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TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSO TC N.O 01969/07

Objeto: Prestação de Contas Anuais


Relator: Auditor Renato Sérgio Santiago Melo
Responsável: Aldemir Alves de Macedo
Advogados: Dr. Fábio Venâncio dos Santos e outro

EMENTA: PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL - PRESTAÇÃO DE


CONTAS ANUAIS - PRESIDENTE DE CÂMARA DE VEREADORES -
ORDENADOR DE DESPESAS- APRECIAÇÃO DA MATÉRIA PARA FINS
DE JULGAMENTO - ATRIBUIÇÃO DEFINIDA NO ART. 71, INCISO lI,
DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DA PARAÍBA, E NO ART. 1°,
INCISO I, DA LEI COMPLEMENTAR ESTADUAL N.o 18/93 - Carência
de comprovação de publicação dos Relatórios de Gestão Fiscal do
período - Incompatibilidade entre o valor da despesa com pessoal
informado no RGF do segundo semestre do exercício e o apurado na
prestação de contas - Despesas antieconômicas com combustíveis -
Transgressão a dispositivos de natureza constitucional,
infraconstitucional e regulamentar - Desvio de finalidade - Ações e
omissões que geraram prejuízo ao Erário - Necessidade imperiosa
de ressarcimento e de imposição de penalidade - Eivas que
comprometem o equilíbrio das contas, ex vi do disposto no Parecer
Normativo n.O 52/2004. Irregularidade. Imputação de débito.
Assinação de lapso temporal para recolhimento. Aplicação de multa.
Fixação de prazo para pagamento. Recomendações. Representação.

Vistos, relatados e discutidos os autos da PRESTAÇÃO DE CONTAS ANUAIS DO


EX-PRESIDENTE DA CÂMARA MUNICIPAL DE PICUÍjPB, relativa ao exercício financeiro de
2006, SR. ALDEMIR AL VES DE MACEDO, acordam, por unanimidade, os Conselheiros
integrantes do TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DA PARAÍBA, em sessão plenária
realizada nesta data, na conformidade da proposta de decisão do relator a seguir, em:

1) JULGAR IRREGULARES as referidas contas.

2) IMPUTAR ao ex-Presidente da Câmara Municipal, Sr. Aldemir Alves de Macedo, débito no


montante de R$ 7.366,27 (sete mil, trezentos e sessenta e seis reais e vinte e set
centavos), relativo a despesas antieconômicas com aquisições de combustíveis para o veículo
pertencente ao Poder Legislativo do Município de Picuí/PB.

3) FIXAR o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário aos cofres públicos
municipais do débito imputado, cabendo ao atual Prefeito Municipal de Picuí/PB, Sr. Rubens
Germano Costa, ou seu substituto legal, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o
término daquele período, zelar pelo seu integral cumprimento, sob pena de responsabí a
e intervenção do Ministério Público Estadual, na hipótese de omissão, tal como previ o no
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PROCESSOTC N.o 01969/07

art. 71, § 4°, da Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40 do colendo Tribunal
de Justiça do Estado da Paraíba - TJ/PB.

4) APLICAR MULTA ao ex-Chefe do Poder Legislativo, Sr. Aldemir Alves de Macedo, no valor
de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos), com base no que dispõe o
art. 56, incisos 11e 111,da Lei Complementar Estadual n.O 18/93 - LOTCE/PB.

5) ASSINAR o lapso temporal de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da


penalidade ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto
no art. 3°, alínea "a", da Lei Estadual n.O 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à
Procuradoria Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o
término daquele período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do
Ministério Público Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da
Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.O 40 do ego Tribunal de Justiça do Estado
da Paraíba - TJ/PB.

6) ENVIAR recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipal de


Picuí/PB, Sr. Paulo Silva Lira, atualize a legislação que disciplina a concessão de diárias,
fixando em valores e não em percentual incidente sobre os subsídios do Presidente da
Câmara as importâncias a serem recebidas pelos membros e pelos servidores do Poder
Legislativo, quando dos seus deslocamentos para outros municípios localizados no Estado da
Paraíba ou para outros Estados da Federação.

7) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, REMETER
cópias das peças técnicas, fls. 322/331 e 397/399, do parecer do Ministério Público Especial,
fls. 401/408, bem como desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado da
Paraíba, para as providências cabíveis.

Presente ao julgamento o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas


Publique-se, registre-se e intime-se.
TCE - Plenário Ministro João Agripino

João Pessoa, 05 de novembro de 2008


TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01969/07

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PROCESSOTC N.o 01969/07

Cuidam os presentes autos da análise das contas do ex-Presidente da Câmara Municipal de


Picuí/PB, Sr. Aldemir Alves de Macedo, relativas ao exercício financeiro de 2006,
apresentadas a este ego Tribunal em 27 de março de 2007, mediante o Ofício n.O 054, fl, 02.

Os peritos da Divisão de Auditoria da Gestão Municipal VI - DIAGM VI, com base nos
documentos insertos nos autos, emitiram o relatório inicial de fls. 322/331, constatando,
sumariamente, que: a) as contas foram apresentadas ao TCE/PB no prazo legal; b) a Lei
Orçamentária Anual - Lei Municipal n.o 1.230/2005 - estimou as transferências em
R$ 495.000,00 e fixou a despesa em igual valor; c) a receita orçamentária efetivamente
transferida, durante o exercício, foi da ordem de R$ 513.886,80, correspondendo a 103,81%
da previsão originária; d) a despesa orçamentária realizada atingiu o montante de
R$ 513.886,80, representando, também, 103,81% dos gastos fixados; e) o total da despesa
do Poder Legislativo alcançou o percentual de 8,00% do somatório da receita tributária e das
transferências efetivamente arrecadadas no exercício anterior pela Urbe - R$ 6.423.585,87;
f) os gastos com folha de pagamento da Câmara Municipal abrangeram a importância de
R$ 279.053,22 ou 54,30% dos recursos transferidos; e g) a receita extra-orçamentária
acumulada no exercício, bem como a despesa extra-orçamentária executada no mesmo
período, atingiram, cada uma, a soma de R$ 134.514,54.

Quanto aos subsídios dos Vereadores, verificaram os técnicos da DIAGM VI que: a) os


Membros do Poder Legislativo da Comuna receberam subsídios de acordo com o disciplinado
no art. 29, inciso VI, alínea "a", da Lei Maior; b) os estipêndios dos Edis estiveram dentro
dos limites instituídos na Lei Municipal n.o 1.195/2004, quais sejam, R$ 3.000,00 para o
Chefe do Legislativo e R$ 2.000,00 para os demais Vereadores; e c) os vencimentos totais
recebidos no exercício pelos referidos Agentes Políticos, inclusive os do Presidente da
Câmara, alcançaram o montante de R$ 207.540,00, correspondendo a 2,12% da receita
orçamentária efetivamente arrecadada no exercício pelo Município - R$ 9.785.805,50.

No tocante aos aspectos relacionados à gestão fiscal, destacaram os analistas da unidade de


instrução que: a) a despesa total com pessoal do Poder Legislativo alcançou a soma de
R$ 333.912,52 ou 2,76% da Receita Corrente Líquida - RCL da Comuna - R$ 12.097.938,49;
e b) os Relatórios de Gestão Fiscal - RGFs dos dois semestres do período foram enviados ao
Tribunal dentro do prazo.

Ao final, os inspetores da Corte apontaram as seguintes irregularidades: a) carência


comprovação das publicações dos Relatórios de Gestão Fiscal - RGFs dos dois semestres do
período; b) incompatibilidade de informações entre o último RGF e a Prestação de Contas
Anuais - PCA; c) ausência de regulamentação dos valores das diárias pagas no exercício; e
d) despesas excessivas com aquisições de combustíveis, no valor de R$ 7.366,27.

Ato contínuo, o relator solicitou o posicionamento do Ministério Público junto ao Tribunal e


Contas acerca da possibilidade da concessão de diárias com base em resolução emanad do
Poder Legislativo Municipal, tendo o Parquet Especializado concluído que resolu -
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norma apta a instituir e disciplinar as condições e os valores de concessão de diárias aos


vereadores e servidores do Legislativo, fI. 333.

Processadas as devidas citações, fls. 334/339, o responsável técnico pela contabilidade da


Câmara Municipal à época, Dr. Itamar da Silva Cunha, deixou o prazo transcorrer sem
qualquer manifestação acerca das falhas contábeis apontadas. Já o ex-Presidente do Poder
Legislativo, Sr. Aldemir Alves de Macedo, apresentou contestação, fls. 342/395, na qual
juntou documentos e argumentou, em síntese, que: a) os RGFs foram devidamente
publicados; b) a incompatibilidade de informações entre o último RGF e a PCA não existe,
conforme relatório acostado aos autos; c) as diárias estão regulamentadas pela Resolução
n.o 010/2000, que as fixou com base no valor do subsídio mensal do Presidente da Câmara
Municipal, que na época foram de R$ 2.700,00; e d) o gasto excessivo com combustível foi
baseado em dados matemáticos, sem considerar fatores específicos como velocidade e
percurso da cidade para a zona rural, como também os deslocamentos dos vereadores para
solucionar problemas, prestar contas de suas atribuições e exercer a sua função de
fiscalização.

Os autos retornaram à unidade técnica, que, examinando a referida peça processual de


defesa, emitiu o relatório de fls. 397/399, onde considerou elidida a eiva concernente à
ausência de regulamentação dos valores das diárias pagas no exercício. Em seguida,
manteve in totum o seu posicionamento inicial relativamente às demais máculas.

O Ministério Público Especial, ao se pronunciar definitivamente sobre a matéria, emitiu o


parecer de fls. 401/408, opinando pelo (a): a) declaração de atendimento parcial ao disposto
na Lei Complementar Nacional n.o 101/2000; b) regularidade das contas; e c) envio de
recomendação à atual gestão, tendo como objetivo prevenir a repetição das falhas acusadas
no exercício de 2006.

Solicitação de pauta, conforme fls. 409/410 dos autos.

Em 04 de novembro último, o ex-Chefe do Poder Legislativo, Sr. Aldemir Alves de Macedo,


constituiu mais um advogado, Dr. Edward Johnson Gonçalves de Abrantes, que requereu o
adiamento da apreciação do presente feito, fls. 411/412.

É o relatório.

In /imine, quanto à solicitação de adiamento da análise da presente prestação de contas,


requerida pelo patrono do ex-Presidente da Câmara Municipal de Picuí/PB, tal providência
não merece guarida, tendo em vista que o supracitado gestor está devidamente assistido por
advogado devidamente habilitado nos autos, Dr. Fábio Venâncio dos Santos, procuração de
fl. 348, ficando, portanto, evidenciado o caráter meramente protelatório do pedido. Ade r
mesmo que o referido causídico renunciasse ao mandato, ele continuaria a represent r a
referida autoridade por mais 10 (dez) dias, conforme determina o art. 210, do R' o
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Interno do TCE/PB, c/c o art. 45, do Código de Processo Civil - CPC, respectivamente,
verbo ad verbum:

Art. 210. Aplicam-se subsidiariamente a este regimento interno as normas


processuais em vigor, no que couber, desde que compatíveis com os
princípios informativos do processoadministrativo e com a sua Lei Orgânica.

Art. 45. O advogado poderá, a qualquer tempo, renunciar ao mandato,


provando que cientificou o mandante a fim de que este nomeie substituto.
Durante os 10 (dez) dias seguintes, o advogado continuará a representar o
mandante, desde que necessáriopara lhe evitar prejuízo.

No mérito, constata-se que as contas apresentadas pelo ex-Presidente da Câmara Municipal


de Picuí/PB, Sr. Aldemir Alves de Macedo, relativas ao exercício financeiro de 2006, revelam
algumas irregularidades remanescentes. Em harmonia com o destacado pelos peritos da
Corte, fi. 326, verifica-se ab initio a carência de comprovação das publicações dos Relatórios
de Gestão Fiscal - RGFs, referentes aos dois semestres do exercício, haja vista que a cópia
apresentada como sendo do JORNAL OFICIAL DO PODER LEGISLATIVO MUNICIPAL,
fls. 358/363, datado do dia 02 de fevereiro de 2007, apresenta inconsistências em suas
páginas.

Com efeito, conforme documentos acostados aos autos, fls. 358/359, os atos do Poder
Legislativo estão no formato de um jornal, enquanto que a publicação do RGF do 2°
semestre, fls. 360/363, possui um padrão diferenciado do restante do informativo,
caracterizando uma possível montagem do periódico. Especificamente, em relação à
publicação do RGF do 1° semestre de 2006, a mesma não foi apresentada pelo interessado,
permanecendo o entendimento dos técnicos do Tribunal contido no relatório exordial.

Assim, a ausência de divulgação dos RGFs denota flagrante transgressão aos preceitos
estabelecidos nos artigos 48 e 55, § 2°, da Lei de Responsabilidade Fiscal - Lei
Complementar Nacional n.O 101/2000 -, in verbis.

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal, aos quais será
dada ampla divulgação, inclusive em meios eletrônicos de acesso público: os
planos, orçamentos e leis de diretrizes orçamentárias; as prestações d
contas e o respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execuçã
Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões simplificadas
dessesdocumentos.

...
( )

Art. 55. (omíssís)

§ 1° (...)
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§ 2º O relatório será publicado até trinta dias após o encerramento do


período a que corresponder, com amplo acesso ao público, inclusive por
meio eletrônico.

Neste sentido, é importante realçar que a não divulgação do relatório de gestão fiscal, nos
prazos e condições estabelecidos, constitui violação administrativa, processada e julgada
pelo Tribunal de Contas, sendo passível de punição mediante a aplicação de multa pessoal
de trinta por cento dos vencimentos anuais ao agente que lhe der causa, concorde previsto
. no art. 50, inciso I, parágrafos 10 e 20, da lei que dispõe, dentre outras, acerca das infrações
contra as normas de finanças públicas (lei Nacional n.o 10.028, de 19 de outubro de 2000)
verbatim:

Art. 5º Constitui infração administrativa contra as leis de finanças públicas:

I - deixar de divulgar ou de enviar ao Poder Legislativo e ao Tribunal de


Contas o relatório de gestão fiscal, nos prazos e condições estabelecidos em
lei;

11 - ( ... )

º
§ 1 A infração prevista neste artigo é punida com multa de trinta por cento
dos vencimentos anuais do agente que lhe der causa, sendo o pagamento
da multa de sua responsabilidadepessoal.

§ 2º A infração a que se refere este artigo será processada e julgada pelo


Tribunal de Contas a que competir a fiscalização contábil, financeira e
orçamentária da pessoajurídica de direito público envolvida.

Entretanto, em que pese o disciplinado na norma, bem como no Parecer Normativo


PN - TC - 12/2006, onde o Tribunal já havia decidido exercer a competência que lhe fora
atribuída a partir do exercício financeiro de 2006, esta Corte, em decisões recentes, tem
deliberado pela não imposição da supracitada penalidade, haja vista a necessidade de
uniformizar o seu entendimento.

Também foi observado pelos analistas do Tribunal, fl. 326, a existência de incompatibilidad
entre as informações consignadas no Relatório de Gestão Fiscal - RGF do 20 semestre d
período e aquelas extraídas da Prestação de Contas Anuais - PCA, notadamente no que
concerne ao valor das despesas com pessoal, tendo em vista que o relatório inicialmente
acostado aos autos, fls. 66/72, apresentou no DEMONSTRATIVO DA GESTÃO DE PESSOAL,
fi. 66, gastos no montante de R$ 299.868,48, equivalendo a 2,48% da Receita Corrente
Líquida - RCl, enquanto o DEMONSTRATIVO DOS LIMITES, fl. 72, apontou aqu as
despesas na importância de R$ 334.210,72, ou 2,76% da RCl - R$ 12.097.938,49.
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Em sua defesa, o ex-Presidente do Parlamento Municipal alegou a inexistência da


inconsistência, contudo, apresentou novo RGF do 20 semestre, fls. 351/357, onde foram
destacados outros valores para as despesas com pessoal constantes no DEMONSTRATIVO
DA GESTÃO DE PESSOAL, fi. 351, e no DEMONSTRATIVO DOS LIMITES, fI. 357, na soma
total de R$ 333.149,16, sendo R$ 329.992,92 com pessoal ativo e R$ 3.156,24 com os
repasses previdenciários ao regime próprio, correspondendo, portanto, a 2,76% da RCL.
Assim, constata-se que não se pode identificar qual relatório que deva prevalecer, o
inicialmente apresentado ou o segundo enviado na defesa.

Tal fato, além de demonstrar um certo desprezo da autoridade responsável aos preceitos
estabelecidos na lei instituidora de normas gerais de direto financeiro - Lei Nacional
n.o 4.320/64 -, prejudica a clareza das contas públicas pretendida com o advento da Lei de
Responsabilidade Fiscal - LRF, onde o RGF figura como instrumento dessa transparência,
conforme preceituam o seu art. 48, já transcrito, e seu art. 10, § 10, verbum pro verbo:

Art. 10. (omissis)

§ 10 A responsabilidade na gestão fiscal pressupõe a ação planejada e


transparente, em que se previnem riscos e corrigem desvios capazes de
afetar o equilíbrio das contas públicas, mediante o cumprimento de metas
de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e condições
no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com pessoal, da
seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária, operações de
crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de garantia e
inscrição em Restosa Pagar.

No tocante aos gastos com combustíveis, as informações apresentadas pelo Poder


Legislativo Municipal no Sistema de Acompanhamento da Gestão dos Recursos da
SOCiedade - SAGRES on fine, fI. 197, evidenciam que o veículo Corsa GM Milenium, ano
2001, modelo 2002, placa MNZ 3582/PB, pertencente à Câmara Municipal, percorreu,
durante os meses de abril a dezembro de 2006, 73.195 quilômetros e utilizou 6.083 litros de
gasolina, evidenciando um consumo aproximado de 12 km/l,

Com base nos dados coletados, constataram os peritos deste Sinédrio de Contas que o
automóvel transitou, no período, aproximadamente 8.132 quilômetros por mês ou 387 km
por dia, levando-se em consideração que o carro foi utilizado durante 21 dias no mês. Assi
tendo em vista o excessivo uso do veículo, os técnicos da Corte dividiram o percurso diári
(387 km) pelo consumo aproximado (12 km/I), chegando ao consumo diário de 32,25 litros
de gasolina.

Em seguida, os analistas do Tribunal calcularam como plenamente justificável o percurso de


até 200 km por dia para atender as necessidades do Poder Legislativo, razão pelo qual
gastos diários aceitáveis com combustíveis diminuem consideravelmente de 32,25 litros p
16,66 litros (200 km -;- 12 krn/l), passando a existir um excesso diário de 15,59 lítt ,
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multiplicado por 21 dias totaliza 327,39 litros por mês e alcança 2.946,51 litros no intervalo
em exame (abril a dezembro de 2006). Finalmente, multiplicando-se o excesso do período
pelo preço da gasolina à época R$ 2,50, o valor do excesso corresponde a R$ 7.366,27
(2.964,51 litros x R$ 2,50)

Desta feita, constata-se a execução de gastos antieconômicos realizados pelo Poder


Legislativo de Picuí/PBcom aquisições de combustíveis no montante de R$ 7.366,27, tendo
em vista que o percurso de 200 km por dia, durante 21 dias no mês é um parâmetro mais
do que razoável, existindo, portanto, nítida violação aos princípios da eficiência e da
economicidade previstos, respectivamente, nos art. 37, caput, e 70, também cabeça, da
Constituição Federal, verbo ad verbum:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderesda


União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:

...
( )

Art. 70. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e


patrimonial da União e das entidades da administração direta e indireta,
quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação das subvenções
e renúncia de receitas, será exercida pelo Congresso Nacional, mediante
controle externo, e pelo sistema de controle interno de cada Poder.

Nesse contexto, da mesma forma, merece transcrição o disposto no artigo 113 da Lei de
Licitações e Contratos Administrativos - Lei Nacional n.o 8.666/93 -, que estabelece a
necessidadedo administrador público comprovar a legalidade, a regularidade e a execução
da despesa, ipsis litteris:

Art. 113. O controle das despesas decorrentes dos contratos e demais


instrumentos regidos por esta Lei será feito pelo Tribunal de Contas
competente, na forma da legislação pertinente, ficando os órgãos
interessados da Administra ão res onsáveis ela demonstra ão
legalidade e regularidade da despesa e execução, nos termos
Constituição e sem prejuízo do sistema de controle interno nela previstos
(grifo inexistente no original) \

Ademais, os princípios da legalidade, da moralidade e da publicidade administrativas,


estabelecidos no citado art. 37, caput, da Lei Maior, demandam, além da comprovação
despesa, a efetiva divulgação de todos os atos e fatos relacionados à gestão pú ica.
Portanto, cabe ao ordenador de despesas, e não ao órgão responsável pela fiscali ação, 1/.
provar que não é responsável pelas infrações, que lhe são imputadas, d eis ~ . if.
,~
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regulamentos na aplicação do dinheiro público, consoante entendimento do ego Supremo


Tribunal Federal - STF, verbatim:

MANDADO DE SEGURANÇA CONTRA O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.


CONTAS JULGADAS IRREGULARES. APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO
ARTIGO 53 DO DECRETO-LEI 199/67. A MULTA PREVISTA NO ARTIGO 53
DO DECRETO-LEI 199/67 NÃO TEM NATUREZA DE SANÇÃO DISCIPLINAR.
IMPROCEDÊNCIA DAS ALEGAÇÕES RELATIVAS A CERCEAMENTO DE
DEFESA. EM DIREITO FINANCEIRO, CABE AO ORDENADOR DE DESPESAS
PROVAR OUE NÃO É RESPONSÁVEL PELAS INFRACÕES, OUE LHE SÃO
IMPUTADAS, DAS LEIS E REGULAMENTOS NA APLICAÇÃO DO DINHEIRO
PÚBLICO. COINCIDÊNCIA, AO CONTRÁRIO DO QUE FOI ALEGADO, ENTRE
A ACUSAÇÃO E A CONDENAÇÃO, NO TOCANTE À IRREGULARIDADE DA
LICITAÇÃO. MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. (STF - Pleno - MS
20.335/DF, ReI. Ministro Moreira Alves, Diário da Justiça, 25 fev. 1983, p. 8)
(grifo nosso)

Visando aclarar o tema em disceptação, vejamos parte do voto do ilustre Ministro Moreira
Alves, relator do supracitado Mandado de Segurança, in verbis:

Vê-se, pois, que em tema de Direito Financeiro, mais particularmente, em


tema de controle da aplicação dos dinheiros públicos, a responsabilidade do
Ordenador de Despesas pelas irregularidades apuradas se presume, até
prova em contrário, por ele subministrada.

A afirmação do impetrante de que constitui heresia jurídica presumir-se a


culpa do Ordenador de despesas pelas irregularidades de que se cogita, não
procede portanto, parecendo decorrer, quiçá, do desconhecimento das
normas de Direito Financeiro que regem a espécie. (grifo nosso)

Já O eminente Ministro Marco Aurélio, relator na Segunda Turma do STF do Recurso


Extraordinário n.o 160.381jSP, publicado no Diário da Justiça de 12 de agosto de 1994,
página n.O 20.052, destaca, em seu voto, o seguinte entendimento: "O agente público não
só tem que ser honesto e probo, mas tem que mostrar que possui tal qualidade. Como a
mulher de César."

°
Por fim, quanto à fixação de diárias através da Resolução n. 10/2000, cabe ressaltar que o
art. 3° da citada norma definiu aquelas com base no percentual de 8% dos subsídios
mensais do Presidente da Câmara Municipal de Picuí/PB, devendo, contudo, o atual gestor
daquele poder, Sr. Paulo Silva Lira, atualizar a legislação que disciplina a matéria, fixando em
valores e não em percentual as importâncias a serem recebidas pelos membros e p os
servidores do Poder Legislativo, quando dos seus deslocamentos para outros munic ias
localizados no Estado da Paraíba ou para outros Estados da Federação.
I
~
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Feitas essas colocações, merece destaque o fato de que, pelo menos, duas das máculas
encontradas nos presentes autos são suficientes para o julgamento irregular da prestação de
contas sub judtce, conforme determinam os itens "2.9" e "2.12" c/c o item "6" do parecer
que uniformiza a interpretação e análise, pelo Tribunal, de alguns aspectos inerentes às
Prestações de Contas dos Poderes Municipais (Parecer Normativo PN - TC - 52/2004),
verbo ad verbum:

2. Constituirá motivo de emissão, pelo Tribunal, de PARECERCONTRÁRIOà


aprovação de contas de Prefeitos Municipais, independente de imputação de
débito ou multa, se couber, a ocorrência de uma ou mais das irregularidades
a seguir enumeradas:

2.1. (... )

2.9. incompatibilidade não justificada entre os demonstrativos, inclusive


contábeis, apresentados em meios físico e magnético ao Tribunal;

2.10. C ••• )

2.12 não publicacão e não encaminhamento ao Tribunal dos Relatórios


Resumidos de Execução Orçamentária (REO) e dos Relatórios de Gestão
Fiscal(RGF), nos termos da legislacãovigente;

...
( )

6. O Tribunal julgará irregulares as Prestações de Contas de Mesas de


Câmaras de Vereadores que incidam nas situações previstas no item 2, no
que couber, realizem pagamentos de despesas não previstas em lei,
inclusive remuneração em excesso e ajudas de custos indevidas aos edis ou
descumprimento dos limites da Lei de ResponsabilidadeFiscal e de decisões
deste Tribunal. (grifos nossos)

Ante as transgressões a disposições normativas do direito objetivo pátrio, decorrentes da


conduta implementada pelo ex-Chefe do Poder Legislativo da Comuna de Picuí/PB,
Sr. Aldemir Alves de Macedo, resta configurada a necessidade imperiosa de aplicação da
multa de R$ 2.805,10 - valor atualizado pela Portaria n.o 039/06 do TCE/PB -, prevista o
art. 56, incisos 11 e 111, da referida Lei Orgânica do TCE/PB - Lei Complementar Estad
n.o 18/93, verbatim:

Art. 56 - O Tribunal poderá também aplicar multa de até Cr$ 50.000.000,00


(cinqüenta milhões de cruzeiros) aos responsáveis por:
, '

I- C omissis)
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II - infração grave a norma legal ou regulamentar de natureza contábil,


financeira, orçamentária, operacional e patrimonial;

III - ato de gestão ilegítimo ou antieconômico de que resulte injustificado


dano ao Erário;

Ex positis, proponho que o Tribunal de Contas do Estado da Paraíba:

1) JULGUE IRREGULARES as referidas contas.

2) IMPUTE ao ex-Presidente da Câmara Municipal, Sr. Aldemir Alves de Macedo, débito no


montante de R$ 7.366,27 (sete mil, trezentos e sessenta e seis reais e vinte e sete
centavos), relativo a despesas antieconômicas com aquisições de combustíveis para o veículo
pertencente ao Poder Legislativo do Município de Picuí/PB.

3) FIXE o prazo de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário aos cofres públicos
municipais do débito imputado, cabendo ao atual Prefeito Municipal de Picuí/PB, Sr. Rubens
Germano Costa, ou seu substituto legal, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o
término daquele período, zelar pelo seu integral cumprimento, sob pena de responsabilidade
e intervenção do Ministério Público Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no
art. 71, § 40, da Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40 do colendo Tribunal
de Justiça do Estado da Paraíba - TJ/PB.

4) APLIQUE MULTA ao ex-Chefe do Poder Legislativo, Sr. Aldemir Alves de Macedo, no valor
de R$ 2.805,10 (dois mil, oitocentos e cinco reais e dez centavos), com base no que dispõe o
art. 56, incisos 11e 111,da Lei Complementar Estadual n. ° 18/93 - LOTCE/PB.

5) ASSINE o lapso temporal de 60 (sessenta) dias para recolhimento voluntário da


penalidade ao Fundo de Fiscalização Orçamentária e Financeira Municipal, conforme previsto
no art. 3°, alínea "a", da Lei Estadual n.o 7.201, de 20 de dezembro de 2002, cabendo à
Procuradoria Geral do Estado da Paraíba, no interstício máximo de 30 (trinta) dias após o
término daquele período, velar pelo seu integral cumprimento, sob pena de intervenção do
Ministério Público Estadual, na hipótese de omissão, tal como previsto no art. 71, § 4°, da
Constituição do Estado da Paraíba, e na Súmula n.o 40 do ego Tribunal de Justiça do Estado
da Paraíba - TJ/PB.

6) ENVIE recomendações no sentido de que o atual Presidente da Câmara Municipal d


Picuí/PB, Sr. Paulo Silva Lira, atualize a legislação que disciplina a concessão de diárias,
fixando em valores e não em percentual incidente sobre os subsídios do Presidente da
Câmara as importâncias a serem recebidas pelos membros e pelos servidores do Poder
Legislativo, quando dos seus deslocamentos para outros municípios localizados no Estado da
Paraíba ou para outros Estados da Federação.

7) Com fulcro no art. 71, inciso XI, c/c o art. 75, caput, da Constituição Federal, RE
cópias das peças técnicas, fls. 322/331 e 397/399, do parecer do Ministério Público
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO

PROCESSOTC N.o 01969/07

fls. 401/408, bem como desta decisão à augusta Procuradoria Geral de Justiça do Estado da
Paraíba, par as pr ldêncías cabíveis .

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