Você está na página 1de 76

FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Foreign Trade Chambers Federation

2006
20 de fevereiro

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL RÚSSIA
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

FCCE is the o ldest Trade Association dedicated In the recent past, the FOREIGN TRADE CHAM-
Exclusively to Foreign Trade activities. BERS FEDERATION – FCCE signed an accord with
Founded in 1950 by entrepreneur Joao Daudt de the CHAMBERS OF COMMERCE COUNCIL OF THE
Oliveira (who was also the founder of the National Trade AMERICAS, an organization representing the Bilateral
Federation five years earlier), FCCE has been in Chambers of Commerce in the following countries:
operation for over 50 years, motivating and supporting ARGENTINA, BOLIVIA, CANADA, CHILE, CUBA,
the work of Bilateral Chambers of Commerce, Foreign ECUADOR, MEXICO, PARAGUAY, SURINAM,
Consulates, Business Councils and Mixed Commissions URUGUAY, TRINIDAD AND TOBAGO and VENE-
at the federal level. ZUELA.
FCCE, by force of its Statute, has national scope with In addition to the several dozen Bilateral Chambers of
Regional Vice-Presidents in various states of the Commerce affiliated with FCCE throughout Brazil, the
Federation, and also operates in the international realm Presidents of these Chambers of Commerce belong to
through “Cooperation Convention’s” established with the current Administration: Brazil-Greece, Brazil-
various organizations of the highest credibility and Paraguay, Brazil-Russia, Brazil-Slovakia, Brazil-Czech
tradition. Among these is the International Chamber of Republic, Brazil-Mexico, Brazil-Belarus, Brazil- Portu-
Commerce (ICC) founded in 1919, with headquarters gal, Brazil-Lebanon, Brazil-India, Brazil-China, Brazil-
in Paris, which has more than 80 National Committees Thailand, Brazil-Italy and Brazil-Indonesia, in addition to
across the five continents, in addition to running the the President of the Brazilian Committee of the
most important “International Arbitration Court” in the International Chamber of Commerce, the President of
world, founded in 1923. the Brazilian Commercial Exporting Company Association
The FOREIGN TRADE CHAMBERS FEDERATION ABECE, the President of the Brazilian Railroad Industry
headquarters is located at Avenida General Justo 307, Association ABIFER, President of the Brazilian Container
Rio de Janeiro, which is also the main office of the Terminal Association and the President of the Mechanical
National Confederation of Commerce (Confederação Industries and Electric Material Union, among others.Also
Nacional do Comércio – CNC). The FCC and the CNC included are various Consuls and foreign diplomats,
have held a partnership for nearly two decades, working among them the Consul General of the Republic of Gabon,
through the “Administrative Support Convention and the Consul of Sri Lanka (formerly Ceylon) and the Trade
Mutual Cooperation Protocol.” Counselor Minister of the Portuguese Embassy.

The Administration
ADMINISTRATION FOR THE 2003/2006 TRIENNAL
President

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1 st V i c e - P r e s i d e n t

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Presidents

Gilberto Ferreira Ramos


Joaquim Ferreira Mângia
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins

Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo


Sohaku R. C. Bastos – Bahia
Claudio Chaves – Norte

Directors

Diana Vianna de Souza Daniel André Sauer


Alberto Vieira Ribeiro Jeferson Malachini Barroso
Alexander Zhebit José Paulo Garcia de Pinho
Alexandre Adriani Cardoso Juan Clinton Llerena
André Baudru Luis Cesario Amaro da Silveira
Antonio Augusto de Oliveira Helayel Mariano Marcondes Ferraz
Arlindo Catoia Varela Oswaldo Trigueiros Junior
Augusto Tasso Fragosso Pires Raffaele Di Luca
Bruno Bastos Lima Rocha Ricardo Stern
Carlos Fernando Maya Ferreira Roberto A. Nóbrega
Cassio José Monteiro França Ronaldo Augusto da Matta
Cesar Moreira Sergio Salomão
Charles Andrew T‘ang Stefan Janczukowicz
Claudio Fulchignoni

Fiscal Council (Holders)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
Aproximação política
e comercial
Reiniciamos nossas atividades. Ano novo; novos países. De comum acordo com o
Governo Federal, privilegiando os interesses comerciais, políticos e estratégicos, com
foco nos principais parceiros e, também, em novos mercados, foi estabelecido um
calendário de 11 seminários bilaterais de comércio exterior e investimentos, para o ano
de 2006. A Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE realizou, em 20 de
fevereiro de 2006, o Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-
Rússia, o primeiro deste ano. Os trabalhos e os temas discutidos durante o seminário
foram uma prévia para as reuniões oficiais entre os governos do Brasil e da Rússia,
previstas para 2006: a reunião da Comissão de Alto Nível Brasil-Rússia de Cooperação e
a reunião da Comissão Intergovernamental de Cooperação.
Durante o seminário realizado pela FCCE, cerca de 300 pessoas, entre representantes
do governo e da iniciativa privada dos dois países, lotaram o auditório da Confederação
Nacional do Comércio – CNC para discutir as relações bilaterais entre duas das maiores
economias, ditas emergentes, do mundo. Convidados brasileiros e russos tiveram no
seminário o fórum ideal para apresentar a seus pares as oportunidades de investimentos
e de comércio, bem como os pleitos, queixas e soluções sugeridas. Temas sensíveis
como a exportação da carne brasileira; a tecnologia aeronáutica russa; a experiência da
Rússia na construção e manutenção de oleodutos e gasodutos de longa distância – que CONSELHO DE
muito interessam ao Brasil – entre outros, foram discutidos por produtores, CÂMARAS DE COMÉRCIO
exportadores, importadores, técnicos e especialistas de cada setor, especialmente DAS AMÉRICAS
convidados para enriquecer as discussões do seminário. Não foram esquecidos temas
como o petróleo, o açúcar e a cooperação no domínio das altas tecnologias nas áreas de Expediente
biocombustível, espacial e nuclear, de grande interesse bilateral. Produção
O Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos Brasil-Rússia, foi mais Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Av. General Justo, 370/6o andar
uma realização da FCCE, idealizada por seu presidente João Augusto de Souza Lima, Tel.: 55 21 3804 9289
com a colaboração direta da Câmara Brasil-Rússia de Comércio, Indústria e Turismo, e-mail: fcce@cnc.com.br

cujo presidente, Gilberto Ramos, muito tem se destacado pelo êxito de seu trabalho na Editor
O coordenador da FCCE
aproximação política e comercial entre os dois países. Impossível é não mencionar, Textos e Repor tagens
também, a colaboração do Cônsul-Geral da Federação da Rússia no Rio de Janeiro, Elias Fajardo
José Antonio Nonato
Alexey Labetskiy, para o sucesso dos trabalhos do seminário nesta cidade. Marlene Custódio
O potencial de comércio entre os dois países é imenso, mas ainda permanece em Lília Nabuco
João Sant’Anna
níveis muito baixos. A Rússia ocupa, hoje, a 10a posição como país de destino das
Projeto Gráfico, Edição e Ar te
exportações brasileiras. Em 2005, o Brasil exportou um total US$ 118 bilhões, tendo Estopim Comunicação
sido exportados para a Rússia apenas US$ 3 bilhões, o que representa, somente, 2,5% Tel.: 55 21 2518 7715
e-mail: estopim@estopim.com
desse total. O crescimento das vendas brasileiras para o mercado russo tem sido Revisão
significativo, mas ainda há muito por fazer. É preciso reorganizar a pauta exportadora e Fernanda Pereira
Maria Virgínia Villela de Castro
incentivar a maior participação de produtos industrializados e semi-industrializados.
Fotografia
Nesta edição, o leitor poderá conferir os esforços de ambos os países no sentido de Christina Bocayuva
ampliar investimentos e de liberalizar o comércio bilateral. Há um futuro promissor nas Secretaria
relações comerciais de duas economias que se complementam. Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio

Boa leitura. As opiniões emitidas nesta revista são de


responsabilidade de seus autores. É permitida a
O EDITOR reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA 45 P E T R Ó L E O
Embaixador Vladimir Tyurdenev “Em matéria de energia, temos
“Brasil e Rússia um belo futuro pela frente”
deveriam criar uma forte
aliança tecnológica” 47 I N T E R C Â M B I O
Marcus Vinicius Pratini de Moraes
“A cultura é uma forma
“Para exportar é preciso ter eficaz de aproximar os
controle de qualidade, pontualidade dois países”
e preço competitivo”
“Acompanhar o mercado
e aproximar as nações”
18 A B E RT U R A “Vamos colocar nossa experiência
Parceria comercial estimula acordos espacial a serviço do Brasil”
em ciência e tecnologia “O conhecimento é fundamental
para aproximar os povos”
20 P A I N E L I 52 E M P AU TA
Em busca de um
crescimento das nossas Embaixadora sul-africana na FCCE
relações bilaterais
53 C U LT U R A
26 P A I N E L I I Uma Casa de Deus que muito
Cooperação nas áreas de petróleo orgulha seu proprietário
e infra-estrutura de transportes
58 H I S T Ó R I A
32 P A I N E L I I I Memórias de um diplomata
Altas tecnologias Senac: alternativas educacionais para
aproximam os o mundo do trabalho
brasileiros dos russos
60 F I N A N Ç A S
3 9ENCERRAMENTO Um potencial de trocas
inesgotável
Brasil-Rússia: uma nova fase
dos seminários da FCCE
61 C O M É R C I O
41 C O O P E R A Ç Ã O Seminários refletem crescimento
do comércio exterior brasileiro
Uma empresa russa
no Brasil Sesc: a educação em um sentido mais amplo

“O Brasil não pode 64 L O G Í S T I C A


perder o bonde da era
espacial” Infra-estrutura aeroportuária facilita
o comércio internacional

43 AG R O P E C U Á R I A 65 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
“Nossa expectativa é que a Rússia suspenda
o embargo da carne”
70 C U RTA S
ENTREVISTA

“Brasil e Rússia
deveriam criar uma
forte aliança
tecnológica”
Vladimir Tyurdenev, Embaixador Extraordinário e Plenipotenci-
ário da Federação Russa no Brasil, é um homem muito confiante
na possibilidade de incrementar as relações bilaterais entre os dois
países. Nesta entrevista exclusiva à revista da FCCE, ele analisou
detidamente as possibilidades atuais e futuras do nosso intercâm-
bio comercial e científico, realçou a concordância entre as teses
de política internacional defendidas pelo Brasil e pela Rússia, e
não se furtou a tratar de temas polêmicos, como o embargo rus-
so à carne brasileira.

Como o senhor analisa as relações en- Os presidentes Lula e Putin concor-


tre os dois países? Estão num momen- daram que o Brasil e a Rússia deveriam
to ótimo ou podem ainda melhorar? criar a assim chamada aliança tecnológica,
VT – Esta é uma pergunta interessante e pois temos um potencial de intercâmbio
não tem uma resposta simples, porque, bastante grande na área de ciência e
por um lado, nós temos ótimas relações, tecnologia e poderíamos e deveríamos
mas, por outro, podemos ainda melhorá- aproveitar estas possibilidades. Neste ce-
las bastante. A partir de 2004, os contatos nário, destaca-se a cooperação na área es-
diretos entre os dois países aumentaram pacial. O lançamento do cosmonauta
de modo muito significativo. Em outubro brasileiro representou somente uma
de 2004, pela primeira vez um Presidente ponta desta cooperação. Trata-se de um
da Rússia – o presidente Vladimir Putin – setor que apresenta, hoje, grandes pers-
visitou o Brasil. Em 2005, aconteceu a vi- pectivas. Temos de procurar avançar
sita de resposta do Presidente Luiz Inácio neste campo.
Lula da Silva à Rússia. Todos estes conta-
tos têm sido, ao mesmo tempo, políticos O que une e o que separa o Brasil da
e comerciais, porque ambos os mandatá- Rússia?
rios viajaram acompanhados de delegações VT – Posso dizer o que nos une, porque,
importantes do empresariado, de repre- para mim, francamente, é muito difícil en-
sentantes de ministérios da área econô- contrar o que nos separa. Nossas posições
mica dos dois países, de cientistas e pes- em matéria de política internacional nos
quisadores. Estes encontros delinearam unem. A cooperação econômica é de in-
inúmeras possibilidades para a coopera- teresse de ambos os países e, portanto,
ção em várias áreas. mais um motivo de união.

6 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 7
ENTREVISTA

muito fertilizante e quer vender. Por ou- tão longa distância. Não se trata apenas de
tro lado, fenômenos como este mostram firmar um contrato para a futura constru-
que os dois países – que contam hoje com ção de um gasoduto. O que os executivos
um expressivo desenvolvimento técnico da Gazprom têm discutido com os da
e científico – têm se limitado a comer- Petrobras são possibilidades bem maio-
cializar, basicamente, matérias-primas. Eu res de desenvolvimento de cooperação
não digo que estes produtos devam desa- entre as duas empresas estatais.
parecer da pauta. Claro que são impor-
tantes para a economia, são legítimos re- Os jornais brasileiros publicaram re-
presentantes dos interesses empresariais portagens informando que, mesmo
e agrícolas dos dois países, mas, mesmo com o embargo aplicado sobre a im-
assim, deveríamos aumentar a presença de portação de carne brasileira, em
produtos com maior preparação indus- 2005, devido a febre aftosa que
trial e maior valor agregado. Estamos es- ocorreu em algumas regiões brasi-
tudando, por exemplo, a possibilidade de leiras, as nossas exportações de car-
compra de aviões da Embraer e, ao mes- ne para a Rússia têm aumentado.
mo tempo, tentando introduzir no mer- Segundo a imprensa, os exportado-
cado brasileiro o nosso equipamento nesta res brasileiros estariam pagando al-
área, no qual se destacam o famoso heli- gum tipo de propina às autorida-
“ Lamentavelmente, os itens
mais fortes no comércio
entre Brasil e Rússia são
cóptero russo M-8, que já está certificado
para ser vendido no Brasil, além do heli-
cóptero MI-171 e do hidroavião russo B-
des russas para suspender parcial-
mente o embargo. O que o senhor
acha disto?
matérias-primas

V L A D I M I R T Y U R D E N E V.
103, muito indicados para serem usados
em várias regiões brasileiras, principal-
mente no Mato Grosso.
VT – Para mim, isto é um pouco estra-
nho. Eu sei que várias delegações de auto-
ridades sanitárias brasileiras visitaram a
Nos últimos dois anos, o movimento Rússia depois do surgimento da doença,
comercial tem tido um aumento signifi- O senhor fala de um cenário comer- explicando as medidas que estão sendo
cativo, em torno de 30% a 40%. Em 2005, cial em que os produtos industriali- tomadas. Agora, no que diz respeito a pro-
o comércio bilateral superou US$ 3,6 bi- zados ainda não são muito fortes, pinas, não me parece que estas notícias
lhões. Isto significou 45% a mais do que o mas, ao mesmo tempo, menciona sejam verdadeiras, elas são invenções de
movimento ocorrido em 2004, que, por exemplos de produtos de alta tec- gente interessada em conseguir algo. Não
sua vez, superou o do ano de 2003 em nologia, como as aeronaves. O se- aceito e não acredito nestas versões.
20%. É muito provável que, num futuro nhor considera que já estamos cres-
próximo, nós poderemos alcançar a meta cendo em direção a um outro pata- Qual a perspectiva em relação ao
de US$ 5 bilhões. mar ou ainda estamos muito limita- embargo russo da carne bovina
dos a comercializar petróleo e café? brasileira? As autoridades brasilei-
Quais os setores em que as trocas co- VT – Acho que ainda estamos marcando ras do setor têm deixado claro que
merciais são mais fortes entre os dois passo, pois temos capacidade de dar passos gostariam que este embargo fosse
países? mais amplos e rápidos para avançar nesta suspenso o mais rápido possível e
VT – Os produtos mais fortes na pauta direção. Uma outra área em que, digamos, sugerem que deveria haver restri-
do comércio bilateral entre o Brasil e a podemos ampliar bastante o interesse de ções apenas para as regiões com-
Rússia são, hoje, lamentavelmente, maté- cooperação é a da malha ferroviária, em que provadamente afetadas, ou seja, os
rias-primas. Da parte do Brasil destacam- nós, russos, temos muita experiência. Pos- estados do Mato Grosso do Sul e
se carnes, açúcar, tabaco e café. Da parte so mencionar, ainda, as perspectivas de co- do Paraná, liberando a exportação
da Rússia, os principais produtos são adu- operação no setor de petróleo, que inclui das demais regiões. Atualmente, o
bos, fertilizantes, níquel e óleo diesel, não somente a compra pura e simples, mas embargo russo à carne brasileira in-
entre outros. Hoje, podemos afirmar que também a exploração e a construção de clui a produção dos estados de
cerca de 70% das exportações russas para oleodutos. Tem-se falado bastante no pro- Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
o Brasil são compostas por fertilizantes. jeto de um gasoduto transatlântico unin- Paraná, Rio Grande do Sul, Santa
Isto, por um lado, corresponde a uma do o Brasil e a Argentina. Estamos seguros Catarina, Goiás, São Paulo e Minas
necessidade de ambos os países: o Brasil de que a empresa russa Gazprom é uma Gerais. O que o senhor acha disto?
está expandindo sua fronteira agrícola e das únicas no mundo que tem experiên- VT – Acho que devem ser resolvidos os
precisa de fertilizantes; a Rússia produz cia para construir este tipo de gasoduto de problemas de combate à febre aftosa nos

8 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


rebanhos brasileiros. Nós ficamos muito importação de carne de vários tipos, mas, Muita gente diz que há uma gran-
preocupados com esta situação quando, para continuar assim, precisamos ter cer- de identificação cultural entre a
durante mais de um mês, não se podia teza de que, dentro do território brasilei- Rússia e o Brasil, e há quem diga até
confirmar se havia ou não um surto de ro, tudo está sendo feito para evitar esta que temos uma alma parecida. Na
febre aftosa no estado do Paraná. Quando doença. Eu gostaria de repetir mais uma sua opinião, a cultura também faz
recebemos a confirmação da presença da vez: não podemos aceitar que, por mais de parte do nosso intercâmbio comer-
febre aftosa no Mato Grosso do Sul, que um mês, fiquemos sem saber se existe ou cial? Que papel ela representa?
foi anunciada imediatamente após o seu não um surto de febre aftosa numa deter- VT – Seguramente, a cultura tem grande
surgimento, fechamos a exportação de minada região brasileira. importância para todos nós. Um dos maio-
carne desse estado para a Rússia. Tivemos res tesouros da cultura nacional russa é o
conhecimento das medidas que foram O senhor tem informação sobre uma Ballet do Teatro Bolshoi. Pois bem, a única
tomadas para impedir que a doença fosse nova visita de uma missão de autori- escola do Bolshoi que temos hoje no exte-
transmitida a outros estados. Quando sur- dades sanitárias russas ao Brasil? rior fica em Joinville, Santa Catarina. Além
giu a notícia sobre febre aftosa no Paraná VT – Isto vai depender do Ministério da disto, estamos tentando avançar na criação
e, durante 45 dias não conseguimos Agricultura do Brasil. No início de 2006, de uma escola de teatro mista, russo-brasi-
confirmá-la, ficamos preocupados com as uma importante missão chefiada pelo Se- leira. Está sendo estudada a possibilidade
medidas a serem tomadas e sobre as pos- cretário Executivo do Ministério da Agri- de se criar na Rússia, uma escola de fute-
sibilidades concretas de virem a ser con- cultura do Brasil visitou o meu país, en- bol brasileiro para preparar atletas locais.
taminados rebanhos de outras regiões. controu-se com autoridades locais e foi Se falarmos em riquezas culturais, deve-
formulado um convite verbal para que au- mos mencionar que o balé está para a Rússia
O senhor acha que o fim do embar- toridades russas da área sanitária visitassem assim como o futebol está para o Brasil.
go é algo que possa ser resolvido a o Brasil. Até agora, um convite formal nes- Ambos são aspectos típicos importantes da
curto prazo? te sentido não passou por minha embaixa- cultura dos dois países. Não podemos es-
VT – Isto é difícil de resolver, pois a deci- da. Se chegar às minhas mãos, imediatamen- quecer este elemento cultural significativo
são do embargo da carne brasileira foi to- te vou passá-lo às autoridades russas. brasileiro que é o carnaval. Estamos espe-
mada por autoridades veterinárias russas, rando muitos turistas russos no próximo
que não aceitam raciocínios políticos nem O senhor disse que muitos fatores carnaval carioca. Eles vêm desfrutar deste
outros tipos de fatores que estão fora das aproximam o Brasil e a Rússia na evento que representa a alma brasileira.
razões puramente técnicas. No caso de as área do comércio. Acontece o mes-
autoridades veterinárias e sanitárias do mo na política internacional?
Brasil e da Rússia virem a se entender so- VT – Na política internacional também
bre este assunto, acho que a exportação estamos muito próximos. O Brasil e a Rússia
poderá ser liberada. concordam, por exemplo, que a Organiza-
ção das Nações Unidas – ONU, deveria de-
O senhor acredita que o Brasil tem sempenhar um papel fundamental no atual
tomado providências corretas e efi- cenário mundial. Além disto, temos posi-
cientes com relação à febre aftosa? ções idênticas ao considerarmos que os con-
Seria possível fazer uma compara- flitos existentes, hoje, no mundo, devem ser
ção entre o que houve na Europa resolvidos com base no Direito Internacio-
quando surgiu, por exemplo, o sur- nal. Em princípio, com relação a muitas das
to do Mal da Vaca Louca? Alguns principais questões atuais da política mun-
analistas do setor acreditam que dial, as posições russa e brasileira são seme-
uma coisa é uma epidemia num país lhantes. Tentamos seguir uma linha política
em desenvolvimento, e outra coisa, coincidente em vários aspectos.
bem diferente, é uma epidemia no
mundo desenvolvido. O que o se- Quais são estes aspectos?
nhor acha disto? VT – Em primeiro lugar, a ênfase dada à
VT – Para mim, francamente, é muito di- primazia do Direito Internacional. Em se-
fícil fazer uma comparação das medidas
que o Brasil e a Europa tomaram nestes
dois casos mencionados. A questão é a
gundo, achamos que é preciso resolver os
litígios por meios pacíficos. Em terceiro,
lutamos para reforçar o papel central da
“ Rússia e Brasil acham que
a ONU deveria desempenhar
um papel mais relevante
seguinte: a Rússia considera o Brasil, hoje,
como um parceiro muito importante na
ONU. Finalmente, defendemos o respei-
to à soberania de todos os países.
no cenário político mundial
V L A D I M I R T Y U R D E N E V. ”
Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 9
ENTREVISTA

“Para exportar é
preciso ter controle
de qualidade,
pontualidade e preço
competitivo”
O ex-Ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o econo-
mista Marcus Vinicius Pratini de Moraes, atualmente, é um dos mais
expressivos e bem informados especialistas brasileiros em comér-
cio exterior. Alguns analistas do setor costumam atribuir a ele par-
te do desempenho registrado atualmente pela agropecuária brasi-
leira. Pratini de Moraes foi, também, Ministro de Minas e Energia
e Ministro de Indústria e Comércio e, desde 2003, é Presidente do
Conselho da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de
Carnes – ABIEC.

Trata-se, pois, de um homem acostumado a lidar com questões


de comércio exterior, tanto sob a ótica dos governos como da
iniciativa privada. Demonstra uma capacidade de análise muito
interessante neste momento em que o Brasil se firma no exterior,
ao mesmo tempo em que tem necessidade, ainda, de equacionar
questões internas para melhor desempenho doméstico e para dar
solidez aos avanços obtidos na área internacional. Nesta entre-
vista exclusiva à revista da FCCE, ele abordou, entre outros te-
mas, os acertos e os gargalos do esforço exportador brasileiro, a
relação bilateral com a Rússia, os problemas causados pela febre
aftosa no Brasil e as perspectivas da carne brasileira no mercado
internacional.

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 11
ENTREVISTA

no não mais como apenas um ex-


portador de matéria-prima, mas
como produtor de bens industriali-
zados?
PM – O Brasil é a última fronteira agríco-
la do mundo. Temos sol, água e terra para
plantar. Por isso, não há problema em ven-
dermos commodities. Contamos, também,
com uma base tecnológica suficiente para
vendermos produtos industrializados. Já
estamos fazendo isso. Vejam o caso da
Embraer, cujos produtos aeronáuticos
têm boa saída no mercado internacional.
O que precisamos é de uma política in-
dustrial que incentive esta exportação.
Na década de 70, quando fui Ministro
da Indústria e Comércio, criei um parque
O Embaixador Vladimir Tyurdenev, Theóphilo de Azeredo Santos e o Ministro Pratini de Moraes. siderúrgico para que o país pudesse au-
mentar sua produção de aço. Se os gover-
Fala-se muito do crescimento das ria, a infra-estrutura e os encargos sociais, nos e o setor privado tivessem apostado
exportações brasileiras, mas nossa retiram a competitividade sistêmica do país. no crescimento da siderurgia, hoje pode-
participação no mercado mundial ríamos ser o maior exportador de aço do
gira em torno de 1%. Na sua opinião, O senhor declarou, em seu pronun- mundo. No caso do agronegócio é a mes-
qual o maior problema da expor- ciamento no Seminário Bilateral de ma coisa. No setor de carne bovina,
tação brasileira e quais as razões que Comércio Exterior e Investimentos estamos apostando nos cortes especiais
impedem seu crescimento em ritmo Brasil-Rússia, que um dos maiores com maior valor agregado.
mais intenso? problemas no relacionamento bila-
PM – A competitividade das empresas na- teral entre Brasil e Rússia é a falta Além da importância do controle
cionais e a criação de condições favoráveis de informação que os dois países de qualidade, quais os outros requi-
ao seu desenvolvimento dependem da têm do potencial econômico um do sitos que podem valorizar o produ-
continuidade, em bases sólidas, das políti- outro. Como reverter este quadro? to brasileiro?
cas de governo. Além disso, a persistência PM – A Rússia e o Brasil são dois países PM – Para exportar é preciso ter contro-
do câmbio valorizado e de uma elevada car- com perfis muito parecidos nos campos le de qualidade, pontualidade e preço
ga tributária com altas taxas de juros – que demográfico e geográfico. No setor co- competitivo. Se o exportador está no mer-
diminuem a competitividade do setor ex- mercial, os dois se completam. Hoje, a cado e continua exportando é porque está
portador – reforçam a necessidade de avan- Rússia é nosso maior importador de car- cumprindo todos os requisitos. Precisa-
ços mais substantivos. Nesse sentido, algu- ne, tanto bovina como suína, e um dos mos abrir mercados. Para isso, é preciso
mas mudanças estruturais devem, portan- melhores mercados para o nosso açúcar. fazer marketing. Quando assumi a presi-
to, ser adotadas. Não há como alterar o Por outro lado, os russos podem nos ofe- dência da Associação Brasileira das Indús-
cenário de maneira artificial. Qualquer ten- recer tecnologia de ponta, energia, trias Exportadoras de Carne – ABIEC, em
tativa se mostrará frustrada. prospecção geológica e aviação. Temos um 2003, tinha como meta abrir mercado para
A falta de estímulo à internacionalização futuro promissor nas relações comerci- a carne brasileira. Naquele ano, exportá-
das empresas é um outro fator que agrava ais. As oportunidades estão colocadas; o vamos para 80 países. Em 2005, vende-
– em conjunto com a política cambial ins- que falta é uma interação maior entre os mos para 176 países. Além da tecnologia
tável do país – a situação dos exportado- empresários e até entre os respectivos e da competência dos nossos frigoríficos,
res. A reduzida capacidade de importar governos. Como temos línguas comple- estamos investindo em marketing. Faze-
bens de capital é outro importante fator tamente diferentes, há, naturalmente, um mos churrascos nos principais mercados
limitador do setor exportador, para o qual obstáculo no início dos negócios, mas que e participamos das mais importantes fei-
é importante a importação de equipamen- pode ser vencido se houver aplicação do ras na área de alimentação.
tos, máquinas, matérias-primas e compo- setor privado e do governo.
nentes. A França é um dos países que me-
A presença de barreiras estruturais Na sua opinião, o Brasil já está pron- lhor vende seus produtos. O Brasil
como a política de juros, a política tributá- to para enfrentar o mercado exter- tem uma variedade enorme de pro-

12 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


dutos de qualidade que ainda não em território nacional desencadeou reações regras internacionais de sanidade animal,
encontraram mercado. Quais as es- diferenciadas dos mercados internacionais determinadas pela Organização Mundial
tratégias adotadas pelos franceses consumidores, seja pelo embargo da com- de Saúde Animal – OIE, o Brasil, aliando a
que poderiam servir aos brasileiros? pra de carne bovina de todo o território na- competência do setor exportador com a
PM – Marketing. Este é um dos segredos cional, seja pelo embargo parcial daqueles capacidade técnica adquirida ao longo de
da França. Os franceses conseguem ven- estados ou municípios afetados. décadas pelos veterinários oficiais do mi-
der água para o mundo. Desde os tempos No entanto, com a pronta resposta do nistério no trato de crises de igual ordem,
do descobrimento do Brasil, nossos pro- Ministério da Agricultura, Pecuária e Abas- permitiu que as exportações retomassem
dutos eram vendidos por força da neces- tecimento, em estrita consonância com as aos poucos seu ritmo, ainda em cresci-
sidade do importador. Não somos agres- mento, a ponto de minimizarem os im-
sivos na hora de vender. Um reflexo disso pactos negativos que o evento sanitário em
é que, durante muito tempo na história de Um homem público versátil questão poderia causar.
nossa balança comercial, os principais itens Há décadas, Marcus Vinicius Cabe registrar, ainda, a extrema capacida-
eram commodities. Recentemente, o país de que os frigoríficos exportadores de car-
Pratini de Moraes tem estado pre-
tem mudado bastante a sua pauta atual, ne bovina detém em se adequarem a novos
incluindo aviões e automóveis. Até o agro-
sente na vida pública brasileira. En- cenários impostos por crises sanitárias, a
negócio, que sempre vendeu basicamen- tre 1970 e 1974, foi Ministro da ponto de, rapidamente, redirecionarem a
te soja, agora está aumentando a venda de Indústria e do Comércio do Governo produção das plantas produtoras embargadas
carnes elaboradas. Emílio Garrastazu Médici, quando pelas medidas internacionais para outras lo-
tinha apenas 30 anos. Foi um dos calizadas em estados não afetados.
Sabemos que a carne bovina do Bra- mais jovens ministros do Brasil.
sil é um dos produtos mais valori- Marcus Vinicius Pratini de Quais as principais barreiras estru-
zados pelos grandes mercados con- Moraes é economista graduado turais que os exportadores brasilei-
sumidores, em especial a União Eu- pela Faculdade de Ciências Econô- ros ainda enfrentam na área do
ropéia. Ainda temos espaço para micas da Universidade do Rio Gran- agronegócio?
crescer neste segmento? de do Sul (1963) com curso de PM – Fica cada vez mais claro que o mai-
PM – Como já pude indicar, avanços po- Pós-Graduação em Administração or vilão da má distribuição e maior inser-
dem ser alcançados nos países membros da Pública e Administração de Empre- ção do Brasil no mercado internacional
União Européia, desde que sejam adotadas sas (Berlim, 1965). de carnes e outros produtos é o escanca-
medidas que reduzam os atuais e vergonho- Deputado Federal por dois rado protecionismo verificado nos cha-
sos artifícios aplicados por esse bloco no mandatos, esteve à frente da pasta mados países desenvolvidos. O Brasil,
sentido de impedir um maior acesso ao seu de Minas e Energia, no Governo hoje, a título de ilustração, está alijado de
mercado consumidor. No entanto, temos Fernando Collor de Mello (1990- cerca de 60% do mercado consumidor
que ter em mente um novo desenho na ge- 1992), e da Agricultura, Pecuária e internacional de carne bovina pela aplica-
ografia econômica mundial, pela qual os pa- Abastecimento, na administração ção de medidas injustificáveis.
íses em desenvolvimento passam a respon- de Fernando Henrique Cardoso
der cada vez mais pelas importações de pro- (1999-2002). Foi Presidente da O ano de 2005 não foi dos melhores
dutos como a carne bovina brasileira.Tendo Fundação Centro de Estudos de para a agricultura brasileira, entre-
por base essa constatação, verifica-se um Comércio Exterior – FUNCEX e tanto, o agronegócio continuou sus-
potencial cada vez maior naqueles merca- da Associação de Comércio Exte- tentando o bom nível de nossas ex-
dos em desenvolvimento do que nos mer- rior do Brasil - AEB (1988-1999), portações. Quais as perspectivas do
cados tradicionais. Membro do Conselho Consultivo setor para 2006?
da Bolsa de Mercadorias e Futuros PM – A última estimativa da Companhia
Qual foi o impacto da confirmação - BM&F (maio 2003). A experiên- Nacional de Abastecimento – CONAB,
de ocorrência da febre aftosa em cia acumulada permitiu que se revela que haverá uma redução na área plan-
algumas de nossas regiões produ- convertesse em especialista em co- tada de grãos, na safra 2006/2007, de 2,1
toras? O senhor considera que as mércio exterior e o habilitou a milhões de hectares – 4,3% menos do que
medidas adotadas para conter o exercer o cargo de presidente do a última safra. Por esse número, podemos
problema estão de acordo com as Conselho da Associação Brasileira concluir que o agronegócio vai encolher. A
normas internacionais? O problema das Indústrias Exportadoras de política cambial do governo está prejudi-
já foi totalmente contornado? Carnes – ABIEC, no qual tomou cando o agricultor. Como não há expecta-
PM – O impacto imediato sobre a confir- posse em agosto de 2003. tiva de mudanças nessa área, não podemos
mação da ocorrência de focos de febre aftosa contar com boas notícias no campo.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 13


Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f

Relação
atu
stino

mas: português,
rancês

de exportadores
alizada mensalmente
ABERTURA

Parceria comercial estimula


acordos em ciência e tecnologia

Rogério Fernando Lot, João Luiz Azevedo, o Embaixador Tyurdenev, Maçao Tadano (ao microfone), Bernardo Cabral e Pratini de Moraes.

O Presidente da Federação das Câmaras de Comér- mesa o Diretor de Comércio Exterior do Banco do
cio Exterior – FCCE, João Augusto de Souza Lima Brasil, Rogério Fernando Lot; o Consultor e Re-
deu início ao Seminário Bilateral de Comércio Ex- presentante da Confederação Nacional do Comér-
terior e Investimentos Brasil-Rússia convidando para cio – CNC, Senador Bernardo Cabral; o Presidente
presidir a mesa da Sessão Solene de Abertura o Che- da Câmara de Comércio Internacional – ICC, Theó-
fe de Gabinete do Ministro da Agricultura, Pecuária philo de Azeredo Santos; o Presidente da Câmara
e do Abastecimento e Ex-Secretário de Defesa Agro- de Comércio, Indústria e Turismo Brasil-Rússia, Gil-
pecuária, Maçao Tadano. O pronunciamento de aber- berto Ramos; o Cônsul-Geral da Federação da Rússia
tura ficou a cargo do Embaixador Extraordinário e no Rio de Janeiro, Alexey Labetskiy; o Diretor de
Plenipotenciário da Federação da Rússia, Vladimir Transporte Espacial e Licenciamento da Agência Es-
Tyurdenev. O Chefe da Representação do Ministé- pacial Brasileira – AEB, João Luiz Filgueiras de Aze-
rio do Desenvolvimento Econômico e Comércio da vedo; e o Diretor de Comércio Exterior do Minis-
Rússia, Yuri Anatolievitch Kudryavtsev foi o convida- tério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
do especial da Sessão de Abertura. Compuseram a Exterior – MDIC, Arthur Pimentel.
18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A
O
Embaixador Vladimir Tyurdenev, setor técnico e científico, no qual se destaca sileira, realizada em Moscou, em outubro
em pronunciamento especial, a cooperação na área espacial, que vem se de 2005. Hoje, realiza-se com êxito o 3º
destacou a proximidade entre os desenvolvendo em diversas vertentes. Programa de Cooperação Científica e
dois países, que, segundo ele, se expressa Vladimir Tyurdenev abordou, ainda, a Tecnológica, com projetos nos quais, na
nos inúmeros convênios já assinados que construção de aviões, informando que es- parte russa, participam cientistas de São
correspondem ao considerável potencial tão sendo estudados na Rússia projetos Petersburgo, Samara,Tuning e Novosibirsk,
científico, econômico e tecnológico que para o desenvolvimento de aviões da e, na parte brasileira, estão presentes pes-
a Rússia e o Brasil possuem. Embraer, para executar vôos de curta e quisadores do Rio de Janeiro e de São José
“A consolidação contínua de parcerias média distância. Comentou, igualmente, dos Campos, dentre outras regiões. Na
nas áreas econômica e comercial representa as possibilidades de fornecer helicópte- agenda está a possibilidade de criar no Bra-
passos concretos para a formação de uma ros e aviões russos ao mercado brasileiro. sil um centro de informações para a trans-
aliança tecnológica, que está sendo discuti- A cooperação na área de energia se en- ferência de tecnologias.”
da em detalhes em negociações de vários contra, segundo o embaixador, em ampli-
níveis. Nossa integração será tema de análi- ação gradual, com empresas russas forne- Trocas comerciais
se pormenorizada de uma comissão inter- cendo equipamentos para uma hidrelétri- O embaixador considera que o atual
governamental de cooperação econômica, ca em Corumbá. Estão previstos contra- estágio dos laços comerciais entre a Rússia
comercial, técnica e científica; um grupo tos com as hidrelétricas de Estreito, Rio e o Brasil não reflete plenamente as pos-
de alto nível que se reúne a partir de abril Branco e São João. Com relação ao setor sibilidades existentes em ambas as partes.
de 2006. O papel positivo de incremento de gás natural, o embaixador da Federa- Na sua opinião, é fundamental colocar em
dos laços entre nossos países está sendo ção da Rússia informou que as estatais execução mecanismos capazes de aumen-
realizado pelas associações e, principalmen- Gazprom e Petrobras iniciaram negocia- tar significativamente a troca de bens e
te, pelas câmaras internacionais de comér- ções com vistas a uma cooperação que in- serviços.
cio e indústria.” clui o uso de tecnologias de ponta russas “Temos grandes reservas que deixamos
Como parte deste esforço conjunto, em na prospecção e exploração de jazidas de de usar na área de investimentos e gostaria
junho de 2005, por iniciativa da Câmara de gás natural encontradas no Brasil. de chamar a atenção dos representantes do
Comércio Indústria e Turismo Brasil-Rússia, empresariado brasileiro para os altos índi-
uma comitiva de empresários brasileiros vi- Investimentos bilaterais ces apresentados pela economia russa. So-
sitou a Rússia. Segundo o embaixador, no Segundo Vladimir Tyurdenev, nos últi- mente no ano de 2005, o aumento do PIB
decorrer da visita foram mapeadas iniciati- mos anos foram verificados avanços positi- foi de 6,4%, face a uma previsão de 5,9%.
vas para o incremento da relação nos seto- vos nos investimentos bilaterais. Neste sen- A capitalização da bolsa de valores cresceu
res farmacêutico, de mineração e tratamen- tido, ele mencionou a participação de em- vigorosamente, e tudo isso faz da Rússia
to de madeira. Na ocasião, foi assinado um presas russas em investimentos de infra- um país atraente do ponto de vista de apli-
acordo de cooperação entre pequenas e estrutura portuária em Itajaí e em Nave- cações rentáveis de capitais. Devemos con-
médias empresas. Como resultado da visi- gantes (SC) e, também, em Cubatão (SP). siderar também, a política conduzida, atu-
ta, ficou evidente o grande potencial dos Citou ainda, a criação de um sistema de irri- almente, pelo governo russo, de criar zo-
laços inter-regionais para a consolidação de gação no estado da Bahia com a participa- nas econômicas especiais, com parques in-
uma ampla parceria. ção de empresas russas. O embaixador des- dustriais e tecnológicos e centros de pes-
“Ao caracterizar a cooperação Brasil- tacou a construção, pela empresa brasileira quisa que aplicam os últimos avanços na
Rússia, cabe ressaltar o fluxo comercial Sadia, de uma fábrica de processamento de ciência e tecnologia.”
que tem crescido bastante. De acordo gêneros alimentícios na região de Kalingrad, O embaixador fez, em seguida, uma
com os últimos dados, em 2005, alcança- na Rússia. convocação aos empresários brasileiros
mos o nível mais alto da nossa história: para que aproveitem o atual bom momen-
US$ 3,6 bilhões. O aumento foi de mais Cooperação científica to da economia russa, pois, segundo ele,
de 45% em relação a 2004. Ao mesmo A cooperação científica e tecnológica é cabe à classe empresarial um importante
tempo, a atual pauta comercial, composta um dos setores que podem aproximar ain- papel neste cenário.
principalmente de minérios, fertilizantes, da mais os brasileiros e os russos, que já “Chegou a hora de aproveitar ativamente
produtos agrícolas, metais e produtos conseguiram avanços neste sentido. O o potencial de investimento de nossas em-
laminados, continua tendo, predominan- Embaixador Vladimir Tyurdenev é um en- presas na realização de projetos de grande
temente, matérias-primas.” tusiasta destas iniciativas. escala, de desenvolvimento industrial, com
“Nos últimos tempos, a geografia da a utilização dos últimos avanços científicos e
Ciência e energia interação tem-se ampliado visivelmente, o tecnológicos, inclusive pesquisas já existen-
O embaixador informou que tem sido que foi constatado durante a 4ª Reunião da tes nas áreas de biotecnologia, nanotec-
bem sucedida a interação dos dois países no Comissão Intergovernamental Russo-Bra- nologia, informática, eletrônica e ótica.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 19


PAINEL I

Em busca de um crescimento
das nossas relações bilaterais
O Painel I do Seminário Bilate-
ral de Comércio Exterior e In-
vestimentos Brasil-Rússia teve
como tema as relações bilaterais
no agronegócio e foi presidido
pelo Consultor e Representan-
te da Confederação Nacional do
Comércio – CNC, Senador
Bernardo Cabral.

O
Presidente do Conselho Em-
presarial Brasil-Rússia e Presi-
dente da Associação Brasileira de
Exportadores de Carne – ABIEC, Minis-
tro Marcus Vinicius Pratini de Moraes e o
chefe de Gabinete do Ministro da Agri- Rogério Fernando Lot, Fábio Martins Faria e Gregório Maranhão.
cultura, Pecuária e do Abastecimento e
Ex-secretário de Defesa Agropecuária, Moraes destacou a evolução do comércio no de produtos. Da Rússia para o Brasil,
Maçao Tadano, expuseram seus pontos de bilateral entre Brasil e Rússia, as seme- 60% das exportações são de fertilizantes,
vista durante seus pronunciamentos es- lhanças e diferenças entre as duas econo- e 40% de matérias-primas minerais. Do
peciais. O Diretor de Comércio Exterior mias e chamou a atenção para a necessida- Brasil para a Rússia, 60% são das exporta-
do Banco do Brasil Rogério Fernando Lot de que brasileiros e russos têm de se co- ções são de carnes bovinas, suínas e de
moderou o painel. Como expositores, o nhecerem melhor. Apesar dos esforços frango.”
Diretor do Departamento de Planejamen- realizados nos últimos anos, as poten- Segundo o Ministro Pratini de Moraes,
to e Desenvolvimento do Comércio Exte- cialidades do relacionamento bilateral ain- as exportações brasileiras têm crescido
rior do Ministério do Desenvolvimento, In- da são desconhecidas. mais do que as exportações russas.
dústria e Comércio Exterior – MDIC, Fá- “Brasil e Rússia são economias quase “Não podemos pretender que a Rússia
bio Martins Faria; o Secretário-Geral da complementares e, durante longos anos, nos abra mais mercados sem que tenha-
União Nordestina da Indústria da Cana-de- o comércio entre os dois países funcio- mos um volume mais significativo de im-
Açúcar – UNIDA, Gregório Maranhão; e o nou de uma forma lenta, sem grande pro- portações e um maior estreitamento de
Diretor-Geral da Ostalco do Brasil Ale- gresso. Nos últimos dez anos, a corrente relações. Há um aumento na importação
ksander Medvedovsky. A maioria dos pro- de comércio passou de US$ 600 milhões de fertilizantes, mas a Rússia tem todo um
nunciamentos deixou claro que existem para US$ 3,6 bilhões. Foi uma evolução elenco de outros produtos que ainda não
grandes possibilidades de ampliar o inter- expressiva, que se acentuou muito a par- conhecemos e que poderíamos comprar.
câmbio comercial entre os dois países. tir de 2001. A abertura verificada nos últi- Com a atual taxa de câmbio, não há a me-
mos anos permitiu aproveitar melhor o nor dúvida de que a abertura da economia
Semelhanças e diferenças caráter complementar das duas economi- brasileira será ainda maior, e isto significa
Em seu pronunciamento especial, o as, no entanto, nosso comércio ainda é possibilidades de aumentar importações.
Ministro Marcus Vinicius Pratini de muito dependente de um número peque- Isso ainda não acontece porque nossa eco-

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


nomia não está crescendo e as importa-
ções aumentam quando a economia cres-
ce. Mesmo com um crescimento lento
da nossa economia, a Rússia é uma exce-
lente fonte de outros produtos além dos
fertilizantes e alguns metais.”
O presidente da ABIEC destaca que fal-
ta informação em relação à Rússia. Existe
um potencial a ser explorado pelas indús-
trias dos dois países. Isto implicaria, inclu-
sive, em maior número de viagens de bra-
sileiros à Rússia e de russos ao Brasil.
“A Aeroflot praticou um vôo para o
Rio de Janeiro que hoje não existe mais,
mas já há conversações em Moscou para
que este vôo seja restabelecido. Uma liga-
ção aérea direta vai implicar num aumen-
to do fluxo de comércio, porque vai faci- O Senador Bernardo Cabral e o Ministro Marcus Vinicius Pratini de Moraes.
litar o conhecimento.”

Alma russa
A Rússia tem sido classificada, por ob-
servadores internacionais, como um país
emergente, por conta de seu atual estágio
de desenvolvimento econômico, mas o
Ministro Pratini de Moraes discorda des-
ta visão. Segundo ele, o país tem uma das
maiores bases de desenvolvimento tecno-
lógico do mundo em segmentos que vão
da mineração à siderurgia, passando por
turbinas e aviões, sem falar da enorme
contribuição cultural que tem dado à Eu-
ropa e ao mundo.

“ Minha admiração se estende,


também, à grande alma russa,
que produziu escritores e
Na platéia, empresários, representantes de governos e estudantes de relações internacionais.

músicos notáveis
M I N I S T R O P R AT I N I DE ”
MORAES.
nosso e uma grande diversidade cultural.
Minha admiração também se estende à
grande alma russa, que produziu escrito-
se divulgue um pouco mais da Rússia no
Brasil e para que se estimule a vinda de
russos para cá e a ida de brasileiros a Mos-
res como Dostoievski, Tchekhov e Tolstoi cou. Uma maior proximidade produzirá
Por conta de suas atividades profissio- e músicos como Tchaikovsky, Mussorgsky reflexos positivos no fluxo do comércio
nais, como representante dos produtores e Rachmaninoff. A Rússia tem um extra- bilateral.
de carne brasileiros, o Ministro Pratini de ordinário patrimônio que não é conheci-
Moraes tem realizado muitas viagens à do por nós.” Exportações brasileiras
Rússia. Afirma que as atrações locais não Por tudo isto, o presidente da ABIEC “Quero lembrar que, em 1990, 80%
se limitam aos excelentes espetáculos do ressaltou a necessidade de ampliar o co- das exportações brasileiras foram para a
Ballet Bolshoi, aos grandes concertos de nhecimento mútuo e trabalhar no senti- União Européia, Japão, Estados Unidos e
música erudita e recitais de ópera ou mes- do de um maior intercâmbio entre os dois Canadá e 20% para o resto do mundo. Em
mo a uma visita a São Petersburgo. países. Segundo ele, o Seminário Bilate- 2004, 52% das nossas exportações já fo-
“Trata-se de um país imenso, com um ral de Comércio Exterior e Investimen- ram para os países emergentes, incluindo a
território que corresponde ao triplo do tos Brasil-Rússia é importante para que Rússia, e 48% para a tríade Japão, Estados

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 21


PAINEL I

principais parceiros do Brasil em cresci-


mento de transações. Ele defendeu a idéia
da construção de um mecanismo de troca
de informações, para que os brasileiros
possam conhecer as oportunidades de
negócios da Rússia.
“Tenho absoluta convicção de que a
Rússia é o país mais rico do mundo em pe-
tróleo, gás natural e minérios e se constitui
num mercado extraordinário que continua-
rá crescendo. Além disso, a característica da
economia da Rússia de ser complementar à
economia brasileira, nos indica que temos
um potencial enorme a desenvolver. Há,
certamente, problemas logísticos, muitos
deles comuns à Rússia e ao Brasil, que são
impeditivos para algumas transações. Ape-
sar de um aumento da eficiência dos siste-
mas de embarque e de transporte, a logística
ainda é uma pesada limitação. Vamos traba-
lhar muito, confiar mais e, com certeza, am-
pliar nossos negócios em benefício dos rus-
sos e dos brasileiros.”

Maçao Tadano, representante do Ministério da Agricultura, e o Ministro Pratini de Moraes.


Fronteiras ideológicas
Dando seqüência ao Painel I, o Sena-
Unidos e União Européia, os motores tra- demanda não só com relação ao agro- dor Bernardo Cabral lembrou os tempos
dicionais do crescimento do nosso comér- negócio brasileiro, mas também com rela- em que existiam duas fronteiras ideológi-
cio exterior. O que está movendo o mun- ção ao aço, ao minério de ferro, ao alumí- cas: de um lado o regime capitalista co-
do, hoje, não é mais o Japão, os Estados nio e a outros produtos manufaturados. mandado pelos Estados Unidos e, do ou-
Unidos e a União Européia. A nova ten- “O Brasil deve apostar nestes países. tro, o comunista, capitaneado pela antiga
dência do fluxo comercial realça as posi- Não adianta ficar ‘enxugando gelo’ na Or- União Soviética.
ções de Rússia, China, Índia, Leste Euro- ganização Mundial do Comércio – OMC,
peu, Norte da África, alguns países da Amé- tentando diminuir os subsídios agrícolas
rica Latina, África do Sul, alguns países do
Centro da África, Oriente Médio e, natu-
dos países desenvolvidos; coisa que, difi-
cilmente, iremos conseguir. Sei que não
“Os tempos mudaram, as
mudanças ideológicas são, hoje,
ralmente, todo o Sudeste Asiático.” estou sendo diplomata, mas devo dizer que
os agricultores convivem com altas taxas
de juros, que fazem com que comprem o
as mudanças econômicas
SENADOR BERNARDO CABRAL. ”
“ Os novos mercados estão
nos países em crescimento,
que precisam de alimentos
adubo a três e vendam a soja apenas a dois.
Esta gente está passando um aperto dana-
do. Temos que continuar insistindo em
“Com a queda do Muro de Berlim e
com as mudanças econômicas e políticas
ocorridas no Leste Europeu, estas fron-
e de tecnologia
M I N I S T R O P R AT I N I DE ”MORAESN
penetrar nos grandes mercados desenvol-
vidos, não vamos abandoná-los. Acredito,
no entanto, que, para nossa própria so-
teiras ideológicas cederam lugar às polí-
ticas econômicas, e isto foi muito bem
colocado pelo Ministro Pratini de
brevivência, os novos mercados estão nos Moraes, mostrando que está na hora de
O presidente da ABIEC acredita que, na países com altas taxas de crescimento e vermos a Rússia como um aliado econô-
medida em que se desenvolvem, os países que precisam de matérias-primas, alimen- mico. Quero cumprimentar vivamente o
costumam apresentar um extraordinário tos, produtos industriais e até da tecnologia Ministro Pratini de Moraes pela sua sin-
crescimento do mercado para a carne, para que o Brasil pode fornecer.” ceridade, porque ele é, sobretudo, um
a soja e seus subprodutos, e para produtos Ao encerrar seu pronunciamento es- homem da agricultura e, com todas as
de alimentação animal. Este tem sido o caso pecial, o Ministro Pratini de Moraes rea- letras, apontou o caminho e mostrou
da Rússia e da China, que têm ampliado sua firmou que considera a Rússia um dos soluções. Mais uma vez o Brasil fica a lhe

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


dever por esta espontaneidade. Os tem- nologia, em que a Rússia se destaca. Além de que nenhuma outra atividade econô-
pos mudaram, as mudanças ideológicas de exportações brasileiras ligadas ao mica marcou tanto as características de um
são, hoje, as mudanças econômicas e a agronegócio, principalmente carnes e açú- povo quanto o açúcar em relação ao Bra-
nossa parceria precisa ser ampliada, so- car, é importante detalharmos a possível sil. Para o Mestre de Apipucos, um dos
bretudo nos aspectos que o Ministro expansão para o setor de softwares, em que pais da sociologia brasileira, “o açúcar re-
Pratini de Moraes destacou.” temos perspectivas de crescimento.” presenta o Brasil e o Brasil representa o
açúcar”.
Mensagem positiva A marca do açúcar Gregório Maranhão prossegue: “Des-
Em seguida, a palavra foi dada ao Chefe A palavra foi dada ao Secretário-Geral de os nossos primórdios, os meus ances-
de Gabinete do Ministro da Agricultura, da União Nordestina da Indústria da trais do engenho de Nossa Senhora da Aju-
Pecuária e Abastecimento, Maçao Tadano. Cana-de-Açúcar – UNIDA, Gregório da, em Olinda, produziam açúcar e desde
Maçao Tadano disse ser uma testemu- Maranhão, que começou lembrando Gil- aquela ocasião, até hoje, e de forma muito
nha da preocupação do governo com as berto Freyre em sua afirmação clássica marcante, temos na Rússia um grande par-
relações bilaterais, principalmente com a
Rússia, onde esteve diversas vezes. Nestas
ocasiões, manteve encontros comerciais
com autoridades daquele país e, para isso,
Em debate, o investimento em
contou com a cooperação da assessoria
do Ministro Márcio Fortes de Almeida,
uma refinaria no Brasil
quando este ainda era o Secretário-Exe-
cutivo do MDIC. A pós a fala de Gregório Maranhão, o
Presidente da Associação Brasilei-
ra de Micro Refinarias, Milton Mar-
cooperativas ou de associações. Para a
sobrevivência do pequeno e do médio
produtor, não entendemos um ambi-
“A Rússia é o quarto maior importa-
dor de nossos produtos, em que pese ques, colocou uma questão para o con- ente econômico divorciado do sistema
ser um país emergente com um total de ferencista. de processamento da matéria-prima. É
mais de US$ 740 bilhões de PIB e uma “Gostaria de informar ao senhor que como se estivéssemos discutindo uma
população de 150 milhões, inferior, por- as refinarias estão preparadas para re- mesma cadeia produtiva em universos
tanto, à nossa. Por aí, vocês podem aqui- ceber investimentos, mas nós tivemos absolutamente distintos. O sentimen-
latar a riqueza, a cultura e a potencialidade alguns problemas com os países árabes to de discreta euforia que está sendo
tecnológica do país do Embaixador e eu não gostaria que isto se repetisse vivenciado pelo setor da agroindústria
Vladimir Tyurdenev. Sabemos que o Bra- com a Rússia. Estive na Rússia, recen- canavieira não chega à base em que se
sil é devedor nesta relação de troca com temente, e recebi a proposta de um ban- situam os pequenos e médios produ-
a Rússia, conforme enfatizou o Ministro queiro russo, de investir numa peque- tores de cana. Nós reivindicamos, den-
Pratini de Moraes. Minha intervenção é na refinaria. Esta interação deve ser fei- tro deste plano, não uma situação
para trazer, em nome do Ministro da Agri- ta de maneira rápida, sem que o gover- interventora, mas uma situação regu-
cultura, Pecuária e Abastecimento, no atrapalhe. O governo tem que estar ladora do governo. Se o segmento in-
Roberto Rodrigues, a nossa mensagem presente para ajudar, mas o que vejo, dustrial dispõe de uma agência regu-
de confiança nas relações bilaterais. Pa- hoje, são as pequenas indústrias de ladora para nortear o relacionamento
rabéns aos senhores participantes e a João cana-de-açúcar fechando. Eu pergun- entre as companhias distribuidoras e
Augusto de Souza Lima pela realização to: como resolver esta equação simples, os produtores de álcool, os fornece-
deste evento.” uma vez que tem gente querendo in- dores de cana estão absolutamente
Em seguida, o moderador do Painel I, vestir no Brasil e nós precisamos de in- desprovidos, hoje, deste ambiente
o Diretor de Comércio Exterior do Ban- vestimento?” regulatório. Acreditamos estar no ca-
co do Brasil, Rogério Fernando Lot, cha- A resposta de Gregório Maranhão minho certo e vamos evoluir do pon-
mou a atenção para a importância estraté- foi a seguinte: “não tenho procuração to de vista do investimento. Temos in-
gica das relações bilaterais entre Brasil e do Governo Federal, muito pelo con- vestidores com interesse no setor pri-
Rússia, pois o Brasil é o parceiro mais im- trário, nós temos ambientes de conver- mário, ou seja, em terra e em produ-
portante da Rússia na América Latina. gência e de divergência, mas reconhe- ção, que não se confunde com inves-
“Nos últimos anos, com exceção de ço uma absoluta convergência de inte- timentos no segmento industrial. Te-
2000, a balança comercial tem sido favo- resses sobre esta questão com a admi- mos necessidade de um critério sele-
rável ao Brasil, mas isto não é um modelo nistração do Ministro Roberto Rodri- tivo, extremamente sutil e delicado,
a ser seguido. Acredito que o Brasil deve gues. O governo acatou uma sugestão para não perdermos o bonde da his-
se abrir a aquisições de tecnologia russa, da UNIDA de agregar valor ao peque- tória dos investimentos estrangeiros
principalmente no setor de nanotec- no produtor de cana sob a forma de em nosso país.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 23


PAINEL I

região Norte-Nordeste. Somos competiti-


vos com 140 países produtores. Temos tido
oportunidade de recepcionar delegações
estrangeiras que vêm analisar de perto o
que está ocorrendo. Temos convicção de
que a Rússia é bem-vinda na condição de
investidor no setor, um investidor privile-
giado que já tem um ambiente de parceria
absolutamente secular com o Brasil.”
Segundo Gregório Maranhão, esta é
uma situação que precisa ser estimulada
para suprir o mundo de açúcar e, princi-
palmente, de álcool, e isto pode ser reali-
zado em parceria com a Rússia, um dos
maiores produtores e consumidores de
combustível do mundo.
“Precisamos de parceiros, particular-
mente dos russos, companheiros nesta Rogério Fernando Lot: moderador do Painel I.
saga açucareira há séculos. Em nome da
“ No passado, ancoramos no
açúcar; no presente e no futuro,
estamos ancorados nas
Unida, que reúne 20 mil pequenos pro-
dutores do Nordeste canavieiro em nove
estados, digo: sejam muito bem-vindos,
ras para a Rússia quadruplicaram. Segun-
do Fábio Martins Faria, isto significa que
nossos exportadores souberam explorar
perspectivas do álcool
GREGÓRIO MARANHÃO. ” quer na base primária do processo agríco-
la ou na industrial.”

Comércio bilateral
a potencialidade do mercado russo. As ex-
portações russas para o Brasil também
cresceram, embora exista, ainda, uma gran-
ceiro. O açúcar que exportamos para a de potencialidade a ser explorada neste
Rússia tem como contrapartida o fertili- Em seguida, foi a vez da exposição do sentido.
zante que importamos dela. Hoje, produ- Diretor do Departamento de Planejamen- “Quero ressaltar que, apesar do cres-
zimos 380 milhões de toneladas de cana- to e Desenvolvimento do Comércio Ex- cimento do comércio bilateral, temos uma
de-açúcar, o que nos torna o maior produ- terior do MDIC, Fábio Martins Faria, que participação pouco expressiva. Em 2005,
tor de cana, açúcar e álcool e o maior ex- fez uma abordagem da perspectiva mate- as exportações brasileiras para a Rússia re-
portador de açúcar e de álcool do mundo. rial do comércio bilateral. presentaram apenas 2,4% das importa-
No passado, estivemos ancorados no açú- “A Rússia e o Brasil fazem parte do gru- ções totais russas, ou seja, o Brasil ainda é
car; no presente e no futuro estamos anco- po apelidado de BRIC (Brasil, Rússia, Ín- um fornecedor pouco expressivo para o
rados nas perspectivas do álcool, face ao dia e China), países emergentes com gran- volume das importações russas. A Rússia
petróleo finito no cenário internacional. O de potencialidade de crescimento. A Rússia também se revelou um fornecedor pou-
álcool é um combustível limpo, renovável, tem experimentado taxas de crescimento co expressivo nas importações brasilei-
e projetamos uma produção em torno de muito significativas e temos grandes pos- ras, que cresceram 17% no ano passado,
520 milhões de toneladas de cana-de-açú- sibilidades de desenvolvimento de parce- ao passo que as exportações russas para o
car para os próximos cinco anos”. rias. Quero chamar atenção para o fato de Brasil tiveram um ligeiro declínio. A ex-
O cultivo da cana-de-açúcar ocupa, a Rússia ter saltado da posição de 17º para portação russa não acompanhou o cresci-
hoje, no Brasil, cerca de 5,5 milhões de 14º maior exportador do mundo, em mento global que se deu nas importações
hectares de terras cultiváveis e, em breve, 2004. Não temos ainda os números de brasileiras.”
serão 7 milhões de hectares ocupados, 2005, mas, com a evolução do preço do Em 2006, os dados da balança comer-
principalmente nas novas fronteiras agrí- petróleo, é provável que a Rússia tenha cial, até a terceira semana de fevereiro, quan-
colas, como o estado do Maranhão. desbancado alguns países e galgado mais do foi realizado o seminário, revelaram um
“Temos que preparar e fertilizar estes algumas posições no ranking de maiores crescimento das importações brasileiras,
solos e isto, certamente, vai repercutir no exportadores mundiais. O Brasil se man- mostrando que o campo se amplia, até
nosso comércio bilateral tradicional: açú- teve na 25ª ou 23ª posição, ainda não te- mesmo pelo barateamento do produto
car e fertilizantes. Hoje, praticamos no Bra- mos um resultado fechado.” importado devido ao fortalecimento da
sil os dois menores custos de produção de Em cinco anos, nossas exportações moeda brasileira.
açúcar do mundo. O primeiro menor cus- para o mundo dobraram, enquanto, neste Em 2004, a Rússia importou US$ 132
to fica na região Centro-Sul e o segundo na mesmo período, as exportações brasilei- milhões em móveis e o Brasil praticamente

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


não exportou móveis para a Rússia. No se- antiga União Soviética importava muito
tor de suco de frutas, a Rússia importou US$ café brasileiro, mas as condições de com-
51 milhões e o Brasil exportou muito pou- pra eram desfavoráveis. O importador
co. No setor de pneumáticos, a Rússia im- russo pagava entre 60 e 70 dias antes da
portou US$ 213 milhões e o Brasil nada mercadoria ser embarcada e o transporte
exportou. Aos interessados em saber mais levava outros 60 dias. Quando a União
informações sobre estes dados, Fábio Soviética se desfez, o setor privado entrou
Martins Faria aconselhou consultar o site do em cena na compra do café solúvel e as
MDIC (www. desenvolvimento.gov.br). condições mudaram.
Em seguida, encerrou seu pronuncia- “Nós avisamos várias vezes aos expor-
mento afirmando: “acho que o Brasil e a tadores de café brasileiros que a situação
Rússia têm grandes oportunidades a serem ia mudare, de fato, mudou. Os pequenos
exploradas. Apenas identifiquei algumas.” exportadores europeus começaram a
vender fazendo entreposto em Moscou.
Crescimento do comércio Ninguém precisava mais pagar com tanta
O moderador passou, então, a palavra antecedência, e o Brasil começou a per-
ao Diretor-Geral da Ostalco do Brasil, der o mercado. Para evitar isso, os expor-
Aleksander Medvedovsky, que começou tadores brasileiros começaram a vender
analisando o comércio bilateral entre os
dois países.
“Em 2005, o Brasil exportou US$ 2,92
“ Hoje, o Brasil está diferente,
com empresas mais fortes
café mais barato, o que significa qualidade
mais baixa e, ao invés de um problema,
começaram a ter dois.”
bilhões para a Rússia. Deste total, US$ 2,7
bilhões foram produtos agrícolas. Além dis-
to, cerca de 4,5% de todos os produtos bra-
no comércio exterior
ALEKSANDER MEDVEDOVSKY ” Passada esta crise, há alguns anos, o café
brasileiro começou a se recuperar no
mercado russo, mas ainda não reconquis-
sileiros exportados para a Rússia, tirando o apenas, 0,3%.” Segundo Aleksander tou a posição que tinha anteriormente.
café solúvel e o frango, vão diretamente para Medvedovsky, não consta que nenhuma Segundo o Diretor-Geral da Ostalco no
a mesa do consumidor. Isto significa que os empresa brasileira tenha demonstrado in- Brasil, esse exemplo mostra que o nosso
outros 95,5% vão para outros clientes, ou teresse em entrar nesta área, mas um se- comércio com a Rússia deve evitar a per-
seja, a indústria alimentícia russa.” tor em que o Brasil está vendendo muito da de oportunidades importantes. “Para
O Diretor-Geral da Ostalco informou é a carne, seja ela de frango, boi ou porco. isso, precisamos ter sustentação e investi-
que o setor alimentício é o que tem apre- “A Rússia aumentou a sua importação mentos, tanto na indústria agrícola como
sentado o maior crescimento, desde 1992. de carne, em 2005, em 34%, dos quais o em outros setores.”
Cerca de 60% de todos os investimentos Brasil vendeu US$ 1,8 bilhão. É uma cifra Hoje, o Brasil está numa situação dife-
estrangeiros diretos feitos na Rússia têm fantástica! Esta situação deve melhorar ain- rente de dez anos atrás. Segundo informa-
sido destinados à indústria alimentícia, cujo da mais, pois o governo russo decidiu au- ções do Banco Central, as empresas bra-
crescimento médio tem sido de 25% ao mentar o consumo médio de carne na sileiras estão mais consolidadas, mais for-
ano. As empresas que se especializaram Rússia de 55 kg per capita para 70 kg per tes para se colocar no mercado internaci-
em alimentos de maior preço têm tido capita, porém, e sempre tem um porém, a onal. No entanto, segundo Aleksander
um crescimento anual de 40%. imprensa, o governo e a sociedade russa Medvedovsky, é preciso avançar mais.
“Vamos analisar dois setores da indús- estão discutindo um plano de mudanças “Obviamente, os dois governos podem
tria alimentícia: sucos e carnes. Os sucos drásticas no setor agroindustrial. O gover- resolver diversos assuntos, mas o papel
representam somente 0,03% das expor- no e o setor privado vão aplicar muitos bi- do empresariado é muito grande. O Mi-
tações brasileiras de produtos agrícolas lhões de dólares no financiamento de in- nistro Pratini de Moraes, brilhante como
para a Rússia. A indústria da Rússia pro- dústrias agrícolas e na compra de moder- sempre, falou sobre falta de conhecimen-
duz, anualmente, 1,5 bilhão de litros de nos equipamentos que farão a indústria rus- to, mas quero discordar, pois, hoje, temos
sucos de vários tipos, com crescimento sa mudar em cinco anos. Isto poderá com- muita informação na Internet e na impren-
de 6% ao ano, de 1994 até hoje. Os sucos prometer a venda da carne brasileira.” sa. O que falta é a especialização. As em-
importados acabados, prontos para uso, presas brasileiras ainda não tomaram a
representam só 4,5%. O restante são pro- Café solúvel decisão de se profissionalizar em relação a
dutos importados concentrados que che- Aleksander Medvedovsky alertou que, determinados mercados.”
gam à indústria russa e são processados. A se não nos prepararmos para essas mu- Em seguida, Aleksander Medvedovsky
Rússia importa 32% do suco de laranja danças, pode acontecer o mesmo que falou da trajetória da Ostalco no Brasil,
que consome, dos quais o Brasil vendeu, ocorreu com o café solúvel brasileiro. A que se instalou no país em 1992.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 25


P A I N E L II

Cooperação nas áreas de petróleo


e infra-estrutura de transportes
Além de comprar e de vender,
é preciso intercambiar, agregar
valores e entendimentos que
resultem numa maior aproxima-
ção entre os povos. Esta foi uma
das principais conclusões do Pa-
inel II do Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investi-
mentos Brasil-Rússia, dedicado
a oportunidades de investimen-
to, parcerias público-privadas –
PPPs, e à cooperação nas áreas
de energia, petróleo e infra-es-
trutura de transportes, que
teve a presidi-lo Gilberto Ra-
Andrei Potemkin e o Diretor-Geral da Agência Nacional de Petróleo, Deputado Haroldo Lima.
mos, Presidente da Câmara de

G
Comércio, Indústria e Turismo ilberto Ramos manifestou-se hon- de cooperação com a associação de pe-
rado em presidir uma mesa com a quenas e médias empresas da Federação
Brasil-Rússia. O moderador foi presença do Embaixador Sebastião Russa, o que, a seu ver, é altamente pro-
o diplomata Sebastião do Rego do Rego Barros, o representante brasilei- dutivo para ambos os países, pois, se a
ro na então União Soviética quando Gil- Rússia é admirada pelo progresso de sua
Barros, ex-Embaixador do Bra- berto ali residiu, no período de transição tecnologia, o Brasil também tem muito o
sil na Rússia e ex-Diretor da do socialismo para o capitalismo. Sebastião que vender nesse campo. Segundo Gil-
do Rego Barros e sua esposa aprenderam berto Ramos, é preciso intercambiar, agre-
Agência Nacional de Petróleo – o idioma russo, o que, em sua opinião, gar valores e, mais do que comprar ou
ANP. Foram expositores o De- configura uma lição: a de que não se pode vender, há que firmar parcerias.
fazer relação bilateral sem que haja aproxi-
putado Haroldo Lima, Diretor- mação e compreensão entre as pessoas. A Desenvolvimento da Rússia
Geral da Agência Nacional de propósito, o presidente do painel invocou O presidente do painel anunciou, em
Petróleo – ANP; Andrei Potem- o testemunho do Deputado Haroldo Lima, seguida, alguns dados numéricos sobre o
com quem viajara a Moscou, em junho de desenvolvimento da Rússia, cujo PIB cres-
kin, Diretor Administrativo da 2005, para negociar compra de petróleo, ceu 5,4% em 2005, atingindo cerca de
Rubrasgeo Engenharia, uma pois a Rússia é a maior produtora mundial US$ 581 bilhões.
de gás e a sexta de petróleo, sendo que, A produção industrial aumentou 4% em
subsidiária da Neftegasgeodesia nesse item, sua produtividade ultrapassa a relação a 2004 e chegou a US$ 140,8 bi-
no Brasil; e Ednaldo Pinheiro da própria Arábia Saudita. lhões. No mesmo período, as exportações
Da visita de 2005, da qual participou cresceram 133,9% (sobretudo, graças ao
dos Santos, Gerente Nacional de uma comitiva de empresários e de funcio- aumento do preço do petróleo), enquanto
Logística de Carga da Infraero. nários da Petrobras, resultou um acordo as importações aumentaram 128,5 %.

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Gilberto Ramos referiu-se, ainda, às Produtos com perspectivas de incremento no comércio bilateral
reservas de ouro e divisas que, em outu- DO BRASIL
bro de 2005, perfaziam US$ 139,5 bilhões
Maquinas (petróleo, açúcar e álcool, benef. madeira, caixas eletr.)
e lembrou que, em 2005, o país, que atu- Serviços (engenharia, arquitetura, softwares, etc.)
almente faz parte do G-7 + 1 (um dos Confecções femininas / Grifes de alta costura
grupos econômicos e políticos mais im- Calçados de couro de alta qualidade
portantes do Planeta), antecipou seus pa- Rochas ornamentais / Produtos e materiais cerâmicos
gamentos e praticamente quitou sua dívi- Esquadrias e produtos de madeira e metal para edificação
da junto ao Clube de Paris. Automóveis, partes, peças e utensílios
Relativamente ao intercâmbio comer- Produtos eletrônicos
cial Brasil-Rússia, Gilberto Ramos obser- Móveis de alta qualidade
vou que houve, de 2004 para 2005, um Frutas tropicais
crescimento de 60%, atingindo um mon- Cosméticos
Aeronaves executivas (pequeno e médio porte)
tante total de mais de US$ 3,6 bilhões, cor-
Soja e sub-produtos
respondentes a quase US$ 3 bilhões de
Carnes – bovina, suína e avícola
exportações brasileiras e a US$ 722 mi- Turismo e cultura
lhões de importações brasileiras. Ao co-
mentar as relações bilaterais, o presidente DA RÚSSIA
do painel exaltou o crescimento do supe- Altas tecnologias (naval, metalúrgica, aeroespacial, etc.)
rávit brasileiro (hoje calculado em US$ 2,2 Genéricos farmacêuticos
bilhões), mas lamentou que ainda não es- Titânio metálico e suas manufaturas
Veículos pesados e motocicletas
tejamos construindo uma via de mão du-
Carvão e coque (metalúrgico e combustível)
pla, sem o que, em sua opinião, não se faz
Equipamentos auxiliares de transporte e transmissão para mineração e portos
uma relação forte e duradoura. Ele ressal- Papel de jornal
tou que é de se desejar da parte dos em- Vagões e trilhos ferroviários
presários brasileiros uma atuação mais ativa Equipamentos – geração/ transmissão de energia elétrica
e uma atitude de quem corre atrás das opor- Aeronaves militares e cargueiras (de grande porte)
tunidades, em vez de ficar esperando que Equipamentos e materiais de defesa
elas apareçam. Lembrou, também, que a Turismo e cultura
Rússia quer investir no Brasil e transferir Fonte: Câmara Brasil-Rússia de Comércio Indústria e Turismo

tecnologia para ajudar o nosso desenvolvi-


mento, mas que as relações do comércio rimenta, atualmente, um desenvolvimento aparece em sexto lugar na lista mundial
exterior russo com o BNDES carecem de em seu setor de construção civil. dos maiores emissores de passaportes tu-
mais dinamismo, de maior agilidade. rísticos, mas o número dos russos que se
“Em que áreas podemos fomentar o Automóveis e gasodutos dirigem ao Brasil é representado, apenas,
comércio e desenvolver parcerias com a O presidente do painel expressou sua por um traço percentual, o que nos priva
Rússia?”, perguntou Gilberto Ramos. A decepção por constatar que, em setores de conhecer mais de perto o que de me-
seu ver, nos setores de bens de capital, de em que o Brasil se destaca, como os de lhor existe naquele país: o potencial hu-
máquinas, de petróleo, de destilação de automóveis, móveis de qualidade, frutas mano, que também poderia ser explora-
álcool, de processamento de açúcar, no tropicais e cosméticos (de cuja matéria- do através do intercâmbio acadêmico.
setor espacial e, também, no de serviços, prima a natureza do Brasil é tão rica), nada Solicitando aos empresários mais
em que os dois países mal começaram a vendamos para a Rússia. agressividade comercial e espírito empre-
conversar. Lembrou, ainda, que urge man- Gasodutos, trilhos ferroviários, vagões, endedor, Gilberto Ramos concluiu, anun-
ter uma parceria com as empresas russas veículos pesados, mencionou Gilberto ciando que a Câmara de Comércio Brasil-
de geração e transmissão de energia elé- Ramos, são apenas alguns dos produtos Rússia está abrindo um curso de russo
trica, já que o país tem duas vezes o tama- que poderíamos importar da Rússia, com franqueado a todos os interessados.
nho do Brasil e desenvolveu um know-how vantagem. Ao lado disso, acrescentou que,
que lhe permite atender a grandes deman- no comércio já existente, produtos como Economias parecidas
das em lugares distantes. aeronaves, cargueiros e soja não alcançam, A palavra foi, então, passada ao mode-
A área das confecções femininas foi tam- ainda, índices dignos da grandeza econô- rador do Painel II, Embaixador Sebastião
bém citada como promissora, ao lado das de mica dos dois países. do Rego Barros, que disse estar em dúvi-
rochas ornamentais, cerâmica, esquadrias e Lamentando a falta de intercâmbio tu- da sobre o que fazer, já que fora ali chama-
materiais de construção, pois a Rússia expe- rístico, o presidente informou que a Rússia do para exercer funções de moderador,

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 27


P A I N E L II

quando, em seu íntimo, ele não desejava Ao referir-se à área energética, o expo- Brasil da Neftegasgeodesia, que iniciou
moderar nem um pouco o entusiasmo sitor reiterou o que já ouvira no desenro- sua participação comunicando à assistên-
demonstrado por Gilberto Ramos, cujos lar do seminário: que, no atual surto de cia a presença no seminário do senhor
anos de trabalho em favor da união dos desenvolvimento russo, os principais Yury Piskunov, diretor-geral da empre-
dois países permitem-lhe, em sua opinião, componentes são o gás e o petróleo, de sa. A seguir, apresentou as características
ser intenso em defesa dessa causa. Em se- que a Rússia tem reservas abundantes. da Neftegasgeodesia, cuja sede está em
guida, o moderador passou a palavra ao Pediu licença para lembrar que, também São Petersburgo, um dos maiores cen-
primeiro expositor, Deputado Haroldo no Brasil, o setor de gás e petróleo vem tros culturais, científicos e tecnológicos
Lima, Diretor-Geral da Agência Nacional experimentando um notável crescimen- da Rússia. O expositor acrescentou, ain-
de Petróleo – ANP. to, um boom menor do que o russo, mas da, que a Rússia, possui, hoje cerca de
bastante expressivo, da ordem de 316%. 150 mil quilômetros de gasodutos e 50

“ Tecnologia, equipamento
e financiamento: três itens que
Haroldo Lima lamentou que esses se-
tores, em crescimento lá e aqui, não tro-
quem experiências e produtos, pois não
mil de oleodutos e que a construção e a
ampliação dessa rede requer um conhe-
cimento específico de engenharia geo-
a Rússia tem e o Brasil precisa
D E P U TA D O H A R O L D O L I M A N ” existe um significativo comércio da nafta e
de outros derivados, inclusive fertilizantes.
Disse também que a Rússia compra muito
désica e geológica e de serviços de
hidrologia, topografia, hidrometrologia,
biofísica, ciências ambientais e muitos
O deputado começou mencionando açúcar do Brasil – produto que representa
que a economia russa tem observado, nos
últimos anos, índices de crescimento que
chegam, algumas vezes a 8%, enquanto, no
25% de nossa pauta de exportação – mas
não o álcool, que poderia ser importante
para a melhoria do combustível automotivo
“ A Rússia possui, hoje, cerca de
150 mil Km de gasodutos
Brasil, “há mais de vinte anos mourejamos
no pantanal do subdesenvolvimento, sem
conseguirmos chegar a um crescimento
daquele país. Segundo o deputado, há uma
demanda reprimida de etanol na Rússia que
poderia ser superada com a importação do
e 50 mil Km de oleodutos
ANDREI POTEMKINN ”
efetivo, com vergonhosos índices, em tor- álcool brasileiro. Em seguida, manifestou a outros saberes que sua empresa detém.
no de 2 a 2,5%”. Lembrou depois que pa- opinião de que o Brasil deveria estabelecer Relatou também que a Neftegasgeodesia,
íses que têm o mesmo perfil que o nosso, parcerias com os russos no transporte de fundada nos anos 70 do século XX, es-
como a Índia e a China, vêm no mesmo gás, que implica em tecnologia, equipamen- pecialmente para fornecer acompanha-
caudal de crescimento, enquanto nós per- to e financiamento, três coisas que a Rússia mento geodésico a expedições russas à
manecemos crescendo pouco, o que, a seu tem hoje em larga vantagem e de que o Antártica, tem, hoje, mais de 600 funci-
ver, é a mais importante questão a ser re- Brasil precisa, dadas as dimensões de nosso onários, possui representações em gran-
solvida pelos brasileiros. Um problema a país e a necessidade de supri-lo de energia, des centros do país e dispõe de uma es-
que deveríamos estar atentos, pois é grave especialmente nas regiões mais distantes e trutura institucional composta por sete
e de resolução difícil. inóspitas. departamentos que executam atividades
Ao abordar as relações russo-brasilei- Segundo o expositor, uma outra ques- ligadas à reconstituição de redes geo-
ras, o deputado lembrou, inicialmente, que tão a ser encarada diz respeito à perfuração désicas, criação de mapas e plantas topo-
há um dado histórico de semelhança em e exploração de gás e petróleo. Ele relatou gráficas, mapeamentos de dutos subter-
ambas as economias: o de que, por dife- que o Brasil realizou, em novembro de râneos, levantamento offshore, criação de
rentes razões, elas se abriram recentemen- 2005, a oitava rodada de blocos de perfura- sistemas de informação geográfica,
te, ao contrário dos países de longa tradição ção e exploração de gás e petróleo, mas, escaneamento de terrenos, criação de
de economia aberta, como França, Ingla- surpreendentemente, a Rússia não se fez modelos digitais tridimensionais etc.
terra e Estados Unidos. Mencionou a títu- presente. Formulando votos de que esses No que diz respeito a trabalhos de en-
lo de exemplo que, em 1990, a participa- problemas em breve sejam superados e genharia associados à ecologia, Andrei
ção da corrente comercial no PIB brasilei- ocorra, então, o tão esperado dinamismo Potemkin assegurou que a empresa reali-
ro era de 11,1%, tendo passado, em 2004, do comércio bilateral entre os dois países, za estudos hidrológicos, hidroquímicos,
a 26,4%, o que demonstra a força da aber- o Deputado Haroldo Lima agradeceu a to- hidrogeológicos; estudos de sedimentos
tura. Disse que isso teve conseqüências no dos e deu por encerrada sua exposição. em bacias hidrográficas; avaliações de flo-
comércio entre os dois países, pois, em ra e fauna; avaliação da contaminação do
2000, a corrente comercial entre Rússia e Gasodutos e oleodutos ar e do solo; controle radiológico e estu-
Brasil era de US$ 1 bilhão, tendo passado a O moderador Sebastião do Rego Bar- dos sobre impacto econômico e social.
US$ 3,6 bilhões em 2005, o que significa ros passou a palavra, em seguida, ao se- Isto significa que ela se responsabiliza por
um crescimento de 360%, que chamou de gundo expositor do painel, Andrei estudos ecológicos em todas as etapas de
“um aumento significativo”. Potemkin, Diretor Administrativo para o realização de seus projetos, principalmen-

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


P A I N E L II

te na fase inicial dos trabalhos. Ressaltou, Perfil da Infraero


ainda, que a Neftegasgeodesia executa todo O moderador do painel, Embaixador
o conjunto de trabalhos para a concretização Sebastião do Rego Barros, passou, então, a
de projetos, começando pela análise de in- palavra a Ednaldo Pinheiro Santos, Ge-
vestimento e prosseguindo com obtenção rente Nacional de Logística de Carga da
da licença, elaboração da justificativa técni- Infraero, que iniciou assegurando que sua
ca e econômica e findando na elaboração intervenção se assemelharia a um sobre-
do processo executivo, no fornecimento vôo, constituindo-se em uma viagem cal-
de documentação para a empresa constru- ma, segura e rápida; um vôo sem turbu-
tora e na inspeção autoral da construção. lências. O expositor começou por definir
O expositor informou, a seguir, que a o perfil jurídico da Infraero como o de
empresa – transformada em sociedade li- uma empresa pública de direito privado,
mitada no ano de 2000 – possui seu pró- de âmbito nacional e vinculada ao Minis-
prio parque de máquinas e equipamentos e tério da Defesa, sendo pública devido a
dispõe de requisitos para executar proje- esse vínculo e ao fato de que seu patrimô-
tos nas mais diversas condições geográficas nio pertence à União; e de direito privado
e climáticas (em montanhas, desertos, pân- porque dispõe de recursos próprios, pro-
tanos e mares), sendo a maior empresa russa venientes de suas receitas.
em serviços de engenharia e nas áreas de Explicou, também, que a empresa pos-
desenvolvimento urbano e rural. sui a infra-estrutura de 66 aeroportos e 32
O expositor ressaltou que a Gazprom, a terminais de carga aérea e disse que sua fina-
principal empresa petrolífera russa, solici- lidade é prover logística tanto para o passa-
tou à Neftegasgeodesia – sua principal
prestadora de serviços – a execução do le-
vantamento geodésico de mais de 30 mil
geiro quanto para a carga, preparando os nos-
sos aeroportos, que são portas de entrada e
de saída para cargas de alto valor agregado.
“A Neftegasgeodesia terá
oportunidade de colaborar com
quilômetros de seus dutos em funciona-
mento há mais de 10 anos. Andrei Potem-
kin assegurou que sua empresa, também,
Informou que 96 milhões de passageiros
passaram pelos aeroportos nacionais em
o desenvolvimento brasileiro
ANDREI POTEMKINN ”
atende a várias firmas russas de recursos Gasoduto Rússia – Turquia
minerais e energia, inclusive a nuclear, pois,
a partir de 2006, ela será a principal res-
ponsável pelo setor de engenharia na cons- Ucrânia Izobilnoye
Izobilnoye
trução de usinas nucleares no país. Disse,
ainda, que a empresa tem reconhecimento
internacional, já tendo prestado serviços à Rússia
Exemplo de obra de grande porte,
Organização das Nações Unidas dentro das da qual participa a Neftgasgeodesia,
exigências formuladas pelas ISO 9001, Dzhugba
e que apresenta características inéditas
14001 e 18001 e que vem participando de na construção de dutos.
grandes empreendimentos, tais como o
oleoduto Sibéria Leste-Oceano Pacífico, o Geórgia
gasoduto do Norte europeu, e o gasoduto Mar Negro
Turquia-Rússia, um exemplo de empre-
endimento que pede soluções inéditas para
resolver problemas como o de garantir a
instalação e manutenção de dutos que atin-
Samsun
gem uma profundidade de 1215 metros
de profundidade.
Finalmente, o expositor afirmou que a Turquia
Nefetgasgeodesia terá no Brasil, onde se Ancara
registrou em 2005, a oportunidade de Extensão – 1213 km
exercer a experiência obtida em seu país Trecho subaquático – 396 km (Profundidade máxima: 1215 m)
de origem e de cooperar para o desenvol- Estação de compressão de 150 MW (Pressão na saída: 250 atm)
Fonte: Neftegasgeodesia Diâmetro – de 1400 mm até 610 mm
vimento brasileiro.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 29


P A I N E L II

Terminal de Campinas, em São Paulo. Terminal de Guarulhos, em São Paulo. Terminal de Manaus, no Amazonas.

MDIC, da Receita Federal e da AEB. Em


2006, começa a operar o projeto piloto
em Confins (MG). Segundo Ednaldo Pi-
nheiro Santos, o ano de 2007 marcará
definitivamente a viabilização da instala-
ção dessas indústrias em complexos
aeroportuários como os de Vira Copos,
Galeão e outros, com possibilidades de
instalação paralela de entrepostos adua-
Terminal de Salvador, na Bahia. neiros industriais. Ele reiterou que a
Infraero tem procurado demonstrar ao
empresariado estrangeiro a infra-estrutu-
ra de que ele pode dispor em seus negó-
cios com o nosso país, com o oferecimen-
to de vantagens competitivas às indústrias
que desejarem se instalar, também, na área
de nossos aeroportos e terminais.
A Infraero trabalha em conjunto com
“ A Infraero fornece toda a
infra-estrutura de apoio o Ministério da Agricultura, a Anvisa e os
transportadores de cargas. A Linha Azul,
ao comércio aéreo brasileiro
EDNALDO PINHEIRO SANTOSN ” Terminal de Curitiba, no Paraná. resultado de uma parceria com a Receita
Federal, garante a liberação de carga em
no máximo seis horas, especialmente nos
2005, a maior parte por Congonhas e Gua- aeroportos de Guarulhos e Vira Copos
rulhos (SP), Brasília (BR), e Galeão (RJ). (SP), Galeão (RJ), Manaus (AM), Curitiba
Em termos de cargas, foram movimentados (PR) e Porto Alegre (RS). Finalmente,
em torno de 1,3 milhão de toneladas, com acrescentou que o diferencial buscado por
os terminais de Guarulhos eVira-Copos (SP) sua empresa é o de poder oferecer tran-
disputando o primeiro lugar, seguidos pelos qüilidade, segurança, tecnologia e quali-
de Manaus (AM) e do Galeão. dade. Esclareceu que a tabela de preços
Ednaldo Pinheiro Santos anunciou que a não sofre alterações desde 1994 e que, se
Infraero disponibiliza toda a infra-estrutura Terminal do Galeão, no Rio de Janeiro. a tarifa de importação é alta, a de exporta-
de apoio ao comércio brasileiro, e relatou ção é bem mais barata, lembrando, ainda,
que os terminais por onde passam 99% da como o dos aeroportos industriais. que já ouviu testemunhos de empresários
carga aérea no Brasil geram uma receita de O expositor informou, ainda, que a que gastam mais de RS$ 1 milhão mensais
aproximadamente US$ 600 milhões/ano, Infraero investiu, em 2005, cerca de R$ com tarifas pagas à empresa, mas não que-
que constituem 31% do faturamento da 600 milhões na modernização, ampliação rem dispensar seus serviços, graças à qua-
empresa. Ele assegurou que, atualmente, a e construção de terminais de carga. Há cin- lidade e à segurança com que são brinda-
empresa tem desenvolvido ações para in- co anos, a Infraero tem incentivado a ins- dos. Ao encerrar sua participação, o ex-
centivar as exportações e passou a atuar mais talação de indústrias em sítios aeropor- positor fez um convite aos presentes para
em parceria com o MDIC, a CAMEX, a tuários (o que está sendo chamado de “ae- que visitem um terminal da empresa e
SECEX e a AEB, colaborando em projetos roporto industrial”), com o apoio do agradeceu a atenção de todos.

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 31
P A I N E L III

Altas tecnologias aproximam os


brasileiros dos russos
Biocombustível e exploração do espaço podem ser moeda de troca
O Painel III do Seminário Bilate-
ral de Comércio Exterior e In-
vestimentos Brasil-Rússia teve
como tema a cooperação no do-
mínio das altas tecnologias, nas
áreas de biocombustível, espaci-
al e nuclear. Foi presidido pelo
Primeiro Vice-Presidente da Fe-
deração das Câmaras de Comér-
cio Exterior – FCCE, Paulo
Fernando Marcondes Ferraz;
teve como moderador e pro-
nunciamento especial o Secretá-
rio de Comércio Exterior do Mi-
nistério do Desenvolvimento, In-
dústria e Comércio Exterior –
MDIC, Armando Meziat; contou
com exposições do Superinten-
Armando Meziat: exportação brasileira inclui produtos sofisticados como aviões e tratores.
dente de Abastecimento da

O
painel foi aberto com um pronun- Inácio Lula da Silva. Nosso objetivo, para
Agência Nacional de Petróleo – ciamento especial de Armando 2006, é um crescimento de 12% em rela-
ANP, Roberto Ardenghy; do re- Meziat, ao afirmar que, nos últi- ção a 2005, e tudo indica que esta meta
presentante do Conselho da Câ- mos anos, o comércio exterior brasileiro tem tudo para ser atingida.”
teve um crescimento expressivo. Ele citou, Em seguida, Armando Meziat passou a
mara Brasil-Rússia, José Carlos especialmente, o ano de 2005, em que as tratar de uma outra tendência: o cresci-
Pimenta Veloso; e do Diretor de exportações brasileiras atingiram o recorde mento da presença e da importância dos
histórico de US$ 118 bilhões, registrando manufaturados no comércio internacio-
Transporte Espacial e Licencia- um aumento de 122% sobre o ano anterior. nal brasileiro. Segundo ele, hoje, entre os
mento da Agência Espacial Bra- “Em 2005, tivemos o maior saldo da principais produtos brasileiros de expor-
história do Brasil: US$ 44,7 bilhões, e uma tação, encontram-se os manufaturados,
sileira – AEB, e Vice-Presidente corrente comercial acima de US$ 190 bi- sendo que alguns são caracterizados por
do Grupo de Trabalho Conjunto lhões, ou seja, nos últimos 12 meses, su- uma alta intensidade tecnológica. Em
Brasil-Rússia, João Luiz Filguei- peramos a marca dos US$ 120 bilhões. 2004, o percentual dos manufaturados nas
Isto significa que as exportações dobra- nossas exportações foi de 54,9%; em
ras de Azevedo. ram nos três anos do governo de Luiz 2005, passou para 55,1%.

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


“Buscamos romper as barreiras dos Evolução do comércio exterior brasileiro
60% em produtos manufaturados e, para
chegar lá, estamos fazendo um trabalho, Doze meses – 1996 a 2005 e Fev–2005/Jan–2006 (US$ milhões)
200.000
em longo prazo, de agregação de valor na Fonte: MDIC
194.856
exportação brasileira. Entre os 12 princi- 175.000
pais itens exportados, atualmente, pelo
Brasil, pode-se notar que não se encontra 150.000
mais o café, que durante muitos anos foi o 125.000
principal produto de exportação brasilei-
120.135
ra. Neste cenário, é significativo verificar 100.000
que o produto de maior exportação – o
75.000
material de transporte – inclui tratores, 74.721
caminhões, automóveis e aviões; itens que 50.000
empregam alta tecnologia.” 45.414
25.000
Novos destinos
0
Ao analisar a situação atual do comér-
cio exterior brasileiro, Armando Meziat -25.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 Fev-05
Fev-05
constatou que há uma constante transfor- Jan-06
mação dos destinos das nossas exporta- Exportação
Expor tação Importação
Impor tação Saldo Corrente de Comércio
ções e que mercados não tradicionais,
como a Europa Oriental e a África, têm Exportação dos setores industriais por intensidade tecnológica (*)
apresentado um crescimento muito gran-
de. Segundo ele, “isso é fruto de todo o Participação %
trabalho que tem sido realizado dentro do 35,7

Brasil, e que inclui tentativas de expandir 32,5


30,8 29,7
o comércio por meio de encontros espe-
cíficos com cada um dos países.” 24,2
Armando Meziat observou que 51% 20,7
das empresas exportadoras brasileiras são
14,4
micro e pequenas, mas todo o montante
por elas exportado não atinge mais do que 9,3
2,6%. Este dado o leva a concluir que há
uma necessidade de “desconcentrar a par-
ticipação nesta área, pois, atualmente, as
grandes empresas representam quase Indústria de alta Indústria de média- Indústria de média- Indústria de baixa
90% das exportações brasileiras.” tecnologia alta tecnologia baixa tecnologia tecnologia
O Secretário de Comércio Exterior do (*) Critério da OCDE 2005 2004 Fonte: MDIC
MDIC analisou, ainda, a participação do
comércio exterior no Produto Interno
Bruto – PIB. ritmo superior ao do comércio mundial, cou, por um lado, um crescimento de qua-
“Verificamos que, em 2004, a corrente possamos ganhar mais espaço no cenário se 76%, bem superior ao crescimento das
de comércio chegou a 24,6% do PIB bra- internacional. Verificamos, também, um vendas médias brasileiras no geral. Por
sileiro. Esperamos, em 2005, chegar a algo crescimento das importações, que é o re- outro lado, a importação caiu 10% e o sal-
bem próximo dos 30% do PIB. Quanto à flexo da retomada do crescimento da nossa do comercial aumentou por causa disto.
participação das exportações brasileiras economia.” “Precisamos trabalhar para fazer cres-
no comércio exterior mundial, a nossa cer o comércio bilateral entre Brasil e
estimativa é de que ela alcance 1,15% em Carne, açúcar e fumo Rússia. Em 2004, a Rússia ficou em déci-
2005, mostrando já um crescimento, por- Em seguida, Armando Meziat passou a mo quarto lugar no ranking das exporta-
que, historicamente, a participação do analisar o comércio bilateral entre Brasil ções brasileiras e, em 2005, passou para o
Brasil sempre ficou abaixo de 1%. A ten- e Rússia. Segundo ele, em 2005, as ex- décimo lugar, obtendo um aumento de
dência é que, nos próximos anos, com o portações brasileiras para a Rússia chega- 76% na participação global do comércio
crescimento das nossas exportações em ram a quase US$ 3 bilhões, o que signifi- exterior brasileiro. Neste cenário, a parti-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 33


P A I N E L III

cipação dos produtos básicos cresceu Matriz Energética Brasileira


90%; os semi-manufaturados aumentaram
sua participação em 50% e os manufatu-
rados em 71%. Há uma concentração de
Álcool ÁLCOOL
tal ordem de exportação de carnes, açú- GNV 8,8%
2,4% Hidratado
car e de fumo que poderíamos dizer que, Óleo Diesel 6,6% Gasolina C
nestes três produtos, se resume pratica- 55,7%
35,3%
mente toda a exportação brasileira para a
Rússia. Precisamos crescer em outras áre-
as. Acreditamos que produtos como avi-
ões, automóveis e tratores, que vendemos
para o mundo inteiro, também possam ser
vendidos para a Rússia.”

“ Existe um campo muito


grande para a Rússia
Substituição por Biodiesel
2% a 5% => 1,1% a 2,8%
Parcela do Álcool
6,6% + 8,8% = 15,4%
vender bem mais ao Brasil
A R M A N D O M E Z I AT N ” (*) Toda gasolina comercializada no Brasil tem 25% de álcool. Fonte: MME/2004

Produção e comércio externo de combustíveis/2005


Com a queda das importações brasilei-
ras, a Rússia exportou apenas US$ 722 Combustível Produção Importação Exportação Importação Exportação
milhões para o Brasil, e teve, segundo Ar- 3 3 3
mil m mil m mil m % da % da
mando Meziat, uma participação de apenas demanda produção
1% nas importações globais brasileiras. Os
russos vendem ao Brasil, principalmente, Gasolina A 20.256 - 2.831 - 14%
adubos, fertilizantes e carvão mineral. Diesel 36.370 2.371 - 6% -
“Existe um campo muito grande para a Álcool 15.153 - 2.600 - 17%
Rússia vender mais para o Brasil”, conti-
nuou Armando Meziat. “Hoje, o Brasil Dependência
participa de forma modesta no comércio Fonte:ANP Auto-suficiência
exterior russo, tanto na importação quan-
to na exportação. Os principais fornece-
dores da Rússia são Alemanha, Ucrânia e “O que me traz aos senhores, hoje, aqui, os produtores de biodiesel como as usi-
China. Como conclusão, acho que existe é fazer uma pequena apresentação sobre o nas de álcool. Estes agentes estão no mes-
um grande campo a ser percorrido, na segmento dos biocombustíveis, mostran- mo segmento de uma refinaria, de uma
medida em que há um potencial expres- do que tipo de ação governamental está petroquímica, de uma produtora de gaso-
sivo na nossa relação bilateral. Alguns sendo adotada no Brasil e que formas de lina, de óleo diesel e de todos os deriva-
mercados, até realmente, pouco represen- cooperação, oportunidades de investi- dos de petróleo. Deste segmento partici-
tavam no comércio brasileiro e, hoje, sur- mentos, ou mesmo trocas de informações pam, também, todos os importadores que
gem como grandes parceiros, como é o poderíamos abrir com a Rússia.” trazem os produtos do mercado externo.
caso da China. Acredito que isto também Em seguida, o conferencista se disse Toda esta linha fornece combustível a um
possa ocorrer com a Rússia. As bases es- muito à vontade para tratar do tema, por distribuidor, que depois o distribui ao
tão lançadas e existem diversos projetos e possuir quase 20 anos de serviço público, mercado retalhista, seja por meio de um
iniciativas em andamento. Cabe a nós sendo mais de dois terços deles dedica- posto revendedor, de um atacadista, de um
torná-las realidade.” dos ao Ministério das Relações Exterio- comprador de combustíveis de aviação,
res. Segundo ele, o diplomata é um ser ou de um transportador revendedor
Mercado de combustíveis polivalente que precisa discutir os mais retalhista – chamado de TRR. Finalmen-
Paulo Fernando Marcondes Ferraz pas- variados tipos de assunto, dentre os quais te, ele chega aos consumidores finais. Nada
sou a palavra a Roberto Ardenghy, Supe- os biocombustíveis. impede que se possa importar, diretamen-
rintendente de Abastecimento da Agência “No fluxo de abastecimento de com- te, do mercado externo. Uma grande em-
Nacional de Petróleo – ANP. bustíveis no Brasil, estão presentes tanto presa, como a Vale do Rio Doce, por

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


exemplo, faz isto para alimentar suas lo- “Em 2005, exportamos US$ 767 mi-
comotivas, mas a regra geral é que todo lhões, o equivalente a 2 bilhões de litros
mundo passe pelo distribuidor.” de álcool. Em todo o mundo, já é uma
Segundo Roberto Ardenghy, o merca- realidade a utilização do álcool como
do distribuidor é bastante diversificado e potencializador da gasolina. Ao ser mistu-
dinâmico e, no Brasil, existem cerca de rado a ela, o álcool tem o poder de au-
35 mil postos de gasolina e 276 distribui- mentar-lhe a octanagem, melhorando o
doras de combustíveis líquidos. desempenho do combustível nos moto-
Isto implica em toda uma logística de res. Não é só uma questão de diminuir as
distribuição que inclui uma estrutura bási- emissões de gases nocivos na atmosfera,
ca e uma outra secundária, composta de mas de aprimorar o desempenho. Pratica-
ferrovias, hidrovias e dutos, que é bastante mente, todos os países estão desenvolven-
extensa e percorre o território nacional. do programas de utilização específica do
“Há, no entanto, algumas deficiências álcool. Isto provocou um quadro de es-
logísticas no Brasil. Algumas regiões não cassez que fez com que o preço do álcool
possuem boas estruturas de abastecimen- subisse de US$ 207 o m³, em 2005, para
to, o que exige grandes investimentos. US$ 567, em 2006. Internamente, o pre-
Neste momento, por exemplo, a Petro- ço praticado no Brasil tem uma defasa-
bras está desenvolvendo um projeto de gem de US$ 70 em relação ao do merca-
grandes dutos para transportar o álcool do externo. Por isto, é mais vantajoso, hoje,
industrial produzido na região de Goiânia para o produtor, vender no mercado ex-
até Paulínia, no interior de São Paulo. Será terno do que entregá-lo ao mercado in-
um ‘álcoolduto’, para evitar que este pro-
duto tenha de ser transportado em cami-
terno.”
Roberto Ardenghy informou, ainda,
“ Os carros brasileiros estão
perfeitamente adaptados ao uso
nhões ou pelo modal ferroviário.”

Dependência x Independência
que o Brasil tem tradição e experiência no
uso do álcool como combustível e, por
isto, a ANP tem recebido diversas delega-
do álcool como combustível
ROBERTO ARDENGUYN ”
Com relação ao mercado externo, o ções estrangeiras que vêm constatar e co- “O consumidor brasileiro pode che-
superintendente da ANP afirmou que exis- nhecer a experiência brasileira. gar num posto e dizer: ‘ponha R$ 50,00
te, hoje, um superávit de gasolina no Bra- “Quando nós informamos que a gaso- de álcool e R$ 50,00 de gasolina’ e o
sil. Em 2005, exportamos 2,8 milhões lina brasileira comum tem 25% de álcool, motor se adapta a esta mistura, pois pos-
de m³ de gasolina. Por outro lado, tive- a tendência de alguns visitantes é contes- sui uma flexibilidade muito grande. Fala-
mos que importar 6% do diesel consu- tar, inclusive tecnicamente, esta informa- se, hoje, em motor tri flex, que roda, tam-
mido em nosso território. ção. Os químicos dizem: ‘mas não é possí- bém, com gás natural como terceiro ele-
“Isto revela justamente o problema vel! Como um país como o Brasil tem mento desta equação, o que dá ainda mais
brasileiro. A matriz do nosso transporte esta quantidade de álcool na gasolina e ela liberdade de troca entre os produtos. Os
está muito centrada no óleo diesel e te- funciona?!’ No entanto, esta é a realidade, carros flexíveis são, atualmente, uma gran-
mos que tentar diminuir a nossa depen- porque os motores brasileiros estão tão de vedete no mercado de automóveis do
dência do mercado externo. Neste cená- adaptados que a mistura de álcool, que Brasil. Por conta da demanda e da situação
rio, o álcool tem um papel importante: começou com 4,5% em 1977, está em favorável do mercado, hoje, 89 unidades
nos abastecemos totalmente deste com- 25% desde 2002. Com ela, os carros ro- produtoras de álcool estão sendo implan-
bustível e cerca de 17% do álcool que dam de maneira bastante eficiente, e o ál- tadas em todo o Brasil. Grande parte dos
produzimos, em 2005, já foi exportado.” cool combustível já está consolidado para projetos está no Oeste de São Paulo, em
Segundo Roberto Ardenghy, nos úl- ser usado junto com a gasolina.” Minas Gerais e em Goiás, com uma ver-
timos anos, a produção de cana-de-açú- Em seguida, Roberto Ardenghy infor- dadeira expansão da fronteira agrícola.
car tem aumentado significativamente no mou sobre um aumento impressionante na Para os próximos cinco anos, está previs-
Brasil. Isto ocorreu especialmente a par- comercialização dos carros chamados flex to o incremento de 150 milhões de tone-
tir de 2001, principalmente na região fuel, desenvolvidos no Brasil com uma ladas/ano na produção de álcool. Como,
Centro-Sul. Os destaques são os estados tecnologia que, hoje, inclusive, está sendo hoje, o Brasil manipula 380 milhões de
de São Paulo, Mato Grosso e Paraná. Ele exportada e direcionada para o resto do toneladas de álcool, podemos, pratica-
afirmou que, hoje, 70% da produção do mundo. Estes veículos rodam com gasolina mente, aumentar em 50% este número
álcool no Brasil vêm de São Paulo e de ou com álcool, independentemente da quan- nos próximos cinco anos com os projetos
seus estados limítrofes. tidade de gasolina que esteja no tanque. que estão em andamento”.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 35


P A I N E L III

Potencial do biodiesel Matriz de combustíveis veiculares


A segunda parte da apresentação do
Superintendente de Abastecimento da
ANP tratou do biodiesel. Álcool ÁLCOOL
GNV 8,8%
“Há um programa de governo que pre- 2,4% Hidratado
Óleo Diesel 6,6%
vê a inclusão de um percentual de biodiesel Gasolina C
55,7%
35,3%
no óleo diesel brasileiro. Segundo experi-
mentos que foram revelados pela ANP, se
colocarmos até 5% de biodiesel no óleo
diesel, não será preciso adaptar a atual frota
movida a diesel. A Alemanha possui, hoje,
um programa para utilizar o biodiesel puro,
mas o motor tem que estar adaptado. No
Brasil, tentamos evitar isto por uma ques-
tão de custo e de modernidade da nossa Substituição por Biodiesel Parcela do Álcool
frota atual, que não teria sentido substituir. 2% a 5% => 1,1% a 2,8% 6,6% + 8,8% = 15,4%
O governo fixou estas metas. Até 13 de
(*) Toda gasolina comercializada no Brasil tem 25% de álcool. Fonte: MME/2004
janeiro de 2008, teremos de implantar o
plano B2 como opcional no diesel brasi-
leiro, ou seja, 2% de mistura obrigatória de
2008 até 2013 e 5% opcional. A partir de mais desenvolvidos. Neste cenário, o
2013, teremos obrigatória 5% em todo o biodiesel é importante, pois diminui a
território nacional.” participação do petróleo, que tem dificul-
O biodiesel é produzido com matéria dades não só ambientais, mas também é
vegetal orgânica, que sofre um processo de um produto finito. Como conclusão, po-
transformação industrial. O Brasil tem um deria dizer que o biodiesel vai ajudar a
grande potencial de produção, já que cultiva melhorar a nossa matriz energética.”
soja, mamona, dendê, canola, babaçu e mui-
tos outros vegetais usados no processo. Para Energia nuclear
obter o biodiesel, é preciso, basicamente, Em seguida, foi a vez do pronuncia-
esmagar uma planta oleaginosa que produz mento de José Carlos Pimenta Veloso, do
um óleo vegetal processado numa planta Conselho da Câmara Brasil-Rússia, que
industrial; ocorre, então, uma reação quími- abordou o tema energia nuclear. Ele foi
ca chamada de transesterificação, que consultor e conselheiro do governo bra-
corresponde a colocar o óleo vegetal no ál- sileiro na área de ciência e começou ex-
cool e retirar a glicerina. pondo sobre as exigências a serem cum-
A ANP não atua na cadeia agrícola, que pridas para o uso da energia nuclear.
está ligada ao Ministério da Agricultura, e “O Brasil, ao que eu saiba, oficial e ex-
sim na especificação das normas para o pro- Pimenta Veloso: formação de quadros tra-oficialmente, é absolutamente cum-
duto industrial, no controle de qualidade e multidisciplinares beneficia a comunidade pridor de todos os tratados internacionais
no abastecimento, distribuição, transpor- brasileira. na área de minerais e energia. O país, hoje,
te, revenda e suprimento do mercado. talvez seja a quarta ou quinta reserva de
Segundo Roberto Ardenghy, existem, O Brasil ainda está muito longe de atingir urânio do mundo, um mineral absoluta-
hoje, cinco usinas de biodiesel funcionan- esta meta e, por isso, existe o projeto do mente importante para a energia nuclear.
do no Brasil, e há cinco outras em fase final governo incentivando, inclusive com isen- O que significa um programa nuclear? Sig-
de regularização. Temos, ainda, 24 projetos ções fiscais, a produção de biodiesel. Se nifica que as exigências internacionais para
em construção, totalizando 34 projetos. tudo continuar dando certo, vamos atin- trabalhar com átomos são absolutamente
“A capacidade de produção ainda é pe- gir a produção de 1 bilhão de litros/ano rigorosas e têm uma característica funda-
quena, em torno de 49 milhões de litros de biodiesel, que é mais do que a meta mental: os países que lidam com energia
por ano, o que representa 10% da meta estipulada. O Brasil tem solo fértil, uma atômica precisam ser detentores de um
de misturar 2% de biodiesel ao diesel co- boa matriz energética e, por isto, conta- conhecimento multidisciplinar.”
mum, que demandaria uma produção de mos com uma situação bastante confortá- Segundo José Carlos Pimenta Veloso, a
800 milhões de litros/ano de biodiesel. vel, muito mais do que a de alguns países capacitação técnica que o Brasil desenvol-

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


veu no seu programa nuclear se espalhou
por muitos outros setores.
“A grande vantagem em termos uma
indústria verticalizada é que se pode capa-
citar setores que vão trazer um grau de
excelência fundamental para o país, não
em quantidade, mas em qualidade, com
reflexos na metalurgia fina, na medicina,
na eletrônica de ponta etc. É preciso pen-
sar, pensar e trabalhar. Se eu tenho urânio
na Bahia, isto não significa nada, ou muito
pouco, mas se levo este urânio para Poços
de Caldas, em Minas Gerais, e o transfor-
mo em combustível para as centrífugas,
isto é um passo importante. As centrífu-
gas brasileiras têm um desempenho pelo
menos 25% mais eficiente do que as cen-
trífugas de outros países. Uma centrífuga
gira a 100 mil rotações por minuto e tem João Luiz de Azevedo: O vôo do cosmonauta brasileiro coincide com a façanha de Santos Dumont.
levitação magnética. Sabem onde apren-
demos a fabricá-las? Aqui no Brasil. ditar no potencial brasileiro. Não deve-
Tecnologias como esta são ativos intangí- O pioneirismo de mos excluir nada. O fóssil vai acabar, o
veis que não pertencem a A ou B, perten- futuro está em outras fontes, e chama-se
cem a todos nós.” Santos Dumont se refletia hidrogênio.”
Em seguida, o conferencista se disse fa- não só na leveza de seus
vorável à utilização da energia nuclear em Transportes espaciais.
várias áreas, inclusive informando que ela vai aparelhos voadores, como Em seguida, teve a palavra o Diretor de
trazer mais disciplina a outros setores indus- também na insistência em Transporte Espacial e Licenciamento da
triais, porque os protocolos de segurança Agência Espacial Brasileira – AEB, João
para energia atômica são muito rígidos. não patentear seus Luiz Filgueiras de Azevedo. O conferen-
“Vamos formar quadros multidisci- inventos, que sonhava ver cista fez alguns comentários sobre a coo-
plinares, aptos a trazer benefícios para peração entre Brasil e Rússia.
toda a comunidade brasileira, inclusive
utilizados por todos, nos “Nosso relacionamento com os rus-
com reflexos em outros países, já que mais diferentes países. sos já existe há muito tempo. A novidade é
temos, nesta área, um acordo especial que, nos últimos dois ou três anos, houve
com a Argentina que prevê regulação e
visitas periódicas. O Brasil cumpre to-
dos os regulamentos internacionais da
área de energia atômica. Todo o rejeito
nuclear é enviado para a Europa, reci-
clado e vendido, porque 75% da energia
usada, hoje, na França, é gerada por rea-
tor. Os franceses estão trabalhando com
um reator chamado Fênix, que utiliza o
urânio mais radioativo, em limites muito
altos. Nós não poderemos abdicar de ne-
nhuma fonte de energia, seja ela fóssil ou
renovável. Na minha opinião, todas as
possibilidades devem ser consideradas.
A priori, eu não abdicaria; pelo contrá-
rio, incentivaria uma troca de quadros e
informações entre o Brasil e a Rússia neste
setor. As futuras gerações têm que acre-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 37


P A I N E L III

um movimento de se formalizar esta coo-


peração por meio de uma interação direta O astronauta brasileiro
das agências espaciais de ambos os países.
Neste contexto, foi criado o Grupo de Tra- O primeiro astronauta brasileiro, o Te-
balho Conjunto Brasil-Rússia para coor- nente-Coronel Marcos César Pontes, de
denar as atividades de cooperação. Este 43 anos, será lançado no Cazaquistão, na
grupo, presidido, no lado brasileiro, pelo mesma plataforma onde o russo Yuri
Presidente da AEB, Sérgio Gaudenzi, conta Gagarin – o primeiro homem a chegar ao
com representantes da AEB, dos ministé- espaço – viajou em 1961.
rios da Defesa e das Relações Exteriores e Pontes viajará na astronave SoyusTMA,
da indústria brasileira do setor, além dos na companhia de mais dois astronautas: o
parceiros russos. O objetivo é criar uma russo Pavel Vinogradov e o americano
coordenação para o que vai ser realizado Jeffrey Williams. Ficará na Estação Espa-
entre os dois países na área espacial. Neste cial Internacional durante dez dias, e re-
sentido, há todo um interesse em assinar alizará oito experimentos científicos e
protocolos e acordos indispensáveis para tecnológicos nas áreas de bioquímica,
dar continuidade à cooperação.” termodinâmica, cinética de enzimas, cris-
Tenente-Coronel Marcos César Pontes. talização de proteínas, semicondutores e
Cosmonauta brasileiro
difusão térmica. Numa das experiências,
João Luiz Filgueiras de Azevedo infor- ele plantará feijão no espaço, ao mesmo tempo em que estudantes brasileiros
mou que, entre as atividades de parceria, plantarão feijão em suas escolas, para comparar as diferenças entre a germinação na
destaca-se a primeira viagem espacial de Terra e no espaço, onde não existe a força da gravidade. Além disso, ele testará uma
um cosmonauta brasileiro, o Tenente-Co- tecnologia brasileira que permite aperfeiçoar a fabricação de pães por meio de um
ronel Marcos César Pontes, a ser realiza- rigoroso controle da temperatura do forno.
da entre março e abril de 2006. O “Olhar as estrelas, ver o planeta e a passagem da noite para o dia a cada 40
cosmonauta brasileiro vinha recebendo minutos é tão bonito que muda a maneira como pensamos a vida”, declarou o
treinamento desde 1998 em Houston, nos Tenente-Coronel.
Estados Unidos e passou por um período Pela viagem, o governo brasileiro pagou cerca de US$ 10 milhões aos russos.
de vários meses de adaptação na Cidade “O pagamento é importante”, declarou Svetlana Savitskaya, cosmonauta e deputa-
das Estrelas, em território russo. da russa, “já que o orçamento do nosso programa espacial é, hoje, dez vezes inferior
“O que eu gostaria de enfatizar em re- ao que deveria ser.
lação ao vôo do cosmonauta brasileiro é O Brasil é um grande fabricante e exportador de aviões militares. Possui uma
que, além de todos os avanços técnico- indústria aeronáutica desenvolvida e um bom treinamento de pilotos. Lançar um
científicos que podem advir dele, o vôo é astronauta é, pois, um grande passo lógico e simbólico. O Brasil faz parte, agora, do
para nós algo muito emblemático, pois clube dos países aeroespaciais. Com relação a nós, russos, não foi apenas um lança-
2006 é o ano do centenário do vôo pio- mento, pois há uma cooperação científica e militar com os brasileiros nesta área.”
neiro de Santos Dumont. O nosso Santos As viagens espaciais contribuíram para a criação de produtos que influenciaram
Dumont voou em Paris, na época a capital profundamente a vida na Terra, entre eles as baterias recarregáveis, os códigos de
do mundo, assistido por uma multidão barra usados nos supermercados e nas contas que pagamos nos bancos, os apare-
enorme. Não tenho dúvida de que ele foi lhos de comunicação sem fio, a Internet, o GPS (um importante instrumento de
o primeiro homem a voar e acho que pre- localização e orientação usado em navegação marítima e celeste), o marca-passo e
cisamos enfatizar isto.” os relógios a quartzo.
João Luiz Filgueiras de Azevedo men-
cionou, ainda, um outro aspecto da coo-
peração russo-brasileira: os trabalhos de
recuperação do Veículo Lançador de Sa-
télites Brasileiro, o VLS 1, avariado por
um acidente na ocasião de seu lançamen-
to, em 2003.
“Para concluir, posso dizer que a ex-
pectativa é de que a cooperação na área
espacial gere negócios para as indústrias
do Brasil e da Rússia.”

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


ENCERRAMENTO

Brasil-Rússia: uma nova fase


dos seminários da FCCE

Gilberto Ramos, a Embaixadora Lindiwe Zulu, João Augusto de Souza Lima e o Embaixador Vladimir Tyurdenev.

Para compor a mesa da Sessão So- Honorário da África do Sul e Con- rismo Brasil-Rússia, Gilberto Ra-
lene de Encerramento, o Presi- selheiro da FCCE, Dom Philippe mos; o Vice-Presidente da FCCE
dente da FCCE, João Augusto de Tasso de Saxe-Coburgo e Bra- e Presidente da Câmara Portu-
Souza Lima, convocou as seguin- gança; o Diretor de Planejamen- guesa de Comércio e Indústria do
tes personalidades: a Vice-Presi- to e desenvolvimento do Comér- Rio de Janeiro, Arlindo Catoia
dente Executiva da Associação de cio Exterior do MDIC, Fábio Varela; o Embaixador Extraordi-
Comércio Exterior do Brasil – Martins Faria; o Cônsul-Geral da nário e Plenipotenciário da Fede-
AEB, Lúcia Maldonado; o Dire- Rússia no Rio de Janeiro Alexey ração da Rússia no Brasil, Vladimir
tor de Transporte Espacial e Labetskiy; o ex-Embaixador do Tyurdenev; e a convidada especi-
Licenciamento da Agência Espa- Brasil na Rússia, Sizinio Pontes al, Embaixadora Extraordinária e
cial Brasileira – AEB, João Luiz Nogueira; o Presidente da Câma- Plenipotenciária da África do Sul,
Filgueiras de Azevedo; o Cônsul ra de Comércio, Indústria e Tu- Lindiwe Zulu.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 39


ENCERRAMENTO

Confraternização final no coquetel em homenagem ao Embaixador Vladimir Tyurdenev.

Apoio do governo chamos 2005 com chave de ouro, com o


O presidente da FCCE ressaltou o Seminário Bilateral de Comércio Exterior
apoio que a instituição tem recebido para e Investimentos Brasil-Canadá, e abrimos
a realização da série de seminários bilate- 2006 com uma dupla chave de ouro: um
rais, em especial do Governo Federal, que, seminário Brasil-Rússia, com a presença do
desde o primeiro encontro, tem estado Embaixador Plenipotenciário e do Côn-
presente por meio da participação de seus sul-Geral no Rio de Janeiro.”
mais qualificados técnicos e especialistas
na área de comércio exterior.
“Estamos encerrando o primeiro encon-
tro do ano de 2006, na verdade, o 13º se-
“ Tivemos 12 seminários em
2005 e estamos iniciando
minário de um projeto que a FCCE elabo-
rou no ano passado juntamente com o
Governo Federal. Queremos, uma vez mais,
nova série vitoriosa
JOÃO AUGUSTO DE ”
SOUZA LIMAN

deixar registrada a importância do apoio que Segundo João Augusto de Souza Lima, Presidente da FCC confraterniza com o
recebemos da sociedade, dos empresários o sucesso deste tipo de realização depen- Embaixador Vladimir Tyurdenev.
e, sobretudo, do Ministério do Desenvol- de, também, do apoio das autoridades es-
vimento, Indústria e Comércio Exterior – trangeiras, incluindo embaixadores e côn- ária da África do Sul, Lindiwe Zulu, que
MDIC, que, entre outras coisas, colabora sules-gerais. nos prestigia nesta ocasião, o que nos per-
na escolha dos países que serão tema de “Acredito que esse foi o primeiro de mite antever o sucesso que vai ser o pró-
cada seminário. São países comercialmente alguns dos grandes eventos que faremos ximo seminário, dedicado ao seu país. Faço
e politicamente estratégicos para o Brasil. com a Rússia. Quero agradecer de uma absoluta questão de fechar esta reunião
Tivemos 12 seminários em 2005, aos quais forma especial ao Cônsul Honorário da homenageando dois embaixadores: Vladi-
grande parte dos senhores compareceram. África do Sul, Dom Philippe Tasso de mir Tyurdenev, da Rússia e a Embaixadora
Neste ano de 2006, estamos inaugurando Saxe-Coburgo e Bragança, nosso colega da África do Sul, Lindiwe Zulu. Obrigado
uma nova fase deste empreendimento. Fe- da FCCE, e à Embaixadora Plenipotenci- pela presença de todos.”

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


COOPERAÇÃO

Uma empresa russa no Brasil


O engenheiro metalúrgico An- trabalhos no Brasil, usando máquinas e
drei Potemkin, Diretor Admi- funcionários locais.

nistrativo da Rubrasgeo Enge- O que a empresa pode trazer de


nharia, subsidiária da Neftegas- novo neste cenário?
AP – Existem empresas brasileiras que pres-
geodesia no Brasil, é um russo tam serviços para a Petrobras na área de
com sotaque carioca. Chegou ao dutos, mas o que podemos trazer de novo
Brasil em 1994 para trabalhar para o Brasil – e que pode ser algo bastante
interessante – é a experiência de muitos anos
como professor pesquisador na em projetos de grandes dimensões. Os
Universidade Estadual do Nor- dutos que operam hoje na Rússia têm idade
te Fluminense – UENF, na área avançada e, por isso, começam a apresentar
vários problemas que precisam ser solucio-
de tecnologia de materiais. nados. No Brasil, os dutos ainda são relativa-
Apaixonou-se pelo país, casou- mente novos, mas quando chegar o momen-
to, podemos utilizar uma tecnologia de con-
se com uma carioca e trouxe servação e de detecção de defeitos, preven-
para cá seus dois filhos, hoje ção de avarias etc. Nossa empresa tem gran-
adultos e formados em univer- “Os desafios para as grandes de experiência nesta área. A própria quanti-
dade e a extensão de dutos no Brasil fazem
sidades brasileiras. Sua trajetó- obras de engenharia incluem com que esta tecnologia russa seja bastante
ria de vida demonstra o poten- aspectos humanos e ambientais” necessária aqui.
cial das relações entre russos e ANDREI POTEMKINN
Quais são os maiores problemas na
brasileiros. construção de um duto que atraves-
sa longas regiões e, muitas vezes, tem
de passar por baixo do mar?
Como sua empresa atua no Brasil? AP – Os desafios deste tipo de obra se refe-
AP – O setor principal da Neftgasgeo- rem a questões técnicas, ao meio ambiente e
desia é a indústria petrolífera. A empresa às próprias populações humanas dos locais
fornece, também, serviços para a área de que os dutos atravessam. O meio ambiente
construção de rodovias, de linhas de é, hoje, uma questão muito sensível na Eu-
transmissão de eletricidade, de ferrovias ropa. Devido à densidade populacional e à
e de outras atividades de infra-estrutura. presença maciça de indústrias, qualquer obra
Trabalhamos com o que se chama, em levanta questões ambientais de grande com-
linguagem técnica, objetos lineares, plexidade. Por outro lado, obras deste tipo
como rodovias e linhas de transmissão lidam com situações socioeconômicas, pois
elétricas, que são contínuas. A empresa interferem nas atividades locais, geram no-
levanta dados e faz projetos para este tipo vos empregos e ajudam a mudar as estrutu-
de obra. ras sociais das regiões por onde o duto passa.
A Neftegasgeodesia possui, hoje, 600
funcionários na Rússia. No Brasil, nosso O que une russos e brasileiros?
escritório é novo e, provavelmente, nos AP – É difícil explicar a simpatia que se
primeiros trabalhos e projetos, vamos estabelece entre estes dois povos. O fato é
contar com a base da matriz em matéria que existe uma boa química entre russos e
de pessoal e de equipamentos. A médio brasileiros, pois ambos são muito abertos,
prazo, nossa intenção é criar toda a infra- Obra de instalação de dutos e sala de cordiais e associativos. Os russos que che-
estrutura necessária para a execução de controle da Neftgasgeodesia. gam ao Brasil ficam apaixonados pelo país.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 41


COOPERAÇÃO

“O Brasil não pode perder o


bonde da era espacial”
Engenheiro aeronáutico forma- França e com a China, focando aspectos
do pelo Instituto Tecnológico de diferentes da atividade espacial, que é algo
bastante amplo.
Aeronáutica – ITA, de São José
dos Campos, João Luiz Filgueiras O que o homem procura no espaço?
de Azevedo é Diretor de Trans- Trata-se de uma proposta de desen-
volvimento científico puro ou há,
porte Espacial e Licenciamento também, efeitos práticos na área do
da Agência Espacial Brasileira – comércio, do turismo e da política?
AEB, e Vice-Presidente do Gru- JLA – A resposta estaria em todos estes
aspectos que você mencionou. A minha
po de Trabalho Conjunto Brasil-
visão particular, que não necessariamente
Rússia, que coordena o inter- é a posição oficial da AEB, é que o ho-
câmbio entre os dois países na mem, à noite, quando olha o céu, deve se
área espacial. Seu pronunciamen- sentir como os navegadores portugueses
que, há 500 anos, olhavam curiosos para
to no Seminário Bilateral de Co- o mar tenebroso. O espaço, é ainda, bas-
mércio Exterior e Investimentos
Brasil-Rússia despertou bastan-
te atenção. Nesta entrevista, ele
“ A tendência de miniaturização
na indústria é um produto
tante desconhecido para nós, como eram
os oceanos para os portugueses quando
começaram, no século XVI, sua grande

reafirma a importância científica


e econômica de o Brasil partici-
da tecnologia espacial
JOÃO LUIZ DE ”
AZEVEDON
aventura de navegação marítima.
O espaço tem a ver com o futuro sob
todos estes aspectos: desenvolvimento ci-
acidente por ocasião de seu lançamento, entífico, possibilidade de gerar riquezas,
par de atividades espaciais. em 2003, em Alcântara, no Maranhão. Em soberania, e, a própria sobrevivência da es-
função disto, estamos discutindo novos pécie. A atividade espacial é, hoje, impor-
Como se desenvolve o programa de desenvolvimentos para melhorar o de- tantíssima, porque traz riquezas para o país:
cooperação entre o Brasil e a Rússia sempenho deste veículo que, em princí- a tecnologia desenvolvida para viabilizar esta
na área espacial? pio, seriam feitos em parceria com a Rússia. atividade resulta em produtos de alto valor
JLA – Neste momento, estamos come- agregado, que, portanto, são itens de ex-
çando a formalizar o relacionamento do Por que esta proximidade com os portação e, como tais, trazem divisas. Cer-
Brasil com a Rússia, que, na realidade, já russos em assuntos espaciais? Por tamente, muito em breve, vamos ter uma
vinha acontecendo sem a participação que nos aproximamos mais da Rú- separação nítida entre os países que têm a
imediata da Agência Espacial Brasileira, por ssia do que, por exemplo, dos Esta- capacidade de acesso e de trabalho no es-
meio do relacionamento do Centro Téc- dos Unidos, um país bastante desen- paço e os que não têm. Por isto, é funda-
nico Aeroespacial com instituições rus- volvido nesta área? mental que o Brasil não perca este bonde.
sas. Hoje, está ocorrendo o que talvez de- JLA – A aproximação com os Estados
vesse ter acontecido há algum tempo: a Unidos na área espacial é muito difícil, pois O senhor poderia citar alguns resul-
AEB assumiu a liderança deste relaciona- este país tem, em suas leis, cláusulas que o tados concretos de produtos desen-
mento. Atualmente, as duas atividades mais impedem de auxiliar programas espaciais volvidos a partir da atividade es-
relevantes são o programa do lançamento de outros países. O relacionamento com pacial?
do primeiro cosmonauta brasileiro e uma os americanos fica dificultado. Seria incor- JLA – Há algumas coisas muito conhecidas,
cooperação formal na área de veículos reto, porém, imaginar que o relacionamen- como as panelas teflon e o forno microon-
lançadores, que tem a ver com o proces- to espacial com a Rússia seja único para o das. Toda a tendência de miniaturização que
so de revisão pelo qual o Veículo Lançador Brasil. Nós nos relacionamos intensamen- temos hoje na indústria mundial é uma con-
Brasileiro, o VLS-1, está passando após o te com a Ucrânia, com a Alemanha, com a seqüência direta da atividade espacial.

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


AGROPECUÁRIA

“Nossa expectativa é que a Rússia


suspenda o embargo da carne”
O Chefe de Gabinete do Ministro da Agri- seminário e discutir estes temas com au-
cultura, Pecuária e do Abastecimento, toridades russas.
Maçao Tadano, foi, também, Secretário de Como o Brasil está lidando com a
Defesa Agropecuária. Tem amplo conhe- febre aftosa? Que medidas foram
cimento das questões ligadas à saúde dos tomadas para aumentar o controle
animais e, principalmente, do esforço para sobre a doença nas áreas atingidas?
controlar as doenças. Em entrevista à re- MT – Fizemos um convênio com os es-
vista da FCCE, ele afirmou que é preciso tados, liberamos recursos e realizamos
um esforço coletivo, tanto dos governos uma grande campanha de motivação para
federal e estadual como das prefeituras e que o criador brasileiro promova as vaci-
dos criadores de animais, para combater a nações nos tempos devidos. Como resul-
febre aftosa. tado, os índices de vacinação chegaram a
Atualmente, o embargo russo à carne níveis superiores a 90%. Ocorreram al-
brasileira inclui a produção dos estados guns escapes, a exemplo deste que acon-
de Mato Grosso do Sul, Paraná, Rio Gran- teceu no Mato Grosso do Sul e que re-
de do Sul, Santa Catarina, Mato Grosso, percutiu no Paraná. Escapes são situações
Goiás, São Paulo e Minas Gerais. O go- em que, apesar das campanhas e da atua-
verno brasileiro sugeriu à Rússia que res- ção da vigilância sanitária, surgem novos
trinja o embargo a Mato Grosso do Sul e
Paraná, o que será possível dependendo
das respostas das autoridades brasileiras
“ Para erradicar a febre aftosa
do continente americano
é preciso que a campanha
focos. O vírus localizado no Mato Grosso
do Sul e no Paraná é o mesmo que foi
identificado recentemente no Paraguai e
aos questionários técnicos formulados na Argentina.
pelos russos. se estenda a todos os países
M A Ç A O T A DA N O N ” A fronteira com o Paraguai é de mais
de 600 km e existem criadores brasilei-
ros em terras paraguaias, assim como há
Como o senhor vê o agronegócio no a exportação de carnes brasileiras, em criadores paraguaios atuando em terras
cenário da política de exportações 2005, a partir da constatação de febre brasileiras. Isto dificulta bastante o con-
do Brasil? aftosa em algumas de nossas regiões pro- trole sanitário. No momento, estamos cri-
MT – O Brasil tem relações com quase dutoras. ando uma campanha para monitorar as
150 países e precisamos manter ativos es- Hoje, existe, de nossa parte, uma ex- fronteiras por satélites. Além das campa-
tes relacionamentos. Hoje, o agronegócio pectativa de que a Rússia poderá levantar nhas realizadas até agora junto às prefeitu-
é o segmento que posiciona o país no ce- este embargo. Vamos, mais uma vez, dis- ras e aos governos estaduais, é preciso que
nário internacional. Trata-se de um aspec- cutir com as autoridades russas para que haja uma maior mobilização e controle por
to positivo, pois significa que consumido- elas considerem o tema mais amplamente parte do setor privado com relação ao trân-
res de diferentes partes do mundo reco- e mantenham o embargo naqueles esta- sito de animais nestas fronteiras.
nhecem a qualidade dos nossos produtos. dos em que ele se torna necessário, ou Neste cenário, interfere, também, a va-
Existe um reconhecimento internacional seja, nos estados em que foram constata- riação dos preços. Muitas vezes, o preço
em relação às indústrias desta área instala- dos os focos. Os demais estados, que não do boi no lado paraguaio está um terço
das no Brasil. foram atingidos pela doença, têm condi- menor do que o preço praticado no lado
As missões que chegam ao nosso país, ções de exportar. O nosso desejo é que brasileiro. Os criadores se mobilizam para
sejam elas da área de aves ou de suínos, este embargo seja suspenso o mais rápido comprar gado onde o preço é menor e
levam uma boa impressão das nossas ins- possível. Exportamos carne bovina, suína isto traz, como conseqüência, muitos ani-
talações. Temos um cenário favorável ao e frango para a Rússia, e o embargo atinge mais transitando pelas fronteiras, o que
agronegócio brasileiro. É claro que exis- todos os setores. Por isto, para o Ministé- aumenta o fator de risco. Tenho certeza de
tem algumas situações de pendências, e rio da Agricultura, é uma boa oportunida- que vamos conseguir bons resultados
uma delas é com a Rússia, que embargou de e uma satisfação poder participar deste com as campanhas em andamento.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 43


AGROPECUÁRIA

Exportações Brasileiras de Carne Bovina para a Rússia


2000 2001 2002 2003 2004 2005
Total 503.296 738.805 776.318 1.154.509 1.963.066 2.419.103
Rússia 0 1.869 45.981 100.344 239.107 555.273
part. % 0 0,25 5,92 8,69 12,18 22,95

O senhor diria que a situação está


totalmente sob controle?
Exportações Brasileiras de Carnes 2005
MT – Eu diria que a preocupação brasi-
leira com a febre aftosa se estende a todos US$ 7.178.503
Outros Rússia
os países da América do Sul. Os ministros 37% 23%
da área de todo o continente já estiveram
reunidos para discutir este tema e o pró-
prio Presidente Luiz Inácio Lula da Silva
enviou uma mensagem a todos os presi-
dentes da América Latina insistindo para
que os ministérios da agricultura se devo- Japão
tem à causa, pois as campanhas de vacina- 10%
ção e controle podem tornar-se inefica- Emirados
zes se apenas um país não participar de Árabes Arábia
uma campanha que todos os outros estão 2% Alemanha Países Saudita
3% Egito Reino Hong Baixos 7%
fazendo. Pra erradicar definitivamente a fe- 4% Unido Kong 6%
bre aftosa do continente americano é pre- 4% 4%
ciso que esta seja uma campanha de todos
Todas as carnes frescas e refrigeradas, incluindo bovina, suína, frango, peru, miúdos etc. Fonte: MDIC
os países.

As epidemias atacam tanto os paí- surgindo na Itália e na Alemanha preocu- saúde dos seres humanos como da saúde
ses desenvolvidos – como ocorreu pam demais os ministérios da área, as au- dos animais domésticos.
com o Mal da Vaca Louca – quanto toridades sanitárias, as autoridades estadu-
os países em desenvolvimento. Os ais e os produtores. É necessário um es- Quais as repercussões de uma boa
prejuízos para os negócios são sem- forço coletivo para derrotar a febre aftosa vigilância sanitária no comércio ex-
pre grandes e as repercussões sem- e todas as outras doenças animais. terior?
pre negativas? MT – Uma vigilância sanitária eficiente
MT – As repercussões são negativas sem- O senhor acha que a defesa sanitá- pode trazer a não existência de doenças, o
pre. É claro que o Brasil já vem fazendo ria animal veio para ficar ou é ape- reconhecimento dos nossos produtos pe-
monitoramento e educação sanitária em nas uma situação transitória? los compradores, o estímulo à exportação
relação ao Mal da Vaca Louca e à Gripe MT – A defesa sanitária animal e vegetal e a presença dos importadores no nosso
Aviária, situações que, felizmente, nós não não é um trabalho periódico nem momen- país, fazendo contratos de compra de pro-
temos no país. Mesmo assim, é preciso se tâneo. Ela deve acontecer hoje, amanhã e dutos animais e vegetais. Nós acreditamos
antecipar em relação ao monitoramento sempre. A vigilância sanitária tem que ser nas boas relações empresariais, nos nossos
das aves migratórias. Os focos que estão permanente. Precisamos cuidar tanto da companheiros, no Brasil e no exterior.

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


PETRÓLEO

“Em matéria de energia, temos


um belo futuro pela frente”
O Diretor-Geral da Agência
Nacional de Petróleo – ANP, o
Deputado Federal Haroldo
Lima, se entusiasma ao falar do
panorama da energia no Brasil.
Ele considera que estamos no
caminho certo: explorando o
petróleo de maneira sustentável
e buscando, ao mesmo tempo,
viabilizar formas alternativas de
produção e fornecimento. Nes-
ta entrevista, analisa em pro-
fundidade o setor.

Como é a política do governo bra-


sileiro para a área do petróleo e Haroldo Lima: uma grande empresa tem obrigação de refletir sobre o futuro.
como está a questão da nossa auto-
suficiência? tensificou e temos, hoje, mais de 30 em- Plataforma número 50 da Petrobras, que
HL – O Brasil vive um momento posi- presas estrangeiras praticando a explora- vai produzir 148 mil barris por dia. Isto é
tivo e bastante florescente nessa área. ção e a produção de petróleo no Brasil. Se uma grande vitória para o país.
Temos boas perspectivas em matéria de incluirmos o setor petroquímico brasilei-
petróleo, gás natural, biodiesel e álco- ro, veremos que, para o período de 2006 Quando se diz que a Petrobras dei-
ol. Nos últimos sete anos, nossa produ- a 2010, estão previstos investimentos da xou de ser uma estatal do petróleo
ção de petróleo cresceu expressiva- ordem de US$ 60 bilhões, dos quais US$ para se tornar uma empresa de ener-
mente. Em 1997, o petróleo participa- 49,3 serão aportados pela Petrobras e o gia, o que isto significa?
va do PIB do país com cerca de 2,5%. restante por empresas estrangeiras que HL – Significa que a empresa tem consci-
Hoje, participa em torno de 10,5%. atuam em nosso território. Este é um pro- ência clara de que a era do petróleo, se não
Neste mesmo período, a economia bra- cesso muito efervescente. está para se extinguir em curtíssimo prazo,
sileira cresceu 25%, enquanto o setor vai diminuir muito a médio e longo prazo.
do petróleo cresceu 316%. Este cresci- O senhor diria que já somos auto-su- Uma grande empresa tem a obrigação de
mento se expressou num fortalecimen- ficientes na produção do petróleo? refletir sobre o futuro da matriz energética
to extraordinário da Petrobras, que se HL – Do ponto de vista efetivo, a auto- do mundo. Todas as grandes empresas do
transformou numa multinacional pre- suficiência já existe. A produção brasileira setor, como a Esso e a Shell, mantêm de-
sente em 15 países, produzindo, explo- de petróleo ultrapassa, hoje, 1,8 milhão partamentos importantes empenhados na
rando e refinando petróleo até mesmo de barris/dia, ou seja, é superior ao nosso busca de alternativas de energia.A Petrobras
nos Estados Unidos. consumo, que é de 1,8 milhão barris/dia. não é uma excessão: tem realizado pesqui-
A partir da abertura do mercado brasi- O mais importante é que esta auto-sufici- sas e investimentos expressivos no álcool,
leiro para empresas de outros tipos e de ência é sustentada e será consolidada com no biocombustivel, e está estudando ou-
outras nacionalidades, o movimento se in- a entrada em funcionamento da P-50, a tras fontes, como a própria energia solar.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 45


PETRÓLEO

Como o senhor vê o atual progra- O senhor acha que, na área do pe- conosco na produção e nem ter a in-
ma de biodiesel brasileiro? Ele já é tróleo, pode haver uma cooperação sensatez de imaginar que todos querem
uma realidade ou está ainda em fase entre os países ou este é um setor em passar na nossa frente. Temos que ser
de experiência? que impera, necessariamente, a cautelosos. Acredito, no entanto, que o
HL – O programa do biodiesel brasileiro competição? É possível realizarmos, Brasil tem dado passos significativos nes-
é uma política irreversível. Não se trata de por exemplo, joint ventures com a te sentido. Hoje, mais de 30 empresas
algo ainda mais grandioso porque come- Argentina e a Venezuela? estrangeiras são concessionárias da ANP
çou há muito pouco tempo. Como fonte HL – Acho que temos que constatar e elas têm contribuído para a explora-
energética, em escala universal, o biodiesel que o petróleo tem os dois componen- ção e a produção petrolífera em nosso
teve sua primeira patente registrada no Brasil tes: um de grande disputa e outro de território em parceria com a Petrobras.
pelo Professor Expedito Parente, no final possibilidades de cooperação. Temos que
da década de 1970, no Ceará. A idéia ficou trabalhar nas duas linhas. Não pode-
meio amortecida durante muito tempo, mos ter a ingenuidade de achar que
mas, nos últimos anos, foi reempulsionada. todo mundo quer colaborar
O atual governo lançou o seu programa de
biodiesel, convocou a Petrobras a partici-

Essas parcerias têm


crescido de forma coordena-
da, já que existe uma regulação sóli-
da feita pela ANP.

O senhor é otimista ou pessimista


com relação ao nosso futuro ener-
gético? Vamos conseguir garantir o
A entrada em suprimento de energia a todas as
par e deu orientações precisas, inclusive funcionamento da regiões brasileiras ou vamos ter de
normativas, para a ANP se organizar no sen- Plataforma P-50 conviver com os apagões?
tido de regular e coordenar o setor. A ANP da Petrobras, com HL – Sou bastante otimista. Primeiro
tem cumprido suas obrigações e já realizou porque, em relação a petróleo e gás,
o primeiro leilão de biocombustivel no capacidade para estamos bem e ainda nos falta percor-
Brasil. O curioso é que, na época, não tí- produzir 148 mil rer muito caminho. Enquanto alguns
nhamos experiência com leilões deste pro- barris/dia, foi países já estão com suas reservas prati-
duto e fomos pesquisar no exterior. Des- fundamental para camente exauridas, no Brasil, talvez até
cobrimos, então, que nenhum país havia por alguma deficiência passada nossa,
feito, ainda. Resolvemos fazer por nossa
consolidar a auto- temos, hoje, boas reservas. Possuímos
conta e risco e o leilão foi um sucesso: ven- suficiência brasileira na 29 bacias sedimentares com algo em
demos 70 mil metros cúbicos de biodiesel. produção de petróleo torno de 6 milhões de km2 de área, e
No próximo, pretendemos comprar cerca que ultrapassa, hoje, estamos, efetivamente, explorando e
de 110 mil metros cúbicos. Em meados de produzindo em cerca de 7% destas áre-
1,8 milhão
2006, vamos realizar um outro leilão de as. Consumimos uma quantidade bem
400 mil metros cúbicos do biodiesel. Este de barris/dia insignificante de nossas reservas, e isto
é um cenário muito promissor. nos dá um largo futuro pela frente.

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


INTERCÂMBIO

“A cultura é uma forma eficaz


de aproximar os dois países”
P ara o Cônsul-Geral da Federação da
Rússia no Rio de Janeiro, Alexey La-
betskiy, o seminário promovido pela Fe-
deração das Câmaras de Comércio Exte-
rior – FCCE, constituiu-se numa grande
oportunidade de efetivar contatos entre
os dois países, alargar a faixa de conheci-
mento mútuo e aproximar a tradicional
cultura russa do que existe de mais mo-
derno no Brasil. Em entrevista à revista da
FCCE, ele enfatizou a significação econô-
mica do encontro.
“O seminário foi muito importante
para o desenvolvimento de relações bila-
terais no plano econômico, incentivando
o interesse de ambos os lados pelos con-
tatos diretos dos círculos empresariais e
oferecendo oportunidades para empre-
sas da Rússia e do Brasil buscarem negó-
cios em todos os ramos onde temos po-
tencial ainda não aproveitado.” Alexey Labetskiy: o intercâmbio cultural aumentou a partir da abertura econômica.
Segundo o cônsul-geral, existem se-
tores já tradicionais no comércio bilate- vará bastante o contato humano e o co- so. Posso dizer, ainda, que a influência cul-
ral, como o de carnes, açúcar e derivados nhecimento cultural entre os dois países.” tural brasileira se faz presente através das
de metais e, por isto, é preciso pesquisar telenovelas da Rede Globo, como ‘Senho-
outros setores ainda não explorados. Troca cultural ra do destino’, a primeira exibida pelo
“Vamos tomar, por exemplo, o setor A partir da abertura da economia em- Canal 1, que chegou a influenciar até mes-
energético, que inclui, entre outras, as ati- preendida nos últimos anos pelos gover- mo a língua russa. Casas de campo, que
vidades de pesquisa e exploração de pe- nos da Rússia e do Brasil, ocorreu, natu- antes eram chamadas de dachas, agora os
tróleo em águas profundas, uma conquis- ralmente, um aumento do intercâmbio russos chamam de fazendas.”
ta da Petrobras. Podemos pensar em par- cultural. Hoje, segundo Alexey Labetskiy, Segundo o cônsul, o atual cinema rus-
cerias neste setor. Há possibilidades de já se verifica uma apreciação maior dos so está em plena expansão e em breve bons
intercâmbio no campo da saúde, no qual ícones culturais dos dois países. filmes da nova safra serão lançados no Bra-
se destacam a experiência brasileira, mui- “Os brasileiros conhecem bastante as sil. Em 2005, o Consulado da Federação
to bem sucedida, de combate à Aids e a obras de escritores russos como Dostoi- Russa no Rio de Janeiro organizou, junta-
utilização de medicamentos genéricos no evski, Gogol, Maiakovski, Tchekhov e mente com a embaixada, uma mostra de
tratamento das várias doenças que se de- Tolstoi. Os russos, por sua vez, também cinema russo sobre a Segunda Guerra
senvolvem também na Rússia. Por outro costumam ler escritores brasileiros, como Mundial e, para 2006, estão previstas ou-
lado, o Brasil conhece pouco a excelência Jorge Amado, Paulo Coelho e Machado tras mostras.
da indústria de gás natural russa, a capaci- de Assis. Precisamos alargar esta faixa de “Para finalizar, gostaria de dizer que este
dade tecnológica na aviação civil, na in- conhecimento e nos aproximarmos de seminário da FCCE é uma feliz idéia para
dústria cósmica e no setor de transportes outras jóias culturais do Brasil como a arte que russos e brasileiros possam trocar in-
terrestres. Na área da educação, também moderna, o carnaval e as tradições do formações e espero que um encontro se-
podemos trocar experiências e aumentar Nordeste. O cinema brasileiro está muito melhante a este seja organizado na Rússia.
o intercâmbio de estudantes de mestrado, bem na Rússia. “Cidade de Deus”, de A idéia, sugerida por um dos participantes
doutorado e pós-graduação. Isso incenti- Fernando Meirelles, foi um grande suces- deste seminário, terá de mim total apoio.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 47


INTERCÂMBIO

“Acompanhar o mercado e
aproximar as nações”
Os amigos de Gilberto Ramos,
Presidente da Câmara Brasil-
Rússia de Comércio, Indústria e
Turismo, costumam dizer que
ele é brasileiro, mas tem alma
russa. De fato, ele possui uma
profunda identificação com
aquele país e procura, em seu
trabalho, estreitar os laços en-
tre brasileiros e russos.

E m entrevista à revista da FCCE, ao ana-


lisar a corrente comercial entre os
dois países, Gilberto Ramos considera
natural e positivo que o Brasil exporte
muito para a Rússia. Gilberto Ramos tem procurado estimular o ensino da língua russa no Brasil.
“Temos preços muito competitivos no
setor agropecuário, e isto interessa aos tempo todo. O que falo, hoje, pode mu- complementares: quase não competem
russos. Carnes, açúcar, grão de soja e seus dar bastante dentro de dois meses por em matéria de comércio internacional. O
subprodutos, como o farelo de soja, têm conta das mais variadas contingências. O Brasil, além de uma vocação agropecuária
boa qualidade e preços relativamente bai- mercado se move dentro de uma dinâmi- muito intensa e histórica, conta hoje com
xos. Este é o lado positivo do nosso saldo ca muito rápida e é preciso acompanhá-la altas tecnologias, e isto se reflete, por
comercial com a Rússia. O Brasil é um para ter bons resultados.” exemplo, na área de energia. A Petrobras
país com forte vocação agropecuária de- é recordista mundial na exploração de pe-
vido a fertilidade dos solos e das boas con- tróleo offshore. Em fevereiro de 2006, re-
dições climáticas. Isto nos dá uma posição
de liderança nas vendas.”
Gilberto Ramos afirma que o Brasil

Novas tecnologias,
grande território
e muita energia: tudo isto
presentantes da Gazprom, a grande em-
presa russa de energia, estiveram no Bra-
sil discutindo possíveis parcerias com a
possui grandes problemas de infra-estru- Petrobras.”
tura e logística que precisam ser resolvi-
dos. Ele considera que é preciso uma ati-
tude mais incisiva na hora de vender e dis-
aproxima o Brasil da Rússia
GILBERTO RAMOSN ” Gilberto Ramos defende a tese de
que, mesmo nos setores em que explo-
ramos o mesmo produto, como o do
tribuir. O Presidente da Câmara Brasil-Rússia petróleo, é possível estabelecer formas
“É necessário um foco mais agressivo de Comércio, Indústria e Turismo defen- de cooperação.
na distribuição dos nossos produtos. De- deu, ainda, a idéia de que o governo bra- “A competição existe e é natural em to-
veríamos nos dedicar mais a resolver nos- sileiro deveria dar ênfase aos acordos bi- dos os setores do comércio, mas são pou-
sos problemas de logística e, ao mesmo laterais. cas as áreas de competição com os russos.
tempo, ser diretos e agressivos em maté- “É mais interessante para nós firmar- O Brasil já é praticamente auto-suficiente
ria de venda institucional. Em comércio mos acordos bilaterais do que multilate- em petróleo, mas o nosso petróleo é
internacional, a informação é fundamen- rais. É isto que deve ser feito com os rus- parafínico, pesado. É necessário importar-
tal e deve ser intercambiada e avaliada o sos. O Brasil e a Rússia são economias mos nafta e alguns outros subprodutos para

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


que o petróleo produzido no Brasil possa mento das relações comerciais. Segundo
se tornar mais leve. Ora, a Rússia é grande
produtora de nafta e, assim, podemos nos “ Entendimento político
também ajuda as relações
Gilberto Ramos, o clima entre os presi-
dentes Vladimir Putin e Luiz Inácio Lula
integrar com os russos.”
Um outro setor em que existiriam
boas possibilidades de parcerias é o de
comerciais
GILBERTO RAMOSN” da Silva é excelente e isto tem propiciado
o estabelecimento de acordos internacio-
nais em várias instâncias.
gás natural. Segundo Gilberto Ramos, a “Há muitos anos, o Banco do Brasil
Gazprom, maior produtora mundial de parceiros em matéria de exportação. Es- mantém acordos operacionais com ban-
gás natural, está construindo, no pre- tes dois países são mais distantes do ter- cos russos. O que nos falta é um trabalho
sente momento, os três maiores gaso- ritório brasileiro do que a Rússia. No caso efetivo de adensamento das relações co-
dutos do planeta. Como o Brasil tem da Rússia e do Brasil, talvez exista um merciais bilaterais. Precisamos incre-
investido muito em gás, seria interes- pouco de desconfiança e desconheci- mentar o turismo. A Rússia é hoje a sexta
sante que nos aproximássemos dos rus- mento de parte a parte, mas aos poucos maior emissora de turistas no mundo. Os
sos neste setor. vamos superar isto. Hoje, a navegação de turistas russos têm alto poder de consu-
“Constato, hoje, que a atual corrente cabotagem brasileira está sendo retoma- mo, mas ainda vêm muito pouco para o
comercial de US$ 3,6 bilhões por ano da e a Rússia pode ser uma parceira. No Brasil. É preciso pensar que as relações
entre o Brasil e a Rússia não representa setor pesqueiro, os navios frigoríficos institucionais e comerciais passam pelas
ainda o potencial gigantesco das duas eco- russos poderiam, mediante acordo bila- relações pessoais e, neste sentido, temos
nomias. A distância geográfica influi nes- teral, pescar em nossa costa e deixar aqui tudo para nos aproximarmos mais dos
te cenário, mas não é determinante. Os uma parte deste pescado.” russos, inclusive estimulando uma maior
brasileiros fazem negócios com o Japão, O entendimento na área política tam- divulgação da língua russa e da língua por-
e a China já é um dos nossos principais bém pode ajudar bastante no estreita- tuguesa em ambos os países.”

“Vamos colocar nossa experiência


espacial a serviço do Brasil”
P ara Yuriy Anatolievitch Kudryavtsev,
Chefe da Representação do Ministé-
rio do Desenvolvimento Econômico e
crescimento consistente.”
Yuri Kudryavtsev considera as econo-
mias russa e brasileira complementares e
Comércio da Rússia no Rio de Janeiro, afirma que, em alguns setores, já existe
eventos como o Seminário Bilateral de Co- um grande intercâmbio, destacando o se-
mércio Exterior e Investimentos Brasil- tor aeroespacial e o de energia.
Rússia são extremamente importantes “O programa do seminário vai favore-
para estreitar as relações entre os dois pa- cer bastante esta aproximação, pois inclui
íses. Para ele, o seminário favoreceu a apro- temas que permitirão conhecer com mai-
ximação de empresários e técnicos de go- or profundidade as especificidades de cada
verno da área econômica e diplomática. uma das partes.”
“Vivemos um momento muito impor-
tante no intercâmbio político, econômi- Combate à aftosa
co e comercial, que apresenta um cresci- Os exportadores de carne brasileira
mento expressivo e que pode ficar ainda tiveram, em 2005, seu produto embargado
melhor, dependendo de alguns ajustes pelo governo russo, devido a um surto de
que russos e brasileiros precisam fazer. febre aftosa em algumas regiões produto-
Este encontro nos permite acelerar o pro- ras brasileiras. Yuri Kudryavtsev considera
cesso de coordenação de nossos trabalhos que permanece entre os russos um gran-
e de aproximar organismos comerciais e de interesse em comprar a carne do Bra-
governamentais, com o objetivo de en- sil, considerada uma das melhores do Yuriy Kudryavtsev: a relação bilateral
contrar caminhos mais seguros para um mundo. Para Yuri Kudryavtsev, a Rússia apresenta crescimento expressivo.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 49


INTERCÂMBIO

tem mostrado um grande interesse em Petróleo. Durante a missão, foram feitos especialista em prospecção de petróleo
resolver as pendências que surgem nas muitos contatos e negociações. O objeti- em águas profundas e a Rússia tem ex-
suas relações com o Brasil. vo final é tornar o Rio de Janeiro a princi- celência na construção de gasodutos e
“A Rússia tem demonstrado um pal porta de entrada de negócios russos na extração e armazenamento do gás na-
grande esforço em solucionar esta pen- no Brasil. tural. Assim, um intercâmbio tecno-
dência, pois a febre aftosa, quando cons- “Os russos também têm interesse em lógico nestas áreas pode ser muito fa-
tatada, tem que ser enfrentada. Proble- investir na área de petróleo e gás, con- vorável para ambas as partes”, declarou
mas como este afetam muitos países, centrada no Rio de Janeiro. O Brasil é Yuri Kudryavtsev.
não apenas o Brasil. Devemos unir es-
forços no sentido de encontrar cami-
nhos para, no futuro próximo, diminuir
estes problemas.” “O conhecimento é
Projetos espaciais
Ao tratar dos convênios na área da
tecnologia aeroespacial,Yuri garantiu que
fundamental para
as perspectivas são muito boas.
“A Rússia é muito forte nesta área.
Nossa experiência é mundialmente co-
aproximar os povos”
nhecida e respeitada e temos muito a con-
tribuir para o Brasil. Estamos trabalhando
com equipes de técnicos brasileiros para
concretizar alguns projetos em áreas que
O Chefe da Divisão da Europa II – DE II,
do Ministério das Relações Exterio-
res, Conselheiro Alexandre de Azevedo
podemos atuar juntos. O Brasil é um país Silveira, é um experiente negociador na
de grande porte e com expressivo desen- área de comércio exterior. Nesta condi-
ção, considera extraordinário o atual cres-

“ A Rússia está aberta


para trabalhar com
o Brasil em qualquer
cimento das relações Brasil-Rússia.
“O comércio exterior tem sido um
sucesso sem precedentes, pois tem cres-
cido acentuadamente. Naturalmente, o
projeto

Y U R I Y K U D R Y AV T S E V N
potencial a explorar é ainda bastante ex-
pressivo e temos muito a evoluir. Os mai-
ores empecilhos são algumas estruturas
volvimento econômico; está pronto para de ordem financeira e comercial dos dois
assumir o desenvolvimento tecnológico. países e, basicamente, o desconhecimen-
É evidente que, algumas vezes, faltam re- to que temos sobre a Rússia, aqui no Bra-
cursos e experiência e, neste sentido, vejo sil, e sobre o Brasil na Rússia.”
a possibilidade de uma cooperação efetiva
com a Rússia. Estamos trabalhando para Promover a aproximação
colocar toda a experiência russa nas áreas
tecnológica e aeroespacial a serviço do de-
senvolvimento brasileiro. A Rússia está
Promover o conhecimento e a aproxi-
mação entre os empresários e represen-
tantes governamentais dos dois países são,
“ Precisamos eliminar
a visão superficial
que se estabelece
aberta para trabalhar junto com o Brasil pois, ações fundamentais para contornar a
em qualquer projeto.”
Em 2005, uma comissão fluminense
esteve na Rússia. Além de parlamentares
questão da falta de conhecimento. Para o
Conselheiro Alexandre de Azevedo Sil-
veira, seminários como os promovidos
entre os dois países
ALEXANDRE DE ”
A Z E V E D O S I LV E I R A N

do Rio de Janeiro, participaram da visita pela FCCE são importantes para acelerar gumas vezes, se faz presente. Todos sabe-
representantes da Petrobras, Transpetro, o processo, promover a identificação de mos que a Rússia é um país enorme e com
Agência Nacional do Petróleo, FECO- oportunidades e aproximar as partes in- um clima diversificado, mas a imagem
MERCIO, SEBRAE, FIRJAN, Câmara de teressadas. corrente é de um território inteiramente
Comércio Brasil-Rússia e das secretarias “A área cultural também é importan- gelado, cheio de ursos e de vodca. Isto é
estaduais de Agricultura, Desenvolvimen- te, pois aproxima os povos e elimina mui- uma visão redutora. Por seu lado, os rus-
to Econômico, Energia, Indústria Naval e to da visão folclórica e superficial que, al- sos acham que o Brasil é o país do carna-

50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Na platéia, representantes do corpo diplomático e empresários de várias regiões brasileiras assistem ao seminário.

val, do futebol e das praias. É isso, tam- uma série de outros projetos conjuntos, ral e, desde então, a concentração na área
bém; mas não é só isso.” estudos e ações de longo prazo. Quanto às de política internacional multilateral tem
Segundo o conselheiro, a pauta de nego- relações políticas, segundo Alexandre de sido intensa. Técnicos russos e brasileiros
ciação bilateral entre Brasil e Rússia perma- Azevedo Silveira, elas vão muito bem e só se reúnem semestralmente para consul-
nece, praticamente, a mesma dos últimos tendem a melhorar. tas políticas, em diversos níveis.
anos, e o grande crescimento tem aconteci- “A Divisão da Europa II, atua primor-
do na área das carnes brasileiras. À medida
que aumentam os contatos bilaterais, outras
áreas tendem a se destacar.
“ Técnicos russos e brasileiros
se reúnem semestralmente
dialmente na área política. Nos campos
de promoção comercial; ciência e
tecnologia; esporte e cultura isso é fei-
“Na área de energia, principalmente em
relação ao gás natural, muitos convênios
estão sendo estudados. A Comissão de Alto
para consultas políticas
ALEXANDRE DE ”
A Z E V E D O S I LV E I R A N
to de forma assessória. Nós acompanha-
mos, apenas. A DE II conta com uma
comissão de alto nível que realiza reu-
Nível de Cooperação Comercial, presidi- “As relações políticas estão se desen- niões anuais. O braço executivo é a Co-
da, do lado brasileiro, pelo Vice-Presiden- volvendo com intensidade desde a reto- missão Intergovernamental de Coope-
te da República, José Alencar, tem desen- mada dos contatos, ocorrida com o fim ração, presidida pelo Secretário-Geral
volvido um trabalho intenso e regular de da União Soviética. Naturalmente, a das Relações Exteriores, do lado brasi-
identificação de oportunidades. A fase de Rússia sofreu um processo de transfor- leiro, e pelo diretor da Agência Federal
comércio marcada por um crescimento mação política interna sem precedentes da Indústria da Rússia, que também tem
rápido em curto espaço de tempo aconte- e muita coisa mudou. No comércio bila- mantido encontros anuais. Para agilizar
ceu quase que por uma circunstância. Fo- teral, as transações tiveram de se readap- o funcionamento deste braço executi-
mos vender carne; os russos precisavam tar; o país tem uma economia enorme e vo, temos realizado, entre uma reunião
de carne e começaram a comprar. A partir quando tudo muda, é necessário realizar e outra, o encontro dos presidentes da
deste negócio, passaram a ser identificadas uma reorganização muito grande.” Rússia e do Brasil para troca de idéias e
outras oportunidades, sendo muitas delas As mudanças na área política têm ocor- para que tenham conhecimento do an-
na área de energia, no setor espacial.” rido, notadamente, a partir de 1997, com damento das decisões tomadas. Na área
Essa cooperação, segundo o conselhei- a visita ao Brasil do, então, Chanceler da DE II existe uma estrutura de diálo-
ro, é mais do que uma simples operação Yevgeny Primakov. Na ocasião, fez-se uma go, de contatos bilaterais extremante
de compra e venda e, por isso, demanda reorganização do relacionamento bilate- ativa e abrangente.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 51


EM PAUTA

Lindiwe Zulu chega à FCCE e é recebida... por seu Presidente, João Augusto de Souza Lima e por Dom Philippe de Saxe-Coburgo e Bragança.

Embaixadora sul-africana na FCCE


Lindiwe Zulu prestigia e comparece ao Seminário da Rússia como uma
forma de aprimorar a sua participação no Seminário da África do Sul
D esde que, no início de 2005, a Fede-
ração das Câmaras de Comércio Ex-
terior – FCCE, começou a passar em re-
os brasileiros falassem sozinhos ou anali-
sassem essas relações sob uma ótica naci-
onal e, conseqüentemente, unilateral. So-
para desempenhar as atividades durante
o seminário dedicado ao seu país, a em-
baixadora concedeu-nos o prazer de sua
vista as relações comerciais do Brasil com mos gratos, portanto, por essa participa- visita. Ela decidiu participar, como es-
os diversos países da comunidade interna- ção de todos, que fez dos seminários um pectadora atenta, dos trabalhos do en-
cional, foram realizados doze seminários acontecimento internacional. contro que analisou as relações comer-
que trataram de comércio e de investimen- Neste cenário, temos o prazer de des- ciais do Brasil com a Rússia, para com-
tos com os mais diversos parceiros. Em to- tacar a visita de Sua Excelência, a Embai- preender a dinâmica de funcionamento
dos eles, fomos prestigiados com a pre- xadora Plenipotenciária da África do Sul dos seminários da FCCE.
sença indispensável não apenas de repre- no Brasil, Lindiwe Zulu, ao Seminário de Nessa lição de profissionalismo em
sentantes consulares e diplomáticos, como Comércio Exterior e Investimentos Bra- que se constituiu a ilustre e prazerosa vi-
também de membros das respectivas co- sil-Rússia, em fevereiro de 2006. Esse se- sita da senhora Lindiwe Zulu repousará,
lônias radicados no Brasil, além de empre- minário foi o que se realizou imediatamen- estamos certos, o sucesso de suas inter-
sários de variadas nacionalidades que aqui te antes daquele que iria dedicar-se ao co- venções no Seminário Bilateral de Co-
residem por força de seu trabalho. mércio bilateral brasileiro e sul-africano. mércio Exterior e Investimentos Brasil-
Essa presença se mostrou indispensá- Consciente da importância de even- África do Sul, a realizar-se, em março
vel em cada seminário, pois impediu que tos como esse e disposta a se preparar próximo.

52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


CULTURA

Uma Casa de Deus que muito


orgulha seu proprietár
proprietário
io
A Rússia deve a Ivan, o Terrível, parte da consolidação de sua nacionalidade
e a construção de um de seus maiores templos, a Catedral de São Basílio

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 53


CULTURA

melhança daquele do Império Romano, cujos membros eram


escolhidos entre os integrantes da mais alta linhagem.
O povo russo, fechado ou protegido, em sua distância geográ-
fica, dos demais países da Europa, não se preocupavam em fazer
alianças ou estreitar relacionamento com seus vizinhos ociden-
tais, tais como a França dos Bourbons, ou mesmo a Inglaterra dos
Tudors, ou ainda a Itália dos Médicis e Sforzas... Eles eram russos,
e para eles bastava.
As riquezas da Sibéria recém-conquistada proporcionava a eles
a independência, o orgulho e a tranquilidade de um país, à época,
considerado rico. Mas trazia também, o maior de todos os pro-
blemas políticos que qualquer país, nessas condições, pode en-
frentar: a disputa pelo poder, a supremacia da decisão, da lideran-
ça, do autoritarismo.
Os “boiardos” incomodavam terrivelmente a Ivan, pois queri-
am participar, influenciar, enfim, mandar, condição com a qual
nosso “Terrível” não concordava.
Prestigiado pelo povo, porém detestado pela Igreja Ortodoxa
e pelos nobres, o que faz o Czar Ivan?
Simplesmente escolhe alguns representantes da nobreza, os
mais significativos e próximos, e comunica a eles, com todas as
letras que, já que não podia governar e comandar a seu bel-pra-
Ivan Vassiliévitch, uma figura histórica marcante, retratada pelo zer, ele simplesmente... ia embora!
cineasta Sergei Eisenstein no filme “Ivan, o Terrível”. Abandona Moscou, em Dezembro de 1.564, e se retira, com
sua pequena corte (e uma grande quantidade de ícones religiosos

E
que mandara recolher nas igrejas de Moscou) para a fortaleza de
“Alexandra Sloboda”, um antigo pavilhão de caça, a 120 quilô-
metros de Moscou, agora transformado em fortaleza.
Em 18 de março de 1.530, nasce.no Kremlin, Não renuncia, não abdica, simplesmente “vai embora”, já que
o Grão-Principe de todas as Rússias, o Grão- não o deixavam governar o país do jeito que bem entendesse.
Duque de Moscou, Ivan Vassiliévitch, filho de Assim, de repente, de um dia para o outro, todo o povo russo
Vassili III, que ascende ao trono ainda criança, se sentiu órfão!
e, com apenas 17 anos, torna-se Czar, conhe- O Kremlin está vazio... o poder, indefinido... os boiardos e os
cido como “Ivan, o Terrível”. clérigos, completamente tontos, sem saber o que fazer, e já te-
Inegavelmente o mais cruel, o mais sanguinário, o mais mendo por sua segurança, pois o povo russo adorava Ivan IV, e
desequilibrado de todos os dirigentes russos dos últimos 500 começou a culpá-los pela ausência de seu líder. Uma sensação
anos, mas, ao mesmo tempo, o mais importante, o mais com- de vazio, e completo desamparo tomou conta da população, nos
petente guerreiro, e o maior político e consolidador do Im- quatro cantos da Rússia!
pério Russo que passou, a partir desse tresloucado assassino A nobreza e o clero cedem... Os templos ortodoxos, e os
que se incumbiu de matar seu próprio filho e herdeiro, a ser palácios boiardos, ameaçados de depredação pelo povo que exi-
um país com fronteiras sólidas, definidas, engrandecido e rico. gia o retorno do Czar ao Kremlin, caíram de joelhos em frente ao
A Rússia deve a Ivan IV, sua supremacia sobre os tártaros e todo poderoso Czar Ivan IV, que assim reina tranquila e sanguina-
mongóis, em função das sucessivas derrotas impostas por esse riamente até o final de sua vida , em 18 de março de 1584, data
grande general aos tártaros (em Kazan, no ano de 1552) e aos em que completava exatamente 54 anos.
mongóis (Astracã em 1556) descendentes da Horda Dourada Essa é, em linhas gerais, a figura e o desempenho do Czar Ivan IV,
de Gengis Kahn. denominado “o Terrível”, com sinais marcantes de estadista, político
Na metade do Século XVI, o mundo ocidental vivia sua maior habilidoso, sanguinário, cuel, grande guerreiro e, sobretudo louco...
fase de Renascimento e iluminismo, apresentando figuras notá- Mas... por incrível que pareça, não foi por nenhum dos
veis como Michelangelo e Leonardo da Vinci, enquanto que a predicados relacionados acima que Ivan Vassiliévitch passou para
Rússia aparecia como um País semi-bárbaro (apesar de a história, e se imortalizou.
cristianizado desde o Século IX através de São Cirilo), uma país Foi, inegavelmente, pela sua fé, devoção e religiosidade!
de homens de barbas longas, dentro de um sistema feudal domi- Incríveis contrastes apresentava esse homem fora de qualquer
nado pelos “boiardos”, integrantes de um grande “Senado” à se- padrão humano.

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


“Ivan, o Terrível” [1945 /1958] ainda hoje é considerado pela crítica uma obra-prima, com destaque para sua iluminação expressionista.

Ivan IV era muito piedoso, apegado às va convocar os carrascos, e apontava, na ção punitiva” às cidades de Pskov, Tver e
coisas da igreja, aos ícones, e às pinturas parede, o tipo de tortura que o desgraça- outras próximas, chegando ao incrível
sagradas.. do deveria sofrer, antes de executado. Esse número de 30.000 execuções!!
Quando mandava executar sentenças era um dos maiores prazeres do Czar Ivan. Ao contrário dos reis e príncipes de
de morte e de tortura, quase que de ime- Apenas para ilustrar essa “religiosida- sua época, fascinados pelo paraíso, anjos,
diato enviava grandes somas de dinheiro de” de Ivan IV é bom lembrar que, no dia santos e o céu do Padre Eterno, Ivan IV
aos seus mosteiros preferidos, para que 7 de janeiro de 1570, após assistir, piedosa era absolutamente deslumbrado pelo in-
os monges e religiosos “rezassem pelas e fervorosamente, à Santa Missa na Cate- ferno, pela condenação das almas, e por
almas dos mortos”, fornecendo listas, de dral de Santa Sofia, em Novgorod, o todo todos os horrores do Reino de Lúcifer, o
próprio punho, com a relação dos nomes poderoso czar de todas as Rússias manda Senhor das Trevas...
das pessoas executadas. Cinismo, debo- executar, friamente, 500 (sim, quinhen- Em compensação, sofrendo natural-
che? Não... loucura, pura e simples. tos) monges e toda a população da cidade! mente de insônia, mandava que seus ser-
Em seu castelo-fortaleza de Alexan- Em seguida empreendeu uma “peregrina- viçais lessem trechos das vidas dos santos
dra Sloboda, Ivan mandara pintar, nas pa- para embalar seu piedoso sono...
redes, cenas bíblicas do inferno. Até hoje Mas foi essa religiosidade exacerbada,
podem-se ver infelizes se contorcendo, esse fanatismo religioso, que levou Ivan a ser
sofrendo torturas atrozes. Para as execu- o criador, e o responsável por um dos maio-
ções, que eram quase diárias, Ivan manda- res monumentos religiosos do planeta.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 55


CULTURA

A Catedral de São Basílio


Construída entre os anos de 1.554 e
1.569, por Posnik e Barma, em comemo-
ração à vitória sobre os tártaros, conta a len-
da que Ivan mandou cegar esses arquitetos,
para que eles não pudessem repetir, ou
copiar esse monumento, tão deslumbran-
te e feérico, composto de uma torre prin-
cipal, em forma de abacaxi, e nove torres
campanais no estilo oriental, correspon-
dentes a nove capelas, em formato de tur-
bante turco, ou cebolas, a “Catedral
Pokrovsky” recebeu uma décima capela no
ano de 1.588 para abrigar os restos mortais
de São Basílio, o monge vidente, que pre-
viu o assassinato do filho do czar, pelo pró-
prio pai.
Como toda a Catedral Cristã-Ortodo-
xa, “São Basílio” é fortemente emble-
mática, e tudo nela, principalmente seu
exterior, tem um significado próprio, es-
pecífico, definido.
O número 9, das 9 torres campanais,
significam, na religião ortodoxa, as nove
ordens angelicais.
Da mesma forma que, se a igreja tiver :
uma cúpula, significa a fé em seu único
Deus; três cúpulas, a fé na Santíssima Trin-
dade; cinco, são a representação de Cristo
e os quatro evangelistas; sete, são os sete
mandamentos da igreja; 13 representa
Cristo e seus 12 apóstolos
E assim seguimos, até chegar a 33, nú-
mero que representa os anos de vida
terrena do Salvador.
Também a forma dessas construções O esplendor das cúpulas da catedral... homenageia Cristo e deslumbra os visitantes.
tem seu significado específico. A torre prin-
cipal, em forma de “abacaxi” representa o
“Espírito Santo”, mas também o elmo, que terrestre. A cor azul com estrelas, é utiliza- Longe de nós tentar justificar, ou sequer
simboliza o guerreiro, e sua incessante luta da nos templos dedicados à Virgem Maria. minimizar as atrocidades, a barbárie e o
contra as forças do mal e das trevas As cú- Os altares que são dedicados à Santíssima desequilíbrio de Ivan, o Terrível, mas, um
pulas, em forma de “turbante turco ou bul- Trindade e ao Espírito Santo, tem sua cúpu- monumento como a “Catedral de São Basí-
bo”, significam a chama de uma vela, a ilu- las em verde. Em prata, são aquelas corres- lio”, se não perdoa ou até mesmo absolve,
minação, nos levando, assim, às palavras de pondentes aos altares dedicados aos santos. certamente justifica toda uma vida, toda uma
Cristo: “Vós sois a luz do mundo” Evidentemente, não existe, no mundo, existência, toda a razão de ser de alguém que,
No que diz respeito às cores, o ouro conjunto mais harmonioso, mais equilibra- chegando às profundezas do inferno, certa-
significa a glória celeste, e as cúpulas dou- do, mais “sobrenatural” do que aquele apre- mente deve ter sido menos penalizado ao
radas somente são ostentadas pelas cate- sentado pela Catedral de São Basílio a qual, apresentar essa parte de seu curriculum...
drais mais importantes, homenageando como simbologia ortodoxa plena, signifi-
Cristo e as 12 principais festas de sua vida ca, em seu todo, a “Jerusalém celeste”. HENRIQUE DO AMARAL.

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


No coração de Moscou, a Catedral de São Basílio é um ícone que reflete, com intensidade, a alma russa e homenageia os guerreiros e heróis do país.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 57


HISTÓRIA

Memórias de um diplomata
O brasileiro Sebastião do Rego Barros viu de perto o fim da União
Soviética e o ressurgimento da Rússia enquanto servia no país

O
Embaixador Sebastião do Rego
Barros, moderador do Painel II do
Seminário Bilateral de Comércio
Exterior e Investimentos Brasil-Rússia, or-
ganizado pela FCCE, foi um dos brasilei-
ros que estava no Leste Europeu e assis-
tiu, de perto, ao colapso do regime co-
munista nos países daquela região, a partir
do final da década de 1980. Considerado
um dos melhores diplomatas do Ministé-
rio das Relações Exteriores, chegou a
Moscou na qualidade de embaixador ple-
nipotenciário do Brasil na União das Re-
públicas Socialistas Soviéticas – URSS, no
ano de 1990, e ali serviu até 1994, quan-
do a Rússia já passara a ser uma irreversível
realidade.
Fez questão de estabelecer o maior
contato pessoal possível com o país em
que servia, não hesitando em mergulhar
no aprendizado da língua russa, cuja escri-
ta se dá em caracteres cirílicos, muitos dos
quais estranhos ao nosso alfabeto.

Turbulência histórica
O embaixador costuma dizer que
conviveu com uma das maiores turbu- Sebastião do Rego Barros plantou as sementes de um novo relacionamento comercial.
lências já ocorridas em qualquer socie-
dade, em qualquer período da história repúblicas soviéticas se tornaram indepen- rido um grande marasmo não apenas em
da humanidade. Ele conta que, no coti- dentes e a Federação Russa teve de se re- relação ao comércio com o Brasil, mas a
diano da então União Soviética, tudo compor enquanto nação, perdendo parte todo o comércio com o exterior. Demo-
mudava diariamente, deixando estupefa- de seus territórios e riquezas naturais. rou a haver o restabelecimento de impor-
tas tanto a cúpula política local, que foi Segundo o embaixador, essa subversão tações, já que as enormes empresas esta-
atropelada pelos acontecimentos, quan- era inevitável, pois o país havia se tornado tais, responsáveis pelas grandes compras,
to a população, que perdeu alguns dos inviável e ingovernável, tantos eram os foram, quase todas, substituídas por em-
privilégios de que dispunha nas áreas de segredos mantidos pelos homens da polí- presas privadas que ainda não possuíam
saúde e de educação, por exemplo, em cia secreta KGB, que impediam a circula- cabedal para assegurar o mesmo nível de
favor da possibilidade de um desenvol- ção de informações de toda a natureza, aquisições.
vimento geral mais acelerado e da supe- inviabilizando não apenas a administração, Ainda assim, ele diz que plantou as
ração do atraso frente às sociedades mais mas as próprias condições necessárias para sementes de um novo relacionamento
desenvolvidas do Ocidente. um mínimo de participação da sociedade comercial entre os dois países, o que,
Finalmente, em 21 de dezembro de na gestão e na própria vida do país. modestamente, lhe parece bem pouco,
1991, a União Soviética se desfez, no bojo Do ponto de vista das relações comer- mas que se constituiu num trabalho re-
de um processo de aberturas comandadas ciais entre os dois países, o embaixador conhecido hoje pelos analistas de nossa
por Mikhail Gorbachev. Várias das então lamenta que, àquele tempo, tivesse ocor- política exterior.

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Senac: alternativas educacionais
para o mundo do trabalho
60 anos ampliando as perspectivas da educação profissional dos brasileiros

A
criação do Serviço Nacional de
Aprendizagem Comercial – Senac,
em 10 de janeiro de 1946, cami-
nha não somente com o crescimento do
Setor do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo nestes últimos 60 anos, mas tam-
bém com a da educação do Brasil. Numa
trajetória de tantas conquistas, destacam-
se momentos significativos.
Na década de 1940, o Senac se caracte-
rizou pela intensa colaboração com o en-
sino comercial do sistema regular, pelo
esforço para se implantar nos diversos
estados do país e por apostar no ensino a
distância como uma das alternativas para
o conhecimento. Outra ação marcante,
logo nos anos 1950, foi a criação da pri-
meira empresa pedagógica, através de uma O SenacMóvel leva conhecimento de qualidade a localidades distantes dos grandes centros.
loja-escola em venda varejista, dando ori-
gem aos atuais e diversos hotéis, restau- tema Senac, a Instituição passou, de forma Já na primeira década do novo milênio,
rantes, lanchonetes e postos-escola, em- organizada, a buscar uma maior integração destaca-se a busca contínua por uma gestão
preendimentos que comprovam o pionei- de ações dentro de uma política global. cada vez mais estratégica, além de iniciativas
rismo e a capacidade de inovação tecno- Como todos sabemos, nos anos 1980, o importantes para a integração do país, como
lógica do Senac em educação. mundo passou por transformações tecno- a Rede Sesc-Senac de Teleconferência, com
Um marco significativo na década se- lógicas profundas e o Senac procurou seus 400 pontos receptores, e o programa
guinte foi a decisão de ampliar o atendi- acompanhar todas elas, adaptando-se às radiofônico Sintonia Sesc-Senac, hoje distri-
mento em educação profissional a toda a novas realidades com tecnologia de ponta buído gratuitamente a mais de 650 emisso-
sociedade brasileira, não se restringindo à e apostando firmemente em Informática ras de rádio do país. Sem falar na criação da
missão original de formar apenas menores Educacional e Corporativa. Rede EAD Senac, com seus cursos de pós-
aprendizes. Para isso, foi preciso apresen- Na década de 1990, a principal contri- graduação lato sensu, que receberam concei-
tar, inclusive, uma nova concepção peda- buição do Senac foi, sem dúvida, a cora- to máximo do Ministério da Educação
gógica, culminando com a criação dos Cen- gem de rever o seu modelo pedagógico, Esses são apenas alguns exemplos das
tros de Formação Profissional em todo o proporcionando uma formação mais realizações do Senac em seus primeiros
país. Também é nessa época que surge a se- polivalente ao aluno e tornando-o capaz 60 anos de vida - realizações que vêm
mente de um dos programas mais vitorio- de intervir de forma crítica e criativa no mantendo a Instituição numa posição de
sos: as unidades móveis, que, quase 30 anos mundo do trabalho. A criação da TV Senac, vanguarda em educação profissional na
mais tarde, se transformaram nas carretas- hoje STV – Rede Sesc-Senac de Televisão, América Latina. Êxitos que a incentivam a
escola e balsa-escola do SenacMóvel, levan- a intensificação na produção de pesquisas, continuar investindo na educação conti-
do conhecimento de qualidade a localida- livros, vídeos e softwares e o importante nuada de seus alunos, que hoje contam
des distantes dos grandes centros. trabalho de preservação da memória do com um portfólio variado de cursos e
Foi nessa época que o Senac passou a Setor do Comércio de Bens, Serviços e programações da Formação Inicial ao Ní-
atuar de forma integrada. Nas décadas de Turismo foram outras ações desafiadoras, vel Superior, e que a credenciam, junto a
1970 e 80, quando planejamento e pes- confirmando a posição de vanguarda da diversos parceiros, a buscar alternativas
quisa foram as palavras de ordem no Sis- Instituição. para colaborar na inclusão social.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 59


FINANÇAS

nomia e o estudo dos nichos de merca-


do que interessam, enquanto negócio ge-
rador de lucratividade, aos países do ex-
terior. Além disso, mais do que indícios,
existem declarações formais de autori-
dades russas proclamando a vontade –
eu diria até, a necessidade – da aproxi-
mação com os mercados internacionais.
Quanto às relações com o Brasil, ainda
tão incipientes, são indícios dessa melho-
ra a vinda ao nosso país de uma missão
comercial russa em dezembro de 2005 e
a visita do Presidente do Banco Central,
Henrique Meirelles, à Rússia, agendada
para abril de 2006.

Que produtos, de um e de outro


país, poderão participar de um
O Embaixador Vladimir Tyurdenev e Rogério Fernando Lot no Seminário Bilateral Brasil Rússia. eventual crescimento em nosso co-
mércio bilateral?
RFL – O potencial de trocas entre os

Um potencial de dois países é quase inesgotável e ainda


não foi explorado suficientemente por
ambas as partes. No atual estágio de nos-

trocas inesgotável sas relações, vemos que a Rússia quer de


nós commodities agrícolas, como soja e
café e, também, carne de frango, produ-
tos vinculados ao software, como os de
O Diretor de Comércio Exterior do lio comercial da metrópole portuguesa e automação predial e sistemas integrados
Banco do Brasil, Rogério Fernando Lot uma economia colonial, onde não havia de informática. O Brasil, por sua vez, ape-
foi o moderador do painel I do Seminário lugar nem propósito para um estabeleci- sar de estar próximo da auto-suficiência
Bilateral de Comércio Exterior e Investi- mento financeiro, como um banco. de petróleo, sempre vai querer impor-
mentos Brasil-Rússia, dedicado ao tema tar da Rússia determinados tipos de de-
das relações bilaterais no agronegócio. No Como vê o panorama atual das rela- rivados. Além disso, interessam-nos al-
intervalo de um dos painéis, ele nos con- ções comerciais entre os dois países ? guns minérios existentes em abundância
cedeu esta entrevista. RFL – Até pouco tempo, um sistema ban- no vasto território russo, além de fertili-
cário fechado, típico do regime socialista zantes e de uma série infinita de produ-
Como o senhor avalia a presença de e, de nossa parte, também, um certo re- tos de alta tecnologia, que o Brasil ainda
um executivo do Banco do Brasil traimento em estabelecer contatos mais não consegue desenvolver e cuja trans-
num seminário que trata do comér- intensos, fazia com que as relações entre o ferência de conhecimentos ajudaria a ala
cio exterior? Brasil e a Rússia nem de longe refletissem vancar nosso desenvolvimento.
RFL – Mais que pertinente, considero a pujança das suas respectivas economias.
indispensável que o Banco do Brasil este- Agora, contudo, as coisas estão mudando A seu ver, qual a importância da re-
ja presente hoje aqui, eventualmente re- e eu diria mesmo que estão melhorando alização de seminários como esse?
presentado por mim. Não preciso lem- bastante. RFL – Eventos como este, em que gente
brar a longa trajetória do nosso banco na capacitada e inteligente se reúne para estu-
história do comércio exterior brasileiro, Quais são os indícios dessa melhora dar e tentar superar os problemas que cer-
pois ambos, banco e comércio exterior, na relação comercial da Rússia com cam as atividades do comércio exterior bra-
começam a existir em 1808, quando Dom o mundo, em geral, e com o Brasil? sileiro, são sempre muito oportunos. Pes-
João VI, recém-chegado de Portugal, abre RFL – Um primeiro dado a ser conside- soalmente, estou honrado em poder ter
os portos brasileiros ao comércio com as rado é o da transparência que o governo participado desse encontro e espero ser
“nações amigas” e funda o Banco do Bra- russo agora impõe a suas atividades, per- convidado para os seminários que ainda vão
sil. Até então o que existia era o monopó- mitindo uma análise aberta de sua eco- acontecer durante este ano de 2006.

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


COMÉRCIO

Seminários refletem crescimento


do comércio exterior brasileiro
Brasil já exporta produtos de qualidade e pode diversificar seus importadores
O Secretário de Comércio Ex-
terior do Ministério do Desen-
volvimento, Indústria e Co-
mércio Exterior – MDIC, Ar-
mando Meziat, foi moderador
do Painel III do Seminário Bi-
lateral de Comércio Exterior e
Investimentos Brasil-Rússia.
Em seu pronunciamento espe-
cial abordou aspectos da coo-
peração entre os dois países no
campo do domínio de altas
tecnologias. No intervalo dos
painéis, falou-nos um pouco
mais sobre a atuação do MDIC
e sobre outros aspectos de nos- Armando Meziat: “é preciso interiorizar a mentalidade exportadora para ocuparmos novos espaços”.

so relacionamento comercial e da indústria dos países em foco. A idéia, no ano de 2005, em que o Brasil
efervescência desencadeada pelo espan- exportou US$ 118.309 bilhões, nossa
com o exterior. toso crescimento de nossas exportações exportação para a Rússia atingiu apenas
e importações tinha mesmo que resultar US$ 2.9 bilhões. Isto significa que a Rússia
em produtos como esse. Se me é permiti- é hoje o nosso décimo mercado de ex-
Qual é a sua opinião sobre a série de da a imagem, acredito que os seminários portação e ocupa um percentual de ape-
seminários que têm sido promovi- são a expressão viva do crescimento do nas 2,5% no total de exportações brasi-
dos pela Federação das Câmaras de nosso comércio exterior. leiras. E, ainda, é preciso dizer que, desse
Comércio Exterior? total, cerca de 2,2% se devem à exporta-
AM – Acho que os seminários são muito Qual a sua avaliação sobre as rela- ção de produtos básicos, como carnes
importantes e, aliás, tenho percebido que, ções comerciais entre o Brasil e a bovina, suína e de frango, e açúcar. Ora,
a cada mês, o comparecimento tem sido Rússia? Elas correspondem à impor- basta olhar para o tamanho, a diversidade
maior, e maior tem sido o interesse geral tância das respectivas economias, e a sofisticação tecnológica do mercado
por esses eventos. Nada é mais eficiente chegaram a seu ponto máximo, ou russo para perceber o quanto ainda preci-
para incrementar o crescimento de nos- estão estagnadas? samos e podemos crescer.
sas relações comerciais com o exterior do AM – O potencial de comércio entre os Enquanto nossas exportações para os
que encontros como esses, que reúnem dois países é imenso, mas ainda permane- Estados Unidos, país de altíssimo desen-
governos e altas expressões do comércio ce em níveis muito baixos. Para se ter uma volvimento tecnológico, e para tantos ou-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 61


COMÉRCIO

tros países, constituem-se, em sua grande AM – Entre os muitos fatores que ate- posições no ranking entre países expor-
maioria, de produtos industrializados ou morizam nossos empresários diante das tadores em todo o mundo. Esse cresci-
semi-industrializados, em relação à Rússia exportações, eu tenho observado que fi- mento só vai tender a aumentar, porque
ainda nos comportamos como aquele ve- guram: a novidade de lidar com o exteri- o Brasil, em breve, vai criar a fama de país
lho país de antigamente, exportador de or, a questão da língua diferente, o medo que exporta produtos de qualidade, o
matérias-primas e de produtos básicos. de não receber o dinheiro das exporta- que, certamente, fará crescer os pedidos
ções, o temor de que seu produto não e diversificar os importadores. Já pode-
O que a Secretaria de Comércio Ex- seja bem aceito em um mercado dife- mos apontar inúmeros produtos brasi-
terior do MDIC tem feito para apri- rente, enfim, o envolvimento com toda leiros que atingiram esse patamar de ex-
morar e incrementar o nosso comér- uma logística a que eles não estão habitu- celência e só vou lembrar aqui o alto ní-
cio exterior? ados. Nosso trabalho tem sido o de de- vel dos aviões e das peças que a Embraer
AM – Faz tempo que na Secretaria de Co- monstrar, não que exportar seja fácil, mas tem exportado, a tecnologia relativa à
mércio Exterior nós temos levado a efeito que não é essa barreira intransponível informática, e os softwares, produtos que
um grande trabalho de conscientização e nos rendem elogios no exterior, onde
de interiorização da mentalidade exporta- quer que cheguem.
dora. Em um país continental como o nos-
so, que dispõe de um grande mercado in-
terno, a disposição e a inclinação natural
“ É preciso ouvir os potenciais
exportadores para
podermos aprimorar
É verdade que, ao exportar, o país
priva seus habitantes do que melhor
dos industriais é a de atender à demanda produz e que vai diretamente para
interna. Por isso, temos trabalhado no sen-
tido de redirecionar essas atividades para o
mercado externo, demonstrando as facili-
a política do setor

A R M A N D O M E Z I AT N
o exterior?
AM – Essa afirmativa é falsa. Ainda me
lembro do tempo em que, no Brasil, se
dades, a lucratividade e todos os demais be- que chega a atemorizar nosso setor pro- fazia controle do estoque de bens, para
nefícios que advêm do comércio exterior dutivo mais conservador e desprovido que eles não faltassem no mercado in-
para o nosso setor produtivo. de audácia em suas transações comerci- terno. Hoje em dia já não se procede mais
ais. É claro que é preciso tomar algumas assim: se o produto vendeu demais e
Esse trabalho é realizado direta- medidas para vir a se tornar em um ex- ameaça faltar, vamos importá-lo. O mer-
mente com as firmas produtoras? portador de sucesso, tais como garantir a cado mundial, atualmente, nos dá essa
AM – Ele é levado a efeito junto às firmas, qualidade de seu produto, cumprir os condição.
mas, também, através de encontros e semi- prazos determinados e garantir a entrega Lembro-me, por exemplo, do balan-
nários que organizamos e para os quais con- da mercadoria no exterior, enfim, toda ço entre as cotações da soja, na época em
vidamos os potenciais exportadores de pro- uma sistemática que tem muito a ver com que o Brasil descobriu que era um gran-
dutos brasileiros. Um excelente veículo para credibilidade. Uma vez superada a inér- de negócio exportar toda a soja possível
esse trabalho tem sido o INCOMEX, que cia inicial, tenho visto os exportadores no primeiro semestre do ano, porque no
são uma série de eventos que vimos produ- conseguirem amplo sucesso em suas segundo, entrava no mercado a soja ame-
zindo desde o ano de 1997 (este ano chega- operações. ricana e era mais vantajoso importá-la, já
mos ao 100º). O INCOMEX nasceu nas ci- que os preços despencavam. As ativida-
dades, foi para o interior e voltou às grandes Em sua avaliação, essa conscien- des no comércio exterior, atualmente, já
metrópoles, sempre com o objetivo de reu- tização diante da exportação já está estão definitivamente incorporadas à
nir empresários locais e agentes de governo, introjetada entre o empresariado economia do país e o seu setor produti-
no sentido de, primeiro, levar informação e brasileiro? Já está existindo uma vo já nem pensa em adotar práticas como
responder a perguntas como: “O que é ex- maior preocupação com a qualida- as de voltar-se novamente para mercado
portar?” “Como fazê-lo?” “Quais são os ca- de dos produtos exportados e o interno se as coisas melhorarem por aqui.
minhos que levam às vendas no exterior?” cumprimento dos prazos? A prova disso é que nossas exportações
Em segundo lugar, desejamos ouvir o que AM – Acredito que o Brasil tenha inici- não param de crescer. Só no ano passa-
têm a dizer os potenciais exportadores. Por ado um movimento que não tem mais do, tivemos, como se sabe, um cresci-
fim, pretendemos criar, em cada região onde retorno. A tendência inexorável é a do mento de 22% em cima dos índices de
trabalhamos, a mentalidade exportadora de crescimento da participação brasileira no 2004, que já eram de franco crescimen-
que tanto carecem os nossos produtores. comércio internacional. Historicamen- to em relação aos anos anteriores. Nin-
te, as exportações brasileiras represen- guém vai deixar de cumprir os compro-
O que assusta o empresário brasi- tavam apenas 1% do comércio mundial, missos assumidos lá fora só porque o
leiro e contribui para fazê-lo pouco mas, desde o ano passado, elas deram um mercado interno cresceu. Isso, no Brasil
receptivo à exportação? salto e fizeram com que subíssemos três de hoje, é impensável.

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


SESC: a educação em um
sentido mais amplo
No ano em que completa 60 anos de exis-
tência, o Serviço Social do Comércio tem
muitos motivos para festejar: são seis dé-
cadas de serviços prestados tendo como
base o conceito de educação em seu sen-
tido mais amplo.
A capilaridade da rede SESC se espalha
por capitais, cidades do interior e peque-
nos municípios brasileiros. São modernos
centros culturais, bibliotecas, quadras
poliesportivas, teatros, restaurantes, cine-
mas, salas de aula, entre outros locais de
serviços.
Organização plural em essência, a ins-
tituição atua nas áreas de Educação, Saú-
de, Cultura e Lazer, sempre de forma
transformadora e propositiva. Seus clien-
tes preferenciais são os comerciários de
bens, serviços e turismo e suas famílias,
mas o SESC atende também as popula-
ções mais carentes das comunidades em
que está presente.
Fiel ao compromisso com a socieda-
de, o SESC é um agente de transformação
que procura aperfeiçoar permanente- Maron Emile Abi-Abib, Diretor Geral do Departamento Nacional do SESC.
mente a qualidade de seus serviços, res-
pondendo aos desafios de uma sociedade O que o SESC representa hoje para Maron – Um salto de qualidade em servi-
em constante mudança. o Brasil? ços, além do incremento e das melhorias
Maron – Uma de suas mais notáveis e perseguidos constantemente. Este salto se
Qual a avaliação da atuação do SESC compassivas forças. Da observação e da dará através de otimização dos recursos, par-
nesses 60 anos? lida com as agruras sociais que interpe- cerias, convênios e patrocínios, moderniza-
Maron – A avaliação é coerente com os lam o crescimento nacional, ao longo de ção administrativa, desenvolvimento técni-
resultados sociais que alcançamos ao lon- mais de meio século, extraímos sensibi- co e, principalmente, educação corporativa.
go de seis décadas, na melhoria do bem- lidade e potência. Aprendemos a encon- Em resumo, através de um grande empe-
estar e da qualidade de vida dos comer- trar saídas para desafiar a dificuldade de nho na gestão estratégica do SESC, meta
ciários e da sociedade em geral. Converge recursos, diante das grandes demandas traçada nas Diretrizes para o qüinqüênio. O
à solidez da instituição: em um cenário da sociedade. Enfrentando diariamente documento, que está para ser analisado pelo
com inúmeras crises institucionais, onde os problemas brasileiros ganhamos um Conselho Nacional, nasceu da motivação
várias organizações perderam credibi- ponto de vista privilegiado que nos im- conjunta de todos os executivos do SESC,
lidade, o SESC permaneceu imune, sem- pele a articular com as forças circun- em 2005. Todos os projetos nacionais do
pre fiel a sua missão, incansável, fortale- dantes, obtendo alianças para levar adi- SESC serão otimizados, ampliando seu al-
cendo sua presença em todo o país. A ante a missão institucional. cance, e a entidade cada vez mais contribuirá
comprovação está na crescente parceria com sua experiência para o aperfeiçoamen-
do governo federal com a entidade, base- O que os comerciários de todo o to das políticas públicas, produzindo estu-
ada em sua experiência no campo social, Brasil podem esperar da instituição dos permanentes sobre os problemas brasi-
que a tornou modelo para a nação. nos próximos anos? leiros, em publicações e fóruns.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 63


LOGÍSTICA

Infra-estrutura aeroportuária
facilita o comércio internacional
Gerente Nacional de Logística reforma, modernização e ampliação tan-
to dos aeroportos quanto dos seus ter-
de Carga da Infraero, Ednaldo minais de carga aérea. Objetivamos
Pinheiro Santos foi expositor do disponibilizar uma infra-estrutura que
esteja à altura das necessidades, cada vez
Painel II do Seminário Bilateral
mais diversificadas, dos exportadores e
de Comércio Exterior e Inves- importadores brasileiros.
timentos Brasil-Rússia, organi-
Era precário o estado da infra-es-
zado pela Federação das Câma- trutura existente até o ano passado?
ras de Comércio Exterior – EPS – Não, nossa infra-estrutura não
era precária, mas estamos falando de um
FCCE. Pernambucano residen- setor que precisa ser freqüentemente
te em Brasília, ele veio ao Rio modernizado, dadas as novidades trazi-
das pela tecnologia. Para se ter uma
de Janeiro especialmente para idéia, os aeroportos do Norte e do
participar do evento. Nesta en- Nordeste do Brasil – Belém, Fortaleza,
Natal, Recife, Salvador, por exemplo -
trevista exclusiva à revista da são hoje tão modernos quanto os de
FCCE, ele falou sobre o aper- qualquer país desenvolvido e nada de-
feiçoamento dos terminais de
carga áereos, que ele considera
“ Os aeroportos do Norte
e do Nordeste do Brasil
são tão modernos quanto
vem aos de seu porte nos Estados Uni-
dos, na Europa e na Ásia.

Como o senhor avalia essa primeira


elementos importantes para
os de qualquer país participação da Infraero em um se-
viabilizar e incrementar o nos- minário como o que estamos reali-
so esforço exportador.
desenvolvido

EDNALDO PINHEIRO SANTOSN
zando?
EPS – Acho que essa experiência está
sendo muito útil, tanto para a Infraero
Qual a importância da participação seminários que vão acontecer durante o como para o público presente. Para a
da Infraero em seminário sobre co- ano de 2006 e posso garantir que estare- Infraero, é importante ser considerada,
mércio exterior? mos presentes a todos eles, com o maior mais uma vez e com justiça, um inter-
EPS – A Infraero sempre se faz presente interesse. locutor necessário quando se cogita de
em eventos promovidos pela Associação analisar as operações de comércio exte-
de Exportadores do Brasil e está mesmo Que papel vem desempenhando a rior desenvolvidas pelo Brasil. Além dis-
muito ligada a essa problemática da ex- Infraero no esforço pelo desenvol- so, participar desse evento nos oferece a
portação dos produtos brasileiros, par- vimento e crescimento das nossas possibilidade de mostrar a esse público,
ticipando do esforço para conseguir o seu exportações? em que não faltam exportadores, de que
crescimento contínuo, o que vem ocor- EPS – Além de patrocinar uma série de recursos eles podem dispor para enviar
rendo. Estivemos também presentes ao eventos e seminários que se dedicam ao seus produtos ao exterior através de nos-
Investbrasil e, agora, temos muita honra comércio exterior brasileiro, a empresa sos terminais. A Infraero, enquanto res-
em comparecer a este seminário em que vem trabalhando no sentido de melho- ponsável pela administração dos aero-
se discutem e analisam as relações co- rar a infra-estrutura aeroportuária, o que portos do país, provê a infra-estrutura
merciais entre o Brasil e a Rússia, sob o facilita bastante a viabilização de nossas destinada ao atendimento do mercado:
patrocínio da FCCE. Devo dizer, aliás, que importações e exportações. Só no ano empresas aéreas, exportadores, turistas,
a Infraero é um dos patrocinadores dos passado, aplicamos US$ 656 milhões na passageiros e carga.

64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


RELAÇÕES BILATERAIS

O alto dinamismo das vendas externas russas inclui, principalmente, petróleo,


gás natural, siderúrgicos, madeira e produtos químicos. Além disso, a Rússia
passou a ser um dos dez maiores importadores de produtos brasileiros.

Comércio exterior da Rússia


compradores mundiais, duas abaixo da ocupada no ano anterior.
ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE DO
Compõem a pauta de importações maquinaria e equipamentos, me-
DEPARTAMENTO DE PLANEJAMENTO
dicamentos, carne, açúcar e produtos semi-acabados de metal. No
E DESENVOLVIMENTO DO COMÉRCIO EXTERIOR
ano de 2005, as compras do país somaram US$ 125,1 milhões,
DA SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR DO MDIC
28,5% a mais que no ano anterior, de US$ 97,4 milhões.
Os principais mercados fornecedores das importações rus-

O
comércio exterior russo cresceu de forma expressiva sas, em 2004, foram: Alemanha (14,2% do total, somando US$
nos últimos anos. Em 2005, a corrente de comércio do 9,6 bilhões), Ucrânia (8,7%, US$ 6,0 bilhões), China (6,8%,
país se expandiu 32,0% em relação ao ano anterior, pas- US$4,7 bilhões), Japão (5,7%, US$ 3,9 bilhões), Cazaquistão
sando de US$ 280,6 bilhões para US$ 370,4 bilhões. Se conside- (4,6%, US$ 3,2 bilhões), Estados Unidos (4,6%, US$ 3,1 bi-
rarmos 1999, ano da crise financeira russa, quando a corrente lhões), Itália (4,4%, US$ 3,0 bilhões), França (4,1%, US$ 2,8
totalizou US$ 115,2 bilhões, o aumento foi de 221,5%. Esse bilhões), Polônia (3,2%, US$ 2,1 bilhões) e Finlândia (3,0%,
movimento de expansão do comércio externo foi ocasionado US$ 2,1 bilhões). Dentre estes dez maiores países fornecedores
pelo crescimento tanto de suas exportações quanto de suas im- à Rússia destacaram-se, pelo seu crescimento relativo: Japão
portações. (+114,9%, no comparativo 2004/2003), China (+43,5%),
Merece destaque o alto dinamismo das vendas externas rus- Ucrânia (+41,5%), Polônia (39,5%) e Cazaquistão (+38,6%).
sas em anos recentes. Em 2004, o crescimento foi de 34,8%, Já os principais países compradores das exportações russas fo-
somando US$ 183,2 milhões. Tal cifra representou 2,0% das ram: Países Baixos (10,8% do total, o equivalente a US$ 14,8 bi-
exportações mundiais, o que posicionou o país como o 14º mai- lhões), Alemanha (7,0%, US$ 9,6 bilhões), Ucrânia (6,8%, US$
or exportador mundial nesse ano. A participação russa no con- 9,3 bilhões), China (6,0%, US$ 8,2 bilhões), Itália (5,2%, US$ 7,1
junto das exportações globais evoluiu constantemente desde a bilhões), Turquia (3,9%, US$ 5,4 bilhões), Estados Unidos (3,9%,
débâcle financeira de 1999, quando suas vendas externas consti- US$ 5,4 bilhões), Finlândia (3,9%, US$ 5,4 bilhões), Polônia
tuíam 1,6% das vendas mundiais. Em re-
lação a 2003, a Rússia subiu três posições Evolução da balança comercial da Rússia
entre os principais exportadores mundi- 1994 a 1995 – US$ bilhões
ais, superando Taiwan, Cingapura e
270
Espanha. No ano de 2005, o ritmo de cres-
cimento foi praticamente o mesmo, re- 240
presentando uma expansão de 33,9% em Exportação Importação Saldo
210
relação a 2004, para um total de US$
245,3 bilhões. 180
Petróleo, gás natural, siderúrgicos, ma-
deira e produtos químicos são os principais 150

componentes da pauta exportadora russa, 120


com destaque para o setor de combustível e
energia, que responderam por mais da me- 90
tade (54,7%, total de US$100,4 bilhões) 60
das exportações totais da Rússia, em 2004.
Quanto às importações russas, em 2004, 30
o crescimento foi de 27,8% e o montante 0
representou 1,0% das importações mundi- 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
ais, 25ª posição entre os principais países Fonte: OMC e Banco Central da Rússia

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Exportações da Rússia Importações da Rússia


Principais países de destino – 2004 – participação % Principais países de destino – 2004 – participação %
12,0 16,0
10,8 Fonte: Global Trade Atlas
14,2 Fonte: Global Trade Atlas
14,0
10,0
12,0
8,0 7,0 6,8 10,0 8,7
6,0
6,0 5,2 8,0 6,8
5,7
3,9 3,9 3,9 4,6 4,6
3,6 6,0 4,4
4,0 3,2 4,1
3,2 3,0
4,0
2,0
2,0

0,0 0,0
a

ia

ia

uia

ia

nia

ha

ânia

ia

ça

nia

ia
o
Bai Países

Uni stados

Uni stados
anh

Chin

Chin
istã

istã
ân

Itál

ând

Itál

ând
Fran
an

Jap
Turq

Polô

Polô
Ucr
xos

Ucr
dos

dos
Alem

aqu

Alem

aqu
Finl

Finl
E

E
Cas

Cas
(3,6%, US$ 4,9 bilhões) e Cazaquistão (3,2%, US$ 4,4 bilhões). Participação do Brasil no comércio exterior da Rússia
Quanto à posição do Brasil no ranking do comércio exterior 2000 a 2005
da Rússia, em 2004, o país foi o 44º mercado de destino das Fonte: MDIC/SECEX, OMC e Banco Central da Rússia
exportações, uma participação de 0,29% no total, em valor so-
mou US$ 808 milhões. Do lado das importações do mercado 0,29%
russo, o Brasil foi o 15º maior mercado fornecedor, uma partici- 0,45% 0,40% 0,41%
0,44%
pação de 1,75% na pauta, somando US$ 1,7 bilhão.
Já em 2005, a análise da participação do Brasil no comércio
com a Rússia evidencia um aumento da representatividade brasi- 0,54%
2,05% 2,08%
2,33%
2,02%
leira nas importações para 2,33%. Este resultado deve-se ao au- 1,75%
mento expressivo de 76% das exportações brasileiras para o 0,94%
mercado russo, taxa acima registrada para o crescimento das im-
portações globais da Rússia, de 33,9%. 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Nas exportações da Rússia, a participação brasileira mostrou Importação da Rússia Exportação da Rússia
decréscimo, de 0,44%, em 2004, para 0,29%, em 2005.

Intercâmbio comercial entre Brasil e Rússia – 2005


A partir de 2001, quando as exportações para o mercado Intercâmbio comercial Brasil/Rússia
russo superaram a cifra de US$ 1 bilhão, com aumento de 161% 2005/ 2004 – US$ milhões FOB
sobre o ano anterior, o país não parou de crescer em importância Fonte: MDIC/SECEX
Variação % 2004/2005:
como mercado de destino dos produtos brasileiros. No último Exportação: + 76,0% 3.639
ano, a Rússia passou a vigorar no rol dos dez maiores países im- Importação: - 10,6%
Saldo comercial: + 158,2%
portadores de produtos nacionais, superando países importantes 2.917 Corrente de comércio: + 47,6%
como França e Reino Unido. 2.466
2.195
Em 2005, as exportações brasileiras para a Rússia atingiram
1.658
a cifra de US$ 2,9 bilhões, o que representou aumento de 76,0%
sobre o mesmo período do ano anterior, de US$ 1,7 bilhão. 850
808 722
Expansão muito superior ao total do crescimento das exporta-
ções brasileiras, de 22,6%. Esse movimento propiciou o au-
mentou da participação das vendas para a Rússia no total ex- Exportação Importação Saldo Corrente de
portado pelo Brasil, de 1,7%, em janeiro-dezembro de 2004, Comércio
2004 2005
para 2,5%, em 2005.

66 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Evolução do intercâmbio comercial Brasil/Rússia Exportações brasileiras para a Rússia
1995/2005 – US$ milhões FOB
por fator agregado
3.000 2005 – participação %

2.700
Exportação Importação Saldo Comercial
2.400
Fonte: MDIC/SECEX
2.100

1.800 Manufaturados
12,4%
1.500
Semimanufaturados Básicos
1.200 26,2% 61,4%

900

600

300

-300
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: MDIC/SECEX

As importações brasileiras provenientes da Rússia apresenta- Evolução da corrente de comércio Brasil/Rússia


ram retração de 10,6% em 2005. Suas compras de produtos 1995/2005 – US$ milhões FOB
brasileiros somaram US$ 722 milhões, contra US$ 808 milhões, Fonte: MDIC/SECEX
no ano anterior. A participação russa no total importado pelo
3.639
Brasil recuou de 1,3% para 1,0%.
No tocante ao saldo comercial, o Brasil revela-se historica-
mente superavitário. No período de janeiro a dezembro de 2005,
2.466
o saldo foi positivo em US$ 2,195 bilhões, cifra superior ao saldo
2.055
obtido em igual período do ano anterior, de US$ 850 milhões.
1.680
A corrente de comércio entre os dois países totalizou US$ 3,6 1.567

bilhões no acumulado de 2005, aumento de 47,6% com relação 1.084 1.061


979 940 994
a 2004, US$ 1,2 bilhão a mais em termos absolutos, constituindo 870

cifra recorde para o fluxo de comércio anual entre os dois países.


No período janeiro/dezembro-2005, a Rússia ocupou a 10ª po-
sição entre os países compradores de produtos brasileiros, superan- 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
do outros parceiros europeus como França, Reino Unido, Bélgica e
Espanha. No ano anterior, a Rússia ocupara a 14a posição entre os
principais mercados de destino das exportações nacionais. Exportações brasileiras para a Rússia por fator agregado
Nas exportações brasileiras para a Europa Oriental, a Rússia 2005/2004 – US$ milhões FOB
manteve o 1º lugar em 2005, respondendo por 75,6% das ex-
portações para a região, que somaram US$ 3,9 bilhões. Fonte: MDIC/SECEX
1.790
No ranking dos mercados fornecedores, a retração das im- Variação % 2004/2005:
portações provenientes da Rússia propiciou um recuo, de 19º, Básicos: + 90,2%
Semimanfaturados: + 51,5%
para 24º maior fornecedor ao Brasil em 2005. Manufaturados: + 71,6%
Quanto às importações advindas da Europa Oriental, a Rússia
se coloca também na 1a posição entre os países do bloco, repre- 941
765
sentando 61,5% das compras brasileiras efetuadas na região, de
US$ 1,17 bilhão. 505
362
A pauta de exportação brasileira para a Rússia, em 2005, foi
211
constituída de 38,6% de bens industrializados – 26,2% de
semimanufaturados, somando US$ 765 milhões, e 12,4% de
manufaturados, total de US$ 362 milhões – e 61,4% de produ- Básicos Semimanufaturados Manufaturados
tos básicos, um montante de US$ 1,8 bilhão. 2004 2005

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking da Rússia nas exportações brasileiras Ranking da Rússia nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor A% Part% Ordem País Valor A% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5,023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
14 10 Rússia 2.917 76,0 2,5 8 10 Itália 2.276 11,1 3,1
19 24 Rússia 722 -10,6 1,0

O grupo de produtos que mais cresceu foi o de básicos Principais produtos exportados pelo Brasil para a Rússia
(+90,2%), seguido pelos semimanufaturados (+51,5%) e ma- 2005 – US$ milhões FOB
nufaturados (+71,6%).
Fonte: MDIC/SECEX
Os principais produtos exportados pelo Brasil para o merca- 793 787
do russo foram carne suína (27,2% da pauta, principal item),
seguido de açúcar (27,0%), carne bovina (19,0%), carne de
frango (8,9%), fumo em folhas (3,6%), café solúvel (3,0%), 555
tratores (1,9%), carne de peru (0,9%), produtos de perfumaria
(0,8%) e óleo de soja refinado (0,7%).
A pauta de exportação é ainda bastante concentrada, pois ape- 259
nas carnes (suína, bovina, de frango e de peru) e açúcar (bruto e
104
refinado) respondem por cerca de 82,9% da exportação total 87
54 27 23 20
brasileira.
Houve acréscimo substancial na venda dos principais itens da
Óleo de soja
refinado
Carne
suína

Carne
bovina

Carne de
frango

Café
solúvel

Carne
de peru

Produtos de
perfumaria
Fumo em
folhas

Tratores
Açúcar

pauta. Elevaram-se as exportações de carnes suínas (+79,6%,


para US$ 793,5 milhões), carnes bovinas (+132,2%, para US$
555,3 milhões), carnes de frango (+62,3%, para US$ 259,1
milhões), açúcar em bruto (+51,6%, para US$ 762,7 milhões) e Principais produtos importados pelo Brasil da Rússia
refinado (+628,5%, para US$ 24,6 milhões). 2005/2004 – US$ milhões FOB
Além do crescimento de tais itens da pauta, cabe ressaltar a
evolução das exportações de: laminados planos (+862,9%, para 521
Fonte: MDIC/SECEX

um total de US$ 18,9 milhões), tratores (+231,3%, para US$


54,1 milhões), óleo de soja refinado (+204,2%, para US$ 20,2
milhões), café em grão (+160,5%, para US$ 9,5 milhões), auto-
móveis (+95,6%, para US$ 15,8 milhões) e fumo em folhas
(+83,0%, para US$ 104,2 milhões).
Do lado da importação, o Brasil adquiriu da Rússia 93,6% de
produtos industrializados e 6,4% de básicos.
37 29
Adubos e fertilizantes constituem o principal segmento de 26 24 14 12
importação do Brasil da Rússia. Em 2005, representaram 72,2%
da pauta de importação brasileira de mercadorias russas. No ano,
Naftas para
petroquímica

Borracha
sintética ou
artificial
Carvão
Catodos de
níquel

Enxofre
Adubos e
Fertilizantes

Ferro-ligas

a Rússia respondeu por 23,0% das compras totais brasileiras dos


itens pertencentes a esse grupo de produtos, de US$ 2,265 bi-

68 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Principais estados importadores da Rússia Principais estados exportadores para a Rússia
2005 – US$ milhões FOB 2005 – US$ milhões FOB
Fonte: MDIC/SECEX Fonte: MDIC/SECEX
149 959

130

541
89
385
65
56 54 303
51 46
37 185 184
30 109 95 76
15 44 34

Rio Grande
do Sul
Santa
Catarina

Paraná
São Paulo

Mato Grosso
do Sul

Mato
Grosso

Pernanbuco
Minas
Gerais

Alagoas

Goiás

Demais
Rio Grande
do Sul
Paraná

Bahia

Santa
Catarina
São Paulo

Mato
Grosso

Espírito
Santo
Minas
Gerais

Goiás

Alagoas

Demais

lhões, colocando-a como principal mercado fornecedor ao Bra- Número de empresas brasileiras exportadoras e
sil, seguido de Canadá (12,0%), Estados Unidos (10,5%) e Belaru importadoras no comércio com a Rússia
(8,9%). Outros itens de destaque nas importações brasileiras
Fonte: MDIC/SECEX
provenientes da Rússia são: catodos de níquel (5,1%), carvão 668
mineral (4,1%), naftas (3,6%), ferro-ligas (3,4%), borracha sin-
tética (2,0%) e enxofre (1,7%). 534
A diminuição das importações oriundas do país, em 2005, 435 425
teve como principal causa a redução das compras de adubos e
fertilizantes provenientes desse mercado, uma retração de 11,8%,
de US$ 591,0 milhões para US$ 521,3 milhões, devido à menor
demanda desses produtos.
Outro item que apresentou redução da Rússia foi catodos de
níquel: -50,7%, de US$ 74,5 milhões para US$ 36,7 milhões.
2004 2005
Importação brasileira da Rússia Exportadores Importadores
2005/2004 – US$ milhões FOB
2005 2004 Variação pauta. Os principais embarques paulistas com destino à Rússia
Abs. Rel. corresponderam a açúcar, carne bovina, tratores e café solúvel.
Total Geral 722 808 -86 -10,6 Seguindo-se a São Paulo estão: Santa Catarina (18,5% do total),
Fertilizantes Químicos 521 591 -70 -11,8 Paraná (13,2%), Rio Grande do Sul (10,4%) e Minas Gerais
Catodos de Níquel 37 75 -38 -50,7 (6,3%).
No tocante aos estados importadores de produtos russos, São
Demais produtos 164 142 22 15,3 Paulo se encontra também na primeira posição, com participa-
Fonte: MDIC/SECEX ção de 20,6% do total. Em seguida está Minas Gerais (18,0%),
Paraná (12,3%), Bahia (9,0%) e Mato Grosso (7,8%).
A despeito da redução desses itens, cresceram as importações Considerando os dados de 2005, 668 empresas brasileiras
de laminados planos (+284,6%, para US$ 8,7 milhões), ferro- efetuaram vendas à Rússia ante 530 exportadores no mesmo
ligas (+83,8%, para US$ 24,2 milhões), borracha sintética ou período de 2004, o que representa acréscimo de 26,0% (+138
artificial (+83,0%, para US$ 14,1 milhões) e hulhas (+61,3%, empresas) no número de empresas brasileiras que exportaram
para US$ 29,4 milhões). Com efeito, excetuados os fertilizantes para a Rússia.
e catodos de níquel, verifica-se acréscimo de 15,3% nos demais Na importação, no mesmo período, 425 empresas brasileiras
produtos da pauta de importação, taxa próxima do crescimento realizaram compras de produtos provenientes da Rússia. Em 2004,
de 17,1% verificado nas importações globais brasileiras. 435 empresas brasileiras realizaram importações da Rússia. Compa-
São Paulo, o maior estado exportador brasileiro, é também o rando os dois dados, verifica-se ligeiro recuo de 10 (-2,3%) empre-
que mais realizou exportações para a Rússia, 32,% do total da sas no número de empresas importadoras de produtos russos.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 69


CURTAS

Repercussão na construção e no controle


O Seminário Bilateral de grandes gasodutos, como
de Comércio Exterior e o que une a Sibéria à Europa
Investimentos Brasil- ou o subterrâneo que ligará a
Rússia repercutiu não só nos Rússia à Turquia, a 2.100 m
setores empresariais mas Já o diário Valor, também de profundidade.
também na mídia, tendo especializado em temas está sendo feito tudo para O chefe da delegação da
contado com a presença de econômicos, publicou duas evitar o problema”. Na Gazprom, Stanislav
jornalistas de várias matérias sobre os assuntos mesma reportagem, o Tsygankov, confirmou a
procedências. O tradicional tratados no seminário. Numa Ministro Marcus Vinicius possibilidade de negócios e
Jornal do Commercio dedicou delas, informa que o fim do Pratini de Moraes afirma que ressaltou que as duas
ao seminário uma matéria embargo russo à carne a expectativa é de que o empresas redigirão um
informando que “a corrente de brasileira por causa da febre embargo seja logo suspenso, documento listando todos os
comércio entre o Brasil e a aftosa ainda parece estar declarando: “Esperamos que pontos de interesse. Está
Rússia pode chegar a US$ 6 distante. A reportagem o tema já tenha entrado na prevista uma nova rodada de
bilhões em 2007, ante os US$ transcreve declarações do fase final.” reuniões, ainda no primeiro
3,6 bilhões registrados em Embaixador Valdimir semestre de 2006, quando
2005”. A principal entrevista Tyurdenev, que diz o Gazprom e Petrobras técnicos da Petrobras
desta reportagem foi feita com seguinte: “Temos o Brasil Em fevereiro de 2006, foi deverão ir à Rússia para
o Presidente da Câmara de como importante parceiro realizada a primeira reunião aprofundar as negociações.
Comércio, Indústria e Turismo no comércio de carne de executivos da Gazprom e Segundo a publicação
Brasil-Rússia, Gilberto bovina, mas precisamos ter da Petrobras para discutir Petroleum Intelligence Weekly, a
Ramos. certeza de que dentro do país possibilidades de cooperação Gazprom é a maior empresa
e oportunidades de negócios do mercado mundial de gás e
entre as duas empresas. a Petrobras é a 14ª empresa
Participaram o Diretor de de petróleo do mundo.
Gás e Energia da Petrobras,
Ildo Sauer; o Cônsul-Geral Cooperação em Santa
da Federação da Rússia no Catarina
Rio de Janeiro, Alexey A Federação das Indústrias
Labetskiy; e os executivos de Santa Catarina e a Câmara
das áreas internacional e de Comércio e Indústria da
financeira da Gazprom, região de Samara, na Rússia,
Stanislav Tsygankov, assinaram, em fevereiro de
A Revista dos Seminários Bilaterais de Alexander Kondrashov e 2006, um acordo de
Alexei Dushko, além do cooperação comercial
Comércio Exterior e Investimento, Diretor da Câmara Brasil- durante o Seminário de
organizados pela FCCE, é distribuída entre Rússia, Arnaldo Mariz. Oportunidades de Negócios
as mais destacadas personalidades, do Entre as áreas de interesse Samara/Rússia.
comum estão a projeção, a A região de Samara fica na
Brasil e do exterior, que atuam no construção e a operação de porção européia da Rússia e é
comércio internacional. sistemas de controle a terceira na economia do
integrado de gasodutos de país, logo depois de Moscou
longa distância e a estocagem e de São Petersburgo. De
Anunciar aqui é fazer chegar o seu subterrânea de gás natural. “A acordo com o Secretário
produto a quem realmente interessa, a primeira reunião foi Executivo de Articulação
exploratória, não Internacional de Santa
quem decide.
apresentamos projetos Catarina, Roberto Colin,
Procure-nos. concretos, mas existe uma Samara tem uma economia
perspectiva positiva de parecida com a catarinense,
Tel.: 55 21 2221 9638 acordos futuros”, declarou devido à coexistência de uma
eduardo.teixeira@abrapress.com.br Ildo Sauer. A Gazprom tem indústria avançada com a
uma experiência de 35 anos produção agrícola.

70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A


Representantes russos Teatro Tchekhov, de Moscou, o teatro russo atual, encenado “Não podemos pretender
informaram que seu país tem considerada a maior mostra por seus grandes atores.” que a Rússia abra mais o
especial interesse nos setores de teatro do mundo, chega ao Constantin Stanislavsky mercado se não abrirmos o
catarinenses de autopeças e Brasil, em julho de 2006, uma [1863-1938] influenciou nosso. Há uma série de
agroindústria. A carne suína delegação de atores e profundamente o teatro do produtos que poderíamos
catarinense é o principal diretores russos que vão mundo inteiro, ao criar um comprar da Rússia,
produto regional vendido aos participar de uma mostra de método de trabalho que usava especialmente nesse
russos: representou mais de teatro, no Rio e em São Paulo. o distanciamento crítico como momento em que o dólar
70% do total das O convênio começou com forma de aprofundar a maneira está com uma cotação baixa.
exportações brasileiras a apresentação de espetáculos de interpretar em cena. Os Ainda que o crescimento da
àquele país, no ano passado. teatrais brasileiros na Estação próprios americanos (através economia brasileira esteja
A Rússia vende ao Brasil, Brasileira de Teatro, no de uma de suas instituições lento, o dólar favorece”.
principalmente, uréia para Festival de Moscou, em julho mais criativas, o Actor's Studio)
uso agrícola. Em 2005, o de 2005. usaram os conceitos do mestre Petróleo
Brasil comprou no exterior russo, na primeira metade do Reunidos em Moscou, os
US$ 13 milhões do produto, século XX, em que a União ministros das Finanças do G-8
e 30% do total das Soviética e os Estados Unidos – o grupo de países mais
importações foram vivam a conhecida Guerra Fria. fortes economicamente do
provenientes da Rússia. A base do trabalho de mundo, formado por Estados
Stanislavsky era a seguinte: o Unidos, França, Grã-
Acordo entre Brasil e teatro foi criado, em primeiro Bretanha, Itália, Japão, Canadá,
Rússia lugar, para o ator, sem o qual Alemanha e Rússia –
Brasil e Rússia assinaram, ele não pode existir. alertaram para o fato de que
em 28 de janeiro de 2006, em os altos preços do petróleo
Davos, na Suíça, durante o Abertura podem por em risco a
Fórum Econômico Mundial, O superávit brasileiro com estabilidade econômica
um protocolo que sela o apoio relação à Rússia é de US$ mundial.
brasileiro à entrada dos russos 2.195.157.685. Segundo a O Diretor-Gerente do
na Organização Mundial do Secex, os principais produtos Fundo Monetário
Comércio – OMC. Segundo o Tchekhov
brasileiros exportados para Internacional – FMI, Rodrigo
Ministro do Desenvolvimento, aquele país são açúcar, carnes de Rato, afirmou que a alta
Indústria e Comércio Exterior, Para Antonio Gilberto, (suína, bovina e avícola), fumo, acontece por questões
Luiz Fernando Furlan, foi diretor do Centro de Artes café solúvel, tratores, laminados relacionadas principalmente
acertado o envio de uma Cênicas da Funarte, “será e calçados. E os bens russos com o abastecimento.
missão ao Brasil para discutir extremamente significativa a que o Brasil importa são Já os franceses pediram
como os dois países vão efetivação dessa segunda parte principalmente fertilizantes que os russos ratificassem o
intensificar seu comércio. do intercâmbio entre o Brasil (uréia, cloreto de potássio e tratado sobre abastecimento de
“Há espaço para triplicar e a Rússia. Todos sabemos o nitrogenados), óleos gás para a Europa. Os russos
as relações comerciais. Nossa quanto o teatro de lubrificantes e papel de jornal. estão sofrendo pressões para
meta é atingirmos o patamar Stanislavsky (através de seu Existe, pois, segundo os garantir o suprimento de
de US$ 10 bilhões com os discípulo Eugênio Kusnet, especialistas, uma necessidade energia para a Europa, depois
russos, até 2010”, afirmou o que viveu no Brasil), de de diversificar e ampliar as que Moscou decidiu fechar
ministro. Hoje, as transações Myerhold, e tantos outros nossas importações de parcialmente alguns gasodutos
comerciais entre os dois encenadores russos, produtos russos. Neste cenário, em uma disputa de preços
países movimentam cerca de influenciaram a formação do o Ministro Marcus Vinicius com a Ucrânia.
US$ 3,6 bilhões. moderno teatro brasileiro. Pratini de Moraes, Presidente Presentes informalmente
Em termos de dramaturgia, a da Associação Brasileira das ao encontro realizado em
Teatro russo se importância da obra dos Indústrias Exportadoras de fevereiro, representantes do
apresenta no Brasil autores russos foi definitiva Carne – ABIEC, que conhece Ministério da Fazenda do
Como parte do para o teatro brasileiro e bem a corrente comercial entre Brasil tentaram convencer
intercâmbio entre a Funarte/ apresentá-la no Brasil será os dois países, fez o seguinte seus colegas do G-8 que o
Ministério da Cultura e o uma oportunidade única para comentário durante o álcool combustível é a saída
Festival Internacional de que o público possa conhecer Seminário da FCCE. para a crise de energia.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • R Ú S S I A 71

Você também pode gostar