Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
br
Abaixo o tarifaço!
Passe Livre e tarifa mais baixa:
Lotação é direito
Lotação é serviço público
Éric Aeschimann *
Punir os eleitos
Primeiramente, a constatação. Ela atravessa clivagens políticas. Vindos da
esquerda antitotalitária, os historiadores das ideias soam o alarme. “A
democracia eleitoral incontestavelmente erodiu”, escreveu Pierre
Rosanvallon no final de 2006 em La Contre-Démocratie [A contra-
democracia]. Próximo da segunda esquerda, ele descreveu as diversas
formas da “desconfiança” democrática, da “democracia negativa”:
abstenção, manifestações, vontade de vigiar e punir os eleitos.
“Impotência”
Abstenção nas eleições presidenciais de 2002, vitória do ‘não’ à
Constituição europeia, “flechadas” tão bruscas quanto as efemérides pela
Ségolène Royal depois François Bayrou, participação massiva na
consagração de Nicolas Sarkozy, escrutínios locais transformados em
‘défouloirs’, a bússola fica desnorteada.
Nem as extravagâncias sarkozianas nem a ratificação do mini-tratado
europeu deverão contribuir para restaurar a confiança nas virtudes do voto.
Algo para confortar Badiou, não enfastiado de constatar em seu livro: “A
impotência era efetiva, mas agora ela é comprovada”.
“Arrogância ocidental”
É que, um pouco por todo o mundo, os processos de democratização
conhecem malogros de diversas ordens que pioram a “promoção da
democracia”, para retomar o vocabulário em uso na ONU desde os anos
90: o Iraque e o Afeganistão, mas também a Rússia onde Putin recupera o
poder, a Argélia ou a Palestina onde os islâmicos viram confiscar suas
vitórias obtidas pelas urnas.
Ou ainda, o crescimento dos populismos na Polônia, na Dinamarca, na
Bélgica. Até mesmo uma América que, para impor a democracia, não
hesitou em transgredir os princípios elementares do direito. No número de
janeiro da Revista Esprit, Pierre Rosanvallon apontava “uma certa
arrogância ocidental e uma certa cegueira em relação à natureza e aos
problemas da democracia”.