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Ano II # 18

Lucia
Hippólito
Por eleições
mais limpas

Consumidor
MP contra a invasão
de privacidade

Torneio Esportivo
Itália campeã
(também em Barra Bonita)
Expediente:

Novos desafios para o MP


Revista APMP EM REFLEXÃO
Veículo mensal de comunicação
A questão da violência e criminalidade organizada ocupou grande parte do da Associação Paulista do
Ministério Público.
noticiário nos últimos dois meses. Isso mostra a importância da nossa Institui- Ano II, Número 18 (2006).
ção. E, ao contrário do que possa parecer, não apenas na questão da repressão, Tiragem: 4.000 exemplares.

Lucia Hippólito 04
onde a sociedade com certeza precisará de nossos préstimos. Conselho Editorial
Mais necessária, porém, é a atuação do MP como agente de transformação João Antonio Garreta Prats
social. Precisamos intensificar a fiscalização para que os políticos realmente
Cláudia Jeck Garcia de Souza
Paulo Roberto Dias Júnior Contraponto |
destinem os recursos públicos para saúde, transporte e educação. Sérgio de Araújo Prado Júnior

Necessitamos de mais e melhores instru- Coordenação Geral


mentos para combater a corrupção, mal que Luciano Ayres

corrói as esperanças da população. Não basta a nossa Jornalista Responsável


Elaine Zaninotti – MTB 31.529
É imperativo que as Instituições, es- Maxima Venia | A criação de bancos de dados
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tatais e privadas, cerrem fileiras para a atuação esmerada Redação
urgente mudança do status social.
Ayres.PP – Comunicação
clandestinos e o direito
É certo que este desafio é de toda a para a punição dos e MKT Estratégico
(19) 3242-1180
do consumidor à privacidade
sociedade, mas podemos - e devemos
- ser os indutores dessa mudança. Se
criminosos. Precisamos Assessoria de Imprensa
ReDe Comunicação

abrirmos mão desta prerrogativa, todos agir para evitar que a (11) 3061-3353

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os esforços de nossos antecessores po- Fotos

derão ser desperdiçados. “indústria do crime” Ayres.PP – Comunicação


e MKT Estratégico MP em foco | Futuro do MP X MP do Futuro
Leandro Irmão
Não basta a nossa atuação esmerada
para a punição dos criminosos. Precisa-
continue recrutando
mos agir para evitar que a “indústria do crianças e adolescentes. Acompanhe o

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crime” continue recrutando crianças e
universo jurídico
adolescentes.
com a APMP História Institucional | 20 anos da Carta de Curitiba
Nesses últimos dois anos, lutamos para que a sociedade conhecesse um
pouco mais do MP de São Paulo e, de outro lado, que formadores de opinião
nos mostrassem como somos vistos pelos cidadãos.

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E a entrevista desta edição talvez sintetize um pouco de tudo isso. Nossa TV Justiça
equipe procurou uma das primeiras pessoas a vaticinar a gravidade da crise Quarta-feira - 19h30. APMP Esportes | II Torneio Esportivo.
que se alastrou pelas Instituições políticas. Mais que isso, tratou de sair pelo
Reprises:
Domingo -10h30 Deu Itália aqui também!
país afora para pregar eleições mais limpas e transparentes. Segunda-feira - 10h00
É com imensa honra que apresentamos entrevista
exclusiva com Lucia Hippólito, cientista política,

Caribe 40
jornalista e historiadora.
Também nesta edição, artigo de nosso asso-
ciado João Lopes Guimarães Júnior sobre a o Destinos |
TV Justiça
direito do consumidor à privacidade, a cobertura Terça-feira - 19h30
do II Torneio Esportivo e a continuação do debate Reprises:
sobre os limites da intervenção do Conselho Na- Domingo - 18h00

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Terça-feira - 09h00
cional do Ministério Público em nossos concursos
de promoção e remoção. Gastronomia | Culinária Mexicana
Boa leitura a todos. Leia também:

João Antonio Garreta Prats


Presidente
Cultura e Lazer| A travessia de
Guimarães Rosa 48
Contraponto Como os formadores de opinião enxergam o MP

Lucia
Hippólito
Que um bom cientista político é um analista argu- lítica”, seguido do indefectível “Bom dia, Lucia” de
to dos meandros e perspectivas da política nacional, Heródoto Barbeiro, é a deixa para comentários e aná-
todo mundo sabe. Como também sabe que um bom lises por vezes demolidores, mas sempre sensatos e
jornalista de rádio e TV tem como principais dons a precisos.
articulação e concisão de idéias, o domínio da palavra Nesta entrevista exclusiva, Lucia Hippólito fala de
e o pensamento rápido. sua trajetória profissional, analisa com profundidade
O que poucos sabem é que existem personalidades o governo Lula e as perspectivas da política brasileira
que acumulam as duas qualidades. Lucia Hippólito e faz um balanço da atuação do Ministério Público no
é uma delas. combate à corrupção e na luta por eleições limpas
O diploma de jornalismo veio muito tempo depois e transparentes.
de Lucia já dominar inteiramente a comunicação em Tudo isso só para você, leitor de APMP
todas as mídias. Imprensa escrita, Internet, rádio e, em Reflexão.
por fim, a “telinha”. A essa altura, impressionava a de-
senvoltura dessa cientista política, que se portava como
uma jornalista experiente, ainda que autodidata.
E o que dizer do conteúdo de suas manifestações.
Na Rádio CBN, o jingle do quadro “Por dentro da po-

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Contraponto
APMP em Reflexão: Como foi sua trajetória profis- APMP: Qual a importância da informação no desen-
Perfil sional? volvimento social?
Lucia Hippólito é cientista po- Lucia Hippólito: Desde cedo a História e a Política LH: Acredito firmemente na democratização da infor-
lítica, historiadora, jornalista, con- me interessaram muito. Sempre tive talento didático mação. Na medida em que você coloca a informação à
sultora e conferencista. para traduzir a política para o dia-a-dia. Comecei disposição de um maior número de pessoas, você está
Formada em História pela PUC- como professora de História, fui fazer Ciência Polí-
RJ e em Ciência Política pelo IU- tica, até que enveredei para o campo das questões
PERJ, concluiu recentemente o constitucionais. O cientista político trafega numa
curso de Jornalismo. área muito próxima do Direito Constitucional. É pre- As pessoas de bem se afastaram da
Comentarista da Rádio CBN, do ciso conhecer a Constituição, ter intimidade com a política, que está entregue à pior
UOL News e da Globonews, tam- lei e eu sempre gostei muito disso. Posteriormente,
bém colabora com diversos jornais achei que deveria ter uma experiência no Estado e escória do país (...) A política, que
e revistas. comecei a trabalhar no IBGE, onde fui chefe de ga- era uma vocação, hoje está sendo
Em eleição promovida pela re- binete da Presidência e coordenei a comunicação do
vista Imprensa, foi escolhida a me- Censo. encarada como profissão, como
lhor jornalista de rádio de 2004. forma de ascensão social ou para
APMP: E sua experiência no Jornalismo?
LH: Sempre escrevi para jornais. Fui convidada para escapar da cadeia, por conta desse
trabalhar em O Globo, como professora da Redação, inadmissível foro privilegiado.

Acredito firmemente na trabalhando pela democracia. Uma população mais


bem informada é uma população que pode escolher
democratização da informação. melhor, fazer suas escolhas de maneira mais conscien-
Na medida em que você coloca a te e entender melhor o que está se passando.
informação à disposição de um APMP: Como a sociedade brasileira tem avaliado o
maior número de pessoas, você está exercício da política?
LH: Hoje, um dos problemas é que as pessoas de bem
trabalhando pela democracia. se afastaram da política, que está entregue à pior es-
cória do país. Quando mais da metade da Câmara dos
Deputados está envolvida em corrupção, “sanguessu-
ministrando aulas sobre política e questões constitu- ga” e “mensalão”, as pessoas se perguntam: “mas o
cionais. Era a época do plebiscito e comecei a ensinar que é isso?”. A política, que era uma vocação, hoje está
os repórteres que desconheciam os diferentes sistemas sendo encarada como profissão, como forma de ascen-
de governo. Fizemos também algo bastante interessan- são social ou para escapar da cadeia, por conta desse
te: passamos a responder às perguntas dos leitores so- inadmissível foro privilegiado. Acho que é função de
bre esse assunto, sobre regimes de governo no mundo todos fazer com que as pessoas de bem voltem a se
etc. preocupar com a política.

APMP: E isso possibilitou sua ida para o rádio, não APMP: Essa indignação foi por você extravasada em
é mesmo? livro sobre a recente crise política ...
LH: É verdade. O trabalho em O Globo proporcionou o LH: Admito que fiquei muito assustada quando come-
convite da direção da Rádio CBN para fazer uma ex- cei a reunir os textos para esse livro, que contém co-
periência nas eleições de 2002. Aceitei o desafio e fui mentários feitos na Rádio CBN desde 2003. Em agosto
ampliando minha atuação, com comentários sobre a de 2003, eu já falava do aparelhamento da máquina.
área política na Internet e agora na TV. Senti, então, a Em janeiro de 2004, depois do escândalo do Waldomi-
necessidade de fazer o curso de Jornalismo, que concluí ro, citei a desarticulação da base partidária, a suspeita
este ano, até para evitar essa controvérsia a respeito da de que parlamentares estavam vendendo mandatos,
necessidade do diploma. a história do deputado “pré-pago”. Isso é, ao mesmo

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Contraponto
tempo, curioso e assustador. Cheguei a ficar assustada
ao ver como os ingredientes da crise estavam debaixo
A Petrobrás não era apenas uma das campanhas anteriores. Para mim, o presidente to-
mou uma decisão: ele não quis saber. Mas no fundo eu
dos nossos olhos. empresa estrangeira investindo na acho que ele sempre soube.

APMP: E a maior parte da população não percebeu


Bolívia, ela fazia parte de acordos APMP: Nesse particular, o presidente reclamou mui-
nada... firmados desde 1978 por dois to que sua esfera pessoal foi invadida. Isso tem fun-
LH: Nesse ponto a imprensa tem grande responsabili-
dade, porque os dados estavam ali expostos. Um livro
Estados independentes (...) Então, damento?
LH: Minha posição é a seguinte: autoridades não têm
feito “a quente”, como foi, corre o risco de ficar obsole- a Petrobrás não era uma mera vida privada. Ninguém é obrigado a fazer política e nin-
to. Até agora não encontrei nenhuma razão para achar
que isso aconteceu.
empresa privada nesse episódio, guém é obrigado a ser presidente da República. Ao esco-
lher esse caminho, deve estar ciente de que viverá numa
era um agente do Estado Brasileiro vitrine. O presidente da República não deixa de sê-lo
APMP: Nem quanto à sua afirmação de que o go-
verno Lula terminara?
para que os acordos fossem nem quando está dormindo. Ele é presidente 24 horas
por dia. Se estourar uma crise pavorosa de madrugada,
LH: O livro foi lançado no final do ano passado e nele viabilizados. E qual foi o sinal que o ele não pode dizer para o assessor que está dormindo.
mencionei que o governo Lula acabou em agosto de
2005. Acho que não errei, porque eu me referia àquele
Brasil deu ao mundo inteiro? Pode Vida privada tem o Ronaldinho, que pode ir para a boate
e reclamar de invasão da esfera pessoal. Não uma auto-
governo Lula montado sob dois pilares muito firmes: interferir, encampar e se apropriar ridade que mora num palácio pago pelo nosso dinheiro.
José Dirceu, de um lado, e Palocci, do outro. Com o
Dirceu cassado e o Palocci, naquela época, acossado
de empresas brasileiras em A comida que ele come, os lençóis da cama onde ele
dorme, tudo é pago por nós. Então, ele tem que prestar
por denúncias, o Governo Federal, tal como desenhado qualquer lugar do mundo, porque contas à sociedade, sim, inclusive de sua vida privada.
em 2003, de fato acabara. O que temos agora é uma
outra história, pois o governo, de lá para cá, mudou
isso não tem importância. APMP: Parte do Partido dos Trabalhadores parece
radicalmente. bastante incomodada com os desmandos da cúpula
do partido. É uma sensação correta?
APMP: Que lições o país pode tirar de tudo isso? O LH: Acho que a esquerda do PT, que cobra ética de
Brasil estará melhor na próxima legislatura? seus dirigentes, tem sua parcela de responsabilidade,
LH: Melhor eu não sei. Tenho muitas dúvidas para tra- porque não é possível que eles não estivessem vendo
balhar com esse conceito de “pior” ou “melhor”. Ele os jatinhos com os quais o Delúbio se deslocava. Não
está mais informado. Agora, as escolhas que o país vai é possível que não vissem como o Silvinho Pereira pro-
fazer é que serão analisadas. Nem sempre renovar é gredia. Será que não estranharam como, em 2004, não
melhorar. Está circulando na Internet uma campanha: faltou dinheiro ao PT para as eleições municipais? Essa
“Não reeleja, eleja!”; ou seja, para não votar em quem esquerda de certa forma se beneficiou um pouco e foi
tem mandato. Nada garante que o próximo Congresso, omissa. Teve várias oportunidades, inclusive nos últi-
se for todo renovado, será melhor que o anterior. Por- mos congressos do PT, e de novo se curvou à estratégia
que não adianta mudar as pessoas, se as práticas e os quase que “bolchevique” de se apropriar do poder.
métodos não mudarem.
APMP: Pela primeira vez na história, uma crise po-
APMP: A questão “Lula sabia?” ainda tem relevância? lítica de tamanha proporção não migrou para o ce-
LH: Sim. Acredito que o presidente Lula sabia. Ou, pior, nário econômico. Qual a razão disso?
escolheu não saber. Há muito tempo ele escolheu não LH: Até agora ela não havia migrado, mas acho que
saber quem pagava a casa onde ele morava, quem ainda vai acontecer, porque há uma série de decisões
custeava as despesas dele enquanto líder sindi- que dependem da esfera política. Por exemplo, a agri-
cal, quem pagou as despesas de campanha... cultura do Rio Grande do Sul está vivendo a pior crise
e escolheu não saber como o partido dele dos últimos 40 anos. Decisões políticas não foram to-
se viu às voltas com aquela quantidade madas no sentido de liberar créditos e consertar estra-
enorme de dinheiro. Eram jatinhos das. Por causa da crise e da quebra da safra de soja,
alugados, festas, computadores fomos salvos de um engarrafamento de caminhões de
comprados para todos os luga- 100 km, do porto de Paranaguá até a cidade de Curi-
res, enfim, campanhas milio- tiba. Por isso devemos aplaudir a crise? Se a safra de
nárias, onde nunca faltava soja não tivesse quebrado, ia ser um desastre, porque
dinheiro, muito diferente decisões políticas não foram tomadas.

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Contraponto
APMP: Poderia dar outros exemplos?
LH: Não foram tomadas decisões a respeito das parce-
tos mais interessantes foi a inserção internacional do
presidente. Fernando Henrique era quase um europeu,
O voto nulo, numa eleição com a indústria de calçados. Dar prioridade ao per-
dão da dívida de países africanos, às relações com
rias público-privadas e do marco regulatório. O projeto um “igual”. Lula era o “diferente” e por isso chegou ao majoritária, tem um sentido enorme. os países da América Latina...não que não devamos
sobre as agências regulatórias está parado no Congres-
so. Quem irá investir no Brasil se não houver estabili-
cenário político cercado de expectativas pela esquerda
mundial, de que iria fazer um governo de esquerda não
De outro lado, numa eleição mantê-las, mas em política internacional não exis-
tem amigos, existem interesses. Pela primeira vez
dade das regras? Tudo o que aconteceu até agora foi populista e nem revolucionário, diferente da maioria proporcional o voto nulo faz com que houve grande confusão ideológica no Itamaraty,
reflexo de boas ações plantadas por muitos governos
anteriores, como exportações recordes, safras recor-
dos governos da América Latina. Sob esse ponto de
vista, ele despertou expectativas muito positivas da
você deixe de eleger o cidadão de bem que é uma casa muito profissional e vem sofren-
do com interferências indevidas durante o governo
des. O presidente reclama do Congresso, mas quando comunidade internacional. Porém, no caso desse delí- e acabe elegendo o “clientelista”, que Lula.
o Executivo quer o Congresso vota. Daqui para frente,
as decisões políticas vão interferir muito fortemente
rio em busca da cadeira no Conselho de Segurança da
ONU, o governo tomou decisões absolutamente equi-
é o sujeito votado por gente menos APMP: Nessa avaliação, como se insere a crise
na economia. vocadas. informada. Em suma, na ânsia de Bolívia-Petrobrás?

APMP: A ambição do presidente Lula era fazer um go- APMP: Como assim?
protestar, com o voto nulo você acaba LH: Esse episódio é algo complicado, porque a
Petrobrás ficou muito desamparada. A Petrobrás não
verno de projeção internacional. Ele conseguiu isso? LH: Dar à China status de economia de mercado piorando o resultado da sua ação. era apenas uma empresa estrangeira investindo na Bo-
LH: No primeiro ano do governo Lula, um dos pon- acabou com a indústria têxtil do sul do Brasil e lívia, ela fazia parte de acordos firmados desde 1978
por dois Estados independentes. Houve aproximações
sucessivas entre Brasil e Bolívia, que culminaram na
presença da Petrobrás como investidor para viabilizar,
inclusive, a economia do gás. Então, a Petrobrás não
era uma mera empresa privada nesse episódio, era um
agente do Estado Brasileiro para que os acordos fos-
sem viabilizados. E qual foi o sinal que o Brasil deu ao
mundo inteiro? Pode interferir, encampar e se apropriar
de empresas brasileiras em qualquer lugar do mundo,
porque isso não tem importância. É paradoxal você
conjugar uma posição de liderança com uma atitude
tão paternalista.
Está circulando na Internet
uma campanha: “Não reeleja, APMP: Como vê o crescente aumento da influência
de Hugo Chávez no continente?
eleja!”; ou seja, para não LH: O presidente Chávez está numa situação também
votar em quem tem mandato. um pouco complicada. Ele está sentado em cima de um
“mar de petróleo”, mas a indústria petrolífera venezue-
Nada garante que o próximo lana vive um momento difícil. Eles diminuíram muito a
Congresso, se for todo produção nos últimos anos e, para honrar seus acordos
com os Estados Unidos, estão importando petróleo da
renovado, será melhor que o Europa para poder refinar e manter seus canais aber-
anterior. Porque não adianta tos com os EUA. Recurso natural é o seguinte: você
pode estar sentado em cima da maior mina ou jazida
mudar as pessoas, se as práticas do mundo. Se ela está no solo sem exploração, não
e os métodos não mudarem. vale nada.

APMP: O Congresso não promoveu nem metade das


cassações que se esperava. Teme que isso cause uma
enxurrada de votos nulos?
LH: O voto nulo é uma faca de dois gumes. Por um
lado, é um voto legítimo de protesto, absolutamente
democrático. Uma das minhas brigas com a Justiça
Eleitoral é que a urna eletrônica tem teclas para voto
branco, mas não para voto nulo. O voto nulo, numa
eleição majoritária, tem um sentido enorme. De outro

10 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 11
Contraponto
lado, numa eleição proporcional o voto nulo faz com acredito que hoje o Ministério Público está equilibrado,
que você deixe de eleger o cidadão de bem e acabe Desde a criação desse novo Ministério porque diminuiu aquele “namoro com os holofotes” e
elegendo o “clientelista”, que é o sujeito votado por
gente menos informada. Em suma, na ânsia de pro-
Público, nós tivemos um avanço passou a ter uma atuação mais discreta. O trabalho do
Procurador-Geral da República, por exemplo, no caso do
testar, com o voto nulo você acaba piorando o resul- extraordinário. E acredito que ele “mensalão”, foi impecável. O Ministério Público trouxe
tado da sua ação. seja uma das peças importantes na um sopro de ar fresco na investigação. Portanto, é bom
não perder esse entusiasmo dos jovens promotores. Al-
instalação da democracia real, não essa guns equívocos que eles cometeram são naturais do
APMP: Como projeta um possível segundo mandato
do presidente Lula? democracia formal, em qual falta a processo de aprendizado. De qualquer forma, desde a
criação desse novo Ministério Público, nós tivemos um
LH: Imagine que em 2002, quando já havia aquela universalização do acesso aos bens da avanço extraordinário. E acredito que ele seja uma das
maré de boa vontade em relação ao PT e ao presidente,
ele não fez maioria na Câmara, apenas 91 deputados, civilização, o que ainda está longe de peças importantes na instalação da democracia real,
não essa democracia formal, na qual falta a universa-
ou seja, 17% da Câmara. Num eventual segundo man- conquistarmos. lização do acesso aos bens da civilização, o que ainda
dato, é evidente que a posição do PMDB é estratégica, está longe de conquistarmos.
porque o presidente precisa de apoio, de coalizão. O PT
deve “emagrecer” e o PMDB, que provavelmente fará
a maior bancada, sabe que seu apoio será crucial e já
está cobrando adiantado.
“Por dentro do
APMP: Qual a importância de associações como a
AMB e a APMP encamparem uma campanha como
Governo Lula”
a “Operação Eleições Limpas”?
LH: Tudo que ajudar a esclarecer o eleitor e aumentar Lucia Hippólito
o grau de informação sobre o “pode” e “não pode” de
uma eleição é ótimo. Quem tem informação, tem po- Editora Futura
der. Na medida em que se democratiza a informação,
você tira o poder de certos grupos, de certas elites, de “Nunca mais as coisas serão as mesmas.
certas corporações, e dissemina esse poder pela socie- O PT não é mais o mesmo partido que era
dade. Isso só pode ser bom. Uma iniciativa como essa até quinta-feira passada. O cristal se que-
tem que ser aumentada e repetida inúmeras vezes. É brou”. Com essa frase profética a cientista
evidente que a APMP e a AMB têm um papel crucial política Lucia Hippolito se dirigiu a seus
nessa história. O papel pedagógico de ensinar, de divi- ouvintes da Rádio CBN logo após o golpe
dir conhecimento. letal sofrido pelo mais poderoso ministro
do Governo, num enredo escabroso que
APMP: Volta e meia vem à tona a idéia de amorda- envolveu seu principal assessor, em feve-
çar o Ministério Público e impedir que investigue a reiro de 2004.
corrupção, além das tentativas de controlar a im- José Dirceu não caiu naquele momento,
prensa. Qual sua análise sobre isso? mas desde então Lucia vem acompanhan-
LH: Qualquer forma de censura é uma barbaridade. Nós do de perto as manobras do Planalto para
lutamos demais neste país, perdemos energia, gente e colar os cacos. Esforços frustrados que,
tempo de vida para instalar a liberdade de imprensa e somados a novas acusações de corrupção,
acabar com a censura. E lutamos muito para ver uma perda do controle da agenda política, der-
instituição como o Ministério Público funcionar no país. rota em eleições municipais e implosão
Qualquer atitude que signifique censura vai me colocar da base aliada, fizeram a autora afirmar,
na linha de frente contra isso. Eu e muita gente. antes do desfecho da crise, que o governo
Lula acabara “antes da hora”. Por Dentro do
APMP: O Ministério Público tem trabalhado ade- Governo Lula mostra ao leitor tudo o que
quadamente para combater a corrupção estatal? ele quer saber sobre os bastidores de uma
LH: A partir de um início um pouco exagerado, do crise política sem precedentes na história
que eu chamava de “jovens jacobinos, salvacionistas”, da democracia nacional.

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Maxima Venia

Contribuição de nossos associados para a Sociedade

A
A Revista APMP em Reflexão abre espaço para os seus associados divulgarem artigos de interesse
da comunidade e com isso aproximar nossa Instituição do destinatário final de nossas ações:
o cidadão. As condições para a publicação estão disponíveis na página: www.apmp.com.br/
apmpemreflexao/maximavenia. Colabore e escreva para: apmpemreflexao@apmp.com.br, com
sugestões de matérias ou artigos.
Os artigos da seção Maxima Venia são assinados, não refletindo necessariamente a opinião do Conselho Editorial da Revista APMP em Reflexão.

que os cidadãos constituem e controlam através das Não se pode, antecipadamente, aquilatar a im-

CRIAÇÃO DE BANCOS DE suas liberdades”.3


No que concerne à privacidade, aspectos sociais
e psicológicos ajudam a compreender sua importân-
portância das diversas informações sobre a vida
pessoal de alguém: o repúdio e a admiração de cada
aspecto pode variar conforme os valores vigentes em

DADOS CLANDESTINOS E O
cia. Em qualquer sociedade humana, a hierarquia cada época ou grupo específico. Muitos homens, por
estará presente e as pessoas tenderão a buscar pres- exemplo, avaliam que a divulgação de suas aventu-
tígio e aceitação social.4 Para manter um bom nível ras sexuais às vezes pode lhes trazer prestígio. No
de auto-estima e uma boa posição no ranking so- entanto, para o juiz Clarence Thomas, da Suprema

DIREITO DO CONSUMIDOR cial, cada indivíduo cuida de criar para si uma ima-
gem aceitável nos ambientes em que circula. Nessa
lógica, há aspectos de sua vida pessoal que poderão
Corte dos EUA, e para o ex-Presidente Bill Clinton,
episódios envolvendo relacionamento com mulheres
afetaram negativamente suas reputações. Há mais

À PRIVACIDADE
afetar negativamente o apreço que goza de seus pa- de cem anos, o consumo de cocaína, que atraía in-
res e que, portanto, não lhe interessa que cheguem telectuais da importância de Sigmund Freud, não
ao conhecimento alheio. trazia a depreciação social que traz hoje.
Pela mesma lógica, a competição e as inimizades
estimulam a maledicência e a fofoca: o interesse em 2. Conteúdo do direito à privacidade
João Lopes Guimarães Júnior divulgar informações depreciativas sobre os outros Assim como outras liberdades, o direito à priva-
Promotor de Justiça do Consumidor em São Paulo mobiliza muita energia em qualquer ambiente social cidade implica em comando negativo: garanti-la ao
humano.5 Existe interesse concreto na devassa da cidadão significa proibir que aspectos de sua vida
1. Privacidade como condição para a sal dos Direitos Humanos2, é de inspiração liberal, vida privada e até mesmo o lixo doméstico pode se particular sejam devassados. A CF, no art. 5º, X, quer
liberdade e para a democracia tendo sido concebida inicialmente para impedir a transformar em fonte de informações sobre os há- impedir que qualquer pessoa, sob qualquer pretexto,
intromissão indevida do Estado na esfera particu- bitos de alguém.6 invada sem autorização qualquer um dos diversos
O direito à privacidade é uma das garantias fun-
lar da vida das pessoas. É fruto também de uma É, portanto, para preservação da honra pessoal aspectos da esfera pessoal do indivíduo, que devem
damentais concernentes à liberdade. A Constituição
concepção individualista que surgiu como base da – bem que alcançou proteção da lei penal – que o ser preservados em nome da privacidade.7
Federal assegura a todo cidadão proteção de sua
democracia moderna, e que “repousa na soberania ordenamento jurídico preocupa-se com a manuten- Para que a vida privada se mantenha sob sigi-
vida íntima, para que não seja devassada por tercei-
não do povo, mas dos cidadãos”. Norberto Bobbio ção de determinadas informações fora do alcance lo é preciso impedir que terceiros a investiguem,
ros: “são invioláveis a intimidade, a vida privada, a
afirma que “não há nenhuma Constituição demo- de outras pessoas: ninguém é obrigado a suportar a divulguem, ou mesmo conservem informações in-
honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito
crática que não pressuponha a existência de direitos completa transparência do seu modus vivendi. Todo devidamente obtidas.8 E são indevassáveis todos os
a indenização pelo dano material ou moral decor-
individuais, ou seja, que não parta da idéia de que homem tem direito de manter suas atividades pes- aspectos da intimidade 9, como “o modo de vida do-
rente de sua violação” (art. 5º, inc. X).1
primeiro vem a liberdade dos cidadãos singularmen- soais, sejam elas excêntricas ou não, desconhecidas méstico, nas relações familiares e afetivas em geral,
Essa garantia, que consta da Declaração Univer-
te considerados, e só depois o poder do Governo, do público. fatos, hábitos, local, nome, imagem, pensamentos,

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Maxima Venia
segredos, e, bem assim, as origens e planos futuros dos de sua vida privada, familiar ou doméstica e, portanto, merados que surgiram disputando Ninguém tem direito de saber quais mercadorias
indivíduos”.10 protegidas contra interferências a despeito de qualquer mercado numa escala massifica- ele leva para sua casa; se compra produtos
Informações sobre os hábitos pessoais são obje- pretexto. Desde as condutas mais corriqueiras, como as da.13 Estratégias de marketing, essen-
to de proteção. A rotina de cada um, os locais que compras efetuadas em um supermercado para manu- ciais para o bom desempenho das empresas viciadores, cujo consumo abusivo é mal
freqüenta, as pessoas que encontra, os produtos tenção da família, quanto aquelas outras moralmen- num mercado competitivo, alimentam-se de visto por alguns, como cigarro e bebidas
que consome: nada está disponível ao conhecimen- te reprováveis, como presentes ou jóias compradas e informações sobre os hábitos dos consumidores.
to alheio. Tércio Sampaio Ferraz Jr. lembra que o dadas a quem presta ao homem serviços de natureza Listas com determinados perfis de consumidores alcoólicas; se compra preservativos,
“terreno da individualidade privativa é regido pelo extraconjugal, tudo está abarcado pelo manto da prote- possibilitam aos fornecedores um acesso direto a cujo uso permite ilações sobre
princípio da exclusividade”, explicando que “aquilo ção à vida privada, familiar ou doméstica”. 12 seus compradores ou clientes potenciais, com racio-
que é exclusivo é o que passa pelas opções pessoais, nalização e economia de custos. sua vida sexual.
afetadas pela subjetividade do indivíduo e que não é Além disso, as informações servem para
guiada nem por normas nem por padrões objetivos. aumentar o grau de rapidez e se-
No recôndito da privacidade se esconde, pois, a inti- gurança nas decisões, dinamizan- Os cidadãos – agora
midade. A intimidade não exige publicidade porque do, assim, a economia, pois “se tratados como meros con-
não envolve direitos de terceiros. No âmbito da pri- o armazenamento ou uso dessa sumidores – são vigiados, pesquisados, interrogados.
vacidade, a intimidade é o mais exclusivo dos seus informação é restringido, finan- Bancos de dados minuciosos armazenam diversas
direitos”.11 ceiras reagirão como reagiram informações pessoais, muitas delas íntimas: nome,
Concerne à vida íntima do indivíduo tudo aquilo em outros países, através da re- sexo, endereço, profissão, idade, estado civil, número
que ele consome, inclusive os produtos que adqui- dução do número e do universo e idade dos filhos, patrimônio, rendimentos, hobbies,
re num supermercado. Ninguém tem direito de saber de pessoas para as quais conce- hábitos de consumo etc.16 Cartões de fidelidade de
quais mercadorias ele leva para sua casa; se compra derão financiamentos. Um estu- redes de comércio varejista permitem a reunião de
produtos viciadores, cujo consumo abusivo é mal vis- do do Banco Mundial de 2000, dados sobre os livros e os remédios que compramos.
to por alguns, como cigarro e bebidas alcoólicas; se por exemplo, mostrou que leis No caso dos supermercados, temos a nossa despensa
compra preservativos, cujo uso permite ilações sobre de privacidade restritivas elimi- vigiada. Empresas de cartões de crédito podem sa-
sua vida sexual. Pode ofender o pudor do consumidor nariam 11 de cada 100 pessoas ber tudo sobre nosso cotidiano: as viagens que faze-
a divulgação da informação de que compra raticida, normalmentequalificadas mos, as lojas e os restaurantes que freqüentamos, a
xampu que combate a caspa, tintura de cabelo ou fi- para obter hipotecas, quantidade de dinheiro que gastamos. Empresas de
xador de dentadura. Pode haver legítimo interesse na cartões de crédito e ou- telefonia celular podem monitorar nossos desloca-
discrição sobre eventuais gastos exagerados com pro- tros empréstimos. Tais mentos pela cidade.
dutos caríssimos e supérfluos, como caviar. É eviden- leis, portanto, correm o Pode-se afirmar que o cidadão moderno não se im-
te, pois, que da coleta e do armazenamento dessas risco de negar oportu- porta e que até gosta de ser tratado como consumidor.
informações resulta uma ameaça à privacidade dos nidade para dezenas de Que nossa sociedade é de fato marcada pelo hedo-
consumidores. milhões de consumido- nismo, pelo materialismo e pela vaidade que geram o
Segundo Celso Bastos, “todas as despesas ordinárias res americanos.”14 consumismo e que é através do consumo que suprimos
feitas pelo cidadão comum em sua Os defensores da necessidades primordiais. Nessa perspectiva, a violação
vida cotidiana devem ser eficiência do mercado de nossa privacidade pelas empresas é aceitável: quan-
consideradas parte argumentam: “Quan- to melhor os fornecedores conhecerem os consumido-
Para manter do há menos infor- res, melhor atenderão seus desejos.
mação disponível, as Há, todavia, um limite ético a ser imposto: o ser
um bom nível de empresas precisam humano deve ser tratado sempre como agente, como
auto-estima e uma boa 3. Empresas privadas e seu interesse gastar mais para ne- sujeito titular de direitos, e não como mero objeto na
por informações pessoais gociar seus produtos e lógica de um sistema voltado para o lucro. No que toca
posição no ranking social, serviços. A concessão a esse esquadrinhamento de sua vida pessoal, é preciso
cada indivíduo cuida de criar Quem pode devassar indevidamente a privacida-
de do cidadão?
de crédito e outras que ele tenha pleno conhecimento da devassa, de seus
decisões financeiras limites e de seu uso, e que ele expressamente a autori-
para si uma imagem aceitável nos Os Estados totalitários, com seus ser- são menos precisas e, ze. Cada indivíduo é o senhor de sua intimidade. Cabe
ambientes em que circula. Nessa viços de inteligência e polícias secretas,
ocuparam tradicionalmente o papel
portanto, resultam em a ele permitir ou não qualquer intromissão.
mais inadimplência. O O emprego de meios sub-reptícios para a obtenção
lógica, há aspectos de sua vida pessoal de grandes inimigos da privacidade uso indevido de iden- de dados, seu armazenamento e uso clandestinos são
que poderão afetar negativamente o apreço dos indivíduos. No final do século
passado, no entanto, as ameaças
tidade alheia e outras práticas que violam o tratamento ético, fundado na
perdas fraudulentas confiança e na boa-fé, que deve prevalecer nas rela-
que goza de seus pares e que, portanto, não lhe passaram a vir de grandes conglo- aumentam”.15 ções de consumo.
interessa que cheguem ao conhecimento alheio.
16 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 17
Maxima Venia
4. Banco de dados de proteção ao a sucumbência do direito de privacidade; 3) para fins As exceções devem ser interpreta- O emprego de meios sub-reptícios para a
crédito e banco de dados com fins de proteção ao crédito justifica-se excepcionalmente a das restritivamente. A finalidade está
obtenção de dados, seu armazenamento
mercadológicos: legalidade e requisitos existência de arquivos. limitada à proteção do crédito de cará-
Apenas motivos relevantes – como a proteção ao cré-
E é justamente por essa razão – proteção ao cré- ter preventivo: outros interesses privados e uso clandestinos são práticas
dito e o combate ao crime e à sonegação – autorizam,
dito – que a Lei Complementar nº 105/01 não con-
sidera violação do dever de sigilo o fornecimento,
de credores não prevalecem diante do direito
de sigilo de dados. O Superior Tribunal de Justiça
que violam o tratamento ético,
excepcionalmente, o acesso a informações privadas.
Existem bancos de dados criados exclusivamente para
pelas instituições financeiras, de informações cons- não admite violação dos sigilos bancário e fiscal em fundado na confiança e na boa-
proteção ao crédito (Serasa, SPC etc.). A lei reconhece, e
tantes de cadastro de emitentes de cheques sem
provisão de fundos e de devedores inadimplentes a
outros casos, conforme os seguintes precedentes:
fé, que deve prevalecer nas
portanto autoriza, sua existência e até lhes confere ca-
ráter público (CDC, art. 43, § 4º).17 Há, aqui, um evidente
entidades de proteção ao crédito (art. 1º, § 3º, II).20
O sigilo bancário não teria qualquer consistência se,
para aparelhar a execução, o credor pudesse desvelar os
relações de consumo.
É legal o banco de dados quando sua finalidade é
balanceamento dos interesses envolvidos, com a pon- saldos depositados pelo devedor em instituições finan-
a proteção ao crédito: o consumidor não pode se opor
deração de que o registro de informações destinadas à ceiras, valendo o mesmo para o pedido de acesso às de-
a sua criação. Há, no entanto, uma série de restrições,
segurança das transações é admissível porque resulta no clarações do contribuinte, em face do sigilo fiscal.23
como o direito do consumidor de ser comunicado de sua
bom funcionamento do sistema econômico.18 ao sistema econômico
abertura, de ter acesso às informações arquivadas a seu Assentado na jurisprudência da Terceira Turma
Numa sociedade de consumo de massa, os fornece- (segurança, rapidez, baixo cus-
respeito e de corrigir informação inexata. Existe ainda do STJ o entendimento no sentido de que
dores contratam com pessoas desconhecidas, estando to etc.). O outro tipo de banco de dados não se re-
a proibição de manter informações desabo- as declarações, para fins de imposto
sempre presente um fator de imprevisão e, conseqüen- laciona à proteção ao crédito, mira apenas interesses
de renda, têm caráter sigiloso
temente, de risco. Esse risco pode ser minimizado atra- de fornecedores (criação de mailing lists, orientação de
que deve ser resguar-
vés da consulta a um banco de dados com informações decisões empresariais, marketing etc.).
dado, salvo
sobre o nível de adimplência das pessoas em suas obri- Não há proibição legal para a formação desse
gações contratuais. Estamos diante de uma exceção, segundo tipo de banco de dados, desde que isso não
pois o direito de privacidade não é absoluto: “O direito implique em violação do direito de privacidade. A ga-
à inviolabilidade dessa franquia individual – que cons- rantia constitucional do art. 5º, X, impede que se bis-
titui um dos núcleos básicos em que se desenvolve, em bilhote o comportamento alheio e que se armazene
nosso País, o regime das liberdades públicas – ostenta, indevidamente informações pessoais. Assim, sob pena
no entanto, caráter meramente relativo. Não assume de violar o direito de privacidade, só é possível colher
e nem se reveste de natureza absoluta. Cede, por isso e arquivar informações pessoais de quem expres-
mesmo, às exigências impostas pela preponderância samente os autorize, ciente do alcance da
axiológica e jurídico-social do interesse público”.19 intromissão e de suas finalidades.
É importante atentar para o silogismo subjacen- O consumidor pode, por um ato de libera-
te: 1) o direito de privacidade é garantido lidade, participar de pesquisas de mercado
com ressalvas; 2) apenas uma e divulgar, de qualquer modo, seus hábitos
razão socialmente re- de consumo. Só ele pode decidir sobera-
levante autoriza namente sobre os limites que concede
Cartões nadoras referentes a pe-
ao avanço na esfera de sua intimidade.
de fidelidade ríodo superior a cinco anos e
o dever de comunicação por escrito
A coleta furtiva de informações é proibida. É
possível, neste particular, uma analogia com a inviolabili-
de redes de comércio (art. 43). E os Tribunais brasileiros vêm re-
dade do domicílio, garantia constitucional também relacio-
varejista permitem a reunião conhecendo o dano moral resultante do uso inde-
vido de bancos de dados de proteção ao crédito. 21
nada com a proteção da privacidade. O morador é soberano
para decidir quem adentra sua casa, quando, se o acesso
de dados sobre os livros e os Ou seja, mesmo o banco de dados autorizado
fica limitado à área social, se pode se estender à área ínti-
razão excepcional, que não se configura pelo sim-
remédios que compramos. No caso por lei para proteção ao crédito está sujeito a
ressalvas. Herman Benjamin sustenta que “os ples interesse de descobrir bens a penhorar.24
ma etc. Ou seja, inviolabilidade não significa proibição total
de acesso ao domicílio, mas sujeição à autorização do mo-
dos supermercados, temos a nossa organismos privados ou públicos que arma-
E o que dizer do banco de dado que não visa à prote- rador, que estabelecerá os limites.
despensa vigiada. Empresas de cartões zenam informações sobre os consumi-
dores necessitam, assim, de controle
ção do crédito, cuja abertura não encontra justificativa É natural a circulação de informações pessoais nas di-
versas formas em que se desenvolvem os relacionamentos
de crédito podem saber tudo sobre nosso rígido, seja administrativo, seja ju-
na segurança das transações? Não há nenhum interesse
público que legitime o armazenamento de informações sociais. Como afirma Tércio Sampaio Ferraz Jr., “ninguém
cotidiano: as viagens que fazemos, as lojas e os dicial. A acumulação de infor-
mações sobre o consumidor,
pessoais para fins meramente mercadológicos. tem um nome, uma imagem, uma reputação só para si
mesmo, mas como condição de comunicação. Contudo,
restaurantes que freqüentamos, a quantidade de por mais singelas que sejam,
Existe, portanto, uma distinção fundamental: há
dois tipos de banco de dados. Um deles, que visa à embora sejam de conhecimento dos outros, que deles es-
dinheiro que gastamos. Empresas de telefonia celular não deixa de ser uma invasão
de sua privacidade”. 22
proteção ao crédito, é como visto admitido pelo orde- tão informados, não podem transformar-se em objeto de
troca do mercado, salvo se houver consentimento”.25
podem monitorar nossos deslocamentos pela cidade. namento jurídico em razão de vantagens que propicia

18 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 19
Maxima Venia O outro tipo de banco de dados não se relaciona
tradicional, quando a pessoa celebra con- A Internet, a maior rede de à proteção ao crédito, mira apenas interesses
trato, estabelece, como regra, que o computadores do planeta (4,5 mi-
seu nome, seu endereço e o nú- lhões de computadores interligados, de fornecedores (criação de mailing lists,
mero constarão no catálogo; mais de 30 milhões de usuários, 150 orientação de decisões empresariais,
entretanto, se disser que não mil novos usuários por dia) também
o deseja, a companhia não tem os seus cibernautas delinqüentes. marketing etc.). Não há proibição legal para
pode, de modo algum, for- São os “hackers”, geralmente jovens a formação desse segundo tipo de banco
necer tais dados. Da mesma entre 15 e 25 anos de idade, que pene-
maneira, temos cadastro tram ilegalmente em computadores ligados à de dados, desde que isso não implique
nos bancos, entretanto, de rede, e roubam ou destroem dados acumulados em violação do direito de privacidade
uso confidencial para aque- ali por centenas ou até milhares de usuários.
29

la instituição, e não para ser O Federal Trade Commission, dos Estados Uni- (...) Assim (...) só é possível colher
levado a conhecimento de dos, também adverte: e arquivar informações pessoais
terceiros.26 Avanços na tecnologia dos computadores tornaram
possível que informações detalhadas sobre as pessoas de quem expressamente os
5. Banco de dados e os sejam compiladas e partilhadas de modo mais fácil e autorize, ciente do alcance
riscos para o consumidor barato do que nunca. Isso é bom para a sociedade como
É preciso que o consumidor pondere sua autorização um todo e para os consumidores individuais. Por exem- da intromissão e de
à inclusão de dados sobre sua vida pessoal num arquivo plo, é mais fácil para encalçar criminosos para a imple- t a d o r i z a - suas finalidades.
mantido por terceiros levando em conta todos os riscos mentação da lei, aos bancos para prevenir fraude, e para das gera um
envolvidos. Os riscos à sua segurança, por exemplo: os consumidores para aprender sobre novos produtos processo de es-
A proteção da vida privada integra também o di- e serviços, permitindo-lhes fazer decisões de compras quadrinhamento
reito à segurança, porquanto (...) o conhecimento sem mais bem informados. Ao mesmo tempo, uma vez que das pessoas, que ficam
Sobre a soberania do cidadão quanto ao destino das justa causa das relações comerciais, bancárias e toda a informação pessoal torna-se mais acessível, cada um com sua individualidade intei-
informações sobre si, o seguinte precedente do STJ: sorte de gastos ordinários – em época onde até mesmo de nós – empresas, associações, órgãos governamentais, ramente devassada. O perigo é tão
Quando uma pessoa celebra contrato especificamente os menos afortunados são alvo de extorsões, seqües- e consumidores – devemos tomar precauções para nos maior quanto mais a utilização da informática
com uma empresa e fornece dados cadastrais, a idade, o tros e outras formas de violência – constitui grave risco proteger contra o uso indevido dessa informação.30 facilita a interconexão de fichários com a possibili-
salário, endereço, é evidente que o faz a fim de atender às potencial à segurança pessoal e familiar.27 E é evidente que a proliferação de bancos de dados dade de formar grandes bancos de dados que des-
exigências do contratante. Contrata-se voluntariamente. Outra conseqüência visível do banco de dados é o pessoais afeta o direito à privacidade: vendem a vida dos indivíduos, sem sua autorização e
Ninguém é compelido, é obrigado a ter aparelho telefôni- assédio de ofertas, muitas vezes indesejada, que gera: Com os computadores, o armazenamento de dados até sem o seu conhecimento.32
co tradicional ou celular. Entretanto, aquelas informações Nossa economia gera uma enorme quantidade de fica cada vez mais fácil, com todos os riscos que uma Autorização e conhecimento são dois aspectos
são reservadas, e aquilo que parece ou aparentemente é dados. A maioria dessas informações provém de negó- má utilização possa causar. ... Existem muitas entidades lembrados pelo jurista, que assumem grande relevân-
algo meramente formal pode ter conseqüências seriíssi- cios honestos – ao receber e dar informação legítima. privadas que possuem um sem-número de informações cia quando se estuda o tratamento jurídico do proble-
mas; digamos, uma pessoa, um homem, resolva presen- Apesar dos benefícios de viver nessa era de informa- dos cidadãos e que ficam com a guarda de muitos da- ma.33
tear uma moça com linha telefônica que esteja ção, alguns consumidores eventualmente desejam li- dos, sem que haja um controle efetivo sobre os mes-
no seu nome. Não deseja, principal- mitar a quantidade de informação pessoal que querem mos. O conteúdo comercial, ao estabelecer um perfil do
mente se for casado, que isto compartilhar. Isso é possível: mais e mais organizações consumidor, é evidente. A intimidade do cidadão fica
É venha a público. Daí, utilizam uma alternativa de ‘optar por não participar’ exposta por largo período de tempo. ( ... )
o próprio sistema
legal o banco da telefonia
que limita a informação que é compartilhada com ou-
tros ou utilizada para propósitos promocionais. Quan-
Os bancos de dados contêm informações que tra-
duzem aspectos da personalidade, que permitem traçar
de dados quando sua do você ‘opta por não participar’, é possível reduzir o um perfil do consumidor. Essas informações são uma
finalidade é a proteção número de chamadas comerciais não solicitadas (tele-
marketing), correio promocional, e bombardeios publi-
nova mercadoria com interesse comercial. É necessá-
rio, por essa razão, proteger o cidadão juridicamente
ao crédito: o consumidor não citários enviados por correio eletrônico (spam e-mail) com relação aos avanços da tecnologia, que pode ter
pode se opor a sua criação. Há, que possa receber.28
A informática permite que as empresas criem bancos
sua intimidade violada, caso os dados sejam divulgados
ou utilizados indevidamente.31
no entanto, uma série de restrições, de dados de forma mais rápida, barata e eficiente. Per- O risco à liberdade é expressamente reconhecido
como o direito do consumidor de ser mite que uma quantidade imensa de informações
seja armazenada. E traz um risco concreto e no-
pelo constitucionalista José Afonso da Silva:
O intenso desenvolvimento de complexa rede de
comunicado de sua abertura, de ter acesso tório de que essas informações sejam aces- fichários eletrônicos, especialmente sobre dados pes-
às informações arquivadas a seu respeito e de sadas por estranhos, como advertem os
especialistas:
soais, constitui poderosa ameaça à privacidade das
pessoas. O amplo sistema de informações compu-
corrigir informação inexata.

20 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 21
Maxima Venia
6. Proteção legal à privacidade do Notas do texto: 10. Citação da doutrina de Moacyr de Oliveira em José Afonso da Silva, op. cit, p. 202 . pela internet. Segundo agentes da CGCOIE (Coordenação Geral de Combate ao
Crime Organizado), o estudante criou páginas idênticas às de bancos brasileiros
consumidor 1. Outros dispositivos do art. 5º da CF também salvaguardam
11. Op. cit., p. 78. O autor baseia-se no pensamento de Hannah Arendt, inspirado
em Kant. como o Bradesco, a CEF (Caixa Econômica Federal) e o Banco do Brasil, além de
a privacidade: “a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém instituições da Coréia, do Peru e dos Estados Unidos, e conseguiu ter acesso a se-
12. Sigilo Bancário, in Estudos e Pareceres de Direito Público, São Paulo: RT.
Além da já referida proteção prevista de forma gené- nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo nhas e números de contas e de cartões. A partir daí, teria realizado compras, sa-
em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar so- 1993, p. 62.
ques e transferências, lesando um número ainda não determinado de pessoas.”
rica na CF (art. 5º, X), o direito à privacidade é também corro, ou, durante o dia, por determinação judicial” (inc. XI). 13. Cf. Têmis Limberger, As Informações Armazenadas pela Instituição Bancária e
28. Sua Informacão Privada: O Que Você Sabe Pode Protegê-lo, texto disponível
objeto de tutela por normas infraconstitucionais. O CDC, “É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações o Direito à Intimidade do Cliente. Revista de Direito do Consumidor 43/288; e no site do Federal Trade Commission dos EUA na Internet.
telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no Fábio Comparato, A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva.
como visto, impõe no art. 43 ressalvas aos bancos de da- último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a 2ª ed., 2001, p. 310. 29. Renato M.E. Sabbatini, Os piratas da Internet, Jornal Correio Popular, Caderno
dos de proteção ao crédito. lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução 14. Fred Cate, Invasions of Privacy? artigo publicado no jornal Boston Glo-
de Informática, 21/4/95, Campinas-SP. Em outro artigo, o professor escreveu que
processual penal” (inc. XII). “a Internet é um verdadeiro faroeste, em matéria de proteção da privacidade do
A Lei Complementar nº 105/01 determina que “As ins- be Published, 2.9.2001, disponível no endereço http://www.aei.org/news/ usuário. Enquanto você usa um site de comércio eletrônico, dezenas de informa-
2. Art. XII: “Ninguém será sujeito a interferência na sua vida newsID.14758,filter./news_detail.asp
tituições financeiras conservarão sigilo em suas opera- privada, na sua família, no seu lar ou na sua correspondência,
ções são coletadas sobre você, desde seu nome, endereço e número de cartão de
15. Fred Cate, op.cit. crédito, até os seus hábitos de navegação e de compra. Você não tem a menor
ções ativas e passivas e serviços prestados” (art. 1º). nem a ataques à sua honra e reputação. Todo homem tem direi-
16. As informações básicas meramente identificadoras do indivíduo (nome, filiação, idéia de onde estão sendo armazenadas essas informações, se elas não são alte-
to à proteção da lei contra tais interferências ou ataques”. Lem-
O Código Civil traz importante dispositivo em seu art. bro aqui que “a Declaração Universal representa um fato novo endereço, CPF) não integram, em princípio, o âmbito da intimidade, embora compo- radas sem o seu conhecimento, vendidas para outros sites, ou roubadas.
nham a vida privada, porque são informações justamente destinadas à interação so- Assustador? Pode apostar que sim. A segurança da Internet, como se pode ver
21: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, na história, na medida em que, pela primeira vez, um sistema de
cial. Não possuem o atributo da exclusividade que marca os aspectos da vida pessoal
princípios fundamentais de conduta foi livre e expressamente pelos recentes ataques de hackers a grandes sites de comércio eletrônico nos
a requerimento do interessado, adotará as providências aceito, através de seus respectivos governos, pela maioria dos que integram a intimidade. Tércio Sampaio Ferraz Jr. entende que este tipo de dado, EUA, é precária, para falar o melhor. A ausência de diretivas morais e legais tam-
“embora privativo do sujeito, é condição de sua identificação para efeito dos inter-
necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a homens que vive na Terra” (Norberto Bobbio, A Era dos Direitos,
câmbios sociais que ocorrem inclusive na vida privada. Destacados dos intercâmbios
bém é rampante entre os sites de comércio eletrônico. Um levantamento recente
10ª ed., Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 28). feito pela Federal Trade Commission, órgão do Governo Americano que regula-
esta norma”. Essa regra repete a prescrição da Constitui- privados, eles não estão protegidos pela privacidade” (op. cit., p. 87). menta as atividades comerciais naquele país, descobriu que apenas 8% dos sites
3. A Era dos Direitos, 10ª ed., Rio de Janeiro: Campus, 1992, p.120.
ção Federal e sua utilidade consiste em afastar qualquer 17. O caráter público de um banco de dados permite ao cidadão impetrar habeas de comércio eletrônico têm um ‘selo de privacidade’, ou seja, alguma política,
4. Cf. Robert Wright, O Animal Moral, 9ª ed., Rio de Janeiro: El- data (CF, art. 5º, inc. LXXII, a). Para ser considerado de caráter público, o registro ou claramente visível, de que os usuários daquele site têm garantia de privacidade.
discussão sobre a aplicabilidade da própria norma cons- sevier, 1996, especialmente Capítulo 12. banco de dados deve conter informações que “sejam ou que possam ser transmiti- A FTC deseja que os sites tenham quatro normas básicas: aviso, escolha, acesso
titucional (discussão, aliás, que está afastada pelo que 5. “Em um pequeno grupo (digamos um grupo do tamanho de das a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora e segurança. Em outras palavras, o site deve avisar claramente ao usuário qual
uma aldeia de caçadores-coletores), uma pessoa tem um grande ou depositária das informações” (parágrafo único do art. 1º da Lei nº 9.507/97). informação está sendo coletada sobre ele, e como é usada; dar opção para que
determina o § 1º do art. 5º).34 interesse em diminuir a reputação dos outros, particularmente 18. Herman Benjamin aponta as vantagens para o sistema econômico das entidades de ele escolha como a informação será usada, dar acesso às informações já cole-
O Código Civil, portanto, não deixa nenhuma dúvida outros do mesmo sexo e idade, por quem sente uma rivalidade proteção ao crédito que armazenam dados sobre os consumidores: “a um só tempo, tadas sobre ele, para fins de verificação, correção e apagamento, e tomar as
natural” (Robert Wright, op. cit., p. 230). Na lista dos universais
sobre o modo como deve ser efetivada a proteção do di- humanos compilados pelo antropólogo Donald E. Brown cons-
superam o anonimato do consumidor (o fornecedor não o conhece, mas alguém está medidas necessárias para proteger os dados de acesso por terceiros. No levan-
a par da sua vida), auxiliam na utilização do crédito (por receber informações de ter- tamento realizado nos EUA, apenas 20% dos sites de comércio eletrônico com
reito à inviolabilidade da vida privada: basta ao interessa- tam os mexericos e a preocupação com a percepção alheia ceiros sobre o consumidor, a instituição financeira, mesmo sem conhecê-lo, lhe con- mais de 40 mil visitantes por dia tinham implementando essas quatro políticas
da auto-imagem (A lista está reproduzida em Tábula Rasa – a
do requerer ao juiz as providências necessárias para impe- cede o crédito), e, por derradeiro, permitem que os negócios de consumo sejam feitos de privacidade.
negação contemporânea da natureza humana, de Steven Pinker, sem delongas (se o crédito é rápido, o consumidor pode aproveitar essa economia Como conclusão de um estudo de 208 páginas sobre práticas de privacidade na
dir ou fazer cessar o ato atentatório. Importante observar São Paulo: Cia. Das Letras, 2004, pp. 587-591. de tempo e adquirir outros produtos ou serviços de fornecedores diversos)” (Código Net, a poderosa FTC concluiu que o Governo deve implementar exigências legais
que a lei não quis apontar quais seriam as providências 6. Cf. Eliane Cantanhêde, O lixo e a intimidade, Folha de S. Paulo, Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado pelos Autores do Anteprojeto, Rio de de proteção, pois a indústria falhou em regulamentar a si própria de maneira
08/12/2004. Janeiro: Forense Universitária. 5ª ed., 1998, p. 327). independente, como os líderes empresariais do setor desejam.
possíveis, nem mesmo indicar quais atos devem ser consi-
7. Cf. ensina José Afonso da Silva, “o caráter imperativo das nor- 19. Voto proferido pelo Min. Celso de Mello aos 25.3.92 na Petição nº 577-5 Dis- A controvérsia se instalou. A Aliança de Privacidade na Internet, um grupo que de-
derados contrários ao direito tutelado. Preferiu atribuir ao mas jurídicas revela-se no determinar uma conduta positiva ou trito Federal – Questão de Ordem. fende a ausência de quaisquer barreiras ou legislação que tente domar o vale-tudo
juiz tais poderes, o de identificar uma hipótese concreta uma omissão, um agir ou um não-agir; daí distinguirem-se as 20. Observadas as normas baixadas pelo Conselho Monetário Nacional e pelo da Internet, é contra. ‘Achamos que os consumidores bem informados devem deci-
normas jurídicas em preceptivas – as que impõem uma conduta dir que nível de privacidade preferem. Eles podem disciplinar o mercado para que
de violação da vida privada e o de impor as providências positiva – e em proibitivas – as que impõem uma omissão, uma
Banco Central do Brasil.
ele forneça a proteção de privacidade que exigem e merecem. As recomendações
21. Segundo precedente do STJ, “A inscrição do nome da contratante na Serasa
necessárias para impedir ou fazer cessar a violação. Toda conduta omissiva, um não-atuar, não fazer” (Aplicabilidade das
depois de proposta ação para revisar o modo irregular pelo qual o banco es-
da FTC são muito amplas, prematuras, pouco práticas e desnecessárias’.
Normas Constitucionais, São Paulo: Malheiros. 3ª ed., 1999, p.
e qualquer providência, portanto, é, em princípio, admis- 67). O Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo concedeu tava cumprindo o contrato de financiamento, ação que acabou sendo julgada Já os consumidores pensam diferente. De acordo com um relatório de outubro
procedente, constitui exercício indevido do direito e enseja indenização pelo de 1999 da empresa Forrester, 90% dos consumidores querem controlar como a
sível, desde que suficientes e imprescindíveis liminar determinando a proibição, a empresa atacadista, de
grave dano moral que decorre da inscrição em cadastro de inadimplentes” (JSTJ informação coletada sobre eles é coletada e usada por terceiros, 57% favorecem
proceder a revistas ou conferências de compras já realizadas
para reparar ou prevenir a violação. por seus fregueses por ofensa à intimidade e privacidade, ao 16/330). O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul decidiu que “constitui ilícito, leis destinadas à proteção da privacidade online, e 56% não permitiriam a coleta,
imputável à empresa de banco, abrir cadastro na Serasa sem comunicação ao se a eles fosse dada a escolha.” (Os piratas da Internet, Jornal Correio Popular,
De grande utilidade, pois, tal co- direito de locomoção e à propriedade (Quinta Câmara de Direi-
Caderno de Informática, 26/5/2000, Campinas-SP)
to Privado – Agravo de Instrumento nº 252.684.4/9 – rel. Des. consumidor (artigo 43, § 2º, da Lei nº 8.078/90). O atentado aos direitos rela-
mando legal, uma vez que tantas Marcus Andrade – 24.10.02). cionados à personalidade, provocados pela inscrição em banco de dados, é mais 30. Texto disponível em seu site na Internet aos 20.2.03.
são as formas possíveis de violação grave e mais relevante do que lesão a interesses materiais” (5ª Câm. Cível – Ap. nº
Sobre o sigilo dos vencimentos: “1. A remuneração dos servidores 31. Têmis Limberger, As Informações Armazenadas pela Instituição Bancária e o Direito
597.118.926 – Rel. Des. Araken de Assis – j. 7.8.97 – Boletim AASP 2.044/481).
à Intimidade do Cliente. Revista de Direito do Consumidor 43/286-287 e 297.
da vida privada que seria impossí- públicos está prevista em lei, com publicidade ampla para conhe-
22. Op. cit., p. 328. A manipulação de informações, ainda que para proteção ao
cimento dos interessados. 2. Diferentemente, não pode o cida- 32. Curso de Direito Constitucional Positivo, São Paulo: Malheiros.1997, 14ª ed.,
vel prevê-las completamente. Do dão ter acesso à intimidade de cada servidor. 3. Impossibilidade crédito, deve sofrer um estrito controle e seu limite pode gerar controvérsias. O
p. 205.
Ministério Público Federal questiona judicialmente, por exemplo, a possibilidade
mesmo modo, muito variadas po- de conceder a Administração certidão nominal dos ganhos de
da Serasa receber informações da Receita Federal (vide petição inicial do Procu- 33. Quando, no início da década de 90, os geneticistas pretenderam estudar a
cada servidor. 4. Recurso ordinário improvido.” (STJ – RMS 14163
dem ser as medidas preventivas e – Relatora Min. Eliana Calmon – Segunda Turma – 27.08.2002) rador André de Carvalho Ramos publicada na RDC 39/205-224). diversidade genética das diversas populações humanas, surgiu um impasse: grupos
indígenas norte-americanos recusaram-se a fornecer as amostras de sangue im-
corretivas. Não seria conveniente, 8. Cf. José Afonso da Silva, Curso de Direito Constitucional Positi- 23. RESP 50354 - 01.06.99 - Terceira Turma - Relator Min. Ari Parglender - JSTJ 9/194
prescindíveis para o mapeamento dos genes. A recusa se baseava na desconfiança
ademais, deixar que tão relevan- vo, São Paulo: Malheiros. 14ª ed., 1997, p. 204. 24. RESP 59812 - 050.9.95 - Terceira Turma - Relator Min. Waldemar Zveiter sobre a utilização das informações que seriam coletadas. Nesse contexto, Henry
9. Tércio Sampaio Ferraz Jr. diferencia a vida privada da intimidade - RT 725/165. Greely, professor de Direito em Stanford, empregou o conceito de consentimen-
te garantia constitucional ficasse 25. Op. cit., pp. 78-79. Em 1990, o legislativo da Califórnia aprovou uma lei to informado, para, junto com geneticistas, criar um Protocolo Modelo de Ética.
pelo maior grau de exclusividade da última. Sustenta que “a inti-
sem a proteção de um remédio midade é o âmbito do exclusivo que alguém reserva para si, sem protegendo a privacidade do consumidor quando paga com cartão de crédito. Pelo processo do consentimento informado, “as pessoas que estão pensando em se
nenhuma repercussão social, nem mesmo ao alcance de sua vida Essa lei impede os varejistas de colher informação pessoal sobre transações com submeter a um teste genético devem saber exatamente o que as espera. Precisam
judicial. cartões de crédito e de usá-las para suas próprias finalidades de marketing ou conhecer a precisão do exame e o que será feito com os resultados. Precisam saber
privada que, por mais isolada que seja, é sempre um viver entre
os outros (na família, no trabalho, no lazer em comum)”. Já a vida vender as informações para especialistas em mala-direta. (Cf. California’s Advo- de que forma os resultados poderão afetar os membros da família, os patrões,
privada, segundo o jurista, “envolve a proteção de formas exclusi- cate For The Public Interest, no sítio http://calpirg.org/CA.asp) as seguradoras e outras pessoas envolvidas. Apenas depois que as pessoas forem
vas de convivência. Trata-se de situações em que a comunicação perfeitamente informadas a respeito do teste e suas possíveis conseqüências é
26. RHC 8493 - 20.05.1999 - Sexta Turma - Relator Min. Luiz Vicente Cernic-
é inevitável (em termos de relação de alguém com alguém que, que se deve perguntar se desejam ser testadas” (Steve Olson, A História da Huma-
chiaro - JSTJ 9/402
entre si, trocam mensagens), das quais, em princípio, são nidade. Rio de Janeiro: Campus. 2003, p. 247. (v. Annual Review of Antropology
27. Celso Bastos, Sigilo Bancário, in Estudos e Pareceres de Direito Público, São 27 (1998):473-502) (Henry Greely, Informed Consent and Other Ethical Issues in
excluídos terceiros” (Sigilo de Dados: O Direito à Pri-
Paulo: RT. 1993, p. 67. Em sua edição do dia 22.2.03, o jornal “Folha de S. Paulo” Human Population Genetics. Annual Review of Genetics. 2001. 35:785-800)
vacidade e os Limites à Função Fiscalizadora do
(p. C5) informou que um estudante de 18 anos foi preso pela Polícia Federal dois
Estado, Cadernos de Direito Constitucional e 34. “As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação
dias antes “em Petrópolis (região serrana do Rio), sob a acusação de clonar sites
de Ciência Política 1/79). imediata.”
de instituições bancárias do Brasil e do exterior e aplicar golpes em correntistas

22 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 23
X
MP em Foco

Futuro do MP MP do Futuro
Discussão sobre fatos que repercutirão nos rumos de nossa Instituição.

O merecimento e o
Conselho Nacional do
Ministério Público
(Parte II) TRECHO DA EMENTA DA DECISÃO DO CNMP
“Normas gerais que estabelecem critérios para avaliação do merecimento,
Novos capítulos foram adicionados ao imbróglio envolvendo o Con- para fins de promoção e remoção estabelecidas, no caso em exame, na Lei
selho Nacional do Ministério Público e o Conselho Superior do Ministério
Público de São Paulo.
Orgânica Nacional do MP – Lei nº 8.625/93, na Lei Orgânica do Ministério
Como noticiamos na edição anterior, liminar concedida pela integran- Público de São Paulo – Lei nº 734, de 26/11/1993 e no Regimento Interno do
te do Conselho Nacional do Ministério Público Janice Ascari suspendeu
“qualquer ato de promoção ou remoção de membro do Ministério Públi- Conselho Superior do Ministério Público do Estado de São Paulo, aprovado
co do Estado de São Paulo até o julgamento do mérito deste processo”.
Essa decisão atingiu diretamente o concurso, por remoção, para pro- pelo Ato nº 005/94 – CSMP, de 18 de outubro de 1994 e publicado no D.O.E.
vimento dos 75 cargos de promotores de justiça substitutos de segundo de 21 de outubro de 1994. Normas internas que não discrepam muito das
grau criados pela Lei Complementar Estadual nº 981/2005.
No julgamento do mérito do feito (Procedimento de Controle Admi- diretrizes gerais fixadas por este Conselho Nacional, a não ser nos pontos
nistrativo nº 93/2006), malgrado o reconhecimento de que “as normas
do Conselho Superior do Ministério Público de São Paulo (...) de um modo destacados no acórdão. Exclusão dos critérios que não se coadunam com a
geral, não discrepam muito das diretrizes gerais fixadas por este Conse-
lho Nacional”, decidiu-se, por unanimidade, anular o referido concurso
Resolução CNMP nº 02/2005. Anulação do concurso de promoção/remoção
e determinar a exclusão e a alteração de dispositivos do art. 70 do Regi- por merecimento, desde o seu edital, inclusive, procedendo-se integralmente
mento Interno do Conselho Superior de São Paulo, que regulamenta os
critérios de merecimento. a novo certame, com a observância, doravante, dos critérios ora redefinidos.”
Sobre essa decisão e suas implicações é que dedicamos esta seção.

24 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 25
MP em Foco

O reflexo da decisão do CNMP XVII - o fato de ter exercido efetivamente seu cargo

nos critérios de merecimento


em Comarcas de difícil provimento, e sua permanência
no cargo;
XVIII - a atuação em Comarca que apresente parti-
cular dificuldade para o exercício de suas funções;
XIX - a participação em atividades da Promotoria de
Regimento Interno do Conselho Superior do Minis- Justiça que tenham trazido destacado retorno social;
tério Público de São Paulo (aprovado pelo Ato nº 5/94- XX - iniciativas que redundaram em reais benefícios
CSMP, de 18/10/94) para a comunidade;
XXI - atuação em inquéritos ou processos com es-
Art. 70: Para aferição do merecimento, o Conselho peciais dificuldades e com grande relevância ou reper-
levará em conta: cussão social;
I - os dados constantes de seu prontuário; XXII - a observância das Recomendações expedi-
II - o exercício das funções institucionais com es- das pelos Órgãos da Administração Superior do Mi-
forço e independência; nistério Público;
III - o volume de serviços da Promotoria de Justiça XXIII - iniciativas visando à defesa de prerrogati-
ocupada pelo candidato, bem como a sua operosidade; vas institucionais;
IV - os problemas e as dificuldades que o promo- XXIV - elaboração de peças forenses que serviram
tor de justiça enfrentou; de modelos para Centros de Apoio Operacional ou Pro-
V - a conduta do membro do Ministério Público na motorias de Justiça;
sua vida pública e particular; XXV - colaboração ou palestras em cursos de
VI - o conceito de que goza na Comarca; adaptação ou atualização de membros do Ministério
VII - a dedicação no exercício do cargo; Público;
VIII - a presteza ou pontualidade e a segurança no XXVI - notória especialização em matérias de inte-
cumprimento das obrigações funcionais (v. arts. 129, resse institucional;
§ 4º, e 93, II, b, da CF); XXVII - elogios e votos de louvor consignados pe-
IX - as iniciativas que resultaram na modificação de los Órgãos Superiores do Ministério Público ou em
leis, orientações jurisprudenciais ou de procedimentos decorrência da inspeção permanente dos procurado-
administrativos internos; res de justiça;
X - a eficiência no desempenho de suas funções, XXVIII - exercício da função de professor em cursos
verificada através das referências dos procuradores de Direito;
de justiça em sua inspeção permanente, dos elogios XXIX - titulação universitária;
insertos em julgados dos Tribunais, da publicação de XXX - o tempo de exercício na entrância ou no car-
artigos e trabalhos forenses de sua autoria e das ob- go, bem como a posição relativa do interessado na lista
servações feitas em correições e visitas de inspeção; de antigüidade, entre outros fatores (v. arts. 134 e 147,
XI - a contribuição à organização e melhoria dos § 2º, c, da LOEMP).
serviços judiciários e correlatos da Comarca;
XII - o número de vezes que já tenha participado de listas
de promoção ou remoção, pelo critério de merecimento;
XIII - a freqüência e o aproveitamento em cursos
oficiais, ou reconhecidos, de aperfeiçoamento (v. arts. incisos ou expressões excluídos pelo CNMP.
129, § 4º, e 93, II, b, da CF);
XIV - participação como conferencista, palestran- segundo o CNMP, apenas a avaliação negativa
te, autor de teses ou assistente em cursos, seminários desses critérios deve ser levada em conta.
e congressos de interesse institucional;
XV - o aprimoramento de sua cultura jurídica, através segundo o CNMP, esses critérios só devem
da publicação de livros, teses, estudos, artigos e a obtenção ser considerados se a participação não tiver
de prêmios relacionados com sua atividade funcional; ocorrido por indicação do Procurador-Geral
XVI - a participação em debates, mesas redondas, pai- de Justiça ou do Conselho Superior do
néis, exposições e conferências de cunho institucional; Ministério Público.

26 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 27
MP em Foco
A repercussão no Conselho Superior “ (...) gostaria de deixar bem claro que sempre fui
– e continuo sendo – favorável ao controle externo
de Controle Administrativo, expurgá-la, ainda
que parcialmente, de nosso ordenamento. Por
do Ministério Público e do Poder Judiciário, outro lado, a expressão “verificada através das
Na reunião de 4 de julho de 2006, o conselheiro considerando-o, mesmo, fator primordial para a referências dos procuradores de justiça em sua
Cabe ressaltar que a conselheira Janice Ascari, em
José Benedito Tarifa apresentou proposta de modi- evolução dessas instituições (...) inspeção permanente, dos elogios em julgados dos
seu voto, não tratou da questão. Ou seja, não fez re-
ficação do art. 70 do Regimento Interno do CSMP de É extremamente saudável, por outro lado, a Tribunais, da publicação de artigos e trabalhos
ferência direta aos dispositivos da Lei Orgânica en-
São Paulo, para adequá-lo integralmente à decisão preocupação do Colendo Conselho Nacional do forenses de sua autoria e das observações feitas
volvidos e, por conseqüência, não analisou, no caso
do CNMP. Seguiu-se, então, interessante discussão Ministério Público com o tema “merecimento”, em correições e visitas de inspeção” consta do
concreto, se essas normas foram ou não recepciona-
sobre a possibilidade de o CNMP excluir dispositi- em virtude da extraordinária importância que tem disposto no art. 134, inciso IV, da Lei Orgânica
das depois da alteração do art. 93 da Constituição
vos do Regimento Interno do CSMP de SP que, na para o estímulo do bom desempenho funcional (...) estadual e também deveria ser “excluída”. Tem o
Federal, com seus reflexos no art. 129, § 4º, da Carta
verdade, reproduziam normas previstas em nossa Lei Sem embargo desses registros, cabe desenvolver Conselho Nacional do Ministério Público o poder
Magna.
Orgânica Estadual. análise crítica da decisão daquele órgão, o qual, de revogar lei em vigor? Pode fazê-lo por decisão
Veja os aspectos principais do debate:
de vida recente em nosso ordenamento, não tem proferida em Procedimento Administrativo? Em
definidos com absoluta clareza os limites de sua outro ponto, aquele órgão pode ter exorbitado
atuação (...) de seus poderes, mais exatamente quando
“ (...) apesar de o voto condutor mencionar o artigo expressão “verificada através das referências O questionamento, respeitoso e de fundo determinou que a presteza nas manifestações dos
61 da Lei nº 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do dos procuradores de justiça em sua inspeção essencialmente jurídico, é um dever para membros do Ministério Público somente poderia
Ministério Público) e transcrever o artigo 134 e seus permanente, dos elogios insertos em julgados dos aqueles que, como nós, atuam nos órgãos de ser considerada negativamente, ou seja, no caso de
incisos da Lei Orgânica Estadual do Ministério Público Tribunais, da publicação de artigos e trabalhos direção do Ministério Público estadual: temos a impontualidade (...)
do Estado de São Paulo, conclui pela exclusão forenses de sua autoria e das observações feitas responsabilidade de zelar para que o âmbito de O entendimento desse Colendo Órgão, sem dúvida,
integral ou parcial de incisos constantes do em correições e visitas de inspeção” (art. 70, X, nossas competências não seja indevidamente – ou restringe a aplicação da norma constitucional,
Regimento Interno do Conselho Superior RICSMP). Isto porque tal expressão é cópia do seja, de forma contrária à lei – invadido por quem cabendo uma vez mais indagar: pode o Conselho
do Ministério Público do Estado de constante na Lei Orgânica do Ministério Público do quer que seja (...) Nacional, em procedimento administrativo,
São Paulo, que são cópias do Estado de São Paulo (art. 134, IV e VII) (...) Pois bem, depois de se dedicar à análise de alguns determinar que os Ministérios Públicos
constante nessas leis...Vejamos: As observações feitas no voto condutor a respeito dispositivos do Regimento Interno do Conselho estaduais adotem interpretação restritiva
a) A expressão “particular”, dos incisos II, VII e VIII do artigo 70 do RICSMP, Superior do Ministério Público de São Paulo – mais (e inegavelmente subjetiva) de
constante do inciso por contrariarem o disposto no artigo 93, inciso especificamente de alguns incisos do seu art. regra da Constituição
V, que se refere à II, “c”, da Constituição Federal, tampouco podem 70 –, o Conselho Nacional do Ministério Público Federal? (...)

conduta na vida particular do membro da Instituição, ser aceitas, ainda mais que recomenda a análise determinou a exclusão de alguns deles (...) Por todas essas razões, dirijo-me ao Excelentíssimo
e a expressão “o conceito de que goza na Comarca”, do desmerecimento do membro da Instituição. Acontece que alguns desses dispositivos apenas Senhor Procurador-Geral de Justiça para
constante no inciso VI. Tais expressões constam da O Conselho Superior do Ministério Público deve repetem normas da Lei Orgânica do Ministério solicitar que, no exercício da representação do
Lei Complementar Estadual (art. 134, I) e, mesmo avaliar o merecimento (...) apenas quem contar Público do Estado de São Paulo (Lei Complementar Ministério Público do Estado de São Paulo, tome
que se admitisse que o Conselho Nacional com a maioria dos votos dos conselheiros é nº 734, de 26 de novembro de 1993)! Assim, a as providências necessárias para a defesa das
do Ministério Público pudesse proceder a que será indicado, sem que se faça referência decisão do Conselho Nacional, embora se refira competências deste Conselho Superior, assim
tais alterações em normas internas do ao “desmerecimento” dos demais membros da apenas ao Regimento Interno, na verdade alcançou como da própria Lei nº 734/93, seja em eventual
Ministério Público do Estado de São Instituição inscritos e não indicados, o que poderia normas legais em pleno vigor. O art. 134, inciso pedido de reexame da decisão do Egrégio Conselho
Paulo – o que se admite apenas para representar uma ofensa a esses colegas, com sérios I, da Lei nº 734/93 manda que na aferição do Nacional do Ministério Público, seja por meio das
argumentar –, restaria o texto legal, desdobramentos jurídicos (...) merecimento se levem em conta, dentre outras medidas judiciais cabíveis”.
o qual não pode ser revogado pelo A recomendação feita a respeito dos demais coisas, o conceito de que goza o membro do (manifestação do conselheiro Antonio Augusto
Conselho Nacional do Ministério incisos é desnecessária. Conclui-se, por Ministério Público na Comarca e a conduta por ele Mello de Camargo Ferraz)
Público, que não tem atribuições conseguinte, que a decisão do Conselho Nacional observada em sua vida pública “e particular”. Não
constitucionais e legais para do Ministério Público não é apta para produzir se trata, aqui e agora, de discutir o acerto ou a
tanto (...) resultados concretos quanto aos critérios de modernidade dessa norma legal, mas de questionar
As mesmas observações merecimento do Ministério Público do Estado a possibilidade do Conselho Nacional do Ministério
feitas acima são de São Paulo.” (manifestação do conselheiro Público, no âmbito de simples Procedimento
válidas quanto à Fernando José Marques)

28 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 29
MP em Foco
“ (...) o caso deve ser discutido judicialmente,
conforme propostas dos conselheiros Fernando e
Desfecho (parcial) do caso
Antonio Augusto” (manifestação do conselheiro
Dráusio Lúcio Barreto) Por maioria de votos o Conselho Superior deli- as entrâncias) e aos critérios de merecimento (votos
berou aguardar a decisão do Conselho Nacional vencedores: conselheiros Sabella, Fernando, Dráusio,
do Ministério Público nos pedidos de providências Shimizu e Rodrigo, com voto de desempate; votos
formulados por membros do MP de São Paulo para, vencidos: conselheiros Tarifa, Garrido, Antonio Au-
“A Emenda nº 45 modificou o artigo 93 depois, discutir as questões relativas à abertura de gusto, Zanellato e Molineiro; ausente, justificada-
da Constituição, em especial o seu inciso novos concursos de promoção e remoção (em todas mente, o conselheiro Fink).
II, alínea c, ao estabelecer a “aferição do
merecimento conforme o desempenho e
pelos critérios objetivos de produtividade e
presteza no exercício da jurisdição e pela
freqüência e aproveitamento em cursos oficiais
ou reconhecidos de aperfeiçoamento”, com
aplicação ao Ministério Público em razão
Direto do
do disposto no artigo 129, § 4º, do texto
Conselho Super
constitucional. A Legislação Federal, a Legislação
ior
Retrocesso?
Estadual e as normas regulamentares que
não estiverem de acordo com os critérios Proposta do cons
elheiro Tarifa de
ção do art. 71 do altera- atual
estabelecidos pela nova redação dada a este
(redação propos
Regimento Inte
rno do CSMP se u m an da to anterior, o
dispositivo não foram recepcionadas pela ta: “Os assentam Em rtaria nº
vos às atividad entos relati- ur ad or -G er al baixou a po
Pr oc al-
ordem constitucional estabelecida pela Emenda
membros do M
es funcionais e
à conduta dos 06 , de 17 /2 /0 6, pela qual form
inistério Públic 932/20 de estu-
Constitucional nº 45. Desta forma, não se trata
apuração de seu o, pa ra fins de en te co ns ti tu iu a comissão
m 2-
de reconhecer a esse Órgão Administrativo o
em seu prontuár
merecimento, se
rão coligidos is ta no A to Normativo nº 40
io individual (v. dos pr ev julho de
poder de revogar leis, mas sim de interpretar
LOEMP). Parágr ar t. 42, X, da J/ C PJ /C SM P/ CGMP, de 27 de
PG nco
as leis vigentes de acordo com o novo texto
em conta os da
afo único – O C
on selho levará cu jo ob je ti vo é implantar o ba
constitucional aprovado pelo Poder Constituinte dos constantes 2005,
dos assenta- ucional do MP.
mentos, além do de dados instit 06,
Derivado (...)
promotor de just
s documentos e
trabalhos do di as 14 e 21 de março de 20
iça por ele próp Nos al inte-
Devemos observar a inexistência, por ora, rio enviados à Procurador-Ger
Corregedoria-G por iniciativa do eiras
de elementos seguros para a aferição do
do Ministério Pú
eral ou ao Con
selho Superior fo ra m re al iz ad as as duas prim
merecimento conforme o desempenho e pelos blico”) (reunião rino,
de 4/7) comissão.
reuniões dessa pois da
critérios objetivos de produtividade e presteza.
tr et an to , qu atro meses de
En eral para
Como comparar desempenho, produtividade l Procurador-G
posse do atua e ne-
e presteza entre colegas que atuam em áreas
se gu nd o m an dato, não houv
tão diferentes, como uma Promotoria Criminal, seu
união.
nhuma outra re rtante
uma Promotoria de Execução Criminal, uma
ra qu e in ic ia tiva tão impo
Pa itucional
Promotoria de Família e uma Promotoria de olvimento inst
para o desenv APMP
Interesses Difusos? Salvo situações claras te estancada, a
o
m en
d
se ja no va
o
não palavras
de demérito apontadas pela Corregedoria da
Diret ial em Reflexão,
fazendo suas as
Mello
Instituição ou colegas de notório merecimento
spec o A nt onio Augusto

Órgão E
do co ns el he ir
de 6 de
para determinados cargos, que possam ser rraz na reunião
de Camargo Fe ita ao
motivados com clareza, a utilização da cria- C on se lh o Superior, solic
p osta de junh o do or-Geral
antigüidade como critério de desempate, como P G J pr o ea Senhor Procurad
tada pela rador de justiça Excelentíssimo hos da
feito há muito no Ministério Público de São Apresen pro cu entes re to m ados os trabal
Paulo, se mostra, no meu entender, adequado.” 75 c argos de os co rrespond que se ja m
ção d e d to
na va cância - st iça substitu Comissão Mista
.
(manifestação do conselheiro e PGJ - ju
extinção e promotor de
Rodrigo César Rebello Pinho, à qual aderiu os d 7/6)
75 carg ra u (reunião de
o conselheiro José Oswaldo Molineiro) ndo g
de segu

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II Torneio Esportivo Confraternização na medida certa!


O Brasil pode não ter vencido a Copa, mas os durante os jogos. E, claro, não foram economizados

Deu Itália aqui também!


associados da APMP tiveram muitos motivos para gritos da torcida, do pontapé inicial ao último apito.
comemorar de 09 a 11 de junho. O II Torneio Es- No futebol, as equipes vencedoras foram: Itália
portivo reuniu no Hotel Estância Barra Bonita - SP (campeã), Togo (vice-campeã) e em terceiro lugar a
cerca de 300 pessoas, que desfrutaram de diver- Fúria Espanhola. Destacaram-se os atletas: Tomas Bus-
sas atividades culturais e eventos, como o show da nardo Ramadan (artilheiro e gol mais bonito) e Luciano
Banda Saigon, o famoso Churrasco do Bassi e a tão Coutinho (goleiro menos vazado).
esperada Festa Junina. Aqui em Barra Bonita, Cafu, Roberto Carlos e Cia. Li-
Nos esportes, as competições foram marcadas pela mitada esquentariam o banco de reservas dos craques
euforia e animação, que motivaram todos os atletas da APMP.

Confira as equipes participantes do futebol:

ITÁLIA
TOGO
Coutinho
Luciano G. De Qu cia n o G. De Queiroz
eiroz Coutinho Lu
ndes
rlando Me
André Luiz dos
Santos Marcelo O eida
ldo de Alm
Julio Sérgio Abbu
d José Reyna dan
ardo Rama
Tatsuo Tsukamot
o Tomas Busn ndelai
eovam Sca
Flavio Okamoto Anderson G s Júnior
José Augusto M nio C arl o s Guimarãe
ustafá Anto Jr.
rto Melluso
Alexandre Cid de
Andrade Carlos Albe
o
ias Brandã
Felipe Freitas Eduardo D rreira
io Mig Fe
u e l
Paulo Henrique
de O. Arantes Luiz Anton
a Zarif
Tiago Cintr ira
eu G. Teixe
Marcos Tad
anu
Roberto Livi

ESPANHA
mra INGLATERRA
Rafael Abuja es
ando Mend
Marcelo Orl Costa
isto Fabricio Virgilio Antonio Ferraz do Amaral
Heitor Evar tas
ncini de Frei
Fábio Bianco Marcelo Freire Garcia
icius Seabra
Marcus Vin eitas Eduardo Caetano Querobim
ancisco S. Fr
Salvador Fr Ismael Marcelino
io Masson
Cleber Rogér Gilberto Nonaka
o Loubeh
Silvio de Cill José Carlos Cosenzo
rzella Vaz
Gustavo Zo Lima Mário de Magalhães Papaterra
gues Franco
Fabio Rodri Landolfo Andrade de Souza
Paulo Cesar Correa Borges
Gabriel Lino de Paula Pires
Rodrigo Mazzili Marcondes

34 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 35
A PMP Esportes
Nas demais modalidades a participação também
foi intensa. A premiação aconteceu na noite de sábado
Tranca Natação Corrida Masculina
Campeão: André Luiz Dezotti.
durante o jantar dançante com a apresentação da Ban- Campeões: Irineu Jorge Fava e José Eduardo Monaco. 1º lugar - Fabio Rodrigues Franco Lima.
Vice-campeão: José Maria Gomes.
da Saigon, que animou a festa até altas horas. Vice-Campeãs: Mariana Santiloni e Eni C. de Andrade. 2º lugar - Antonio Carlos Guimarães Júnior.
Medalhas: Luiz Carlos Gonçalves Filho e Salvador Fran-
3º lugar - Luiz Henrique Cardoso Dal Poz.
Os vencedores de cada categoria foram: cisco de Souza Freitas.

Tênis Biribol Corrida Feminina Além dos eventos esportivos, a APMP zelou pela saúde
Campeões: Alex Facciolo Pires, Salvador Francisco de Campeã: Sandra Barros Antunes. de seus atletas. Em parceria com o CLUB D.A MEDICINA
Campeões: Carlos Romani e Natalia Tsukamoto.
Souza Freitas, Haroldo César Bianchi e Luiz Henrique Vice-Campeã: Ruth Duarte Garcia. DIAGNÓSTICA, empresa do GRUPO DIAGNÓSTICOS DA
Vice-Campeões: João Antunes de Souza e Priscila Walcker.
Cardoso Dal Poz. Medalhas: Katia Dezotti e Maria Clara Dezotti. AMÉRICA, foram realizados exames de dosagem de glico-
Vice-Campeões: André Luiz Dezotti, Virgilio Antonio
Truco Ferraz do Amaral, Paulo Sérgio Ribeiro da Silva e Paulo
se no sangue e verificação de pressão arterial. Além disso,
uma ambulância disponibilizada pela Medicar Emergên-
Campeões: Marcelo Freire Garcia e Tito Lívio Seabra. Cesar Correa Borges. cias Médicas permaneceu a serviço dos associados e fa-
Vice-Campeões: Antonio Padovani e Carlos Alberto miliares durante todas as competições, desde o check-in
Melluso Júnior. até o check-out.

36 www.apmp.com.br www.apmp.com.br 37
A PMP Esportes

A Copa no Telão! Replay do Bassi! E viva São João! Os colaboradores do Torneio


O público também pôde acompanhar os melhores mo- Para repetir o sucesso do ano passado, a APMP trou- Para animar ainda mais o evento, um empolgan- Para a realização deste evento, a APMP teve a honra
mentos dos primeiros jogos na Alemanha em telão dispo- xe mais uma vez Marcos Guardabassi para preparar o te arraial agitou a noite. Quentão, pipoca, doces, de contar com a colaboração de importantes parceiros. O
nibilizado especialmente para transmitir a Copa. seu famoso churrasco. E a surpresa! Simulando estar na entre outras comidas típicas que devolveram as ca- Club Med do Brasil sorteou entre os associados hospeda-
Para quem não quis “suar a camisa”, caminhadas, re- Alemanha, com link ao vivo no telão, Bassi surge inespe- lorias queimadas nas competições. gens em qualquer uma de suas filiais. Já a SulAmerica Tu-
laxamento na hidrospa, massagens e o curso de maquia- radamente na festa, para admiração dos presentes. rismo ofereceu hospedagens no Hotel Nogaro, em Bueno
gem foram muito procurados. O Parque Aquático, sempre Sua equipe, composta por especialistas no pre- Aires. Por sua vez, a Narwhal - Atividades Sub-aquáticas
cheio, fez a alegria das crianças e também dos adultos, paro e corte da carne, foi muito elogiada pelo jan- disponibilizou todos os equipamentos de mergulho, além
que se divertiram com as aulas de mergulho. tar servido. das aulas e sorteios de vários cursos.

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APMP Destinos
Ondas musicais Um dos sons mais bonitos
Beleza, história e sons do
Um dos sons mais bonitos do Caribe é produzido
do Caribe é produzido pela

Caribe
pela natureza, não pelo homem. Trata-se do barulho
do mar.
Tulum é um bom lugar para ouvir a sinfonia de on-
natureza, não pelo homem.
das quebrando na praia. Esse centro arqueológico fica
no México, 130 quilômetros ao sul de Cancún. O con-
Trata-se do barulho do mar.
traste entre o mar cristalino e as ruínas maias impres-
siona.
As praias de Tulum são pequenas, algumas desertas.
O principal atrativo da cidade são palácios e templos
que datam de 1400 d.C, resquícios do fim da civilização
maia.
Outra atração são os cenotes, lagoas incrustadas
em pedras e que se estendem pelo subterrâneo. Mer-
gulhos com snorkel dentro dessas cavernas mostram
estalactites, estalagmites e peixes coloridos.
Banhado por um dos mares mais bonitos do Se preferir praias mais badaladas, Cancún é a pedi-
planeta, o Caribe seduz turistas do mundo inteiro da. De intensa vida noturna, há uma profusão de bares
por suas belezas naturais e sua música caliente e boates para todas as faixas etárias, além de ótimos
restaurantes.
Algumas páginas adiante e você terá informações
completas sobre a culinária mexicana. Por ora, reco-
Quilômetros de praias continentais e mais de 7 mil
mendamos os tacos e burritos, sem muita pimenta,
ilhas traduzem as muitas facetas do Caribe. Cada pe-
para evitar efeitos indesejados que impeçam aproveitar
daço de terra banhada pelo Mar das Caraíbas possui
tudo o que o balneário tem a oferecer.
características próprias.
Durante o dia, por exemplo, pode-se simplesmente
A diversidade cultural é resultado da influência de
ficar na praia tomando piña colada ou então praticar
povos europeus. Espanhóis, ingleses, holandeses, sue-
esportes náuticos. Jet Sky, passeios de veleiros ou lan-

KD
cos, entre outros, colonizaram a região. Africanos e ín-

36.0
chas, windsurf e mergulhos são algumas das modali-

15
dios também deixaram seu legado.
dades oferecidas.
Mesmo com todas as diferenças, existe um ponto
Por falar em mergulho e saindo do México, Aruba
em comum entre os caribenhos: a musicalidade.

001 00
é o lugar certo para os aficionados. A água do mar é

65
cristalina e, em alguns pontos, a visibilidade chega a
30 metros.

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APMP Destinos
Um dos passeios mais procurados pelo turista é o
que leva ao Antilla. Em 1945, esse cargueiro alemão foi
O son cubano No século XX, foi palco de dois fatos marcan-
tes. A Revolução de 1959, que trouxe Fidel Cas-
Não entendeu? Então, pense na salsa, gênero cria-
do na década de 40, nos Estados Unidos. Nessa época,
afundado de propósito pelo comandante, para evitar Outro lugar que vale a visita é Cuba. Se quiser con- tro e o comunismo para o poder e afastou o país reuniam-se em bares americanos centenas de músicos
que a embarcação caísse em mãos holandesas. quistar a simpatia dos cubanos, mostre interesse pela da influência norte-americana, e a Crise dos Mís- latinos, oriundos de diferentes países, como a Venezue-
Para os mergulhadores experientes, vale a pena co- música do país. Ritmos como a rumba, o danzón e o seis, em 1962, que envolveu Cuba, os EUA e a extin- la, Cuba, Porto Rico, México etc. O contato entre eles
nhecer Bonaire, vizinha de Aruba e que, juntamente cha-cha-cha nasceram na ilha. ta URSS e gerou o temor de um confronto nuclear. deu origem a uma nova maneira de fazer música.
com Curaçao, compõem o ABC holândes do Caribe. O son é um estilo musical ligado à formação da na- As marcas do passado podem ser vistas nas ruas, Entendeu agora? A salsa é a síntese de vários es-
Isso porque Aruba é um território dependente dos Paí- cionalidade cubana. Ele começou a se popularizar nos rostos, relatos e costumes dos habitantes. A arquitetu- tilos e expressa uma característica tipicamente cari-
ses Baixos. Sendo assim, o holandês é um dos quatro idio- carnavais do final do século XIX. No início, era apenas ra de alguns prédios evidencia o passado colonial; os benha: a alegria.
mas ensinados nas escolas da ilha. Os outros são o inglês, tocado nos bailes destinados às classes mais pobres. Cadillacs e Oldmobiles nos dão pistas sobre os efeitos E já que sua imaginação viajou embalada pela mú-
o espanhol e o papiamento. Este último é uma mistura de Por muitos anos, o ritmo foi tido como imoral e sua do comunismo na economia cubana; a elevada expec- sica, arrume sua mala e vá para o Caribe.
vários idiomas, entre eles, o português. Por isso, não estra- execução proibida (qualquer semelhança com o tango, tativa de vida e as baixas taxas de analfabetismo mos-
nhe ao ouvir os nativos pronunciarem sons conhecidos. O na Argentina, não é mera coincidência). tram as conquistas da ditadura de Fidel Castro; a baía
que você ouvirá assim que chegar é bon bini (bem-vindo). Com o tempo, esse estigma foi desaparecendo e, em de Guantánamo é um resquício da Guerra Fria. Enfim, ”
1920, ele já era considerado o principal gênero musi- Cuba oferece ao turista mais do que belas praias. caribenha a a via-
rum anim
cal do país. Os instrumentos de corda (tres e o violão) A “cachaça
como a
música,
o
d a t a do sécu
lo
são legados hispânicos; a percussão (conga e maracá) Confluência sonora Assim
t u r is
m
ta. Sua
orige
b id a dos pira
tas”,
o b e a-
é fruto da influência africana.
Os ritmos cubanos são apenas um aperitivo. O Cari- gem d
e c id o como “ é r c io de escr
h m
A musicalidade de Cuba é tão rica quanto sua his- XVI. Co
n a no co surgimento de
be nos traz o limbo, calipso e reggae, comuns nas áreas de troc
tória. Inicialmente ocupada pelos espanhóis, tornou-se era m o e d a , com o o destil
ado
de influência inglesa, como a Jamaica. Já o zouk apare- n o s é c ulo XIX m , q u e
posteriormente um protetorado dos Estados Unidos. vos. Foi ltrage , a be-
ce nos locais onde houve ocupação francesa, enquanto s m é t o dos de fi s u p e r ior. Hoje de
novo e espécie
o merengue é característico das ilhas espanholas. u m a q ualidad a u m a
ganhou siderad e dois
Assim como a música, o rum Essa divisão, entretanto, não é rígida. Existe um in- d e ser con m é a base d
bida p o O r u ali-
tercâmbio intenso entre os vários estilo, a ponto de um a c a r ibenha”. d a r e g ião: o M e
“cacha ç amosos
anima a viagem do turista. amaica
compositor cubano propor a expansão dos limites do li c o r e s mais f ue é feito na J eita.
Caribe levando em conta a música. Natalio Galán (1931-
dos
ia M aria - q a r e m sua rec
T c
Sua origem data do século XVI. 1985) sugeriu que fossem integrados ao território cari-
bu e o
c a f é , baunilh
a e aç ú
leva
Conhecido como “bebida dos benho o sul dos Estados Unidos, o norte e nordeste do

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Brasil e alguns outros países da América Latina.
001
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piratas”, era moeda de troca no
comércio de escravos. ay
tel Holid
m no Ho e seguro
Aruba sp ed ag e
ho os
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Gastronomia

México:
Os antropólogos afirmam que a escolha dos alimen-
tos e a formação dos hábitos alimentares obedecem a
A cozinha mexicana também
critérios culturais. No México, costuma-se fazer três sofreu influência espanhola.
refeições por dia: o café da manhã, a merienda e a
ceia. Cada qual de um modo diferente, uma vez que
Assim como aconteceu no
os habitantes locais, em geral, seguem um ditado se- Brasil, a tradição dos povos

Entre tacos e quesos!


gundo o qual para ter saúde deve-se quebrar o jejum
como um rei, almoçar como um príncipe e jantar como
locais misturou-se com os
um plebeu. costumes do colonizador.
O banquete do Rei
Os espanhóis trouxeram as
Desde o tempo dos astecas, o café da manhã é uma
especiarias, a cebola, a carne
refeição farta para os mexicanos. Comem-se frutas, de porco e o requinte de suas
pães doces e até mesmo carnes. Para acompanhar esse
banquete, hochata (água de arroz). O milho – base
receitas. O resultado dessa
da culinária do país – também é herança dos povos fusão é uma culinária saborosa
pré-colombianos. Maias e astecas já cultivavam esse
alimento, usado para fazer panquecas recheadas com
e muito colorida.
girinos, lagartas ou peixes.
Hoje, utiliza-se o grão para o preparo das tortillas:
massa feita com água, farinha de milho branco (masa
harina), manteiga e sal. Essa receita é utilizada na con-
fecção de outros pratos, como os burritos, enchiladas,
fajitas, chimichangas, nachos e tacos.
Quem, na faixa de 40 anos, não se lembra dos
indefectíveis tacos do Jack in the Box da rua
Augusta, esquina com a alameda Santos?
Essa lanchonete não existe mais no Bra-
sil, mas a iguaria continua fazendo sucesso
no mundo, em grande parte devido ao seu

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Gastronomia
Apesar das diferenças, O aperitivo e a sesta do
temos duas unanimidades: príncipe
tomar um aperitivo antes A merienda, servida entre as 14 e 17 horas, é com-
posta por quatro pratos: sopa leve, prato principal,
da merienda e fazer a sesta porção de feijão e sobremesa. Os ingredientes utiliza-
depois. Noutras palavras, dos variam de acordo com a região do país. No norte,
devido à criação de gado, a carne é muito utilizada. Na
uma bebida para “abrir o região central, consome-se muito feijão. E no Golfo do
México predominam os peixes e a carne bovina.
apetite” e um cochilo após Apesar das diferenças, temos duas unanimidades:
tomar um aperitivo antes da merienda e fazer a ses-
a refeição. ta depois. Noutras palavras, uma bebida para “abrir o
apetite” e um cochilo após a refeição.
Se você quiser experimentar esse costume lo-
cal, pode beber uma cerveja mexicana. Elas são mais mais forte e que guar-
recheio à base de carne moída, pimenta, milho, tomate, suaves do que as européias. Pode também tomar um da uma característica
cebola e guacamole (abacate). vinho nacional. Mas a rainha dos aperitivos é a tequila, pitoresca: dentro de sua
Outra peculiaridade dos hábitos alimentares mexi- produzida a partir do Agave, planta parecida com um garrafa é colocada uma larva
canos está no fato de as tortillas serem usadas como cactus. de gusano, inseto que cresce entre
talher. Essa antiga prática vem do tempo em que as O nome da bebida surgiu entre os século XVIII e XIX. as plantas de Agave. O simpático bi-
pessoas não tinham dinheiro para comprar talheres. Na província de Jalisco existia uma cidade chamada chinho serve para indicar o teor alcoólico do líquido.
Por isso, ao invés das mãos, era como se uma unidade Tequila. Como o destilado produzido naquela região Se a concentração de álcool for pequena, a larva se
de “Doritos” substituísse garfo e colher. era o melhor do país, o produto foi batizado com o desintegra.
A cozinha mexicana também sofreu influência espa- nome do local. Lendas populares afirmam que se um homem in-
nhola. Assim como aconteceu no Brasil, a tradição dos As características da tequila mudam de acordo com gerir o gusano, ficará mais másculo e corajoso. Será a
versão mexicana da “Jurubeba Leão do Norte”?
História de Chocolate
povos locais misturou-se aos costumes do colonizador. a forma como é produzida. As brancas, mais fortes,
Os espanhóis trouxeram as especiarias, a cebola, a carne normalmente são usadas na preparação de drinks. As
de porco e o requinte de suas receitas. O resultado dessa escuras, envelhecidas, possuem gosto mais suave, o Os suíços carregam
fusão é uma culinária saborosa e muito colorida. que recomenda que sejam bebidas puras. Tem pimenta na ceia do plebeu a fama de produzirem
A bebida não pode envelhecer mais de dez anos, caso A ceia ou jantar é a refeição mais leve: sopas, pães, o melhor chocolate
contrário seu sabor fica amargo. Sua textura deve sanduíches. Como acontece no café da manhã e na do mundo, embora os
ser sempre um pouco oleosa. merienda, os pratos são preparados com bastante belgas disputem com eles
Outro destilado famoso no país pimenta, muito apreciada pelos mexicanos. essa primazia. O cacaueiro,
é o mezcal, ainda mais antigo do Os botânicos afirmam que ela é originária do con- entretanto, é originário da América Central.
que a tequila, de sabor tinente americano. Os índios já cultivavam a planta Os astecas cultivavam a planta, cuja semen-
quando os europeus chegaram. Com os nativos, os co- te era símbolo de riqueza e poder, tanto que
lonizadores aprenderam a utilizá-la e difundiram-na servia como moeda. Esse povo adorava o deus
pelo mundo. Quetzalcoatl, personificação do conhecimento
As cores das pimentas têm relação com seu ardor. As e sabedoria. Segundo lendas, foi essa divindade
vermelhas, por exemplo, são mais fortes do que as ver- que trouxe o cacau para a terra. A bebida ex-
des. A pimenta realça o sabor dos alimentos, mas alguns traída do cacau, o xocoalt, era usada em rituais
chefs afirmam que ela mascara o paladar. Essa idéia é sagrados. Naquela época, o precursor do cho-
reforçada por restaurantes fast food que exageram no colate não tinha o sabor doce e agradável que
uso desse ingrediente, enquanto as receitas mexicanas possui hoje. Ao contrário, era amargo e apimen-
tradicionais usam o tempero com parcimônia. tado. Sua preparação incluía um purê de milho
Ardida ou não, a culinária é uma das atrações do fermentado e pimenta.
México. Por isso, uma vez lá, certifique-se apenas que
o restaurante é de qualidade. Se for, aproveite. Entre
garfadas e goles de tequila, você não estará apenas co-
nhecendo a cultura mexicana: estará vivenciando-a.

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Cultura & Lazer

A travessia de Guimarães Rosa andava


sempre com um

Guimarães Rosa
caderninho, no qual anotava
os costumes, as crenças,
as terminologias, os ditos
e as histórias do povo,
“Que nasci no ano de 1908, você já sabe. Você não deveria me pedir mais dados informações sobre
numéricos. Minha biografia, sobretudo minha biografia literária, não deveria ser
crucificada em anos. As aventuras não têm tempo, não têm princípio nem fim.”
fauna, flora e tudo mais
que despertasse seu
interesse.

João Guimarães Rosa nasceu em Cordisburgo no casal teve duas filhas: Vilma e Agnes. Formado, foi rado); entendo alguns dialetos alemães;
dia 27 de junho. Era o filho mais velho de Francisca exercer a profissão em Itaguara, um distrito do mu- estudei a gramática: do húngaro, do ára-
Guimarães Rosa e Floduardo Pinto Rosa, o “Seu Fulô”. nicípio de Itaúna. Esse período foi decisivo em sua be, do sânscrito, do lituânio, do polonês, do
Passou a maior parte da infância em sua cidade natal e carreira literária. Guimarães Rosa andava sempre tupi, do hebraico, do japonês, do tcheco, do
desde cedo mostrava interesse pela natureza e pelo es- com um caderninho, no qual anotava os costumes, as finlandês, do dinamarquês; bisbilhotei um
tudo das línguas. Aos seis anos, leu o primeiro livro em crenças, as terminologias, os ditos e as histórias do pouco a respeito de outras. Mas tudo mal. E
francês. Aos dez, foi morar com o avô em Belo Horizon- povo, informações sobre fauna, flora e tudo mais que acho que estudar o espírito e o mecanismo
te, onde cursou o ginasial junto com Carlos Drummond despertasse seu interesse. Essas anotações serviram de outras línguas ajuda muito à compreen-
de Andrade, que se tornaria seu grande amigo. de subsídio para muitos de seus livros. são mais profunda do idioma nacional. Prin-
Com apenas 16 anos ingressou na Faculdade de Me- Quando explodiu a Revolução Constitucionalista de cipalmente, porém, estudando-se por diver-
dicina da Universidade de Minas Gerais e, durante o cur- 1932, ele tornou-se voluntário na Força Pública. Por timento, gosto e distração.”
so, passou a se dedicar à literatura. Começou escrevendo meio de concurso, efetivou-se e foi trabalhar em Bar-
quatro contos para um concurso da revista O Cruzeiro: bacena como Oficial Médico do 9° Batalhão de Infan-
Caçador de camurças; Chronos Kai Anagke; O mistério taria. Nessa época, aproveitou para se aprofundar
de Highmore Hall; Makiné. Todos foram premiados e pu- em idiomas estrangeiros. Certa vez, revelou
blicados. Anos depois, confessou que escrevera os con- para sua prima:
tos motivado apenas pelo prêmio de 100 mil réis. “Falo: português, alemão, francês, in-
Casou-se com Lígia Cabral Penna, seis anos glês, espanhol, italiano, esperanto, um
mais nova que ele, no mesmo ano em pouco de russo; leio: sueco, holandês, la-
que se formou em Medicina. O tim e grego (mas com o dicionário agar-

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Cultura & Lazer
“...Só posso agir satisfeito Durante a II Guerra Mundial, tralos de guampas, estrondos de baques, e o berro
queixoso do gado junqueira, de chifres imensos, com
no terreno das teorias, dos vivenciou uma experiência que muita tristeza, saudade dos campos, querência dos
textos, do raciocínio puro, dos trouxe à tona seu lado supersticioso. O Sertão de Guimarães pastos de lá do sertão...”
subjetivismos.” O autor extraiu do sertão a matéria-prima para
No meio de uma noite, sentiu uma Rosa na Estação da Luz escrever seus livros. No entanto, o sertão de Gui-
Essa declaração foi retirada de uma carta na qual
Guimarães Rosa confidencia a um amigo que não es- vontade irresistível, de acordo com A primeira exposição temporária do Museu
da Língua Portuguesa homenageia uma das
marães Rosa não é restrito aos limites geográficos
brasileiros. O crítico literário Antônio Cândido fez
tava feliz com sua profissão. Desmotivado com a me-
dicina, resolveu prestar um concurso para o Ministério
suas palavras, de fumar. Saiu para maiores obras da literatura nacional: Grande considerações sobre esse assunto:
Sertão: Veredas. Conheça a história de amor de
do Exterior. Sua erudição e a fluência em vários idio- comprar cigarros e, quando voltou, Riobaldo e Diadorim através dos sete caminhos
“A experiência documentária de Guimarães Rosa, a
observação da vida sertaneja, a paixão pela coisa e o
mas garantiram-lhe a segunda colocação. Em 1938, é
nomeado cônsul-adjunto em Hamburgo e vai para a
encontrou apenas os escombros de criados por Bia Lessa. Cada um corresponde a
um personagem ou aspecto importante do livro. nome da coisa, a capacidade de entrar na psicologia

Europa. Já separado de sua primeira mulher, conhece sua casa que fora sido destruída por Uma das maiores atrações é a gravação da voz
de Maria Bethânia lendo as 14 últimas páginas
do rústico - tudo se transformou em significado uni-
versal graças à invenção, que subtrai o livro da matriz
Aracy Moebius de Carvalho, que se tornaria sua segun-
da esposa.
um bombardeio. do Grande Sertão. regional, para fazê-lo exprimir os grandes lugares-co-
Museu da Língua Portuguesa muns, sem os quais a arte não sobrevive: dor, júbilo,
Durante a II Guerra Mundial, vivenciou uma expe- Endereço: Estação da Luz, Praça da Luz, s/nº, ódio, amor, morte, para cuja órbita nos arrasta a cada
riência que trouxe à tona seu lado supersticioso. No São Paulo, SP instante, mostrando que o pitoresco é acessório, e na
meio de uma noite, sentiu uma vontade irresistível, de voltou para o Brasil e logo em seguida foi transferido Telefone: (11) 3326-0775
verdade, o Sertão é o Mundo”.
acordo com suas palavras, de fumar. Saiu para comprar para Bogotá. Alguns anos depois, tornou-se conselheiro
A alta qualidade de sua literatura garantiu-lhe um
cigarros e, quando voltou, encontrou apenas os escom- diplomático em Paris. Em 1958, ascendeu a ministro de
lugar na Academia Brasileira de Letras. A indicação
bros de sua casa, que fora sido destruída por um bom- primeira classe (embaixador). Um de seus últimos en-
aconteceu no ano de 1963. Guimarães Rosa adiou sua
bardeio. Depois desse episódio, o misticismo o acom- cargos profissionais foi chefiar o Serviço de Demarca-
posse por quatro anos. No seu discurso, proferiu as
panhou pelo resto da vida. Ele acreditava em energias ção de Fronteiras, participando da solução de dois casos
seguintes palavras:
positivas e negativas, nas forças da lua, no kardecismo, famosos: Pico da Neblina (1965) e Sete Quedas (1966). Em 19 de novembro de 1967, três “(...) a gente morre é para provar que viveu.”
no conhecimento de curandeiros e feiticeiros.
Uma das maiores realizações do diplomata, durante “E meus livros são aventuras; para dias após assumir sua cadeira na Em 19 de novembro de 1967, três dias após assumir
sua cadeira na Academia, João Guimarães Rosa prova
a guerra, foi facilitar a fuga dos judeus perseguidos mim são minha maior aventura. Academia, João Guimarães Rosa prova ao mundo que viveu. No mesmo ano ele fora indicado
pelo nazismo. Sua mulher, Aracy, o ajudou nessa tarefa.
Em 1985, o Estado de Israel homenageou os dois com Escrevendo descubro sempre um ao mundo que viveu. No mesmo ano para o prêmio Nobel de Literatura, mas a indicação foi

a mais alta distinção novo pedaço de infinito.” ele fora indicado para o prêmio Nobel cancelada devido a sua morte.

que os judeus prestam


a estrangeiros: um local
Apesar de médico e diplomata, de Literatura, mas a indicação foi
Guimarães Rosa tinha como grande
público, no caso um bos- paixão escrever. Depois da expe- cancelada devido a sua morte.
que próximo a Jerusalém, riência da época da faculdade,
foi batizado com o nome do participou de mais dois con-
casal. seus experimentos lingüísticos, sua técnica, seu mun-
Quando o Brasil declarou
cursos literários. Em 1936, a
do ficcional. Os críticos chamam-no de “romancista Lançamento de Livros
coletânea de poemas in-
guerra à Alemanha, ele ficou titulada Magma rece- instrumentalista”. Esse apelido referia-se à extrema
detido em Baden-Baden com beu o prêmio de poesia preocupação que o escritor tinha com o “instrumen-
outros compatriotas. Quatro da Academia Brasileira to da palavra” na construção de seus trabalhos. Essa
meses depois, libertado, de Letras. Depois de preocupação fica evidente quando observamos a rique-
um ano usando o pseu- za e a ousadia na reinvenção de vocábulos: fiúme, le-
dônimo Viator, concorreu vantante, maravilhal, fluifim, ossoso e muitos outros.
ao prêmio Humberto de Campos com a obra in- Outra característica de sua obra é a aproximação A APMP dá uma “forcinha” para que
titulada Contos, que anos depois seria revisada e entre narrativa e lírica. O resultado é um texto que surjam novos Guimarães Rosa, Gustave
se transformaria no livro Sagarana. possui musicalidade, como podemos perceber nesse Flaubert, James Joyce, Friedrich Nietzsche
O reconhecimento veio com a publicação de trecho do conto O Burrinho Pedrês, que está no livro e Franz Kafka. Participe!
Corpo de Baile e Grande Sertão: Veredas. Depois Sagarana:
dessas duas obras, publicou também Primeiras Es- “As ancas balançam, e as vagas de dorsos, das
tórias (1962) e Tutaméia:Terceiras Estórias (1967). vacas e touros, batendo com as caudas, mugindo no
Guimarães Rosa renovou o romance brasileiro com meio, na massa embolada, com atritos de couros, es-

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