eli miguel
A poesia está na vida,
nas artérias imensas cheias de gente em todos os sentidos,
nos ascensores constantes,
na bicha de automóveis rápidos de todos os feitios e de todas as cores,
nas máquinas da fábrica e nos operários da fábrica
e no fumo da fábrica.
Gundula Stegliz
O amor
é uma ave a tremer
nas mãos de uma criança.
Serve-se de palavras
por ignorar
que as manhãs mais limpas
não têm voz.
amor. Mas não falo de sinónimos; de resto, com que te amo, ou o medo de te amar. A partir
há palavras que escondem o contrário do que de uma palavra tudo se pode fazer, numa página,
querem dizer, e só as conhece quem ama, se quando o que aí está é um poema. No entanto,
a vida não o levou por caminhos confusos. essas palavras conduzem-me até ti, isto é,
fazem-te viver por dentro delas. É por isso
que tudo se confunde: o amor, a solidão, o medo,
(a um Amigo)
Eu em tudo Te vi amanhecer
Mas nenhuma presença Te cumpriu,
Só me ficou o gesto que subiu
Às mais longínquas fontes do meu ser.
LADO De vez em quando a insónia vibra com a nitidez dos sinos, dos cristais. E então, das duas uma: partem-se
ou não se partem as cordas tensas da sua harpa insuportável.
ESQUERDO No segundo caso, o homem que não dorme pensa: «o melhor é voltar-me para o lado esquerdo e assim,
deslocando todo o peso do sangue sobre a metade gasta do meu corpo, esmagar o coração».
Em meados de junho os jacarandás de Lisboa estão em flor, a sua luz fende a pupila, acaricia o dorso da
sombra. É então que - sei lá se pela última vez - a inocência volta a entrar na minha vida. Olhos, mãos, alma,
tudo é novo - recomeço a prodigalizar alegria, uma alegria que não procura palavras porque o seu reino não é
o da expressão. Digamos que esta nova experiência, a que não quero dar nome, não se preocupa em
interrogar, talvez por já não ser tempo de dúvidas, ou então por não lhe dizerem respeito essas verdades
últimas, cegas como facas.
Não é um poema de obediência o que me proponho nestas linhas; trata-se de outra coisa: levar à boca fresca
do ar o ardor das areias queimadas. Mas sem palavras, sem palavras.
Sentou-se na cadeira, cruzou as pernas e começou a devorar o mundo. Engolia, engolia, engordava sem medida e a inflação do eu era tão
grande que a certa altura rebentava e caía numa chuva de estilhaços.
E então pacientemente, de gatas, ia procurando os pedaços, aqui e ali, e começava a colá-los outra vez com Araldite.
Gundula Steglitz
Alguna vez he de volverme
y mirar hacia atrás
si habré de dirigir mis ojos hacia arriba
o hacia abajo, pero tú, a quien no escribí un poema de amor
y di más que el amor, comprenderás Y el presente de ayer
(¿He dicho que no creo en el amor no es ya más una soledad sin sentido
sino en la luz? Amor . . . He visto demasiado en que se puede llamar amor a las sombras.
esas palabras: conteniendo la vida, Porque ¿puede ser una garra el amor?
engalanando la muerte, arrastrada por lechos, ¿Puede ser un desierto el amor? ¿Puede ser
desvaneciéndose en los idiomas – love, una alta muralla?
liebe, amore . . . amore mío, amor: sonidos, ¿Podría haber sido, yo sola, el amor y el amante
confusión de sonidos que ocultan viendo otro cuerpo donde nada había?
algo. Luz: tan sólo en ella creo). No sé: ¿cómo saber quién fui, quién, ellos, fueron
Nadie es su voluntad: es su destino. sin luz?
Ni es sólo su presente: es el pasado
y el futuro también – un peligroso borde Yo, a mí misma,
donde, no siempre ciegos, caminamos -. regresaré por esa luz - semilla de una luz ahora -
Inevitable despeñarse restaurando los rostros mordidos por el tiempo,
mas tal vez no terrible. La luz sólo ordenando la casa que me habita
puede liberar a las sombras, - puesto el mirto en los vasos
derretir sus cadenas, en honor de las sombras ancestrales -,
dar a las aguas transparencia y vida, porque no hay que renunciar a la pena,
aire al espacio clausurado. ni al testimonio de los escombros,
sino a la destrucción.
Porque ser o no ser destruida,
sólo depende de mí: de que mi mano
tape la uz o la deje pasar
por el pequeño espacio que entre mis ojos vive,
hasta el fondo infinito,
y me incluya en su círculo.
En ese día inacabable
en el que los vocabularios se fundan en la luz,
y sea suficiente mirar,
¿para qué llamar nada a nada?
o fundo
da pupila iluminar-se.
Que escuro que é o perímetro do rubro
Gundula Stegliz
Nada me han enseñado los años
siempre caigo en los mismos errores
Tómate esta botella conmigo
otra vez a brindar con extraños
en el último trago nos vamos
y a llorar por los mismos dolores
quiero ver a qué sabe tu olvido
sin poner en mis ojos tus manos
Tómate esta botella conmigo
en el último trago me bejas
esperamos que no haya testigos
Esta noche no voy a rogarte
por si acaso te diera vergüenza
Esta noche te vas de veras
que difícil tratar de olvidarte
Si algún día sin querer tropezamos
sin que sienta que ya no me quieras
no te agaches ni me hables de frente
simplemente la mano nos damos
y después que murmure la gente
c peres feio
Flor lilás de vida efémera Flor lilás de vida efémera
Caíste beijando a pedra nua Caíste beijando a pedra nua
E ficaste E ficaste adormecida…abandonada…
adormecida…abandonada…
Olho-te e vejo-te perto longe.
Olho-te e vejo-te perto longe. Impossível tocar-te…
Impossível tocar-te… Qual pedaço sublime de céu
Qual pedaço sublime de céu Descido até cá,
Descido até cá, Flor de jacarandá.
Flor de jacarandá.
Como tu, espero irmãs
Como tu, espero irmãs Que ao cair, possam
Que ao cair, possam Reflorir, sentir-me amada
Reflorir, sentir-me amada E ver o milagre da vida renovada…
E ver o milagre da vida
renovada… Não te sintas sozinha.
Caíste mas no beijo
Não te sintas sozinha. Vestiste a pedra de desejo.
Caíste mas no beijo
Vestiste a pedra de desejo. Cristina Peres
maria azenha
Depuis l'aube, ses bras, comme des bras de plainte,
Se sont tendus et sont tombés ; et les voici
Qui retombent encore, là-bas, dans l'air noirci
Et le silence entier de la nature éteinte.
Gundula Steglitz
Penso che forse a forza di pensarti
potrò dimenticarti, amore mio.
nada lembro
nem sei
à luz presente
sou apenas um bicho
transparente.
De todos os minutos, também um se encheu de uma alegria íntima, e no entanto sobrenatural, com
que festejei os teus olhos e deixei que repousasse minha cabeça no teu ventre, quando meu corpo
cansado e ferido, abandonando-se nos teus braços, foi o princípio da noite, o chamamento do vento, a
agonia dos pássaros.
Se eu pudesse dizer o teu nome essa palavra bastar-me-ia. Chamando-te, iria ao teu encontro, e não
importa onde estivesses, porque não importa onde estás, e, num minuto, toda a ternura voltaria a
acordar meu sangue e minhas mãos para acolher o teu corpo onde, hoje, o meu corpo treme e a minha
boca vacila.
Que nada, ao menos, meu amor, me possa perturbar a tua ausência, presente na alegria magoada do
meu coração inquieto.
"Poema Enigma"
Tradução de Gil de Carvalho
Yuefu Songs with Regular Five-Syllable Lines
A Choice Sellection Of Ancient Poemes (Chinese-English)
Quando as pessoas assumem a beleza
como emanação do belo
É porque a fealdade existe
E quando assumem a bondade
como ideia subjacente ao bom
é porque existe a maldade
O sábio rege-se pela inacção
Portanto como conceitos entre si recorrentes
Ensinando sem falar
Prevalecem a Existência e a Não-Existência
Deixando as dez mil coisas nascerem e crescerem
Conjugam-se o fácil e o difícil
Sem reivindicar nisso a sua participação
O longo e o curto rivalizam-se
Promove a sua evolução gradual
O alto e o baixo contrapõem-se
Sem nisso mencionar a sua contribuição
A voz e o eco harmonizam-se
Nem reclamar por isso qualquer mérito
A dianteira e a traseira não se distanciam
E como não se expõe
Permanece na mais absoluta solidão
Io parlo, - dice Marco, - ma chi m'ascolta ritiene solo le parole che aspetta. Altra è la descrizione del mondo cui tu presti benigno orecchio,
altra quella che farà il giro dei capannelli di scaricatori e gondolieri sulle fondamenta di casa mia il giorno del mio ritorno, altra ancora quella
che potrei dettare in tarda età, se venissi fatto prigioniero da pirati genovesi e messo in ceppi nella stessa cella con uno scrivano di romanzi
d'avventura. Chi comanda al racconto non è la voce: è l'orecchio.
Yüan Mei
Tradução de Maria Ondina Braga
Usem as vossas jóias de oiro e os vossos vestidos de seda.
Saboreiem enquanto é tempo os frágeis prazeres da vida.
Os ramos ficarão despidos quando vier o grande frio.
Sem o sol, emurchecidas as flores, que é a vida? Apenas saudade.
Tu Chiu Nang
Tradução de António Ramos Rosa
Contemplo ainda a poeira do mundo
exterior:
Na esfera do sonho que faria eu de novo?
- Queremos lá saber!
Tao Li
Todos o sabem
Dalaï-Lama
Rejeitaram a vida procurando a Via. As suas pegadas diante de nós.
eli miguel