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FCCE

Federação das Câmaras de Comércio Exterior


Fédération des Chambres de Commerce Extérieur

2006
24 de abril

Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
BRASIL FRANÇA
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Fédération des Chambres de Commerce Exterieur
La FCCE est la plus ancienne Association de classe Convention avec le CONSEIL DES CHAMBRES DE
vouée exclusivement aux activités de Commerce COMMERCE DES AMÉRIQUES, organisme qui repré-
Extérieur. sente les Chambres de Commerce Bilatérales des pays ci-
Fondée en 1950, par João Daudt de Oliveira (homme après: ARGENTINE, BOLIVIE, CANADA, CHILI, CUBA,
d’affaires brésilien responsable de la fondation, en 1945, EQUATEUR, MEXIQUE, PARAGUAY, SURINAM,
de la CNC – Confédération Nationale du Commerce), la URUGUAY, TRINIDAD Y TOBAGO, et VENEZUELA.
FCCE est active depuis plus de 50 ans, sans interruption, Outre plusieurs dizaines de Chambres de Commerce
encourageant et soutenant le travail des Chambres de Bilatérales affiliées à la FCCE dans tout le Brésil, font par-
Commerce Bilatérales, des Consulats Etrangers, des Conseils tir du Conseil de Direction actuel les Présidents des
d’Affaires et des Commissions Mixtes au niveau Fédéral. Chambres de Commerce suivantes: Brésil-Grèce, Brésil-
La FCCE, en vertu de son statut, possède une Paraguay, Brésil-Russie, Brésil-Slovaquie, Brésil-
juridiction nationale, et s’est dotée de Vice-Présidents République Tchèque, Brésil-Mexique, Brésil-BieloRussie,
Régionaux en divers Etats de la Fédération; elle est ac- Brésil-Portugal, Brésil-Liban, Bréisl-Inde, Brésil-Chine.
tive également sur le plan international, par le biais de Brésil-Thailande, Brésil-Italie, Brésil-Indonésie.
«conventions de coopération» conclues avec divers Font partie également du Conseil des Directeurs de
organismes traditionnels des plus crédibles, comme par la FCCE, notamment: Le Président du Comité brésilien
exemple la CCI – Chambre de Commerce Interna- de la CCI – Chambre de Commerce Internationale, Le
tionale, fondée en 1919, avec siège à Paris, et qui possède Président de l’ABCE – Association Brésilienne des
plus de 80 Comités Nationaux dans les 5 continents, et Entreprises Commerciales Exportatrices, Le Président
qui abrite en son sein la plus importante «Cour de l ‘ABIFER – Association Brésilienne de l’Industrie
Internationale d’Arbitrage» du monde, fondée en 1923. Ferroviaire, Le Président de l’Association Brésilienne
LA FÉDÉRATION DES CHAMBRES DE COMMERCE des Terminaux de Containers Maritimes, Le Président
EXTÉRIEUR à son siège a Avenida Général Justo, 307, du Syndicat des Industries Mécaniques et de Matériel.
(dans F immeuble de la CNC – Confédération Nationale Electrique.
du Commerce), et a signé avec cette entité, il y a presque Citons également la présence, au sein du Conseil, de
deux décades, une “Convention de Support Administratif ” divers Consuls et Diplomates étrangers, entre autres, le
et un “Protocole de Coopération Mutuelle”. Consul Général de la République du Gabon, le Consul
Dans un passé récent, la FCCE – FÉDÉRATION DES du Sri Lanka (ex-CeyIan) et le Ministre-Conseiller de
CHAMBRES DE COMMERCE EXTERIEUR a signé une l’Ambassade du Portugal.
LA DIRECTION
DIRECTEURS ÉLLUS POUR LE TRIENNAT 2003/2006
Président

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1 er V i c e - P r é s i d e n t

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Présidents

Gilberto Ferreira Ramos


Joaquim Ferreira Mângia
José Augusto de Castro
Ricardo Vieira Ferreira Martins

Antonio Carlos M. Bonetti – São Paulo


Sohaku R. C. Bastos – Bahia
Claudio Chaves – Norte

Directeurs

Diana Vianna de Souza Daniel André Sauer


Alberto Vieira Ribeiro Jeferson Malachini Barroso
Alexander Zhebit José Paulo Garcia de Pinho
Alexandre Adriani Cardoso Juan Clinton Llerena
André Baudru Luis Cesario Amaro da Silveira
Antonio Augusto de Oliveira Helayel Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Arlindo Catoia Varela Mariano Marcondes Ferraz
Augusto Tasso Fragosso Pires Oswaldo Trigueiros Junior
Bruno Bastos Lima Rocha Raffaele Di Luca
Carlos Fernando Maya Ferreira Ricardo Stern
Cassio José Monteiro França Roberto A. Nóbrega
Cesar Moreira Ronaldo Augusto da Matta
Charles Andrew T‘ang Sergio Salomão
Claudio Fulchignoni Stefan Janczukowicz

Conseil Fiscal (Titulaires)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
A presença francesa: ideais,
costumes e economia
Quando João Augusto de Souza Lima, Presidente da Federação das Câmaras de
Comércio Exterior - FCCE definiu juntamente com o Ministério do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio Exterior - MDIC, o calendário de seminários bilaterais a serem
realizados em 2006, imaginava-se, de fato, que Brasil-França seria um dos certames mais
procurados. Dias antes do seminário, as inscrições encontravam-se encerradas, diante do
impressionante número de confirmações efetuadas. O evento foi disputado por homens
de negócios, investidores, importadores, exportadores, técnicos do setor, políticos,
estudantes e jornalistas, que lotaram o auditório do edifício sede da Confederação Nacional
do Comércio - CNC, no Rio de Janeiro, em 24 de abril de 2006. Do lado brasileiro,
merece destaque o pronunciamento especial do Presidente do BNDES, Demian Fiocca,
que honrou-nos com sua presença durante os trabalhos do seminário.
Impossível não mencionar a colaboração da Câmara de Comércio França-Brasil -
CCFB. Ficam aqui registrados os agradecimentos especiais ao incansável apoio e
dedicação da Diretora da CCFB, Marcia Ribeiro, com quem tive o prazer de trabalhar
na década de 90, no Consulado-Geral da França no Rio de Janeiro.
O interesse, a presença e a influência francesa no Brasil remontam aos tempos das
grandes navegações, quando colônias francesas chegaram a ser fundadas em território
brasileiro. A França Antártica, a França Equinocial e as feitorias em Cabo Frio, no Rio de
Janeiro, são exemplos da presença da França no Brasil. De modo oposto, o Brasil ocupou
a Guiana Francesa, em 1808, devolvendo-a, em 1817, ao governo da França. A influência
francesa se fez sentir, mais adiante, quando os ideais iluministas tiveram, no Brasil, papel
CONSELHO DE
fundamental nos movimentos de libertação. Ainda como exemplo da influência francesa
CÂMARAS DE COMÉRCIO
nos destinos do Brasil, é mister citar o expansionismo do Imperador Napoleão Bonaparte, DAS AMÉRICAS
após a assinatura doTratado de Fontainebleu, que previu a passagem das tropas napoleônicas
de Junot sobre o território de Espanha para adentrar o território de Portugal, e que
culminou com a vinda da Família Real Portuguesa, significando o fim do pacto colonial, Expediente
com a assinatura do Decreto de Abertura dos Portos, em 1808, e o início do comércio
com as nações. Impossível é, também, não citar a influência francesa com a vinda da Produção
Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Missão Artística, no século XIX. A influência francesa, já no início do século XX, era cada Av. General Justo, 307/6o andar
vez mais forte nos hábitos, costumes e arquitetura; o Rio de Janeiro desejava ser a Paris Tel.: 55 21 3804 9289
e-mail: fcce@cnc.com.br
tropical, e deu início a uma série de remodelações urbanas, por iniciativa do Prefeito
Editor
Pereira Passos, tal qual o Barão de Haussman fizera em Paris, no século XIX. O coordenador da FCCE
Como ex-Adido do Serviço Comercial do Consulado-Geral da França no Rio de Textos e Repor tagens
Janeiro, fui testemunha do interesse cada vez maior da França pelas potencialidades Elias Fajardo
Marlene Custódio
latentes de investimentos e de comércio com o Brasil, que se ampliaram na última Fernanda Pereira
década. A retomada e o reforço dos laços comerciais, financeiros e políticos deu-se no Projeto Gráfico, Edição e Ar te
início dos anos 90, coincidindo com a redemocratização, com as privatizações e com o Estopim Comunicação
processo de abertura comercial implantados pelo Brasil. Hoje, decorridos cerca de 15 Tel.: 55 21 2518 7715
e-mail: estopim@estopim.com
anos, a França possui, no Brasil, cerca de US$ 8 bilhões em ativos. Cerca de 400 Revisão
empresas francesas estão implantadas no Brasil e empregam, aproximadamente, 250 Maria Virgínia Villela de Castro
mil pessoas. Se, por um lado, os investimentos são maciços, por outro, as relações Fotografia
comerciais precisam ser intensificadas: em 2005, a França foi, para o Brasil, apenas o Christina Bocayuva

12o cliente importador e o 7o fornecedor. Espera-se que o Ano do Brasil na França, Secretaria
Maria Conceição Coelho de Souza
realizado em 2005, dinamize, entre outros, o fluxo comercial entre dois países que Sérgio Rodrigo Dias Julio
cultivam séculos de relacionamento.
As opiniões emitidas nesta revista são de
Boa leitura. responsabilidade de seus autores. É permitida a
O EDITOR reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA “Em vez de esperar clientes, empresas estão


saindo para vender no exterior”
Embaixador Jean de Gliniasty
“Temos mais “Exportadores buscam eficiência
complementaridade do e nichos de mercado”
que concorrências
comerciais” 4 9PARCERIA
Embaixador Marcos Azambuja
“Somos bastante parecidos para nos Ligações bilaterais históricas
compreender e bem diferentes para nos vão dos negócios à cultura

5 2 F Á R M AC O S
seduzir mutuamente”

1 8 A B E RT U R A Laboratórios Servier investem


Da França Antártica à tecnologia de ponta em novos medicamentos

2 4PAINEL I 5 3TURISMO
SESC
Balanço das relações Turismo Social: Qualidade de vida para todos
bilaterais e do Ano do

5 4HISTÓRIA
Brasil na França

3 1PAINEL II A Cruz Flordelizada contra


O potencial das PPPs em transporte, a Asna Chaveirada
saneamento e no setor de energia
5 6NEGÓCIOS
3 7PAINEL III Rio de Janeiro: o segundo maior
Setores de turismo, automotivo e índice de crescimento do país
farmacêutico em destaque Empresas francesas de pequeno e médio porte

4 1ENCERRAMENTO querem exportar seus produtos para o Brasil

Apoio do BNDES faz 6 0 E M P AU TA


crescer o comércio
Presidente da FCCE recebe
exterior brasileiro
medalha da ALERJ

4 3INTERCÂMBIO
SENAC
6 1COMÉRCIO
Portugal redescobre a Bahia Infraero: Logística e eficiência a serviço
do comércio internacional
4 4 C U LT U R A Suframa: Amazonas promove uma revolução
silenciosa pela educação
O cristal francês Paulo Vellinho: um pioneiro da
no Império do Brasil modernização da indústria brasileira

4 6TENDÊNCIA 6 5 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
“França importa produtos com maior
valor agregado” 7 0 C U RTA S
ENTREVISTA

“Temos mais
complementaridade
do que concorrências
comerciais”
Segundo o embaixador francês, o maior problema
na relação com o Brasil é o acesso aos mercados e
não os subsídios dos países europeus
O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da França no
Brasil, Jean de Gliniasty, foi também embaixador em alguns paí-
ses da África. Nesta entrevista exclusiva, ele esboça a idéia de que
a questão dos subsídios à área agrícola, um dos principais entra-
ves na relação entre Europa e Brasil, será resolvida em 2013,
quando a Europa renunciará aos subsídios neste setor. Ele disse,
ainda, que a problemática atual do comércio exterior pode ser
melhor explicitada por meio da imagem de um triângulo, pois
envolve três vértices. Citando a Organização Mundial de Comér-
cio – OMC, ele afirmou que o Brasil (o primeiro vértice) precisa
abrir mais o seu mercado interno para os produtos industriais e
os serviços. A Europa (o segundo vértice do triângulo) deve me-
lhorar o acesso dos produtos exportados para o seu mercado agrí-
cola. Os Estados Unidos, por sua vez, (o terceiro vértice do tri-
ângulo) devem diminuir os subsídios aos seus produtos, princi-
palmente os da área agrícola.
Jean de Gliniasty afirmou, ainda, que Brasil e França têm mais
pontos em comum do que áreas de competição no comércio inter-
nacional.

6 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 7
ENTREVISTA

agressividade comercial muito inte- xa de mercado que não faz concorrência


ressante. Que lições os brasileiros po- aos aviões franceses da Airbus. Os dois
dem tirar da experiência francesa? leques são complementares.
JG – Nesta sua pergunta há um cumpri-
mento interessante a nós, franceses, já que A economia brasileira tem algum
os meus conterrâneos, de uma maneira ge- outro setor complementar à econo-
ral, não parecem partilhar desta opinião. mia francesa?
Quase sempre eles acham que não sabem JG – Há complementaridade em muitos
vender bem os produtos de seu país. É cla- setores, mas é claro que existe concorrência
ro que, se os brasileiros têm essa opinião em outros tantos, principalmente com rela-
no que diz respeito à imagem dos exporta- ção aos produtos agrícolas.Tudo isso faz par-
dores franceses, isto significa que a nossa te de uma negociação que está sendo realiza-
política de promoção não é tão ruim quan- da na Organização Mundial do Comércio –
to nos parece. Pessoalmente, acho que te- OMC. De qualquer modo, por uma ótica
mos uma política global de promoção da global, acho que temos mais complemen-

“ Estamos procurando manter


a imagem de produtores de
artigos de luxo e moda e, também,
imagem da França, enquanto produtora de
artigos de luxo e de alta tecnologia. Isto faz
parte de uma imagem global do nosso país.
taridade do que concorrência.

Onde estão, hoje, os setores mais


problemáticos na relação comerci-
de tecnologia de ponta
Como estão, hoje, na sua opinião, as
” Em que setores a França, hoje, mais se
destaca no comércio exterior? Ela
continua favorita em matéria de moda
al entre o Brasil e a França?
JG – É claro que estão na área de agricul-
tura. Os subsídios já estão sendo discuti-
relações comerciais entre o Brasil e e de cosméticos, ou se notabiliza, tam- dos e encaminhados, e acredito que eles
a França? bém, em tecnologias de ponta? não são propriamente o problema princi-
JG – As relações entre os dois países são JG – As duas coisas. Estamos procurando pal, mas sim o acesso aos mercados. Os
excelentes na área do comércio, mas po- criar, nos últimos tempos, a imagem de um subsídios europeus vêm sendo diminuídos
deriam tornar-se ainda melhores. A Fran- país com alta tecnologia, no qual se desta- nos últimos anos e, agora, eles são mais
ça é um grande investidor no Brasil. O cam produtos como aviões, satélites e ou- direcionados aos mercados orientais, e
relacionamento nesta área é bastante for- tros itens de ponta.Também temos, ao mes- também se constituem numa ferramenta
te e o Brasil se transformou no primeiro mo tempo, de zelar por nossa imagem de para tentar manter a população européia
parceiro da França no continente sul-ame- nação que sempre se destacou em produ- radicada no campo.
ricano. Tudo isso é muito importante para tos de luxo e de elegância. A imagem de Os subsídios ainda existem, mas são
nós, mas a qualidade desta relação pode- um produtor de itens de tecnologia de ponta menos intensos, pois estamos fazendo uma
ria ser melhor. Durante todo o tempo, é relativamente recente para nós. grande reforma na política agrícola do con-
estamos pensando em formas de aprimo- tinente e, no ano de 2013, vamos renunci-
rar os fluxos comerciais. Como ela foi construída? Foi proje- ar aos subsídios à exportação. Por isto, digo
tada pouco a pouco ou aconteceu que o conflito, hoje, entre brasileiros e eu-
Gostaríamos de saber de que forma graças a algumas realizações espe- ropeus não se dá propriamente na área de
estes fluxos comerciais poderiam cíficas nessa área? subsídios. Os brasileiros têm, hoje, mais
ser incrementados. JG – Acho que isso aconteceu, principal- problemas com os subsídios dos Estados
JG – Um pouco menos da metade do flu- mente, por meio de algumas realizações, Unidos do que com os da Europa.
xo comercial do Brasil para a França é como o trem de alta velocidade, os satéli-
constituído por produtos industriais. Acho tes, os foguetes Arianne e alguns tipos de O que significa um conflito por aces-
que isto pode ser melhorado. No que diz aviões. so aos mercados?
respeito aos produtos agrícolas, existe, JG – Significa que existem alguns produ-
também, uma margem de aperfeiçoamen- O Brasil também tem se firmado no tos com tarifas alfandegárias altas, mas in-
to possível, mas é claro que o futuro está cenário internacional com os aviões sisto em dizer que a questão dos subsídios
nos produtos industriais. fabricados pela Embraer. Isto nos faz já está ultrapassada, pois eles estão sendo
concorrentes, ou pode haver coo- negociados, hoje, junto à OMC, o orga-
A França é considerada, por alguns peração no setor aeronáutico? nismo mais adequado para tratar deste
analistas brasileiros do setor, como JG – Acho que deve haver cooperação no tema. O atual diretor-geral da OMC diz
um país que sabe vender bem os seus maior número de áreas que for possível. que a possibilidade de entendimento nes-
produtos. Os franceses têm uma Os aviões da Embraer situam-se numa fai- ta área se situa num triângulo, pois envol-

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ve três vértices. Isto significa que o Brasil Hoje, no mundo globalizado, esta
precisa abrir mais seu mercado para os paixão continua? Trajetória diplomática do
produtos industriais e os serviços dos JG – Em 2005, foi realizado o Ano do Bra- embaixador da França
outros países. A Europa (outro vértice do sil na França, que mostrou como a paixão O Enviado Extraordinário e Em-
triângulo) deve melhorar o acesso ao seu dos franceses pelo Brasil permanece. Foi baixador Plenipotenciário da França,
mercado agrícola. Os Estados Unidos, por um grande sucesso, não só entre as elites, Jean de Gliniasty, nasceu em 27 de
sua vez, (o terceiro vértice do triângulo) mas também entre o povo, que pode apre- setembro de 1948.
devem diminuir os subsídios aos seus pro- ciar, bem de perto, a música e a cultura Formou-se em Letras e Direito.
dutos. Por isto, repito, o problema dos brasileiras. O público lotou várias casas de Estudou no Instituto de Estudos Po-
subsídios hoje é mais americano do que espetáculos, o que comprova não só o su- líticos e, também, na Escola Nacional
propriamente europeu. cesso do evento, como também o apreço de Administração de seu país. Come-
do nosso povo pela cultura brasileira. Pen- çou sua carreira no Ministério das
O comércio é uma atividade que so que eventos dessa natureza se constitu- Relações Exteriores trabalhando no
normalmente pressupõe a compe- em numa boa demonstração de intercâm- Departamento da África do Norte e
tição. É possível existir também um bio e das nossas possibilidades de coopera- Levante.
comércio cooperativo e solidário? ção. O ano dedicado ao Brasil melhorou a Entre 1982 e 1986, foi segundo
JG – Esta é uma questão muito importante imagem do seu país na França. Não pode- conselheiro na Representação Perma-
hoje e, também, para o nosso futuro comum. mos esquecer que a imagem é a base para nente da França junto às Comunida-
É claro que existe um componente impor- as relações presentes e futuras. Essa inicia- des Européias, em Bruxelas, e também
tante de competição mas, para vencer a con- tiva vai ter uma boa repercussão nas expor- esteve lotado como sub-diretor do
corrência com outros blocos comerciais, tações futuras do Brasil para a França. No Departamento de Assuntos Econômi-
temos de organizar as nossas parcerias. Nes- momento, ela ainda não é mensurável, mas cos e Financeiros. Em seguida, foi para
te cenário, já estão surgindo, e podem apare- certamente vai ocorrer. o Departamento da África do Norte e
cer ainda mais, oportunidades de parcerias Tudo que vem do Brasil costuma ser Oriente Médio, no cargo de Sub-Di-
entre europeus e brasileiros. apreciado pelos franceses. Existe lugar retor da África do Norte.
para parcerias com os franceses não só no De 1989 a 1991, atuou no Depar-
Atualmente, o governo brasileiro comércio, mas também em outros seto- tamento de Relações Culturais, Ci-
tem procurado valorizar muito as res da vida dos dois países. entíficas e Técnicas, como diretor da
Parcerias Público-Privadas – as Divisão de Desenvolvimento e Coo-
PPPs, destinadas a reunir os empre- A cultura também pode ser um bom peração Científica, Técnica e Educa-
sários e o governo. O senhor acre- incentivo para o comércio? cional e, finalmente, de 1991 a 1995,
dita nestas iniciativas? Na França JG – Pode ser, mas devemos argumentar trabalhou como cônsul-geral da Fran-
existem experiências bem sucedidas que tanto o Brasil como a França têm se ça em Jerusalém.
neste sentido? alinhado para defender a causa da diversi- Um outro cargo expressivo que
JG – Na França temos uma lei que foi dade cultural. Assim, consideramos, con- ocupou foi o de diretor da Divisão das
produzida há cerca de 200 anos e que juntamente, que a cultura não pode se re- Nações Unidas e Organizações Inter-
trata da concessão de serviços públicos. sumir ao comércio. nacionais do Departamento de As-
Tem muito a ver com a atual parceria suntos Políticos e Segurança do Mi-
público-privada, que agora tem este novo A pauta de negociações da OMC nistério das Relações Exteriores.
nome, mas é um antigo sistema usado na para 2006, em torno de temas que in- A partir de 1999, tornou-se em-
França. A parceria pública e privada no teressam aos dois países, está atrasa- baixador e seu primeiro posto foi o
meu país significa que o Estado vai assi- da. Estaria havendo alguma tentati- de embaixador e alto representante
nar contratos com empresas privadas va de aproximação entre o Mercosul da República Francesa em Dakar, no
para que elas gerenciem alguns serviços e a União Européia? Qual é a posição Senegal. Foi, também, embaixador
públicos. Isto é uma boa solução para da França sobre este assunto? extraordinário e plenipotenciário em
certos serviços públicos, como água, ele- JG – As negociações comerciais na OMC Banjul, Gâmbia, com residência em
tricidade, saneamento, estradas e aero- são chefiadas pela União Européia. A Fran- Dakar. Em outubro de 2003, tornou-
portos. Existem muitas possibilidades ça discute junto à União Européia e expõe se embaixador extraordinário e ple-
nesta área. as suas propostas nesta instituição. Quanto nipotenciário no Brasil.
a questões específicas do comércio entre Jean de Gliniasty é Cavaleiro da
Os franceses são apaixonados pelo França e Brasil, acho que elas vão depen- Legião de Honra e Oficial da Ordem
Brasil. Tentaram fundar aqui, há al- der muito da próxima reunião da OMC Nacional do Mérito da França e é
guns séculos, a França Antártica. que será realizada em janeiro de 2007. fluente em inglês e árabe literário.

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ENTREVISTA

“Somos bastante
parecidos para nos
compreender e bem
diferentes para nos
seduzir mutuamente”
Embaixador Marcos Azambuja analisa o caso de
amor histórico entre os dois países e insere nesse
panorama as relações comerciais
O Embaixador Marcos Castrioto Azambuja, atual Presidente da
Fundação Casa França-Brasil no Rio de Janeiro, participou, como
convidado especial, da abertura do Seminário Bilateral de Comér-
cio Exterior e Investimentos Brasil-França. Grande conhecedor da
realidade francesa, serviu como embaixador do Brasil na França
entre 1997 e 2003. Após seu retorno ao país, foi nomeado Presi-
dente da Fundação Casa França-Brasil e assumiu a coordenação do
programa oficial do Ano do Brasil na França, realizado em 2005.
Atualmente, o embaixador prepara-se para trabalhar em con-
junto com a Embaixadora do Brasil na França, Vera Pedrosa, e com
o Embaixador da França no Brasil, Jean de Gliniasty, para realizar o
Ano da França no Brasil, programado para 2008. Nesta entrevista,
o embaixador fala sobre o que aproxima e o que separa os dois
países na área comercial, mas garante que as duas nações são, antes
de tudo, amigas e cúmplices.

Que avaliação o senhor faz sobre o mesmo na cultura, porque está no valor agre-
Ano do Brasil na França? gado, e nada agrega mais valor a um produto
MA – Minha avaliação é que o Brasil desco- do que a própria cultura. Se juntarmos a um
briu a cultura como o mais valioso dos pro- pedaço de tela, uma moldura e um pouco
dutos de exportação. Tradicionalmente, es- de tinta, a legitimidade deste produto será
tes produtos costumam ser commodities, irrisória. Já uma obra de arte, uma pintura
manganês, ferro etc, porém, o lucro está feita sobre a tela, tem muito mais validade. A

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 11
ENTREVISTA

arte agrega valor e a cultura é um bem ex- sulado Geral, no Rio de Janeiro. O turis- cio dinâmico, uma cultura ativa, um inter-
portável. Os mercados estrangeiros, hoje, mo aumentou e tende a continuar aumen- câmbio aeronáutico crescente, do qual par-
têm muito interesse pela produção cultural tando, porque temos semelhanças sufici- ticipam, inclusive, as Forças Armadas. Em
brasileira. O evento foi o início de um ciclo entes para nos entender e diferenças sufi- todas as áreas há essa cumplicidade. O Brasil
e, como parte do seu desdobramento, tere- cientes para despertar nosso interesse. So- reequipou seus velhos Mirages, que conti-
mos algumas saisons, com temporadas na mos bastante parecidos para nos compre- nuam mostrando qualidade. Prova disso é
Alemanha, na Itália e no Japão. Em suma, o ender e bastante diferentes para nos sedu- que estão há 40 anos em serviço.
Brasil entra no ciclo de exportação do bem, zir mutuamente.
do serviço e do produto cultural. Qual a importância da visita do Pre-
Como foi sua experiência nos cinco sidente Jacques Chirac ao Brasil?
Qual é a importância da cultura anos como titular na embaixada do MA – A visita do Presidente Jacques Chirac
para o sucesso internacional do pro- Brasil na França? ao Brasil é mais uma prova de que a ligação
duto francês? MA – Foram anos maravilhosos, que com a França continua. O presidente francês
MA – De fato, o que faz a França ser hoje corresponderam a um momento de grande tem grande admiração por nosso país e pela
um país de importância mundial é a sua cul- aproximação cultural. No mesmo período, iniciativa do Presidente Luiz Inácio Lula da
tura. Nunca teve grande destaque nas ex- houve também a intensificação dos fluxos Silva de solidificar a liderança brasileira na
portações, mas é um país de referência em comerciais e dos investimentos. A França ti- América Latina. O Brasil não se aproxima
todo o mundo. O que faz com que países nha um conjunto antigo de empresas há mui- muito do populismo retórico e demagógico,
como a França, a Itália e a Espanha se mante- to tempo no Brasil, como a Saint-Gobain, um pouco perigoso, dos presidentes Hugo
nham no alto da pirâmide da relevância in- que é a Santa Marina; a Lafarge – Brasil; a Chavez, daVenezuela, e Evo Morales, da Bolí-
ternacional é a cultura de cada um deles. O Cimento Mauá; a Rhodia etc. Posteriormen- via, mas também não pretende acomodar-se
Brasil tem que chegar lá. O interesse em te, houve um novo ciclo marcado pela che- em relação ao passado. O que o Brasil sugere
relação a um país se manifesta na curiosida- gada das grandes montadoras de automó- é o caminho de um reformismo racional, onde
de por seus livros, por sua música, por sua veis, sobretudo Renault e Pegeot-Citroën, e a economia seja bem cuidada e as desigualda-
produção teatral e cinematográfica, enfim, pela presença de uma série de empresas na des sociais tratadas de forma adequada. Esse
por uma série de produtos que sua cultura área de serviços e de alimentação, além da processo começou no governo Fernando
produz. Fazer turismo ou praticar intercâm- presença, em grande escala, do Grupo Henrique Cardoso e continua no atual. Cada
bios estudantis significa consumir esses pro- Accord de hotelaria e viagens, o que é um um põe o tijolo e a obra continua.
dutos. A cultura abre caminho para a imagi- outro reflexo do aumento do fluxo turísti- Atualmente, não há crises entre Brasil
nação e, quando se abrem as portas da ima- co, pois o país passa a ter uma hotelaria de e França. Podemos dizer que o Brasil po-
ginação, são infinitos os corredores, pois a origem francesa. Antigamente, no Brasil, só derá, em breve, fazer parte do fechado clu-
ela não é possível impor limites. existia o hotel Méridien, ligado ao Grupo be de poder mundial. Nesse cenário, é
Air France. Agora temos cerca de 200 hotéis importante realçar o papel da Organiza-
Qual foi a repercussão do Ano do Bra- ou hotéis-residências que estão muito bem ção para Cooperação e Desenvolvimento
sil na França para o turismo nacional? comercialmente. Econômico – OCDE, instituição da qual
MA – Houve um aumento significativo o Brasil é quase membro pleno, que nos
de viagens, não só para o Brasil, mas tam- Existem problemas no relaciona- procura para discutir a organização das
bém para o Rio de Janeiro. A França pos- mento com a França? Quais são eles? regras do jogo econômico.
sui muita cumplicidade com o Brasil, mas MA – Os únicos problemas que temos se
com o Rio de Janeiro, a meu ver, há um situam na área agrícola. O Brasil é um grande Como o senhor tem analisado a atual
caso de amor, pois é a cidade brasileira exportador de alimentos e a França a maior tensão social vivida pela França?
mais procurada como destino turístico. potência agrícola da Europa. Os problemas Como o Brasil pode ajudar?
Além de acolhedora, apresenta forte pre- residem exatamente nisso. O Brasil não com- MA – Eu conheci uma França e um Brasil
sença da cultura francesa, o que favorece pete diretamente com a agricultura francesa duplamente distantes. Havia um afastamento
esse intenso fluxo. Prova disso é o número nem com o mercado francês de qualidade. grande entre os dois países, porque a Fran-
de turistas, hoje, na cidade, bem superior Nós não somos um país de bárbaros, não ça era macroeconomicamente muito ajus-
ao habitual. O Consulado da França no Rio queremos acabar com os queijos franceses, tada e muito racional, e o Brasil um país
de Janeiro é quase uma embaixada. com os azeites ou com os vinhos desta naci- hiperinflacionário e desorganizado. Outra
A presença francesa no Brasil se sus- onalidade. Somos consumidores naturais coisa que nos separava era o fato de a Fran-
tenta sobre uma espécie de triângulo: a dos bons produtos do país. O que o Brasil ça ser um país mono-cultural, monoracial
embaixada política, em Brasília; a embai- não admite é que a França concorra desleal- e monolingüístico, e o Brasil um grande
xada econômica, no Consulado Geral, em mente em terceiros mercados. Nada de mosaico. Hoje, nos aproximamos dos fran-
São Paulo; e a embaixada cultural, no Con- muito grave. Existe, portanto, um comér- ceses em matéria de racionalidade econô-

12 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


mica e eles de nós por conta da necessida- perfumes. A França tem necessidade de di-
de de operar uma sociedade com muitas versificação e o Brasil pode ser um grande
forças interagindo. Continuamos, portan- exportador de luxo e moda, associado a uma
to, tendo o que aprender um com o outro. temporada francesa marcante: o verão. É cla-
O Brasil pode se inspirar na organização ro que não podemos competir com produ-
política e econômica rigorosa dos france- tos de inverno, mas se o Brasil fosse o supri-
ses, e eles podem aprender conosco como dor francês durante três meses por ano, isso
se administra uma sociedade multiétnica, seria extraordinário. A segunda área a desta-
multirracial, multicultural, multi tudo. O car é a de informática, de softwares, na qual o
Brasil não é um mau laboratório para a Fran- Brasil tem um bom know how, e a terceira é a
ça olhar. A França continua sendo, para nós, do setor de alta tecnologia aeronáutica e es-
um país modelo, porque nela o Estado ain- pacial, onde já estamos atuando. Curiosamen-
da desempenha um papel muito impor- te, é mais fácil vender alta tecnologia do que
tante. Nós convivemos muito melhor com tecnologia mais primitiva. O Brasil tem que
a diversidade. Diversidade é a aceitação das trabalhar justamente onde a França é muito
diferenças e das diversas maneiras de prati- boa, e eu acredito que podemos conquistar
car a inclusão, seja no sincretismo religioso espaço importante, também, na área ligada à
ou na convivência harmoniosa entre raças.
Temos muitos séculos de convívio com es-
ses problemas e esta prática nos trouxe
“ A França é o país da longa
maturação e cultiva
o longo prazo.
moda, calçados e acessórios, pois a França,
além de ser um mercado importante, é um
centro mundial de irradiação desses produ-
certo aprendizado. Os franceses alimenta- tos. Quem vai à França se abastece. O Brasil
vam a ilusão de que todo imigrante queria
tornar-se francês, e isso não é verdade. As
pessoas querem é se beneficiar de um gran-
O Brasil ama o curto prazo

previsível, o risco Brasil diminuirá e o pro-
tem que se libertar de sua paixão exclusiva
por Paris. É difícil explicar a um empresário
brasileiro, ou a um artista brasileiro, que
de mercado, estão em busca de oportuni- blema de investir no Brasil também dimi- Toulouse é um centro importantíssimo e
dades, mas desejam guardar a especificidade nuirá, pois os empresários vão acreditar que que existem outros lugares a explorar. Lion,
de sua língua, de sua cultura. A França, con- as regras são as mesmas. Por isso, defendo por exemplo, é uma cidade quase invisível
siderada tão humanitária, tão organizada, tão que o Brasil seja cada vez mais transparente e aos brasileiros. Em toda a região da Alsácia,
republicana, tem dificuldade de conviver preste muita atenção aos seguintes itens: em perto da fronteira com a Alemanha, não se
com a diversidade. primeiro lugar à santidade dos contratos, que vê a presença do Brasil, que continua enfei-
inclui a importância da palavra a ser cumpri- tiçado por Paris.
Existe, hoje, um grande interesse de da; em segundo lugar, à chamada governança
micros, pequenas e médias empre- corporativa , isto é, transparência e honesti- Como será o Ano da França no Bra-
sas francesas pelo mercado brasilei- dade; em terceiro, à proteção ao meio ambi- sil, em 2008?
ro. Como o senhor vê esta nova ente, sem o que não há negócios, hoje, no MA – Vamos fazer um evento semelhante
investida ? mundo e, finalmente, aos direitos humanos ao que a França realizou em 2005. Assim
MA – Na França há toda uma máquina do sem os quais também não haverá negócios. como o nosso ajudou a atrair turistas estran-
Estado a serviço da micro, pequena e mé- O problema é que somos, ainda, França geiros para a França, esperamos que o Ano
dia empresa, o que as torna capaz de atuar e Brasil, culturalmente diferentes . A força da França no Brasil nos ajude a atrair visitan-
no mercado internacional com seguran- do Brasil está em sua informalidade, en- tes do Uruguai, da Argentina, do Paraguai.
ça. O Brasil representa um excelente quanto a França é o país da longa maturação, Nós seremos a França, e os que nos visita-
mercado para essas empresas, por isso esta da previsibilidade, do formalismo. Em ou- rem estarão, também, visitando a França du-
procura aumentou. tras palavras, a França cultiva o longo prazo rante este período. Temos grandes exposi-
Nossos países começaram a viver uma e o Brasil ama o curto prazo. ções e projetos em perspectiva. Passada a
relação Estado a Estado, incluindo as gran- eleição, passado o verão europeu, começa-
des unidades federativas (o Estado de São Quais os nichos de negócios na Fran- remos a montagem da programação que,
Paulo, a Prefeitura de São Paulo etc). Entra- ça a serem explorados pelo Brasil? espero, tenha a mesma repercussão do Ano
ram, também, em cena as grandes corpo- MA – O Brasil não tem o hábito de vender; do Brasil na França, com acontecimentos
rações da iniciativa privada, e a relação foi se está acostumado a que os outros venham políticos, encontros de negócios e eventos
transformando numa rede, descendo do fe- aqui comprar café, aço, soja etc. Nós somos que servirão como gatilhos, como trombe-
deral para o estadual e daí para o municipal. supridores e não vendedores. Curiosamen- tas que chamem a atenção para a realização
Assim, na medida em que o Brasil apresen- te, acho que precisamos competir com os de novos negócios. Apesar das crises, o Bra-
tar um comportamento macroeconômico melhores produtos franceses: luxo, moda e sil vive, hoje, um momento especial.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 13


Pesquisa por produto, país de de
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio
inglês,espanhol e f

Relação
atu
stino

mas: português,
rancês

de exportadores
alizada mensalmente
Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos BRASIL FRANÇA
Av. General Justo nº 307 – Centro, Rio de Janeiro – RJ – Sede da Confederação Nacional do Comércio – CNC

Progrrama do Seminário : 24 de abril de 2006


Prog
14:00h Sessão Solene de Abertura 15:00h PAINEL I: O Estado Atual das Relações Comerciais Brasil-França
Presidente do Painel e Pronunciamento: Armando de Melo Meziat – Secretário de
Presidente da Sessão: Marcio Fortes de Almeida – Ministro de Estado das Cidades Comércio Exterior – MDIC
Pronunciamentos: Moderador: Claudinei Martins – Gerente Regional de Comércio Exterior do Banco do Brasil
Jean de Gliniasty – Embaixador Plenipotenciário da França
Marcos Azambuja – Presidente da Casa França-Brasil e ex-Embaixador do Expositores:
Brasil na França Jean-Nöel Gérard – Presidente da Câmara de Comércio França-Brasil
Alexis Loyer – Conselheiro Comercial da Embaixada da França
Componentes da Mesa:
Fabio Martins Faria –Diretor do Departamento de Planejamento e Desenvolvimento
Armando de Melo Meziat – Secretario de Comércio Exterior do MDIC
do Comércio Exterior – MDIC
Hugues Goisbault – Consul-Geral da França no Rio de Janeiro
José Augusto de Castro – Vice-Presidente da AEB Debates com o Plenário
Theóphilo de Azeredo Santos – Presidente da ICC
Jean-Nöel Gérard – Presidente da Câmara de Comércio França-Brasil 16:00h PAINEL II: Oportunidades de Investimentos e as PPP’s
Paulo Fernando Marcondes Ferraz – 1º Vice-Presidente da FCCE Infra-estrutura de Transportes, Saneamento e Energia
Gustavo Affonso Capanema – Diretor-Conselheiro do Conselho Superior da FCCE Presidente do Painel e Pronunciamento:
Paulo D’Arrigo Vellinho – Ex-Presidente do CONCEX e Diretor-Conselheiro do Marcio Fortes de Almeida – Ministro de Estado das Cidades
Conselho Superior da FCCE
Expositores: 18:00h Sessão Solene de Encerramento
Ednaldo Pinheiro Santos – Gerente Nacional de Logística de Carga da Presidente da Sessão: Hugues Goisbault – Cônsul-Geral da França no Rio de Janeiro
INFRAERO
Pronunciamentos Especiais:
José Alberto da Costa Machado – Coordenador-Geral de Estudos Econômicos e
Empresariais da SUFRAMA Mauricio Chacur – Secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico do
Rio de Janeiro
Christiane Aché – Diretora da Área de Project & Export Finance da ALSTOM
Demian Fiocca – Presidente do BNDES
Gil Maranhão Neto – Diretor de Desenvolvimento de Negócios do Grupo Suez
Energy International Componentes da Mesa:
Debates com o Plenário Marcio Fortes de Almeida – Ministro de Estado das Cidades
Senador Bernardo Cabral – Consultor da CNC
Jean-Nöel Gérard – Presidente da Câmara de Comércio França-Brasil
17:00h Painel III: A Visão Empresarial nos Setores Automotivo,
Lúcia Maldonado – Vice-Presidente Executiva da AEB
Farmacêutico e de Turismo
Christiane Aché – Diretora da Área de Project & Export Finance da ALSTOM
Presidente do Painel e Moderador: Paulo D’Arrigo Vellinho – Ex-Presidente do CONCEX Paulo D’Arrigo Vellinho – Ex-Presidente do CONCEX e Diretor-Conselheiro do
e Diretor-Conselheiro do Conselho Superior da FCCE Conselho Superior da FCCE
Expositores: Varso Toppjian – Diretora Geral do Laboratório SERVIER do Brasil
Pierre-Michel Fauconnier – Presidente da PSA Peugeot Citroen do Brasil Bernardo Feldberg – Diretor-Conselheiro da Carlson Wagonilit – Grupo ACCOR
Varso Toppjian – Diretora Geral do Laboratório SERVIER do Brasil
Bernardo Feldberg – Diretor-Conselheiro da Carlson Wagonilit – Grupo ACCOR COQUETEL: em homenagem ao Senhor Embaixador Plenipotenciário da França
JEAN DE GLINIASTY
Debates com o Plenário
ABERTURA

Da França Antártica à
tecnologia de ponta
Relações culturais, econômicas e políticas entre os dois
países atravessam os séculos com o mesmo vigor

O Ministro Marcio Fortes de Almeida e o Embaixador da França, Jean de Gliniasty. Na platéia, figuras representativas da iniciativa

O Seminário Bilateral de Comér- e o Presidente da Casa França- Brasil, Jean-Nöel Gérard; o 1º


cio Exterior e Investimentos Bra- Brasil e ex-Embaixador do Brasil Vice-Presidente da FCCE, Pau-
sil-França realizou-se em 24 de na França, Marcos Azambuja. Fo- lo Fernando Marcondes Ferraz; o
abril de 2006, no auditório da ram também convidados para Diretor-Conselheiro do Conse-
Confederação Nacional do Co- compor a mesa o Cônsul-Geral lho Superior da FCCE, Gustavo
mércio – CNC, no Rio de Janei- da França no Rio de Janeiro, Affonso Capanema; e o ex-Presi-
ro. O Presidente da Federação das Hugues Goisbault; o Vice-Presi- dente do CONCEX e Diretor-
Câmaras de Comércio Exterior – dente da Associação de Comércio Conselheiro do Conselho Supe-
FCCE, João Augusto de Souza Exterior do Brasil – AEB, José rior da FCCE, Paulo D’Arrigo
Lima, deu início à sessão solene Augusto de Castro; o Presidente Vellinho. Para presidir a Sessão So-
de abertura convidando para res- da Câmara de Comércio Inter- lene de Abertura, João Augusto
pectivos pronunciamentos o nacional – ICC, Theóphilo de de Souza Lima convidou o Minis-
Embaixador Plenipotenciário da Azeredo Santos; o Presidente da tro de Estado das Cidades, Mar-
França no Brasil, Jean de Gliniasty Câmara de Comércio França- cio Fortes de Almeida.

18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


nacional, o embaixador citou as empresas
francesas que atuam no Brasil há tempos:
Saint Gobain (desde 1937); Lafarge
(1959); bancos como o Paribas, antes da
fusão com o BNP; o Banco Société
Générale; laboratórios farmacêuticos
como Servier e Biomérieux; empresas do
setor industrial como Legrand e Schnei-
der; ou ainda a Danone, um destaque no
setor agro-alimentar.


A França não esperou
os anos 90 e a abertura
da economia para se interessar
pelo mercado brasileiro
JEAN DE GLINIASTYN ”
Em seu pronunciamento especial, o
Embaixador Jean de Gliniasty ressaltou o
intenso intercâmbio comercial entre os
dois países. Segundo ele, a França é o séti-
mo fornecedor do Brasil e o décimo se-
gundo destino de produtos brasileiros no
exterior. “Nossa relação é densa, sobretu-
do, pelos investimentos franceses diretos.
A França é o quarto maior investidor no
Brasil com mais de € 8 bilhões em ativos.
Todos os setores estão representados –
da saúde às finanças, passando por indús-
privada, dos governos e da diplomacia de ambos os países acompanham as discussões do seminário. tria tradicional, serviços, novas tecnologias
e o setor agro-alimentar”.

M
arcio Fortes de Almeida iniciou a ciais, assim como a promoção de alguns Segundo o embaixador, a relação bila-
sessão solene de abertura afir- produtos que o Brasil pretende colocar teral é madura e equilibrada, fundamen-
mando que, da série de seminá- no mercado europeu. tada na procura crescente de parcerias
rios promovidos pela FCCE, este, sem O ministro lembrou, também, algu- devido a fatores como o compromisso,
dúvida, era o mais charmoso. “Falar em mas divergências entre os dois países na em longo prazo, das empresas francesas
França tem um quê todo particular para área comercial como, por exemplo, a com o Brasil, mesmo durante turbulên-
os brasileiros.” O ministro lembrou as questão dos subsídios, e concluiu enfa- cias financeiras. As empresas francesas
missões culturais francesas no Brasil do tizando a relação de amizade e carinho en- apreciam a qualidade da mão-de-obra, a
século XIX aos dias atuais, e mencionou tre brasileiros e franceses, segundo ele, amplitude, a profundidade do mercado
as participações daquele país na nossa si- uma realidade vital a ser valorizada. local e a excelente base de exportação que
derurgia, na indústria automobilística, na o Brasil representa em direção aos outros
indústria pesada e em setores como vi- Relação madura países sul-americanos.
nhos, perfumes e queijos. O Embaixador da França no Brasil, Jean Nesse cenário, destaca-se ainda o fato
Do lado brasileiro, afirmou que conti- de Gliniasty, definiu o relacionamento bi- de que, ao contrário do que se pensa, as
nuamos exportando produtos básicos, lateral nos setores econômico e comerci- exportações brasileiras para a França não
mas já temos capacidade para vender bens al com três qualificativos: “é uma relação são essencialmente de produtos primári-
de maior valor agregado. Ressaltou, ainda, antiga, densa e madura, pois é equilibrada os – 40% das exportações brasileiras para
que o evento Ano do Brasil na França, em e baseada, cada vez mais, em parcerias”. a França são de bens intermediários e este
2005, com várias exposições em diferen- Considerando que a França não espe- setor e o de bens de equipamentos são os
tes regiões francesas, incentivou ainda mais rou os anos 90 e a abertura da economia que apresentam maiores taxas de cresci-
a realização de mostras culturais e comer- brasileira para se interessar pelo mercado mento em direção à França.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 19


ABERTURA

“Nossa relação bilateral é, hoje, madu-


ra e equilibrada, pois há uma preocupação
em reforçar parcerias com o Brasil no se-
tor tecnológico. Colocado no centro das
estratégias de internacionalização das em-
presas francesas, o Brasil apresenta, parti-
cularmente, em função da mão-de-obra
qualificada, um grande potencial no to-
cante a parcerias industriais tecnológicas.”
Nas palavras de Jean de Gliniasty, três
eixos principais da atuação francesa con-
tribuem para a consolidação de parcerias
com o Brasil. O primeiro é relativo à es-
tratégia elaborada, em 2003, na área de
cooperação descentralizada, que está co-
meçando a dar resultados – os acordos
com as regiões Île de France e Rhône-
Alpes são exemplos destas iniciativas. O
segundo eixo é a criação de binômios para
inovação na dinâmica dos pólos de
Na mesa, Marcio Fortes de Almeida, João Augusto de Souza Lima e Jean de Gliniasty. competitividade franceses, que deveria

A presença francesa
A presença francesa no Brasil registra-se gidos das guerras religiosas que então dividi- por Daniel de la Touche desembarcou no
desde os primeiros tempos da colonização am a Europa. Os franceses foram desaloja- Brasil centenas de colonos, construiu ca-
portuguesa até o século XIX. Na era das gran- dos apenas em 1567 pelas forças do Gover- sas e igrejas e levantou o Forte de São Luís,
des navegações portuguesas e espanholas, a nador-Geral Mem de Sá e de seu sobrinho, origem da cidade de São Luís do Mara-
França negou a validade do Tratado de Estácio de Sá. nhão. Foram derrotados por tropas por-
Tordesilhas (que dividiu os territórios desco- tuguesas que os expulsaram em 1615.
bertos entre portugueses e espanhóis) e de- A França Equinocial
fendeu o princípio do direito à posse da terra A segunda tentativa de estabelecer uma Os franceses em Cabo Frio
por quem a ocupasse. colônia ocorreu no Maranhão a partir de Mesmo diante do fracasso dessas posi-
1594. Depois de naufragar na costa ções, nesta época a presença francesa foi ex-
A França Antártica maranhense, os aventureiros Jacques pressiva em outros trechos do litoral, onde
Em 1555, uma expedição comandada Riffault e Charles des Vaux estabeleceram- eles conseguiram manter feitorias, como a
por Nicolau Durand de Villegagnon estabe- se na região e conseguiram o apoio do go- Maison de Pierre, no litoral de Cabo Frio.
leceu uma colônia no interior da Baía de verno francês para a criação de uma colô-
Guanabara, que foi denominada França An- nia, que seria chamada de França Equi- A gravura em buril, e editada em Paris, em
tártica, abrigando protestantes calvinistas fu- nocial. Em 1612, uma expedição chefiada 1698, demonstra o interesse pelo Brasil.

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


continuar e ser ampliada. “Buscamos todo Segundo o embaixador, mais uma crí-
tipo de parceria, seja nos centros de pes- Influência cultural francesa tica que tem sido dirigida à política co-
quisa, nas incubadoras, nos parques indus- Historicamente, a França tem exer- mercial européia, em especial aos france-
triais ou nas próprias empresas. Setores- cido uma forte influência sobre o Bra- ses, é a de que as atuais propostas na área
chave como a terceirização aeronáutica, o sil, contribuindo para a instalação de agrícola são ilusórias. “Isso também seria
agronegócio, as nanotecnologias, as universidades em nosso território e esquecer-se de que, desde 1992, a União
biotecnologias, o setor eletrônico ou ain- para a formação de intelectuais brasi- Européia é a única zona comercial que tem
da os novos materiais já manifestam re- leiros. efetuado uma redução da produção e das
sultados tangíveis.” Idéias e conceitos franceses tive-
ram importância entre pensadores
O embaixador citou, ainda, como ter-
ceiro eixo de contribuição para a consoli-
dação de parcerias com o Brasil, os gru-
brasileiros preocupados, interessados
e engajados, por exemplo, no fim da “Há uma preocupação
em reforçar parcerias com
pos de trabalho bilaterais constituídos após
a visita do Presidente Luiz Inácio Lula da
Silva a Paris em julho de 2005: Grupo Ino-
escravidão e na Proclamação da Re-
pública. A influência ideológica e fi-
losófica foi marcada por grandes pen-
o Brasil no setor tecnológico
JEAN DE GLINIASTYN ”
vação, Grupo Energia Convencional, Gru- sadores franceses de épocas e ideolo- subvenções agrícolas. As conseqüências
po Energia Nuclear e Grupo Espacial. “O gias diferentes, como Claude Lévy- já seriam perceptíveis: as importações da
Brasil faz parte da lista dos 25 países alvos, Strauss, Férnand Braudel, Auguste União Européia de países como o Brasil
prioritários e com grande potencial de de- Comte, Michel Foucault, Jacques duplicaram nos últimos dez anos”.
sempenho e esforço particular por parte Derrida e Giles Deleuze. Para Jean de Gliniasty, a relação bilate-
do governo francês e por todos os seus Marca expressiva tivemos no pe- ral Brasil-França não pode ser afetada por
parceiros na área do comércio exterior.” ríodo chamado Belle Époque, no início tensões decorrentes das negociações na
do século XX, a bela época de inten- OMC, que fazem parte de uma discussão
Queixas so cosmopolitismo no Brasil, sobre- mais ampla, cujos objetivos são estratégi-
Em seu pronunciamento, o Embaixa- tudo no Rio de Janeiro, que se mo- cos. “E eles o são, evidentemente, para o
dor Jean de Gliniasty ressaltou, ainda, a derniza e se civiliza inspirado em Pa- futuro do sistema multilateral e para o
visão que considera errônea, principal- ris, cujo marco principal é a constru- Brasil, um líder notável dentro do grupo
mente por parte da imprensa da França, ção do Theatro Municipal, réplica da de países em desenvolvimento, cujo des-
como “a encarnação de um protecionis- Ópera de Paris. tino importa a nós, franceses e europeus.”
mo europeu retrógrado e de uma agricul- A convergência
tura em declínio presa a privilégios de entre Brasil e Fran-
outra época”. Jean de Gliniasty considera ça no aspecto eco-
que a Europa – e a França tem grande par- nômico, para Gli-
ticipação neste cenário – é a área comerci- niasty, se faz pre-
al mais aberta do mundo, afirmando que, sente, também,
em 2004, as importações européias re- quando o assunto é
presentavam 40% das importações mun- desenvolvimento.
diais, estando em primeiro lugar no ranking União Européia e
mundial de importações. “A União Euro- Brasil adotaram,
péia – UE é o primeiro importador de em Hong Kong,
produtos agrícolas do mundo, atingindo um ‘pacote desen-
cifras maiores do que os Estados Unidos, volvimento’ que
o Japão, o Canadá, a Austrália e a Nova prevê, principal-
Zelândia juntos.” mente, o acesso li-
O Theatro Municipal do Rio de Janeiro é uma herança viva da
Outra noção errônea, segundo o em- influência francesa no Brasil. vre de tarifas e co-
baixador, muitas vezes encontrada em vá- tas para 97% dos
rios países, é a de que a França e a UE a Europa tem demonstrado um compro- produtos exportados pelos países mais
seriam reticentes a quaisquer concessões, misso constante a favor das negociações. pobres do mundo. “Como exemplo, te-
ou seja, seriam os principais responsáveis Em 2003, tomamos decisões difíceis na mos a criação de uma facilidade internaci-
pelos atuais bloqueios nas negociações da área de política agrícola, mudando a Polí- onal para compra de remédios e dos fi-
Organização Mundial do Comércio – tica Agrícola Comum – PAC, e aceitando, nanciamentos inovadores do desenvolvi-
OMC. “Isso seria esquecer que, desde o em Hong Kong, suprimir as subvenções mento, onde nossos dois países caminham
início das negociações de Doha, em 2001, às exportações agrícolas até 2013.” juntos, de mãos dadas”.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 21


ABERTURA

Além dos fluxos comerciais e dos in- Olho no olho importante para estarmos mais unidos e
vestimentos diretos que continuam sen- Após definir o discurso do embaixa- mais fortes, até para ajudar na solução des-
do essenciais, “a capacidade do Brasil e da dor como ‘complexo e completo’, o pre- tas questões que foram colocadas aqui e
França de criar laços de parceria tanto em sidente da sessão, Marcio Fortes de que muitas vezes são a base para a inter-
tecnologias quanto em assuntos referen- Almeida assinalou que, diante das ques- pretação de um relacionamento eventu-
tes à globalização – financiamento do de- tões internacionais sobre subsídio, “a dis- almente não amistoso. E nós sabemos que
senvolvimento e acesso aos remédios – cussão multilateral é uma e a bilateral é isso não existe.”
define uma relação cada vez mais rica e outra; e nós não podemos deixar que a
produtiva entre nossos países”, concluiu questão bilateral seja afetada. Ela passa pelo
o embaixador. livre fluxo de comércio. O olho no olho é

Divergências fazem parte do


processo de trocas comerciais
As áreas de entendimento costumam mais do que uma divergência natural den-
ficar realçadas nas discussões coletivas e, tro de um denso e diversificado processo
também, os possíveis conflitos, que po- de trocas comerciais.”
dem ser analisados com maior profundi- Marcos Azambuja relatou o caráter
dade. Foi o que aconteceu na abertura do fundamental das visitas presidenciais –
seminário. Após o pronunciamento do como a do Presidente Jacques Chirac ao
embaixador francês, Marcio Fortes de Brasil. Em suas palavras, elas representam
Almeida passou a palavra ao ex-Embaixa- “um motor que alimenta possibilidades e
dor do Brasil na França e atual Presidente
da Casa França-Brasil, Marcos Azambuja.
Ele iniciou seu pronunciamento afirman-
alterações e são indutoras de progresso.
Cada visita obriga os que a acompanham a
mostrar serviço.”
“ Temos cada vez mais a
ensinar em termos de harmonia
cultural e a França pode
do que, no cenário das negociações com o Em sua opinião, existe, hoje, uma rela-
Brasil, a cobrança atual se deve ao fato de a
França – e a Europa como um todo – não
se movimentarem no ritmo desejado em
ção correta, equilibrada, mas um pouco
modesta entre os dois países. “Os investi-
mentos franceses no Brasil não são pro-
aprender conosco
MARCOS AZAMBUJAN ”
relação ao comércio exterior. Segundo ele, porcionais às nossas expectativas. Eles se veu bem, entre eles, a diversidade cultural
no entanto, oVelho Continente tem se mo- situam um pouco aquém das poten- e étnica, encontrando uma política de har-
vido no que considera uma boa direção: a cialidades de um e outro país, sobretudo monia e assimilação com a qual a França
diminuição de subsídios e a abertura de porque a nossa relação é marcada por al- tem muito a aprender. Por outro lado, o
mercados. gumas características. Em primeiro lugar, Brasil, que, segundo o Diretor da Casa Fran-
elas apresentam uma hipertrofia cultural ça-Brasil, antes era pouco responsável em

“ Visitas presidenciais são


um motor que alimenta
possibilidades e alterações;
– os fluxos são infinitos, crescentes e as
afinidades profundas. Em segundo, os dois
países possuem uma grande sinergia tu-
termos macroeconômicos, hoje, é um país
de comportamento mais racional e previ-
sível. “Temos, portanto, cada vez mais a
rística, cujo melhor exemplo é a atração ensinar em termos de harmonia cultural e
são indutoras de progresso
MARCOS AZAMBUJAN ” da França pelo Rio de Janeiro, que atra-
vessa os séculos. O que temos no nosso
horizonte próximo são, também, algumas
a França pode vir aprender conosco. Se nós
nos distanciarmos, teremos menos civili-
zação, menos direitos humanos e, para usar
afinidades amazônicas, que se expressam as palavras do Ministro Marcio Fortes de
“O Brasil, sobretudo, é consumidor e na ligação entre a Guiana Francesa e o Almeida, menos charme.”
devotado admirador do que o campo fran- Amapá, além da própria presença cultu- O Ministro de Estado das Cidades con-
cês produz. Brasil e França são exempla- ral e turística e dos investimentos dos ban- cluiu, então, a sessão solene de abertura,
res na abertura do mercado. O que hoje cos dos dois países.” lembrando a relação histórica entre Brasil
nos separa um pouco é a competição em Para Azambuja, França e Brasil estão e França, a presença francesa no Rio de Ja-
relação aos terceiros mercados, em que mais próximos, em primeiro lugar porque neiro e no Nordeste e a significativa contri-
nós somos vitimados por uma série de a França começa a enfrentar problemas que buição cultural desse país à nossa naciona-
vantagens e subsídios. Entre nós não há o Brasil, mesmo imperfeitamente, resol- lidade.

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos


Calendário 2006

20 de fevereiro RÚSSIA

20 de março ÁFRICA DO SUL

24 de abril FRANÇA

22 de maio PERU

19 de junho PORTUGAL

17 de julho CHINA

21 de agosto PANAMÁ

18 de setembro SUÉCIA

23 de outubro ESPANHA

13 de novembro FINLÂNDIA

11 de dezembro ALEMANHA

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 23


PAINEL I

País do carnaval na terra do perfume

Balanço das relações bilaterais


e do Ano do Brasil na França
Primeiro parceiro da França na América Latina, Brasil exibe um
crescimento comercial contínuo e constante, que atrai novos negócios

Claudinei Martins, Fábio Martins Faria, Marcio Fortes de Almeida, Jean de Gliniasty, Armando Meziat, Alexis Loyer e Jean-Nöel Gérard.

Para presidir o painel I do Semi- para compor a mesa as seguintes Desenvolvimento do Comércio
nário Bilateral de Comércio Ex- personalidades: o Gerente Regi- Exterior – DEPLA, do Ministé-
terior e Investimentos Brasil- onal de Comércio Exterior do rio do Desenvolvimento, Indús-
França, o Presidente da FCCE, Banco do Brasil, Claudinei Mar- tria e Comércio Exterior –
João Augusto de Souza Lima, con- tins; o Presidente da Câmara de MDIC, Fábio Martins Faria. Fize-
vocou o Secretário de Comércio Comércio França-Brasil, Jean- ram, também, parte da mesa o
Exterior do Ministério do Desen- Nöel Gérard; o Conselheiro Co- Ministro de Estado das Cidades,
volvimento, Indústria e Comér- mercial da Embaixada da França, Marcio Fortes de Almeida e o Em-
cio Exterior – MDIC, Armando Alexis Loyer; o Diretor do De- baixador Plenipotenciário da
de Melo Meziat, que chamou partamento de Planejamento e França, Jean de Gliniasty.

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


O
Secretário de Comércio Exterior O Brasil é o 1º parceiro comercial da França na América Latina,
do MDIC, Armando de Melo na frente do México e da Argentina
Meziat, abriu os trabalhos do pa-
inel “O estado atual das relações comer- •É o 31° cliente da França e o 26º fornecedor
ciais Brasil-França” comentando a evo- •Representa 0,68% do comércio exterior da França (face a 1,4% com a China)
lução do comércio exterior brasileiro.
Lembrou a sucessão de resultados posi- A França é um parceiro comercial importante do Brasil
tivos desde 2003, principalmente na área
•É o 7º fornecedor do Brasil e o 12º cliente
de exportação.
“Este resultado é fruto de um trabalho •Sua participação no mercado brasileiro é da ordem de 3,7%,
que vem sendo realizado há algum tem- estando atrás dos EUA (17,2%); da Argentina (8,5%); da Alemanha(8,4%);
da China (7,3%); do Japão (4,6%); da Argélia (3,9%).
po, mas que corresponde, mais recente- Fonte: Embaixada da França
mente, entre outros fatores, a um esforço
muito grande do Ministro de Estado do sando o fortalecimento da compe- do e aprimorado se tivermos a participa-
Desenvolvimento, Indústria e Comércio titividade exportadora dos municípios bra- ção dos franceses. Numa corrente de co-
Exterior, Luiz Fernando Furlan. Nossos sileiros. Nas palavras do secretário, “o pro- mércio que beira US$ 1 trilhão, o cruza-
esforços têm se concentrado, principal- grama leva uma mensagem de exportação mento deste comércio com o Brasil ainda
mente, na diversificação da balança co- aos municípios: como chegar, como é muito pequeno, porque, para o Brasil, a
mercial brasileira, na pauta de exportação aprender, como ser treinado e como des- França foi o 12º cliente, tendo comprado
– tanto no que diz respeito aos produtos, cobrir a exportação.” US$ 2,5 bilhões apenas; e foi o 7º forne-
quanto no que diz respeito aos destinos cedor com US$ 2,7 bilhões.”
das exportações. Há uma expansão para Meta para 2006 Armando de Melo Meziat concluiu seu
destinos novos, além de uma diversifica- Segundo Armando Meziat, há uma pre- pronunciamento afirmando que eventos
ção de empresas.” visão de que as exportações brasileiras como o seminário da FCCE fortalecem
cheguem, em 2006, ao total de US$ 132 as parcerias e o comércio exterior e res-

“ Em 2006, o Brasil deverá


se tornar o 17º ou o 18º
bilhões. “Se isso se concretizar, o Brasil
ficará, provavelmente, entre o 17º ou o
18º país exportador do mundo, com uma
saltou alguns dados dos recordes da ex-
portação brasileira. “De março de 2005 a
março de 2006, atingimos US$ 200 bi-
exportador do mundo
ARMANDO DE ”
M E L O M E Z I AT N
participação de 1,2% na ordem mundial.
Os dados que temos do período de janei-
ro a março de 2006 nos mostram que será
lhões na corrente de comércio, uma mar-
ca histórica, que põe o Brasil num pata-
mar de gente grande no âmbito do co-
Armando Meziat relatou que, no iní- possível atingir esta meta.” mércio exterior. Isto representa cerca de
cio do processo de apoio ao esforço ex- Para o secretário de comércio exterior 20% do comércio da França, o que é um
portador, o MDIC incentivava a menta- do MDIC, o crescimento do setor está número bastante animador.”
lidade exportadora apenas nos grandes ligado ao desempenho das empresas bra-
centros. Hoje, já estão em desenvolvi- sileiras apoiadas pelo ministério. “Estas Comentários
mento várias iniciativas para interiorizar empresas têm respondido adequadamen- O Embaixador da França, Jean de
esta visão, colocando-a ao alcance de te ao esforço da exportação, talvez por Gliniasty, comentou, em seguida, que os
empresas instaladas em cidades médias não serem afetadas pelas variações do câm- fluxos comerciais Brasil-França poderi-
e pequenas. O Programa de Desenvol- bio, ou, ainda, por utilizarem, como maté- am ser melhores, embora o Brasil seja o
vimento e Diversificação das Exporta- rias-primas, componentes importados primeiro parceiro da França na América
ções dos Estados – Programa Estado que perdem e ganham com a variação do Sul, um ponto muito importante a ser
Exportador, por exemplo, visa dispen- cambial. De qualquer modo, elas evoluí- destacado.
sar atenção especial aos estados que ex- ram na produtividade, aprimoraram a ca- Já o Ministro Marcio Fortes de Almeida
portam menos de US$ 100 milhões pacidade tecnológica e estão buscando acrescentou ao debate dados sobre ques-
anuais. “Fizemos um grande trabalho, redução de custos.” tões urbanas, saneamento básico e expor-
traçamos algumas metas e seis desses Nas palavras de Meziat, a importação tações. Segundo ele, há cidades que são
estados já conseguiram atingir a meta de está crescendo num ritmo bem mais ace- grandes produtoras e exportadoras mas
US$ 100 milhões por ano.” lerado do que a exportação e, com isso, que vivem situações delicadas no que diz
Outro programa mencionado é o Ex- haverá um crescimento na demanda de respeito à infra-estrutura.
porta Cidade, um projeto desenvolvido dólar, o que vai puxar um pouco a taxa de “Temos que apoiar, também, nos nos-
pela Secretaria de Comércio Exterior do câmbio. “Há um bom desempenho, não sos ministérios, os municípios que ex-
MDIC que prevê uma série de ações vi- só na exportação, que pode ser melhora- portam. Devemos oferecer melhores

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 25


PAINEL I

res, pois investimentos deste tipo au- de redução da burocracia – o Brasil é 115º,
mentam a produtividade e a vida do ex- num ranking de 150º, em matéria de pra-
portador brasileiro.” zos para a criação de uma empresa. Ele
lembrou, ainda, a necessidade de o Brasil
Relação bilateral aumentar os investimentos de maneira sig-
Jean-Noël Gérard iniciou sua exposi- nificativa nas áreas de infra-estrutura,
ção afirmando que, como presidente da logística portuária, rodoviária, ferroviária
Câmara de Comércio França-Brasil – e nos setores de saúde e educação.
CCFB, pode dizer que as relações comer- “À frente da CCFB, posso garantir que
ciais entre os dois países estão em um dos o que pressentimos é o otimismo dos nos-
seus melhores momentos. “Após o Ano sos associados em vista das perspectivas
do Brasil na França, realizado em 2005 futuras. A câmara reúne, hoje, 800 em-
com grande sucesso, esperamos que as presas e possui quatro seções (Rio de Ja-
trocas comerciais aumentem, sobretudo neiro, São Paulo, Paraná e Minas Gerais)
entre as pequenas e médias empresas. que, em parceria com os serviços públi-
Após o evento, verificamos que o inter- cos francês e brasileiro, constituem uma
câmbio comercial já se intensificou. É im- grande entrada para novas empresas fran-

“ Eventos como este seminário


fortalecem as parcerias
portante, ainda, informar que as maiores
empresas francesas estão implantadas no
Brasil e empregam, em conjunto, mais de
cesas no mercado brasileiro e vice-versa.
Dispomos, para isso, de uma gama de ser-
viços individuais que podem ser conheci-
e o comércio exterior
ARMANDO DE ”
M E L O M E Z I AT N
250 mil pessoas.”
Jean-Noël Gerard ressaltou que gran-
des oportunidades continuarão existindo,
dos através de nosso website (www.
ccfb.com.br). Nossas portas estão aber-
tas, assim como as portas do Brasil sem-
especialmente no plano industrial, no qual pre estiveram abertas para os franceses
vários setores como óleo, gás, petróleo, e que queiram investir e fazer comércio”,
petroquímica conhecem, atualmente, for- concluiu.
te expansão. “Não podemos esquecer que
o Brasil atingiu a sua auto-suficiência em Fluxo comercial
petróleo e isto tem importância mundial. O presidente do painel I, Armando de
Alguns setores se encontram em pleno Melo Meziat, passou a palavra para o Con-
desenvolvimento, como os de energia, pes- selheiro Comercial da Embaixada da Fran-
quisa e aeronáutica, no qual, por meio da ça, Alexis Loyer. O conselheiro trouxe
Embraer, tem ocorrido muita transferên- dados e números sobre os fluxos comer-
cia de tecnologia para aviões de médio por- ciais entre os dois países e, também, assi-
te. É preciso mencionar, ainda, as indústrias nalou a presença francesa no Brasil e a es-
de cosméticos e os setores farmacêutico e tratégia da França para manter as suas re-
de turismo, onde continuamos a investir, lações em um bom nível.
consolidando nossas parcerias.” Segundo Alexis Loyer, os fluxos co-
Segundo Jean-Noël Gérard, a indústria merciais entre Brasil e França estão em
automobilística francesa, apesar de ter des- expansão, mas ainda são limitados. O Bra-
coberto o Brasil um pouco mais tarde do sil representa cerca de 37% dos fluxos

“ Nossa relação bilateral


está em um de seus
que as suas concorrentes, conquistou sua
fatia no mercado brasileiro e tem se benefi-
ciado da criatividade nacional. “Temos sido
comerciais entre a França e a América La-
tina, e é o quarto parceiro comercial da
França fora da Organização para Coope-
melhores momentos
JEAN-NOËL GÉRARDN ” procurados por pequenas e médias empre-
sas em busca de oportunidades de negóci-
os. Por sua dinâmica própria, diferente da-
ração e Desenvolvimento Econômico –
OCDE, vindo depois da China, Rússia e
Singapura.
quela das grandes empresas, elas têm con- Para o conselheiro comercial da Em-
condições de vida aos trabalhadores que tribuído com soluções mais variadas para baixada da França, o Brasil é um parceiro
contribuem para a obtenção de divisas. eventuais problemas.” muito importante, e essa importância po-
Vamos verificar, assim como faremos O presidente da Câmara de Comércio deria ser ainda maior. “De 2001 e 2005, o
com o turismo, o que pode ser feito para França-Brasil ressaltou a necessidade de fluxo comercial veio aumentando e os sal-
melhorar a situação desses trabalhado- melhoria fiscal, assim como a necessidade dos positivos foram, em sua maioria, a fa-

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


vor da França. Desde 2003, temos um dé- empresas na sua trajetória de negócios no
ficit, apesar da nossa taxa de cobertura vir país. “Primeiro queremos suprimir os pro-
aumentando – em 2005, tivemos uma taxa blemas, porque muitas empresas ainda
de cobertura de 80%. As importações da têm prejuízos no Brasil ou demonstram
França ao Brasil aumentaram 23% em receio pelo passado de instabilidade
2005. As exportações aumentaram cerca macroeconômica do país. Temos que fa-
de 5%, graças ao setor aeronáutico.” zer um esforço de comunicação, pois neste
Em relação à composição das expor- momento a Ásia é o alvo de muitas em-
tações francesas, Alexis Loyer relatou que presas e queremos diversificar os nossos
a sua estrutura ficou bastante estável. Se- investimentos. O Brasil é um mercado de
gundo ele, os bens de equipamento re- alto potencial, com milhões de consumi-
presentam cerca de 40%, na frente de dores. Mais de 40% da população tem
bens intermediários, com 29%; bens de acesso ao consumo de alto valor. Esta es-
consumo, com 15%; e indústria auto- tratégia visa, também, a que as pequenas
motiva, com 12%. Cinco setores repre- empresas aumentem sua participação e,
sentam 50% das vendas francesas: aero- nesse processo, sejam aconselhadas pelas
náutico, equipamentos automotivos, grandes empresas já instaladas no Brasil.”
insumos farmacêuticos, produtos quími-
cos e aparelhos para difusão de imagens,
respectivamente.
“ O Brasil é um mercado
de alto potencial. Mais de 40%
da sua população tem acesso
Para o conselheiro, o primeiro eixo de
atuação é aumentar o conhecimento so-
bre o Brasil, que representa um grande
O conselheiro enfatizou a importância mercado de oportunidades. O segundo
das matrizes e afiliadas e seus investimen-
tos. “Entre elas existe um fluxo comerci-
al importante que representa 40% das
ao consumo de alto valor
A L E X I S LOY E RN ” seria aproveitar as oportunidades ofereci-
das por um país continental que está de-
senvolvendo seu aparelho produtivo,
importações francesas ao Brasil. Mais de incrementando as exportações, com gran-
4 mil empresas exportam para o Brasil, sui cerca de US$ 8 bilhões de ativos no de necessidade de infra-estrutura. “As Par-
sendo ¾ de pequenas e médias.” Brasil. Entre 1998 e 2001, tivemos fluxos cerias Público-Privadas – PPPs podem
Em relação ao Brasil, afirmou que a de investimentos diretos de aproximada- representar investimentos regionais; te-
França compra, sobretudo, bens interme- mente US$ 2 bilhões por ano – atualmen- mos muitos projetos na área de transpor-
diários, que representam mais de 40% das te temos um pouco menos, mas houve tes rodoviários e portos. Há, também, a
importações francesas. O setor agroali- uma queda nos investimentos totais do possibilidade de investimentos mais pon-
mentar representa 40%; os bens de con- país.” tuais como os Jogos Pan-americanos de
sumo 6%; e os bens de equipamentos Segundo o conselheiro, há entre 350 e 2007. Queremos favorecer a chegada de
5,5%. “Os principais produtos importa- 400 empresas francesas implantadas no empresas destes setores.”
dos pela França são, realmente, os primá- Brasil que empregam mais de 250 mil Outra oportunidade bastante interes-
rios, como a soja, responsável por 24%; pessoas. “A maioria dos grandes grupos sante, segundo Loyer, são os negócios na
minério de ferro 16%; produtos madei- de índice da bolsa francesa lidera os seus área ambiental. “O Brasil criou o conceito
reiros e celulose 5%; e plantas e bebidas. setores em matéria de investimentos no de desenvolvimento limpo e possui 85
Há diferenças no nosso fluxo de comér- Brasil. Em 2004, os trinta primeiros gru- projetos, em curso, de Mecanismo de De-
cio e estamos constatando uma mudança pos franceses realizaram um volume de senvolvimento Limpo – MDL, do Pro-
na estrutura das importações francesas. A negócios que representou 2,4% do PIB tocolo de Quioto, dos quais 15 contam
França tem hoje uma participação no mer- brasileiro. A França tem entre 8% e 10% com a participação da França. São proje-
cado brasileiro de 3,7%. Faremos tudo dos fluxos diretos de investimentos no tos na área de prevenção de emissão de
para aumentá-la.” Brasil, mas tem apenas 3,7% em partici- gases que provocam o efeito estufa. Va-
pação no mercado de exportações, e isso mos ajudar as empresas a superar os obs-
Investimentos quer dizer que investimos mais que ven- táculos do mercado brasileiro, que era
Alexis Loyer afirmou que os investi- demos. Existe, assim, margem para o cres- muito fechado, mas que agora apresenta
mentos franceses no Brasil são dinâmi- cimento das pequenas empresas, que ain- grande abertura, mesmo possuindo difi-
cos. “A França foi o quarto investidor em da são pouco presentes no Brasil.” culdades em termos de burocracia. Nos-
fluxo, em 2005. Nossos investimentos, sa função é assistir às empresas. Sabemos
medidos pela balança de pagamento, al- Estratégias que o Brasil está fazendo um esforço sé-
cançaram US$ 458 milhões, ou seja, 7% Segundo Alexis Loyer, a estratégia fran- rio para evitar a pirataria; isso é muito im-
do total e o triplo de 2004. A França pos- cesa consiste em tentar acompanhar as portante para as empresas francesas, não

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 27


PAINEL I

Evolução das exportações brasileiras


1996 / 2005 • US$ milhões
Fonte: MDIC/SECEX
118.309

96.475

73.084

58.223 60.362
52.994 55.086
51.140
47.747 48.011

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Evolução da corrente de comércio brasileira


“ Os brasileiros não conhecem
a riqueza e a diversidade
da pauta de exportação
1996 / 2005 • US$ milhões
Fonte: MDIC/SECEX

159.288
191.854
do Brasil

FÁBIO MARTINS FARIAN

novas tecnologias é um passo muito im-


portante. Para isso, podemos utilizar fer-
121.375
ramentas como as Parcerias Industriais
112.729 108.905 110.923 113.795
107.602
Tecnológicas – PITs, que permitem apro-
101.061
97.306 ximar as empresas dos países apoiados pelo
Ministério da Indústria e pelo Ministério
das Relações Exteriores da França. Que-
remos continuar investindo nesses pro-
gramas para revolucionar nossa relação
comercial. Desta forma, poderemos ama-
durecer e consolidar ainda mais essas re-
lações”, concluiu.
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Quadro brasileiro
O Diretor do Departamento de Pla-
somente as empresas de luxo, mas as de descentralizada que inclui a cooperação nejamento e Desenvolvimento do Comér-
tecnologia e farmacêutica.” entre cidades francesas e brasileiras, inici- cio Exterior do MDIC, Fábio Martins Fa-
Para o conselheiro comercial da Em- ada em 2003. Esta iniciativa permite a vin- ria, apresentou, em seu pronunciamento,
baixada da França, um dos maiores objeti- da de autoridades comerciais francesas ao dados atualizados sobre o Brasil. “A aber-
vos de seu país é transformar o Brasil num Brasil, com grandes empresas favorecen- tura experimentada nos últimos anos teve
parceiro estratégico da União Européia – do a abertura e a instalação de novas em- como conseqüência um crescimento bas-
UE. “Os brasileiros mantêm conosco uma presas. tante significativo das nossas exportações
relação cada vez mais de igual para igual e O segundo método é apoiar-se nos pó- e importações. Isso permitiu um saldo
o que queremos é ter um relacionamento los de competitividade já existentes e par- expressivo na balança comercial brasilei-
mais maduro, como mencionou o embai- tir para a criação de novos pólos de ativi- ra, que tem-se refletido num maior equi-
xador.” dades tecnológicas diferenciadas – nano- líbrio das contas externas e na redução da
Para favorecer esta parceria, o conse- tecnologia, eletrônica, aeronáutica e no- vulnerabilidade do país. Com a alta nas
lheiro mencionou dois métodos. O pri- vos materiais. “Favorecer esta parceria com exportações, há uma redução das perdas
meiro consiste em utilizar uma estratégia o Brasil para a transferência e criação de com pagamento de juros e redução da dí-

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Resultados do Ano do Brasil na França

Nos estandes, a presença colorida do artesanato brasileiro.

D
esde 1989, o governo francês convida, anualmente, um O país foi destaque
país para as Saisons Culturelles (Temporadas Culturais). na imprensa
francesa. A Revista
O Ano do Brasil na França (Saison 2005) teve como
Match du Monde
eixo temático a diversidade cultural do Brasil contemporâneo. deu manchete:
O Brésil, Brésils, o Brasil dos múltiplos Brasis, mostrou muito “Brasil dança com o
mais do que futebol e carnaval. futuro – É neste
Foram 436 eventos que ocuparam espaços culturais em 161 país continental
que se decidem os
cidades francesas, reunindo 2,1 mil artistas brasileiros das áre-
próximos desafios
as de teatro, cinema, música, dança, folclore, fotografia, do Planeta”.
gastronomia, literatura, esporte, moda, design e artes plásticas.
A mostra apresentou, também, aspectos de nossas raízes africa-
nas, além de colóquios universitários sobre meio ambiente e a
transformação social do país, aspectos científicos, econômicos
e tecnológicos do crescimento brasileiro, e uma série de semi-
nários e feiras empresariais, governamentais e do terceiro setor.
Estiveram presentes, movimentando o dia-a-
dia dos franceses, desde trios elétricos até a pri-
meira exposição de Tarsila do Amaral, repre-
sentante do Modernismo brasileiro.
O evento foi considerado pelos organizadores
como a maior manifestação cultural sobre o Bra-
sil no exterior. Atraiu um público superior a 15
milhões de pessoas, num país de 60 milhões de
habitantes.
Os produtos e a cultura brasileira estiveram em
todas as esquinas da França. O verde e amarelo inun- dustrial e de câmbio, das linhas de
daram as cidades. Para levar seus valores culturais à investimentos, dos programas de
França, o Brasil investiu R$ 61 milhões, dos quais R$ comércio exterior e, sobretudo, das
20 milhões vieram de promoções do setor privado e possibilidades de reforçar o comér-
o restante do Ministério da Cultura brasileiro. cio bilateral entre os dois países.
O evento impulsionou a venda de produtos brasi- Além de experimentar mercadorias brasileiras, os franceses
leiros e repercutiu nas relações bilaterais com reflexos impor- passaram a ter mais interesse pelo idioma. Houve um aumento
tantes no comércio de bens e serviços, no turismo e na política, de 20% nas matrículas dos cursos de português em território
estreitando as relações. francês e um crescimento de 27% no movimento de turistas
Nas atividades econômicas do evento, destacou-se o Fórum franceses rumo ao Brasil.
Econômico França-Brasil. Nele autoridades brasileiras, junta- A divulgação da temporada brasileira na França ocupou espa-
mente com os presidentes de algumas das maiores empresas ço em 15 mil artigos da mídia impressa, em 35 edições especiais
brasileiras e francesas instaladas no Brasil, fizeram um balanço de jornais e revistas, totalizando mais de 8 milhões de exempla-
da nossa economia e mostraram os resultados da política in- res e mais de 82 programas de TV, além de 66 programas de rádio.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 29


PAINEL I

vida externa líquida. Tudo isso contribui


para diminuir o risco país e para aumentar
a confiança na economia brasileira.”
A proximidade geográfica é um dado
que, tradicionalmente, favorece o comér-
cio exterior. Quanto ao território, Fábio
Martins Faria lembrou que fazemos fron-
teira com a Guiana Francesa, o que nos
coloca, também, em fronteira com a UE
por meio da França. “O Brasil tem fron-
teiras com todos os países da América do
Sul, exceto Equador e Chile. Somos um
país continental e tivemos o PIB, em 2005,
perto de US$ 800 bilhões. Segundo o
FMI, somos a 13ª maior economia do
mundo. Em 2006, conseguimos a auto-
suficiência em petróleo, o que é um mar-
co significativo. Em termos de reservas, já Claudinei Martins: “uma relação comercial madura deve evitar surpresas e sobressaltos”.
alcançamos US$ 60 bilhões, fruto de uma
do a presença dos produtos de média e bressaltos e, que, para a realização de no-

“ Estamos prontos para crescer


e contamos com as parcerias
alta intensidade tecnológica, ou seja, o Bra-
sil, cada vez mais, agrega valores e produz
conhecimento por meio de investimen-
vos investimentos, o Brasil deve passar por
reformas que possam trazer mais garanti-
as ao comércio exterior. “A relação bilate-
de países como a França
FÁBIO MARTINS FARIAN ” tos externos e parcerias”.
Segundo dados do MDIC, as previsões
de crescimento econômico do país estão
ral tem um grande potencial de cresci-
mento, mas tem que ser um crescimento
contínuo e constante”, concluiu.
situação de maior equilíbrio das contas em torno de 4% para 2006. “Esperamos
externas e de redução da vulnerabilidade um investimento externo como o de As empresas
do Brasil no exterior.” 2005, que foi de US$ 20 bilhões. Há uma Antes de encerrar o painel I, o presi-
Fábio Martins Faria, em seguida, anali- perspectiva bastante favorável com o equi- dente da mesa e Secretário de Comércio
sou alguns dados, segundo ele, pouco co- líbrio fiscal e estamos prontos para cres- Exterior do MDIC, Armando de Melo
nhecidos. “Em termos de número de li- cer, contando com as parcerias de países Meziat, lembrou que os grandes respon-
nhas telefônicas, o Brasil está junto com as como a França,” concluiu. sáveis pelo crescimento das exportações
principais economias do mundo; em rela- brasileiras – e também responsáveis pelo
ção ao uso de computadores pessoais, so- Grandes clientes incremento do comércio Brasil-França –
mos semelhantes ao México; como usuá- O Gerente Regional de Comércio Ex- são as empresas. “Em 2005, houve uma
rios de Internet, somos líderes na América terior do Banco do Brasil, Claudinei redução das empresas exportadoras.
Latina. Temos setores altamente competi- Martins, expôs a visão do Banco do Brasil Estamos trabalhando, primeiramente,
tivos em nível de economia internacional”. sobre a França, a segunda economia da zona com as empresas que abandonaram esta
Segundo o diretor de planejamento e do euro. O banco mantém uma agência atividade. Chegamos à conclusão de que
desenvolvimento do MDIC, o setor líder em Paris. “Quando foram citadas neste se- são empresas que exportavam na faixa de
das exportações brasileiras é o de auto- minário as principais empresas francesas até US$ 100 mil e que atuaram em 2004
peças, seguido dos produtos siderúrgicos, no Brasil, é muito gratificante notar que ou 2003. São empresas que ainda estão
onde contamos, também, com a presença elas fazem parte de nossa carteira de cli- aprendendo a exportar. A maioria saiu por
francesa. “Máquinas, equipamentos e entes. O Banco do Brasil é muito forte, conta da competição momentânea, ou
eletroeletrônica são setores que crescem principalmente nas áreas ligadas ao comér- porque resolveu concentrar as exporta-
bastante, e os brasileiros, em geral, não cio exterior e à agroindústria. É significati- ções em outras empresas do grupo e es-
conhecem esta riqueza e diversidade da vo notar a grande atuação das empresas tão em busca de novos agentes. Das que
nossa pauta de exportação. A pauta brasi- francesas com números importantes e entraram no comércio exterior em 2005,
leira é representada em mais de 50% por participação no PIB brasileiro”. grande parte é de pequenas e médias em-
produtos manufaturados. A cada ano, os Claudinei Martins ressaltou que uma presas. Por meio deste trabalho, busca-
produtos de baixa intensidade tecnológica relação comercial madura pressupõe que mos ratificar a capacitação das empresas
têm sua participação reduzida, aumentan- não haja grandes surpresas, grandes so- recém chegadas ao mercado exportador.”

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


P A I N E L II

Oportunidades de investimentos
e as PPP’s
Infra-estrutura de transportes, saneamento e energia
O painel II do Seminário Bila-
teral de Comércio Exterior e
Investimentos Brasil-França dis-
cutiu temas relacionados à infra-
estrutura de transportes, sane-
amento e energia e às Parcerias
Público-Privadas – PPP’s. Seu
presidente, o Ministro de Esta-
do das Cidades, Marcio Fortes
de Almeida, convidou para com-
por a mesa o Gerente Nacional
de Logística de Carga da Infra-
ero, Ednaldo Pinheiro Santos; o
Coordenador-Geral de Estudos
Ednaldo P. Santos: “o aeroporto é um elo imprescindível na logística do comércio exterior”.
Econômicos e Empresariais da
Superintendência da Zona Fran- tuária, uma empresa pública vinculada ao ladas de cargas pelos nossos 32 termi-
Ministério da Defesa, que administra os nais, sendo os aeroportos de Guarulhos
ca de Manaus – Suframa, José aeroportos brasileiros. “A Infraero está (SP) e Viracopos (Campinas, SP) os prin-
representada em todo o território nacio- cipais terminais, seguidos do de Manaus
Alberto da Costa Machado; a
nal. Em termos de dependências e esta- (AM) e do Galeão (RJ).”
Diretora da Área de Project & ções de navegação aérea, estamos presen- Ednaldo Pinheiro Santos apresentou,
tes da selva amazônica ao Sul do país. Ad- ainda, a Infraero Cargo, empresa especi-
Export Finance da Alstom, ministramos 66 aeroportos, dos quais 32 alizada na área de logística, que atua junto
Christiane Aché; o Diretor de possuem terminais de cargas aéreas. Te- aos 32 terminais, e é responsável pela
mos 78 estações de navegação aérea que maior parte da receita da própria Infraero.
Desenvolvimento de Negócios controlam o espaço aéreo brasileiro. Em “O aeroporto é um elo imprescindível da
2005, passaram pelos nossos aeroportos cadeia logística do comércio exterior. A
do Grupo Suez Energy Interna- 96 milhões de passageiros.” Infraero possui modernos terminais de
tional, Gil Maranhão Neto. O Aeroporto de Congonhas (SP) é o cargas em todos os pontos estratégicos do
número um no ranking de movimenta- país. A receita de carga representa 30% do
Cadeia logística ção, seguido dos aeroportos internacio- faturamento da empresa. Os principais
Ednaldo Pinheiro Santos iniciou seu nais de Guarulhos (SP), Brasília (DF) e destinos destas cargas são a Ásia, a Europa
pronunciamento apresentando a Empre- Galeão (RJ), respectivamente. “Movi- e o continente americano. Os agentes que
sa Brasileira de Infra-Estrutura Aeropor- mentamos, por ano, 1,3 milhão de tone- participam do sistema de carga aérea são

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 31


P A I N E L II

os importadores e exportadores, os ope- presa Brasileira de Turismo – Embratur


radores logísticos, as companhias aéreas, fez com que os vôos de turistas estrangei-
o Ministério da Saúde, a Receita Federal, ros para o Nordeste, que voltavam com
as receitas estaduais, os despachantes e os os compartimentos de cargas vazios, vol-
transportadores. É neste espírito de par- tem, atualmente, com perecíveis, pesca-
ceria que a Infraero concretiza a sua admi- dos etc. Foi uma forma de viabilizar parte
nistração.” das demandas do comércio exterior. A
Segundo o gerente nacional de logística Infraero investiu, em 2005, cerca de R$
de carga, a Infraero está, cada vez mais, 660 milhões em modernização, amplia-
inserida na política de comércio exterior, ção e construção de novos aeroportos e
afinada aos órgãos do setor como a Secre- novos terminais de carga. Para 2006, está
taria de Comércio Exterior – SECEX e o previsto um investimento em torno de R$
MDIC; a Associação de Comércio Exteri- 800 milhões.”
or do Brasil – AEB; o Ministério da Agri- O projeto Aeroporto Industrial, que
cultura, a Agência Nacional de Vigilância incentiva as exportações, vem sendo de-
Sanitária – ANVISA e a Federação das Câ- senvolvido desde 2002 em parceria com
maras de Comércio Exterior – FCCE. o MDIC, SECEX, Receita Federal e a Câ-
“Procurando se inserir nesse meio, a em- mara de Comércio Exterior – Camex. “Ao
presa participa de eventos, rodadas de
negócios e câmaras setoriais.”
Ednaldo Pinheiro Santos considera
terminal de cargas da Infraero chegam
peças que vão para a indústria; o produto é
montado, volta para o terminal e é expor-
“ Estamos planejando uma
rota para nos ligar ao Pacífico,
para recebermos insumos
que os aeroportos são as principais portas tado. Um dos objetivos do projeto Aero-
de entrada de turistas, mas podem, tam-
bém, ter seu movimento ampliado, gra-
ças à utilização da capacidade ociosa dos
porto Industrial é instalar indústrias den-
tro dos aeroportos.”
A Infraero também tem participado,
industriais da Ásia
J O S É A L B E RTO DA ”
C O S TA M A C H A D O N

vôos. “Uma parceria envolvendo a Em- em parceria com o Ministério do Turis-


mo, de vários eventos para promover o gas e disponibiliza informações on-line
Brasil e incentivar o comércio exterior. para os clientes.”
“Com as parcerias afinadas, ganhamos agi- Segundo o representante da Infraero,
lidade e segurança. O Linha Azul, por grande parte da movimentação de carga
exemplo, é um regime de parceria com a ainda se dá pelo modal marítimo. “No
Receita Federal para agilizar a liberação modal aéreo, hoje, as grandes empresas
de cargas de empresas com alto valor transportam cargas de grande valor agre-
agregado. Outro exemplo de agilidade é gado ou as mais perecíveis. O diferencial
o Sistema Tecaplus, que monitora as car- oferecido pela Infraero tem a ver com

Os modernos terminais da
Infraero equipados com
câmaras frias permitem o
embarque de frutas direto do
produtor para os Estados
Unidos, Ásia e Europa, com
segurança e qualidade.

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Incentivos fiscais Abrangência do modelo – Amazônia Ocidental
Federais Objetivo da Suframa: Administrar e controlar incentivos fiscais e promover estratégias de
desenvolvimento para a Amazônia Ocidental.
Imposto de Importação (II)
Redução de 88% sobre os insumos
destinados à industrialização ou pro-
porcional ao valor agregado nacional RR AP
quando se tratar de bens de informática
Imposto sobre Produtos Manaus
Industrializados (IPI) Tabating
abatinga
a Itacoatiara
Isento AM PA MA
Imposto sobre a Renda (IR)
Por
orto
to Velho
Redução de 75% do Imposto sobre a AC
Renda e Adicionais Não Restituíveis, TO
exclusivamente para re-investimentos. RO
Comum em toda Amazônia Legal Vilhena
MT
Programa de Integração Social (PIS)
e financiamento da Seguridade
Social (Cofins)
Áreas de Livre Comércio (03)
Alíquota zero nas entradas e nas ven- Coordenações Regionais (07) Fonte: Suframa
das internas inter-indústrias e de
3,65% (com exceções) nas vendas de
produtos acabados para o resto do pais. Evolução do faturamento da Zona Franca de Manaus
Estadual
50 45.772 Fonte: Suframa
Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços (ICMS) 40.773
40
Crédito Estímulo entre 55% a 100%. 31.972
Em todos os casos as empresas são 30 26.545
obrigadas a contribuir para fundos de
18.964
financiamento ao ensino superior, tu- 20
13.961
rismo, P&D e às pequenas e micro- 9.105 10.531
10 6.923
empresas. 3.127
Fonte: Suframa

2002 2003 2004 2005 2006


agilidade, confiabilidade, tecnologia, segu- (Jan - Fev)
rança e qualidade. O custo do transporte Real (milhões) Dólar (milhões)
aéreo é muito alto; temos que investir no
diferencial. Cada vez mais, disponi- Destaques no 2002 a 2005: em real 72,43% em dólar 108,28%
crescimento 2004 a 2005: em real 12,26% em dólar 35,83%
bilizamos nossos terminais com equipa-
mento de segurança e com alta tecnolo-
gia, procurando, ainda, flexibilizar tarifas
por meio de um programa de fidelização. Zona Franca de do Brasil nasceu na Amazônia com a
Temos modernos equipamentos, sistemas O Coordenador-Geral de Estudos ajuda de intelectuais franceses. Lembrou,
de trans-elevadores, terminais equipados Econômicos e Empresariais da Suframa, ainda, que o Brasil faz fronteira com a
com câmaras frias, centrais de atendimento José Alberto da Costa Machado, come- Guiana Francesa e, finalmente, contou a
ao cliente. Viracopos, um dos nossos mai- çou seu pronunciamento lembrando que história da Suframa.
ores terminais, por exemplo, possui ao o Brasil teve em seu território, há alguns “A Zona Franca de Manaus foi uma
seu redor grandes empresas. O aeropor- séculos, um “país” chamado França política do estado brasileiro para a Ama-
to é um indutor do desenvolvimento”, Equinocial, do qual São Luís era a capital, zônia Ocidental, criada em função do
concluiu. e que, graças a isso, a primeira universida- pouco adensamento regional ao final da

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 33


P A I N E L II

À medida que os acontecimentos eco- tual e sua capacitação de recursos huma-


FIAM 2006 nômicos iam se desenrolando e que as po- nos, modernizando a base para todo e
líticas brasileiras iam sendo implementadas, qualquer investimento econômico. Te-
A III Feira Interna- o modelo ia ganhando novas características mos algumas frentes em andamento:
cional da Amazô- e se adaptando às mudanças. Enquanto isso, concluímos um estudo de viabilidade
nia – FIAM 2006, a Suframa foi se tornando mais complexa técnica e econômica para a implantação
ocorre de 30 de em suas funções, se modernizou, e ampliou de um empreendimento petroquímico
agosto a 02 de se- sua ação, atuando não apenas em Manaus, no Pólo Industrial de Manaus e apresen-
tembro em Ma- como também em toda a Amazônia Oci- tamos projetos aos investidores para a
naus, Amazonas. dental, adotando aquilo que os técnicos criação de empresas petroquímicas des-
Nela, investidores brasileiros e estran- classificariam como uma iniciativa de de- tinadas a produzir gás natural, com o efei-
geiros poderão conhecer grandes senvolvimento estratégico. to de reduzir a importação de certos pro-
oportunidades de negócios que o Nas palavras do representante da dutos. Há outros investimentos na área
potencial econômico da Amazônia é Suframa, entre 1997 e 2002, a Superin- de energia, que incluem a renovação e a
capaz de oferecer: infra-estrutura, tendência passou por uma política de re- redistribuição da rede energética de
mão-de-obra qualificada e várias ou- ferência industrial. “Era um ajuste ao Pla- Manaus e a substituição do parque reno-
tras vantagens competitivas. Na pro- no Real e à regulamentação. Ao modelo vador da cidade.”
gramação estão a exposição de pro- produtivo tivemos de adicionar a política Em relação às Parcerias Público-Pri-
dutos regionais e industriais, projetos exportadora, ou seja, até então abastecía- vadas, o representante da Suframa desta-
institucionais, seminários e palestras mos apenas o mercado interno, não tí- cou os estudos para o complexo de
sobre diversos temas, especialmente nhamos função exportadora. Assim, os armazenamento e entrepostagem para a
os relacionados à inovação tecno- impostos de importação da região foram Zona Franca de Manaus, e o projeto de
lógica, biodiversidade, turismo, for- diminuídos com o objetivo de incentivar construção de um porto exclusivo para
mação de capital intelectual, e sobre o escoamento da produção em direção a Zona Franca. “Estão em andamento di-
temas ligados ao desenvolvimento ao mercado externo.” versas vias para escoamento de produ-
sustentável da região. Maiores infor- ção, como a BR 174, que nos liga a Cara-
mações: www.suframa.org.br

década de 60. Em função de estratégias


“ Os cursos de formação
das universidades
são financiados pelas
cas, e as estradas locais estão sendo
recapeadas, pois a idéia é facilitar o aces-
so rodoviário à região do Caribe. Temos
geopolíticas, havia uma preocupação com discutido, ainda, o projeto da BR 309,
as fronteiras brasileiras, devido ao rumo
ideológico, considerado perigoso pelo
governo da época, que se delineava em
indústrias de Manaus
J O S É A L B E RTO DA ”
C O S TA M A C H A D O N
que ligaria Manaus ao Sul do país, e a
Cuiabá-Santarém, que já está em proces-
so de renovação. Na área de logística,
vários países. O Brasil resolveu, então, Alberto da Costa Machado lembrou, estamos estudando uma rota para nos li-
criar um centro de dinamismo econômi- ainda, a criação de uma grande feira in- gar ao Oceano Pacífico, por meio da qual
co apoiado numa zona de incentivos fis- ternacional que estará, em 2006, na sua receberíamos insumos industriais da
cais que compensassem as distâncias. Na terceira edição e que deverá trazer gran- Ásia. Estamos estudando a criação de um
época, a população local girava em torno des investidores à região. Relatou as pes- centro de distribuição na Flórida que
de 200 mil habitantes, o que não repre- quisas em andamento e a possível junção possa baratear os custos dos produtos da
sentava um mercado consumidor signifi- do centro de biotecnologia ao centro de Zona Franca para os Estados Unidos.”
cativo, mas que justificava os incentivos. A tecnologia do Pólo Industrial de Manaus. Na área educacional, a Suframa está
questão comercial foi, durante muito tem- “Há interesse particular numa parceria financiando quatro doutorados em áreas
po, a razão da existência da zona franca, com a França para a criação de um labo- específicas da produção, seis mestrados,
mas com a abertura econômica da década ratório, e em outros projetos envolven- quatro especializações e um curso de
de 90 o mercado acabou completamente, do várias instituições daquele país. capacitação. Os cursos de formação das
devido às facilidades de compra no resto Estamos desenvolvendo as potencia- universidades são financiados pelas in-
do país. Por questões de restrição do uso lidades regionais de forma intensa – in- dústrias de Manaus e, para 2006, já estão
do solo, que passaram a ser drásticas, as vestindo em produtos como piscicultu- sendo planejados nove mestrados, cinco
participações do setor primário na região ra, guaraná e frutas tropicais. A Suframa doutorados e 32 especializações. Exis-
caíram de forma significativa. Em contra- investiu, nos últimos sete anos, R$ 600 tem, ainda, projetos que prevêem a for-
partida, o setor industrial adquiriu grande milhões em todo o Estado do Amazonas mação de 10 mil engenheiros, 2 mil ad-
impulso, e a área se transformou num gran- com o objetivo de aprimorar sua infra- ministradores, 3 mil especialistas, 200
de parque industrial.” estrutura econômica, seu capital intelec- médicos e 100 doutores para o pólo in-

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


dustrial num período de 6 anos, com in-
vestimentos de R$ 60 milhões.”

PPPs em infra-estrutura
A Diretora da Área de Project & Export
Finance da Alstom, Christiane Aché, tra-
tou da participação das PPPs nos investi-
mentos em infra-estrutura. “Essas obras,
de maneira geral, podem ser feitas em fun-
ção das receitas e dos riscos. Se as receitas
e os riscos de um projeto puderem ser
suportados pelo setor privado, entramos
com uma concessão. O poder público não
precisa partilhar absolutamente nada. Vi-
mos isso no Brasil no momento das
privatizações, cujos riscos e receitas po-
deriam ser absorvidos pelo setor privado.
Se isto não for possível, fazemos uma obra
pública, com investimentos tradicionais,
e vamos ver quais as implicações orçamen-
tárias. Quando a relação do risco e da re- Marcio Fortes de Almeida e Christiane Aché.
ceita é parcialmente aceita pelo setor pri-
vado, estamos diante de projetos que po- estamos diante de um caso no qual a PPP entes para participar de uma grande con-
dem sair sob forma de PPP.” se faz necessária. O uso deste tipo de corrência que está ocorrendo no Estado
Segundo a representante da Alstom, equacionamento gera algumas vantagens de São Paulo: a PPP da Linha Quatro. “Será
hoje a infra-estrutura no Brasil é altamente notórias. A primeira delas é que, como efetivamente a primeira PPP de transporte
deficitária, seja no setor de transporte, de existe uma escassez de recursos do poder urbano no Brasil e servirá de modelo. Ela
energia ou saneamento. “Os três são seto- público, é possível abranger mais proje- tem algumas características interessantes:
res em que o Estado não tem capacidade tos. Hoje, o Estado teria o equivalente a é uma PPP patrocinada. Trata-se de uma
orçamentária para fazer todos os investi- um terço de sua infra-estrutura resolvida, estrutura em que, além do governo remu-
mentos necessários. Estas restrições de or- além de poder promover muitos outros nerar o concessionário com as tarifas, há
dem econômica estão intimamente ligadas projetos, priorizando o retorno econômi- um patrocínio do estado. A lei federal das
à legislação de responsabilidade fiscal e à co e social desejados. Outra vantagem é que PPPs é bastante clara em relação aos proje-
limitação do endividamento do setor pú- se aproveita o gerenciamento. A capacidade tos elegíveis, com algumas características
blico. Isso pode parecer, para alguns, como de gerenciar do setor privado é maximizada em termos de prazo. A visão da Alstom é
um aspecto negativo, mas não é. Se, hoje, o por meio das PPPs e, também, há um efe- extremamente realista e sabemos que o
Brasil conseguiu chegar ao nível de rating e tivo compartilhamento de riscos entre o projeto representará, de fato, uma solução;
confiabilidade externa que possui, é graças setor público e o setor privado.” não será uma panacéia. Podemos resolver
a esse controle fiscal. O outro lado da mo- alguns problemas pontuais, e utilizaremos
eda é que, com isso, reduz-se muito o in-
vestimento do setor público. Contudo, essa
dificuldade, aliada à criatividade do legisla-
“ Quando o retorno econômico
é maior que o social e o
pagamento das tarifas não é
a experiência do grupo fora do Brasil.”

Energia
dor brasileiro, muitas vezes inspirado num O Diretor de Desenvolvimento de Ne-
conjunto de leis de outros países, permitiu suficiente, uma PPP se gócios do Grupo Suez, Gil Maranhão Neto,
ao Brasil produzir legislação federal capaz iniciou seu pronunciamento apresentando
de absorver as PPPs em alguns estados.”
Para Christiane Aché, as PPPs vão inau-
gurar um novo tipo de relacionamento
faz necessária
CHRISTIANE ACHÉN ” a empresa. “O Grupo Suez é o resultado da
fusão de duas grandes empresas centenári-
as: a Lyonnaise des eaux, experiente na área de
entre o poder público e o poder privado. Christiane Aché relatou, ainda, que, gra- coleta e tratamento de resíduos, e a Belga
“Quando o retorno econômico é maior ças a um grande número de experiências Tractebel, com grande experiência na área
que o retorno social do projeto e o pa- desenvolvidas pela Alstom em vários paí- de energia e engenharia. Esses dois grupos
gamento das tarifas não é suficiente para ses nas últimas duas décadas, a empresa se fundiram em 1999 e passaram a se cha-
que estas atividades sejam desenvolvidas, acumulou conhecimento e técnica sufici- mar Suez. No Brasil, esse grupo não é con-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 35


P A I N E L II

solidado, mas se faz presente por meio de no Brasil, estaria entre os 25 maiores grupos concessões que estão a um passo de iniciar
várias marcas conhecidas, como a Tractebel atuantes no país, excluindo-se os conglo- suas construções. Uma delas é a hidrelétri-
Energia, e de algumas concessões como merados empresariais financeiros e estatais. ca de Estreito, no rio Tocantins, dando con-
Água do Amazonas, Água de Limeira, Na área de energia, somos um investidor- tinuidade a nossa atuação na região. Será um
Degremond Engenharia, e a Vega, que pos- operador clássico. Em 1998, adquirimos, projeto de grande porte, construído em par-
sui presença expressiva na área de coleta num leilão de privatização, a Gerasul e nos ceria com a Vale do Rio Doce, a Alcoa e a
de resíduos em São Paulo.” tornarmos o maior gerador privado de ener- Camargo Corrêa. O Outro projeto é tam-
Segundo dados de Gil Maranhão Neto, a gia elétrica do Brasil. Desde então, o grupo bém uma concessão, e chama-se Green
Suez está no Brasil há cerca de 50 anos, com vem crescendo de maneira expressiva. Au- Field. É 100% da Suez, e está previsto para
14 mil funcionários, faturando cerca de 1 mentamos em cerca de 60% a nossa capaci- produzir 241 megawatts. Ambos contarão
bilhão de euros. “Se já estivesse consolidado dade de geração instalada de energia; dete- com o financiamento do BNDES.”
mos cerca de 8% de toda a geração de ener- Sobre PPPs, o diretor de desenvolvi-
gia elétrica instalada do país; temos 13 usinas mento de negócios da Suez declarou que
termelétricas e hidrelétricas espalhadas pelo a melhor parceria é aquela em que o go-
Brasil, e uma base sólida de clientes industri- verno, dentro de suas atribuições, conce-
ais. Fomos precursores do chamado merca- de, regula, fiscaliza e defende a modicidade
do livre no setor elétrico brasileiro, o que tarifária e estabelece linha de financiamen-
facilitou o acesso direto das indústrias aos tos compatíveis com a construção dos
geradores de energia.” projetos de infra-estrutura, favorecendo
Com o primeiro escritório instalado no o investimento de empresas privadas. “Não
Brasil há dez anos, Suez é um grupo franco- poderia ter uma visão diferente, porque
belga de investimentos e, segundo Gil este foi o modelo adotado pela Suez, em
Maranhão Neto, vem acumulando sucesso 1998, com grande sucesso. Se o governo
desde então. Para citar um exemplo, mencio- conseguir criar regras claras, estáveis, es-
nou a usina Cana Brava, construída pelo gru- tabelecer e manter linhas de financiamen-
po. “Investimos cerca de US$ 400 milhões, e to compatíveis com as necessidades deste
ela entrou em operação em 2002, financiada porte, não faltarão investimentos priva-
pelo BNDES. Outros exemplos de sucesso e dos. O mercado brasileiro está repleto de
de capacidade empreendedora do grupo são grandes empreendedores que não se re-
a instalação da primeira usina a se utilizar do cusarão a aproveitar uma oportunidade de

“ Aumentamos em cerca de
60% nossa capacidade
instalada de produção
gás boliviano, em Campo Grande, Mato Gros-
so do Sul, e a usina bioenergética de Lages,
que queima resíduos da indústria madeireira
investimento no setor elétrico, se estas
oportunidades forem condizentes com
modelos de project and finance, com ris-
local, obtendo créditos de carbono.” cos calculados, com regras claras, com
de energia elétrica no país
GIL MARANHÃO NETON ” Com relação ao futuro, Gil Maranhão
Neto deu ênfase a dois projetos. “São duas
proteção de longo prazo ao investidor e
linhas de financiamentos”, concluiu.

Usina Cana Brava


Um dos muitos investimentos do Grupo Suez no Brasil
Potência: 450 MW
Investimento: US$ 400 milhões
Financiamento: BNDES e IADB
Obra em 34 meses

A construção em 2001 (acima) e a entrada em operação em 2002 (ao lado).

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


P A I N E L III

Setores de turismo, automotivo


e farmacêutico em destaque
Iniciativas de empresas francesas encontram terreno fértil no território brasileiro

Bernardo Feldberg, Varso Toppjian, Paulo D’Arrigo Vellinho e Pierre-Michel Fauconnier discutem as ações empresariais francesas no Brasil.

O
As oportunidades são muitas, e ex-Presidente do CONCEX e Di- que eles têm dado à empresa. Apresen-
retor-Conselheiro do Conselho tou, em detalhes, as razões que fizeram
as iniciativas empresariais da Superior da FCCE, Paulo D’Arri- sua empresa decidir-se a investir na in-
França têm sido bem sucedidas go Vellinho, presidente do painel III, con- dústria automobilística brasileira. Depois
ao desenvolvê-las, com a inten- vidou para compor a mesa os seguintes fez um balanço dos cinco primeiros anos
expositores: o Presidente da PSA Peugeot de atividade após os investimentos e, fi-
ção de ocupar um espaço impor-
Citröen do Brasil, Pierre-Michel Faucon- nalmente, apresentou algumas perspecti-
tante na relação bilateral entre nier; a Diretora Geral do Laboratório vas e expectativas.
os dois países. Estas foram algu- Servier do Brasil,Varso Toppjian; e o Dire- “Quando o grupo decidiu investir no
mas das conclusões do painel III tor Conselheiro da Carlson Wagonlit – Brasil, em 1997, as vendas da Peugeot
Grupo Accor, Bernardo Feldberg. Citröen no mundo estavam em torno de 2
do Seminário Bilateral de Co- milhões de veículos por ano, incluindo 950
mércio Exterior e Investimentos Indústria automobilística mil veículos vendidos fora da Europa Oci-
Brasil-França, dedicado à visão Pierre-Michel Fauconnier falou sobre dental. Nos últimos números, estavam in-
os investimentos realizados pelo grupo cluídos 9 mil veículos de duas marcas ven-
empresarial nos setores auto- PSA Peugeot Citröen no Estado do Rio didas no Brasil, ou seja, nosso grupo teve
motivo, farmacêutico e turístico. de Janeiro e no Brasil e sobre o retorno uma participação de 0,5% sobre o merca-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 37


P A I N E L III

do total de 1,9 milhão de veículos vendi- estrutura portuária, representada principal- industriais foram criados no Pólo Auto-
dos anualmente no Brasil.A primeira e prin- mente pelo Porto de Sepetiba, e uma es- mobilístico de Porto Real. Quanto às ven-
cipal razão para investir aqui, então, era ter trutura rodoviária, com aVia Dutra, encon- das, chegaram a uma participação de 5,5%
acesso a um dos principais e mais promis- tramos boas condições para abastecer os no mercado brasileiro, com a perspectiva
sores mercados automobilísticos do mun- componentes, para fabricar peças e tam- de passar, em 2006, a 100 mil veículos.”
do. Ao mesmo tempo, encontramos, ao bém para distribuir e exportar para os ou- Neste cenário, o presidente da Peugeot
chegar no Estado do Rio de Janeiro, condi- tros países da América Latina. Em terceiro Citröen do Brasil destacou a contribuição
ções bastante favoráveis: um terreno doa- lugar, tivemos a possibilidade de usar uma de uma parceria bem sucedida com o
do para a construção de nossa fábrica e in- mão-de-obra bem qualificada e motivada, Governo do Estado do Rio de Janeiro,
centivos financeiros competitivos. No do- uma vez que criamos, em parceria com o segundo ele, fundamental para alcançar o
mínio logístico, por meio de uma boa infra- Senai, um centro de formação e seleção de desempenho atual do grupo no estado e
pessoal para nossa indústria. Em quarto
lugar, encontramos um tecido de fornece-
dores da indústria automobilística já insta-
lados dentro de um perímetro geográfico
“ O crescimento das vendas
e os resultados esperados para
a indústria automobilística
razoável, além de estarmos perto de gran-
de parcela do mercado. “
O presidente da Peugeot Citröen do
Brasil informou que, depois de cinco anos
brasileira são promissores
PIERRE-MICHEL FAUCONNIERN ”
produzindo veículos na sua fábrica em no país. “As perspectivas para os próxi-
Porto Real, região do Pólo Industrial de mos anos são de aumentar as vendas a fim
Resende, no Estado do Rio de Janeiro, o de gerar mais resultados positivos, o que
balanço de investimentos do grupo é bas- não foi o caso até o ano passado. O cresci-
tante positivo. “O investimento industrial mento esperado das nossas vendas e os
direto é da ordem de US$ 750 milhões, resultados esperados para a indústria au-
considerado razoável para sustentar um tomobilística brasileira, hoje considerada
potencial de construção de 150 mil veí- bastante competitiva, são promissores.
culos por ano, e para lançar, dentro de um Estas perspectivas só se confirmarão na
prazo de cinco anos, quatro modelos no- medida em que nosso grupo for capaz de
vos. Além disso, outras empresas do gru- lançar, no Brasil, novos modelos e ver-
po, que vieram a se constituir no seu bra- sões em ritmo acelerado. Vejo aqui uma

“ Encontramos fornecedores
já instalados e estamos
perto de uma grande
ço logístico, iniciaram atividades no Esta-
do do Rio de Janeiro e em outras regiões
do Brasil. São elas a GEFCO do Brasil, e
atuação importante da Embaixada da Fran-
ça e das missões comerciais: ajudar a criar
um contexto favorável dentro da indús-
uma fábrica de assentos, com sua fábrica tria automobilística para nosso maior de-
parcela do mercado
PIERRE-MICHEL FAUCONNIERN ” just in time, instalada no pólo tecnológico
de Porto Real. Mais de três mil empregos
senvolvimento. Para isso, dois temas de-
veriam ser trabalhados. O primeiro seria

Dentro de cinco anos, a Peugeot Citröen do Brasil pretende lançar... ...quatro novos modelos de automóveis no mercado brasileiro.

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


uma reflexão da administração brasileira
sobre a singularidade no domínio da in-
dústria automobilística. Na contramão de
todos os mercados automobilísticos do
mundo, o Brasil é o único país a proibir o
uso do combustível diesel no abasteci-
mento de automóveis e veículos comer-
ciais leves. O Brasil é um dos raros países
a ter uma estrutura tributária baseada na
cilindrada dos motores, o chamado Im-
posto sobre Produtos Industrializados –
IPI, muito popular para motores inferio-
res. Isso está criando uma distorção no
mercado, dando um peso excessivo aos
chamados populares no mercado inter-
no, que não têm equivalentes no mundo
e podem ser considerados um freio para
as exportações. Um segundo tema – mais
propício à atuação das missões comerciais
– seria o incentivo ainda maior ao inter-
câmbio, com a França, de estudantes bra-
sileiros formados nas grandes universida-
des de engenharia do país. Para concluir, Varso Toppjian e Paulo D’Arrigo Vellinho durante o painel III do seminário.
o grupo PSA Peugeot Citröen, tomou a
decisão certa quando decidiu, no ano de disso, é preciso considerar que cerca de retomada do crescimento neste setor co-
1997, investir no Brasil, mais especifica- 40% da população brasileira não tem aces- meçou a acontecer a partir de 2004. Para
mente no Estado do Rio de Janeiro.” so a remédios industrializados. aumentar o acesso aos medicamentos, hou-
Para a diretora geral do Laboratório ve a entrada dos genéricos no Brasil, uma
Setor farmacêutico Servier do Brasil, o uso do tratamento com tendência mundial, que demandava apenas
A Diretora Geral do Laboratório remédios industrializados no Brasil é mui- algumas regras. Essa entrada foi benéfica
Servier do Brasil, Varso Toppjian relatou to baixo e, conseqüentemente, o seu po- para o país. No setor, o maior crescimento
que a empresa tomou, recentemente, de- tencial de crescimento é bem grande. Com nos últimos anos foi dos genéricos, que
cisões significativas a respeito de investi- a atual estabilidade da economia e o aumen- hoje representam 10% do mercado. Para
mentos no Estado do Rio de Janeiro. “As 2009, sua participação pode chegar a 20%
decisões foram relativas à pesquisa. Cria-
mos o centro internacional de pesquisas
terapêuticas, para o Brasil participar mais
“ Com a estabilidade econômica
e o aumento do poder aquisitivo,
a população tem mais acesso
do mercado nacional.”
Segundo Varso Toppjian, aconteceu ain-
da um fato novo neste cenário: a liberação
ativamente das fases dois e três, que en- dos preços de alguns produtos que não
volvem estudos em seres humanos, an-
tes do lançamento do produto. As pes-
quisas sobre doenças cardiovasculares au-
a remédios e tratamento
VARSO TOPPJIAN ” precisam de prescrição, os chamados re-
médios populares. “Isso também aumen-
tou a oferta desses produtos, na sua maio-
mentaram com o envelhecimento da po- to do poder aquisitivo, certamente aumen- ria expectorantes, analgésicos, anti-sépti-
pulação brasileira, incentivando o merca- tará o acesso da população à saúde e aos cos e vitaminas. Uma característica do
do para produtos mais complexos. Tudo tratamentos. “No Brasil não há reembolso mercado brasileiro é o uso de medicamen-
isso faz, também, com que aumentem os dos tratamentos como na Europa e em ou- tos sem receita. As prescrições represen-
pacientes para participar das pesquisas nas tros países, por isso a indústria farmacêuti- tam apenas 35% do mercado médico. A
fases dois e três. Ao mesmo tempo, a ca e de uso de medicamentos é muito sen- auto-medicação gera, nas farmácias, mui-
Servier decidiu investir no Estado do Rio sível à situação macroeconômica do país. tas trocas de receitas, o que quase sempre
de Janeiro instalando em seu território a Quando se tem uma perda do poder aqui- prejudica o paciente, pois passa a ser ori-
sua fábrica para a América Latina. Para nós, sitivo, imediatamente a indústria farmacêu- entado por balconistas e não por farma-
o Brasil representa uma imensa possibili- tica se ressente, e isso ocorreu durante os cêuticos. A regulamentação da Agência
dade de atuação, pois é o 11º mercado últimos anos, nos quais pudemos perceber Nacional de Vigilância Sanitária – Anvisa
mundial da indústria farmacêutica. Além acentuada queda nas vendas. No entanto, a está aumentando as inspeções, seja nas in-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 39


P A I N E L III

as nacionais para que invistam em pesqui- Bernardo Feldberg apresentou tam-


sa, em acordos de licença e em genéricos. bém um perfil da empresa Carlson
Sou bastante otimista com a evolução do Wagonlit e sua trajetória de instalação no
mercado farmacêutico no Brasil. Parabe- território brasileiro.
nizo a Anvisa pelas últimas decisões que “A atividade que represento dentro do
tomou, agilizando os acordos de pesquisa grupo, de viagens corporativas, chegou ao
e, também, atuando no sentido de aumen- país no ano de 1936 e, em 2006, comple-
tar a inspeção e a qualidade dos medica- ta 70 anos de atuação ininterruptos. O
mentos.” primeiro hotel do grupo foi inaugurado
Varso Toppjian considerou, ainda, que no Morumbi, na capital paulista, em 1977,
são bastante necessários hoje, no Brasil, e não paramos de crescer desde então, in-
estudos de fármaco-economia para tratar troduzindo as nossas marcas globais Sofitel,
as doenças na sua globalidade, ao invés de Mercure e Íbis, que aqui foram ganhando
apenas tratá-las apenas de forma pontual e um perfil próprio para se adaptar às con-
em curto prazo. “Com a tendência de es- dições locais. Em 1979, lançava-se o con-
tabilização da economia, com o governo ceito de cruzeiros all include no Brasil com
preocupando-se em ampliar o acesso da o Club Med de Itaparica, que faz parte do
população aos medicamentos, e com a nosso grupo. Temos, hoje, 130 empresas

“ O destino Brasil está


cada vez mais procurado
nos mercados turísticos
baixa utilização de remédios pela maioria
das pessoas, eu diria que o potencial de
mercado do Brasil é muito expressivo e
no país e mais 45 em vários estágios de
desenvolvimento. O nosso grupo é, des-
de 1999, líder de viagens corporativas no
que há boas perspectivas para a indústria Brasil, com um volume de negócios de
europeus e asiáticos
BERNARDO FELDBERGN ” farmacêutica. As exportações de medica-
mentos produzidos no Brasil estão cres-
cendo e vamos crescer mais, porque a base
R$ 800 milhões anuais.”
Segundo Bernardo Feldberg, a empre-
sa está instalada no Brasil voltada para ativi-
dústrias, seja nas farmácias. As exigências da indústria vai ser aqui”, concluiu. dades de turismo de longo prazo. “Com o
estão aumentando. Quando se trata de saú- país e o mercado em franca expansão, nos-
de, nós não podemos brincar.” O turismo sas necessidades de investimentos são gran-
Nas palavras de Varso Toppjian, as pers- Bernardo Feldberg, Diretor-Conse- des e contínuas. Os últimos resultados
pectivas são bastante interessantes para la- lheiro da Carlson Wagonlit – Grupo Accor, obtidos refletem nitidamente nossos es-
boratórios que querem investir em gené- especializado em hotelaria, viagens e forços em continuar crescendo e manten-
ricos. “Os grandes laboratórios nesta área alimentação,iniciou seu pronunciamento do a liderança que possuímos em todas as
são nacionais, mas alguns multinacionais afirmando que grandes investimentos in- atividades. Atividades que não se esgotam
também estão entrando no mercado. Exis- ternacionais estão anunciados para o setor no turismo. Elas incluem, ainda, tickets de
te um potencial muito grande para inves- de turismo em nosso país. “O destino Bra- alimentação e os tickets de restaurante AGR.
timentos na área de inovação de produtos sil passa a ser cada vez mais procurado, Aí estão nossas marcas”, concluiu.
e de pesquisa, provocado pelo envelheci- principalmente por mercados europeus e
mento da população e pela melhoria da asiáticos. O mercado interno está, tam- Potencial brasileiro
saúde. Uma população de 180 milhões bém, em grande desenvolvimento, com O ex-Presidente do CONCEX e Dire-
de habitantes e 180 mil médicos tem, ain- a franca expansão das vendas de viagens tor-Conselheiro do Conselho Superior da
da, grande potencial de crescimento para domésticas. Ouve-se falar de investimen- FCCE, Paulo D’Arrigo Vellinho, encerrou
o setor de medicamentos e, por isso, a tos portugueses, espanhóis etc. A França o painel relatando seu otimismo. “Saio da-
Servier decidiu investir no Brasil e consti- não aparece tanto na mídia porque seus qui animado, porque o Brasil não está aca-
tuir, no país, sua base para distribuição na investimentos não começaram agora, mas bando, como alguns políticos nos levam a
América Latina. Hoje, há 550 empresas já vêm acontecendo há várias décadas. crer. O Brasil tem vocações naturais mara-
farmacêuticas instaladas no Brasil. Dessas, Tome-se como exemplo o grupo Accor vilhosas que se adequam, se ajustam. Eu
20% são multinacionais e 80% são nacio- que vai completar, em breve, 30 anos de estava me sentindo um pouco envenenado
nais. Estes 20% representam 70% dos investimentos no Brasil. Investimentos pela situação atual do Brasil que nos é vei-
mercados regionais. As indústrias nacio- perpétuos e que prevêem a melhoria de culada pela mídia, mas esta tarde foi como
nais precisam melhorar e eu, enquanto todas as suas atividades, empregando 30 um banho de esperança no potencial do
representante de uma indústria multi- mil colaboradores, e com um volume de nosso país. Quero agradecer aos pales-
nacional, vou cumprimentar o BNDES negócios que chegou a 20 milhões de trantes por terem conseguido passar estas
que tomou a decisão de apoiar as indústri- euros em 2005.” idéias e concepções sobre o Brasil”.

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


ENCERRAMENTO

Apoio do BNDES faz crescer o


comércio exterior brasileiro
França redescobre o Rio de Janeiro e amplia investimentos no Estado
O Presidente da FCCE, João Augusto
de Souza Lima, convocou para pre-
sidir a mesa da Sessão Solene de En-
cerramento do Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
Brasil-França o Cônsul-Geral da Fran-
ça no Rio de Janeiro, Hugues Gois-
bault. Para os pronunciamentos es-
peciais foram convidados o Secretá-
rio de Estado de Desenvolvimento
Econômico do Rio de Janeiro, Mau-
ricio Chacur e o Presidente do Ban-
co Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social – BNDES,
Demian Fiocca. Compuseram, a mesa
as seguintes personalidades: o Minis-
tro de Estado das Cidades, Marcio
Fortes de Almeida; o Consultor da
CNC, Senador Bernardo Cabral; o
O Presidente do BNDES, Demian Fiocca, e o Secretário de Estado de Desenvolvimento
Presidente da Câmara de Comércio Econômico do Rio de Janeiro, Mauricio Chacur: pronunciamentos mostram dados positivos.
França-Brasil, Jean-Nöel Gerard; a

O
Vice-Presidente Executiva da Asso- Presidente do BNDES, Demian BNDES desembolsou US$ 5,9 bilhões em
Fiocca, analisou as exportações financiamentos às exportações. Esse apoio
ciação de Comércio Exterior do Bra- brasileiras em seu pronunciamen- se divide entre as fases de produção para
sil – AEB, Lúcia Maldonado; a Dire- to e transmitiu a visão desta instituição so- embarque, e de comercialização, chama-
tora da Área de Project & Export bre a atual conjuntura econômica do Bra- da de pós-embarque, que constitui a ven-
sil. Ele destacou a diversificação das áreas da propriamente dita. Utilizando os finan-
Finance da Alstom, Christiane Aché; de atuação do banco, que vem trabalhan- ciamentos do BNDES, os exportadores
o ex-Presidente do Concex e Dire- do em setores considerados importantes podem pagar a prazo. Em 2005, este fi-
tor-Conselheiro do Conselho Supe- e prioritários para a economia brasileira. nanciamento alcançou, em dólares, um
“Um deles é, claramente, o setor de ex- índice de aumento na ordem de 52%. O
rior da FCCE, Paulo D’Arrigo portações, que há algumas décadas foi apoio ao setor de bens de capital – que
Vellinho; a Diretora Geral do Labo- motivo de preocupação – não propria- representou 68% do apoio desembolsa-
ratório Servier do Brasil, Varso mente por causa das exportações, mas por do para bens de exportações – virou uma
conta da nossa balança de pagamentos. O tradição do BNDES”.
Toppjian; e o Diretor Conselheiro da
banco procura fazer parte do esforço que Segundo o presidente do banco, o fi-
Carlson Wagonlit, do Grupo Accor, o Brasil tem realizado para mudar o cená- nanciamento beneficia linhas de máqui-
Bernardo Feldberg. rio das suas contas externas. Em 2005, o nas industriais, aparelhos de telecomuni-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 41


ENCERRAMENTO

cações, equipamentos geradores de ener-


gia, aeronaves, veículos ferroviários e ca-
minhões. “Dos US$ 6 bilhões destinados
à exportação, US$ 4 bilhões são de bens
de capital. No setor de consumo, financi-
amos veículos, produtos químicos, ele-
trônicos, têxteis, calçados e móveis”.
Demian Fiocca relatou que o BNDES
surgiu como o banco da infra-estrutura,
posteriormente se consolidou como o
banco da indústria e, finalmente, hoje, tem
papel de destaque no financiamento às
exportações do país em várias áreas. “Cla-
ro que este sucesso tem a ver com o au-
mento geral das exportações, mas tam-
bém tomamos medidas externas para
melhor apoiar o setor. Entre elas, a redu-
ção da exigência de empréstimos em mo- Jean de Gliniasty, João Augusto de Souza Lima, Christiane Aché e Antonio Oliveira Santos.
eda estrangeira de 40% para 20%, e a sim-
plificação da cesta de moedas, passando a O presidente do BNDES analisou, tam- o importante empreendimento da Peugeot-
uma prestação em dólares. Essa cesta, que bém, a desaceleração do PIB ocorrida em Citroën, que colocou o Rio de Janeiro no
constituía a nossa captação, era uma co- 2005. Segundo ele, tratou-se de “um ajus- mapa automotivo do Brasil. Junto com esse
modidade para o banco e uma complica- te promovido pela necessidade de redu- grupo, temos a Volkswagen produzindo ca-
ção para o exportador”. zir mais rapidamente a inflação, mas que minhões e ônibus e a Ciferal produzindo
Segundo o presidente da instituição, o não deve resultar, como ocorreu em ou- ônibus. Em 2006, estima-se que produzi-
BNDES tem procurado ampliar seus ins- tras épocas, em dificuldades de crescimen- remos 150 mil veículos quando, há seis
trumentos para financiar as exportações de to.Tivemos, ao longo dos últimos 25 anos, anos, não produzíamos um só veículo no
serviços. “A exportação de serviços é basi- uma freqüência desfavorável de proble- Rio de Janeiro”.
camente a exportação de projetos, de know mas: crise externa, crise no setor de ener- Segundo Mauricio Chacur, a França
how e pagamento de engenheiros brasilei- gia, as várias crises da inflação. Acho que também está presente no setor farmacêu-
ros que vão ao exterior, ou seja, é um finan- isto realmente ficou no passado. Em 2004, tico com a inauguração de uma fábrica da
ciamento intangível. Constitui, também, começamos um ciclo de crescimento Servier, em 2006. “No setor de cosméti-
algo que o país vende e que caracteriza, em contínuo. Hoje, não existe mais crise na cos, contamos com a participação da
grande parte, a exportação de países mais balança de pagamentos, no setor fiscal, ou L’Oréal, que está ampliando a distribui-
próximos da fronteira tecnológica. Países mesmo crise de confiança. A política fis- ção no Rio de Janeiro. No setor turístico,
que conseguem exportar serviços são, em cal atual é consistente; a dívida pública, a França redescobriu o Rio, assim como o
geral, os mais desenvolvidos”. em proporção ao PIB, vem caindo desde Rio redescobriu o desenvolvimento. O
Demian Fiocca declarou, ainda, que o 2003 e temos inflação baixa; há abundân- Rio de Janeiro é o segundo maior merca-
BNDES alterou suas políticas em 2005 cia de divisas; os juros estão em queda e do do Brasil, a segunda maior renda per
para oferecer financiamento de até 65% temos tido aumento de empregos. Real- capita, perdendo apenas para Brasília. Pos-
de serviços, dentro de uma pauta de ex- mente, o momento é muito bom.” sui o maior salário mínimo regional, a
portação com, no mínimo, 35% de bens. maior densidade econômica do país e, ape-
“O Brasil precisa se colocar numa situa- A França e o Rio sar do seu tamanho reduzido, possui um
ção bem mais qualificada no cenário de O Secretário de Estado de Desenvolvi- grande parque industrial”.
globalização, que implica em competição mento Econômico do Rio de Janeiro, Mau- Segundo Mauricio Chacur, esses dados
internacional. É importante que as em- ricio Chacur, relatou, em seu pronuncia- não se devem apenas ao petróleo. “Com
presas brasileiras consigam não somente mento, a relação entre a França e o Estado estes índices, notamos que a produção
exportar bens, mas também exportar a do Rio de Janeiro. “Essas relações são his- industrial do Brasil cresceu, mas a produ-
sua engenharia. Quem exporta engenha- tóricas, centenárias e, recentemente, a Fran- ção do Rio de Janeiro cresceu 50% acima
ria, exporta padrões e, ao fazê-lo, amplia ça redescobriu o Rio de Janeiro, amplian- da média nacional”.
o mercado para produtos brasileiros em do, de maneira significativa seus investimen- João Augusto de Souza Lima, Presiden-
outros países. Estamos vivendo um mo- tos no estado. Como exemplo, cito a nova te da FCCE, agradeceu a presença de to-
mento muito positivo e muito promissor.” fábrica da Michelin, em Campo Grande, e dos, encerrando a sessão e o seminário.

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


INTERCÂMBIO

Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial – SENAC

Portugal redescobre a Bahia

Augusto Carreira (vice-presidente da Câmara portuguesa) e Carlos Amaral (presidente do Conselho Regional do Senac e da Federação do
Comércio do Estado da Bahia) assinam convênio.

N
o dia 9 de março, o Senac/BA e a nária Baiana em Lisboa (no restaurante do acordo de cooperação. “Por duas vezes,
Câmara Portuguesa de Comércio Hotel Dom Pedro). o Senac realizou festivais gastronômicos
no Brasil -Bahia assinaram, na Casa De acordo com Manoel Augusto no Hotel Dom Pedro, em Lisboa, e em
do Comércio, em Salvador, um acordo de Duarte Carreira, vice-presidente em exer- ambas tivemos grande sucesso. O que
cooperação mútua que visa promover e cício da Câmara, o acordo ainda pode di- não me admira, visto que Bahia e Portu-
executar investimentos e fortalecer a re- namizar a realização de eventos bilaterais gal são irmãos”, disse. “No que depender
lação comercial entre os dois países. que resultarão na ampliação do comércio da Federação do Comércio da Bahia, es-
O convênio abre espaço para que as entre o Brasil, mais especificamente, a ses laços de união só se fortalecerão”,
instituições promovam seminários, con- Bahia, e Portugal. Dado o grande número completou.
ferências, feiras, exposições, além de or- de empresários portugueses com negó- Já Marina Almeida, diretora do Senac/
ganizar missões e encontros de negócios cios já instalados na Bahia, principalmente BA, aproveitou para salientar que o acor-
em ambas as regiões. A parceria também na área hoteleira, as expectativas de novos do é um desdobramento de alguns tra-
permitirá que os empresários associados investimentos são muito boas: “Não pos- balhos que a Instituição já vinha desen-
à Câmara Portuguesa tenham o acesso fa- so ainda prever o volume de investimen- volvendo além-mar. Dessa forma, o
cilitado aos serviços do Senac, como cur- tos para o futuro próximo, mas além dos Senac vai ampliar a oferta de produtos,
sos preparatórios de culinária, garçons, empresários lusos que aqui já estão, te- levando a gastronomia e promovendo
animadores e camareiras. O primeiro fru- mos muitos outros interessados em vir intercâmbios educacionais, incluindo ar-
to dessa aliança será a realização dos festi- para a Bahia”. tes plásticas e artesanato locais. “Enfim,
vais gastronômicos Semana de Culinária Na ocasião, o presidente da Federação vamos levar um pouco da cultura baiana
Portuguesa ,em Salvador (no restaurante da do Comércio da Bahia, Carlos Amaral, para lá e trazer um pouco da portuguesa
Casa do Comércio) e da Semana de Culi- declarou sua satisfação em assinar esse para cá”, conclui.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 43


CULTURA

O cristal francês no Compoteira com

Império do Brasil partes em


overlay azul
cobalto com
monograma BG

Símbolo da arte e da vaidade humana, eles do Barão de


Guaribú. (Museu
Histórico
atravessam os séculos com seu brilho delicado Nacional)

HENRIQUE DO AMARALN

Alguns itens de consumo são sinôni-


mos de luxo, bom gosto e, sobretudo, de
status social e financeiro. Assim, temos o
champanhe e o perfume francês, o caviar
russo, as Ferraris italianas e tantos outros
objetos privativos de uma classe altamen-
te privilegiada, que se dá ao luxo de não
fazer conta no final do mês.
Durante o século XIX, no Império do
Brasil, o Cristal Baccarat e a porcelana euro-
péia eram absolutamente imprescindíveis Taça de champagne, copo, copo de vinho e caneca de pé para bebida quente com o
nas casas e palácios dos ricos brasileiros que, monograma BA, do Barão de Araraquara. (Museu Histórico Nacional)
por meio do cultivo de produtos primários
e de sua comercialização, dispunham de re- eram encomendadas por ricaços para pre-
cursos suficientes para se tornarem barões, sentear seus “compadres” quando do ca-
condes ou marqueses. A Coroa Brasileira, samento de herdeiro ou herdeira da famí-
debilitada financeiramente, sobretudo após lia do amigo barão ou conde. Nesta dispu-
sua separação da Coroa de Portugal – a qual, ta, que envolvia vaidade e ostentação, as
quando de seu retorno a Lisboa, só não car- peças de cristal, sobretudo as oriundas da
regou daqui a nossa terra, sobre a qual Sua famosa fábrica francesa Baccarat, impera-
Majestade a Rainha Carlota se encarregou vam soberanamente.
de sacudir dos sapatos – encontrou na “do- Não se admitia um titular que freqüen-
ação mediante compensação financeira” de tasse a sociedade da época que não possu-
títulos de nobreza a comerciantes e fazen- ísse, pelo menos, um serviço completo
deiros e, eventualmente a algum persona- de Cristal Baccarat para acompanhar os
gem ilustre, um recurso para reforçar seu Jarra e campânula com prato em cristal extensos serviços de chá e jantar de por-
caixa, fortalecendo suas finanças. lapidado, padrão dito bico de jaca. celana européia (raramente chinesa), cau-
Esses novos-titulares, se tinham recur- Monograma TR, do Marquês de Três Rios. sando admiração e inveja aos convidados
sos suficientes para adquirir títulos, natu- (Coleção particular) desses generosos “regabófes”.
ralmente desejavam coroar essas honrari- Os serviços de cristal encomendados
as com objetos de uso social de nível, afi- denominadas “Salvas de Aparato”, que seus pelos titulares do Império Brasileiro e tam-
nados com o gosto europeu, tais como proprietários ostentavam em cima de cômo- bém pela Casa Imperial para abastecer seus
serviços de cristal, peças de porcelana, das e papeleiras. Esses objetos eram classifica- palácios, eram, na grande maioria, originá-
enfim, “alfaias” de grande visual e aparato. dos como “Salvas de Aparato” porque não ti- rios da fábrica francesa Baccarat.
Não nos esqueçamos que esse tipo de os- nham a menor função prática, não possuíam Também foram encomendados servi-
tentação é típica do sangue lusitano, já que qualquer utilidade, a não ser exibir o status e o ços em outras cristalerias de renome na
registramos, desde o século XV, em Portugal poder econômico de seu proprietário. Europa, tais como a Val Saint-Lambert
e em suas posteriores colônias, peças de prata Algumas vezes, eram, também, chama- (Bélgica), Marinha Grande (Portugal) ou
extremamente bem elaboradas e rebuscadas, das de “Salvas de Casamento”, porquanto ainda, na França, a cristaleria Saint Louis.

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Especial destaque deve ser dado ao servi-
ço Baccarat do Marquês de Três Rios pelo seu
luxo e requinte, todo ele gravado em esmalte
colorido, apresentando a coroa de nove pon-
tas, época em que o todo poderoso Joaquim
Egídio de Souza Aranha era “apenas” conde.
Também não podemos esquecer um dos
muitos serviços do multi-milionário Mi-
nistro da Marinha e Diretor do Banco do
Brasil no Segundo Império, Joaquim Elisio
Pereira Marinho,Visconde de Guahy, o qual
era proprietário de um serviço do mais fino
e lapidado Baccarat, com centenas de peças
em overlay verde, e a gravação de seu brasão
com coroa de nove pontas, designativa da
condição de “grandeza” de seu título de vis-
conde. Como curiosidade, foi Pereira Ma-
rinho quem, em nome do Imperador, por

Acima: Jarra e copos translúcidos e


esmaltados em verde e vermelho,
possivelmente Baccarat, padrão dito bico de
jaca. Monograma TR, do Marquês de Três
Rios. (Coleção Particular)
Abaixo: Copo em cristal lapidado Baccarat
decorado em overlay rubi no padrão dito
confetti. (Coleção particular)

Das fábricas inglesas, temos conheci-


mento de alguns serviços encomendados
pelo rico sineiro Francisco Ignácio de Car-
valho Moreira, o Barão de Penedo, por-
quanto o referido barão foi, durante mui-
to tempo, nosso embaixador plenipoten-
ciário junto a Sua Majestade britânica.
Uma curiosidade: Sua Excelência, o se-
nhor barão, tinha tanta certeza de que iria
ser “promovido” a conde pelo nosso Im-
perador D. Pedro II que inúmeros serviços Garrafa, par de copos de pé para água e quatro copos de pé alto para vinho em cristal Baccarat,
ostentavam seu monograma já encimado com o escudo de armas do Visconde de Guahy. (Coleção particular)
pela Coroa de nove pontas, privativa da-
queles que tinham este título. Por ironia do adquiridos pelo Conde do Pinhal, pelo Ba- duas vezes renegociou a dívida do Brasil
destino, ou maldade de rão de Araraquara, pelo Ba- com seus credores internacionais.
nosso Imperador, o senhor rão de Pelotas, pelo Mar- Como exemplo de bom-gosto dos ser-
barão morreu barão. quês de Bahependy, pelo viços chamados “mudos”, isto é, não-perso-
Esses serviços de cris- Conde da Motta Maia etc. nalizados, citamos o da Marquesa dos Santos
tal, especialmente enco- Mais raros, os serviços e o do Segundo Visconde de Jaguary, ambos
mendados, podiam ser como os do Barão do Rio decorados com pastilhas, no primeiro, azul-
personalizados, isto é, gra- Bonito, do Conde de Figuei- escuras e, no segundo, vermelhas.
vava-se nas peças o mono- redo e do Visconde de O cristal, quando quebrado, ou mes-
grama e a coroa correspon- Vargem Alegre, por exem- mo trincado, não tem conserto, assim
dentes ao título do propri- plo, eram mais sofisticados, como a vaidade humana e a necessidade
etário. Dessa forma, temos, apresentando a gravação do do homem de mostrar-se superior aos
como exemplo, os serviços Brasão de Armas da família. seus semelhantes.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 45


TENDÊNCIA

“França importa produtos com


maior valor agregado”
Conselheiro comercial da embaixada da França diz que seu país não é só a
pátria dos vinhos, assim como o Brasil não é forte só em praias e caipirinha
Alexis Loyer é conselheiro comercial rados já representam 48% das exporta-
da embaixada da França no Brasil. Acos- ções brasileiras para a França e essa parti-
tumado a lidar com a corrente de comér- cipação pode crescer ainda mais. Enquan-
cio entre os dois países, ele aponta uma to isso, os bens agrícolas brasileiros ex-
nova tendência: as exportações brasilei- portados para a França giram em torno de
ras para seu país não estão apenas aumen- 40% do total.
tando; elas estão mudando de qualidade. A tendência do interesse francês nas
“Tradicionalmente, a França tem im- áreas de biotecnologia e de nanotec-
portado produtos brasileiros primários, nologia – atualmente dois setores de
principalmente os oriundos da área agrí- destaque no comércio internacional –
cola. Atualmente, no entanto, estamos apontada por Alexis Loyer, é a de esta-
observando uma mudança no perfil desta belecer maior proximidade com em-
importação, pois temos comprado do presas brasileiras.
Brasil maior quantidade de produtos com “Vamos tentar firmar parcerias com
valor agregado. Esta é uma situação relati- parques tecnológicos brasileiros no setor
vamente nova, por isso temos de aguardar de pesquisas e de negócios. Já estamos
para ver se ela vai se confirmar. Mesmo começando a trabalhar e vamos aprofun-
tratando-se de uma mudança significativa,
ainda não é expressiva.”
Segundo Alexis Loyer, o fenômeno
“ Muitas empresas francesas
estão querendo participar
de parcerias com
dar iniciativas neste sentido. Isso pode
amadurecer ainda mais a nossa relação
comercial com os brasileiros. Para nós, o
pode ser observado na área dos semi- Brasil não é só um país produtor de ali-
manufaturados, sobretudo os artefatos de
madeira, incluindo, também, a pasta de
papel. Se esta tendência permanecer e se
firmas brasileiras
A L E X I S L OY E R N ” mentos, mas também uma nação que de-
senvolveu e ostenta hoje uma tecnologia
muito forte, principalmente na área de
afirmar como algo duradouro, poderá, parceria com companhias brasileiras. comunicações. O Brasil não é apenas o
entre outras coisas, trazer mais equilíbrio “Isto pode acontecer, por exemplo, na país das praias e da caipirinha, assim como
para as relações bilaterais entre france- área de alta tecnologia. Existe a possibili- a França não se destaca somente por seus
ses e brasileiros. dade de transferência de tecnologia fran- produtos de luxo, vinho e turismo. Os
“Acredito que um relacionamento co- cesa de ponta para o Brasil, seguida da ge- franceses tornaram-se fortes em tecno-
mercial que evolui desta forma tende a ração de produtos que seriam exportados logia de ponta. Queremos realçar todos
ser, de modo geral, mais equilibrado. An- para toda a América Latina.” estes aspectos na nossa corrente comer-
teriormente, a França exportava para mui- cial.”
tos países, entre eles o Brasil, principal- Evolução Quanto aos empresários brasileiros
mente bens de alto valor e importava do Muito cauteloso, Alexis Loyer acom- interessados em investir na França, Alexis
Brasil, preferencialmente, não-manufatu- panha atentamente a evolução dessas re- Loyer sugere que levem em conta o cará-
rados. Agora isso está mudando e esse co- lações comerciais. Revelou, ainda, que ter regional da economia do país, bastante
mércio tende a se reequilibrar.” confia na continuidade da iniciativa brasi- segmentada. Algumas regiões se notabili-
O conselheiro comercial da embaixa- leira de colocar, em todo o mercado in- zam em certas áreas e isto é bastante visí-
da da França apontou, ainda, uma outra ternacional, número mais expressivo tan- vel. Toulouse, por exemplo, é forte em
tendência, constituída por iniciativas de to de bens de maior valor agregado, como produtos aeronáuticos, enquanto Lyon se
empresas francesas que querem partici- de produtos semi- manufaturados. Segun- destaca em biologia e Champagne em
par de empreendimentos no Brasil em do ele, hoje, os produtos semi-manufatu- agro-negócios e em bio-combustível.

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


uma margem maior nas suas operações.
Na realidade, os empresários estão incor-
porando a idéia de que exportar é uma
iniciativa benéfica para eles. No entanto, o
próprio Armando Meziat, em seu pronun-
ciamento no Seminário Bilateral de Co-
mércio Exterior e Investimentos Brasil-
França, mencionou o fato de que algumas
empresas estão deixando a exportação,
por não terem conseguido fazer face aos
inúmeros desafios que se apresentam
nesta atividade. Diante deste fato, o
MDIC procurou entender melhor as ra-
zões das empresas.
“Estamos realizando um trabalho jun-
to às empresas que pararam de exportar,
procurando saber o que provocou a in-
terrupção nessa atividade. Muitas dessas
firmas ainda estavam tentando consolidar
Armando Meziat: “empresas voltadas para o mercado externo estão diversificando seus produtos”. sua presença no mercado internacional. A
grande maioria não exportou em 2003,
exportou em 2004, não exportou de novo
“Em vez de esperar clientes, em 2005 e, possivelmente, vai voltar a ex-
empresas estão saindo para portar em 2006. Os motivos alegados são
bastante diferentes: algumas atribuíram o
vender no exterior” abandono da exportação à concorrência
externa; outras se disseram sem repre-
Secretário de Comércio Exterior do MDIC analisa comportamento sentantes comerciais no exterior; outras
afirmaram que passaram a concentrar a
dos exportadores e apresenta conclusões otimistas atividade exportadora em outras empre-
sas do mesmo grupo; outras estão ten-
“Com todo o esforço que vem sendo isto se deve ao desempenho de empresas tando exportar por meio de terceiras
feito pelo governo no sentido de sedi- sediadas no Brasil que têm um foco mais empresas. Há ainda quem afirme que os
mentar a atual mentalidade de cultura ex- centrado na exportação. preços de seus produtos deixaram de ser
portadora no país, essa tendência vem se “Não vai ser um período de taxa de competitivos.”
tornando irreversível. Um claro sinal de câmbio ruim que vai levá-las a desistir. São Todas estas razões apontadas por em-
que isto é verdade é o bom desempenho firmas que estão importando componen- presários e técnicos levam a crer que se
da exportação brasileira mesmo em tem- tes e matérias-primas e, portanto, o que trata de grupos empresariais ainda em fase
pos de queda da taxa de câmbio. Na reali- podem estar perdendo na exportação, por inicial de suas atividades exportadoras. Não
dade, podemos ver que o crescimento das causa da baixa cotação do dólar, estão ga- parecem ser firmas já sedimentadas na
exportações está se sustentando, pois elas nhando na importação. Elas são voltadas exportação e que, por questões e proble-
continuam a aumentar acima de 20% em para o mercado externo. Investiram na re- mas muito fortes, a abandonaram. Além
relação ao ano de 2005 que, por sua vez, já dução de custos, na incorporação de no- disto, há, na essência da própria atividade
tinha tido um crescimento expressivo em vas tecnologias, na melhoria da sua pro- exportadora, oscilações causadas por
relação a 2004.” dutividade e por isso estão conseguindo questões diversas, como aponta Arman-
A afirmação é de Armando Meziat, Se- continuar a exportar, pois esta atividade do Meziat.
cretário de Comércio Exterior do Minis- continua a ser rentável.” “Na área de carnes, por exemplo, acon-
tério do Desenvolvimento, Indústria e Co- teceu em 2005 um surto de febre aftosa
mércio Exterior – MDIC, que baseia sua Diversificação em algumas regiões do país e, mesmo as-
argumentação no fato de que, apenas no A maioria do empresariado do setor sim, acabamos exportando mais do que
primeiro trimestre de 2006, as nossas ex- vem trabalhando na diversificação e, tam- prevíamos, apesar de certa queda na ex-
portações cresceram em torno de 20% em bém, na agregação de mais valor aos seus portação de carne bovina e de carne suína.
relação a 2005. Segundo Armando Meziat, produtos e, como resultado, acaba tendo Já o setor de aves cresceu. Em 2006, a

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 47


TENDÊNCIA

crise provocada em vários continentes pela sobre a atividade exportadora brasileira. terno é uma estratégia contínua. Não é
gripe aviária, provocou diminuição nas “Hoje, eu sou extremamente otimista mais uma aventura. Isto faz parte da pró-
exportações, embora o setor continue com relação ao futuro das exportações pria cultura da empresa, que não está mais
crescendo. A tendência é acontecer algo brasileiras no seu conjunto. O esforço e exportando excedentes. Eu poderia di-
parecido com a carne bovina: um primei- o progresso feitos por empresários e go- zer que nossas empresas não estão mais
ro impacto negativo e, depois, no decor- verno são visíveis e, de certa forma, paradas, esperando que seus produtos
rer do ano, os ajustes concorrem para que irreversíveis. Anteriormente, o empre- sejam comprados. Elas têm-se pautado
não haja uma repercussão negativa no es- sário brasileiro olhava a exportação ape- pelo incentivo à venda, colocando a ex-
forço exportador brasileiro.” nas como uma alternativa, ou seja, ex- portação como uma alternativa viável e
Por conta de tudo isso, o secretário de portava quando houvesse ocasião. Hoje, rentável, o que produz efeitos benéficos
comércio exterior do MDIC faz questão essa atividade já faz parte do seu progra- em toda a sua atuação, seja no mercado
de afastar o pessimismo de suas análises ma e a venda voltada para o mercado ex- interno, seja no externo.”

“Exportadores buscam eficiência e nichos de mercado”


Claudinei Martins, Gerente Re- as. Um outro caso de dificuldades é o do
setor de calçados, embora continue apre-
gional de Comércio Exterior do sentando crescimento em relação ao ano
Banco do Brasil, afirma que as passado. O crescimento foi mais modes-
to, mas mesmo assim se verificou, e isto é
condições macroeconômicas do representativo. O que vemos é, cada vez
mais, uma busca de nicho de mercado e
país, hoje, permitem lidar com de eficiência operacional. Neste cenário, a
a perspectiva de que as expor- taxa de câmbio é apenas um dos compo-
nentes da produtividade, e não exatamen-
tações irão continuar crescendo, te o único fator que determina o ritmo de
crescimento das exportações.
apesar das variações da taxa de
câmbio. Você acredita que o atual esforço ex-
portador brasileiro veio para ficar
ou é apenas circunstancial?
Como está, hoje, o panorama do co- CM – Nós acreditamos que é algo consis-
mércio brasileiro? Os resultados Claudinei Martins, Gerente Regional de tente, tanto que, apesar de a taxa de câmbio
continuam bons? Comércio Exterior do Banco do Brasil. estar no nível atual, os índices de relação
CM – Estivemos reunidos recentemente entre dívida externa e PIB são hoje menos
no Conselho Executivo de Finanças do em termos de valores, entre US$ 14 bilhões elevados. Não se pode dizer se a taxa de
Estado, da Secretaria de Estado de Desen- e US$ 15 bilhões a mais para o país. câmbio é uma taxa baixa ou não, pois as
volvimento Econômico do Governo do condições macro-econômicas do país, com
Rio de Janeiro. A avaliação feita sobre a ba- Alguns problemas que têm ocorri- certeza, hoje, nos traçam uma taxa de câm-
lança comercial brasileira apresentou nú- do em setores específicos, como o bio de referência bem diferente da que exis-
meros muito positivos, até acima da ex- da carne bovina, prejudicado pelo tia na época em que os indicadores de risco
pectativa traçada pelo MDIC no primeiro surto da febre aftosa em algumas do país eram bem mais elevados. Assim,
trimestre, o que indica, até o final de 2006, regiões brasileiras, chegam a amea- acreditamos que a tendência de crescimento
o incremento de 12% das exportações. çar esta tendência crescente ou se- das exportações seja algo que veio para fi-
riam apenas episódicos? car, até porque os números têm demons-
De quanto é a meta para este ano? CM – Problemas como esse com certeza trado isto. As novas empresas que estão
CM – A meta é alcançarmos a cifra de US$ prejudicam o setor. Outros setores, no entrando no comércio exterior não estão
132 bilhões com exportações, o que consi- entanto, estão apresentando excelentes mais em uma conjuntura com o dólar em
dero bastante factível. Segundo as palavras desempenhos, como é o caso do preço torno de três reais, mas sim na faixa de
de Armando Meziat, o crescimento estatísti- das commodities minerais, que estão R$2,10 e R$2,15, em torno da qual a mo-
co de 12% não é tão grande, mas representa, compensando problemas em outras áre- eda vem oscilando recentemente.

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


PARCERIA

Brasil e França

Ligações bilaterais históricas


vão dos negócios à cultura
Franceses demonstram mais interesse em investir no mercado brasileiro
série de eventos que, em 2005, ocupou
diversos espaços, promoveu encontros
e feiras de negócios e chamou a atenção
da mídia francesa para a economia, a arte
e a cultura brasileiras – foi muito im-
portante pois incentivou o interesse dos
franceses pelo Brasil.

“ A Câmara de Comércio
França-Brasil observa um maior
interesse de pequenas e médias
empresas sobre oportunidades
de negócios com o Brasil
JEAN-NOËL GÉRARDN ”
“Pouco a pouco vamos colher os be-
nefícios desse evento. Muitos franceses,
homens de empresas, inclusive, que mal
conheciam a potencialidade do Brasil
como mercado, passaram a ter um novo
olhar para o país. Com a realização, em
2008, do Ano da França no Brasil, tenho
certeza que este processo se completará
e faremos ainda mais negócios.”

Parcerias
O Presidente Federal da Câmara de
Jean-Noël Gérard considera bem-vindas as iniciativas de cooperação entre os dois países. Comércio França-Brasil cita como promis-
sores, dentro da relação bilateral, os seto-

O
Presidente Federal da Câmara de “O comércio entre o Brasil e a Fran- res automobilístico, de indústria farmacêu-
Comércio França-Brasil – CCFB, ça vai muito bem, mas pode crescer ain- tica, de turismo e de cultura. Ele menciona
Jean-Noël Gérard, falou à revis- da mais. Temos algumas dificuldades que ainda, como muito importantes nesse con-
ta da FCCE sobre a importância das rela- podem e serão superadas com diálogo e texto, as parcerias da Embraer com em-
ções bilaterais e do trabalho que a câma- com acordos que já estão sendo discuti- presas da aviação francesa, como a Dassault
ra vem desenvolvendo para incrementar dos. Neste sentido, toda e qualquer ação Aviation e a European Aeronautic Defence
os negócios entre os dois países. A troca que possa contribuir para este avanço é and Space Company – EADS, líder mun-
de experiências é, segundo ele, o maior sempre bem-vinda e qualquer incenti- dial nos segmentos aeroespacial e de defe-
objetivo a alcançar, inclusive em encon- vo é positivo.” sa. A EADS tem demonstrado interesse em
tros como os seminários promovidos Segundo Jean-Nöel Gérard, a reali- intensificar a aproximação com a Embraer
pela FCCE. zação do Ano do Brasil na França – uma na área de aviões militares.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • FRANÇA 49


PARCERIA

“Esta é uma iniciativa de cooperação Um outro setor que se beneficiou do que, segundo ele, é uma prova de que re-
muito positiva, pois a Embraer é, hoje, tal- Ano do Brasil na França foi o de turismo. almente vale a pena investir no Brasil a
vez, a maior empresa produtora de aviões As estatísticas ainda não são oficiais, mas a longo prazo.
de médio porte do mundo. Quanto às mídia especializada tem divulgado um au- “A logística é um setor que está em
empresas francesas no Brasil, posso citar mento de cerca de 20% na procura do grande desenvolvimento e tem tido um
o Carrefour, no setor de distribuição de Brasil, como destino turístico, por parte crescimento de 15% ao ano no Brasil.
alimentos; a Accord, em hotelaria e turis- dos franceses, após o evento. Nesse setor, o país tem graves proble-

mo; a Arcelor, que hoje tem sua sede em


Luxemburgo, mas é considerada uma O Mirage 2000-5 MK2 (foto à
empresa francesa, além de companhias
tradicionais como a Michelin, que já estão
esquerda), que será
estabelecidas aqui há muito tempo.” fabricado pelo consórcio
A Arcelor Brasil, por exemplo, tem formado pela Embraer e as
capacidade produtiva instalada de 11 mi-
firmas francesas Dassault
lhões de toneladas de aços planos e lon-
gos, sendo considerada um dos maiores Aviation, Snecma Moteurs e
grupos siderúrgicos da América Latina. Thales Airbone Systems; e o
Cultura e negócios Hotel Sofitel (foto à direita),
Os dois países sempre estiveram liga- “A prova disso é que os vôos da Air do Grupo Accor, em
dos por laços culturais muito fortes. Por France e de todas as outras companhias Copacabana, são exemplos
sua tradição e solidez, a cultura francesa aéreas que cobrem o trajeto Brasil-Fran- de investimentos franceses
tem influenciado diretamente o panora- ça e França-Brasil têm estado lotados. Au-
ma cultural brasileiro. O setor transfor- mentou, também, o número de brasilei- no Brasil. Destaca-se,
mou-se numa via de mão dupla, pois os ros que visitam a França. Na área de ne- também, a rede Carrefour de
especialistas dizem que, hoje, os france- gócios, na Câmara de Comércio Fran- supermercados.
ses são um dos povos que mais admira e ça-Brasil, podemos observar maior in-
consome produtos culturais do Brasil. teresse de pequenas e médias empresas
“A área cultural sempre foi a de maiores que buscam informações sobre opor- mas de infra-estrutura, qualquer que seja
trocas na relação entre França e Brasil, o tunidades de negócios com o Brasil. Isso o meio de transporte. Neste sentido,
que não quer dizer que os negócios tenham é um sinal de que o impacto do evento acho que temos muito a contribuir, pois
menos importância. Acho que cultura e foi real. Ainda é cedo para avaliar quais a solução destes problemas requer a pre-
economia são complementares e é certo foram os setores que mais se beneficia- sença da iniciativa privada, na medida em
que uma incentiva a outra. Os negócios, na ram, mas o resultado, sem dúvida, foi que o governo, sozinho, teria dificulda-
maioria das vezes, acontecem longe da muito positivo.” des em resolvê-los. Esse momento é
mídia. No Ano do Brasil da França, o desta- Jean-Noël Gérard é também Diretor muito interessante para nossa empresa e
que maior foi para as atividades culturais, Geral da GEFCO Logística do Brasil Ltda, tem sido gratificante trabalhar e contri-
mas foram realizados vários eventos eco- com sede no Rio de Janeiro. Esta empresa buir para as melhorias que hoje se fazem
nômicos, todos com grande sucesso.” cresceu nos últimos anos cerca de 40%, o necessárias.”

50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • FRANÇA


FÁRMACOS

Laboratórios Servier investem


em novos medicamentos
Complexo industrial atenderá o Brasil e a América Latina

Perfil da Diretora-Geral
Varsenik Toppjian, mais conhecida
como Varso, nasceu em Alepo, Síria.
Viveu no Líbano, e na França. Seu
curso universitário a conduziu à tese
de Neurofisiologia, após já ter obtido
diploma de farmácia. No plano pro-
fissional, sua carreira se desenvolveu
da seguinte forma:
 Assistente de pesquisa na Univer-
sidade Americana do Líbano de
1971 a 1972;
 Assessora científica dos Laborató-
rios Servier no Líbano de 1972 a
1976 ;
 Professora de química do ensino

A diretora-geral do Grupo Servier do Brasil diante da fábrica em Jacarepaguá. complementar de 1972 a 1975;
 Adjunto operacional do Oriente
Próximo e Turquia dos Laborató-

O
complexo industrial do Servier América Latina, com grande potencial de
está instalado em uma área de crescimento e de desenvolvimento eco- rios Servier de 1976 a 1978;
76.000 m2 no bairro de Jacarepaguá, nômico. Por esse motivo, o país veio a se  Diretora regional do Oriente Pró-

no pólo farmacêutico da cidade no Rio de constituir em uma das prioridades do Gru- ximo e Turquia dos Laboratórios
Janeiro. Neste complexo, estão concentra- po Servier na América Latina. A indústria Servier de 1978 a 1982;
das a unidade de fabricação, a sede adminis- farmacêutica vem intensificando seus in-  Diretora internacional de forma-

trativa e o centro de pesquisa terapêutica da vestimentos na área de produção, com a ção e marketing dos Laboratórios
América Latina.Todas estas unidades empre- inauguração de uma nova fábrica, que ser- Servier de 1982 a 1985;
gam, hoje, 335 trabalhadores. virá para abastecer o mercado brasileiro e,  Diretora-geral do Servier do Bra-

As atividades essenciais do Grupo Servier também, os mercados da América Latina. sil, desde 1985.
do Brasil Ltda. são as seguintes: fabricação e Segundo a Diretora-Geral do Grupo
comercialização de medicamentos desenvol- Servier do Brasil Ltda, Varso Toppjian, “a entre eles Coversyl, Coversyl Plus e
vidos pelo grupo; atividades pré-clínicas em nossa filial Servier do Brasil faz parte do Natrilix SR para o tratamento da hiper-
farmacologia por meio de contratos de pes- grupo BRIC da matriz, que reúne países tensão arterial; Diamicron MR, para o
quisa com universidades e hospitais; estudos considerados de grande potencial: Bra- tratamento do diabetes tipo 2; Daflon
na área clínica em pesquisa & desenvolvimen- sil, Rússia, Índia e China. Nossa linha de 500, para o tratamento de doença veno-
to (P&D); acompanhamento da fármaco-vi- produtos é ética e todos são frutos de sa e de doença hemorroidária; e Vastarel
gilância dos medicamentos em fase de estu- nossa pesquisa. Mais de 25% do fatu- para o tratamento da angina do peito.
dos e dos que já se encontram à disposição ramento mundial da Servier é destinado O Grupo Servier está preparando, para
dos médicos e dos pacientes. à pesquisa e desenvolvimento de novas os próximos dois anos, o lançamento de
moléculas. Temos, hoje, à disposição da três medicamentos inovadores: Protos, para
Grande mercado classe médica e dos pacientes, uma am- o tratamento de osteoporose, Procoralan,
O Brasil é o 12º mercado farmacêuti- pla linha de medicamentos que respon- para o tratamento de isquemia cardíaca, e
co do mundo e o principal mercado da dem às necessidades da saúde pública, Valdoxan, para o tratamento de depressão.

52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • FRANÇA


TURISMO

Serviço Social do Comércio – SESC


Turismo Social: Qualidade de
vida para todos
E
ntendido como ato de viajar pela Atualmente, o SESC conta com 42 uni-
maioria das pessoas, o turismo é, dades de hospedagem e concretiza sua pro-
na verdade, uma atividade multi- posta de turismo social em vários estados do
disciplinar que cria relações e situações país. Um exemplo disso é o projeto “Reco-
que combinam educação, saúde, cultura, nhecer RS” desenvolvido pelo Rio Grande
lazer e meio ambiente melhorando as con- do Sul. Seu objetivo é viabilizar o acesso às
dições de vida de cada indivíduo. atrações turísticas, destacando a cultura, a
Sua principal meta é a realização plena tradição e as belezas naturais das cidades e
das potencialidades de cada pessoa, pois suas regiões do Estado. Ainda na região Sul, “Ro-
atividades devem conjugar objetivos sociais, teiros do Paraná” contempla passeios por
educativos e culturais que preservem e va- Caravana do SESC na década de 50. cidades históricas revelando aos visitantes a
lorizem os aspectos naturais de cada região. cultura, a gastronomia e a geografia locais. Já
Os serviços oferecidos são de baixo custo em Minas Gerais, o projeto “Estrada Real”
possibilitando que todos possam visitar e co- estimula o conhecimento da riqueza cultu-
nhecer novos lugares e diferentes culturas. ral e histórica do Estado através da oferta de
É nesse contexto que se destaca o Tu- alternativas de viagens para os Circuitos Tu-
rismo Social, uma atividade que prioriza a rísticos Mineiros e Estrada Real.
idéia de serviço e não de lucro. No Servi- Realizar uma leitura diferenciada, por meio
ço Social do Comércio – SESC, este con- de roteiros temáticos é o objetivo principal
ceito está intimamente ligado à ação de do “DiverSãoPaulo”, projeto que promove a
educação para e pelo turismo. Excursão com grupo da terceira idade. redescoberta do espaço urbano e melhora a
Para a entidade, esta atividade é muito mais relação entre o homem e a metrópole.
que entretenimento; não se resume apenas No Rio de Janeiro, o projeto “Turismo
em excursões e passeios. Pressupõe a Jovem Cidadão” tem um diferencial. Sua ação
integração de experiências de reflexão, re- está pautada na inclusão social de jovens de
creação e desenvolvimento físico. A missão 12 a 17 anos que conhecem a história do Rio
da instituição é proporcionar a incorporação antigo, pontos turísticos e o meio ambiente
de comerciários de bens, serviços e turismo da cidade através de passeios.
e suas famílias ao movimento turístico. A preservação do meio ambiente tam-
Assim, o SESC atua como agente de bém está presente na entidade. A Estância
inclusão social, possibilitando que as ca- Sede de Bertioga, inaugurada em 1948. Ecológica SESC Pantanal, localizada no
madas menos favorecidas da sociedade Mato Grosso do Sul, é um espaço criado
conheçam novos lugares, povos e cultu- vanas do SESC realizadas no Rio Grande com o objetivo de propagar e estimular a
ras. Sempre com o cuidado de preservar do Sul e o início das atividades de outras consciência ecológica. Sua principal unida-
e valorizar os aspectos regionais de cada colônias de férias, o Turismo Social da ins- de de atuação é a Reserva Particular do
local nas excursões e passeios que ofere- tituição ganhou força. Patrimônio Natural (RPPN) com 106.644
ce para diferentes segmentos da popula- Em 1979, o Departamento Regional hectares, a maior do país. O Hotel Porto
ção como: terceira idade, pessoas porta- de São Paulo desenvolveu as primeiras Cercado foi um dos pioneiros no Brasil a
doras de deficiência, crianças e jovens. ações na área de turismo emissivo com incorporar ecotécnicas previstas no con-
Pioneira na oferta de serviços de turis- excursões orientadas a Ouro Preto (MG), ceito internacional de Hotelaria Verde.
mo de baixo custo no Brasil, a instituição Araruama e Mendes (RJ). As décadas de É neste contexto que o SESC desen-
iniciou suas atividades nesta área na déca- 80 e 90 foram marcadas pela intensifica- volve sua proposta de turismo social pro-
da de 40 com ações em Pernambuco e ção da rede nacional de turismo social movendo uma série de atividades no sen-
com a inauguração do SESC Bertioga, em com o fortalecimento do intercâmbio tido de integrar os clientes em práticas
1948. Já na década seguinte, com as Cara- entre os Departamentos Regionais. saudáveis de convivência.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 53


HISTÓRIA

A Cruz Flordelizada contra


a Asna Chaveirada
HENRIQUE DO AMARALN Primeiro Ministro de França no reina- gião de Armagnac, um jovem espadachim
do de Luiz XIII, Bispo de Luçon, Cardeal nascido no Castelo de Castelmore, tra-
À medida em que o homem se torna em 1.622, Duque de Fronsac, Par de Fran- zendo em sua bagagem, um único sonho:
“civilizado”, há um registro constante, per- ça, fundador da Academia Francesa, Almi- ser Mosqueteiro do Rei de França.
manente, que passa a ser característica do rante de esquadra, Grão-Chanceler da Or- Seu nome e sobrenome, se respeita-
ser humano: a luta pelo poder, a supera- dem do Espírito Santo, declarou guerra à dos e tradicionais na região da Gasconha,
ção do próximo, o culto à vaidade e ao Inglaterra e aos protestantes, colocou sob eram praticamente desconhecidos na gran-
egocentrismo. Se somarmos esses atribu- seu controle os poderes da Rainha Ana de de Paris, e, até a atualidade, ele é muito
tos a uma inteligência rara, uma cultura Áustria. Enfim, o Cardeal de Richelieu pouco famoso, inclusive entre seus
acima do normal e uma sensibilidade mandou e desmandou na França, até que conterrâneos. Estamos nos referindo a
marcante, teremos a descrição e o retrato chegou a Paris, vindo da Gasconha, mais Charles de Batz-de Castelmore.
do famoso e temido Cardeal de Richelieu. precisamente da comuna de Lupiac, re- Acontece que este é o nome comple-
to, de batismo do filho de Bertrand e
Françoise, o qual, tomando emprestado
o sobrenome de seu avô materno, tor-
nou-se, simplesmente, historicamente,
D’Artagnan.
O Mosqueteiro do Rei, o defensor dos
fracos e oprimidos, o espadachim temi-
do, campeão, imbatível, que, apesar de sua
juventude, passou a equilibrar, junto à Co-
roa dos Bourbons, a influência e o poder
do temido Cardeal de Richelieu.
Inimigos mortais, Cardeal e Mosque-
teiro? Rivais ferrenhos. E se o primeiro
usava do poder e da autoridade, o segun-
do (nosso jovem herói) se fazia valer da
coragem, do sentimento, do coração, e dos
amigos? Não, claro que não.
É aí que entra o romance, e, sobretu-
do, o talento do romancista

Um por todos, todos por um


Neste momento, a vida, a historia real,
respeitosamente se afasta para dar lugar
ao romance, à imaginação, e ao talento de
um incrível escritor-historiador francês,
Alexandre Dumas, que, com tanta felici-
dade e espírito, transformou nosso
Mosqueteiro num personagem tão forte,
tão emblemático, tão popular, que a gran-
de maioria das pessoas, sobretudo os lei-
tores dos romances desse genial francês,
acreditam ser ele uma personagem de fic-
ção, um produto da imaginação, tal como

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


o Pato Donald, o Mickey ou Peter Pan.
E Alexandre Dumas, certamente en-
tusiasmado pelo personagem que criou
em cima de um modesto nobre da
Gasconha, nos descreve os terríveis en-
contros entre o Cardeal de Richelieu e
D’Artagnan, os duelos cinematográficos,
sempre vencidos pelo nosso herói, con-
tra o Conde de Rochefort, ou mesmo
contra o sinistro Barão de Jussac, além da-
quele bando de guardas do Cardeal que
D’Artagnan acabava sempre mandando
para a enfermaria, para alegria e vibração
dos leitores e espectadores!
Quantas vezes imaginamos que, ape-
nas quatro guardas do Rei, (ao nosso he-
rói somamos Athos, Porthos e Aramis)
valiam mais do que um exército inteiro,
toda uma guarnição.
No cinema, numa produção soberba
da MGM, da década de 50, temos até hoje
a oportunidade de “torcer” por Gene Kelly
contra Vincent Price, magnífico no papel
de Richelieu.
Se “Armand pour le Roi”, o todo po-
deroso Cardeal de Richelieu, Senhor du
Plessis, Bispo de Luçon, Duque de
Fronsac, Fundador da Academia France-
sa, Almirante e Cavaleiro do Espírito San-
to, Par e Primeiro Ministro do Rei de Fran-
ça, é suficientemente conhecido, fisica-
mente reconhecido, justamente respeita-
do e até venerado por todos os franceses
pelo seu gênio de estadista, seu amor à
França, seu trabalho incontestável em fa- ça, protegido que era do Primeiro Minis- Soldado famoso por sua bravura, ca-
vor da maior glória dos Bourbons e seu tro e sucessor de Richelieu, o sinistro e sou-se em 1.659 com Carlota de Cha-
reino... afinal de contas, tirando o roman- apagado Cardeal Mazarino, o qual, segun- lency, tendo participado de inúmeras guer-
tismo, a imaginação, e o sonho, quem foi do as más línguas da época, era amante da ras de conquista. Seu maior desejo, po-
D’Artagnan? Rainha-Mãe Ana de Áustria. rém, ele nunca alcançou: ser Marechal de
Qual a verdadeira história desse herói Mazarino foi um ministro medíocre, França.
de tantas gerações de jovens que, como sem personalidade? Não. Acontece que Por ironia do destino, no mesmo dia
ele, têm a plena convicção de que vão con- seu antecessor brilhou demais, fez coisas em que seu diploma de Marechal foi assi-
sertar o mundo? demais. nado por Sua Majestade, e encaminhado
Charles de Batz de Castelmore, mem- O nosso Mosqueteiro foi Capitão-das- ao seu chefe, o grande Marechal de
bro da pequena porém tradicional nobre- Guardas de Sua Majestade, Capitão-Tenen- Vauban, na Batalha de Maastricht, nosso
za da Gasconha, teria tido até uma vida de te das Companhias de Mosqueteiros do herói foi morto em combate.
destaque na política e na história francesa, “Rei Sol”, Gentil-Homem da Corte do Morreu combatendo, morreu lutando,
se não tivesse sido literalmente atropela- Cardeal Mazarino, e encarregado, pesso- morreu empunhando uma espada, enfim,
do por Alexandre Dumas, que criou, ins- almente, por Sua Majestade, da prisão do morreu defendendo a Flor-de-Lyz, o nos-
pirando-se nele, o nosso D’Artagnan. Ministro Fouquet e do Duque de Lauzun. so Conde Charles de Batz de Castelmore.
Nosso herói viveu 62 anos, bem vivi- Foi feito Conde pelo Rei. Passou, en- Morreu, como deveria morrer, o imor-
dos. Nascido em 1.611, teve uma carreira tão, a ser conhecido como Senhor Conde tal, o sempre-vivo e idolatrado, o nosso He-
privilegiada na corte do Rei Luiz de Fran- d’Artagnan. rói com letras maiúsculas. D’ARTAGNAN!

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 55


NEGÓCIOS

Rio de Janeiro: o segundo maior


índice de crescimento do país
Indústria naval, serviços e empresas farmacêuticas alavancam o atual
desenvolvimento fluminense e realizam parcerias com franceses
O Secretário de Estado de De-
senvolvimento Econômico do
Rio de Janeiro, Mauricio Chacur,
participou da Sessão Solene de
encerramento do Seminário Bi-
lateral de Comércio Exterior e
Investimentos Brasil-França e fa-
lou à revista da FCCE sobre as
ações e iniciativas mais importan-
tes de sua área. Entre os proje-
tos que estão sendo estrutura-
dos, ele destacou uma série de
convênios que serão firmados
com diversas cidades da região da Mauricio Chacur: “empresas de diferentes regiões francesas se instalam no Rio de Janeiro”.

Alsácia, na fronteira da França


E
ngenheiro civil formado pela Uni- anos e vem mantendo esta vantagem.
versidade Federal do Rio de Janei- “O Rio de Janeiro é um estado peque-
com a Alemanha, considerada um ro – UFRJ, com pós-graduação no em termos de extensão territorial, mas
dos maiores pólos de desenvol- em Administração e Finanças, Mauricio altamente industrializado, com serviços e
Chacur é funcionário de carreira do densidade econômica, e se destaca até
vimento tecnológico do mundo. Banco Nacional de Desenvolvimento quando é comparado a muitos países da
Econômico e Social – BNDES. Sua ex- Europa. Temos um leque bastante expres-
O Secretário Maurício Chacur periência internacional inclui uma esta- sivo de indústrias sofisticadas e, ao contrá-
está coordenando uma missão de dia no Sunwest Financial Service, nos rio do que muitos pensam, o forte do de-
Estados Unidos. Tanto no seu pronun- senvolvimento fluminense não está
empresários locais encarregada ciamento no seminário da FCCE como centrado apenas no setor de petróleo, pois
de negociar os contratos desses na entrevista, ele chamou a atenção para ele, hoje, representa menos de 20% da
o momento confortável que vive, hoje, nossa economia.”
convênios, que podem significar o Rio de Janeiro, considerado como o
segundo maior mercado e a segunda Novos investimentos
um novo patamar de investimen- maior renda do país, perdendo apenas O Secretário de Estado de Desenvol-
tos e de comércio internacional para Brasília. O Estado do Rio, segundo vimento Econômico do Rio de Janeiro
Mauricio Chacur, ultrapassou São Pau- garante que, além do petróleo, a econo-
para o território fluminense. lo, em matéria de renda, há cerca de três mia fluminense tem sido alavancada pela

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Parcerias Rio de Janeiro – França
O Pólo Industrial da
Alsácia tem 600 empresas Haguenau

Estrasburgo
instaladas e é conectado
Alsásia
com 18 países, cujo Paris
Colmar
mercado é calculado em
torno de 400 milhões de
Mulhouse
pessoas. França
Estrasburgo, Colmar, Mulhouse
e Haguenau são importantes
construção naval, pelo setor metal-me- pólos industriais da Alsásia.
cânico, pelo setor automotivo e pela in-
dústria farmacêutica. Ele citou como
exemplo os casos de duas empresas for-
tes estabelecidas em território fluminense:
a Wolkswagen, que hoje já está exportan-
do veículos para diversos países, e a Ciferal,
Sophie Antipolis, na área de influência Provence
especialista na fabricação de ônibus com
da cidade de Nice, é considerada um Côte d’Azur
ampla gama de clientes no mercado ex- grande centro de pesquisa e Nice
terno. Ambas as empresas estão criando desenvolvimento.
um terceiro turno de trabalho para aten- Saint Tropez, balneário francês muito
Saint Tropez
der à demanda crescente. ligado à cidade de Búzios e ao turismo.

Siderurgia fluminense
Na siderurgia, o secretário mencionou mais dois pólos com capacidade para 1,5 “Desde que estou no governo do esta-
investimentos da ordem de US$ 3 bilhões milhão de toneladas de produtos siderúr- do, a Michelin já fez, aqui, três investimen-
em território fluminense. Recentemente, o gicos cada um e investimentos de aproxi- tos, entre eles uma fábrica de pneus de
Grupo Gerdau anunciou seu projeto de in- madamente de US$ 1,5 bilhão. A compa- 2,60 m de diâmetro para uso em minera-
vestir aproximadamente R$ 1,4 bilhão no nhia ainda está decidindo em que região ção. A L’Oreal, empresa francesa especi-
Estado do Rio de Janeiro, até 2007. A inicia- fluminense vai localizar esses dois pólos. alizada em produtos de beleza, cuja sede
tiva envolve a ampliação da capacidade pro- Então, se todos esses investimentos se para a América Latina fica no Rio de Janei-
dutiva da Gerdau Cosigua e a construção da concretizarem, o Estado do Rio de Janei- ro, agora está ampliando, também, a sua
uma nova usina de aços especiais no Pólo ro se transformará no maior produtor de central de distribuição para todo o conti-
Siderúrgico de Santa Cruz, que receberá o aço da América Latina.” nente latino-americano.”
nome de Gerdau Aços Especiais Rio. Isso
aumentará a atual capacidade produtiva do Indústrias farmacêutica e naval Novos convênios
grupo das atuais 1,2 milhão de toneladas de Outro setor destacado pelo secretário O Secretário de Estado de Desenvolvi-
aço por ano para 2,6 milhões de toneladas foi o farmacêutico, com empresas como a mento Econômico do Rio de Janeiro está
por ano nas suas duas unidades. Salus Biotec, que em breve vai inaugurar coordenando, em 2006, a organização de
“Neste momento, contamos com a uma fábrica em Campos, no Norte flumi- uma missão que levará um grupo de em-
ampliação da Gerdau Cosigua, com um nense. Ele mencionou, ainda, alguns im- presários fluminenses à região francesa da
investimento de cerca de US$ 180 mi- portantes fornecedores para a construção Alsácia, considerada a segunda província
lhões, e também com a criação da nova naval relacionada ao petróleo, como a mais rica do país. Esta missão está sendo
usina siderúrgica da Cosigua, dedicada aos Wellstream, que produz tubos flexíveis montada em parceria com o Centro Inter-
aços especiais, na qual serão investidos em para plataformas petrolíferas e a Shulz, que nacional de Negócios – CIN da Federação
torno de US$ 360 milhões. Podemos fa- fabrica válvulas de segurança. das Indústrias do Rio de Janeiro – FIRJAN,
lar, também, na ampliação da Usina de Barra Falando sobre a relação das empresas com o Sebrae-RJ e com a Confederação
Mansa, no interior fluminense, na qual fluminenses com a França, Maurício Nacional da Indústria – CNI. A iniciativa é
serão aplicados cerca de R$ 180 milhões. Chacur garantiu que ela tem sido bastante fruto de uma parceria com a Câmara de
Por sua vez, a Companhia Siderúrgica Na- produtiva, principalmente no que se re- Comércio França-Brasil, a Câmara de Co-
cional – CSN, já anunciou a construção de fere aos investimentos. mércio e Indústria de Paris – CCIP, e a Câ-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 57


NEGÓCIOS

influência da cidade de Nice, considerada do à cidade de Búzios e ao turismo. Nesta


um grande centro de pesquisa e desen- área, podemos aprender muito com a Fran-
volvimento. O Secretário Maurício Chacur ça, pois só a Torre Eifel recebe, por ano,
visitou este centro e garante que será mui- três vezes mais visitantes do que os desti-
to produtivo para os pesquisadores nos turísticos do Brasil. O relacionamento
fluminenses uma troca de experiências tem sido muito bom, os investimentos cres-
com os técnicos locais. cem a cada dia e temos muitos projetos a
“Temos, também, uma boa relação com discutir e a realizar em conjunto com os
Saint Tropez, balneário francês muito liga- parceiros franceses.”

Empresas francesas de pequeno


e médio porte querem exportar
seus produtos para o Brasil
Ministério do Comércio Exterior francês inclui o Brasil no grupo dos 25
países mais importantes para trocas comerciais e investimentos

“O Rio de Janeiro é
altamente industrializado,
com densidade econômica
comparável à de muitos
países da Europa
MAURÍCIO CHACURN ”
mara de Comércio e Indústria do Baixo
Reno. O evento reunirá, na cidade francesa
de Estrasburgo, empresas e instituições dos
setores de software, de auto-peças e trens,
de biotecnologia, de produtos farmacêuti-
cos, de metrologia e de turismo rural.
“Além de Estrasburgo, os integrantes
da missão conhecerão outros três pólos
industriais da Alsácia, nas cidades de Col-
mar, Mulhouse e Haguenau. Localizada no
conhecido cruzamento dos grandes eixos Marcio Fortes, Hugues Goisbault, Demian Fiocca e Maurício Chacur, na Sessão de Encerramento.
do comércio europeu, a Alsácia atrai inves-
tidores de várias partes do mundo.Ao todo, Hugues Goisbault, Cônsul-Geral da geral. Seu primeiro compromisso
são 600 empresas internacionais instaladas
em terras alsacianas. A posição geográfica
França no Rio de Janeiro, estava há oficial no Brasil foi, justamente, par-
privilegiada coloca a região como um cen- apenas uma semana no Brasil quan- ticipar do Seminário Bilateral de Co-
tro gravitacional dos mais concorridos do do concedeu esta entrevista à revis- mércio Exterior e Investimentos
mundo. Ela é conectada com 18 países com
ta da FCCE. Antes de exercer esta Brasil-França. Para ele, esse evento
padrão de consumo de primeiro mundo,
que juntos representam um mercado con- função, atuava profissionalmente em foi de extrema importância, pois
sumidor de 400 milhões de pessoas” Paris, no Ministério de Relações Ex- considera que os países que dele par-
Uma outra região francesa com a qual
teriores, onde tinha o cargo de au- ticiparam mantêm uma importante
a secretaria de desenvolvimento tem man-
tido contato é Sophie Antipolis, na área de ditor e trabalhava como inspetor relação comercial.

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


“O Brasil é um parceiro essencial
para nós, tanto na área de trocas
comerciais quanto no setor de investimen-
tos. A visita do Presidente Jacques Chirac
ao país em maio, e seu encontro com o
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em
Brasília, só reforçam esta idéia. Mesmo
sendo uma visita de caráter eminentemen-
te político, contribuindo para reafirmar as
relações tradicionais entre os dois países,
o Presidente Jacques Chirac veio acom-
panhado de uma importante delegação de
homens de negócios e de empresários
franceses.”
Além dos encontros políticos, o Pre-
sidente Jacques Chirac e sua comitiva man-
tiveram vários encontros com empresári-
os e especialistas brasileiros em comércio
exterior.

Laços de amizade
“Como todos sabem, existe uma re-
lação bastante estreita entre o Presiden- Hugues Goisbault, considera o Brasil um parceiro essencial na área de trocas comerciais.
te Jacques Chirac e o Presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Em 2005, durante a interesse que despertou em segmentos “É natural que a ampla divulgação dos
realização do Ano do Brasil na França, o empresariais, em exportadores e impor- diferentes aspectos da cultura brasileira e
Presidente do Brasil foi o convidado es- tadores franceses. da rica diversidade natural que este belo
pecial do governo francês por ocasião das “Um sinal concreto desse sucesso país pode proporcionar a qualquer visi-
celebrações do 14 de Julho, em Paris, pode ser percebido nas Câmaras de Co- tante esteja despertando o interesse de
quando foi recebido na tribuna oficial, mércio França-Brasil, junto às quais as quem ainda não conhece o Brasil.”
como convidado de honra, para celebrar médias e pequenas empresas francesas
a forte amizade que existe entre nossos
países, nossos dois povos e nossos dois
presidentes.”
têm demonstrado grande interesse em
conhecer e exportar para o mercado bra-
sileiro, que é, para nós, um destino co-
“ A França tem um território
modesto, comparado ao
brasileiro, mas é um grande
mercial essencial. É por isso que nosso

“ O Brasil conseguiu a
maior repercussão de público
e despertou o interesse
Ministério do Comércio Exterior incluiu
o Brasil no grupo dos 25 países mais im-
portantes para as trocas comerciais e os
mercado consumidor
H U G U E S G O I S B AU LT N ”
investimentos franceses. Sabemos que Feliz por estar servindo, neste mo-
dos exportadores franceses
H U G U E S G O I S B A U LT N ” este interesse pelo Brasil não é uma coi-
sa nova, mas o curioso, agora, é verificar-
mos que ele se estende às pequenas e
mento, no Rio de Janeiro, para ele uma
das mais belas cidades do mundo, o côn-
sul define seu papel como o de um agente
Sobre o Ano do Brasil na França, o médias empresas. Apenas por essa mu- facilitador. Define-se, ainda, como um in-
Cônsul-Geral Hugues Goisbault lem- dança já podemos perceber que o even- termediário interessado em estimular,
brou que os brasileiros não foram os pri- to foi muito bem sucedido.” em todos os segmentos sociais,um mai-
meiros a serem homenageados com uma O Cônsul-Geral da França no Rio de or número de contatos e aquecer as re-
programação semelhante. O Brasil, en- Janeiro considera que uma das áreas onde lações econômicas entre os dois países.
tretanto, foi o país que conseguiu a maior mais se pode sentir e mensurar o resulta- “Nosso papel é fazer com que a Fran-
repercussão, tanto em termos de públi- do do evento de 2005 é, certamente, a de ça seja cada vez mais conhecida neste
co – com presença significativa em to- turismo. Algumas análises preliminares grande país. Vamos demonstrar que, ape-
dos os eventos realizados e mobilização demonstram que a procura pelo destino sar de termos um território modesto
de personalidades dos meios universitá- Brasil em agências e empresas de aviação quando comparado ao brasileiro, somos
rio, econômico e político – quanto pelo francesas aumentou cerca de 20%. um grande mercado.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 59


EM PAUTA

Presidente da FCCE recebe


medalha da ALERJ
E
m homenagem aos 55 anos da Fe- a FCCE é a mais antiga associação de clas-
deração das Câmaras de Comércio se brasileira dedicada exclusivamente ao
Exterior – FCCE, a Medalha Tira- comércio exterior, com extensa lista de
dentes, honraria mais importante da Assem- trabalhos e serviços prestados não só ao
bléia Legislativa do Estado do Rio de Janei- país, mas principalmente ao Estado do Rio
ro, foi concedida ao seu Presidente, João de Janeiro, onde está sediada.
Augusto de Souza Lima. Por iniciativa do “Em 2005, iniciamos um grande traba-
Deputado Antonio Pedregal e sob a presi- lho com a participação do Ministério do
dência da Deputada Aparecida Gama, a ceri- Desenvolvimento, Indústria e Comércio João Augusto de Souza Lima e Flavia
mônia foi realizada em 10 de abril de 2006. Exterior – MDIC e do Ministério das Re- Barbosa Grosso ao lado do Ministro Marcio
Em seu discurso de agradecimento, lações Exteriores –MRE, além das prin- Fortes de Almeida.
João Augusto de Souza Lima lembrou que cipais associações de classe nacionais.
Dentro desse pro- Tivemos inúmeros convites para diversifi-
jeto, realizamos, no car a sede dos nossos seminários, mas a
ano passado, 12 se- FCCE viu, na oportunidade de realizar os
minários bilaterais eventos no Rio de Janeiro, mais uma chance
com Portugal, Mar- de promover o nosso estado, que em 2005
rocos, Bélgica/Lu- exportou o significativo volume de US$
xemburgo, Suíça, 8,1 bilhões.”
Argentina,Venezue- O presidente da FCCE mencionou ainda
la, México, Chile, o fato de que Duque de Caxias, na Baixada
Holanda, Itália, Po- Fluminense, é a terceira cidade no ranking
lônia e Canadá e, em exportador, perdendo apenas para São Pau-
2005, com Rússia e lo e São José dos Campos, enquanto o Rio
África do Sul. To- de Janeiro aparece em quinto lugar, tendo
dos eles foram rea- sido a terceira colocada em 2.004. Pelo Por-
lizados na Cidade to do Rio de Janeiro foram embarcadas, no
Maravilhosa, capi- ano passado, mais de 8 milhões de tonela-
A Deputada Aparecida Gama condecora Souza Lima.
tal do nosso estado. das, com destaque para cerca de 220.000
veículos. Ele lembrou, ainda, que no terri-
tório fluminense operam empresas do por-
te da Petrobras, Petroflex, Nitriflex, Nortex
Química, Polibrasil, Ciferal, Queiroz Galvão,
Companhia Sulamericana de Tabaco e
Paraibuna de Metais.
Na ocasião, foram homenageados, tam-
bém, a Superintendência da Zona Franca de
Manaus, por meio da Dra. Flávia Skrobot Bar-
bosa Grosso, que recebeu o título de Cidadã
do Estado do Rio de Janeiro; e o Dr. Líbio
Seixas Junior, Diretor de Planejamento e
Operações da Serasa S.A. Compareceram à
cerimônia, entre outras personalidades, o Mi-
nistro de Estado das Cidades, Marcio Fortes
Na mesa, presidida pela Deputada Aparecida Gama (ao centro), Líbio Seixas Junior, Flavia de Almeida e o Secretário de Comércio Exte-
Grosso, Marcio Fortes de Almeida, João Augusto de Souza Lima e Armando Meziat. rior do MDIC, Armando Meziat.

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


COMÉRCIO

Infraero: logística e eficiência a


serviço do comércio internacional
Empresa armazena 1,6 milhão de toneladas de cargas aéreas por ano e
tem no transporte de carga um dos seus setores mais rentáveis

A
Infraero, empresa que administra os
aeroportos do país, tem um papel 32 66
importante na estrutura de logística terminais de aeroportos
para o comércio exterior. A empresa carga
gerencia 66 aeroportos, dos quais 32 pos-
suem terminais de carga aérea. Desses 32,
quatro são grandes terminais de carga aé-
rea chamados de hubs, a saber: o Aeropor-
to Internacional de São Paulo (Gua-
rulhos); o Internacional de Campinas
(Viracopos); o de Manaus (Eduardo Go-
mes); e o do Rio de Janeiro (Galeão). Pe-
los terminais destes quatro aeroportos A Infraero tem 33 anos,
passam 80% do total de carga operada na
importação e na exportação, por via aérea
é vinculada ao
brasileira. Ministério da Defesa e
Para Ednaldo Pinheiro Santos, Gerente
Nacional de Logística de Carga da Infraero, armazena 1,6 milhão
96 milhões
“a empresa disponibiliza para os exporta- de toneladas de cargas de
dores toda uma infra-estrutura adequada, passageiros
de primeira linha, que não fica a dever a aéreas por ano
nenhum outro país com perfil exportador.
Em qualquer um dos terminais já citados a
operação é feita de forma eficiente, com
1,6 milhão de
qualidade e com muita agilidade.”
toneladas de
Empresa pública com 33 anos de atu-
carga/ano
ação no mercado, a Infraero é vinculada
ao Ministério da Defesa e armazena 1,6
milhão de toneladas de cargas aéreas
por ano. Ela tem como meta encerrar
2006 com, aproximadamente, R$ 800
milhões em receita de carga, um dos
setores considerados mais rentáveis.
Nos últimos anos, os produtos que
mais apresentaram movimentação de
carga internacional foram celulares e
aparelhos eletrônicos. A empresa vem
desenvolvendo um trabalho de divul-
gação de seus recursos operacionais e
tem participado ativamente de eventos
ligados ao comércio exterior.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 61


COMÉRCIO

“Os seminários de comércio exteri- plano de obras que tem como objetivo
or, especialmente os patrocinados pela modernizar a infra-estrutura aero-
FCCE, são muito importantes para a portuária brasileira para os próximos
Infraero, porque por meio deles pode- dez anos. Um dos investimentos pre-
mos discutir, informar, dar conhecimen- vistos é a ampliação do terminal do
to aos técnicos do comércio exterior e Aeroporto Salgado Filho, em Porto
mostrar a estrutura que colocamos à Alegre.
disposição em nossos terminais. Pode- “Porto Alegre é um terminal que vem
mos, também, interagir com organismos crescendo, se desenvolvendo e por isso
responsáveis pelo comércio exterior lhe dedicamos um projeto de instalação
brasileiro, como o Ministério de De- de um novo terminal de carga, cuja cons-
senvolvimento, Indústria e Comércio trução deve começar, provavelmente, em
Exterior e equipes especializadas de ou- 2007. Sem dúvida, o terminal do Salgado

“ A Infraero vem divulgando


seus recursos e participando
de eventos ligados
tros países, como os empresários e os
técnicos do governo francês.”
Interessada em manter este padrão
Filho é estratégico na estrutura da Infraero,
e está em fase de crescimento. A localiza-
ção deste terminal beneficia o Mercosul,
de atendimento, e disposta a continuar e os principais destinos da carga são o
ao comércio exterior
EDNALDO PINHEIRO SANTOSN ” participando do esforço exportador
brasileiro, a Infraero desenvolve um
Paraguai, Uruguai, e Argentina, os países
do Mercosul.”

SUFRAMA
Amazonas promove uma revolução
silenciosa pela educação
Empresas e governo do estado investem em qualificação de mão-de-obra e na
formação de capital intelectual para agregar valor aos produtos da região

E m 38 anos, a Superintendência da Zona


Franca de Manaus – Suframa, autar-
quia vinculada ao Ministério do Desen-
conhecimentos e tecnologia aos produ-
tos da Zona Franca de Manaus, tanto o
estado quanto a Suframa começaram a
volvimento, Indústria e Comércio Exte- desenvolver iniciativas com este propósi-
rior – MDIC, vem desenvolvendo um to. Em primeiro lugar, o estado passou a
serviço paralelo à administração da Zona reservar parte dos seus recursos para in-
Franca de Manaus – ZFM, voltado para a vestir num significativo sistema de ciência
formação de capital intelectual e de mão-
de-obra especializada, para atuar nas em-
presas da região, a maioria produtora de
e tecnologia gerido pelo próprio Gover-
no do Estado do Amazonas. Por conse-
guinte, criou-se a Fundação de Amparo à
“ Temos seis mestrados sendo
financiados apenas pela
Suframa, fora os demais,
bens de alta tecnologia. Pesquisa – Fapeama, que hoje tem finan-
O Coordenador Geral de Estudos Eco- ciado todo tipo de iniciativa no âmbito da com apoio dos governos
nômicos e Empresariais da Suframa, José
Alberto da Costa Machado, participou do
Seminário Bilateral de Comércio Exterior
pesquisa, da formação de mestres, de dou-
tores e de estudos que interessam à pró-
pria região e ao Pólo de Indústria de
federal e estadual
J O S É A L B E RTO DA ”
C O S TA M A C H A D O N

e Investimentos Brasil-França e concedeu Manaus.” abriga hoje mais de 30 mil alunos em cur-
à revista da FCCE uma entrevista na qual sos de graduação, especialização, mestrado
destaca a importância do trabalho realiza- Investimento no ensino e doutorado. Além disso, em função da
do na formação deste capital intelectual. Somada aos investimentos do Gover- legislação sobre informática, as empresas
Segundo ele, o Amazonas passa por uma no do Amazonas, uma parte das taxas pa- têm que destinar 5% de seu faturamento
revolução silenciosa neste campo. gas pelas empresas que atuam na região é líquido para investimentos em pesquisa e
“Do final da década de 90 para cá, quan- destinada à criação e manutenção da Uni- desenvolvimento. Deste percentual, 2,7%
do se percebeu a necessidade de agregar versidade do Estado do Amazonas, que podem ser usados pelas próprias empre-

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


sas para realizar projetos internos e os Amazonas – Cetam, que possui uma ca- lente conteúdo de informação em ciênci-
2,3% restantes são aplicados, por meio deia formadora não só no setor tecno- as exatas. Neste momento, estamos nos
de convênios, em outras empresas e insti- lógico, mas também na formação da mão- preparando para implantar, em Manaus,
tuições externas, universidades, institutos de-obra nas áreas da saúde, habitação e em convênio com o Japan Bank for
de pesquisas etc. comércio. Temos institutos de tecnologia International Cooperation – JBIC, um
“Isso gerou uma fonte de recursos para ensino médio apoiados pelo SESI, centro de formação para mão-de-obra de
considerável, capaz de incentivar a cria- nível médio e superior, similar ao que foi
ção de vários institutos de tecnologia.
Hoje, na cidade de Manaus, temos cerca
de 10 ou 12 institutos de tecnologias
“ O Amazonas passou a investir
parte dos seus recursos num
sistema de ciência e tecnologia
implantado em Penang, uma cidade da
Malásia que também tem características
de zona franca. Trata-se de um centro de
competentes no âmbito da TV digital, da desenvolvimento de habilidades que visa
convergência digital, da computação
móvel, não só na área de telecomunica-
ção como em diversas outras áreas. Além
gerido pelo Governo do Estado
J O S É A L B E RTO DA ”
C O S TA M A C H A D O N
formar, para o Pólo Industrial de Manaus,
grande quantidade de mão-de-obra, tanto
de nível médio, quanto de nível superior,
disso, a própria Suframa retira parte de SENAI, SESC, que também oferecem cur- atualizada tecnologicamente.”
seu orçamento para investir na formação sos complementares ao ensino médio. Este investimento deverá girar em tor-
de capital intelectual e, também, para fi- Muitas empresas privadas têm investido no de US$ 1 milhão, com recursos
nanciar pesquisas. É com este recurso na formação de ensino médio, como é o aportados do JBIC, e deverá ter como
que a Superintendência financia, por caso da Fundação Nokia, que tem forma- modelo inicial o Penang Skill Development
exemplo, a formação de doutores. Nós do alunos com grande habilidade e exce- Centre – PSDC, com sede em Penang.
estamos implantando, neste momento,
quatro doutorados em áreas distintas:
biotecnologia; medicina tropical; enge-
nharia de produção; transporte e logís-
Paulo Vellinho: um pioneiro da
tica. Temos, também, seis mestrados sen-
do financiados apenas pela Suframa, fora
modernização da indústria brasileira
os demais que recebem bolsas de órgãos “A maturidade econômica de um país se conhece por sua capacidade de exportar.
dos governos federal e estadual.” Aprendi isso com os franceses”, afirma o Vice-Presidente do grupo Avipal
Segundo José Alberto da Costa Ma-
chado, com todos esses incentivos, o sis-
tema de ciência e tecnologia do estado e
de toda a região ganhou um adensamento
O empresário Paulo D’Arrigo Vellinho,
Diretor Vice-Presidente do Grupo
Avipal, ex-Presidente do CONCEX e
tar como uma inovadora, que lançou pro-
dutos ainda não fabricados no Brasil, como
o ar condicionado. A primeira fábrica de
muito grande nos últimos tempos, o que, Diretor-Conselheiro do Conselho Dire- ar condicionado da América Latina foi a
naturalmente, se reflete na qualidade dos tor da FCCE, foi uma presença marcante nossa, inaugurada em 1958. Depois, fize-
produtos da Zona Franca. Isso vai abrir no Seminário Bilateral de Comércio Ex- mos a primeira geladeira retangular, sem
novas frentes para indústrias de tecnologia terior e Investimentos Brasil-França. Um curvas, uma Admiral. Através da linha
de ponta, seja a biotecnologia, a micro e a dos pioneiros da moderna indústria brasi- Admiral, lançamos a televisão preto e bran-
nanotecnologia, ou mesmo para a tecno- leira, ele tem uma vitalidade impressio- co e depois a TV a cores, além de variados
logia eletrônica, pois todo este novo co- nante. Em 1988, após vender suas ações modelos de aparelhos de som.”
nhecimento está à disposição das empre- na Springer Admiral, planejou dedicar-se Segundo Paulo D’Arrigo Vellinho,
sas eletrônicas de consumo. apenas à consultoria. No entanto, está na esta foi uma fase muito movimentada e
ativa até hoje, dirigindo o grupo de ali- estimulante, na qual empresas desbra-
Nível médio mentação gaúcho Avipal Elegê, que traba- vadoras construíram uma indústria de
O governo do estado também tem in- lha com leite e derivados e exporta para base no país.
vestido bastante na formação de técnicos 130 países. “Os plásticos, os metais injetados e os
de nível médio, por meio da criação de metais cromados a vácuo não existiam
uma estrutura educacional que atua em Memórias aqui. Nós fomos os primeiros a criar mer-
todas as regiões do Amazonas. Ele se lembra, com entusiasmo, das cados para esses produtos. Alguns seto-
“O Centro de Formação de Ensino suas iniciativas empresariais da década res reclamam muito até hoje dizendo que
Médio – Cefem, atua tanto no nível de 1950. no Brasil não há mercado, mas onde exis-
tecnológico quanto no ensino de nível “Antes de 1953, a Springer era uma te demanda se cria o mercado. Se você
médio. Temos uma grande estrutura cha- empresa mais comercial do que industri- gera demanda, cria fornecedores e esti-
mada Centro de Educação Tecnológica do al. A partir desse ano, passou se compor- mula os consumidores. Nesse sentido,

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 63


COMÉRCIO

Paulo D’Arrigo Vellinho confessa que


às vezes considera que a gripe aviária foi
fabricada, pois ela não lhe parece ter a gra-
vidade que tem sido alardeada. Segundo ele,
um vírus que, desde que surgiu a doença
há cerca de dez anos, tem matado por ano
cerca de 18 pessoas, não poderia causar o
estrago que está sendo divulgado.

“ A gripe aviária não chegou


ao Brasil e não vai
chegar, mas quando
se estabelece o pânico,
a imaginação é livre

P AU L O D ’ A R R I G O V E L L I N H O N

“Um jornal norte-americano publi-


cou que o Secretário de Defesa do Go-
verno dos Estados Unidos, Donald
Paulo Vellinho valoriza o perfil do Brasil exportador de produtos de alto valor agregado. Rumsfeld, é sócio de uma empresa que
fabrica uma vacina para vírus, e todos sa-
posso dizer que participei de um proces- dutos, exportava fábricas. Exportei uma bemos que este vírus é mutante, ou seja,
so muito bonito.” para Moçambique e outra para Angola. não adianta a vacina atual, porque logo
Ajudei os profissionais africanos a apren- depois o vírus se diferencia, se torna ou-
Exportador de fábricas der a fabricar televisões, geladeiras; en- tro. Com isso eles conseguiram elevar o
Paulo D’Arrigo Vellinho diz que, na contrei um campo fértil, aprendemos faturamento anual dessa empresa de US$
década de 1950, aprendeu com uma mis- muito e ensinamos muito.” 200 milhões para US$ 700 milhões. Pen-
são empresarial francesa em visita ao Rio sando em voz alta eu pergunto: a quem
Grande do Sul que a maioridade da indús- Gripe aviária interessa essa crise? À Rússia? Com cer-
tria de um país se mede pela sua capacida- Em 1988, após vender suas ações da teza. Aos Estados Unidos? Certamente,
de exportadora. Segundo ele, a capacida- Springer Admiral para o empresário Má- pois tínhamos quebrado a hegemonia
de de exportação qualifica as empresas rio Amato, Paulo D’Arrigo Vellinho ainda americana na exportação de frango. Com
para serem aceitas nos mercados mais no- tinha um mandado a cumprir, até 1996, na essa crise, os mercados internacionais se
bres, mais exigentes. Coensa, uma empresa italiana de energia retraíram, a indústria brasileira está so-
“Sempre sonhei com um Brasil expor- produtora de reatores, geradores e turbi- frendo muito e meia dúzia de pessoas
tador, não de commodities porque acho nas, e planejava tornar-se apenas um con- estão ganhando muito dinheiro. A gripe
muito limitado vender apenas grãos de sultor. Queria passar seu conhecimento aviária não chegou ao Brasil e não vai che-
soja, de milho ou farelo de cereais. Isso do setor e sua experiência aos jovens em- gar, mas quando se estabelece o pânico, a
não agrega valor aos produtos, significa presários. Mas a sua nova fase profissional imaginação é livre.”
vender praticamente a matéria-prima durou pouco. Segundo Paulo D’Arrigo Vellinho a
esmagada ou exportada como ela foi pro- “Fui convidado para a vice-presidên- avicultura tem um peso social mais im-
duzida. Sempre sonhei com exportações cia de um grande grupo de alimentação portante até do que seu peso econômi-
que valorizassem mais as commodities, por do Rio Grande do Sul, o Avipal Elegê, co. Só no Rio Grande do Sul o setor
duas razões: primeiro porque quando se onde estou até hoje. O grupo trabalha emprega 840 mil pessoas, entre empre-
agrega valor se agrega mão-de-obra, se- com leite e derivados, frangos, suínos e gos diretos e indiretos, e fatura R$ 4,3
gundo porque a esse processo também se derivados. Exportamos hoje para 130 milhões por ano.
junta a tecnologia.” países, especialmente para o Oriente Sobre o seminário da FCCE, ele reve-
No currículo do Diretor-Conselheiro Médio, Extremo Oriente e África. Em lou que eventos como esse são muito
do Conselho Diretor da FCCE, podem 2005, atingimos o volume de US$ 440 importantes para o mercado exportador,
ser encontradas também iniciativas em- milhões. A gripe aviária nos pegou na pois possibilitam analisar os pontos for-
presariais desenvolvidas no exterior. contramão e tem sido uma tragédia para tes e os pontos fracos dos parceiros co-
“Quando eu não podia exportar pro- a avicultura brasileira.” merciais.

64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


RELAÇÕES BILATERAIS

Em 2005, a corrente de comércio francesa foi a quinta maior do mundo,


movimentando em torno de US$ 1 trilhão. Os resultados colocam o país num
novo patamar de comércio internacional

Comércio Exterior da França


ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE Evolução da balança comercial da França
DO DEPARTAMENTO DE 1995 a 2005 – US$ bilhões
PLANEJAMENTO
E DESENVOLVIMENTO DO 500.000
C OMÉRCIO EXTERIOR Exportação Importação Saldo
DA SECRETARIA DE COMÉRCIO
400.000
E XTERIOR DO MDIC

300.000

E
m 2005, a França registrou um flu-
xo de comércio de praticamente
200.000
US$ 1 trilhão (US$ 955 bilhões). A
corrente de comércio francesa foi a quin-
ta maior corrente de comércio mundial e 100.000
o país se aproximou do seleto grupo dos
países em que a soma das exportações e 0
importações supera essa marca. Pela or-
dem decrescente, os países são: Estados
Unidos (US$ 2,637 trilhões), Alemanha -100.000
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
(US$ 1,745 trilhão), China (US$ 1,422 Fonte: OMC
trilhão) e Japão (US$ 1,112 trilhão).
Com exportações de US$ 459 bilhões,
a França foi o quinto exportador mundi- Importações da França
al, de acordo com dados elaborados pela Principais produtos – 2005 – participação %
OMC. A França está abaixo, somente, da
Alemanha, EUA, China e Japão como Veículos Maquinaria
maior exportador, e respondeu por 4,4% automotores elétrica
das vendas externas mundiais. 10,4% 8,9%
Máquinas e Aeronaves
No ranking dos maiores importadores equipamentos 5,4%
mundiais, a França se colocou na sexta 12,6%
posição, com um total de US$ 496 bi- Plásticos
3,6%
lhões, respondendo por 4,6% das com-
pras mundiais em 2005, superado apenas Químicos
por EUA, Alemanha, China, Japão e Rei- orgânicos
no Unido. 3,3%
Combustíveis
A balança comercial francesa é tradici- 12,8%
onalmente equilibrada com uma tendên- Demais
produtos
cia de déficit nos últimos três anos. Entre 43,1%
1990 e 2005 registraram-se oito superávits
e oito déficits, sendo o maior destes regis-
trado em 2005: déficit de US$ 36,6 bi-
lhões. O maior superávit obtido foi em Fonte: Global Trade Atlas

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Exportações da França Participação do Brasil no comércio exterior da França


Principais produtos – 2005 – participação % 2000 a 2005

Produtos Fonte: MDIC/SECEX e OMC


Aeronaves farmacêuticos
8,5% Combustíveis
Maquinaria 4,8%
3,9%
elétrica Plásticos
9,1% 3,6%
0,57% 0,64% 0,59%
0,53% 0,51%
0,45%
Máquinas e
equipamentos
11,8%
Demais
produtos 0,51% 0,50%
45,3% 0,46% 0,47% 0,50%
0,43%

Veículos
automotores
13,0% 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: Global Trade Atlas Importação da França Exportação da França

1997, de US$ 17,1 bilhões. Em 2005, as exportações e as im- Importações da França


portações da França aumentaram, respectivamente, 1,6% e 5,3%, Principais países fornecedores – 2005 – participação %
sobre 2004.
20,0 18,9
A pauta do comércio exterior francês é bastante descon- Fonte: Global Trade Atlas
18,0
centrada. Outra característica é a de que as exportações e impor-
16,0
tações possuem vários grupos de produtos coincidentes. Em
2005, o item com maior participação na pauta importadora foi 14,0

combustível (participação de 12,8% do total) com o equivalente 12,0 10,7


a US$ 63,6 bilhões. Os demais principais produtos importados 10,0
8,2
pelo país foram: máquinas e equipamentos, total de US$ 62,5 8,0 7,0
6,5
bilhões; veículos automotores, US$ 51,9 bilhões; maquinaria 5,9
6,0 5,1
elétrica, US$ 44,2 bilhões; aeronaves, US$ 26,6 bilhões; plásti- 4,0 3,6
2,5
cos, US$ 17,9 bilhões; e químicos orgânicos, US$ 16,2 bilhões. 2,0
2,0
Do lado das exportações, a França vende, principalmente: veí-
0,0
culos automotores, US$ 59,7 bilhões; máquinas e equipamentos,
a

ica

ia

sia
nido

Uni stados
aixo
anh

anh

Chin

Suiç
Itál

Rús
Bélg

dos
oU
Alem

Esp

es B

US$ 54,3 bilhões; maquinaria elétrica, US$ 42,0 bilhões, aerona-


E
Rein
País

ves, US$ 38,9 bilhões; produtos farmacêuticos, US$ 21,8 bilhões;


combustíveis, US$ 17,9 bilhões; e plásticos, US$ 16,8 bilhões.
No que concerne aos países fornecedores de produtos à Fran- Exportações da França
ça, a participação das exportações brasileiras é reduzida, repre- Principais países de destino – 2005 – participação %
sentando 0,5% em 2005, embora venha elevando-se, visto que
16,0
em 2003 e 2004 foi de 0,43% e 0,47%, respectivamente. Os 14,7 Fonte: Global Trade Atlas
principais países fornecedores, de acordo com dados de 2005 14,0
foram: Alemanha (18,9%), Bélgica (10,7%), Itália (8,2%), 12,0
Espanha (7,0%), Países Baixos (6,5%), Reino Unido (5,9%) e
10,0 9,6
Estados Unidos (5,1%). O Brasil ocupou a 27ª posição como 8,7 8,3
maior país de origem das importações francesas. 8,0 7,2 7,1
A participação das importações brasileiras nas exportações da 6,0
França é igualmente reduzida, embora também se mostre em 3,9
ascensão, dado que em 2003 foi de 0,45%; 0,51%, em 2004; e 4,0 2,9

0,59% em 2005. Os principais mercados compradores da Fran- 1,7 1,5


2,0
ça, em 2005, foram: Alemanha (14,7%), Espanha (9,6%), Itália
0,0
(8,7%), Reino Unido (8,3%), Estados Unidos (7,2%), Bélgica
a

ia

ica

s
nido

Uni stados

aixo

roco
anh

anh

Suiç

Chin
Itál

Bélg
dos
oU
Alem

Esp

es B

Mar

(7,1%) e Países Baixos (3,9%). O Brasil foi o 30º maior país


E
Rein

País

comprador de produtos franceses.

66 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Intercâmbio comercial entre Brasil e França – 2005
A França é um dos principais parceiros comerciais do Brasil. Intercâmbio comercial Brasil/França
Em 2005, o país foi responsável por 2,31% das exportações 2005/ 2004 – US$ milhões FOB
nacionais, atingindo a cifra de US$ 2,502 bilhões. Esse valor é
Fonte: MDIC/SECEX
14,2% acima do alcançado no ano anterior, de US$ 2,190 bi- Variação % 2004/2005:
5.203
Exportação: 14,2%
lhões e recorde histórico no comércio bilateral. Importação: 18,0% 4.479
As importações brasileiras de produtos franceses também Corrente de comércio: 16,2%

apresentaram crescimento e atingiram a cifra inédita de US$ 2,701


bilhões, 18,0% acima do alcançado em 2004, de US$ 2,289 bi- 2.701
2.502
lhões. A participação francesa no total da pauta de importação 2.190 2.289
brasileira é significativa, representando 3,67% em 2005.
Os recordes nas importações e exportações entre os dois
países implicou no maior resultado no fluxo comercial bilateral,
um total de US$ 5,203 bilhões. Esse resultado é 16,2% superior
ao alcançado em 2004, total de US$ 4,479 bilhões. -99 -199
O Brasil é historicamente deficitário no comércio bilate- Exportação Importação Saldo Corrente de
ral com a França. O maior saldo negativo ocorreu em 1999, Comércio
2005 2006
quando foi de US$ 789 milhões. No ano de 2003, quase se
atingiu o equilíbrio, com um déficit de
apenas US$ 50 milhões. Entretanto, Evolução do intercâmbio comercial Brasil/França
esse déficit voltou a crescer em 2005 1996/2005 – US$ milhões FOB
e resultou em um saldo negativo de
US$ 199 milhões. 3.000
Quanto à posição da França como des- Exportação Importação Saldo Comercial
tino das exportações brasileiras, no perí- 2.500
odo janeiro/dezembro-2005, esta ocu-
pou a 12ª posição, duas colocações a me- 2.000
nos que a do ano anterior, perdendo posi-
ções para Rússia e Reino Unido. 1.500
Nas exportações para a União Euro-
péia, a França ocupou a 5ª posição, abaixo 1.000
apenas dos Países Baixos, Alemanha, Itália
e Reino Unido, respondendo por 9,4% 500
do total exportado para a região (US$
26,493 bilhões). 0
Nos últimos dois anos, a França foi o
sétimo maior fornecedor de produtos ao -500
Brasil, atrás somente dos Estados Uni-
dos, Argentina, Alemanha, China, Japão -1000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
e Argélia.
Fonte: MDIC/SECEX
Quanto às importações nacionais pro-
venientes do bloco europeu, a França
ocupa a segunda posição, superada apenas
pela Alemanha, representando 14,9% das compras efetuadas à Dentre os principais itens exportados pelo Brasil ao merca-
UE (US$ 18,146 bilhões). do em análise, os de maior participação na pauta foram: farelo
A composição da pauta de exportação brasileira para a Fran- de soja (principal item, com uma participação de 24,4% na
ça é de 60,0% de produtos básicos e 40,0% de bens industri- pauta total); minério de ferro (representando 15,7% do total);
alizados. No comparativo 2005/2004 o grupo de produtos móveis (3,8%); petróleo em bruto (3,8%); café em grão
que mais cresceu foi o de manufaturados, aumento de 27,4%, (3,8%); soja em grão (3,3%); madeira serrada (3,1%); moto-
os básicos cresceram 9,0%, e os semimanufaturados se expan- res para automóveis (3,1%); camarão congelado (2,8%); e ce-
diram em 7,4%. lulose (2,2%).

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking da França nas exportações brasileiras Ranking da França nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor '% Part% Ordem País Valor '% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5,023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
10 12 França 2.503 14,3 2,1 8 10 Itália 2.276 11,1 3,1
11 11 Chile 1.700 21,5 2,3
Fonte: MDIC/SECEX

Os produtos de relevância na pauta que Exportações brasileiras para a França por fator agregado
mais cresceram em exportações para esse 2005/2004 – US$ milhões FOB
mercado, no comparativo de 2005 com
2004, foram: aviões (de zero para US$ 19 Variação % 2004/2005:
milhões); óleo de rícino (de zero de US$ 1.501 Básicos: + 9,0%
1.377 Semimanfaturados: + 7,4%
7,3 milhões); carne de peru congelada Manufaturados: + 27,4%
(+583,8%, para um total de US$ 7,5 mi-
lhões); motores e turbinas para aviação
(+580,2%, para um total de US$ 30,6
milhões); partes e peças de aviões 811
(+452,1%, para US$ 39,4 milhões); ins- 636
trumentos e aparelhos de medida e verifi-
cação (+356,2%, para US$ 14,5 mi-
lhões); veículos de carga (+234,6% para 182
169
US$ 5,9 milhões); vidros de segurança
(+199,4%, para US$ 5,5 milhões); ferro-
ligas (+141,0% para US$ 9,8 milhões);
Básicos Semimanufaturados Manufaturados
aparelhos eletromecânicos ou térmicos de
uso doméstico (+130,9%, para US$ 8,5 2004 2005
Fonte: MDIC/SECEX
milhões); e borracha sintética ou artificial
(+87,0%, para US$ 9,6 milhões).
Do lado da importação, o Brasil ad-
quiriu da França quase que a totalidade da pauta em produtos que foi responsável por 32,1% das exportações nacionais, con-
industrializados, 99,4% do total. tribui com 17,6% das vendas à França. Mesmo assim, foi o maior
Os principais itens comprados pelo Brasil, do mercado fran- estado exportador ao País. As demais principais unidades da fe-
cês, foram: autopeças (9,9% do total), medicamentos, (5,8%), deração que realizaram vendas ao mercado francês foram: Minas
partes e peças de aviões (5,5%), compostos heterocíclicos (4,4%), Gerais (participação de 14,6% no total), Paraná (14,0%), Pará
circuitos integrados (3,7%), motores para automóveis (3,4%), (11,0%), Bahia (7,4%), Santa Catarina (5,8%), Mato Grosso
instrumentos e aparelhos de medida e verificação (3,3%), com- (5,7%), Espírito Santo (4,5%), Rio Grande do Sul (4,2%) e Mato
postos de funções nitrogenadas (2,9%), bombas e compresso- Grosso do Sul (3,1%). Os demais estados brasileiros foram res-
res (2,7%) e rolamentos e engrenagens (2,2%). ponsáveis por 12,2% das exportações nacionais para a França.
As exportações brasileiras para a França são bem distribuídas Diferentemente do que ocorre com a exportação, as impor-
entre as unidades da federação. Em 2005, o estado de São Paulo, tações brasileiras de produtos franceses são concentradas em

68 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


poucos estados. Com uma participação de 42,2% na pauta de Principais produtos exportados pelo Brasil para a França
importação nacional proveniente da França, São Paulo é o maior 2005 – US$ milhões FOB
comprador. Em 2005, o Estado comprou da França, principal-
610 Fonte: MDIC/SECEX
mente: produtos químicos orgânicos, máquinas e equipamentos
mecânicos e máquinas e aparelhos elétricos. Seguidamente a São
Paulo estão: Rio de Janeiro (24,5%), Paraná (12,1%), Minas
Gerais (4,3%), Espírito Santo (4,2%), Amazonas (3,7%), Rio 392
Grande do Sul (2,6%), Distrito Federal (1,9%), Bahia (1,2%) e
Santa Catarina (1,1%).
Considerando os dados de 2005, 2.185 empresas brasilei-
ras efetuaram vendas à França, crescimento de 3,5% (+73
96 96 94 83
empresas) em relação ao mesmo período de 2004 (2.112 79 76 70 55
empresas).
Do lado da importação, 3.731 empresas brasileiras realizaram

Minérios
de ferro

Petróleo
em bruto

Madeira
serrada

Motores para
veículos

Camarão
congelado
Farelo de soja

Móveis

Café em grão

Soja em grão

Celulose
compras de produtos originários da França, 5,2% (+184 empre-
sas) a menos que em 2004 (3.547 empresas).

Principais estados importadores da França Principais produtos importados pelo Brasil da França
2005 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

1.140 Fonte: MDIC/SECEX 267 Fonte: MDIC/SECEX

661

157
327 148

120
100
92 88
116 113 77
99 73
69 63 61
50 31 30
Instrumentos e
aparelhos de
verificação
Partes e peças
para aviões

Compostos
heterocíclicos

Circuitos
integrados

Motores para
veículos

Bombas e
Compressores

Rolamentos e
Engrenagens
Autopeças

Medicamentos

Compostos de
funções
nitrogenadas
Rio Grande
do Sul
Paraná

Amazonas

Distrito
Federal

Santa
Catarina
São Paulo

Rio de
Janeiro

Espírito
Santo
Minas
Gerais

Bahia

Demais

Principais estados exportadores para a França Número de empresas brasileiras exportadoras e


2005 – US$ milhões FOB importadoras no comércio com a França

440 Fonte: MDIC/SECEX Fonte: MDIC/SECEX


3.731
3.547
365
349
305
274
2.112 2.185

185
146 143
112 105
77
Rio Grande
do Sul
Paraná

Pará

Santa
Catarina

Espírito
Santo
São Paulo

Bahia

Mato
Grosso

Mato Grosso
do Sul
Minas
Gerais

Demais

2004 2005
Exportadores Importadores

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 69


CURTAS

Marcas e lembranças origem de certas marcas. Por 25% no faturamento,


Uma pesquisa realizada exemplo, a Nestlé e a chegando a R$ 500 milhões
pela revista da Câmara de Telefônica foram citadas em volume de negócios. A
Comércio França-Brasil como empresas francesas e empresa pretende investir
mostrou que 350 pessoas não o são. R$ 4 milhões em tecnologia
(presidentes, gerentes, “Toda marca de sucesso é do setor em 2006, com o
diretores, sócios e fruto de um intenso e objetivo de chegar aos R$
superintendentes de contínuo trabalho de 600 milhões. A Incentive
empresas) citaram, comunicação. Quem não é House atua há cerca de 20
espontaneamente, nomes de visto, não é lembrado”. Assim, anos no Brasil e atende, entre
empresas que atuam em 11 Kátia Martins Valente, Gerente outros, o McDonalds, a
diferentes segmentos do de Comunicação e Marketing Telefônica, o LG Eletronic e
mercado brasileiro. As mais da Associação dos Dirigentes o grupo Pepsico.
lembradas foram a Peugeot de Vendas e Marketing do
(38% das citações), a Renault Brasil, comentou os resultados À moda francesa
(14%) e o terceiro lugar ficou da pesquisa. Espaços públicos,
dividido entre o Carrefour, a edifícios e conceitos
L’Oréal e a Citroën (9%). A Investimentos arquitetônicos destacam-se Campo de Santana, projeto de Glaziou.
Air France ocupou a quarta A Incentive House, no cenário da influência
posição, com 3% das citações. empresa de marketing de francesa no Brasil. O
O estudo mostrou, relacionamento do grupo paisagista Silvio Soares de
também, que os executivos francês Accor, alcançou, em Macedo, professor da
brasileiros não conhecem a 2005, um crescimento de Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade
de São Paulo, em seu livro
“Quadro do paisagismo no
Brasil”, mapeia alguns
destaques desta tendência. A
criação do Passeio Público
do Rio de Janeiro, em 1783,
por Mestre Valentim, foi o
marco do paisagismo eclético
no país, que se inspirou na Praça da Liberdade, Belo Horizonte.
estética francesa. O local foi
A Revista dos Seminários Bilaterais de reformulado em 1862 pelo inúmeros trabalhos
francês Auguste Glaziou, que importantes, foi o construtor
Comércio Exterior e Investimento, também criou o carioca do prédio erguido em 1819
organizados pela FCCE, é distribuída entre Campo de Santana. Ambos para ser a primeira Praça de
as mais destacadas personalidades, do refletem uma visão idílica e Comércio no Brasil, que teve
romântica que procura grande influência no setor.
Brasil e do exterior, que atuam no recriar a imagem dos Neste prédio, que fica no
comércio internacional. bucólicos paraísos perdidos centro do Rio de Janeiro,
com o avanço da civilização. funciona, hoje, a Casa França-
Glaziou projetou, ainda, a Brasil, que recebe 10 mil
Anunciar aqui é fazer chegar o seu Praça da República e o visitantes por ano em
produto a quem realmente interessa, a Jardim do Museu do atividades culturais.
Ipiranga, em São Paulo; a O autor do livro
quem decide.
Praça da Liberdade, em Belo menciona, ainda, outros
Procure-nos. Horizonte; e o Jardim arquitetos e urbanistas
Botânico do Rio. franceses, entre eles Paul
Tel.: 55 21 2221 9638 Já Grandjean de Montigny, Villon, que projetou o
eduardo.teixeira@abrapress.com.br integrante de Missão Parque Trianon, no centro
Francesa, realizador de de São Paulo.

70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A


Casa França Brasil Vendas aeronáuticas França, em 2005, foram bens
recebe exposição de As trocas comerciais de construção aeronáutica
artista francesa franco-brasileiras (21%), equipamentos para
O presidente da Casa confirmaram, em 2005, os automóveis (10%), produtos
França Brasil anuncia a índices de retomada de farmacêuticos (5,6%),
abertura da mostra de crescimento constatados em produtos químicos (4,9%) e
Guillaine Querrien, no dia 3 2004. Assim, as vendas aparelhos de recepção de
de agosto. A exposição, francesas para o Brasil no imagem e de som (3,3%).
FONTE: MISSION ECONOMIQUE DA EMBAIXADA
segundo Marcos Azambuja, é setor aeronáutico e espacial DA FRANÇA
um evento preparatório para o registraram um crescimento
Ano da França no Brasil, em de 23%. Os franceses detêm Ano da França no Brasil
2008. O evento, que tem o cerca de 3,7% do mercado Os ministros da cultura,
patrocínio do Consulado brasileiro nesta área. Gilberto Gil, do Brasil e
Geral da França, do Rio de Considerado o principal Donnedieu de Vabre, da
Janeiro, vai apresentar ao mercado latino-americano e França, deverão anunciar em
público brasileiro os mais um dos 25 países prioritários breve a programação do Ano
recentes trabalhos, nas técnicas para o comércio exterior da França no Brasil. Nos
de pintura e gravura, nas quais francês, o Brasil também é o moldes do que aconteceu na

Casa França-Brasil, projetada por Grandejean de Montigny, no século XIX. Museu do Ipiranga, em São Paulo.

Resultados Guillaine transita com grande 31º cliente e o 26º França, em 2005, quando a
A empresa francesa competência. Vivendo entre fornecedor da França. cultura brasileira ocupou
Cetelem chegou ao Brasil em Rio e Paris, Guillaine Querrien Com a retomada do teatros, galerias de arte e feiras
1996 numa parceria com o tem na flora brasileira, em crescimento de vendas no de negócios, em todas as
cartão Carrefour. Em 2006, especial no cenário do Jardim setor aeronáutico, considerada grandes cidades francesas, o
registrou, aqui, um Botânico, do Rio de Janeiro, muito boa, a corrente Ano da França será um evento
crescimento de 400% e hoje uma de suas fontes de comercial entre os dois países cultural, com
administra cerca de 1,1 inspiração. A gravadora e se fortalece. Os bens de desdobramentos nas áreas do
milhão de cartões emitidos mestra Anna Letycia assim equipamento constituem o turismo, da pesquisa, dos
no país. O seu cartão Aura é define seu trabalho: “Envolvida primeiro lugar na exportação negócios e universitária. A
usado para financiar compras com a densidade exuberante da França para o Brasil, data, inicialmente prevista para
em redes como a FNAC, da mata brasileira, esta artista chegando a 40%. Em seguida 2008, depende do calendário
Fotóptica, Colombo e francesa olha em sua volta e vêm os bens intermediários internacional do Brasil, mas o
Telhanorte. Segundo o devolve, através de suas (26%), e depois os bens de responsável pelo Setor de
Diretor Georges Régimbeau, gravuras, num olhar seletivo, consumo (15%) e os produtos Difusão Cultural do
“é parte de nossa estratégia uma paisagem árida e seca, da indústria automobilística Consulado, no Rio de Janeiro,
investir em países como o parece que se volta para o (12%) Bertrand Rigot Muller, não
Brasil, a Rússia, a Índia e a serrado, para a caatinga, onde a Os principais produtos tem dúvida do sucesso do
China”. natureza é mais agreste.” exportados pelo Brasil para a empreendimento.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • F R A N Ç A 71

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