ao Exmo. Sr. Procurador do
Trabalho da 13a Região, Or. Eduardo Varandas Araruna, na
qualidade de autoridade-denunciante;
h. Desentranhamento dos documentos relativos à denuncia anônima.

CONSIDERANDO que o Órgão Técnico desta Casa, ao reexaminar os


documentos relativos às despesas em ações e serviços públicos de saúde,
retificou o valor percentual da aplicação das receitas de impostos e transferências
nelas aplicadas para 18,30%;

CONSIDERANDO que a irregularidade concernente à gestão fiscal


justifica a declaração de atendimento parcial às disposições da LRF;

CONSIDERANDO que entende o relator poderem ser relevadas as


irregularidades atinentes às divergências constatadas nos registros e
demonstrativos contábeis, ao não empenhamento de despesas em tempo hábil e
à incorreta elaboração dos balanços gerais, sem prejuízo de recomendar-se à
atual Administração Municipal de Boa Ventura a não repetição das citadas falhas;

CONSIDERANDO que, na opinião do Relator, também deve ser


recomendado à Administração daquele município a não reincidência nas falhas
detectadas na realização de procedimentos licitatórios, bem como na contratação
de serviços diversos pela Edilidade, porquanto não consta dos autos nenhum
registro de que os serviços não foram executados ou que trouxeram prejuízos ao
Erário.

3
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO TC 2.323/06

CONSIDERANDO entender o Relator que a diferença apontada entre o


saldo contábil e o saldo bancário conciliado do FUNDEF não motiva qualquer
imputação de débito, uma vez que a divergência apurada normalmente é
provocada por gastos realizados com as retenções efetuadas em alguns
pagamentos e que não são transferidas para as respectivas contas bancárias.

CONSIDERANDO que o Relator considera inexistir falha nas despesas


com a contratação de bandas musicais, apontadas como irregulares pela
Auditoria;

CONSIDERANDO que, em relação às despesas com a locação de


veículos, também indicadas como irregulares pela Auditoria, o Relator as
considera regulares, por entender que elas não causaram prejuízo ao Município e
foram realizadas com base no Poder Discricionário do Gestor Público.

CONSIDERANDO que a Auditoria considerou como não licitadas as


despesas com a aquisição de combustíveis, no valor de R$ 72.736,55,
unicamente em razão de vício contido na documentação apresentada pelo
licitante vencedor, o que, na opinião do Relator, tem cunho eminentemente
formal;

CONSIDERANDO que, no entender do Relator, a ausência de licitação


para os gastos realizados com a aquisição de tintas (R$ 9.686,90), com o
conserto de móveis e utensílios (R$ 9.530,50) e com o fornecimento de
combustíveis (R$ 9.172,41) pode ser relevada, sem prejuízo de recomendar-se à
Administração do Município de Boa Ventura a observância da legislação
pertinente a estas espécies de procedimento;

CONSIDERANDO que o Relator entende deverem ser remetidas ao


denunciante as conclusões da denúncia referente às contratações de parentes
próximos realizadas pela Administração Municipal;

CONSIDERANDO que a falha referente à aquisição de um terreno de


particular pela Prefeitura, na opinião do Relator, não macula as contas prestadas,
cabendo apenas as devidas recomendações à Prefeitura para regularização da
situação apontada pelo órgão técnico desta Casa.

CONSIDERANDO que, no entender do Relator, em relação à


irregularidade atinente ao transporte de estudantes em carrocerias abertas, cabe
tão somente recomendar-se ao Gestor para que proceda à adequação à norma
baixada por Resolução deste Tribunal;

4
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO Te 2.323/06

CONSIDERANDO que foi atendida a exiqêncla constitucional


relacionada à aplicação de 15% das receitas de impostos e transferências em
Ações e Serviços Públicos de Saúde.

CONSIDERANDO que as demais falhas apontadas pela Auditoria são


de pequena monta, podendo, no entendimento do Relator, ser relevadas;

CONSIDERANDO que o Conselheiro Marcos Ubiratan Guedes Pereira


sugeriu a assinação de prazo 60 (sessenta) dias ao Sr. José Pinto Neto, Prefeito
do Município de Boa Ventura, para tomar as providencias necessárias à
regularização da falha atinente à ausência de escritura pública do terreno
adquirido ao Sr. Ernande Cândido Pereira, para a construção do aterro sanitário
municipal, e que encontra-se hipotecado junto ao Banco do Nordeste;

CONSIDERANDO que os demais conselheiros, inclusive o Relator,


acataram a sugestão retromencionada;

CONSIDERANDO o Relatório e o Voto do Relator, o pronunciamento


do Órgão de Instrução, o Parecer escrito e oral do Ministério Público junto a esta
Corte e o mais que dos autos consta;

ACORDAM os membros integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO


ESTADO DA PARAíBA, em sessão realizada nesta data, por unanimidade de
votos, em:

a) Declarar o atendimento parcial pelo Chefe do Poder Executivo


Municipal às exigências da Lei de Responsabilidade Fiscal,
relativamente ao exercício de 2005;
b) Recomendar à Administração Municipal no sentido de evitar a
repetição das falhas e omissões constatadas no exercício em
análise, sob pena de desaprovação de futuras contas e da aplicação
de outras sanções legais;
c) Encaminhar comunicação formal do teor desta decisão ao Exmo. Sr.
Procurador do Trabalho da 13a Região, Or. Eduardo Varandas
Araruna, na qualidade de autoridade denunciante;
d) Assinar o prazo de 60 (sessenta) dias ao gestor acima caracterizado
para demonstrar a este Tribunal a regularização da falha atinente à
ausência de escritura pública do terreno adquirido ao Sr. Ernande
Cândido Pereira, para a construção do aterro sanitário municipal, e
que encontra-se hipotecado junto ao Ban o do Nordeste

5
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO
PROCESSO Te 2.323/06

Presente ao julgamento a Exmo. Senhor Procurador Geral em


exercício.

Publique-se, registre-se, cumpra-se.

TC - PLENÁRIO MINISTRO JOÃO AGRIPINO

João Pessoa, ul de de 2008.

) O ALVES VIANA
,/ ./t/'f /8t/J!
t- I
SÉ MARQUES MARIZ
Iheiro Presidente Conselheiro Relator

Você também pode gostar