Você está na página 1de 13

Publicado no O. O. E.

Em,_ir i
1_ ,
l. 1 ! ·c ,}

de fribunal Pleno

PROCESSOTC N.o 02794/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Geraldo de Souza Leite
Advogado: Dr. Fábio Venâncio dos Santos

EMENTA: PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL - PRESTAÇÃO DE


CONTAS ANUAIS - PRESIDENTE DE CÂMARA DE VEREADORES -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO n,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 -
Subsistência de máculas que, no presente caso, não comprometem
totalmente o equilíbrio das contas. Regularidade com ressalvas.
Recomendações. Representação.

PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS DO PRESIDENTE


Vistos, relatados e discutidos os autos da
DA CÂMARA MUNICIPAL DE CUITÉjPB, relativa ao exercício financeiro de 2006,
SR. GERALDO DE SOUZA LEITE, acordam, por unanimidade, os Conselheiros integrantes do
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária realizada nesta data,
na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir, em:

1) JULGAR REGULARES COM RESSALVASas referidas contas.

2) ENVIAR recomendações no sentido de que o Presidente da Câmara Municipal de Cuité/PB,


Sr. Geraldo de Souza Leite, não repita as irregularidades apontadas no relatório dos peritos
da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os preceitos constitucionais, legais e
regulamentares pertinentes.

3) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, COMUNICAR
à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, acerca da falta de
recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador, incidentes
sobre a folha de pagamento dos agentes políticos e servidores comissionados da Câmara

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino \;
'\
João Pessoa, 05 de novembro de 2008
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

Conselhei

C\, r -rr»;

N__-....
presente:~
Represen
~
nte do Ministério Público Especial -es-
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

Cuidam os presentes autos do exame das contas do Presidente da Câmara Municipal de


Cuité/PB, relativas ao exercício financeiro de 2006, Sr. Geraldo de Souza Leite, apresentadas
a este ego Tribunal em 02 de abril de 2007, mediante o Ofício n.O 63/2007/CMC/GAPRE,
datado de 29 de março de 2007, fl. 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com base nos
documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 75/79, constatando,
sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas ao TCE/PB no prazo legal; b) a Lei
Orçamentária Anual - Lei Municipal n.o 670/2005 - estimou as transferências em
R$ 518.356,40 e fixou a despesa em igual valor; c) a receita orçamentária efetivamente
transferida, durante o exercício, foi da ordem de R$ 527.163,24, correspondendo a 101,70%
da previsão originária; d) a despesa orçamentária realizada atingiu o montante de
R$ 523.485,39, representando 100,99% dos gastos fixados; e) o total da despesa do Poder
Legislativo alcançou o percentual de 8,08% do somatório da receita tributária e das
transferências efetivamente arrecadadas no exercício anterior pela Urbe - R$ 6.452.822,19;
f) os gastos com folha de pagamento da Câmara Municipal abrangeram a importância de
R$ 352.960,90 ou 66,95% dos recursos transferidos; g) a receita extra-orçamentária,
acumulada no período, compreendeu o montante de R$ 52.040,48; e h) a despesa
extra-orçamentária, executada durante o exercício, atingiu a soma de R$ 55.703,25.

Quanto aos subsídios dos Vereadores, verificaram os técnicos da DIAGM VI que:


a) os Membros do Poder Legislativo da Comuna receberam subsídios de acordo com o
disciplinado no art. 29, inciso VI, da Lei Maior; b) os estipêndios dos Edis estiveram dentro
dos limites instituídos na Lei Municipal n.° 633/2004, quais sejam, R$ 6.000,00 para o Chefe
do Legislativo e R$ 3.000,00 para os demais Vereadores; e c) os vencimentos totais
recebidos no exercício pelos referidos agentes políticos, inclusive os do Presidente da
Câmara, alcançaram o montante de R$ 257.189,70, correspondendo a 2,20% da receita
orçamentária efetivamente arrecadada no exercício pelo Município - R$ 11.683.738,27.

No tocante aos aspectos relacionados à gestão fiscal, destacaram os analistas da unidade de


instrução que: a) a despesa total com pessoal do Poder Legislativo alcançou a soma de
R$ 403.256,12 ou 3,46% da Receita Corrente Líquida - RCL da Comuna - R$ 11.656.387,33;
e b) os Relatórios de Gestão Fiscal - RGFs dos dois semestres do período foram enviados ao
Tribunal dentro do prazo, porém.

Ao final, os inspetores da Corte apontaram as seguintes irregularidades: a) gastos do Pode


Legislativo em dissonância com o disposto no art. 29-A da Constituição Federal; b) ausência',
de comprovação da publicação dos RGFs do período; c) incompatibilidade de informações
entre o RGF - 2° semestre do exercício e a Prestação de Contas Anuais - PCA;
d) inconformidades nos registros da execução orçamentária, notadamente no tocante à
despesa realizada; e) carência de procedimento licitatório para despesas, no montante de
R$ 30.221,50, equivalente a 5,79% da despesa orçamentária; e f) não recolhimento e
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

obrigações patronais devidas ao Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, na importância


de R$ 24.261,57.

Processadas as devidas citações, fls. 79-verso/81 e 85/92, o responsável técnico pela


contabilidade da Câmara Municipal de Cuité/PB, durante o exercício financeiro de 2006,
Dr. Gilberto de Pontes Azevedo, deixou o prazo transcorrer sem qualquer manifestação
acerca das falhas contábeis detectadas no relatório inicial.

Já o Presidente do Poder Legislativo da Comuna, Sr. Geraldo de Souza Leite, apresentou


contestação, fls. 93/198, na qual juntou documentos e argumentou, em síntese, que:
a) para verificar o percentual das despesas do Poder Legislativo, é preciso subtrair os
dispêndios com inativos, que somaram, em 2006, R$ 12.679,50; b) os RGFs do exercício em
análise foram devidamente publicados no Diário Oficial do Município e divulgados em locais
públicos, conforme comprovação; c) o cálculo dos gastos com pessoal realizado deixou de
incluir os valores correspondentes aos elementos de despesas 3.1.90.01 APOSENTADORIAS
E REFORMAS e 3.1.90.09 - SALÁRIO FAMÍLIA, bem como as contribuições patronais para o
regime próprio de previdência do Município; d) houve equívoco na quantia registrada no
elemento 3.1.90.36 - OUTROS SERVIÇOS DE TERCEIROS - PESSOA FÍSICA constante no
RESUMO GERAL DA DESPESA da PCA, fato prontamente corrigido; e) a contratação de
advogado e contador levou em conta a experiência e a relação de confiança existente;
f) a jurisprudência é uníssona quanto a possibilidade de não realização de licitação para a
contratação de profissionais das áreas jurídica e contábil e, no presente caso, não houve
qualquer prejuízo ao erário; g) no que respeita à aquisição de produtos de limpeza, no total
de R$ 8.441,50, o montante que excedeu o limite de dispensa foi irrisório, razão pela qual
merece ser relevado; e h) quanto às obrigações patronais, é necessário registrar que a Casa
Legislativa possui servidores vinculados ao Regime Próprio de Previdência Social - RPPS e,
portanto, a base de cálculo para apuração dos valores devidos ao INSS é, na realidade, de
R$ 284.467,45, e não R$ 352.960,90, como apontado no relatório inicial.

Encaminhados os autos à unidade técnica, esta, examinando a referida peça processual de


defesa, emitiu o relatório de fls. 237/242, onde considerou elididas as eivas concernentes a:
a) gastos do Poder Legislativo em dissonância com o disposto na Carta Magna; b) ausência
de comprovação da publicação dos Relatórios de Gestão Fiscal - RGFs do período; e
c) inconformidades nos registros da execução orçamentária. Em seguida, diminuiu o
montante não pago das obrigações patronais devidas ao INSS de R$ 24.261,57 para
R$ 9.877,94. Por fim, manteve in totum o seu posicionamento exordial relativamente às
demais máculas.

O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, ao se pronunciar sobre a matéria, emitiu o


parecer de fls. 244/246, pugnando pela: a) regularidade com ressalvas das contas em
análise; b) aplicação de multa ao Sr. Geraldo de Souza Leite, diante da transgressão a
normas legais, nos termos do art. 56, incisos H e IH, da Lei Orgânica desta Corte; e
c) notificação da Autarquia Previdenciária para que tome conhecimento do teor do pro sso
em análise. ' .
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

Solicitação de pauta, conforme fls. 247/248 dos autos.

É o relatório.

Manuseando o álbum processual, constata-se que as contas apresentadas pelo Presidente da


Câmara Municipal de Cuité/PB, Sr. Geraldo de Souza leite, relativas ao exercício financeiro
de 2006, revelam algumas irregularidades remanescentes. Entrementes, em que pese o
posicionamento dos especialistas deste Sinédrio de Contas, impende comentar, inicialmente,
que as despesas com pessoal registradas no Relatório de Gestão Fiscal - RGF do segundo
semestre do período, no montante de R$ 423.372,38, fi. 60, encontra-se em conformidade
com o disposto no art. 18, da lei Complementar Nacional n.O 101/2000 - lei de
Responsabilidade Fiscal, in verbis.

Art. 18. Para os efeitos desta Lei Complementar, entende-se como despesa
total com pessoal: o somatório dos gastos do ente da Federação com os
ativos, os inativos e os pensionistas, relativos a mandatos eletivos, cargos,
funções ou empregos, civis, militares e de membros de Poder, com
quaisquer espécies remuneratórias, tais como vencimentos e vantagens,
fixas e variáveis, subsídios, proventos da aposentadoria. reformas e
pensões, inclusive adicionais, gratificações, horas extras e vantagens
pessoais de qualquer natureza, bem como encargos sociais e contribuicões
recolhidas pelo ente às entidades de previdência. (nossos grifos)

Conforme alegações do defendente, fI. 96, no presente caso, faz-se necessária a inclusão de
valores registrados nos elementos de despesa 3.1.90.01 - APOSENTADORIAS E REFORMAS,
na soma de R$ 13.770,61, e 3.1.90.09 - SALÁRIO FAMÍLIA, no valor de R$ 434,49, bem
como da contribuição patronal transferida ao Instituto de Previdência dos Servidores de
Cuité/PB no exercício sub studio, na importância de R$ 5.911,16. Portanto, entende-se que
os gastos com pessoal do Poder legislativo da Comuna, em 2006, somaram R$ 423.372,38,
representando 3,63% da Receita Corrente Líquida - RCl, R$ 11.656.387,33, inexistindo,
assim, a eiva antes apontada.

Por outro lado, não restou efetivamente comprovado nos autos a publicação e/ou divulgação
do RGF concernente ao primeiro semestre do exercício, uma vez que a documentação
acostada pela defesa, fls. 117/135, refere-se apenas ao relatório do 2° semestre. logo, tem-
se prejudicada a transparência das contas públicas, estabelecida nos artigos 48 e 55, § 20,
da já citada lei de Responsabilidade Fiscal - lRF, verbatim:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução


Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
destes documentos.

( ) ...
Art. 55. (omissis)

( ...)
§ 1° (...)

§ 20 O relatório será publicado até trinta dias após o encerramento do


período a que corresponder, com amplo acesso ao público, inclusive por
meio eletrônico. (grifos inexistentes no texto de origem)

É importante ressaltar que a comprovação da publicação desse instrumento deve ser enviada
a esta Corte, dentro de prazo estabelecido, consoante determinação contida na Resolução
Normativa RN - TC n.o 07/04, em seu art. 18, § 1°, verbo ad verbum:

Art. 18 - (omissis)

§ 10 - Cópia do RGF. acompanhada da respectiva comprovação de


publicação. deverá ser encaminhada ao Tribunal pelo Secretário das
Finanças, no caso do Poder Executivo do Estado, pelos Prefeitos, em relação
ao Poder Executivo dos Municípios e pelos titulares do Poder Legislativo do
Estado e dos Municípios, do Poder Judiciário, do Ministério Público e do
Tribunal de Contas do Estado, até o quinto dia útil do segundo mês
subseqüente ao de referência. (grifamos)

Já o art. 50, inciso I, e §§ 10 e 2°, da lei que dispõe, dentre outras, acerca das infrações
contra as normas de finanças públicas - Lei Nacional n.o 10.028, de 19 de outubro de
2000 -, determina que a não divulgação do relatório de gestão fiscal, nos prazos e condições
estabelecidos, também constitui violação administrativa, processada e julgada pelo Tribunal
de Contas, sendo passível de punição com multa pessoal de 30% (trinta por cento) dos
vencimentos anuais ao agente que lhe der causa, ipsis /itteris.

Art. 5Q Constitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas:

I - deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de


Contas o relatório de gestão fiscal, nos prazos e condições estabelecidos
lei;

II - (...)
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

§ 10 A infração prevista neste artigo é punida com multa de trinta por cento
dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento
da multa de sua responsabilidadepessoal.

§ 20 A infração a que se refere este artigo será processada e julgada pelo


Tribunal de Contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e
orçamentária da pessoajurídica de direito público envolvida.

Entretanto, apesar do disciplinado na supracitada norma, bem como no Parecer Normativo


PN - TC n.o 12/2006, onde o Tribunal já havia decidido exercer a competência que lhe fora
atribuída a partir do exercício financeiro de 2006, esta Corte, em decisões recentes, tem
deliberado pela não imposição daquela penalidade, haja vista a necessidade de uniformizar o
seu entendimento a respeito da matéria.

Especificamente, em relação às despesas da Câmara Municipal, os peritos da unidade de


instrução assinalaram a ausência de licitação para realização de gastos com serviços
contábeis e advocatícios, nos valores de R$ 9.600,00 e R$ 12.180,00, respectivamente, e
com aquisição de alimentos e produtos de limpeza, na quantia de R$ 8.441,50, perfazendo
um total de R$ 30.221,50, conforme fi. 75.

No que tange às contratações de contador e advogado, a defesa apresentada, fls. 97/101,


faz remissão a alguns julgados sobre a matéria que deliberaram pela dispensa ou
inexigibilidade do certame, levando-se em conta a confiança e a notória especialização dos
profissionais, bem como a natureza e o relevo do trabalho a ser contratado. Contudo, cabe
destacar, ab initio, que não houve comprovação da efetiva realização de procedimentos de
dispensa ou de inexigibilidade de licitação pelo Poder Legislativo de Cuité/PB em 2006 e
inexiste qualquer informação a respeito no Sistema de Acompanhamento da Gestão dos
Recursos da Sociedade - SAGRES.

Ademais, em que pese as recentes decisões deste Pretório de Contas acerca da


admissibilidade de procedimento de inexigibilidade de licitação para a contratação dos
referidos serviços, guardo reservas em relação a esse entendimento por considerar que tais
despesas não se coadunam com aquela hipótese, tendo em vista não se tratar de atividades
extraordinárias que necessitam de profissionais altamente habilitados nas suas respectivas
áreas, sendo, portanto, atividades rotineiras da Casa Legislativa.

Neste sentido, é importante mencionar o posicionamento, acerca da singularidade dos


serviços técnicos, exarado pelo eminente doutrinador Marçal Justen Filho, que, em sua obr
intitulada Comentários à Lei de Licitações e Contratos Administrativos, 5 ed., São Paulo,
Dialética, 1998, p. 262, assim se manifesta, verbis.

Como já observado, a natureza singular não é propriamente do serviço


do interesse público a ser satisfeito. A peculiaridade do serviço _,".Jo cn;:;:;•.••..:.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

refletida na natureza da atividade a ser executada pelo particular. Surge,


desse modo, a singularidade.

Com o intuito unicamente de exemplificar o entendimento das diversas Cortes de Contas


tupiniquins a respeito do assunto, transcreve-se decisão prolatada pelo egrégio Tribunal de
Contas do Estado do Rio de Janeiro - TCE/RJ, senão vejamos:

Contrato. Inexigibilidade de Licitação. Nulidade do Contrato e Multa. É.


indispensável que os serviços técnicos sejam de natureza singular, assim
não é bastante que o profissional tenha notória especialização. Existindo
dois ou mais competidores aptos a oferecer os serviços necessários, a
Administração terá de submeter-se à licitação. (TCE/RJ, Cons. Humberto
Braga, RTCE/RJn.o 29, jul./set./1995, p. 151) (grifo nosso)

Além do mais, como a propna norma preconiza, deve ficar evidenciada a notória
especialização do profissional prestador dos serviços para se configurar a hipótese de
inexigibilidade de licitação. Nos autos, nada existe que suscite a manifesta especialização dos
contratados pelo Poder Legislativo de Cuité/PB, Dr. Fábio Venâncio dos Santos e Dr. Gilberto
de Pontes Azevedo. Assim, reproduz-se o entendimento do Tribunal de Contas do Estado de
São Paulo - TCE/SP, verbum pro verbo:

Contratação de serviços técnicos profissionais especializados. Notória


especialização. Inexigibilidade de licitação. Singularidade. O Decreto-lei
n.o 2.300/96 já contemplava a espécie como de inexigibilidade de licitação,
desde que evidenciada a natureza singular dos serviços. Tem natureza
singular esses serviços, quando, por conta de suas características
particulares, demandem para a respectiva execução, não apenas habilitação
legal e conhecimentos especializados, mas também, ciência, criatividade e
engenho peculiares, qualidades pessoais insuscetíveis de submissão a
julgamento objetivo e por isso mesmo inviabilizadoras de qualquer
competição. (TCE/SP, TC - 133.537/026/89, Cons. Cláudio Ferraz de
Alvarenga, 29 novo1995) (destaques ausentes no original).

Por sua vez, o colendo Tribunal de Contas da União - TCU estabilizou seu posicionamento
acerca da matéria em análise através da, sempre atual, Súmula n.o 39, de 28 de dezembro~.... ..
de 1973, in verbis: \
. :\h
. \~
A dispensa de licitação para a contratação de serviços com profissionais ou .
firmas de notória especialização,de acordo com alínea "d" do art. 126, §
do Decreto-lei 200, de 25/02/67, só tem lu ar uando se trate de se
inédito ou incomum, capaz de exigir, na seleção do executor de confi
PROCESSOTC N.o 02794/07

um grau de subjetividade, insuscetível de ser medido pelos critérios


objetivos de qualificação inerentes ao processo de licitação. (nosso grifo)

Caminhando na esteira do raciocínio implementado pelo respeitável TCU, manifestou-se o


Tribunal de Contas do Estado do Paraná - TCEjPR, verbatim:

Licitação. Obrigatoriedade. Advogado. Contratação direta de advogado. com


base no art. 25. lI. da LF 8.666/93. Impossibilidade, tendo em vista que a
notória especialização só tem lugar quando se trata de serviço inédito ou
incomum. (TCE/PR, TC - 50.210/94, ReI. Cons. João Feder, RTCE, n.O 113,
[an/rnar 1995, p. 130) (grifos inexistentes no texto de origem)

No âmbito judicial, observa-se que Superior Tribunal de Justiça - STJ tem se posicionado
pela necessidade da efetiva comprovação da inviabilidade de competição para a
implementação do procedimento de inexigibilidade de licitação, consoante se verifica do
extrato de ementa transcrito a seguir, verbo ad verbum:

CRIMINAL. RESP. CRIME COMETIDO POR PREFEITO. COMPETÊNCIA


ORIGINÁRIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. REJEIÇÃO DA DENÚNICA.
CONTRATAÇÃO DE ADVOGADO E DE EMPRESA DE AUDITORIA PELO
MUNICÍPIO. INEXIGIBILIDADE DE LICITAÇÃO. INVIABILIDADE DE
COMPETIÇÃO NÃO DEMONSTRADA. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.
I - A inviabilidade de competição. da qual decorre a inexigibilidade de
licitação. deve ficar adequadamente demonstrada. o que não ocorreu in
casu. (...) (STJ - 5a Turma - RESP nO 704.108/MG, Rei. Ministro Gilson
Dipp, Diário da Justiça, 16 maio 2005, p. 402) (grifamos)

In casu, o Presidente da Câmara Municipal de CuitéjPB, Sr. Geraldo de Souza Leite, deveria
ter realizado o devido concurso público para a contratação dos profissionais das áreas
contábil e jurídica. Neste sentido, cabe destacar que a ausência do certame público para
seleção de servidores afronta os princípios constitucionais da impessoalidade, da moralidade
administrativa e da necessidade de concurso público, devidamente estabelecidos na cabeça
e no inciso II, do art. 37, da Constituição Federal, ipsis litteris.

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da \


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos \
princípios de legalidade, impessoalidade. moralidade. publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

I -(omissis) I'
PROCESSOTC N,o 02794/07

11 - a investidura em cargo ou emprego público depende de aprovacão


prévia em concurso público de provas ou de provas e títulos, de acordo com
a natureza e a complexidade do cargo ou emprego, na forma prevista em
lei, ressalvadas as nomeações para cargo em comissão declarado em lei de
livre nomeação e exoneração; (destaques ausentes no original)

Abordando o tema em disceptação, o insigne Procurador do Ministério Público Especial,


Dr. Marcílio Toscano Franca Filho, nos autos do Processo Te n.o 02791/03, epilogou de
forma bastante clara uma das facetas dessa espécie de procedimento adotado por grande
parte dos gestores municipais, verbis:

Não bastassem tais argumentos, o expediente reiterado de certos


advogados e contadores perceberem verdadeiros "salários" mensais da
Administração Pública, travestidos em "contratos por notória especialização",
em razão de serviços jurídicos e contábeis genéricos, constitui burla ao
imperativo constitucional do concurso público. Muito fácil ser profissional
"liberal" às custas do erário público. Não descabe lembrar que o concurso
público constitui meritório instrumento de índole democrática que visa
apurar aptidões na seleção de candidatos a cargos públicos, garantindo
impessoalidade e competência. JOÃO MONTEIRO lembrara, em outras
palavras, que só menosprezam os concursos aqueles que lhes não sentiram
as glórias ou não lhes absorveram as dificuldades. (grifos nossos)

Comungando com o supracitado entendimento, reportamo-nos, desta feita, à jurisprudência


do respeitável Supremo Tribunal Federal- STF,senão vejamos:

AÇÃO POPULAR - PROCEDÊNCIA - PRESSUPOSTOS. Na maioria das vezes,


a lesividade ao erário público decorre da própria ilegalidade do ato
praticado. Assim o é quando dá-se a contratação, por município, de serviços
que poderiam ser prestados por servidores, sem a feitura de licitação e sem
que o ato tenha sido precedido da necessária justificativa. (STF - 2a
Turma - RE nO 160.381jSP, ReI. Ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça, 12
ago. 1994, p. 20.052)

Em relação à carencra de certame licitatório para aquisição de alimentos e produtos de


limpeza, na soma de R$ 8.441,50, cabe destacar que a licitação é o meio formalmen e
vinculado que proporciona à Administração Pública melhores vantagens nos contratos é,
oferece aos administrados a oportunidade de participar dos negócios públicos. Quando não
realizada, representa séria ameaça aos princípios constitucionais da legalidade,'
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência, bem como da própria prob] e-)'::
administrativa. r,...í .
. ~

.~
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

Nesse diapasão, traz-se à baila pronunciamento da ilustre representante do Parquet


Especializado, Ora. Sheyla Barreto Braga de Queiroz, nos autos do Processo
TC n.o 04981/00, verbum pro verbo:

A licitação é, antes de tudo, um escudo da moralidade e da ética


administrativa, pois, como certame promovido pelas entidades
governamentais a fim de escolher a proposta mais vantajosa às
conveniências públicas, procura proteger o Tesouro, evitando
favorecimentos condenáveis, combatendo o jogo de interesses escusos,
impedindo o enriquecimento ilícito custeado com o dinheiro do erário,
repelindo a promiscuidade administrativa e racionalizando os gastos e
investimentos dos recursos do Poder Público.

Com efeito, deve ser enfatizado que a não realização do mencionado procedimento licitatório
exigível vai, desde a origem, de encontro ao preconizado na Constituição da República
Federativa do Brasil, especialmente o disciplinado no art. 37, inciso XXI, verbum pro verbo:

Art. 37. (omissis)

1-( ...)

XXI - ressalvados os casos especificados na legislação. as obras. serviços.


compras e alienações serão contratados mediante processo de licitação
pública que assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com
cláusulas que estabeleçam obrigação de pagamento, mantidas as condições
efetivas da proposta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as
exigências de qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do
cumprimento das obrigações. (grifo inexistente no texto de origem)

Entretanto, impende salientar que os dispêndios sem licitação remanescentes, R$ 8.441,50,


ultrapassaram em apenas R$ 441,50 o limite de dispensa (R$ 8.000,00), previsto no art. 24,
inciso 11, da respeitada Lei de Licitações e Contratos Administrativos - Lei Nacional
°
n. 8.666/93 - e representam, no caso em tela, apenas 1,61% do total da despesa
orçamentária realizada pelo Poder Legislativo da Urbe em 2006, R$ 523.485,39, percentual
ínfimo que merece ponderações.

Igualmente inserida no grupo das irregularidades constatadas na instrução do feito, tem-se,


por fim, a falta de empenhamento, pagamento e contabilização das contribuições
previdenciárias patronais devidas pelo Poder Legislativo de Cuité/PB ao Instituto Nacional do
Seguro Social - INSS, no valor já retificado de R$ 9.877,94, fI. 242. A citada eiva vai de
encontro ao preconizado no art. 195, inciso I, alínea "a", da Lex Legum, c/c o art. 2 ,
incisos I e 11, alínea "a", da Lei Nacional n.o 8.212/91 (Lei de Custeio da Previdência Saci
respectivamente, in verbis:
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 02794/07

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:

I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da


lei, incidentes sobre:

a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou


creditados, a qualquer título. à pessoa física que lhe preste serviços. mesmo
sem vínculo empregatício;

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social,


além do disposto no art. 23, é de:

I - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas, devidas ou


creditadas a qualquer título, durante o mês, aos segurados empregados e
trabalhadores avulsos que lhe prestem serviços, destinadas a retribuir o
trabalho, qualquer que seja a sua forma, inclusive as gorjetas, os ganhos
habituais sob a forma de utilidades e os adiantamentos decorrentes de
reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer pelo
tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da
lei ou do contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou
sentença normativa.

II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da


Lei n.o 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos
ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas,
no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos:

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o


risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; (grifamos)

No entanto, importa notar que a quantia que o gestor deixou de recolher à Autarquia
Previdenciária Federal, R$ 9.877,94, representa apenas 16,54% do montante efetivamente
devido em 2006, R$ 59.738,16, o que, por si só, não é suficiente para macular as contas
sub judice. Ainda assim, cabe representação à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em
Campina Grande/PB, a quem compete a fiscalização dos citados pagamentos.

Logo, diante do exposto e em consonância com o entendimento do Ministério Público de


Contas, fls. 244/246, verifica-se que as impropriedades remanescentes comprome
apenas parcialmente regularidade das contas sub examine, seja pela ausência de anos
mensuráveis, seja por não revelarem atos graves de improbidade administrativa ou esmo
por não induzirem ao entendimento de malversação de recursos.
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 02794/07

Na verdade, as incorreções observadas caracterizam, em sua maioria, falhas de natureza


formal, sem evidenciar dolo ou má-fé do administrador, o que enseja, além do envio de
recomendações, o julgamento regular com ressalvas, nos termos do art. 16, inciso U, da Lei
Complementar Estadual n.O 18/93, verbatim:

Art. 16. As contas serão julgadas:

1-(...)

II - regulares com ressalva, quando evidenciarem impropriedade ou


qualquer outra falta de natureza formal de que não resulte dano ao Erário;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) JULGUE REGULARES COM RESSALVAS as referidas contas.

2) ENVIE recomendações no sentido de que o Presidente da Câmara Municipal de Cuité/PB,


Sr. Geraldo de Souza Leite, não repita as irregularidades apontadas no relatório dos peritos
da unidade técnica deste Tribunal e observe, sempre, os preceitos constitucionais, legais e
regulamentares pertinentes.

3) Com fulcrono art. 71, inCISO XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal,
COMUNIQUE à Delegacia da Receita Federal do Brasil, em Campina Grande/PB, acerca da
falta de recolhimento de parte das contribuições previdenciárias devidas pelo empregador,
incidentes sobre de pagamento dos agentes políticos e servidores comissionados da
Câmara Munici ai de ?::B:. no exercíciofinanceiro de 2006.

-~
,(1 1

Você também pode gostar