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Federação das Câmaras de Comércio Exterior

Foreign Trade Chambers Federation

FCCE is the o ldest Trade Association dedicated In the recent past, the FOREIGN TRADE CHAM-
Exclusively to Foreign Trade activities. BERS FEDERATION – FCCE signed an accord with
Founded in 1950 by entrepreneur Joao Daudt de the CHAMBERS OF COMMERCE COUNCIL OF THE
Oliveira (who was also the founder of the National Trade AMERICAS, an organization representing the Bilateral
Federation five years earlier), FCCE has been in Chambers of Commerce in the following countries:
operation for over 50 years, motivating and supporting ARGENTINA, BOLIVIA, CANADA, CHILE, CUBA,
the work of Bilateral Chambers of Commerce, Foreign ECUADOR, MEXICO, PARAGUAY, SURINAM,
Consulates, Business Councils and Mixed Commissions URUGUAY, TRINIDAD AND TOBAGO and VENE-
at the federal level. ZUELA.
FCCE, by force of its Statute, has national scope with In addition to the several dozen Bilateral Chambers of
Regional Vice-Presidents in various states of the Commerce affiliated with FCCE throughout Brazil, the
Federation, and also operates in the international realm Presidents of these Chambers of Commerce belong to
through “Cooperation Convention’s” established with the current Administration: Brazil-Greece, Brazil-
various organizations of the highest credibility and Paraguay, Brazil-Russia, Brazil-Slovakia, Brazil-Czech
tradition. Among these is the International Chamber of Republic, Brazil-Mexico, Brazil-Belarus, Brazil- Portu-
Commerce (ICC) founded in 1919, with headquarters gal, Brazil-Lebanon, Brazil-India, Brazil-China, Brazil-
in Paris, which has more than 80 National Committees Thailand, Brazil-Italy and Brazil-Indonesia, in addition to
across the five continents, in addition to running the the President of the Brazilian Committee of the
most important “International Arbitration Court” in the International Chamber of Commerce, the President of
world, founded in 1923. the Brazilian Commercial Exporting Company Association
The FOREIGN TRADE CHAMBERS FEDERATION ABECE, the President of the Brazilian Railroad Industry
headquarters is located at Avenida General Justo 307, Association ABIFER, President of the Brazilian Container
Rio de Janeiro, which is also the main office of the Terminal Association and the President of the Mechanical
National Confederation of Commerce (Confederação Industries and Electric Material Union, among others.Also
Nacional do Comércio – CNC). The FCC and the CNC included are various Consuls and foreign diplomats,
have held a partnership for nearly two decades, working among them the Consul General of the Republic of Gabon,
through the “Administrative Support Convention and the Consul of Sri Lanka (formerly Ceylon) and the Trade
Mutual Cooperation Protocol.” Counselor Minister of the Portuguese Embassy.

The Administration
ADMINISTRATION FOR THE 2006/2009 TRIENNAL
President

JOÃO AUGUSTO DE SOUZA LIMA

1 st V i c e - P r e s i d e n t

PAULO FERNANDO MARCONDES FERRAZ

Vice-Presidents Vice-President Europe


Arlindo Catoia Varela Jacinto Sebastião Rego de Almeida (Portugal)
Gilberto Ferreira Ramos Vice-President Nor th
Joaquim Ferreira Mângia Cláudio do Carmo Chaves
José Augusto de Castro
Vice-President Southeast
Ricardo Vieira Ferreira Martins
Antonio Carlos Mourão Bonetti
Vice-President South
Arno Gleisner

Directors

Diana Vianna De Souza Luiz Oswaldo Aranha


Marie Christiane Meyers Marcio Eduardo Sette Fortes de Almeida
Alexander Zhebit Oswaldo Trigueiros Júnior
Alexandre Adriani Cardoso Raffaele Di Luca
Andre Baudru Ricardo Stern
Augusto Tasso Fragoso Pires Roberto Nobrega
Cassio José Monteiro França Roberto Cury
Cesar Moreira Roberto Habib
Charles Andrew T'Ang Roberto Kattán Arita
Daniel André Sauer Sergio Salomão
Eduardo Pereira De Oliveira Sizínio Pontes Nogueira
José Francisco Fonseca Marcondes Neto Sohaku Raimundo Cesar Bastos
Luis Cesario Amaro da Silveira Stefan Janczukowicz

Fiscal Council (Holders)

Delio Urpia de Seixas


Elysio de Oliveira Belchior
Walter Xavier Sarmento
EDITORIAL

APOIO
Desafios e oportunidades
com a China
Para discutir os desafios e oportunidades do relacionamento bilateral Brasil-China, a
Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE, por iniciativa de seu Presidente,
João Augusto de Souza Lima, realizou, em 17 de julho de 2006, em parceria com a
Câmara de Comércio e Indústria Brasil China, o SEMINÁRIO BILATERAL DE
COMÉRCIO EXTERIOR E INVESTIMENTOS BRASIL-CHINA. Mais de 300 pessoas,
entre homens de negócios, investidores, importadores, exportadores, técnicos do setor,
políticos, estudantes e jornalistas lotaram o auditório da CNC, no Rio de Janeiro para
entender a fórmula que levou a China a tornar-se, em apenas uma geração, a 4a maior
economia do mundo, ocupando o terceiro lugar como maior exportador e importador
mundial. A pujança de seu comércio exterior e as elevadas taxas de crescimento de seu
PIB são indicadores da seriedade de seus objetivos. Nesse ritmo, não há dúvidas de que
a China será, em breve, o maior parceiro comercial do Brasil.
Participaram dos painéis do seminário, entre outros, o Presidente da Câmara de
Comércio e indústria Brasil-China, Charles Tang; a Diretora Cultural da Câmara de
Comércio Brasil-China, Uta Schwietzer; o Vice-Diretor da Sinopec, Lou Hongzhi; o
Cônsul-Geral da China no Rio de Janeiro,Yan Xiaomin; o Secretário de Comércio Exterior
do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Armando Meziat; o
Delegado Federal do Ministério da Agricultura, Pedro Cabral; e o Chefe do Escritório
Regional de Representação do Ministério das Relações Exteriores, Embaixador Virgílio
Moretzsohn.
Os trabalhos do seminário foram abertos pelo Embaixador Plenipotenciário da China, CONSELHO DE
no Brasil, Chen Duqing, em cujo pronunciamento foi exaltada a necessidade de maior CÂMARAS DE COMÉRCIO
aproximação entre os dois países e um melhor aproveitamento das complementaridades DAS AMÉRICAS
econômicas e das possibilidades de cooperação. O pronunciamento especial do Senador
Ney Maranhão, um dos pioneiros, no Brasil, na defesa do estreitamento das relações
com a China, por sua vez, empolgou a platéia e confirmou a importância da China como Expediente
parceira comercial e de cooperação internacional. Concordando com a necessidade de Produção
se ampliar o relacionamento com a China, o Ministro de Estado das Cidades, Marcio Federação das Câmaras de Comércio Exterior – FCCE
Fortes de Almeida, encerrou o seminário e exaltou a premência da melhoria na qualidade Av. General Justo, 307/6o andar
Tel.: 55 21 3804 9289
de vida da população no Brasil, por meio do saneamento urbano, como forma de e-mail: fcce@cnc.com.br
promover o desenvolvimento humano e social. Editor
Muito concorrida foi a exposição do Superintendente da Associação Brasileira da O coordenador da FCCE

Indústria Têxtil – ABIT, Fernando Pimentel, sobre os desafios do setor têxtil no Brasil Textos e Repor tagens
Elias Fajardo
face à competição dos tecidos de origem chinesa. Fernanda Pereira Ferreira
Trouxemos para o leitor, nesta edição, o acompanhamento dos trabalhos do seminário José Antonio Nonato
Brasil-China. Nele, apresentamos o perfil do país mais populoso do mundo, com uma Projeto Gráfico, Edição e Ar te
Estopim Comunicação
classe média de cerca de 400.000.000 de pessoas, que, recentemente, foram incluídas Tel.: 55 21 2518 7715
na economia e tornaram-se consumidores com efetivo poder de compra. Ressaltamos, e-mail: estopim@estopim.com
também, o potencial do comércio exterior bilateral, diante das ainda tímidas trocas, a Revisão
Maria Virgínia Villela de Castro
despeito da evolução recente da corrente de comércio bilateral. Por fim, asseveramos
Fotografia
que o Brasil é um campo fértil para inúmeras oportunidades de investimentos que Christina Bocayuva
tenderão a ampliar-se com a efetivação das Parcerias Público Privadas – PPPs. Secretaria
Maria Conceição Coelho de Souza
Sérgio Rodrigo Dias Julio
BOA LEITURA
As opiniões emitidas nesta revista são de
responsabilidade de seus autores. É permitida a
O EDITOR reprodução dos textos, desde que citada a fonte.
SUMÁRIO

6 E N T R E V I S TA Uma brasileira expert em economia chinesa


Cheng Duqing Novos rumos no comércio bilateral
“É preciso um trabalho
intenso para aproximar 50 D E B AT E
mais ainda China e
Brasil” Indústria têxtil quer
Carlos Tavares de Oliveira mudança nas relações
“Os chineses não têm pressa e Confúcio está comerciais
de novo na moda” “Há 20 anos venho
dizendo que temos que negociar com a China”
18 A B E RT U R A
Duas grandes economias e boas
55 E M PAU TA
possibilidades de negócios O novo presidente do Conselho Superior

20 P A I N E L I 56 C U LT U R A
Um mercado estratégico A porcelana chinesa
para o Brasil e também no império do Brasil
para o mundo

24 P A I N E L I I 58 C A PAC I TA Ç Ã O
Senac: alternativas educacionais
Logística de transportes, petróleo e gás para o mundo do trabalho
natural em discussão

28 P A I N E L I I I 59 L O G Í S T I C A
Aeroporto Industrial:
Possibilidades e entraves no comércio mais agilidade com menos custos
bilateral

33 E N C E R R A M E N T O 60 INTERCÂMBIO
O maior potencial da China está em seu povo
Perspectivas positivas para o relacionamento
bilateral 61 H I S T Ó R I A
35 E S P E C I A L Futebol nasceu na China, com direito a
“embaixadinha”
A oficina do mundo
62 C O M É R C I O
39 A Ç Ã O SOCIAL “Nada supera o diálogo
pessoal na área de
SESC: Melhor idade comércio exterior”

40 T E N D Ê N C I A “Precisamos aprender a
vender com os parceiros chineses”
“Há diferenças entre o bem da coletividade e
o bem individual”
65 R E L A Ç Õ E S B I L AT E R A I S
“Em vez de negócios da China vamos ter 70 C U RTA S
negócios com a China”
ENTREVISTA

“É preciso um
trabalho intenso
para aproximar mais
ainda China e Brasil”
O Embaixador Extraordinário e Plenipotenciário da República Popular da
China, Chen Duqing, é um velho conhecido dos brasileiros. Desde a década
de 1970, quando foram estabelecidas relações diplomáticas entre o Brasil e a
República Popular da China, ele tem dado sua contribuição para aproximar
os dois países, seja como intérprete ou como negociador. Bastante bem-
humorado e otimista, ele acredita que o comércio é fundamental nas relações
bilaterais e que qualquer contencioso pode ser resolvido na mesa de negoci-
ações. Nesta entrevista, entre outros, Chen Duqing destaca o fato de que a
China está comprando do Brasil turbinas e acessórios para fazer funcionar a
sua gigantesca Hidrelétrica de Três Gargantas. Ressalta, também, o exemplo
da empresa brasileira Azaléia, que vai fabricar calçados, em território chinês,
com mão-de-obra local.

Hoje, o Brasil está importando China. Até o final do ano, este superávit
mais da Ásia do que da União Eu- tende a crescer ainda mais.
ropéia, um parceiro tradicional
do comércio exterior brasileiro. O que fazer para equilibrar mais o
Gostaria que o senhor comentas- comércio entre os dois países?
se esse fato. CD – Acredito que, como a China está
CD – Acredito que os produtos que o importando bastante do Brasil, sobretu-
Brasil precisa comprar no exterior não do minério de ferro, soja e outros produ-
aumentaram tanto em termos de quan- tos, não é possível neste momento – e
tidade. O que mudou foi a origem de- nem este é o desejo do meu país – buscar
les: em vez de comprar de outras regi- um equilíbrio absoluto nas trocas comer-
ões, os brasileiros têm optado por im- ciais com o Brasil. Não há como fazer isso.
portar mais da Ásia e, principalmente, Em 32 anos de comércio bilateral, ou seja,
da China. Mesmo assim, a exportação de 1974 a 2006, a China só teve superávit
da China para o Brasil é, ainda, menor em apenas quatro anos. O Brasil sempre
do que a venda de produtos brasileiros tem tido superávit, porque a China não
para os chineses. Até junho de 2006, está buscando o equilíbrio absoluto. Isso
pelas estatísticas do Ministério de De- não faz sentido. O importante é que a Chi-
senvolvimento, Indústria e Comércio na mantenha um certo superávit no seu
Exterior — MDIC, o Brasil tem cerca comércio global, inclusive com a Europa
de US$ 166 milhões de superávit com a e os Estados Unidos. Ela vem mantendo

6 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 7
ENTREVISTA

um déficit com a América Latina e o Su- teressados em realizar mudanças em


deste da Ásia. sua matriz energética?
CD – Acredito que sim. No final da déca-
Quais os produtos brasileiros mais da de 70, a China vendia petróleo para o
apreciados e consumidos pelos chi- Brasil e, hoje, está comprando petróleo
neses? brasileiro. Realmente, a situação se inver-
CD – Houve uma pequena mudança nos teu. No primeiro semestre de 2006, a
últimos tempos. Na década de 80, a China China comprou US$ 330 milhões em
comprava muitos produtos manufatura- petróleo brasileiro.
dos do Brasil, como carros, máquinas etc. O Brasil tem projetos muito interes-
À medida que as indústrias chinesas co- santes na área de etanol. O interesse chi-
meçaram a produzir com mais intensida- nês existe, mas, ao mesmo tempo, meu
de estes produtos, naturalmente houve país está procurando suas próprias alter-
uma redução na sua importação. Mesmo nativas para a troca da matriz energética,
assim, há uma troca quase eqüitativa em entre elas a produção de álcool industri-
termos de máquinas com o Brasil e, tam- al a partir do milho. Se o Brasil tem con-
bém, de autopeças. dições de fornecer etanol numa escala
No momento, estamos construindo a expressiva, a China pode, algum dia, vir a
Hidrelétrica de Três Gargantas, que vai ser
maior do que a de Itaipu, e as turbinas e
seus acessórios estão sendo comprados
“ A China vai estar sempre
disposta a fornecer mais,
comprá-lo.
Acredito que o empresariado brasi-
leiro tem de ser mais agressivo ao divul-
no Brasil. Destacam-se por serem com-
pras significativas.
desde que o Brasil precise
CHEN DUQINGN ” gar o seu etanol em busca de uma parce-
ria. Embora o consumo chinês de ener-
gia esteja sempre aumentando, a nossa
Ao contrário, que produtos os bra- calçados mantém uma unidade de pro- dependência do mercado externo, nes-
sileiros mais querem importar da dução na China. A Azaléia tem planos de tes termos, é de menos de 10%, ou seja,
China? fabricar 30 modelos de calçados em ter- mais de 90% do que consumimos é pro-
CD – No momento, posso dizer que o ritório chinês, usando mão-de-obra lo- duzido no próprio país. A produção chi-
interesse é bastante amplo. A China tem cal, qualificada e mais barata. Os mode- nesa de petróleo é quase o dobro da do
produtos de qualidade com preços com- los mais sofisticados continuarão a ser Brasil.
petitivos. Estamos interessados em au- fabricados no Brasil, e os modelos inter-
mentar nossas exportações de produtos mediários, vamos dizer assim, serão fa- Em seu país já existe a obrigato-
de grande intensidade tecnológica para o bricados na China. A Gerdau também está riedade de misturar álcool à gaso-
Brasil, como televisores, aparelhos de ar- se instalando em território chinês, para lina?
condicionado, computadores e compo- produzir certos tipos de aço. CD – Apenas em cinco províncias estão
nentes eletrônicos. A China vai sempre A China, por sua vez, tem intenção de sendo realizados testes para ver em que
estar disposta a fornecer mais, desde que começar a produzir no Brasil. Para que percentagem a mistura de etanol é mais
o Brasil precise. isso se efetive, é preciso um trabalho in- viável, no nosso país. A China tem um ter-
tenso de ambos os lados. ritório imenso, com climas muito diversi-
O comércio é visto, tradicionalmen- Lembro, ainda, que, em 2004, foi ce- ficados. No Sul, acho que esta mistura é
te, como uma atividade competiti- lebrado um acordo entre os presidentes possível, mas no Norte acho que não da-
va. A aproximação comercial, no do Brasil e da China para a compra de avi- ria, pois é muito frio e tenho a impressão
entanto, propiciou contatos, muitas ões da Embraer. A China já cumpriu sua de que o álcool ficaria congelado. Mesmo
vezes amigáveis, entre os povos. parte e comprou dez aviões RJ-145. assim, a mistura está sendo testada em cin-
Hoje, fala-se muito em cooperação. co províncias.
O senhor acha, por exemplo, que é Existe alguma parceria na área de Penso que o Brasil está sendo um exem-
possível haver algum tipo de par- energia? O Brasil está engajado num plo na busca de novas fontes energéticas. A
ceria entre a China e o Brasil? programa de biodiesel e é um gran- China também teria interesse em investir
CD – Deve existir uma grande poten- de produtor de etanol. A China tem nesta área, mas vai depender do trabalho
cialidade nesse setor, e acredito que os problemas de poluição causados dos dois países.
brasileiros podem participar, com inves- pelo uso intenso do carvão mineral.
timentos, da cadeia de produção na Chi- Haveria possibilidades de coopera- A China tem surpreendido o mun-
na. Ao que parece, o grupo Azaléia de ção, já que ambos os países estão in- do com um crescimento econômi-

8 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


co espantoso. Muitos comerciantes Entre chineses e brasileiros existe um
ficam receosos diante da chegada, ambiente muito propício ao entendimen- Um chinês ligado
em massa, de produtos chineses, to, e, realmente, não ficaria bem deixar ao Brasil
muito baratos. O seu país pretende que questões pequenas contaminassem
manter as atuais taxas de cresci- aquele ambiente. Chen Duqing nasceu em 1947, na
mento ou isso vai ser repensado? Houve uma tentativa brasileira de Província de Jiangsu. Em 1972, ingres-
CD – O nosso crescimento vem se regis- aplicar salvaguardas a alguns produtos sou no Departamento de Assuntos das
trando há 27 anos consecutivos. A China chineses, entre eles armações de ócu- Américas e Oceania do Ministério dos
era considerada um país atrasado e, em los, escovas de cabelo e peças para bici- Negócios Estrangeiros, da República
apenas uma geração, transformou-se na cletas. Acontece que esses são quatro Popular da China. Assim, sua trajetória
quarta economia do mundo. Isso realmen- itens pouco expressivos e não chegam a profissional passou a ter uma ligação
te é um fato. A minha opinião pessoal é de representar nem 1% das exportações mais forte com a América Latina e o
que é quase inviável manter um cresci- da China para o Brasil. Posso compre- Brasil. Em 1974, participou das nego-
mento de cerca de 10% ao ano.Temos que ender que algumas indústrias brasilei- ciações para o estabelecimento de re-
fazer alguma coisa para abaixar um ras se sintam prejudicadas em certos lações diplomáticas entre a China e o
pouquinho. Precisamos, sem dúvida, pen- aspectos, mas é preciso considerar que Brasil e, em 1984, foi um dos negocia-
sar em termos de longo prazo. são indústrias pequenas e com pouco dores para a abertura do Consulado
peso econômico. Cabe ao governo pon- Geral da China em São Paulo.
No primeiro semestre, o superávit derar se vale a pena aplicar salvaguardas De 1981 a 1985, foi adido, terceiro
favorável ao Brasil, na balança co- nesses casos. secretário e segundo secretário da Em-
mercial com a China, foi muito pe- No lado chinês, as portas estão abertas baixada da China no Brasil. Entre 1985
queno. Parte da imprensa e alguns para a negociação. Quando se fala em e 1990, foi subchefe e chefe de divisão
analistas acham que o Brasil pode contencioso, de certa forma, é até um bom do Departamento de Assuntos das
passar a ter déficit. O que o senhor sinal. Antigamente, como não existia co- Américas e Oceania do Ministério dos
pensa sobre isto? mércio entre os dois países, não tinha nem Negócios Estrangeiros da China. Em
CD – Eu não vejo esta possibilidade. Exis- como haver atritos. É natural que haja pe- 1990, foi nomeado cônsul-geral adjun-
te muita diferença nos cálculos. Se consi- quenas desavenças entre amigos íntimos. to da China em São Paulo. Em setem-
derarmos tudo, a tendência é o Brasil con- Deve-se encará-las com certa frieza e não bro de 1998, foi nomeado Cônsul-Ge-
tinuar com um superávit grande. No ano se deixar levar pela emoção. ral do Rio de Janeiro.
passado, o superávit foi de quase US$ 15 Durante as décadas de 80 e 90, foi o
bilhões, e as estatísticas brasileiras apon- Algumas empresas chinesas se com- intérprete oficial de altas missões chi-
taram cerca de US$ 12 bilhões. prometeram a fazer, no território nesas no Brasil e de missões brasileiras
brasileiro, investimentos que, até em visita à China.
Existe algum contencioso do Brasil agora, não chegaram a se realizar. Em março de 2006, voltou a ser-
com a China na área comercial? Como estão os investimentos do seu vir no Brasil, tendo sido nomeado
Como ficou a questão das salvaguar- país no Brasil? embaixador extraordinário e plenipo-
das, uma possibilidade que chegou CD – Uma coisa são as intenções com- tenciário.
a ser levantada pelos brasileiros? prometidas, outra é colocá-las em práti- Em agosto de 1994, foi agraciado
CD – As salvaguardas são um mecanismo ca. Tudo isto leva tempo. Um dos proje- pelo governo brasileiro com a Ordem
permitido pela própria Organização Mun- tos cogitados é o de um complexo na do Cruzeiro do Sul, no grau de oficial.
dial do Comércio – OMC, mas também área siderúrgica, que até agora não se efe-
são uma concessão que a China, na hora tivou por problemas internos do Brasil. Onde o senhor aprendeu a falar por-
de acessar a OMC, foi obrigada a fazer. Nesse sentido, em vez de negociar ape- tuguês tão bem e com sotaque bra-
Em nossa opinião, quando surge algum nas com a Vale do Rio Doce, estamos, sileiro? Qual a sua ligação pessoal
conflito, a melhor política é fazer consul- também, começando a conversar com a com o Brasil?
tas diretas entre um país e outro, analisan- Companhia Siderúrgica Nacional. Quan- CD – Durante dois anos e quatro meses,
do cada produto ou cada grupo de produ- to à Ferrovia Norte-Sul, a situação é mais aprendi português em Macau, com sota-
tos. Penso que não se deve recorrer ime- complexa. que lusitano, há cerca de 40 anos. A partir
diatamente a salvaguardas, porque isto sig- De uma maneira geral, eu diria que al- de 1972, quando ingressei no Ministério
nifica sempre um processo complicado. guns empecilhos estão do lado chinês, ou- dos Negócios Estrangeiros, o meu tema
Existem, também, possibilidades de tros, com o lado brasileiro. Como em qual- do dia-a-dia passou a ser o Brasil e a Amé-
serem adotadas outras práticas, como o quer negócio, todas as questões surgidas rica Latina. Eu me especializei nesta área e
dumping. pertencem aos dois lados. já servi três períodos no Brasil.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 9


ENTREVISTA

“Os chineses não


têm pressa e
Confúcio está de
novo na moda”
Autor de uma famosa e pioneira reportagem de seis páginas sobre a China,
publicada pela revista Comércio e Mercado, no ano de 1971 – o Brasil só
estabeleceu relações com a China em 1974 – Carlos Tavares de Oliveira,
Assessor de Comércio Exterior da Confederação Nacional do Comércio –
CNC, é um dos brasileiros que melhor conhece a realidade chinesa .

Autor de cinco livros sobre a China – um deles prefaciado pelo ex-Presi-


dente Fernando Henrique Cardoso – esse sinólogo brasileiro luta, há anos,
por um conhecimento mais profundo entre os dois países. Ele defende o
atual modus vivendi do povo chinês, a atuação do seu governo e tantos outros
padrões culturais, sociais e econômicos que lhe são peculiares e cuja avalia-
ção produz duras polêmicas na mídia ocidental.

Embora Carlos Tavares de Oliveira seja um grande estudioso dos números


do intercâmbio Brasil-China, privilegiou-se, nesta entrevista, o viés cultu-
ral e político desse conhecedor da milenar civilização chinesa.

Em sua opinião, qual é a importân- CTO – Acho que existe, entre os brasilei-
cia deste seminário? ros, de um modo geral, um preconceito
CTO – Um seminário como este é im- contra a China. Enquanto os chineses en-
portante pelos seus objetivos, que são o tendem o nosso país e adoram os brasilei-
de divulgar a realidade chinesa e o de ros – principalmente, porque nós fomos
incrementar as relações comerciais entre um dos poucos grandes países do mundo
os dois países. No meu entender, contu- que não os assaltaram e nem os saquearam
do, o mais importante é a divulgação da – nós alimentamos esse preconceito, cujas
China no Brasil, porque nós não a conhe- origens, a meu ver, são diversas. O primei-
cemos. Na mídia, na opinião pública e, ro preconceito diz respeito à ausência de
mesmo em nossas universidades, a reali- religião na China. Os brasileiros não admi-
dade deste país é completamente desco- tem a idéia de que os chineses, em sua qua-
nhecida. se totalidade, são ateus. As realidades são
numericamente opostas: enquanto aqui,
A que o senhor atribui esse desco- 92% de brasileiros professam alguma reli-
nhecimento? gião, lá, só 8% o fazem, corrsepondendo a

10 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 11
ENTREVISTA

um total de 100 milhões de crentes (entre Quer dizer que a China não é um
eles, 30 milhões de budistas e 4 milhões país totalitário?
de católicos), o que é pouquíssimo para CTO – Claro que não. O presidente da
uma população de 1,3 bilhão de pessoas. república não pode ocupar o cargo por
O segundo preconceito diz respeito ao mais de dez anos, mesmo que seja um gê-
Partido Comunista. Os brasileiros acham nio. A eleição dos parlamentares é indire-
que a China é um país comunista, e não é. ta, nas províncias, que correspondem aos
O que ocorre é que o Partido Comunista nossos estados, e, direta, no primeiro es-
tem representantes no poder. Aqui no calão, nos cantões, correspondentes aos
Brasil, o presidente da Câmara dos Depu- nossos municípios. Ocorre por lá um
tados também é comunista. Muitos de processo muito interessante: um grupo
nossos ministros são comunistas, e daí...? de 15 pessoas pode indicar um candidato
Os comunistas participam do poder na para a enorme Assembléia Geral, que se
Alemanha, na Argentina, no Chile e o reúne no mês de março; e um comitê de-
mesmo ocorre na China. legado pela assembléia, composto por
Finalmente, há um forte preconceito 100 deputados, acompanha a legislatura
na mídia brasileira – e ocidental, de um durante o ano inteiro. As leis são aprova-
modo geral – quanto ao papel e à atuação das por essa assembléia geral, na reunião
da imprensa naquele país. Aqui, nós man- de março. Onde está, então, o totalitaris-
temos o princípio de assegurar a liberda-
de das empresas de comunicação, o que
lá não existe. Há, sim, uma outra cultura,
sólida e profunda, que tem mais de oito
“ A China tem o maior
corpo eleitoral do mundo:
700 milhões de eleitores
mo? É o sistema deles...

Os chineses são livres para entrar e


sair de seu país?
mil anos, enquanto a brasileira tem ape- que elegem câmaras CTO – É óbvio que sim. Nos dias de hoje,


nas 500. Para se ter uma idéia da extensão os chineses constituem o maior contin-
dessa cultura, basta dizer que, das 300
municipais e estaduais gente de turistas no mundo inteiro. Eu
utilidades de que os brasileiros se ser- C A R L O S T AVA R E S DE OLIVEIRAN estive no ano passado em Paris que, como
vem diariamente, 150 são de origem chi- se sabe, é uma Meca para os brasileiros.
nesa. A fazenda deste terno que eu estou Harvard, e, nela, falou sobre os povos que Pois bem, havia mais chineses que brasi-
usando, por exemplo, é chinesa. Minha invadiram seu país, em 1844 e 1846, como leiros por lá. E tem mais: a previsão é de
gravata também. Foram os chineses que a França e a Inglaterra. Poupou os Estados que, em 2010, a China receberá o maior
inventaram o tecido, a cerveja, a pólvora, Unidos, é verdade, apesar de um batalhão número de turistas em todo o mundo.
o espelho e, até a FIFA reconheceu, re- americano haver participado do saque à Esses dados comprovam que, tanto seus
centemente, que foram eles que inven- Cidade Proibida, em 1846. Nessa mesma habitantes, quanto os estrangeiros, podem
taram o futebol. conferência – ao fim da qual foi aplaudido entrar e sair do país, gozando de completa
de pé, por 2,5 mil estudantes - ele tam- liberdade.
Não é estranho que a China censure bém abordou o tema dos direitos huma-
a internet, por exemplo? nos e disse que, para os chineses, eles con- Como se explicam aquelas passea-
CTO – Não. Um país que tem 1,3 bilhão sistiam no direito à educação, à saúde, à tas e marchas que, pela televisão,
de habitantes vivendo numa área de 9 mi- alimentação e à moradia. vemos desfilar pelas ruas de Hong
lhões de quilômetros quadrados precisa Quanto à questão da escolha dos diri- Kong, em que os manifestantes
de uma certa disciplina. Como já disse, gentes e do processo de votação, isso é portam faixas e gritam palavras de
esse é um fator da cultura chinesa. Por uma sistemática que vem evoluindo no protesto, reclamando autonomia
que é que todos os países têm que tratar país. Realmente, nos dias de hoje, poucos para sua administração e mais li-
os problemas da mesma forma? Quem sabem, mas a China tem o maior corpo berdade?
decidiu que a república e a democracia eleitoral do mundo inteiro. São 700 mi- CTO – São pequenos grupos, inexpres-
devem ser a regra geral? A Dinamarca é lhões de eleitores, que votam em seus sivos. Como você sabe, há um grupo no
um reino. A Suécia e a Inglaterra também. cantões e províncias e elegem as câmaras Rio Grande do Sul que é a favor da inde-
Dependendo da colocação, essa questão municipais e estaduais, constituídas por pendência do estado em relação à fede-
dos direitos humanos pode ser uma im- cerca de 2 milhões de parlamentares, os ração brasileira. É a mesma coisa... Hong
postura. Uma vez, há cerca de dois anos, o quais elaboram e referendam as leis do Kong sempre pertenceu à China, alguém
Presidente da China, Hu Jintao, fez uma país. Trata-se de uma administração tem dúvida? Da mesma forma, o Tibete.
conferência genial, na Universidade de colegiada. Sabe quando é que o Tibete passou a fa-

12 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


zer parte do país? No século VII... Aqui, mado. Sua eleição só ocorreu em 1924. esse atraso. Quanto ao Grande Salto,
isso é ignorado; não se conhece história. Quanto a esse modelo de eleições de aquilo foi uma bobagem, que não deu
Os brasileiros não sabem que isso vem que falei, e que se acha em vigor, esteve em nada; não foi uma medida opressora
desde que a união entre os dois países foi lá para estudá-lo o ex-Presidente ame- ou violenta, foi apenas um erro de ava-
ratificada, ainda no século XIII, quando ricano Jimmy Carter, uma figura insus- liação. Logo depois disso, assumiram o
Kublai Kahn fez casar uma sobrinha sua peita, que declarou que o processo elei- poder, sucessivamente, dois gênios po-
com o mandarim do Tibete. Os tibetanos toral chinês está correto. Quer mais? líticos, Chou En-Lai e Deng Xiaoping, e
são uma das 56 etnias que compõem o não se falou mais nisso. É preciso reco-
povo chinês. A Inglaterra queria ficar com Não deveriam existir outros parti- nhecer que os chineses não têm pressa.
este país – assim como, em 1846, tinha dos, com outras ideologias, e que O que nós queremos resolver em uma
se apoderado de Hong Kong, durante a propiciassem debates sobre os ru- semana, eles dão um ano de prazo para
Guerra do Ópio – e não conseguiu, mas mos da administração? solucionar. Uma vez, lá na China, um
isso é outra história. Aliás, Hong Kong, CTO – Não há outros partidos. Quem intelectual me perguntou porque é que
dito pelos próprios americanos, foi re- indica os deputados, vereadores, enfim, o eu ficava, tão ansioso para fazer com que
conhecida como a região onde existe a corpo dos administradores são entidades eles conhecessem melhor o Brasil. Res-
mais livre e ampla economia de merca- da sociedade civil, como associações de pondi que era pelo fato de não ser chi-
do em todo o mundo. moradores, associações de classe, sindi- nês e, sim, latino. Em seguida, pergun-
catos etc. Diga-se, de passagem, que, atu- tei quando ele achava que os brasileiros
Isso não entra em contradição com almente, a maioria das prefeituras não é iam entender a China. Ele respondeu:
os padrões da economia chinesa? comunista. Participei de um debate com “daqui a uns 50 anos.” Pois bem, até lá já
CTO – Absolutamente. jornalistas chineses: 40 deles reuniram-se estarei morto, mas, enquanto puder, vou
para me fazer perguntas sobre o Brasil. Ao seguir a máxima de Confúcio: “apren-
Quer dizer que a China de hoje é abrir minha fala, eu perguntei, para me si- der para divulgar”.
capitalista? tuar, quantos deles eram membros do
CTO – Claro, trata-se de um regime de Partido Comunista, e só havia oito, o que Confúcio voltou à moda por lá?
economia de mercado. Ela faz parte da representa uma proporção diminuta de um CTO – Totalmente, o que é uma mara-
Organização Mundial do Comércio – quinto do total. Perguntei a um diretor de vilha. O Partido Comunista acaba de
OMC. Já a Rússia, não. Cerca de 60% da jornal, que não era marxista, como são as decidir que os princípios enunciados
economia chinesa está submetida às leis relações da imprensa com o partido que por Confúcio voltarão a fazer parte in-
do mercado e, quanto à exportação, mais está no poder. Ele respondeu que, sendo tegrante da cultura chinesa e que os li-
da metade é realizada pelas multinacionais eu um sinólogo que conhece profunda- vros dele serão reeditados e distribuí-
que operam no país. Você acha que isso é mente a civilização e a história chinesas, dos a todos os seus habitantes. Foi uma
comunismo? É brincadeira! sabia que os seus compatriotas haviam se decisão da última assembléia do parti-
livrado de imperadores muito mais pode- do. Seus ensinamentos farão parte do
Como é que se explica o fato de o rosos do que o Partido Comunista. Disse currículo escolar e o governo vai finan-
Partido Comunista ser hegemônico? mais: se o Partido Comunista se deixasse ciar a organização de associações cultu-
CTO – Caso houvesse uma eleição, contaminar pela corrupção, ou não aten- rais, sob a forma de fundações, para es-
agora, na China, o que seria algo inédi- desse a suas obrigações em relação à saú- tudar e divulgar o confucionismo em
to, garanto a você que o Partido Comu- de, à educação, à administração, e não con- 50 países, inclusive o Brasil. Eu acho
nista ganharia, com 99% dos votos. Lá, tinuasse a impulsionar a economia do país, essa decisão maravilhosa, porque Confú-
nunca houve eleições diretas. Sua cul- seria também afastado. cio é genial! Temos que valorizar seu
tura, como já disse, é diferente. Não respeito aos mais velhos, à família, à hi-
queira pensar este país com os padrões Como explicar, os contratempos erarquia, ao estudo e ao saber. Foi ele,
das democracias ocidentais, pois é ou- enfrentados pelo comunismo chi- aliás, quem instituiu os primeiros con-
tra a realidade. Na história da China, nês, como o “Grande Salto”, que fi- cursos para preencher os cargos da ad-
nunca ocorreu um fenômeno como a zeram o país regredir economica- ministração, premiando o mérito em lu-
Revolução Francesa, com tanta ênfase mente, e a Revolução Cultural, cujos gar do sangue ou da posição social dos
na defesa dos direitos humanos. O mo- princípios ultra-nacionalistas e sec- candidatos a funcionários do governo.
delo atual, que tem eleições indiretas, tários foram repudiados depois de Na verdade, ele propôs, mas não con-
só começou em 1911, quando foi pro- muita violência? seguiu implementar a realização de con-
clamada a república, no período de Sun CTO – A Gangue dos Quatro, que co- cursos para diversos órgãos do poder, o
Yat-Sen, que, a propósito, em seu pri- mandou a Revolução Cultural, foi pre- que teria sido uma revolução democrá-
meiro mandato, não foi eleito, mas acla- sa e pagou bem caro pelo erro e por tica, muito antes de Cristo.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 13


Pesquisa por produto, país de de s
ou nome do exportador

Disponível em 4 idio m
inglês,espanhol e f r

Relação d
atu a
e stino

o mas: português,
f rancês

o de exportadores
u alizada mensalmente
ABERTURA

Duas grandes economias e


boas possibilidades de negócios

Charles A.Tang, Senador Bernardo Cabral, Senador Ney Maranhão e o Embaixador Chen Duqing, da República Popular da China.

sessão solene de abertura do Se- Investimentos Brasil-China. Gostaria de cia, o Senador Bernardo Cabral, Consultor

A minário Bilateral de Comércio Ex-


terior e Investimentos Brasil-Chi-
na começou com a palavra de João
compor a mesa da sessão solene de abertu-
ra convidando o Doutor Carlos Tavares de
Oliveira, Assessor de Comércio Exterior
da CNC e representante da presidência da
CNC; e, também, o convidado especial e
responsável pelo pronunciamento especi-
Augusto de Souza Lima, que assim se pro- da Confederação Nacional do Comércio al, o nosso querido Senador Ney Maranhão.
nunciou: – CNC; o Doutor José Augusto de Castro, É, também, uma grande honra para mim
“Na qualidade de Presidente da Federa- Presidente da AEB e Vice-Presidente da anunciar a presença e convidar para presi-
ção das Câmaras de Comércio Exterior e, FCCE; o Doutor Pedro Cabral, Delegado dir esta sessão o enviado extraordinário e
com o devido apoio e a participação do se- Federal do Ministério da Agricultura, Pe- representante da República Popular da
nhor Presidente da Confederação Nacio- cuária e Abastecimento; o Doutor Arthur China, Embaixador Chen Duqing.”
nal do Comércio – CNC, Antônio Oliveira Pimentel, Diretor do Departamento de O Embaixador Plenipotenciário da
Santos; do Presidente da Câmara de Co- Comércio Exterior do Ministério do De- República Popular da China, Chen
mércio Internacional – ICC, Professor senvolvimento, Indústria e Comércio Ex- Duqing, começou agradecendo o convi-
Theóphilo de Azeredo Santos; do Presi- terior – MDIC; o Doutor Carlos Thadeu te para participar do seminário e, em se-
dente da Associação de Comércio Exterior de Freitas Gomes, Chefe do Departamen- guida, passou a fazer seu pronunciamen-
do Brasil – AEB, Doutor Benedicto Fon- to Econômico da CNC e ex-Diretor do to de abertura, no qual procurou traçar
seca Moreira; e do Presidente do Conse- Banco Central do Brasil; e o Presidente da um breve retrato contemporâneo da eco-
lho de Câmaras de Comércio das Améri- Câmara de Comércio e Indústria Brasil- nomia e do comércio de seu país. Ele
cas, Doutor Marcondes Neto, eu tenho o China, Doutor Charles A. Tang. Eu chamo, destacou que há algumas décadas, a Chi-
prazer de dar início aos trabalhos deste Se- ainda, o Senhor Cônsul-Geral da China no na era considerada um país atrasado, fe-
minário Bilateral de Comércio Exterior e Rio de Janeiro,Yan Xiaomin; Sua Excelên- chado em si mesmo, mas, que, em ape-

18 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


nas uma geração, surpreendeu o mundo,
transformando-se na quarta economia
do planeta. “Temos tido um crescimento
econômico expressivo há 27 anos con-
secutivos”, afirmou. Nesse ponto de seu
pronunciamento, o embaixador citou,
demonstrando bom humor, o ex-Minis-
tro da Fazenda, Antônio Delfim Netto,
que, em artigo publicado recentemente
na imprensa, afirmou: “A China mudou”.
Tais mudanças, segundo o embaixador,
têm-se traduzido em melhoria de quali-
dade de vida para os chineses e num au-
mento extraordinário do volume do co-
mércio internacional do seu país.
Em seu pronunciamento especial, o
Senador Ney Maranhão, Assessor Especi- Arthur Pimentel, Diretor do Departamento João Augusto de Souza Lima, Chen Duqing e
al do Governo do Estado de Pernambuco, de Comércio Exterior do MDIC. Theóphilo de Azeredo Santos.
afirmou que há muitos anos vem dizendo
a todos os brasileiros, principalmente aos Brasil tem um potencial de negócios gi-
políticos, que a China tem uma impor- gantescos com a China e que isto deveria
tância crucial para o mundo contemporâ- ser prioritário, ao invés de pensarmos ape-
neo. O Senador Ney Maranhão destacou- nas na Europa como nosso parceiro pre-
se, entre outros, por sua visão pioneira, à ferencial.”
frente de seu tempo, ao perceber a pujan- Segundo o senador, a China tem cerca
ça que a China viria a ter no comércio in- de um quinto da população do planeta, e o
ternacional contemporâneo. Brasil ainda vende a este país apenas US$
“Há mais de 20 anos eu afirmava que, 14 ou 15 bilhões, ou seja, menos de 0,5%
um dia, todo o mundo iria conhecer me- do que a China tem necessidade de com-
lhor o gigante amarelo. Está aí o resultado. prar no mercado mundial. Trata-se de uma
Venho insistindo muito na idéia de que o participação muito tímida, diante do rol de

Em busca de uma aproximação Carlos Thadeu de Freitas Gomes, Chefe do


com a China Departamento Econômico da CNC.

Há décadas o Senador Ney Maranhão


vem se dedicando a um traba- possibilidades que a China tem a oferecer.
lho de aproximação co- “Os chineses, dentro de alguns anos,
mercial e política com a vão comandar a economia do mundo, e,
China. Em sua atuação por isso, é preciso estabelecer alianças
parlamentar, ele vem des- com eles em todos os níveis”, afirmou o
tacando a maneira como senador pernambucano.
aquele país asiático tem re- Ney Maranhão analisou, ainda, em seu
solvido seus problemas só- pronunciamento especial, os maiores entra-
cio-econômicos. O senador ves ao desenvolvimento brasileiro que, se-
tem enfatizado, também, em gundo ele, têm reflexos no nosso comércio
diversas publicações, a necessi- exterior. Ele criticou os altos impostos na
dade de o Brasil lutar pelo res- nossa economia e os rigores da legislação
peito aos direitos fundamentais de trabalhista que, a seu juízo, deveria ser modi-
seus cidadãos, que, segundo ele, ficada. Segundo o senador, tal como está, a
incluem o acesso ao trabalho, à educa- legislação que regula o trabalho no país con-
ção e a uma boa qualidade de vida. tribui para colocar na ilegalidade cerca da
metade da mão-de-obra brasileira.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 19


PAINEL I

Um mercado estratégico para o


Brasil e também para o mundo
Em 2006, comércio Brasil-China cresceu percentualmente mais que o
dobro da corrente comercial brasileira com o mercado mundial
desta nação, sendo, ao mesmo tempo, um
convite para aguçar o interesse de todos
em visitar a República Popular da China.

Intercâmbio cultural
Uta Schwietzer concluiu: “gostaria de
salientar que é muito importante o co-
nhecimento da cultura para que possamos
fomentar mais o intercâmbio bilateral. A
Câmara de Comércio e Indústria Brasil-
China, que represento aqui, tem levado,
por intermédio do seu departamento cul-
tural, o cinema brasileiro para participar
da Mostra de Cinema Internacional de Te-
levisão de Xangai. Há mais de 12 anos, te-
mos apresentando as produções brasilei-
ras lá, o que proporciona uma maior visi-
bilidade de nossa cultura e, também, te-
mos trazido produções chinesas para se-
rem exibidas aqui. A intenção é fomentar
este intercâmbio cultural, pois ele, ao pos-
sibilitar maior conhecimento da realidade
Uta Schwietzer presidiu o painel que teve como moderador Carlos Tavares de Oliveira. de cada país e de suas necessidades, facili-
ta as trocas comerciais e a realização de
Para compor a mesa do painel I do do Comércio Exterior do Ministé- negócios.”

Seminário Bilaterial de Comércio rio de Desenvolvimento, Indústria O preconceito


Exterior e Investimentos Brasil-Chi- e Comércio Exterior — MDIC, Fá- O moderador Carlos Tavares de Oli-
veira, que já publicou cinco livros sobre a
na, a presidente do painel, Diretora bio Martins Faria, e o Delegado Fe- China, declarou ter tido a sorte – ou a
Cultural da Câmara de Comércio e deral do Ministério da Agricultura, sensibilidade – de escrever a primeira
grande reportagem sobre a China, publi-
Indústria Brasil-China, Uta Schwiet- Pecuária e Abastecimento – MAPA, cada na imprensa brasileira em 1971.
zer, convocou o Assessor de Comér- Pedro Cabral, foram convidados à “Naquela época, sob o regime militar,
a publicação desses dados, antes mesmo
cio Exterior da Confederação Na- mesa como expositores. da abertura de Deng Xao Ping, em 1978,
cional do Comércio — CNC, Carlos foi algo muito interessante. Consegui in-
ta Schwietzer deu início aos traba- formações importantes sobre a China em
Tavares de Oliveira, como modera-
dor. O Diretor do Departamento de
Planejamento e Desenvolvimento
U lhos exibindo um documentário
sobre a China. Segundo ela, foi uma
oportunidade de mostrar àqueles que não
uma viagem que fiz aos Estados Unidos,
que já consideravam a população chinesa
como o grande mercado do futuro. Os
conhecem o país, a face contemporânea americanos não brincam em matéria de

20 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


comércio. Comecei, então, a me interes- tem a maior torcida de futebol do mundo
sar por esse país.”
Sustentando um ritmo intenso e, se 15% dessa população torcer pelo
Nas palavras de Carlos Tavares de Oli- de crescimento econômico há Brasil, já é mais do que a torcida brasileira
veira, se a China é interessante para os Es- 25 anos, a China vive, hoje, inteira”.
tados Unidos, ela tende a sê-lo, também, entre a tradição (representada
para o Brasil. Para que isso ocorra, é pre- pela Grande Muralha) e a Intercâmbio comercial
ciso que olhemos os chineses com uma contemporaneidade futurista Fábio Martins Faria iniciou sua exposi-
mentalidade aberta e sem preconceitos. ção acentuando o crescimento expressi-
dos arranha-céus.
“Para publicar a matéria aqui no Brasil, vo ocorrido nos últimos anos no comér-
eu tive que mostrar que os dados tinham cio bilateral. Ele acrescentou dados e nú-
sido colhidos em fontes oficiais do gover- gundo o jornalista, é a questão da liberda- meros sobre essa tendência.
no americano, ganhando, assim, carta bran- de. “Falar de direitos humanos com uma “A China, hoje, é o maior parceiro do
ca. Desde então, comecei a me apaixonar população de 1,3 bilhão de pessoas, com Brasil na Ásia, com um volume de negó-
pela China e leio sempre, diariamente, 56 etnias, vivendo em 9 milhões de quilô- cios que ultrapassa as cifras de nosso mai-
sobre o país. Descobri, nestes 30 anos de metros quadrados de área, é algo interes- or parceiro tradicional, o Japão. Ela tem
pesquisa, que, no Brasil, existe um grande sante. Os direitos básicos para os chineses assegurado, ainda, o terceiro lugar entre
preconceito contra a China e investiguei a são a alimentação, a educação, a saúde, a os principais países de destino das nossas
fundo as possíveis causas deste fenôme- moradia, o vestuário. Os outros direitos exportações, assim como é uma origem
no. Uma deles é a religião. Os brasileiros políticos, na visão do povo, são coisas que importante das importações brasileiras.
são religiosos, enquanto são poucos os virão a seu tempo. Esse é um preconceito Em 2005, o comércio bilateral ultrapas-
chineses que professem uma fé. Eles são que envolve os direitos humanos, culti- sou US$ 12 bilhões e, em 2006, este rit-
tolerantes em relação ao nosso misticis- vado, em boa parte, pela imprensa oci- mo acelerado tem se mantido. A corrente
mo, mas o brasileiro não aceita tão facil- dental. O brasileiro não conhece a China, de comércio cresceu 44% entre janeiro e
mente o ateísmo do povo chinês. A cultu- o que é uma pena. Existe uma certa pre- junho de 2006, percentual muito superi-
ra chinesa tem oito mil anos; a brasileira, venção, apesar de os chineses adorarem o or, inclusive, ao da corrente brasileira com
apenas quinhentos.” Brasil. O embaixador da China lembrou, o mercado mundial, que está em torno de
Um outro motivo de preconceito, se- há pouco, acrescentou, ainda, que a China 20%. É, portanto, mais que o dobro.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 21


PAINEL I

Segundo o diretor do Departamento Para Fábio Martins Faria, o crescimen-


de Planejamento e Desenvolvimento do to do comércio exterior chinês é espeta-
Comércio Exterior do MDIC, a China foi cular nos últimos anos. Trata-se de um
o terceiro maior país comprador de pro- mercado estratégico para o mundo, inclu-
dutos brasileiros em 2005, adquirindo, sive para o nosso empresariado. “Hoje,
principalmente, produtos básicos. nenhuma empresa brasileira pode operar
“Em termos qualitativos, vendemos mais no mercado global sem pensar na China”.
matérias-primas e produtos básicos, mas Em sua exposição, Fábio Martins Faria
temos a expectativa de que aumente a ven- considerou a taxa de câmbio um dos fato-
da de manufaturados para a China, mesmo res importantes para o vertiginoso cres-
havendo concorrência entre os dois países cimento econômico chinês, nos últimos
em alguns itens do setor. O principal pro- anos. “A China mantém uma taxa de câm-
duto que vendemos aos chineses, em 2005, bio muito baixa, o que torna seus produ-
foi o minério de ferro, seguido da soja. A tos muito mais competitivos no mercado
China tem sido o terceiro fornecedor do internacional”.
Brasil, vendendo, sobretudo, componen- Outro fator de crescimento é a mão-de-

“ Hoje, nenhuma empresa


brasileira pode operar
no mercado global
tes para a nossa indústria. São produtos de
maior valor agregado, que serão utilizados
na montagem de outros produtos no Bra-
sil. Há algumas matérias-primas também,
obra barata. “O salário mínimo da China é de
U$ 72, mas vemos que, pela paridade do
poder aquisitivo naquele país, quem ganha
salário mínimo lá vive muito melhor do que
sem pensar na China
FÁBIO MARTINS FARIAN ” mas o mais importante são os componen-
tes utilizados na área de eletro-eletrônica e
de informática.”
quem ganha salário mínimo aqui.Temos que
notar, também, que a mão-de-obra especi-
alizada está ficando muito escassa na China.

Mão-de-obra
Pilotos
made in Brazil
China contrata brasileiros que a crise
do setor aéreo deixou sem emprego

ara os especialistas, a China será, em


P quinze anos, o maior mercado do
mundo para a aviação. O setor aéreo cres-
ce em torno de 15% ao ano. Com a ex-
pansão da aviação chinesa, aumenta o nú-
mero de vagas para pilotos experientes,
profissionais que o Brasil tem a oferecer
por conta da crise nesta área.
Nos últimos anos, várias empresas aé- Empresas chinesas pagam um salário de US$ 8.750 para o comandante de um Boeing 737.
reas chinesas têm contratado pilotos bra-
sileiros oriundos de companhias como Não é apenas a área de transporte aé- gestão e especialização. Assim, a quarta
Varig, Rio Sul, Vasp e Transbrasil. Desde reo que necessita, de imediato, de mão- economia do mundo (atrás, apenas, dos
2001, quando se agravou a crise brasileira de-obra especializada e treinada. Nenhum Estados Unidos, Japão e Alemanha) está
no setor, começaram as contratações e, país cresceu tão rápido e em tão pouco exportando executivos em busca de qua-
hoje, há cerca de 115 pilotos brasileiros tempo como a China, ao longo dos últi- lificação, especialmente nos Estados Uni-
trabalhando na China. mos 20 anos. Por conta disso, e devido ao dos. Está contratando gestores de outros
Em 2005, as 27 empresas aéreas chi- fato de que, há algumas décadas, o gover- países para suprir a demanda de suas em-
nesas transportaram 138 milhões de pes- no chinês não costumava investir intensa- presas. Tudo isso, em razão da abertura de
soas, com crescimento de 15,5% em re- mente em educação, há uma relativa falta seu mercado e do crescimento econômi-
lação a 2004. de mão-de-obra qualificada em cargos de co e financeiro.

22 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Balança comercial brasileira – 2006
Exportações Importações Saldo

Jan-Jun 2006 60.901 41.360 19.541

Jan-Jun 2005 53.677 34.023 19.654

Balança comercial do agronegócio brasileiro – 2006


Exportações Importações Saldo

Jan-Jun 2006 21.358 2.985 18.373

Jan-Jun 2005 20.201 2.481 17.720


Fonte: MAPA e MDIC

Com esse gigantesco ritmo de crescimento em especial para a China, país de popula-
econômico, sustentado por quase um quar- ção gigantesca que possui apenas 16% de
to de século, os engenheiros e outros pro- seu território, agricultável. “O agrone-
fissionais especializados têm obtido aumen- gócio é responsável, em grande parte, pe-
tos salariais significativos”.

Demanda por alimentos


las intensas relações bilaterais brasileiras e
pelo superávit da balança comercial brasi- “ O agronegócio é responsável,
em grande parte, pelas intensas


leira em relação a diversos países. O pro-
Na visão do Delegado Federal do Mi- duto com maior destaque nas exporta- relações bilaterais brasileiras
nistério da Agricultura, Pecuária e Abaste- ções de alimentos para a China é a soja.” PEDRO CABRALN
cimento, Pedro Cabral, o Brasil é um gran- Para Pedro Cabral, o Brasil precisa
de celeiro de alimentos para o mundo, competir no exterior com base nos cus- cional. Haverá lá, portanto, uma forte de-
tos reais dos produtos e não nos subsídi- manda de produtos alimentícios, e o Bra-
os, que ele considera um entrave. Além sil é um grande produtor e fornecedor de
disso, é de opinião que a abertura e a com- alimentos. O crescimento da demanda
Analistas econômicos consideram que petição são saudáveis, desde que não pre- chinesa influencia, sem dúvida, a produ-
é justamente a mão-de-obra um dos prin- judiquem os produtores nacionais. ção brasileira”, concluiu o representante
cipais motivos do rápido crescimento eco- “A demanda interna da China é cres- do Ministério da Agricultura, Pecuária e
nômico da nova potência, pois essa mão- cente devido ao seu contingente popula- Abastecimento.
de-obra, uma das mais baratas do mundo.
Com força de trabalho abundante e barata, Crescimento das exportações do agronegócio
produção em larga escala destinada a suprir US$ 1.000 FOB
as necessidades de um mercado gigantesco 2005 2004 2003 2002
e, voltada, também, para o mercado exter-
Farelo de Soja 2.865.042 3.270.889 2.602.374 2.198.860
no, a indústria local se desenvolve e tem
lucros expressivos. Soja em Grão 5.345.047 5.394.907 4.290.443 3.031.984
Por conta da corrida pelo primeiro Óleo de Soja 1.266.638 1.382.095 1.232.550 778.058
local no ranking de país mais desenvol-
Complexo Soja 9.476.727 10.047.891 8.125.367 6.008.902
vido do mundo, a população trabalha
cerca de seis dias por semana, até doze Carne Bovina 3.032.821 2.457.268 1.509.733 1.086.476
horas por dia, por salários reduzidos. Carne de Frango 3.508.548 2.594.883 1.798.952 1.392.816
Isto é visto como algo, até certo ponto, Carne Suína 1.123.151 744.278 526.576 469.409
natural. Essa lógica baseia-se no fato de
ser a China um país super povoado, com Carne de Peru 168.251 212.432 152.316 104.009
uma cultura híbrida, e que possui um Outras Carnes 143.790 134.979 97.808 66.435
governo de partido único, acostumado Total Carnes 7.976.561 6.143.840 4.085.385 3.119.145
a atender demandas tanto do capital
Milho 120.862 597.336 375.136 267.597
quanto do trabalho. Na realidade, não
apenas o governo, mas também o povo, Açúcar 3.918.793 2.640.227 2.140.002 2.093.636
almejam ser, em pouco tempo, a maior Pescados 404.669 426.528 419.005 342.813
potência mundial. Por isso, trabalham
Algodão 449.733 406.070 189.856 94.343
tanto. Fonte: MAPA e MDIC

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 23


P A I N E L II

Logística de transportes, petróleo


e gás natural em discussão
O painel II do Seminário Bilateral
de Comércio Exterior e Investi-
mentos Brasil-China teve como tema
“As PPPs; a experiência chinesa no
setor petroquímico; a infra-estrutu-
ra de transportes” e foi presidido por
Charles A. Tang, Presidente da Câ-
mara de Comércio e Indústria Bra-
sil-China. O moderador foi o Em-
baixador Virgilio Moretzsohn de
Andrade, Chefe do Escritório Regi-
onal de Representação do Ministé-
rio das Relações Exteriores – MRE.
O painel teve como expositores
Ednaldo Pinheiro Santos, Gerente Ednaldo Pinheiro Santos, da Infraero, realçou o papel dos aeroportos no comércio exterior.

de Gestão e Relações com o Merca- cado, depois Guarulhos e, em terceiro lu- lugar estão os aeroportos de Guarulhos e
do da Infraero e Lou Hongzhi,Vice- gar, Brasília. Depois vêm os dois aeroportos Campinas, seguidos por Manaus e Galeão
do Rio de Janeiro: Galeão e Santos Dumont. que, juntos, representam 98% do total
Diretor da SINOPEC. Em 2005, foram movimentadas 1,3 milhão movimentado pelos terminais de carga de
de toneladas de carga. O período compre- todo o Brasil.
dnaldo Pinheiro dos Santos iniciou endido entre 2004 e 2007 está sendo mar- “Os nossos principais destinos são Eu-

E sua exposição apresentando dados


recentes da Infraero, uma empresa
pública, vinculada ao Ministério da Defe-
cado pelo investimento da Infraero em ex-
pansão, modernização e ampliação da sua
malha aeroportuária. Este investimento al-
ropa, Ásia e Estados Unidos. Contamos,
ainda, com nossos intervenientes, funda-
mentais para o nosso sucesso, que estão
sa, que possui recursos próprios, ou seja, cança a cifra de US$ 1,5 bilhão.” presentes nos terminais de cargas pois,
não depende da União. Sua receita pro- sozinhos, nunca conseguiríamos alcançar
vém da arrecadação dos vários serviços Papel do aeroporto o sucesso. Temos realizado, assim, gran-
que presta, mas seu patrimônio é da União, Segundo Ednaldo Pinheiro Santos, o des parcerias com a Receita Federal, com
por isso é uma empresa pública de direito aeroporto é um elo importante da o Ministério da Agricultura e com a Anvisa.
privado. Hoje, a Infraero administra 66 ae- logística do comércio exterior. Apesar de Sabemos que os resultados dependem de
roportos em todo o Brasil. Trinta e dois o volume total de carga aérea não ser tão um esforço conjunto de todos nós. A
deles possuem terminais de carga. São, ao grande quanto o de carga marítima, ele é Infraero procura estar em sintonia com a
todo, 81 estações de apoio à navegação e representativo quanto ao seu valor. Os ter- política de incentivo às exportações do
ao controle do tráfego aéreo. Em 2005, minais de carga da Infraero detêm o maior Governo Federal. Procura inserir-se cada
92 milhões de passageiros circularam pe- faturamento da empresa: aproximada- vez mais na política de comércio exterior
los terminais da Infraero. mente 30% de tudo o que ela fatura, ou brasileiro, participando de câmaras seto-
“No ranking de terminais de passageiros, seja, cerca de R$ 600 milhões ao ano. riais, trabalhando junto à CAMEX, com-
Congonhas figura como o principal colo- Quanto às exportações, em primeiro parecendo a seminários, enfim, procuran-

24 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


do participar do comércio exterior como
um dos órgão integrantes para o desen-
volvimento do sistema.”
A empresa mantém, ainda, um convê-
nio com a Embratur, pois os aeroportos
são portas de entrada para os turistas. No
ano passado, foram investidos R$ 656 mi-
lhões, tanto em aeroportos, quanto na mo-
dernização dos seus terminais de cargas.
“Temos, também, um projeto de in-
centivo à instalação de indústrias nos ae- Terminais de carga por tonelagem movimentada
roportos. Trata-se do aeroporto industri- 2005/ Fonte: Infraero
al, um projeto do governo de incentivo às
exportações, do qual a Infraero faz parte.
Importação Exportação
Teca Tonelagem % Participação Teca Tonelagem % Participação
Este projeto vem sendo trabalhado há (SIGCA) sobre total rede (Sigca) sobre total rede
quatro anos, em parceria com a Receita
Federal e o Ministério do Desenvolvi- Guarulhos 98.984 34,2% Guarulhos 119.608 42,8%
mento, Indústria e Comércio Exterior — Campinas 87.350 30,1% Campinas 105.077 37,6%
MDIC, além de outros órgãos públicos.
Em 2007, serão abertas licitações para a Manaus 30.520 10,5% Manaus 10.117 3,6%
concessão de áreas, para indústrias inte- Galeão 22.651 7,8% Porto alegre 9.081 3,3%
ressadas em se instalarem em Confins e
em ViraCopos e, futuramente, em outros Curitiba 12.878 4,4% Recife 6.524 2,3%
aeroportos.” Porto Alegre 9.609 3,3% Curitiba 6.337 2,3%

Paralelo Confins 9.181 3,2% Salvador 5.799 2,1%


Em sua exposição, Ednaldo Pinheiro
Vitória 6.562 2,3% Confins 5.205 1,9%
Santos traçou, também, um paralelo en-
tre o modal aéreo e o modal marítimo. Brasília 2.950 1,0% Fortaleza 4.371 1,6%
“Ao observarmos o volume das expor-
Salvador 2.868 1,0% Natal 2.939 1,1%
tações brasileiras, verificamos que 0,2%
do total desta carga, em quilogramas, foi Total rede 289.822 97,8% Total rede 279.192 98,5%
movimentado pelo modal aéreo. Em ter-
mos de valor, esse índice representa
24,69% do total arrecadado. O modal
marítimo, por sua vez, costuma movimen-
tar 84,81% do total em quilogramas, po-
“ Oferecemos agilidade
no desembaraço da
carga para os empresários
grandes clientes. Nossos programas Teca
Plus e Carga On line vão estar disponíveis
via web, oferecendo a nossos clientes in-
formações sobre a sua carga nos proces-
rém, em termos de valor, esse percentual que usam os terminais sos da logística.”


corresponde a 68,19%. Isto mostra que Segundo o representante da Infraero
quem utiliza o transporte aéreo é um se- da Infraero no seminário, a empresa tem investido em
tor específico: são indústrias que realizam EDNALDO PINHEIRO SANTOSN transelevadores e no armazenamento da
transporte de alto valor agregado, exigin- carga vertical, por meio de robôs, num
do, portanto, agilidade e segurança.” houver um entrosamento entre a Receita processo altamente automatizado. A idéia
A Infraero pratica uma tarifa relativa- Federal, a Infraero, a Anvisa, os agentes de é eliminar os problemas de espaço para
mente mais alta do que aquela praticada cargas e os operadores logísticos, nós não armazenamento, ganhando em automa-
pelos portos, mas procura oferecer o di- temos como conseguir estes resultados. tização, agilidade e segurança.
ferencial de segurança, qualidade, tecno- A Linha Azul, por exemplo, é um regime “Trabalhamos, também, com centrais de
logia e modernidade. baseado numa parceria com a Receita Fe- atendimento aos clientes. Para que não fi-
“Este é justamente o nosso foco: agili- deral, que permite desembaraçar a carga que perdido no terminal de cargas, o clien-
dade para os nossos empresários no de- em até 6 horas, seja qual for o conteúdo te vai à central e recebe toda a orientação
sembaraço de sua carga, e segurança, tan- ou o volume da mesma. Hoje, a Infraero do Ministério da Agricultura, da Receita Fe-
to na armazenagem quanto na liberação tem condições de disponibilizar uma deral e da Anvisa, além de obter alguns ser-
das cargas em nossos terminais. Se não tecnologia moderna e adequada para os viços disponíveis.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 25


P A I N E L II

Em seguida, Ednaldo Pinheiro Santos Grupo chinês


analisou os principais terminais da empresa. A Sinopec – China Petrochemical Cor-
“Guarulhos é um dos maiores da rede, onde poration é um grupo gigante que trabalha
o forte é a carga de porão. Nele, cerca de com produtos petroquímicos e, também,
98% da carga vem de aeronaves mistas. Cam- com pesquisa, exploração, produção, refino,
pinas é um outro terminal importante, pois distribuição e marketing de petróleo e gás na-
desempenha papel fundamental nas corri- tural. Segundo a revista Fortune 500, a
das de Interlagos. Em seguida, vem Manaus, Sinopec foi a 23a empresa do mundo em sua
que tem uma estrutura moderna e é o mais área em termos de vendas, em 2006. Lou
novo terminal da rede Infraero, onde estão Hongzhi informou que, em termos de
sendo feitos altos investimentos.” faturamento e vendas, o grupo é considerado
“Precisamos mencionar, ainda, os ter- o nono do mundo. Em 2003, seu patrimônio
minais de Salvador e Ilhéus, onde temos foi calculado em US$ 67,3 bilhões. Além dis-
um pólo de eletro-eletrônicos. Lá, o for- so, conta com mais de 50 anos de experiência
te tem sido a movimentação de equipa- em serviços de petróleo.
mentos de informática, além das tradicio- Até março de 2006, a Sinopec tinha ne-
nais frutas e do pescado. O Galeão, por gócios em 38 países; oferecia serviços na área
sua vez, também conta com uma estrutu- de petróleo em 24 países, tendo, também,
ra bastante moderna, na qual o forte é o 146 contratos de serviço de petróleo no mar.
setor químico-farmacêutico.” Nos últimos cinco anos, construiu 8.000
Finalmente, o representante da Infraero km de dutos, dos quais 2.500 são gasodutos.


A Sinopec é a
26 empresa da área em
a

termos de venda e tem mais


se colocou à disposição do público para
maiores esclarecimentos. O Embaixador
Virgílio Moretzsohn, moderador do pai-
nel, passou, então, a palavra ao Vice-Dire-
No Brasil, a Sinopec participa do Projeto
Gascav, um gasoduto que liga a cidade de
Cabiúnas, no Rio de Janeiro, a Vitória, no
Espírito Santo. São 301,1 km de dutos com
de 50 anos de experiência
LOU HONG ZHIN ” tor de uma das áreas do Grupo Sinopec,
Lou Hongzhi, que pronunciou-se e des-
culpou-se por não falar português.
uma tecnologia que os chineses consideram
uma vez e meia mais eficiente do que a usada
normalmente no Brasil. Esta tecnologia é

Projeto Gascav

Vitória O gasoduto, construído com


tecnologia chinesa e
participação da Sinopec, liga
ES Cabiúnas, no Sul do Espírito
Santo, a Vitória. Seus
construtores garantem que a
tecnologia é uma vez e meia mais
eficiente do que as que são
empregadas no Brasil. Ela é mais
adequada a dutos que excedam
219 milímetros de diâmetro.
Performance esperada
RJ do Projeto Gascav Quanto maior o diâmetro do duto,
Segurança: acidente zero
maior sua eficiência.
A obra começou em junho de
Qualidade: defeito zero
2006 e tem previsão para ser
Meio ambiente: impacto zero
realizada em 450 dias.
Cabiúnas

26 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Um novo perfil para as PPPs
No Brasil, as Parcerias Público-Pri- tado, já que os projetos de PPP não dão
vadas – PPPs estão ganhando uma nova retorno suficiente. Essa é uma das prin-
face. Hoje, estados como Minas Ge- cipais diferenças da PPP em relação às
rais, São Paulo e Ceará têm articulado concessões tradicionais. Se a modalida-
projetos de PPPs que incluem a mon- de de PPP for de concessão adminis-
tagem de um campus universitário, a trativa, o parceiro privado só receberá a
construção de um centro de conven- contraprestação pública. Na concessão
ções, a reforma de ginásios esportivos patrocinada, o investidor também cap-
e até mesmo a identificação de pessoas tará recursos por meio de tarifas ou par-
a partir de suas impressões digitais. O ticipação na receita de venda de servi-
Estado de São Paulo, por exemplo, está ços a terceiros.
oferecendo parceria às empresas da ini- Para que um empreendimento pos-
ciativa privada interessadas num proje- sa ser uma PPP, o valor mínimo deve
to de dinamização do arquivo de sua ser de R$ 20 milhões, e o poder públi-
Secretaria de Segurança Pública. Hoje, co deve respeitar o limite de 1% de sua
só se pode fazer buscas neste arquivo receita líquida anual para investir nas
usando o nome completo ou o núme- parcerias. Para garantir o cumprimento

“ É muito gratificante ver


uma empresa chinesa
desenvolvendo um projeto
ro da carteira de identidade da pessoa,
o que dificulta, por exemplo, a identi-
ficação de alguém sem essas referênci-
das obrigações assumidas pela adminis-
tração e tornar os projetos atraentes ao
setor privado, o poder público deve cri-
as. O Estado de São Paulo quer im- ar um fundo garantidor. No caso de in-
importante no Brasil
CHARLES A. TANGN ” plantar, por meio de uma PPP, um sis-
tema capaz de fazer buscas, tendo como
base as impressões digitais.
vestimentos do Governo Federal, ele é
de R$ 6 bilhões.
O Estado brasileiro tem optado pe-
mais aplicável em dutos cujo diâmetro ex- Ao contrário de obras de infra-es- las PPPs para suprir a falta de recursos
cede 219 milímetros. Quanto maior o diâ- trutura viária ou portuária, essas inicia- próprios para investir nos prazos deter-
metro do duto, maior é a sua eficiência. A tivas têm, para quem investe nelas, um minados e, também, para tentar buscar
meta de Lou Hongzhi e da Sinopec é con- atrativo diferenciado: no lugar de re- uma maior eficiência por meio da ges-
cluir esta obra sem acidentes, sem defeitos munerar com tarifas, os investimentos tão privada. Em outros países, como a
técnicos e sem causar danos ao meio ambi- em tais projetos incluem, além da rea- Inglaterra, por exemplo, as PPPs têm
ente. lização da obra, a sua administração pela dado bons resultados, mas, de qualquer
Após o pronunciamento de Lou iniciativa privada e a participação na ven- maneira, estes resultados só podem ser
Hongzhi, o presidente do painel II, Charles da de serviços a terceiros. Quanto mais melhor avaliados a longo prazo. Em São
A.Tang declarou: “É muito gratificante ver receita com venda de serviços a tercei- Paulo, por exemplo, a primeira PPP
uma empresa de petróleo chinesa desen- ros a PPP render, mais ganham o po- lançada pelo estado, referente à linha 4
volvendo um projeto e desempenhando der público e os representantes das do metrô paulistano, está parada em
um papel tão importante aqui no Brasil. empresas que participam da parceria. função de uma discussão judicial colo-
Trata-se de um gasoduto que vai empre- A Parceria Público Privada é um cada pelos funcionários do Metrô, que
gar brasileiros e gerar renda para o país. modelo de concessão em que o inves- é uma empresa estatal. Os metroviários
Eu gostaria de, mais uma vez, agradecer à tidor privado divide com o poder pú- alegam que a linha 4 dará origem a dife-
Federação das Câmaras de Comércio Ex- blico (representado pela União, esta- renças de condições de trabalho com
terior — FCCE por essa oportunidade e dos ou municípios) os riscos de um relação aos funcionários das linhas anti-
por esse ciclo de seminários bilaterais. A determinado investimento. Após o fim gas. Com esta PPP paralisada tempora-
FCCE tem feito um belíssimo trabalho, das obras, o parceiro privado coloca o riamente, o governo do estado tenta
tem se esforçado muito e o resultado tem serviço à disposição da coletividade e alavancar uma outra, que consiste na
sido excelente. Com isso eu encerro este fica responsável por ele num período ampliação da capacidade de tratamento
painel e convoco para presidir o próximo que pode variar de cinco a 35 anos. de água da Estação de Taiaçupeba, na
painel o Doutor Armando Meziat, Secre- O investidor é remunerado pelo Es- Grande São Paulo.
tário de Comércio Exterior do MDIC.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 27


P A I N E L III

Possibilidades e entraves no
comércio bilateral
O painel III do Seminário Bilateral de
Comércio Exterior e Investimentos
Brasil-China intitulado “Cooperação
e novas oportunidades de comércio
e investimentos bilaterais. O setor
têxtil”, teve como presidente o Se-
cretário de Comércio Exterior do
Ministério do Desenvolvimento, In-
dústria e Comércio Exterior –
MDIC, Armando Meziat. Para o pro-
nunciamento especial foi convidada
a Gerente do Departamento de Pla-
nejamento do Banco Nacional do
Desenvolvimento Econômico e So-
cial – BNDES, Cláudia Nessi Zo-
nenschain. O Presidente do Institu-
to Brasileiro de Estudos da China e
Ásia-Pacífico, Professor Severino
Cabral, e o Superintendente da As-
sociação Brasileira de Indústria Têx-
Armando Meziat comentou o bom desempenho apresentado pelas exportações brasileiras.
til — ABIT, Fernando Pimentel, fo-
“Em primeiro lugar, o momento atual de a adquirir características cada vez
ram os expositores convidados. é de desenvolvimento pleno da tecnologia mais marcantes de uma economia de
da informação; em segundo, já existe uma mercado.
o abrir os trabalhos do painel, Ar- difusão plena das relações político-eco- “Nesse período, no entanto, salvo as

A mando Meziat fez breve comuni-


cação ao plenário a respeito das ex-
portações brasileiras em julho de 2006 –
nômicas internacionais tratadas global-
mente; e o terceiro aspecto é o da organi-
zação da produção por meio do sistema da
pessoas que se dedicavam a estudar a Chi-
na, ou que possuíam algum interesse es-
pecífico em conhecê-la melhor, o mundo
cujos bons resultados, a seu ver, continu- modularização e de aquisições globais.” ainda não tinha posto seus olhos sobre o
am a assegurar o cumprimento das metas A China começou suas reformas em país, o que só passou a ocorrer a partir do
previstas para o ano – e, em seguida, pas- 1978 e, entre essa data e meados da dé- final dos anos 90, graças à sua emergência
sou a palavra à representante do BNDES. cada de 90, foram realizadas diversas mu- no comércio exterior. As taxas de cresci-
Cláudia Nessi Zonenschain, ao dar iní- danças institucionais, de forma gradual, mento das importações e das exportações
cio a seu pronunciamento, mencionou que que começaram a transformar a econo- chinesas passam a ser muitíssimo mais ele-
o novo cenário em que a China emerge se mia planificada naquilo que se poderia vadas do que as do comércio mundial. O
deve, basicamente, a três componentes. chamar de economia híbrida e que ten- país fica cada vez mais visível e, por isso,

28 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


os principais veículos de comunicação em mão-de-obra e recursos naturais.
têm, atualmente, uma matéria diária so- Em seguida, passou a exportar itens cada
bre a China, além de manter seus corres- vez mais sofisticados e intensivos em
pondentes naquele país.” tecnologia, sem deixar de lado os pro-
Em seguida, Cláudia Nessi Zonens- dutos simples.
chain referiu-se a outra característica do “A China, hoje, produz tudo, não só
fenômeno chinês. Segundo ela, o cresci- porque pode, mas porque precisa. Pode
mento das exportações foi acompanha- porque preserva as vantagens competiti-
do, também, pari passu, pelo aumento das vas. Tem grande índice de desemprego e
importações, caracterizando-se um mo- baixo custo porque os salários são peque-
vimento de abertura e de integração no nos e os custos trabalhistas praticamente
comércio internacional. As empresas inexistentes. Ao mesmo tempo, vem ad-
chinesas aproveitaram para se inserir em quirindo, paulatinamente, vantagens com-
redes globais de empresas multinacio- petitivas nos setores mais sofisticados.
nais. Segundo o Chinese Statistical Year Com a evolução do mercado interno, a
Book de 2005, a participação de empre- demanda se torna mais estratificada e sur-
sas estrangeiras nas exportações da Chi- gem novas oportunidades. Os chineses
na, em 2004, foi de 57%. precisam preservar e gerar empregos, pois
“Uma parte das exportações chinesas
se dá diretamente, por firmas domésti-
cas, mas uma outra parte, muito expres-
têm uma população gigantesca que almeja
os segmentos mais sofisticados de consu-
mo, onde se encontram produtos de mai-
“ A China é um leão
que vive como um gato,
e o Brasil também
siva, ocorre por meio de multinacionais, or valor adicionado.”
das quais as empresas nacionais são for-
necedoras. As multinacionais contribu-
em com tecnologia, habilidades de ges-
Dragão chinês
Reafirmando que a entrada no comér-
pode ser um leão
CLÁUDIA NESSI ZONENSCHAINN ”
tão – uma defasagem identificada na Chi- cio mundial fez o mundo prestar mais bido aproveitar essas oportunidades. O
na atual – e uma política de desenvolvi- atenção no “dragão chinês”, Cláudia Nessi governo chinês ainda atua sustentando ta-
mento de fornecedores. A concorrência Zonenschain prosseguiu em seu pronun- xas de crescimento elevadas, pois o que
é grande e as empresas locais têm de bai- ciamento especial. garante esse nível de investimento é um
xar custos e inovar, introduzindo sem- “A China passou a ser notada, também, mercado em expansão. As taxas de juros,
pre novos produtos.” em relação a seu investimento externo. no momento, são muito baixas e, como
Isso se dá por via da formação de alianças o mercado cresce de forma sustentada,
Empresas domésticas estratégicas, ou pela internacionalização de as expectativas são favoráveis e logo sur-
A representante do BNDES reiterou, empresas chinesas, voltadas para o que eles gem os investimentos.”
ainda, a importância das empresas domés- chamam de ‘Time A’: grandes empresas
ticas na economia chinesa. estatais, identificadas pelo governo e in- Alternativas
“Elas têm sabido aproveitar as oportu- centivadas a se internacionalizar.” Em vista disso, a representante do
nidades com as quais se defrontam. São Uma pesquisa realizada pela Economy BNDES esboça novas possibilidades de
importantes porque almejam redução de Intelligence Union, em 2005, mostrou olhar a China do ponto de vista dos bra-
custos, aumento da produtividade e, ain- que o principal rival, aos olhos das em- sileiros.
da, trazem para a multinacional um co- presas domésticas chinesas, são as esta- “Acredito que o Brasil tem uma alter-
nhecimento do mercado interno, cuja di- tais e outras empresas domésticas, e não nativa diferente: promover a criação e a
mensão continental e grande ocorrência as multinacionais, vistas como parcei- exploração de oportunidades estratégicas,
de particularidades locais não seria fácil ras. A expositora ressaltou, a seguir, o numa abordagem mais dinâmica, mais cri-
detectar. A empresa doméstica tem mais papel do Estado na atual etapa da eco- ativa. Para isso, entretanto, é preciso o
facilidade de estabelecer vínculos inter- nomia chinesa. apoio à inovação, exportação, investimen-
nos, de fazer contatos, de conseguir licen- “O Estado tem estimulado a entrada to na infra-estrutura e internacionalização
ças e obter informações. Existe, também, de multinacionais onde quer que seja in- das empresas brasileiras. Nós possuímos
um estímulo para que elas se aprimorem. teressante, do ponto de vista do setor ou recursos únicos no mundo, como a
A grande concorrência do mercado leva a da região. Para isso, elaboram-se políti- biodiversidade da Amazônia, em que de-
isso, inevitavelmente.” cas de incentivos fiscais, ou investimen- veríamos investir para a produção de
No início desse processo, a China ex- tos estatais maciços em infra-estrutura fitoterápicos, o que já temos feito, mas
portava produtos simples, intensivos moderníssima. As multinacionais têm sa- deveríamos fazer ainda mais.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 29


P A I N E L III

Mudanças globais prio ritmo de crescimento, perdido há


Em seguida, o presidente do painel pas- algum tempo.”
sou a palavra ao Professor Severino Segundo Severino Cabral, a economia
Cabral, Presidente do Instituto Brasileiro brasileira demanda um imenso esforço
de Estudos da China e Ásia-Pacífico, que para superar as dificuldades internas e es-
iniciou sua participação abordando o rela- tabelecer relações externas.
cionamento mais importante que o Brasil “Nós avançamos um largo trecho, te-
mantém no comércio exterior: as relações mos uma vasta pauta de negócios, mas
bilaterais com a China. ainda pouco representativa. Andamos
“A China está fazendo com que o muito, mas andamos minimamente em
mundo desperte para uma realidade relação ao potencial de desenvolvimen-
nova, por crescer muito, produzindo um to das relações Brasil-China. Ao termi-
impacto na economia mundial, diferente nar minha apresentação, gostaria de di-
do passado, quando iniciou suas relações zer que devemos ampliar nossas relações
comerciais com o Brasil. É curioso ob- com a China e o mundo asiático, pois essa
servar que, naquele momento, éramos o será a nossa grande planta de negócios
país em desenvolvimento que mais cres- mundiais.”
cia no mundo. Em 20 anos, mudamos

“ A China deve tornar-se


a maior economia do mundo,
e o Brasil precisa repensar
muito. Hoje, somos mais urbanos e in-
dustriais. Isso também viria a acontecer
com a China, mais adiante. Na época, em
Acordo no setor têxtil
O presidente do painel, Armando
Meziat, lembrou que o Brasil acabou de
plena situação de bipolaridade mundial, assinar um acordo com a China, no setor
seu papel neste cenário
SEVERINO CABRALN ” e pertencendo a campos diferentes, am-
bos os países mantiveram eqüidistância
desse fato e buscaram uma aliança. O que
têxtil. Segundo ele, esse acordo certamen-
te ajudará a solucionar parte da proble-
mática que envolve as relações entre os
Ao encerrar sua exposição, Cláudia nos aproximava, então? O Brasil buscava dois países nesse campo. Ele explicou que
Nessi Zonenschain chamou a atenção para o desenvolvimento e a China queria au- a solução consiste em não impedir o cres-
um fato importante. tonomia para trilhar o seu próprio cami- cimento e a dinamização desse comércio
“Temos que olhar para o que possuí- nho de desenvolvimento.” com a China e, ao mesmo tempo, evitar
mos e encontrar novas oportunidades, Segundo Severino Cabral, os chineses que ocorram prejuízos para o Brasil.
pois as possibilidades são imensas. As em- encontraram esse caminho e se agarraram


presas chinesas estão começando a sair do firmemente a ele, acelerando os passos
país, e o Brasil tem empresas de padrão que levaram à situação de hoje. O Brasil andou muito,
internacional que já estão na China, mas “Atualmente, nós vivemos uma situa- mas minimamente em relação ao
temos outras que, com um pouco de aju- ção de estagnação no que diz respeito ao potencial de desenvolvimento


da, também podem chegar lá. Gostaria de crescimento, mas a China continua cres-
mencionar um material que recolhi de cendo e aumentando este ritmo. Ela de-
das relações Brasil-China
uma aluna de doutorado na Universidade verá tornar-se a maior economia e o mai- SEVERINO CABRALN
de Xinhua. Ela projetou um slide cuja or centro de poder do mundo. Temos que
imagem era a de um gato diante do espe- pensar qual o papel do Brasil nesse con- Em seguida, informou que “acertamos
lho, mas seu reflexo era o de um leão. Ela texto, pois somos uma grande potência. uma auto limitação das exportações da
comentou que a China era o gato, e o leão Temos extraordinária capacidade de pro- China para o Brasil em oito categorias de
era como o mundo via a China. O mundo duzir alimentos e energia e, por isso, te- produtos têxteis, que estão contingenciados
a vê como um leão, mas ela é apenas um mos que aumentar nossa influência no numa quantidade acordada entre os dois
gato e o que se discute por lá é como o mundo.” governos, de modo a não provocar prejuí-
gato pode transformar-se num leão. Em O professor relatou, em seguida, quais zos em nosso setor privado.”
minha opinião, a China já é um leão e acho são, a seu ver, as condições essenciais que o Ao assumir a palavra, Fernando
positivo que os chineses estejam vivendo Brasil deve possuir para alcançar esta meta. Pimentel, Superintendente da ABIT, afir-
como um gato. Nós, também, no Brasil, “O crescimento das grandes potênci- mou ter constatado que, para muitos se-
temos a possibilidade de sermos um leão as se dá com estabilidade. Podemos con- tores da economia brasileira, havia gran-
e, se nos olharmos no espelho de um tribuir, essencialmente, para a continui- des oportunidades de negócios entre os
modo diferente, acabaremos por nos tor- dade deste ciclo mundial, se enfrentar- dois países. No setor têxtil, entretanto, o
nar algo diferente.” mos o desafio de recuperar nosso pró- panorama se lhe afigurava como de 99%

30 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Destaques Brasil Perspectivas do comércio mundial de têxteis e de confecções
Fonte: ABIT
• 6º maior produtor têxtil do mundo. 1000
US$
• Auto-suficiência no algodão. Embora seja o 6º maior produtor mundial,
o Brasil participa apenas com 0,5% do comércio.
800 Bi

• Produz 7,2 bilhões de peças de


vestuário/ano.
800
Estimativa

• 2° maior produtor mundial de índigo. 600


US$
• 3° maior produtor mundial de malha.

US$
450 Bi

• 5°de maior produtor mundial


confecção.
400

• 7°e filamentos.
maior produtor mundial de fios
200

• 8° maior produtor mundial de tecidos.


0
1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 2002 2004 2006 2008 2010 2012 2014
de ameaça chinesa, contra 1% de opor-
tunidade brasileira.
Em prosseguimento, diagnosticou que Segundo Fernando Pimentel, essa in-
nossas deficiências repousam na ausência dústria, construída em 200 anos, não foi
de políticas estruturais e de planejamento montada à base de incentivos; muito
e reiterou que a visão do setor industrial pelo contrário. Foi uma história de lutas
que representa é a de que é preciso de- e não de benesses, como quando a Rai-
fender a indústria têxtil brasileira, seja onde nha D. Maria I mandou que fossem
for e custe o que custar. desativados os teares de todo o Brasil,
“Recusamos a idéia de que estamos ainda na Colônia.
evoluindo para um modelo em que o Bra- “Por isso, temos a defesa comercial
sil será a fazenda do mundo; a China, a como um ponto importante, o que não
manufatura do mundo; a Índia, o escritó- deve ser confundido com proteção. Na
rio do mundo; e a Rússia e o Oriente Mé- Rodada de Doha, estamos atuando direta-
dio, suas fontes energéticas. O mercado mente para evitar desequilíbrio nas nego-
mundial não é constituído por carinhos e ciações.”
agrados – nós estamos vendo na Rodada “Afinal de contas”, prosseguiu, “o se-
de Doha o quão difícil é obter qualquer tor têxtil e de confecção é a segunda mai-
concessão – e cada país quer desenvolver or indústria de transformação do país, só
sua indústria da maneira que convenha à perdendo para alimentos e bebidas, so-
respectiva sociedade, sem deixar de favo- mados. Pelo modelo BNDES, a cada US$
recer a integração mundial.” 10 milhões somados à produção, são ge-
Fernando Pimentel expôs alguns nú-
meros que caracterizam a importância da “ É preciso defender a indústria
têxtil brasileira, seja onde
rados 1.400 novos empregos.”
De acordo com o superintendente da


indústria têxtil para a economia brasileira. ABIT, a indústria têxtil brasileira mostra-
“O setor têxtil constitui-se de uma for e custe o que custar se eficiente, moderna e produtiva.
grande quantidade de empresas, de em- FERNANDO PIMENTEL “O Brasil tem investido US$ 1 bilhão
pregos diretos, de exportação, de inves- por ano nas suas plantas, mas perde for-
timentos e de representatividade no PIB. fibra média é reputado como o de me- temente nos custos de capital, quando
O Brasil faturou, no ano passado, US$ lhor custo/qualidade no mundo e con- comparado com a China. Pagamos a
26 milhões na cadeia produtiva de têx- siderado imbatível, mesmo levando em mesma alta taxa de juros continuada-
teis e confeccionados, que gera empre- consideração o grande cultivo da Austrá- mente e, em 2006, vamos ter a atualiza-
go e renda para uma parcela expressiva lia e da China. Produzimos 7 bilhões de ção com base nos dados de 2005, o que
de sua população. Nosso país é o sexto peças de vestuário por ano. Somos o se- deve piorar a posição brasileira. Aqui, de-
produtor mundial de têxteis e tem auto- gundo maior produtor de tecido para preciamos o nosso câmbio de uma for-
suficiência em algodão. Nosso algodão de calças jeans.” ma desnecessária, enquanto a China man-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 31


P A I N E L III

Comércio Brasileiro de Têxteis - 2005


Exportações Brasileiras Importações Brasileiras

Descrição 1000 FOB Ton US$/Kg 1000 FOB Ton US$/Kg


Total geral 2.201.853,90 832.032,00 2,65 1.517.966,26 560.591,72 2,71

1. Fibras Têxteis 570.886,80 489.550,03 1,17 161.786,48 105.707,89 1,53

2. Fios 139.752,80 48.369,09 2,89 143.683,72 67.120,42 2,14

3. Filamentos 78.350,09 17.265,84 4,54 353.026,15 184.949,64 1,91

4. Tecidos 383.826,46 79.621,37 4,82 315.456,00 86.306,57 3,66

5. Linhas de Costura 10.845,84 1.140,65 9,51 1.847,74 370,13 4,99

6. Confecções 742.189,13 90.621,11 8,19 259.746,15 50.039,38 5,19

7. Outras Manufaturas 276.002,80 105.463,92 2,62 282.420,03 66.097,69 4,27


Fonte: ABIT

tém uma política cambial estável, que Comparativo de preços das importações de vestuário chinês
permite investimentos industriais de lon-
Fonte: ABIT
go prazo.”
20
Fernando Pimentel informou que a Brasil Argentina EUAA
EU Índia
China tem 57% de encargos, enquanto o 18 17,47
16,36
Brasil tem 103%. Os brasileiros têm 30 16,05
15,85
16
dias de férias e alguns mais, e os chineses 14,22
14,94 14,94

têm 10. Ele mencionou, também, o papel 14 13,50


12,59
importante e crescente que a China vem
desempenhando na cadeia têxtil, enquan- 12

to as importações brasileiras de máquinas 9,57 9,92


US$/Kg

10
e equipamentos do setor oscilaram segun- 8,28

do os ciclos da economia. 8
6,05
“Tendo atingido o ápice em 1997,” ex- 5,72
6
plicou, “foram se reduzindo, de acordo 4,36
com as dificuldades que apareceram: 4
‘apagão’; crise argentina; e um período
2
muito conturbado, em que nossa eco-
nomia não cresceu. Ainda assim, a curva 0
2003 2004 2005 Jan-Abr / 2006
voltou a ser ascendente, mostrando que,
nesse setor, não se está desistindo nem
chorando, mas competindo. Enquanto uma base produtiva e inovadora, além de e que esclareçamos questões como o
isso, a China vem crescendo e é, atual- uma base de design absolutamente ne- fortalecimento do comércio, os certi-
mente, a maior produtora de máquinas cessária para enfrentar a concorrência do ficados de origem, entre outras. O Bra-
para confecção, com uma participação mercado mundial. sil importou vestuário da China, no ano
relevante da produção local em sua in- Ao encerrar sua participação, Fer- de 2005, a US$ 5,72 o quilo; a Argenti-
dústria.” nando Pimentel formulou as expectati- na a US$ 14,94; os Estados Unidos a
O representante da ABIT referiu-se, a vas alimentadas pelo setor têxtil em re- US$ 16,05; a Índia a US$ 12,59. Assim,
seguir, aos analistas que, no Brasil, pro- lação à corrente de comércio entre Bra- queremos fixar um acordo para chegar
põem à indústria têxtil o investimento sil e China. aos preços praticados pela Argentina,
no design e em seu aprimoramento e o “O primeiro ponto é alavancar o me- que não é mais rica do que o Brasil, ou,
abandono da manufatura. Segundo ele, a morando de entendimento, para que ele, ainda, ao preço pelo qual os Estados
China tem investido maciçamente no efetivamente, funcione. É importante Unidos, que são o shopping do mundo,
design de seus produtos têxteis, ou seja, que troquemos informações estatísticas, compram. Há muita coisa desequilibra-
há concorrência, também, nessa área. que abramos um canal de conversação da nessa relação.”
Resta ao Brasil fortalecer-se por inter- para os setores que não foram contem- Após a fala do expositor, o presidente
médio da criação e da manutenção de plados pelo acordo entre os dois países, do painel encerrou os trabalhos.

32 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


ENCERRAMENTO

Perspectivas positivas para o


relacionamento bilateral
China pode tornar-se o segundo maior parceiro comercial do Brasil

Ivan Ramalho, Marcio Fortes de Almeida e Chen Duqing na sessão solene de encerramento do seminário dedicado às relações Brasil-China.

Na sessão solene de encerramento disse esperar que tenham propicia- do MDIC; Fernando Pimentel, Superin-
tendente da Associação Brasileira da In-
do Seminário Bilateral de Comér- do a realização de bons negócios.
dústria Têxtil e de Confecção – ABIT;Yan
cio Exterior e Investimentos Brasil- Xiaomin, Cônsul-Geral da República Po-
China, João Augusto de Souza Lima pular da China no Rio de Janeiro; Charles
stiveram presentes à mesa Marcio A.Tang, Presidente da Câmara de Comér-
agradeceu o apoio do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Co-
mércio Exterior – MDIC e do Mi-
E Fortes de Almeida, Ministro de Es-
tado das Cidades, que presidiu a ses-
são solene; Ivan Ramalho, Ministro de Es-
cio e Indústria Brasil-China; Embaixador
Paulo Pires do Rio, Diretor-Conselheiro
do Conselho Superior da FCCE; Gustavo
tado, interino, do Desenvolvimento, In- Affonso Capanema, Vice-Presidente do
nistério das Relações Exteriores – dústria e Comércio Exterior, responsável Conselho Superior da FCCE; Armando
MRE. Ele ressaltou, a seguir, o fato pelo pronunciamento especial; Chen Meziat, Secretário de Comércio Exterior
Duqing, Embaixador Plenipotenciário da do MDIC e Giulite Coutinho, Presidente
de que os seminários têm tido, sem- República Popular da China; Arthur de Honra da Associação de Comércio Ex-
pre, grande afluência de público e Pimentel, Diretor de Comércio Exterior terior do Brasil – AEB.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 33


ENCERRAMENTO

de primeiro ministro, exercendo a função dades de investimento nas áreas de sanea-


de intérprete. Li Peng fez algumas per- mento e habitação. O Brasil já tem um
guntas sobre a nossa usina, e seu interesse marco regulatório de saneamento apro-
viria a ter, depois, grande influência na vado pelo Senado. Com isto, poderemos
construção da hidrelétrica chinesa de Três definir as condições para os investimentos
Gargantas.” chineses neste setor no Brasil, ou a troca
Poucos sabem que Li Peng, um enge- de informações tecnológicas com aquele
nheiro eletricista, passou algumas horas país, como já fazemos com a Itália.”
de sua permanência em Itaipu levantando
dados sobre a hidrelétrica. “Ele levantou Crescimento comercial
muitas questões da área econômico-finan- Em seguida, Ivan Ramalho cumpri-
ceira, além de ter solicitado informações mentou as autoridades presentes e iniciou
Fernando Pimentel, da ABIT, cumprimenta técnicas. Se, nós, brasileiros, não participa- seu pronunciamento especial.
Charles A. Tang. mos de maneira mais profunda da constru- “Como os senhores sabem, a China
tem, para nós, extraordinária importân-
cia. Ela é, hoje, nosso terceiro maior par-
ceiro comercial. De modo geral, o comér-
cio e os investimentos no Brasil têm cres-
cido bastante e nós temos contado, no
MDIC, já há alguns anos, com uma parti-
cipação bastante intensa de autoridades e
empresários chineses. Temos, também,
inúmeras empresas brasileiras realizando
negócios na China.”
Ao esboçar sua análise sobre a conjun-
tura do comércio exterior brasileiro, o
ministro interino realçou a continuidade
e o vigor do seu crescimento.
“Certamente os números já são do co-
nhecimento dos senhores, pois nossa equi-
pe preparou um estudo específico sobre
o intercâmbio comercial brasileiro com
Yan Xiaomin, Paulo Pires do Rio e Giulite Coutinho durante a sessão solene de encerramento. os chineses. De qualquer forma, eu que-
ria registrar que, no ano passado, nós já
Lembranças ção de Três Gargantas, na qual estivemos tivemos uma corrente de comércio com
Ao iniciar os trabalhos, o Ministro Marcio presentes apenas por meio de um consór- a China da ordem de US$ 12 bilhões. Este
Fortes de Almeida lembrou a década de cio, participamos de suas origens, e demos ano, estamos registrando um crescimen-
1970, quando o Ministro Marcus Vinicius uma contribuição sólida”. to de aproximadamente 43% e, assim, po-
Pratini de Moraes estava à frente do MDIC. Marcio Fortes de Almeida analisou, a demos prever que, até o final de 2006, a
Nesta época, Giulite Coutinho, então pre- seguir, as perspectivas de comércio ex- corrente comercial deverá superar a casa
sidente da AEB, realizou uma operação co- terior entre chineses e brasileiros. Res- dos US$ 17 bilhões.”
mercial pioneira, “que seria considerada uma saltando que existem oportunidades de Isto significa, segundo o ministro, que
ponta de lança junto aos chineses”: conse- investimentos dos dois lados. “Atualmen- os negócios brasileiros com os chineses
guiu colocar o açúcar brasileiro na Repúbli- te, muitas empresas estão descobrindo estão se aproximando de um patamar pró-
ca Popular da China. que é um bom negócio investir na China, ximo daquele verificado com o segundo
“Parece, também, que foi ontem a visi- produzir lá e, depois, exportar de volta parceiro comercial do Brasil, a Argentina.
ta do Primeiro Ministro Li Peng, que es- para o Brasil.” “Estamos trabalhando com a possibili-
teve no Brasil, na década de 90, e manifes- Segundo ele, o Brasil reconheceu a dade de termos uma troca comercial com
tou desejo de visitar Itaipu junto com a China como economia de mercado e, em a Argentina da ordem de US$ 20 bilhões.
comitiva que o acompanhava. Durante contrapartida, o governo chinês prome- Mantendo-se o ritmo atual de negócios,
todo o percurso pela hidrelétrica, o atual teu facilitar o ingresso de produtos brasi- eu acredito, portanto, que nossa corrente
embaixador da República Popular da Chi- leiros, entre eles a carne. “No momento, comercial com a China já deva estar pró-
na no Brasil, Chen Duqing, esteve ao lado estamos, também, procurando oportuni- xima desta marca.”

34 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


ESPECIAL

A oficina do mundo
“Nos últimos anos, a China demonstrou sua enorme capacidade
de produção no campo da manufatura. No futuro, vai mostrar
ao mundo o poder da mente, em lugar de realçar apenas o
poder da mão.”

Esta declaração, feita por Pan Shiyi – um empresário


chinês especializado na construção de prédios comerci-
ais e projetos arquitetônicos arrojados em seu país – dá
bem a medida do que é hoje
a República Popular da
China e do que ela pre-
tende para o futuro. O
Museu de Arte Contemporânea de Xangai
país, que surpreende o
conjunto das nações com suas taxas astronômicas de crescimento, transformou-se
num dragão mais poderoso do que foi, no passado, a nação comunista de
Mao Tse Tung. A oficina do mundo não pára de produzir
desde artigos baratos até itens de alta tecnologia, que
invadem os cantos mais distantes do planeta com preços
competitivos, a ponto de ser vista como uma ameaça
mundial.

Crescimento espantoso
A República Popular da China tem crescido em torno de 9,5%
ao ano, nos últimos 25 anos. No primeiro semestre de 2006, a
economia cresceu 10,9%, passando a ser considerada a mais
vigorosa de todas as economias do planeta.
Em 2005, os chineses fabricaram ou montaram algo em torno
de US$ 400 bilhões em produtos de alta tecnologia. Entre dez
aparelhos das marcas mais conceituadas de DVDs que estão sen-
do vendidos hoje no mundo, sete vêm da China.
A oficina do planeta é uma máquina de produzir como a hu-
manidade nunca conheceu igual. Alimentada continuamente por
um fluxo de mão-de-obra que migra do campo para a cidade (só
a região de Xangai recebe, por dia, 28.000 trabalhadores a procu-
ra de emprego), a China não se descuida da formação de mão-de-
obra especializada. Chegam ao mercado de trabalho chinês cerca
de 500.000 cientistas e engenheiros, por ano.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 35


ESPECIAL

Nos Estados Unidos, uma hora de tra- cebe pouco por sua força de trabalho. mentos estrangeiros e, também, uma apos-
balho de um operário custa US$ 37; já na Os especialistas consideram que a má- ta na educação e na qualificação de seus
indústria automobilística chinesa, por quina chinesa está sendo montada a partir recursos humanos. É bom lembrar, ain-
exemplo, ela vale menos de US$ 2. Os de uma alquimia bem sucedida de baixos da, que a locomotiva chinesa tem, à sua
altamente qualificados ganham muito salários, um partido único, busca deses- disposição, o maior mercado interno do
bem, o que gera uma enorme quantidade perada pela produtividade, muito capital, mundo e desperta para a notoriedade num
de milionários, mas a grande maioria re- atração quase irresistível para os investi- momento em que as relações comerciais
estão cada vez mais globalizadas.
Isto significa, entre outras coisas, que a
A China está investindo China exerce uma enorme atração sobre
em hidrelétricas os investidores estrangeiros. Seus dirigen-
gigantes como a de Três tes, acostumados a usar os conceitos prag-
Gargantas (abaixo) e nas máticos e filosóficos de Confúcio (filósofo
mais diferentes formas nascido em 551 a.c. que esboçou uma éti-
de gerar energia para ca humanista e social, opondo-se às guer-
sustentar seu desenvol- ras e pregando a negociação), inauguraram
vimento (ao lado um estilo no qual está prevista,
e abaixo, à também, a transferência de
direita). tecnologia. A Gene-
ral Motors, por
exemplo, con-
seguiu permis-
são para instalar
uma fábrica em
Xangai, porque
aceitou construir,
na região, um cen-
tro de pesquisa e de-
senvolvimento. Hoje, as empresas au-
tomobilísticas chinesas buscam fazer
parcerias com suas concorrentes inter-
nacionais, o que pode significar certo
acesso aos segredos industriais de seus
sócios. Mesmo diante destas condições,
que podem ser, no mínimo, considera-
das dúbias, existem mais de 250.000 em-
presas estrangeiras tentando se instalar
em território chinês ou fazer parcerias
com a República Popular da China.

36 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


A produção têxtil,
tradição chinesa, gera,
hoje, milhares de
empregos, abastece o
maior mercado interno
do mundo e exporta em
massa. O visual das
mulheres torna-se
contemporâneo e
fashion

O setor público
A presença do setor público na vida
chinesa é bastante significativa. Calcula-se
que ela representa cerca de 40% a 50%
do PIB do país. A liberalização já cami-
nhou o suficiente para permitir ótimos ne-
gócios aos empresários locais e a seus só-
cios estrangeiros, mas o Estado continua
lá, vigilante e disposto a defender seus in-
teresses. Neste contexto, se gera o guanxi,
uma expressão chinesa que significa po-
der de influência e jogo de interesses, mas
que pode significar ajuda àqueles que são
considerados amigos. Em alguns setores,
o Estado se faz mais presente do que em
outros. Na aviação comercial, por exem-
plo, o Partido Comunista controla e apro-
va desde as novas rotas aéreas até a com-
pra de aviões pelas empresas.
É a partir daí que talvez seja mais fácil
entender o chamado “milagre chinês” –
o Estado procura garantir o crescimento
da iniciativa privada. Há dois anos, as mi-
lhões de estatais que participavam da vida
econômica, antes da abertura, foram di- nesa precisa muito dela. O governo autori- A pirataria é condenável e empana o bri-
minuídas para cerca de 170.000. Além zou que os fundos de pensões estatais invis- lho da nova imagem chinesa, mas ela gera
disso, o governo já deixou bem claro que tam, fora da China, cerca de US$ 1,1 bilhão, muitos empregos no mercado interno.
pretende manter apenas 189 grupos esta- em 2006, o que significa negócios nos mais Neste cenário, é preciso considerar –
tais com atuação em setores estratégicos. diversos setores econômicos. lembram os setores ligados à pesquisa
Na cola da enorme expansão econô- de soluções tecnológicas – que, hoje em
mica, os chineses dão passos de gigante A pirataria dia, os custos de desenvolvimento de
em direção ao exterior. Atualmente, o Para poder desempenhar o papel que novos produtos são altíssimos, principal-
China Construction Bank, o terceiro mai- espera ter no mundo contemporâneo, a mente na área de fármacos e no setor au-
or grupo do setor no país, está negocian- China precisa, no entanto, mudar sua atitu- tomobilístico. A Organização Mundial de
do a compra de 20% do banco de investi- de com relação à pirataria e à falsificação. O Comércio – OMC é o fórum mais indi-
mentos americano Bear Stearns. governo chinês estima que estas atividades cado para resolver conflitos comerciais
Uma outra área que se expande além das ilegais geram cerca de US$ 24 bilhões anu- e o que ela propõe é justamente uma das
fronteiras (e isto interessa diretamente ao almente. As empresas estrangeiras afirmam medidas que pregava Confúcio: enten-
Brasil) é a de energia, pois a locomotiva chi- que esta é uma estimativa muito modesta. dimento e negociação.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 37


ESPECIAL

Parceria americana
Um dos pontos mais surpreendentes do Os contrastes
boom chinês, atual, é o país com o qual foi entre o meio rural,
buscar uma de suas mais sólidas alianças: agrícola e tradicional,
os Estados Unidos. Dizem, alguns analis- e os grandes centros urbanos, ultra
tas, que um dos motivos desta aliança vem modernos, são evidentes.
do fato de que, no século XIX, os Estados Investimentos em educação tentam
Unidos foram um grande pirata de paten- equilibrar as diferenças e mudar
tes mundiais para alavancar seu desenvol-
esse quadro.
vimento, e as raízes da parceria viriam daí.
Ironias à parte, ninguém pode negar que as
grandes cadeias de lojas americanas conti- Enquanto isto, o Japão parece ter parte
nuam cheias de produtos chineses e, isto, da sua economia estagnada por conta do
sem dúvida, ajuda a manter a inflação dos crescimento chinês que, segundo alguns
Estados Unidos sob controle. Segundo os tos. A China, por sua vez, necessita ver os economistas, com seus produtos baratos,
especialistas, uma grande parte da riqueza Estados Unidos fortes, investindo em ter- ajuda a manter a inflação de uma parte sig-
gerada na China fica com os intermediários ritório chinês e importando os seus pro- nificativa dos países ocidentais sob contro-
americanos, por isso a metade do aumento dutos. Cálculos indicam que as famílias le. Os chineses vão mais longe: já têm um
da produtividade americana se deve, de um americanas economizaram US$ 600 bi- olho na África, desprezada por muitos se-
modo ou de outro, ao suor dos trabalha- lhões nos últimos dez anos, importando tores do capitalismo de ponta. Já imagina-
dores chineses. produtos chineses baratos. Os chineses ram quando o gigante africano despertar,
Chegamos, pois, a um ponto chave: os retribuem, comprando US$ 6 de cada US$ tendo como parceiro o dragão chinês?
americanos dependem dos chineses para 100 de títulos da dívida pública americana FONTES: REVISTAVEJA E JORNAIS FOLHA DE SÃO PAULO E
produzir barato e para financiar seus gas- que são colocados no mercado. ESTADO DE SÃO PAULO

38 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


AÇÃO SOCIAL

SESC – SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO

MELHOR IDADE
recárias condições culturais propicia mais autonomia. Os resultados de assessorias técnicas, formação de pes-

P para um envelhecimento sa-


dio, inadequação das cidades
às condições físicas do idoso,
dificuldades de acesso a pro-
gramas de cultura e lazer: estes são atual-
mente alguns dos fatores para o confina-
mento das pessoas da terceira idade. Como
são alcançados através da participação do
idoso em várias atividades, como cursos
de atualização de conhecimentos, momen-
tos de convivência com crianças e adoles-
centes, programações de música, artes
plásticas, concursos, exposições, seminá-
rios e visitas culturais.
soal e apoio logístico para projetos e even-
tos ligados à terceira idade. A qualidade do
trabalho realizado com mais de 100 mil
idosos no país rendeu ao SESC convite
para participar do Comitê sobre Envelhe-
cimento, coordenado pelo Ministério das
Relações Exteriores, e do Conselho Na-
resultado, sentimentos de solidão, insegu- Para reciclar os conhecimentos dos cional dos Direitos dos Idosos, coordena-
rança, apatia e doenças físicas e psíquicas. idosos, o SESC mantém as Escolas Aber- do pelo Ministério da Justiça, do qual par-
Na contramão desse processo, destaca- tas da Terceira Idade, com cursos de lín- ticipa até hoje.
se o pioneirismo do SESC, com o Trabalho guas, informática, artesanato, e outros. O Trabalho Social com Idosos espa-
Social com Idosos. Criado em 1963, em Com o intuito de vencer as dificuldades lhou-se pelo Brasil afora como um novo
São Paulo, o programa quebrou paradig- de relacionamento entre idosos e jovens, modelo de atendimento. Assim, o SESC
mas: numa época em que o Brasil era jo- há ainda o Projeto Era Uma Vez ...Ativida- prossegue planejando e implantando no-
vem – apenas 5% da população tinha mais des Intergeracionais, no qual são tratadas vas estratégias de ação voltadas ao setor,
de 60 anos –, as poucas ações oferecidas questões do envelhecimento, em ativida- pela dignificação do envelhecimento hu-
eram assistencialistas. O trabalho da enti- des lúdicas e compartilhadas. mano, que passa necessariamente pela
dade buscou valorizar a terceira idade. Outra vertente importante é a coope- oferta de condições que melhorem a qua-
O SESC resgata a auto-estima dos par- ração do SESC com diversas entidades go- lidade de vida do idoso e sua participação
ticipantes, integra-os, socializa-os, e lhes vernamentais e da sociedade civil, através na vida em comunidade.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 39


TENDÊNCIA

“Há diferenças entre o bem da


coletividade e o bem individual”
O modelo de desenvolvimento adotado pelos chineses assegura a promoção
dos direitos humanos ao diminuir a pobreza, afirma Charles A.Tang
Charles A. Tang, Presidente da Câ-
mara de Comércio e Indústria Bra-
sil-China, desenvolveu sua carreira
no setor financeiro. Hoje, ao exer-
cer a presidência de uma institui-
ção destinada a se ocupar das rela-
ções Brasil-China, entre suas fun-
ções estão as de remover barreiras
e promover o fluxo de comércio
entre essas duas potências, que bus-
cam ampliar o conhecimento mú-
tuo e promover um intercâmbio
mais produtivo.
Analista crítico da atual realidade
brasileira, ele tem a China como
modelo de desenvolvimento exem-
plar e acredita que, mais importan-
te do que atender a direitos indivi-
duais, é necessário assegurar a pro-
moção sócio-econômica da popula-
Charles A. Tang: “Antes de mais nada, a China representa um imenso mercado”.
ção como um todo.
China – eu diria, até mesmo, que não A fluência do seu português dá a en-
conhecem absolutamente a China – a tender que é duradoura a sua con-
Quais são as suas expectativas em vêem como uma ameaça. Esses mesmos vivência com o Brasil. Quando e por
relação a este seminário? empresários, no entanto, depois que quê ela começou?
CAT – Eu estou firmemente convenci- passam a conhecê-la, mudam totalmen- CAT – Eu vim para o Brasil nos anos 60
do de que uma das oportunidades mais te o seu julgamento e reconhecem que do século XX, quando este país represen-
importantes para aproximar dois países o país representa uma fonte de inúme- tava, para o mundo inteiro, um milagre
amigos, que se admiram mutuamente, ras oportunidades para os seus negóci- econômico. Eu era funcionário do então
é o conhecimento. Muitos empresários os. A China é um gigantesco mercado, denominado Banco de Boston e fui trans-
brasileiros que não conhecem bem a antes de mais nada. ferido para cá com a missão de implantar

40 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


o leasing por aqui. Depois que montei para
o Banco de Boston a primeira empresa de
leasing no país, não consegui me manter
mais na empresa, porque 11 instituições
diferentes, com propostas cada vez mais
tentadoras, me chamaram para implantar
o sistema. Assim, trabalhei com profissio-
nais do gabarito de José Safra, Mário
Henrique Simonsen e Flávio Pentagna
Guimarães, para dar apenas três exemplos,
em 11 bancos diferentes, sempre implan-
tando leasings.
Quando saí do Banco de Boston, aliás,
substituiu-me um funcionário que, mais
tarde, faria uma carreira brilhante na casa
e que começou como gerente da empre-
sa que eu montei: era o Henrique Mei-
relles, atual Presidente do Banco Central.
Além disso, já havia aprendido português
anteriormente, pois, quando criança, mi- Segundo Charles A. Tang, a China procura atender a sua imensa população e, ao mesmo
nha família havia morado no Brasil duran- tempo, cuidar do meio ambiente.
te um certo período, antes de nos mudar-
mos definitivamente para Nova Iorque, gratidão da China pelo fato de o Brasil tê- continuarmos a criar esse tipo de dificul-
onde cresci. la reconhecido como um país de econo- dade para aqueles que desejam investir no
Desde que vim para trabalhar no Ban- mia de mercado. Evidentemente, ela é, e país, isso, com certeza, poderá desencorajar
co de Boston, posso dizer que moro aqui, muito mais do que o Brasil. Esses inves- outros futuros investimentos.
embora, na verdade, eu divida meu tem- timentos vão se dever, isto sim, ao fato de
po entre o Brasil, os Estados Unidos e a que a economia chinesa tem que ter um Atualmente, circulam na mídia in-
China. Meus dois filhos, que são brasilei- certo domínio sobre o fluxo regular e ternacional muitas críticas ao modo
ros – apesar de também terem nacionali- confiável dos produtos estratégicos de como a China administra sua políti-
dades chinesa, americana e da União Eu- que necessita para assegurar seu cresci- ca ambiental, principalmente no
ropéia – estudaram aqui, antes de prosse- mento continuado e a alimentação de que diz respeito à poluição do ar e
guirem seus estudos universitários nos seus habitantes. É isso que vai garantir os a agressões a diversos ecossistemas
Estados Unidos. investimentos chineses entre nós. para a construção de barragens e
Como vê, apesar do perfil internacio- instalação de usinas hidrelétricas.
nal, tenho profunda ligação com o Brasil
e com os brasileiros. Quanto a conhecer a
língua e as peculiaridades do país, devo
“ Na China, a visão
predominante é a de
melhorar o nível econômico
Como o senhor analisa essas críticas?
CAT – Para começar, a China é signatária
do Protocolo de Quioto e presta muita
dizer que não sou o único: o Brasil, por atenção ao problema ambiental. Basta lem-
exemplo, tem muita sorte com o atual
embaixador chinês, um diplomata que,
além de falar um português impecável,
e social do seu povo
CHARLES A. TANGN ” brar que, antes mesmo da atual alta dos
preços do petróleo, o país já instituíra seu
programa de substituição desse combus-
tem vasto conhecimento sobre o país. Ocorrem, todavia, alguns problemas sé- tível pelo álcool, justamente para comba-
rios: um gigantesco investimento, de cerca ter a poluição. É preciso considerar, en-
As perspectivas de investimento de US$ 1,5 bilhão, em uma siderúrgica, no tretanto, que a visão do problema por parte
chinês no Brasil parecem-lhe posi- Maranhão, talvez não se efetive mais, por- da China é um pouco diferente. Aqui no
tivas? que a licença ambiental demorou mais de Brasil, se um homem estiver morrendo
CAT – O Brasil tem sido, e será, cada vez três anos para sair. Além disso, o zonea- de fome e matar um jacaré para comer,
mais, alvo de crescentes investimentos mento empreendido pela Prefeitura de São possivelmente vai ser preso sem direito a
chineses. Isso não se deve às promessas Luís levou quase o mesmo tempo para ser pagar fiança. Na China, o habitante que,
que o Presidente da República Popular realizado e o Governo Federal brasileiro com fome, matar um animal para comer,
da China, Hu Jintao, fez ao Presidente queria taxar as máquinas e equipamentos não será tão duramente penalizado.
Luiz Inácio Lula da Silva, e nem a uma que viriam como parte do investimento. Se Quanto às represas, a China é um país

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 41


TENDÊNCIA

imenso que tem uma enorme necessida- como eu, apaixonavam-se pelo país e aqui
de de energia. A maior hidrelétrica do iam ficando. Quando chegava a hora de
mundo – Três Gargantas, estará sendo serem transferidos para outro país, prefe-
inaugurada brevemente. Para construí-la, riam pedir demissão e permanecer aqui,
foi necessário inundar uma enorme área nesse país tão amável. Hoje, as condições
onde havia, inclusive, cidades. Repito, con- são diferentes. Naquele tempo, as taxas
tudo, que, na China, a visão predominante de crescimento do Brasil eram maiores
é a de que melhorar o nível econômico e do que as da China de hoje, que espantam
social do povo – o que fatalmente ocor- o mundo. Podia-se dizer, então, que a Chi-
rerá com a chegada da energia – é o mais na era um país pobre, até primitivo, do
importante. ponto de vista da sociedade civil, embora,
Finalmente, para falar a verdade, nunca a do ponto de vista militar, já dispusesse de
China, em seus oito mil anos de civilização, armamento atômico de primeira linha e
proporcionou ao seu povo um nível de de- de foguetes balísticos.
senvolvimento econômico e social como o
atual. O governo chinês conseguiu, nestas O senhor considera, então, que é tí-
duas últimas décadas, a maior conquista de pico das economias dirigidas con-
direitos humanos jamais vista na história centrar recursos nos armamentos
mundial: tirou 400.000.000 de pessoas da em detrimento do desenvolvimen-
pobreza (o país tem uma população calcu- Um dos maiores desafios to social?
lada em cerca de 1,3 bilhão de habitantes, a chineses é enfrentar o CAT – Claro, mas hoje é diferente, e a
maior do planeta) e as inseriu num patamar opção pela economia aberta tem tudo a
êxodo rural que compromete
social mais alto, o que lhes permitiu tomar ver com a diferença. Atualmente, as for-
parte, com dignidade, no crescimento e no a qualidade de habitação e ças armadas consomem uma parcela pe-
sucesso econômico do país. de vida nas grandes quena dos recursos do país, principalmen-
metrópoles. te depois que o Presidente Hu Jintao re-
Em sua opinião, a opção que a Chi- solveu concentrar esforços para melho-
na fez pelo mercado ajudou a con- rar o nível econômico e social dos 850
secução dessa conquista? brasileiro por opção e, como já disse, quan- milhões de camponeses que ainda não
CAT – Sem dúvida alguma. A economia do cheguei ao Brasil, o país crescia, sem participam plenamente do crescimento,
chinesa, embora pouco se fale disso, é violência, mais do que a China. Executi- embora suas rendas hajam quintuplicado
muito mais aberta do que a nossa. Eu sou vos internacionais que aqui chegavam, nas últimas décadas.

42 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


O fenômeno do inchamento das ci-
dades, devido ao êxodo rural, que
ocorre no Brasil, reproduz-se na
China?
CAT – Sim. Justamente por isso, está em
vigor a política do go west, que consiste em
um esforço para melhorar a economia das
regiões e das cidades não costeiras, do cen-
tro e do Oeste, e para elevar o nível de
vida no interior do país e deter esse êxodo.

Ao se abrirem as portas do país para


uma economia de mercado, a po-
pulação chinesa e a sua maravilhosa
civilização têm conseguido resistir
às tentações e aos perigos do consu-
mismo?
CAT – Tem sido difícil resistir a isso, mesmo
em uma civilização de bases tão antigas e só-
lidas como a da China. Atualmente, o país
tem sido considerado o maior mercado Charles A. Tang e o Senador Bernardo Cabral durante o seminário dedicado às relações Brasil-China.
mundial para artigos de luxo. Para constatar
isso, basta ouvir o que dizem os grandes certeza, não teria chegado à atual condi- economia mundial pode lhes oferecer, in-
costureiros e empreendedores da moda no ção de quarta potência mundial e, em ter- dependentemente de questões ideológicas.
mundo ocidental, como os italianos Versace mos de paridade de poder aquisitivo, de Basta imaginar o que Mao Tse Tung pensaria
e Armani, que reconhecem serem os chine- segunda potência mundial. a respeito do partido que fundou e que, há
ses, hoje, seus maiores consumidores. O país dois anos atrás, elaborou e aprovou uma
tem, atualmente, 400 milhões de habitantes Podemos concluir que é um pouco emenda constitucional, especificamente
de classe média e 20 milhões de milionári- como diz o ditado: “não se fazem para proteger a propriedade privada no país,
os, uma parcela da população que, há cerca omeletes sem quebrar ovos”? É líci- o que é a antítese do marxismo. O que ele
de duas décadas atrás, ganhava quase nada. to sacrificar individualidades em diria das imensas torres capitalistas que se
São, portanto, novos ricos, que querem des- função da coletividade? erguem nas maiores cidades chinesas e que
frutar do bom e do melhor. CAT – Existem concepções diferentes do abrigam as bolsas de valores que ajudam a
que venha a ser uma adequada governa- capitalizar as empresas do país? Finalmen-
Entrar e sair da China, atualmente, é bilidade. Há nações que acham que, entre te, o que se pode dizer de um Partido Co-
um direito plenamente exercido por os direitos humanos, estão os de morrer munista que abriu suas portas para a filiação
sua população e pelos visitantes? de fome, desde que o morto seja enterra- de empresários e de capitalistas?
CAT – Sim, a entrada e a saída no país são do com uma cédula em volta do caixão. Eu tenho a firme convicção de que,
livres. Além disso, há países que elegem gover- hoje, a China é um país capitalista que tem
nantes que nem sempre estão cuidando um governo socialista, e creio que nós,
Sobre as informações, veiculadas dos interesses do seu povo. Em outras aqui do Brasil, podemos compreender
pela mídia ocidental, de censura à nações, prevalece a mentalidade de que a muito bem esse tipo de contradição, já que
imprensa e à Internet na China, o que prioridade deve ser tirar 400 milhões – e, somos um país capitalista com uma eco-
diz o senhor? daqui a dois anos, serão 600 milhões – de nomia socialista. Não custa lembrar, final-
CAT – Bem, existe uma diferença filosó- seus habitantes da pobreza. mente, outra contradição da história bra-
fica entre o bem da coletividade e o bem sileira: quem mais implantou uma econo-
individual. Se a China não houvesse se Podemos dizer que, dos tempos de mia com algumas características socialis-
concentrado na direção do bem da coleti- Mao Tse Tung para cá, a China tem tas, neste país, foram aqueles governos que
vidade, dificilmente ela teria se mantido experimentado uma crescente libe- combateram ferozmente o socialismo
íntegra como nação. Além disso, mais di- ralização? político: os governos militares.
ficilmente, ainda, teria podido proporcio- CAT – É claro. Os chineses têm demons-
nar a seu povo essa elevação de nível só- trado agir com competência e sabedoria para Existe alguma complementaridade
cio-econômico a que já me referi e, com aproveitar, em benefício próprio, o que a entre as economias chinesa e brasi-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 43


TENDÊNCIA

adotasse e fizesse cumprir um plano de tos, montanhas, áreas urbanizadas, enfim,


prosperidade, ao invés de perseguir essa falta espaço para um plantio intensivo, como
meta, muitas vezes ilusória, da estabilida- precisa ser o da cana-de-açúcar, em escala
de econômica. Para dar idéia do que pen- suficiente para a fabricação de combustí-
so, outros de meus artigos chamaram-se vel. A China tem de dar prioridade a planta-
“A ilusão da política de juros exorbitantes” ções que gerem alimentos. A China é um
e “O modelo econômico de pobreza”, pois mercado excelente para a exportação de
tem sido esse o padrão seguido e do qual, produtos agrícolas brasileiros, além dos
logicamente, estamos colhendo os frutos. manufaturados.
Nesse sentido, deveríamos seguir o Agora mesmo, um associado brasileiro
exemplo da China, cujo plano de cresci- da nossa câmara descobriu um filão gigan-
mento foi implantado após a morte de tesco de exportação para a China: o da ra-
Mao Tse Tung, pelo grande líder Deng ção para animais de estimação, que é o pro-
Xiao Ping, e, que, apesar do grande sacrifí- duto certo, no momento certo, para o país
cio pessoal e de sua família, conseguiu certo. Até há pouco tempo, era proibido
mudar a visão do povo chinês, com os re- criar animais domésticos, mas depois que
sultados que todos conhecemos e que o isso passou a ser permitido, a China já tem
mundo não pára de admirar. três vezes mais animais de estimação do que
o Brasil; algo em torno de 50 milhões.
Cite uma evidência de que a políti-
ca de estabilidade econômica, à cus- É curioso observar como os fenôme-
ta da elevação de juros, tem sido nos se repetem. Antigamente, um dos
prejudicial ao Brasil. clichês humanos da China era o da
CAT – Eu acho que, nesses últimos 12 dama com seu cachorrinho pequinês.


anos, nós consumimos um PIB inteiro de De repente, passou a ser proibido ter
A China precisa alimentar recursos que não possuíamos para man- cachorro e, agora, voltam os animais
sua população e ter essa política ilusória de estabilidade, à de estimação. Em sua opinião, a reli-
é um ótimo mercado para custa de juros exorbitantes. O Presidente gião, que também foi tão combatida,


Fernando Collor de Mello deixou o go- voltará à cultura chinesa?
produtos agrícolas brasileiros verno com R$ 30 bilhões de dívida inter- CAT – A China não proíbe a religião. Há
CHARLES A. TANGN na líquida, que, hoje, passa de R$ 1 trilhão. muitos templos em todo o país, princi-
palmente budistas, e a filosofia de Confú-
leira? Poderá ocorrer um equilíbrio Em termos de produtos, o que a Chi- cio, por exemplo, é respeitada e até mes-
que seja satisfatório para os dois na e o Brasil têm a oferecer um ao mo difundida pelo governo chinês. O que
países na sua corrente de comércio? outro? a China não admite é o uso da religião
CAT – Acredito que nós, brasileiros, te- CAT – O etanol, por exemplo, será um como forma de contestação política.
mos muito mais a oferecer à China do que produto de larga exportação do Brasil para
o contrário. Atualmente, por exemplo, te- a China, pois ela necessita de energia que Nos tempos de Mao Tse Tung, dizia-
mos podido oferecer commodities, mas eu não gere poluição. Nada como a energia se que a filosofia de Confúcio era
acho – e o disse claramente, em meu últi- limpa. Nossa Câmara de Comércio e In- conformista, respeitadora do status
mo artigo publicado na Folha de São Pau- dústria Brasil-China está ajudando cerca quo e anti-revolucionária.
lo – que o Brasil reúne muito mais condi- de 100 indústrias brasileiras a comprarem CAT – Isso foi antigamente. Hoje em
ções do que a China ou o Japão de ser o fábricas na China e muitas empresas chi- dia, o governo chinês, talvez mesmo por
maior pólo exportador e a maior super- nesas a abrirem negócios aqui no Brasil. essas características, a admira bastante.
potência econômica mundial. Nós só não
o somos, hoje, por falta de uma visão po- Seria viável plantar cana-de-açúcar Por favor, dê uma última mensagem
lítica e pela omissão na criação de um pla- na China? para os nossos leitores.
no de prosperidade para a nação. Em go- CAT – A China já planta cana, só que de CAT – Eu quero dizer que considero bri-
vernos anteriores, como o de Juscelino uma espécie diferente. O grande problema lhante o trabalho que o Presidente João
Kubitschek e em alguns governos milita- da China, no entanto, é que, por um lado, Augusto de Sousa Lima vem desenvol-
res, o planejamento embasava a adminis- menos de 18% de sua área territorial é vendo com a realização de seminários de-
tração pública e o crescimento do país. agriculturável ,e, por outro, o país deve sus- dicados a tantos países. Eu me congratulo
Eu acredito que o Brasil seria outro se tentar uma população imensa. Há deser- com ele por esse sucesso.

44 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


“Em vez de negócios da China
vamos ter negócios com a China”
Severino Cabral, Presidente do Ins- a própria América do Sul. Quando se fala
em Ásia, é bom lembrar que nela estão
tituto Brasileiro de Estudos da China incluídos, além da China, países como Ja-
pão, Coréia e Índia, que representam, tam-
e Ásia-Pacífico, é um homem acos- bém, um fantástico mercado potencial.
tumado a pensar estrategicamente. Não é de se estranhar que uma região que
tem a maior parte da população mundial e
Capaz de refletir sobre o mundo de conta com um dos mercados mais ativos
do mundo, caminhe no sentido de aumen-
forma organizada e profunda, seus
tar, cada vez mais, as suas vendas e as suas
pontos de vista desenvolvidos nesta compras do Brasil. Isto será uma constan-
te na vida econômica e financeira de nosso
entrevista exclusiva à revista da Fe- país e temos que nos preparar para tirar o
deração das Câmaras de Comércio maior proveito possível destas relações
que, como todo relacionamento comer-
Exterior — FCCE são bastante sig- cial, tem duas mãos: uma que vai e outra
que vem.
nificativos. Segundo Severino Cabral, Temos que trabalhar com clareza no
dentro de alguns anos, a China se
transformará no maior parceiro co-
nosso país, para planejar o futuro, procu-
rando antecipar algumas questões, pois a
própria dinâmica do crescimento econô-
“ Precisamos desenvolver o nosso
conhecimento sobre a Ásia,
sobre os seus costumes, língua
mercial do Brasil e, por isso, precisa- mico traz, também, alguns problemas. Te-
mos que nos alinhar em torno de um ob- e história, para que esta relação
mos conhecer melhor não só a reali-
dade econômica daquele país, mas,
jetivo maior: o desenvolvimento da nossa
possibilidade de penetrar nestes merca-
dos. É evidente que existe uma gama mui-
siga no melhor sentido possível
SEVERINO CABRALN ”
também, sua história e sua cultura. to grande de produtos e serviços em que bilateral de um país latino-americano com
podemos ser competitivos, com relação à um país asiático. Este valor superava, in-
Europa e os Estados Unidos, na conquista clusive, as relações comerciais de longa
Entre meados de 2005 e 2006, acon- de novos nichos de mercados. Devemos data que o Brasil vinha mantendo com o
teceu uma mudança bastante ex- trabalhar nesta direção, procurando, in- Japão.
pressiva no cenário do nosso comér- clusive, entender os nossos clientes e, À medida que a economia da China foi
cio exterior, e o Brasil está compran- também, os nossos fornecedores. Isso im- crescendo e se inserindo cada vez mais na
do mais dos países asiáticos do que plica desenvolver o nosso conhecimento economia mundial, cresceram, também,
da União Européia – UE, que tradi- sobre esta região, sobre os seus costumes, nossas trocas comerciais com os chine-
cionalmente tem sido um de nossos língua e história, para fazermos com que ses. Este é um dado real. Não podemos
maiores parceiros. Como o senhor esta relação progrida no melhor sentido fugir dele e nem nos espantarmos com
analisa este cenário? possível. ele. Hoje, o que nos aproxima mais da
SC – Esse dado não deve surpreender, China é o fato de ser este um mercado
uma vez que a economia asiática é uma das O que nos aproxima e o que nos dis- que pode e deve absorver, de forma cres-
maiores do mundo, sendo atualmente li- tancia dos chineses? cente, aquilo que colocamos de competi-
derada pelo gigante chinês. Assim, é lógi- SC – O processo tem seguido uma linha tivo no mercado mundial, que são, princi-
co que as nossas trocas comerciais vão constante. A cada década temos aumenta- palmente, as commodities de energia e os
tender a crescer e a superar, num prazo do a nossa pauta comercial com a China. alimentos. O Brasil tem uma grande força
razoável, talvez em torno de uma década, Durante algum tempo, ela esteve estabili- nesta área, ofertando produtos dos quais
o comércio com nossos mercados tradi- zada, em torno de US$ 3 bilhões, e, mes- a China tem cada vez mais necessidade.
cionais, ou seja, a UE, os Estados Unidos e mo assim, era considerada a maior relação A segunda questão está ligada à dinâ-

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 45


TENDÊNCIA

mica de crescimento da China, ou seja, Voltando à questão chinesa, o nos- problemas, mas, tal como nós fizemos
a nossa economia poderia vir a ser so grande desafio é nos adaptarmos a no passado, com os Estados Unidos, que
vulnerabilizada pela presença maciça da essa “tsunami” econômica oriental. Se ainda hoje são o nosso maior parceiro co-
indústria chinesa na América do Sul. É não soubermos surfar nesta nova onda mercial, temos de encarar os desafios.
preciso ver esta situação com outros chinesa, não sobreviveremos como Dentro de alguns anos, os chineses po-
olhos, pois, ao mesmo tempo, o Brasil grande potência industrial e econômi- derão se transformar nos nossos maio-
está trabalhando com outros parceiros ca a que todos aspiramos ser. O teste res parceiros de comércio e vamos ter
para abrir novas frentes comerciais e, que estamos tendo agora com os chi- de conviver com eles por um longo tem-
também, para reformular as regras in- neses é exemplar. Temos complemen- po. Precisamos desenvolver nossas rela-
ternacionais que regulam a atividade taridade com eles em vários setores e ções, sempre tendo em mente que a épo-
comercial. Nós estamos na liderança da precisamos nos revelar ainda mais ca do negócio da China já passou. Temos
reivindicação pela reforma do comér- competentes, não só para competir de fazer negócios com a China. Hoje,
cio mundial, e o que nós queremos é com eles, mas, também, para intervir aquele país não é mais uma semi-colônia
aumentar o fluxo no sentido de vender junto com eles em outros mercados. do mundo industrializado, da qual a mai-
e de comprar. Nesse momento, o cha- Essa é uma lógica que pode ser aplica- oria das nações desenvolvidas se aproxi-
mado Grupo dos Oito – G8, que reúne da em vários mercados específicos. De mava apenas para ganhar dinheiro. Hoje,
as potências mais desenvolvidas do qualquer maneira, volto a insistir que a China é um gigante econômico, indus-
mundo, acedeu ao nosso pedido de mais é preciso ter clareza de que a relação trial e financeiro. Nós precisamos culti-
abertura de negociações na Organiza- Brasil-China veio para ficar. Pontual- var uma inteligência estratégica para tirar
ção Mundial do Comércio – OMC. mente, ela pode ter aqui e ali alguns o melhor proveito desta relação.

Uma brasileira expert em


economia chinesa
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e
Social – BNDES participou dos trabalhos do Seminá-
rio Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos
Brasil-China.
O seminário contou com o pronunciamento especi-
al de Cláudia Nessi Zonenschain, Gerente do Departa-
mento de Planejamento do BNDES, que está concluin-
do, sob a orientação do Professor Doutor Antonio Bar-
ros de Castro, seu doutorado no Centro de Pós-Gradua-
ção em Desenvolvimento,Agricultura e Sociedade da Uni-
versidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Sua tese “Pa-
drões de desenvolvimento – uma análise de substitutos
históricos na experiência de catching up da China” é o re- A economista do BNDES, Cláudia Nessi Zonenschain.
sultado do aprofundamento dos seus estudos sobre a
China contemporânea. Popular da China, no ano passado, participando do even-
Mestre em Economia Industrial pela Universidade to First Tsinghua International Forum for Doctoral Candidates,
Federal do Rio de Janeiro, Cláudia esteve na República na Universidade de Tsinghua, em Beijing.

46 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Em sua opinião, qual o papel a ser ano passado, data da primeira operação deixá-las inteiramente por conta do
desempenhado pelo BNDES no Se- realizada. Eu acredito que essa é uma li- setor privado?
minário Bilateral de Comércio Ex- nha que tende a crescer bastante. CNZ – Penso que a participação do
terior e Investimentos Brasil-China, BNDES vai se intensificar nesse campo,
organizado pela FCCE? Esses financiamentos do BNDES são pois o futuro da nossa economia aponta,
CNZ – Acredito que o tema deste semi- atraentes para as empresas, do pon- entre outras tendências, para a exporta-
nário, que analisa o comércio e os respec- to de vista financeiro? ção e a internacionalização. Nesse sentido,
tivos investimentos dos dois países, é mui- CNZ – Acredito que sim. A julgar pela o BNDES já está, de certo modo, se ante-
to importante. O BNDES é uma das insti- grande procura em torno dessas linhas de cipando ao seguir um caminho que deve-
tuições brasileiras que pode dar apoio e promoção de exportações, pode-se con- rá, eu acredito, ser o mesmo percorrido
patrocínio às empresas nacionais que de- cluir que os seus financiamentos são ex- pelo Brasil nos próximos anos.
sejam se aproximar da China e usufruir tremamente favoráveis e que, de fato, fa-
das oportunidades estratégicas oferecidas
pelo comércio com aquele país. Esse apoio
poderá se dar por meio da formação de
cilitam o ingresso e a permanência de nos-
sas empresas no mercado internacional,
assim como ajudam a assegurar a viabili-
“ Temos de construir uma forma
de olhar a China, não com
medo, mas com esperança
alianças, em joint ventures, pela legalização dade econômica e financeira dos seus ne-
de investimentos na China ou, ainda, por gócios no exterior. de desfrutar de uma grande
intermédio da exportação de nossos pro-
dutos para o imenso mercado chinês, além
de outras formas de cooperação. O
BNDES, como principal instituição de fi-
Em sua opinião, o empresariado bra-
sileiro já se conscientizou de que
pode contar com a ajuda do BNDES
oportunidade
CLAUDIA NESSI ZONENSCHAINN ”
nanciamento a investimentos no Brasil, e de outras agências governamen- Que funções a senhora desempenha
pode ajudar a concretizar as diversas opor- tais para iniciar ou dinamizar suas no BNDES?
tunidades e, com certeza, vai desempe- exportações? CNZ – Eu coordeno uma equipe no De-
nhar um papel importante nesse intercâm- CNZ – Creio que essas linhas já são bas- partamento de Planejamento da Área de
bio. Por tudo isso, é natural que nós to- tante conhecidas, mas é claro que o Planejamento. Nossa gerência é a Gerên-
memos parte neste seminário. BNDES tem sempre procurado atuar jun- cia de Estudos, que pesquisa as “frentes
to à imprensa com o objetivo de divulgar, estratégicas”. Na realidade, trata-se de

“ Consideramos China e Índia


atores importantes no
panorama mundial.
da melhor forma possível, não apenas as
linhas tradicionais do banco, mas também
as que vêm sendo criadas.
uma investigação de oportunidades das
quais o Brasil possa dispor para acelerar
o seu desenvolvimento, para construir
suas próprias rotas tecnológicas. Traba-
Julgamos essencial conhecer Essa atuação do BNDES junto ao co- lhamos, basicamente, com três tipos de
seus movimentos
CLAUDIA NESSI ZONENSCHAINN” mércio exterior brasileiro tende a
crescer no futuro, ou ela representa
apenas um boom por meio do qual o
banco pretende deslanchar as nos-
investigação: uma, de frentes estratégi-
cas, em que estudamos alguns setores
públicos; outra, em que damos apoio,
com as linhas que criamos recentemen-
O BNDES já tem uma tradição de sas exportações para, mais tarde, te, à inovação por parte das empresas; e
investimento no comércio exterior
brasileiro?
CNZ – Sim. Em termos de promoção das
As economias das nações BRIC (2005)
exportações, existem algumas linhas de Brasil Rússia Índia China
investimento, como a linha de financia- PIB taxa de cresc. real 2,4% 6,4% 7,6% 9,9%
mento à produção, que é chamada de li- PIB (câmbio oficial) $619,7 bi $740,7 bi $719,8 bi $2,225 tri
nha pré-embarque, pois financia as em- PIB per capita PPA $8,400 $11,100 $3,300 $6,800
presas brasileiras que produzem para ex- Inflação 5,7% 11% 4,6% 1,9%
portar. Uma outra, chamada de pós-em- Exportações $115,1 bi $245 bi $76,23 bi $752,2 bi
barque, financia a comercialização da ex- Importações $78,02 bi $125 bi $113,1 bi $631,8 bi
Reservas de moeda
portação. A internacionalização das em-
estrangeira e ouro $69,28 bi $181,3 bi $145 bi $795.1 bi
presas brasileiras é uma linha em que o
População 188 mi 142 mi 1,09 bi 1,31 bi
BNDES tem entrado com muita disposi- Dividas (externa) $211,4 bi $230,3 bi $119,7 bi $242 bi
ção, embora recentemente, pois ela foi Dívidas públicas (% PIB) 50,2% 15,6% 82% 28,8%
regulamentada no segundo semestre do Fonte: CIA Factbook

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 47


TENDÊNCIA

uma terceira, por meio da qual vimos dos equipamentos e, ainda, dos serviços de CNZ – O tema deste encontro é extrema-
acompanhando a evolução econômica da engenharia. Vejo, também, possibilidades mente relevante e eu acho importante ou-
Índia e da China. Consideramos esses promissoras em alguns setores de infor- vir os diversos pronunciamentos e conhe-
países dois atores de grande importância mática e acredito que, em breve, os chineses cer as dúvidas que necessariamente vão sur-
no atual panorama mundial. Julgamos terão uma demanda muito grande em rela- gir dos debates entre os especialistas dos
essencial conhecer seus movimentos, ção a carros populares. diferentes setores. Acho que nós temos que
inclusive para estabelecermos determi- construir uma forma de olhar a China, não
nadas correlações com os nossos, razão Quais são as suas expectativas em com medo, mas com esperança de desfru-
pela qual, há cerca de um ano e meio, relação a este seminário? tar de uma grande oportunidade.
nos dedicamos a estudá-los.

Há críticas em relação ao nosso co-


mércio atual com a China. O que a
Novos rumos
senhora acha disso?
CNZ – Eu acho que as parcerias concre-
no comércio
tas começaram por onde era mais natu-
ral que começassem: pelas grandes em-
bilateral
presas brasileiras, como a Petrobras, a
Companhia Vale do Rio Doce, a Embrapa Nesta entrevista concedida à revista
e a Embraer. Talvez esse início não tenha da Federação das Câmaras de Comér-
se dado na forma e na extensão em que
imaginávamos. Acredito que, num segun- cio Exterior – FCCE, Yan Xiaomin,
do momento, a corrente comercial ten- Cônsul-Geral da República Popular
da a se diversificar e o Brasil dará um pas-
so adiante e terá oportunidade de se be- da China no Rio de Janeiro, reafir-
neficiar amplamente, realizando inter- ma sua crença no potencial de co-
câmbio com o imenso e poderoso mer-
cado chinês. mércio existente entre os dois paí-
ses, que deve ser ampliado. O Cônsul-Geral, Yan Xiaomin.
Quais têm sido os entraves mais sig-
nificativos à dinamização do nosso bastante adiantado. Este gasoduto ligará o
comércio com a China? Como está, atualmente, a relação Rio de Janeiro a Vitória e, futuramente,
CNZ – As controvérsias envolvem ques- bilateral de comércio entre o Brasil também ao Norte do Brasil.
tões que extrapolam a esfera pública, na e a China?
qual eu trabalho, e vão além da área técni- YX – As relações comerciais entre a Chi- Os jornais noticiaram que o Brasil
ca e da esfera de competência do BNDES, na e o Brasil são excelentes. Além disso, já está comprando mais da Ásia do
campo em que eu devo me manifestar. posso dizer que elas têm um bom futuro. que da Europa e, entre os países asi-
áticos, a China é aquele que mais se
Em termos de complementaridade, Quais os produtos de maior peso destaca como exportador de pro-
a senhora acredita que haja possi- nessa relação? dutos para o Brasil. O que o senhor
bilidades de um comércio intenso YX – Os produtos mais exportados do acha desta mudança de cenário, já
entre o Brasil e a China? Brasil para o meu país são a soja, o petró- que os brasileiros sempre tiveram
CNZ – Acho que sim. Na verdade, acredito leo cru, a madeira e os seus derivados, uma parceria comercial mais forte
que, efetivamente, uma das características como a celulose. com a União Européia?
comuns às duas economias é a sua comple- YX – Eu também tive esta informação
mentaridade. Nós temos muitas capacitações Existe alguma possibilidade de co- recentemente. De um ano para cá, a Chi-
que são interessantes para os chineses. Um operação entre brasileiros e chine- na passou a fornecer mais produtos para
exemplo é o segmento da produção do ses na área de energia e petróleo? o Brasil do que os próprios países euro-
etanol, já que eles acabam de optar pelo YX – Este setor está caminhando. Os pro- peus, que eram os parceiros mais tradici-
emprego do álcool misturado à gasolina.Vejo jetos concretos ainda estão sendo discuti- onais. Acho uma mudança muito signifi-
aí uma oportunidade enorme para o Brasil, e dos por ambos os lados. Eles ainda não se cativa e acredito que ela indica que o nos-
não apenas na venda do produto, mas tam- concretizaram.Temos um projeto de cons- so comércio bilateral pode vir a crescer
bém na negociação em torno da tecnologia, trução de um gasoduto no Brasil que está ainda mais.

48 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


FCCE
Federação das Câmaras de Comércio Exterior
Foreign Trade Chambers Federation

Seminários Bilaterais de Comércio Exterior e Investimentos


Calendário 2006

20 de fevereiro RÚSSIA

20 de março ÁFRICA DO SUL

24 de abril FRANÇA

22 de maio PERU

19 de junho PORTUGAL

17 de julho CHINA

21 de agosto PANAMÁ

18 de setembro SUÉCIA

23 de outubro ESPANHA

13 de novembro FINLÂNDIA

11 de dezembro ALEMANHA

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 49


DEBATE

Indústria têxtil quer mudança


nas relações comerciais
Ameaça de desemprego no setor mobiliza representante de tradicional
indústria brasileira em defesa de seus interesses
O dramaturgo e cronista Nelson relação ao Seminário Bilateral de lho profissional na China e de discussão
Comércio Exterior e Investimentos de investimentos de indústrias de maior
Rodrigues sentenciou que toda una- Brasil-China? porte naquele país. Ao mesmo tempo, não
nimidade é burra. Durante a reali- FP – Acredito que um seminário como vemos qualquer movimento recíproco –
este, que envolve dois países tão grandes, da China em relação ao Brasil – para atua-
zação do Seminário Bilateral de Co- como o Brasil e a China, é sempre uma ção em nosso setor. O que temos visto é o
mércio Exterior e Investimentos iniciativa importante para que se discu- interesse deles em relação a uma de nos-
tam as oportunidades e as ameaças. sas matérias-primas, o algodão, já que o
Brasil-China, organizado pela Fede- nosso país é um grande produtor de algo-
ração das Câmaras de Comércio Como o senhor avalia as atuais rela- dão de fibra média, com custos extrema-
ções entre os dois países? mente competitivos.
Exterior – FCCE, uma voz questio- FP – Tenho a convicção de que o que
nou os rumos da economia do país estamos vivendo, neste momento, em re- Um eventual barateamento de pro-
lação ao nosso comércio com a China não dutos da indústria têxtil no merca-
e, principalmente, os termos em que é alguma coisa pertinente apenas ao Bra- do brasileiro, graças a importações
vem se constituindo a corrente de sil. Estamos assistindo a uma visão manu- da China, não traria benefícios ao
fatureira muito forte por parte dos chine- consumidor brasileiro?
comércio entre Brasil e China. ses que está ocupando não apenas o espa- FP – Nossa ótica, ao analisar um proble-
ço do setor de confecções, como o de ma tão complexo, não deve ser tão míope
ara Fernando Pimentel, Superinten- outras indústrias da área de transforma- a ponto de perseguirmos possíveis e par-

P dente da Associação Brasileira da


Indústria Têxtil – ABIT, o setor
pode vir a ser esmagado pela inundação
ção.Temos que discutir aqui, com serieda-
de, o que é fruto da nossa incompetência,
genuinamente brasileira, e o plano de tra-
ciais benefícios imediatos, ao preço de
grandes e definitivos prejuízos para a nos-
sa economia. Isso afetaria todo o mercado
de matéria-prima e de tecidos chineses a balho muito consistente e muito bem ela- e a população em geral. O que nos inte-
preços baixos. Ele reconhece o direito borado dos chineses, para ocuparem uma ressa perguntar, antes de mais nada, é se
de os chineses dinamizarem a exporta- posição preponderante no mercado mun- interessa ao nosso país ter e poder manter
ção de seus produtos para todos os mer- dial. uma indústria têxtil e de confecção. Eu
cados do mundo e atribui também ao acredito, firmemente, que sim e preten-
Brasil uma parcela de responsabilidade Especificamente em relação ao se- do demonstrar, em minha exposição du-
pelo déficit que se abate sobre a indús- tor que o senhor representa, como rante o seminário, que ela não é uma in-
tria têxtil nacional. andam as relações comerciais entre dústria retrógrada e atrasada, mas que tem
Nesta entrevista concedida à revista o Brasil e a China? investido e continua a investir.
da FCCE, Fernando Pimentel clama por FP – Eu diria que, no âmbito da indústria
providências que, sem afrontar as leis têxtil e de confecção, o quadro, hoje, é de Que parcela de responsabilidade
do livre comércio internacional, po- 99% de ameaça da China em relação à in- tem o Brasil nesse quadro negativo
nham fim ao prejuízo e ao desemprego dústria brasileira e de 1% de oportunida- que o senhor traça?
no setor e detenham uma ameaça que, des. Pode parecer que eu esteja sendo FP – As condições macroeconômicas em
segundo ele, pode determinar o desa- muito radical e que pinte esse quadro com que estamos atuando – e volto a repetir
parecimento dessa tradicional indústria tintas muito fortes. Na realidade, já está que não dizem respeito apenas ao setor
brasileira. havendo, por parte do Brasil, um impor- têxtil e de confecção, mas a todas as in-
tante movimento de contratação de traba- dústrias de mão-de-obra intensiva – são
Quais são as suas expectativas em
50 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A
extremamente perversas. No que diz res- mercadoria com metade da qualidade, nem
peito à ótica do setor que represento, é
motivo de grande incômodo constatar
que, enquanto a China mantém seu câm-
bio atrelado aos 8 iuans por dólar, há dez
“ Não somos contra a
importação, mas
defendemos uma
somos melhores negociadores que os
americanos. Isso prova que está ocorren-
do uma distorção que envolve brasilei-
ros, sim, mas, quanto mais cooperação
ou 15 anos, o que gerou para eles reser- limitação e criticamos existir entre as autoridades dos dois paí-
vas enormes, nosso país está permitindo o câmbio desfavorável ses envolvidos, menos fatos como esses
uma perversa apreciação cambial. ocorrerão e mais correto será esse comér-
que criou situações
Tudo bem, o câmbio é livre e flutuan- cio.
te, mas esse câmbio está flutuando em uma que os chineses Não somos contra a importação, mas
condição que julgamos não adequada, souberam desenvolver nos opomos a questões relacionadas a essa
porque é devida a uma taxa de juros ab- situação de sobrecapacidade e de um câm-
surda e a um superávit crescente, que é
fruto do grande crescimento das cotações
das nossas commodities e da “fome” chine-
a seu favor

FERNANDO PIMENTELN
bio que a favorece muito, ao passo que o
Brasil tem um câmbio bastante desfavo-
rável e não criou as condições macro-
sa por essas commodities.Tudo isso tem per- econômicas que os chineses souberam de-
mitido uma expansão muito forte de in- ção conosco, principalmente da indús- senvolver. Parabéns, portanto, aos chine-
dústrias minerais, petrolíferas, dessas tria que produz roupas, que é o grande ses, pelo âmbito daquilo que eles soube-
commodities, em geral, em detrimento das elo empregador de nossa indústria têx- ram criar. Agora, nós, como representan-
indústrias manufatureiras, como o com- til e de confecção. Esse segmento em- tes da segunda indústria nacional que mais
provam as mais recentes estatísticas. En- prega, principalmente, mulheres, com emprega na área de transformação e que
contrar um equilíbrio para essa competi- nível de escolaridade de quatro, cinco tem uma capacidade fantástica de geração
ção é o nosso grande desafio. anos – o que, infelizmente, é habitual de empregos, não vamos assistir a isso pas-
entre nós – mas consegue obter e de- sivamente. Temos que pressionar as nos-
Com relação à China, quais são os senvolver produtos de grande aceitação, sas autoridades para que se criem as con-
procedimentos que redundam em não apenas no mercado interno, como dições mais equânimes possíveis para essa
prejuízo para nossa indústria têx- no mundo em geral.
til? Que setores têm sido particular-
mente mais prejudicados? Qual seria, a seu ver, a fórmula para
FP – A China possui, por exemplo, uma resolver esse problema?
capacidade instalada de sua indústria têx- FP – Não possuo essa fórmula, obviamen-
til e de confecções muito maior do que te, mas acredito que possa fornecer al-
desejaria possuir, como estou demons- guns indicativos que levem a superar a cri-
trando na minha exposição no seminá- se da nossa indústria. Creio que seja abso-
rio, ao abordar o item referente ao Dé- lutamente necessário que a China imple-
cimo Primeiro Plano Qüinqüenal, no mente alguns itens que compuseram o
seu capítulo “Têxtil”. Esse ajuste dos memorando de entendimento que faz
excedentes de produção está se dando, parte do acordo de restrição voluntária
obviamente, em cima das exportações de vendas para cá, principalmente no
crescentes do país. Os chineses se pre- quesito de licenças de exportação.
pararam para isso, é verdade, mas va- Não é possível que o Brasil im-
riáveis muito díspares têm pre- porte confecção pela metade
judicado essa competi- do preço dos Estados Uni-
dos, e pela metade do pre-
ço da Argentina, já que
não compramos

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 51


DEBATE

competição. Paralelamente, temos que


pressionar o governo chinês para fazer seus
ajustes de excesso de produção de uma
“Há 20 anos venho
forma mais equilibrada entre o consumo
doméstico e a redução de plantas indus-
triais que não são eficientes. Repito que
dizendo que temos
não somos contra as exportações daque-
le país, mas não nos parece justo que eles
atropelem o mundo inteiro. Sob esse as-
que negociar com a
pecto, há muito por fazer e me parece que
esse seminário pode ser o foro ideal para a
discussão e o encaminhamento da reso-
China”
lução desses graves problemas.
Natural da cidade de Moreno, de Comércio e Indústria Brasil-Chi-
É possível mensurar os prejuízos
que essa situação causa na nossa Pernambuco, o Senador Ney Mara- na, e conhecedor da cultura dos dois
economia? nhão carrega o Nordeste não só no países, Ney Maranhão faz uma análi-
FP – Para começar, isso gera desemprego
crescente na indústria da confecção que, sotaque e no estilo, como também se comparativa entre o Brasil e a
só neste ano, já atingiu um índice de perda no sobrenome. O pecuarista e in- China atual.
de 6%, medido pelo IBGE, maio contra
maio. Isso significa, pelo menos, o sacrifí- dustrial começou sua carreira polí-
cio de 40 ou até mesmo 50 mil empregos tica como prefeito de sua cidade O senhor acha que os bons resulta-
no ramo. Afora o drama desse desempre- dos do comércio entre o Brasil e a
go, do ponto de vista comer- natal, entre 1959 e 1963. China, nos últimos anos, são defini-
cial, em termos de arrecada- Exerceu, ainda, quatro tivos, ou trata-se de um fenômeno
ção de impostos e dos passageiro?
descaminhos, isso repre- mandatos como depu- NM – Em primeiro lugar, meu pai, que
senta um prejuízo que es- tado federal, antes de foi deputado estadual durante 20 anos, me
timo em cerca de US$ ensinou três coisas: ter palavra, ser grato e
200 a US$ 250 milhões. tornar-se senador da não adular macho. Fui chefe da tropa de
Não é possível que os res- república. Integrante choque do Presidente Fernando Collor
ponsáveis pela nossa eco- de Mello no Senado. Collor caiu fora, eu
nomia assistam de braços do Conselho Superi- fiquei com ele, e continuo com ele. Quem
cruzados a esse des- or da Câmara vive em cima do muro é macaco ou la-
calabro.„ drão. Sim, sim, não, não. Comecei minha
vida pública com 24 anos de idade; fui
deputado federal pelo
Rio de Janeiro em
1954, no ve-
lho PTB,

52 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


cujo líder era Fernando Ferrari. Era PSD NM – Não tenho meias palavras. O Brasil blemas, o Brasil passou a crescer igual ao
e PTB contra a famosa “Banda de Música” está se preocupando com a China somente Haiti. Um estado como esse, de Chi
da UDN, de Carlos Lacerda.Toquei no cai- agora. Vou dar um exemplo. O governador Chuan, cresce numa média de 12% ao
xão de Getúlio Vargas. Conheço toda a de Chi Chuan, um estado irmão de Pernam- ano. O Brasil cresce apenas 1,5%.
história do Brasil até agora. Conheço os buco, visitará Pernambuco neste ano de
homens de bem e os “cabras-safados”. O 2006. No início do ano, a cidade de Guang- Quais os produtos pernambucanos
Itamaraty não gosta muito de mim. Desde que têm mais saída no exterior?
aquela época e, inclusive no Senado, os NM – Quando falo Pernambuco, penso
colegas diziam que eu era doido porque
eu defendia a China. Há 20 anos, eu já fala-
va o que a China seria. Naquela época,
meus colegas diziam que ‘o china era aque-
“ O Brasil pode ficar
competitivo baixando
os impostos e resolvendo
também numa dimensão global do Brasil.
Por exemplo, em se tratando de couro,
temos a indústria de sapatos, que está sen-
do massacrada pelos chineses, justamen-
le que lavava a roupa’. Eu dizia que um dia o problema da lei te por causa desses custos que mencionei.
o mundo iria conhecer melhor o gigante Além disso, uma grande parte do nosso
amarelo. Está aí o resultado. Eu debatia
com o governo. Insistia que deveríamos
negociar com a China, ao invés de fazer
trabalhista
NEY MARANHÃON ” couro não tem qualidade no preparo. Os
chineses buscam qualidade e preço, e é
por isso que chegaram onde chegaram, e
negócios principalmente com a Europa, zhou, capital de Cantão, também passou a vão chegar ainda mais longe. A China Po-
que não estava interessada em retirar os ser considerada cidade irmã do Recife. pular e Formosa vão se unir, não tenha
subsídios da agricultura. Neste período, um grande empresá- dúvida. Os americanos sentiram isso e
A China tem 24% da população da Ter- rio, dono da Siderúrgica de Guangzhou, aconselharam Formosa a se entender com
ra. Hoje, diz-se que o Brasil é o maior fre- uma das mais modernas da China, ganhou Beijing. Eles vão se unir. São todos chine-
guês da China na América do Sul. Vende- uma concorrência para cobrir um percur- ses e vão ficar com o mesmo exército,
mos a este país US$ 14 ou 15 bilhões, o so de transporte de 150 km entre Recife mas dentro de um esquema parecido com
que corresponde a menos de 0,5% do que e Caruaru. Ele venceu as empresas nacio- o de Hong Kong, província que passou a
a China realmente precisa. O americano nais, que têm o minério aqui, propondo ser controlada pela China.
quando viu que os chineses iriam, dentro algo em torno de 32 % a menos no preço. Em 2003, eu fui à China e presenciei
de alguns anos, comandar o mundo, tor- Isto porque, no Brasil, os nossos empre- uma história curiosa. Um vice-presidente
nou-se o maior sócio deles. Esta sociedade sários fazem milagre: pagam 40% de im- da Federação das Indústrias de Pernambuco
ultrapassa a área econômica e movimenta, postos e devem cumprir a nossa lei traba- dizia não saber o que esperar da China, um
hoje, mais de US$ 500 bilhões. Por exem- lhista, que hoje está prejudicando o pró- país comunista. Eu indaguei a ele: “Qual é o
plo, quem compra os títulos americanos prio trabalhador, pois foi criada em 1939 maior símbolo do capitalismo?” Homem
no mercado mundial são os chineses. pelo maior presidente da república que inteligente, respondeu ser a bolsa de valo-
Enquanto isso, o Brasil poderia, atualmen- nós tivemos: Getúlio Vargas. Ou seja, nos- res. Perfeitamente. “E onde está a primei-
te, estar vendendo dez ou vinte vezes mais sa legislação tem 67 anos e não foi modifi- ra?” “Em Nova York”, ele respondeu. “A se-
aos chineses, o que representaria uma re- cada ainda. Os nossos empresários e o Bra- gunda?” “Em Londres”. “A terceira?” “Em
ceita em torno de US$ 150 bilhões/ano. sil podem se tornar mais competitivos se Tóquio”. Eu retruquei: “A terceira bolsa do
Hoje, só vendemos US$ 14 bilhões. Essa forem diminuídos os impostos e resolvi- mundo, agora, fica em Hong Kong. Hong
é que é a verdade. dos os problemas da lei trabalhista. Kong de quem é? Da China, desse país que
Esse problema, por exemplo, da Ilha você afirmou ser comunista. Que comu-
de Formosa (nota da redação: também co- O senhor diria, então, que um dos nismo é esse que aceita um dos maiores
nhecida como Taiwan, a ilha principal de grandes entraves ao comércio ex- símbolos do mundo do capitalismo em seu
um arquipélago perto do território chi- terior no Brasil é a burocracia? território? Você tem que pensar nisso.” Ele
nês, motivo histórico de disputas) vai ser BM – O maior entrave é esse: 40 % de ficou louco. Ficou entusiasmado.”
resolvido. Tenho uma ligação com Formo- impostos e a lei trabalhista. É isso que Eu afirmo que o grande segredo do chi-
sa muito grande. Levei para Brasília o gran- entrava o país e está prejudicando, e mui- nês é não ir na conversa dos americanos.
de escritório comercial de Formosa que to, o trabalhador. No Brasil de hoje, a Para os americanos, é bom ter democracia
estava em São Paulo. O chinês nos diz a metade dos trabalhadores está na infor- quando é bom para eles. Quando não é
fórmula:Taiwan ganha dinheiro, mas quem malidade, porque o empresário não em- bom, eles derrubam, como aconteceu aqui,
fala pela China é Beijing. prega por conta da lei trabalhista. Antiga- na Argentina, no Chile, em todo o Cone
mente, ela era muito necessária, mas nós Sul. O chinês, por sua vez, adota uma polí-
O que o senhor acha que falta para temos que acompanhar o desenvolvi- tica de auto-determinação dos povos. Pedi
incrementar o comércio Brasil-China? mento do mundo. Com todos esses pro- ao secretário geral chinês, que conheço

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 53


DEBATE

desde que ele era prefeito de Xangai, que tos, no Ocidente, confundem o chinês com lhadores braçais e 35% das atividades agrí-
me explicasse essa sua democracia e ele o japonês. Na realidade, eles são completa- colas são mecanizadas. Um país com 1 mi-
disse que a democracia deles não pode ser mente diferentes. Ao receber um estran- lhão de quilômetros quadrados a mais que
igual à dos brasileiros nem dos americanos. geiro, o japonês o coloca num hotel seis o Brasil, mas que só tem 16% de suas ter-
A resposta dele foi que no Brasil há 180 estrelas com o melhor carro na porta, mas ras agricultáveis, alimenta 24% da popu-
milhões de pessoas; nos Estados Unidos, não lhe dá intimidade, não o convida para ir lação da Terra.
280 milhões; na China 1,350 bilhão. Então a sua casa. O chinês não: chama logo para a Eu mando esse pessoal para a China e
a democracia tem que ser diferente, e é. casa dele, para comer em sua mesa, como digo: ‘Se você encontrar alguém por lá des-
Eu mandei dez desembargadores para a os brasileiros também fazem. Por isso, digo calço, ou pedindo esmola, eu pago US$ 1
China. Os dez ficaram encantados. Viram que o chinês se parece com o matuto. para cada um’. Há pobreza no país, mas não
tudo, até as prisões. Eu disse a eles que muito há miseráveis. Aqui, temos 180 milhões de
do que se sabe, aqui, sobre a China, é de- Essa forma de aproximação facilita brasileiros e 35 milhões de miseráveis. O
turpado. Disse a eles que recomendassem a nossa relação comercial? sujeito vem do campo, chega aqui e não
as suas mulheres que levassem suas jóias, NM – Sim, a relação é como a nossa. O arruma emprego. A mulher cobra, e ele,
que aqui ficam guardadas no cofre. Meu que eu mais admiro no chinês é o seguinte: com vergonha, deixa a família. A mulher
amigo Marco Aurélio Melo, Ministro do ele é direto e se não gostar de você, ele diz. vira prostituta e o filho bandido. É o que
Supremo Tribunal Federal, foi a São Paulo Já com o japonês, nunca se sabe, pois, quan- está acontecendo no Brasil. Isso eu digo na
e, quando saltou lá, pegou um carro e os do ri, pode estar gostando ou ridicularizan- cara “desses cabra todinho”. Essa é a políti-
cabras tomaram o relógio Rolex dele. Eu do a pessoa. Dentro desse prisma, vamos ca do Brasil, de má fé.
disse, então, aos desembargadores, que po- considerar que o Brasil não sofreu um dé-
deriam usar seus Rolex na China, que lá cimo, um milésimo das humilhações que o Há quem diga que os preços baixos
ninguém mexeria com eles, porque lá exis- chinês sofreu por parte do japonês. Du- dos produtos chineses esmagam os
te ordem.Você pode sair que ninguém toca rante a Segunda Guerra Mundial, quando o concorrentes. Como o senhor anali-
em você, enquanto aqui você não sabe nem Japão invadiu a China, requisitou as moças sa isso?
se chega em casa. para serem concubinas do exército japo- NM – Cabe aos concorrentes dos chine-
O melhor regime, sem dúvida, é o de- nês. Na China, os médicos japoneses usa- ses fazerem o que o chinês está fazendo.
mocrático; mas tem que haver ordem. O vam os chineses para fazer experiências ci- O Brasil tem o maior estoque de água doce
grande responsável por isso é o Congres- entíficas. Xangai é uma cidade chinesa lin- do planeta e não tem vulcão nem terre-
so Nacional. da, de influência inglesa. Nos gradis da ci- moto, nada. Na China, vem um tremor de
dade, ainda se vê escrito: ‘nesse recinto é terra e mata 100.000 pessoas. Aqui, quem
Fale um pouco sobre a história da proibido entrar cachorro e chinês’. Outro morre é o cara que estava morando na
relação Brasil-China nesses últimos 20 exemplo: na Praça da Paz Celestial, em beira do rio, ou então na encosta, e que
anos e sobre o futuro dessa relação. Beijing, há jardins imensos, com monumen- não tem proteção. Tudo por falta de com-
NM – Eu tinha 24 anos quando fui depu- tos banhados a ouro. Neles, há placas onde petência da nossa elite dirigente.
tado federal pelo Rio de Janeiro, e o meu se lê “esse ouro foi levado por aqueles que Por isso, digo: em vez de temer o chinês,
guru foi o lendário General Flores da Cu- nos exploraram”. Os chineses fazem todas temos que cuidar de baixar os impostos
nha. Eu disse a ele que queria um lugar na essas coisas para o povo se lembrar sempre brasileiros. Temos 40% de impostos mal
política que me permitisse viajar, pois a gen- dessas humilhações, que não são aceitas. aplicados. Ao invés de ter Bolsa Família,
te só aprende viajando. O livro é uma coisa, A China é um país em que a grande massa devíamos ter escola para o menino estu-
mas viajar é outra. Eu conheci o mundo popular está no campo. Aqui no Brasil é o dar de manhã e de tarde, praticar esporte,
por meio dessas viagens oficiais. Quando contrário. Um estado como Chi Chuan tem e chegar em casa de noite, cansado, para
terminava o meu programa de trabalho, du- 87 milhões de habitantes, quase a metade do dormir. O que estão fazendo aqui chama-
rante as viagens, eu não fazia passeios e com- Brasil. Destes, 65 milhões estão no campo. se paternalismo puro.
pras. Eu queria conhecer o outro lado: ver Aqui é o contrário: vem todo mundo para a
o mercado popular da cidade, um bairro cidade, porque a nossa elite dirigente enca- O que o senhor acha de iniciativas
popular, a pobreza, porque assim podia ob- minhou as coisas nesse sentido. O povo bra- como esse seminário?
servar o bom e o ruim. O país que mais me sileiro é o melhor povo do mundo: canta, NM – Muito boas. Esses seminários são
chamou a atenção, no mundo todo, foi a assobia e chupa cana ao mesmo tempo, e é interessantes. A China é o maior país da
China. A China é muito parecida com a gen- inteligente. A maioria da elite, por sua vez, Ásia e tem a maior população da Terra. O
te, e o chinês tem muito a ver com nosso não tem vergonha. Uma coisa interessante: o Brasil é o maior país e tem a maior popu-
matuto lá do Nordeste. O matuto é o se- chinês não aceita esmola; como diz o ditado, lação da América do Sul. Os dois países
guinte: tendo confiança, leva a boiada. Não ele aceita a vara e o anzol e vai pegar o peixe. têm que caminhar juntos e vão liderar o
tendo confiança, leva cacete ou bala. Mui- Lá, 65% dos que vivem no campo são traba- mundo futuramente.

54 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


EM PAUTA

O novo presidente do
Conselho Superior
Desde o ano passado, a Federação das rante uma sessão plenária, ou se o cha-
Câmaras de Comércio Exterior — FCCE mam para compor uma mesa ou sessão
realizou, até o momento, 18 seminários solene, a mesa e a sessão se ilustram e
bilaterais. A cada um desses encontros, o engrandecem.
plenário fica mais cheio, os debates são Theóphilo de Azeredo Santos é advo-
mais substanciais, e a repercussão mais gado, professor, doutor em Direito pela
intensa. Universidade Estadual do Rio de Janeiro
Personalidades de peso têm compa- e especialista, entre outras modalidades,
recido, todo mês, à sede da Confedera- em Direito Comercial e Direito Compa-
ção Nacional de Comércio, onde se rea- rado. Entre seus muitos alunos, estiveram
lizam os seminários, para discutir as rela- vários ministros de Estado do governo
ções comerciais do Brasil com diferen- brasileiro. Theóphilo de Azeredo Santos.
tes países. Ele foi escolhido para presidir o Con-
Uma dessas personalidades, no entan- selho Superior da Federação das Câma- tal magnitude para presidir seu Conse-
to, mais que reconhecemos: admiramos ras de Comércio Exterior e, mais uma lho. Neste artigo, o professor declara
muito. Trata-se de um profissional que vez, modesto, se diz honrado com essa suas expectativas favoráveis ao cresci-
disfarça, na sua simplicidade, o saber que homenagem. Igualmente honrada, está mento da arbitragem em nossas relações
o notabilizou. Se lhe pedem a palavra du- a FCCE que conta com uma figura de comerciais.

Arbitragem nas relações comerciais, uma boa novidade


Federação das Câmaras de Comércio Exterior, sob a lide- da Emenda Constitucional no 45, de 8 de dezembro de 2004,
A rança de João Augusto de Souza Lima, é a única entidade
que, em nosso país, conseguiu estruturar, mensalmente, se-
que atribuiu a competência ao Superior Tribunal de Justiça –
STJ para a homologação de sentenças estrangeiras. A Resolu-
minários bilaterais de alta qualidade, congregando empresári- ção no 09, de maio de 2005, do STJ, estabeleceu procedimen-
os de todas as atividades econômicas, investidores nacionais e tos mais rápidos para essas homologações e admitiu medidas
internacionais, importadores, exportadores, diplomatas, de urgência para o cumprimento de cartas rogatórias origina-
membros de governo vinculados à área econômica, jornalis- das de outros países.
tas especializados, professores e alunos de relações internaci- A internacionalização da economia e a regionalização de mer-
onais, a fim de expor, discutir e sugerir medidas objetivas que cados regionais serão facilitadas com a utilização de processo
possam assegurar o crescimento dos acordos bilaterais, ge- mais rápido, com segurança jurídica, para resolver conflitos en-
rando, assim, ambiente propício à sua realização. Destaco, por tre os contratantes.
merecimento, o apoio do governo federal, do Itamaraty, em As parcerias público-privadas – PPP’s – terão de se utilizar
particular, e, ainda, de governos estaduais e prefeituras inte- de meio mais simples e eficiente para decidir controvérsias
ressadas na ampliação de seu acesso a novos investimentos, entre os sócios.
que fomentem o desenvolvimento e propiciem a ampliação Aplaudimos a decisão do Tribunal de Alçada do Estado do
do mercado de trabalho. Paraná, que entendeu que as empresas de economia mista po-
É, conseqüentemente, para mim, honraria ocupar a presi- dem se valer daquele instituto, tese que, esperamos, seja ampla-
dência do Conselho Superior da Federação das Câmaras de mente reconhecida.
Comércio Exterior. Em conclusão: a arbitragem será de grande auxílio para os
No momento em que a assumo, sirvo-me desta excelente negócios que resultarem dessas reuniões bilaterais.
revista para abordar um tópico que considero de grande inte-
THEÓPHILO DE AZEREDO SANTOS,
resse para todos os seus leitores: o crescimento da arbitragem Professor do doutorado e mestrado da Universidade Estácio de Sá, Presidente do
no Brasil. Ele merece especial referência, especialmente após Comitê Brasileiro da Câmara de Comércio Internacional, Presidente da Comissão de
o reconhecimento, pelo Supremo Tribunal Federal, da Direito Comercial do Instituto dos Advogados Brasileiros e Presidente da Comissão de
constitucionalidade da Lei no 9.307/96 e a entrada em vigor Arbitragem da CAR-RJ.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 55


CULTURA

A porcelana
chinesa no império
do Brasil

Peças do serviço do Conde de Ipanema, abaixo, e prato do serviço da Marquesa de Itamaraty, no canto superior.

C onhecida genericamente
como “Porcelana Compa-
nhia das Índias”, os serviços
de porcelana chinesa utili-
zados pela aristocracia e pela Casa Imperi-
al do Brasil são, relativamente, em peque-
no número, principalmente se compara-
dos com a quantidade de porcelana euro-
vidosa, já que, fabricada no Sul da China,
era feita quase que “por atacado” face a
grande quantidade de encomenda realiza-
da por clientes europeus, que geralmente
enviavam os “modelos”, inclusive de bra-
sões e monogramas, que deveriam ser “co-
piados” pelos chineses.
Dessa forma, é curioso notar que as
panhia das Índias” utilizados, praticamen-
te todos trazidos pela corte portuguesa (à
exceção do “serviço da Independência”)
quando de sua instalação no nosso país.
São eles:
1. O serviço do “Reino Unido”, apresen-
tando os brasões dos reinos de Portu-
gal, Brasil e Algarves; o mais antigo e,
péia importada na mesma época. representações heráldicas em peças de também, o mais raro.
Deve-se o nome “Companhia das Ín- serviços de porcelana chinesa normal- 2. Em seguida, em termos de raridade, po-
dias” às empresas de comércio e navega- mente apresentam erros básicos de inter- demos citar o “Serviço dos Correios”,
ção holandesas, criadas no Século XVII, pretação, face o desconhecimento dos com decoração ao gosto europeu,
encarregadas de fazer esse comercio en- “ceramistas” da arte e das regras da herál- apresentando um cavaleiro montado.
tre a Europa e a China. Essas “companhi- dica européia por parte dos “ceramistas”. 3. O “Serviço dos Galos”, considerado o
as” eram uma versão original das nossas O maior exemplo desses equívocos é de melhor qualidade, em matéria de
atuais trading companies, arcando seus pro- o Brasão do Império do Brasil reproduzi- porcelana, com borda de oito facetas
prietários e acionistas com os prejuízos e do no “serviço da Independência”, pre- representando os oito imortais da Chi-
auferindo os lucros decorrentes dessa ati- senteado ao Imperador D. Pedro I por pa- na, e, no centro, decoração com
vidade comercial. triotas para comemorar o feito. peônias, borboletas, e dois galos.
No que se refere a essa porcelana chi- Nos palácios e fazendas imperiais, po- 4. O “Serviço dos Pavões” deve ter sido o
nesa, especificamente denominada “Com- demos afirmar que existiram um total de maior deles, porquanto é o mais co-
panhia das Índias”, ela era de qualidade du- 10 serviços de porcelana chinesa “Com- mum, usado no Paço de São Cristó-

56 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


vão. Diferenciado das versões mais tar-
dias, a original apresenta quatro florões
em suas bordas recortadas.
5. O “Serviço dos Pastores”, de decora-
ção semelhante ao dos Correios, com
influência ocidental na sua decoração,
apresentando um pastor em trajes oci-
dentais.
6. O “Serviço das Corças” é seguramente o
mais bonito, o mais ricamente decora-
do, possuindo nas bordas oito dragões
representando os imortais da China. Ser-
viço idêntico foi utilizado pelo Governa-
dor Gabriel Getulio de Mendonça.
7. O “Serviço Vista Grande”, todo em sé-
pia, com frisos em ouro e algumas ro-
sas, é o único que apresenta figuras ge- Jogo de chá da Baronesa de Alemquér.
ométricas.
8. O chamado “Serviço Vista pequena” tem
no centro uma reserva redonda com quita; o Conde de Passe; o Con-
uma paisagem ocidental, cercada por de do Rio Pardo; e a Condessa
uma elipse. da Piedade; o Marquês do
9. O “Serviço das Rosas” possui uma rica Bomfim; o Marquês de Lages;
cercadura de rosas, diferenciando-se o Marquês de São João Mar-
o serviço Imperial de um outro im- cos; o Marquês de Vila Real da
portado por um comerciante desco- Praia Grande e a Marquesa de
nhecido da região de Petrópolis por Itamaraty.
apresentar, o Imperial, um ramo de Do total desses “Serviços”
flores dourado, ao centro. conhecidos (evidentemente po-
10. Finalmente, o “Serviço da Independên- dem existir outros, porém guar-
cia” já citado e descrito. dados pelos seus descendentes, e
No que diz respeito aos serviços per- sem conhecimento público) destaca-
tencentes à aristocracia, conhecemos um mos, pela beleza e qualidade, os “Servi-
total de 35 (trinta e cinco) serviços que ços” da Marquesa de Itamaraty, da Barone-
pertenceram à “nobreza titulada”, isto é, sa de Alemquer e o segundo “Serviço” do
aristocratas possuidores de títulos como Conde de Itamaraty, pelo seu bom-gosto
Barão, Visconde, Conde ou Marquês. (ao estilo chinês) e rica decoração. Prato do segundo serviço
São eles: Barão do Alegrete; Barão de Importante ressaltar que existem inú- do Barão de Nova Friburgo.

Araújo Góes; Barão do Fonseca; Barão de meros outros “serviços de porcelana chi-
Itamarandiba; Barão de Javary; Barão de nesa Companhia das Índias” conhecidos “verdadeira porcelana” (diferente dos pro-
Massambará (dois serviços); Barão de Nova no Brasil, mas que foram adquiridos por dutos de barro ou argila pura), aquele pro-
Friburgo (dois serviços); Barão de Ramalho; ricos empresários e comerciantes, porém duto que descrevemos como “produto
Barão do Rio Bonito; Barão de Sorocaba; sem qualquer título de nobreza. cerâmico de massa fina, vitrificado,
Barão de Soubará; Barão de Tietê; e as Apenas “burgueses endinheirados”, translúcido, normalmente recoberto de
Baronezas, do Bomfim e de Alemquer (este, como a eles se referiam os “nobres bra- esmalte incolor, transparente, branco, ou
um precioso serviço de chá que pertenceu sileiros”, os quais, somente se diferen- com desenhos e pinturas”, surgiu na Chi-
ao seu pai, o fidalgo Manoel Inácio Muniz ciavam dos primeiros, pelo fato de te- na, entre os anos 600 e 900 de nossa era,
Barreto de Aragão) e o Visconde de Cabo rem comprado, de S.M. O Imperador, durante a dinastia dos Imperadores T’Ang.
Frio (dois serviços); o Visconde da Cacho- algumas semanas antes, seus respecti- Durante muitos anos, os chineses con-
eira; O Visconde de Jaguaribe; o Visconde vos títulos... seguiram “esconder” os segredos para a
do Rio Comprido; e mais: o Conde de De qualquer forma, a China pode ser feitura da porcelana, tanto é que, somente
Ipanema (dois serviços); o Conde de Ita- considerada a “criadora” da porcelana e sua no Século XVII os japoneses começaram
maraty (três serviços); o Conde de Mes- inventora, já que aquilo que chamamos de a fabricar objetos em porcelana.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 57


CAPAC ITAÇÃO

Senac: alternativas educacionais


para o mundo do trabalho
60 anos ampliando as perspectivas da educação profissional dos brasileiros
criação do Serviço Nacional de

A Aprendizagem Comercial – Senac,


em 10 de janeiro de 1946, cami-
nha não somente com o crescimento do
Setor do Comércio de Bens, Serviços e
Turismo nestes últimos 60 anos, mas tam-
bém com a da educação do Brasil. Numa
trajetória de tantas conquistas, destacam-
se momentos significativos.
Na década de 1940, o Senac se caracteri-
zou pela intensa colaboração com o ensino
comercial do sistema regular, pelo esforço
O SenacMóvel
para se implantar nos diversos estados do leva noções de
país e por apostar no ensino a distância como hotelaria e saúde
uma das alternativas para o conhecimento.
Outra ação marcante, logo nos anos 1950, a um público
foi a criação da primeira empresa pedagógi- muito
ca, através de uma loja-escola em venda va-
diversificado.
rejista, dando origem aos atuais e diversos
hotéis, restaurantes, lanchonetes e postos-
escola, empreendimentos que comprovam organizada, a buscar uma maior integração Já na primeira década do novo milênio,
o pioneirismo e a capacidade de inovação de ações dentro de uma política global. destaca-se a busca contínua por uma gestão
tecnológica do Senac em educação. Como todos sabemos, nos anos 1980, o cada vez mais estratégica, além de iniciativas
Um marco significativo na década se- mundo passou por transformações tecno- importantes para a integração do país, como
guinte foi a decisão de ampliar o atendi- lógicas profundas e o Senac procurou a Rede Sesc-Senac de Teleconferência, com
mento em educação profissional a toda a acompanhar todas elas, adaptando-se às seus 400 pontos receptores, e o programa
sociedade brasileira, não se restringindo à novas realidades com tecnologia de ponta radiofônico Sintonia Sesc-Senac, hoje distri-
missão original de formar apenas menores e apostando firmemente em Informática buído gratuitamente a mais de 650 emisso-
aprendizes. Para isso, foi preciso apresen- Educacional e Corporativa. ras de rádio do país. Sem falar na criação da
tar, inclusive, uma nova concepção peda- Na década de 1990, a principal contri- Rede EAD Senac, com seus cursos de pós-
gógica, culminando com a criação dos Cen- buição do Senac foi, sem dúvida, a cora- graduação lato sensu, que receberam concei-
tros de Formação Profissional em todo o gem de rever o seu modelo pedagógico, to máximo do Ministério da Educação
país. Também é nessa época que surge a se- proporcionando uma formação mais Esses são apenas alguns exemplos das re-
mente de um dos programas mais vitorio- polivalente ao aluno e tornando-o capaz alizações do Senac em seus primeiros 60 anos
sos: as unidades móveis, que, quase 30 anos de intervir de forma crítica e criativa no de vida - realizações que vêm mantendo a Ins-
mais tarde, se transformaram nas carretas- mundo do trabalho. A criação da TV Senac, tituição numa posição de vanguarda em edu-
escola e balsa-escola do SenacMóvel, levan- hoje STV – Rede Sesc-Senac de Televisão, cação profissional na América Latina. Êxitos
do conhecimento de qualidade a localida- a intensificação na produção de pesquisas, que a incentivam a continuar investindo na
des distantes dos grandes centros. livros, vídeos e softwares e o importante educação continuada de seus alunos, que hoje
Foi nessa época que o Senac passou a trabalho de preservação da memória do contam com um portfólio variado de cursos
atuar de forma integrada. Nas décadas de Setor do Comércio de Bens, Serviços e e programações da Formação Inicial ao Nível
1970 e 80, quando planejamento e pes- Turismo foram outras ações desafiadoras, Superior, e que a credenciam, junto a diversos
quisa foram as palavras de ordem no Sis- confirmando a posição de vanguarda da parceiros, a buscar alternativas para colaborar
tema Senac, a Instituição passou, de forma Instituição. na inclusão social.

58 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


LOGÍSTICA

Aeroporto Industrial: mais


agilidade com menos custos
m projeto em que indústrias de alto Essa é a grande vantagem desse proje- verno local, a redução do ICMS e do IPI

U valor agregado e sofisticadas plan-


tas de montagem se instalam, com
incentivos fiscais, dentro dos aeroportos.
to. Há, também, outras facilidades, como
a redução do custo logístico com trans-
portadora, operador logístico e agente de
daqueles produtos que serão vendidos no
mercado interno. Muitas empresas que-
rem centralizar a distribuição e a logística
É uma iniciativa da Infraero, do Ministério carga, além de um grande ganho de tem- de seus produtos no aeroporto, mas para
de Desenvolvimento, Indústria e Comér- po e agilidade em todo o processo de fa- isso precisa haver um benefício.”
cio Exterior – MDIC, da Receita Federal bricação e encaminhamento para a venda. Nos Estados Unidos, na Europa e na


e do Ministério da Fazenda. Este regime Ásia, já é um fato comum que determina-
de entreposto aduaneiro industrial pode É uma iniciativa que das indústrias se instalem dentro dos ae-
ser utilizado tanto em aeroportos como depende do esforço conjunto roportos e nas proximidades deles; mas,
em portos ou estações aduaneiras. Segun- do Governo Federal, estadual e segundo Ednaldo Pinheiro Santos, o con-


do o Gerente de Gestão e Relações com ceito de aeroporto industrial utilizado no
o Mercado da Infraero, Ednaldo Pinheiro de todos os órgão envolvidos Brasil (que pressupõe incentivos fiscais e
Santos, trata-se de uma iniciativa nova, di- EDNALDO PINHEIRO SANTOSN isenção de impostos) é uma novidade. “A
ferente e pioneira. proposta, aqui, é diferente e é a primeira
Um exemplo: uma empresa que pos- Segundo Ednaldo Pinheiro Santos, al- deste tipo que conhecemos no mundo. É
sua sua fábrica de computadores no Bra- gumas empresas químico-farmacêuticas e algo inovador.”
sil, importa uma série de matérias-primas, de eletrodomésticos estão envolvidas nes- No aeroporto mineiro de Confins, foi
insumos e equipamentos. Estes chegam te processo. “O forte são os eletroe- desenvolvido um projeto piloto, não só
por via aérea, vindos da Ásia, dos Estados letrônicos, por conta da agilidade que esse porque há espaço disponível na região; há,
Unidos ou da Europa. Ao chegar ao aero- mercado exige e por causa da necessidade também, devido ao interesse do mercado
porto, inicia-se um processo que utiliza de usar o transporte aéreo, que proporci- e do governo locais, bem como da Recei-
operador logístico e os serviços de um ona maior segurança e agilidade.” ta Federal e da Receita Estadual.
despachante. Os insumos são levados para Os terminais aéreos em vista desde o “Temos que unir todos os esforços. Em
a fábrica por meio de uma transportado- início do projeto são o Aeroporto de Con- Confins, uma indústria já se instalou e
ra. Na fábrica, os computadores são mon- fins e o Aeroporto Tancredo Neves, em estamos em fase de testes finais. Todas as
tados, agregando-se, assim, valor ao pro- Minas Gerais; o Aeroporto Tom Jobim, partes envolvidas estarão aprimorando e
duto. Este, então, volta para o aeroporto também chamado de Aeroporto Interna- aperfeiçoando o processo, tanto nos pro-
de onde é encaminhado para o mercado cional do Galeão, no Rio de Janeiro; os cedimentos, quanto em relação aos equi-
internacional. Isso é o que normalmente aeroportos de São José dos Campos e de pamentos e operações logísticas. Estamos
acontece. Campinas, em São Paulo; e o Aeroporto afinando toda essa sistemática para, a partir
Já com o regime de entreposto adu- de Petrolina, em Pernambuco. de 2007, abrirmos licitação para a conces-
aneiro, a empresa teria uma filial dentro “A isenção dos impostos de importa- são de novas indústrias em Confins e em
do próprio aeroporto. Os equipamen- ção só é dada para produtos que serão ex- Viracopos, em São Paulo, que são os locais
tos e matérias-primas que chegariam ao portados. Este é, portanto, um programa, mais adiantados, com infra-estrutura dis-
terminal de cargas da Infraero iriam para tipicamente, de incentivo às exportações. ponível e um visível esforço conjunto para
o entreposto. O produto seria montado O produto direcionado para o mercado que esse regime tenha sucesso. Tudo indica
na filial da empresa dentro do aeropor- interno não tem isenção de impostos. Se, que o terceiro terminal, candidato a aero-
to. Nesse caso, quando um lote de pro- por exemplo, a indústria destinar 80% da porto industrial, seja o Galeão. Há, ainda,
dutos estivesse pronto, ele retornaria sua produção ao mercado externo e 20% São José dos Campos, mas estamos aguar-
para o entreposto da Infraero, iria para ao mercado nacional, a parte destinada ao dando aprovação do plano diretor do aero-
o armazém de exportação, de onde se- mercado nacional não recebe isenção de porto, onde não há, hoje, área disponível.”
guiria para seu destino final. Nessa ope- impostos e não pode usufruir dos benefí- Estamos bastante esperançosos e oti-
ração, todo o item que agrega valor ao cios do regime. Em alguns projetos em mistas com esse projeto e com a implan-
produto recebe a isenção do imposto andamento em Confins e em Campinas, tação em Viracopos e Confins a partir do
de importação. as indústrias estão exigindo, junto ao go- ano que vem.”

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 59


INTERCÂMBIO

O maior potencial da China


está em seu povo
povo
Dinamismo e eficiência são os ingredientes do sucesso chinês
HELENO PALMIERI MOREIRAN com uma corrente de comércio, estimada Para os homens de negócio que che-
para 2006, na casa dos US$ 1, 7 trilhão. gam à China, posso dizer que o país ofere-
epois de aproximadamente 22 ho- Impressionante! ce muitas oportunidades aos empreende-

D ras de viagem do Rio de Janeiro


ate Shanghai, na China, e dos cer-
ca de 200 Km que percorri por terra, tão
Impressionou-me, igualmente, o aero-
porto Shanghai Pudong por sua moderna
estrutura e pelas obras de ampliação nele
dores, diante de um consumidor que apre-
senta grande vontade de satisfazer seus
desejos e necessidades. É necessário, po-
logo cheguei, até a cidade de Changzhou, realizadas. Logo, eu perceberia que tudo a rém, aprender a negociar e a entender esse
todo o cansaço da viagem dissipou-se di- minha volta estava em construção; ou povo, pois se enganam aqueles que pen-
ante do “admirável mundo novo” que sur- melhor, em reconstrução. O país está ca- sam que o “negócio da China” existe para
giu diante de meus olhos. Estava certo de minhando, a passos largos, rumo a uma todos. Existe, de fato, para aqueles que se
que meu tino para negócios havia me con- modernização, e canteiros de obras se es- inserem nesse ambiente buscando com-
duzido até o lugar ideal. Iria permanecer palham por todas as direções. A grua é o preender o modo de vida chinês. Existe
por aqui durante alguns meses para estu- que há de mais característico na paisagem para aqueles que se interessam pelo idio-
dar o mercado chinês e suas oportunida- chinesa de hoje. Os chineses não constro- ma – muitos chineses aprendem o inglês,
des, bem como para entender e me fami- em somente prédios; eles constroem obras mas o ocidental que fala o chinês, eviden-
liarizar com o povo chinês, sua cultura, de arte. Ao sair do aeroporto, no caminho temente, sai na frente nos negócios.
seu dia-a-dia e seu modo de negociar. Mi- para Changzhou, na província de Jiangsu,
nha agenda previa visitas a fábricas e ao
comércio chinês e, evidentemente, a Hong
Kong, a Macau, e a outras províncias do
além das muitas obras em andamento, si-
nal de uma economia aquecida, vi campos
de golfe – o esporte dos novos ricos -,
“ A milenar China abre espaço
para o moderno, sem
Leste. estradas moderníssimas e até um trem
magnético suspenso. A milenar China abre
abrir mão de suas tradições

“ Os chineses não constroem
somente prédios;
espaço para o moderno, sem abrir mão de
suas tradições.
Uma crescente classe média, cada vez
Ficarei alguns meses mais, por aqui,
aprendendo. Talvez, no Brasil, possamos
copiar alguns bons exemplos do que vi
eles constroem obras de arte

Tão logo cheguei, chamou-me a aten-


” mais, insere-se na economia, e o consu-
mo se amplia, dinamizando o sistema
como um todo. O Oeste do país, por sua
na China. Meu maior aprendizado? In-
dependentemente do enorme potencial
apresentado pela economia chinesa,
ção o Porto de Shanghai, um dos maiores vez, pulsa em um ritmo mais lento que o aprendi que o maior potencial da China
do mundo e uma das principais portas de Leste, onde estou. Para evitar o apareci- está em seu povo. Trata-se de um povo
entrada e de saída de mercadorias da Chi- mento de um abismo social profundo, alegre, unido e harmonioso, que, sobre-
na. Rapidamente imaginei o dinamismo, a soube que o governo esta direcionando tudo, ama seu país. O sucesso da China?
rapidez e a eficiência das operações por- jovens recém formados para o Oeste, de Na realidade, o sucesso é a resultante de
tuárias não só de Shanghai, mas de outros forma a integrar o país na corrente do cres- uma conjugação de esforços entre o
portos chineses, que se constituíram não cimento. povo, que busca sempre o melhor, e o
em um gargalo, como no Brasil, mas em Os jovens daqui são ambiciosos e bus- governo chinês, um administrador efici-
um facilitador do comércio exterior. Não cam condições para conquistar seus obje- ente e incomparável.
é para menos; os eficientes portos chine- tivos, principalmente no que diz respeito
ses contribuíram para escoar e receber à qualificação. É preciso buscar um lugar _________________________
mercadorias, permitindo que a China se ao Sol no país mais populoso do mundo. Heleno Palmieri Moreira é formado em
tornasse o terceiro maior exportador e o O governo tem feito a sua parte e investi- Administração e está na China estudando
terceiro maior importador do mundo, do bastante em educação. o mercado chinês e suas oportunidades

60 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


HISTÓRIA

Futebol nasceu na China,


com direito a “embaixadinha”
uem pensa que o “esporte bretão” um monte de dentes e braços quebrados...

Q nasceu na Inglaterra, no final do


Século XIX, após largas discussão
entre nobres e burgueses, que, ao final,
Apesar da reivindicação dos japoneses e
gregos, que querem trazer para si a “pater-
nidade” do futebol, é inegável que a origem
acabaram, por preconceito, criando 2 es- desse, hoje, tão popular esporte é a China!
portes, o rugby e o futebol, engana-se re- Depois de um determinado período,
dondamente! mas ainda dentro da era antiga, as cabeças
Já nos anos 3.000 antes de Cristo, os chi- dos soldados inimigos foram substituídas
neses praticavam uma espécie de exercí- por peças de borracha maciça, porém,
cio, ou cerimônia militar, que era, na rea- ainda revestidas de cabelos, certamente
lidade, uma versão antiga do nosso tão para dificultar o controle, e tornar mais
popular esporte. emocionante a partida.
Time da Liga Chinesa de Futebol, durante
Após as grandes batalhas e conquistas, Importante ressaltar, também, que a
treinamento.
os soldados chineses reuniam-se em um importância do jogo era relacionada com
grande campo, fincavam traves, interliga- a patente militar da “cabeça” que era esca-
das por fios de seda e, “escalando” 2 times Três mil anos antes de Cristo lada para a partida.
com 8 elementos de cada lado, começa- os chineses praticavam uma Quando da presença de altas autorida-
vam a praticar o futebol daquele época, des e patentes, a cabeça utilizada era a de
espécie de exercício que era
porém com algumas diferenças mar- um general inimigo, ou, no mínimo de
cantes. A bola, por exemplo, era simples- uma versão antiga do esporte. um capitão
mente a “cabeça de um soldado inimigo”, Hoje, na China, o futebol é o Presume-se, assim, que partidas joga-
que era, com cabelo e tudo, carregada das com cabeças de simples soldados,
pelos pés (nossa popular embaixadinha) esporte mais popular e os eram consideradas “peladas”...
até ultrapassar a trave adversária. O jogo salários dos jogadores estão Já que falamos da “origem do futebol”,
tornava-se mais difícil na medida do com- entre os mais altos do meio é interessante registrar, também, a origem
primento dos cabelos do pobre inimigo, do rugby, que nasceu por puro precon-
em função da dificuldade de controle des- esportivo. ceito da classe aristocrática inglesa. Quan-
sas “embaixadas”. do das reuniões levadas a efeito na Ingla-
Não existiam regras definidas, ou fixas. deveria ser muito apurada, já que deveri- terra, no final do Século XIX, os “carto-
Basicamente, era proibida a “cabeça do am atravessar todo o campo e atingir a meta las” da época impuseram a condição,
defunto”, agora promovida a bola, tocar o adversária só na base do controle e das exigida pela nobreza e classe dominante,
chão. Dessa forma, a perícia dos jogadores embaixadas, sendo, já naquela época, ve- de que o referido esporte não fosse joga-
dado utilizar as mãos ou braços. do com as mãos, mas somente com os
A violência imperava; valia tudo, soco, pés, mais especificamente da cintura para
pontapé, uso de armas etc. Normalmente, baixo, para que os ilustres janotas não ti-
após cada “pelada”, um sangrento placar: 2, vessem que se “sujar”...
3 a zero para tal time, porém com um saldo A proposta foi aprovada, embora por
de vários mortos, inúmeros estropiados, pequena margem de votos.
Em represália, a classe popular inven-
tou o rugby... o qual, até os dias de hoje,
mantém praticamente intactas as regras
então acordadas.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 61


COMÉRCIO

“Nada supera o diálogo pessoal


na área de comércio exterior”
Giulite Coutinho, pioneiro nas transações com os chineses, elogia a
realidade atual do setor de importação e exportação do Brasil
Presidente de Honra da Associa-

O ção de Comércio Exterior do Bra-


sil – AEB, Giulite Coutinho, é Di-
retor Presidente da Forlab Consult que, em
1972, foi a primeira empresa brasileira a es-
tabelecer relações comerciais com a China.
O empresário – que é uma referência
na área de esportes, por ter sido presi-
dente da Confederação Brasileira de Fu-
tebol – CBF – foi um dos fundadores da
Forlab Consult e também da AEB. No
caso da aproximação com os chineses, o
papel de Giulite Coutinho, que organizou
visitas de empresários à China, foi funda-
mental. Ele sempre demonstrou grande
entusiasmo com relação às exportações.
“Minha experiência é bastante antiga
porque ela se iniciou antes da fundação da
AEB. Naquela época, foi feito um trabalho
muito importante de implantação de uma
política de comércio exterior. Estamos fa-
lando de 1970, quando não havia uma po-
lítica estruturada de comércio exterior. O
Brasil era, basicamente, exportador de al-
guns produtos primários, como o café. Com
um trabalho que se iniciou em 1964, apoi-
ado pelo governo militar, por intermédio Giulite Coutinho vê o atual esforço exportador brasileiro com muito otimismo.
dos ministros Delfim Netto, Ernane
Galvêas e João Paulo dos Reis Veloso, co- mais agressiva que tem-se intensificado Exteriores – MRE e do Desenvolvimen-
meçamos a atuar na área de regulamenta- agora, no governo de Luiz Inácio Lula da to, Indústria e Comércio Exterior – MDIC
ção do setor. Depois, houve uma evolução. Silva, com o Ministro Luiz Fernando e de órgãos de apoio como o Sebrae, de
Após um período de estagnação, estamos Furlan à frente do MDIC. forma que aquele que quer se iniciar no
assistindo a essa retomada.” Questionado a respeito dos conselhos comércio exterior conta com a ajuda de
Os ministros Delfim Netto e Ernane que daria aos empresários que pretendem instituições muito bem estruturadas.”
Galvêas fazem parte do Conselho Superi- ingressar, hoje, no setor, Giulite Coutinho Para Giulite Coutinho, iniciativas como
or da FCCE. mostrou-se conectado com as realidades e os seminários organizados pela FCCE são
Giulite Coutinho vê o quadro atual do questões contemporâneas, como o acesso muito válidas. “Não há nada que supere o
esforço exportador brasileiro de forma à informação, e elogiou instrumentos que diálogo pessoal na área de comércio exte-
muito otimista. Para ele, houve uma evo- não existiam no seu tempo. rior, de forma que os seminários trazem,
lução favorável a partir do último gover- “Hoje, está implantada toda uma siste- no seu bojo, muita informação e se cons-
no do Presidente Fernando Henrique mática em termos de informação, com a tituem em oportunidades de um contato
Cardoso, no qual se iniciou uma política participação dos Ministérios das Relações mais objetivo entre os interessados.”

62 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


A tradição de comércio dos chineses ajuda o país a criar empregos hoje, sem se preocupar com os possíveis custos desta política.

“Precisamos aprender a vender


com os parceiros chineses”
Ex-diretor do Banco Central vislumbra novas possibilidades de negócios
O Chefe da Divisão Econômica da missões no exterior para lança- Como o senhor analisa a relação bi-
lateral Brasil-China no atual pano-
Confederação Nacional do Co- mento de títulos e negociações fi- rama do comércio exterior?
mércio – CNC, Carlos Thadeu de nanceiras. Em entrevista à revista CTFG – Mais do que nunca, o Brasil pre-
cisa de um parceiro como a China, por-
Freitas Gomes, foi Diretor do Ban- da FCCE, considera que há neces- que precisamos vender e os chineses sa-
co Central do Brasil, tendo exer- sidade de correr o risco da desva- bem fazer isso, enquanto nós ainda não
sabemos. A China é o maior exemplo de
cido várias vezes a presidência do lorização da moeda, a exemplo do como se consegue receber investimentos
banco. Autor dos livros “Captação que houve na China, para ajudar a estrangeiros e, além disso, também está
investindo fora de seu território. O Brasil
de recursos no mercado interna- diminuir o custo da mão-de-obra precisa do capital chinês como a China
cional de capitais” e “Ensaios so- e baratear a produção e, assim, precisa do capital brasileiro. Muitas em-
presas brasileiras têm interesse em inves-
bre economia e política econômi- competir e avançar no mercado tir na China. Nessa complementaridade,
ca”, esteve presente em diversas externo. ambos os países têm muito a ganhar.

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 63


COMÉRCIO

ção no cenário do comércio exteri-


or, e de que forma ela poderia con-
tribuir para esses investimentos?
CTFG – O Banco Central pode capitane-
ar algumas iniciativas, como a de um acor-
do regional com a China em termos de
moeda. Há um acordo regional na Améri-
ca Latina em que não é necessário impor-
tar com o dólar; pode-se importar e ex-
portar com a moeda dos diferentes paí-
ses. Acho que se poderia criar algo pareci-
do: uma espécie de câmara de compensa-
ção, de tal maneira que não haja envol-
vimento de moeda estrangeira no comér-
cio entre os países. Se for interesse da
China, poderia haver maior incentivo à
troca entre os dois países, desde que só
O ex-diretor do Banco Central do Brasil propõe uma maior colaboração na área bancária. houvesse o envolvimento da moeda brasi-
leira e da chinesa. Isso poderia facilitar, para
Em relação ao comércio exterior, a maior a chance de o país gerar empregos. a China, a importação de produtos brasi-
China despertou há algum tempo. A China é um exemplo típico de país leiros. Outro ponto que acho importante
O Brasil está caminhando a passos que está gerando empregos e não está pre- é costurar um acordo entre bancos cen-
um pouco mais lentos. O que o se- ocupado com o fato do custo dessa política trais para que a China possa comprar títu-
nhor acha que falta ao nosso país ser alto. A longo prazo, o benefício é muito los de empresas brasileiras que estão ávidas
para incrementar o comércio com maior do que o custo de uma moeda de- para colocá-los no mercado de capitais in-
os chineses? É necessário um maior preciada e, também, do que o custo de uma ternacionais. A China tem uma quantidade
número de iniciativas governamen- legislação que permita exportar mais. enorme de recursos que podem ser inves-
tais, ou trata-se apenas de incenti- tidos em títulos. Uma outra colaboração
var a mentalidade exportadora?
CTFG – O Brasil tem um mercado inter-
no potente. Os nossos empresários pre-
“ A China é um exemplo típico
de país que está gerando
empregos e não está preocupado
seria, ainda, na área bancária: a China está
começando a investir em seus bancos; o
Brasil poderia ter mais bancos atuando no
ferem investir mais no mercado interno mercado chinês. Os bancos brasileiros de-
do que no externo. Há, ainda, a questão da com o fato de o custo veriam ser convidados para ter maior parti-
taxa cambial: nem sempre o nosso
empresariado quer vender lá fora, por-
que a taxa de câmbio não ajuda. No caso
dessa política ser alto
CARLOS THADEU DE ”
F R E I TA S G O M E S N
cipação no mercado financeiro chinês e
poderiam, inclusive, financiar as importa-
ções chinesas. Seria um acordo entre ban-
da China, a taxa de câmbio ajuda e muito. Um outro diálogo que poderia ser in- cos centrais porque na China os bancos
Hoje, os chineses exportam a um custo tensificado com a China gira em torno da comerciais não possuem muita vitalidade,
bem mais barato, porque dispõem de questão dos investimentos em títulos. A uma vez que os mais importantes ainda são
mão-de-obra barata e sua moeda favore- China, hoje, investe bastante em títulos os estatais. Por isso, é importante o
ce. No Brasil, a moeda não favorece, ain- americanos, já que conta com US$ 1 trilhão envolvimento do Banco Central.
da. O nosso país tem custos de produção de reservas e, também, poderia, eventual-
relativamente baixos, mas não consegue mente, investir em reais. Muitas empresas O que o senhor acha de iniciativas
competir com a China ou com outros pa- brasileiras poderiam colocar títulos junto como este seminário bilateral?
íses na exportação de produtos que utili- a empresas chinesas. Nossa moeda, hoje, CTFG – Acho que o seminário é impor-
zam mão-de-obra intensiva, porque o cus- tem um valor específico e o Brasil é um tante porque são dois países que precisam
to da nossa mão-de-obra aumentou mui- país que já se mostrou responsável. A su- aumentar seu intercâmbio, apesar de te-
to com a moeda subvalorizada. gestão que faço é que a China, ao invés de rem trocas comerciais razoavelmente ele-
Nossa vontade de exportar para a Chi- só comprar títulos americanos, também vadas. O seminário pode levar mais em-
na e para outros países existe, mas é preci- compre títulos brasileiros. presas brasileiras a procurar a China para
so uma política cambial que estimule os vender e, também, para investimentos. Es-
empresários. Precisamos, ainda, de incen- O senhor já foi diretor do Banco ses seminários abrem as portas para novas
tivos fiscais. Quanto maior a exportação, Central. Qual o papel dessa institui- oportunidades.

64 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


RELAÇÕES BILATERAIS

Comércio Exterior da China


ARTIGO ELABORADO PELA EQUIPE DO DEPARTAMENTO
Evolução da corrente de comércio da China
1990 a 2005 – US$ bilhões
DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO
DO C OMÉRCIO EXTERIOR DA SECRETARIA 1.500
DE COMÉRCIO E XTERIOR DO MDIC 1.350

1.200

O comércio exterior chinês vem crescendo de forma acele- 1.050

rada desde 1990, ano em que a corrente de comércio do País foi 900
de US$ 115,4 bilhões, cifra que em 2005, alcançou US$ 1,422 750
trilhão, o que representa uma aumento de 1.132%. No período, 600
a expanção foi de 18,7% em média ao ano. Entretanto, o aumen-
450
to se deu de forma mais expressiva nos seis anos mais recentes,
com taxa de 26,1% em média ao ano. 300

O crescimento do comércio exterior da China ocorreu de for- 150

ma equilibrada, com exportações e importações se expandindo a 0

1991

2001
1992

2002
1993

1999

2003
1995

1997

2005
1990

2000
1994

1996

1998

2004
taxas semelhantes. Em 1990, as exportações chinesas – US$ 62,1
Fonte: OMC
bilhões – foram 16,4% superiores às importações – total de US$
53,3 bilhões, o que gerou um saldo de US$ 8,7 bilhões. Em 2005,
essa proporção foi de 15,4%, com exportações de US$ 762,0 Evolução da balança comercial da China
bilhões e importações de US$ 660,1 bilhões. Devido ao alto pata- 1990 – 2005 – US$ bilhões
mar alcançado, o saldo foi de US$ 101,9 bilhões.
800
No ranking dos maiores países exportadores mundiais, a Chi-
na foi o terceiro maior em 2005, atrás somete de Alemanha e 700
Exportação Importação Saldo
Estados Unidos. No ano, a China foi responsável por 7,3% das 600

vendas externas mundiais, que totalizaram US$ 10,4 trilhões. 500


O país esteve também na terceira colocação como maior im-
400
portador mundial, os primeiros são os Estados Unidos e a Ale-
manha. A China foi responsável por 6,1% das importações mun- 300

diais, que somaram US$ 10,8 trilhões. 200


As importações Chinesas são compostas principalmente por 100
máquinas e equipamentos elétricos, um total de US$ 178 bi-
lhões em 2005, representando 26,5% da pauta total. Os demais 0

destaques na pauta importadora do país são: máquinas e equipa- -100


1991

2001
1992

2002
1993

1999

2003
1995

1997

2005
1990

2000
1994

1996

1998

2004
mentos mecânicos (US$ 96 bilhões, participação de 14,6%),
Fonte: OMC
combustíveis minerais (US$ 64 bilhões, 9,7%), instrumentos de
ótica e médicos (US$ 50 bilhões, 7,6%), plástico e obras (US$
33 bilhões, 5,0%), produtos químicos orgânicos (US$ 28 bi- 3,3%), móveis (US$ 22 bilhões, 2,9%), brinquedos e artigos
lhões, 4,2%), produtos siderúrgicos (US$ 26 bilhões, 4,0%), esportivos (US$ 19 bilhões, 2,5%), calçados (US$ 19 bilhões
minérios (US$ 26 bilhões, 3,9%), cobre e suas obras (US$ 13 2,5%), obras de ferro ou aço (US$ 19 bilhões, 2,5%) e artigos de
bilhões, 2,0%) e automóveis e autopeças (US$ 12 bilhões, 1,9%). plástico (US$ 18 bilhões, 2,3%).
A pauta exportadora chinesa também é concentrada pratica- O mais destacado país de origem das importações chinesas,
mente nos mesmos produtos que compõe a importação do país. em 2005, foi o Japão com uma participação de 15,2%, totalizando
Em 2005, o principal segmento foi o das máquinas e equipamen- US$ 100 bilhões. Em seguida, os principais fornecedores são:
tos elétricos, com US$ 172 bilhões, 22,6% do total. Os demais Coréia do Sul (US$ 77 bilhões, participação de 11,6%), Taiwan
destaques entre os componentes da pauta de exportação da Chi- (US$ 75 bilhões, 11,3%), Estados Unidos (US$ 49 bilhões,
na foram: máquinas e equipamentos mecânicos (US$ 150 bi- 7,4%), Alemanha (US$ 31 bilhões, 4,6%), Malásia (US$ 20 bi-
lhões, representando 20,0% do total), artigos de vestuário (US$ lhões, 3,0%), Cingapura (US$ 17 bilhões, 2,5%), Austrália (US$
35 bilhões, 4,6%), artigos de vestuário de malha (US$ 31 bi- 16 bilhões, 2,4%), Rússia (US$ 16 bilhões, 2,4%) e Tailândia
lhões, 4,1%), instrumentos de ótica e médicos (US$ 25 bilhões, (US$ 14 bilhões, 2,1%).

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 65


RELAÇÕES BILATERAIS

Importações da China Exportações da China


Principais produtos – 2005 – participação % Principais produtos – 2005 – participação %

26,5 Fonte: Global Trade Atlas 22,6 Fonte: Global Trade Atlas

20,0

14,6

9,7
7,6
5,0 4,6 4,1
4,2 4,0 3,9 3,3 2,9 2,5 2,5 2,5 2,3
2,0 1,9
Máquinas e
Equipamentos
Elétricos
Máquinas e
Equipamentos
Mecânicos

Instrumentos
de Ótica e
Médicos

Máquinas e
Equipamentos
Elétricos
Máquinas e
Equipamentos
Mecânicos

Artigos de
Vestuário
de Malha
Instrumentos
de Ótica e
Médicos

Brinquedos
e Artigos
Esportivos
Combustíveis
Minerais

Plásticos
e Obras

Químicos
Orgânicos

Automóveis
e Autopeças

Artigos de
Vestuário

Obras de
Ferro ou Aço

Artigos de
Plástico
Siderúrgicos

Minérios

Cobre e Obras

Móveis

Calçados
Quanto aos países de destino das exportações chinesas, o prin- Importações da China
cipal são os Estados Unidos, com US$ 163 bilhões em 2005, o Principais países fornecedores – 2005 – participação %
equivalente a 21,4% do total, seguido dos seguintes principais
16,0
compradores de produtos chineses: Hong Kong (US$ 125 bi- 15,2 Fonte: Global Trade Atlas
lhões, participação de 16,3%), Japão (US$ 84 bilhões, 11,0%), 14,0

Coréia do Sul (US$ 35 bilhões, 4,6%), Alemanha (US$ 33 bi- 12,0 11,6 11,3
lhões, 4,3%), Países Baixos (US$ 26 bilhões, 3,4%), Reino Uni-
10,0
do (US$ 19 bilhões, 2,5%), Cingapura (US$ 17 bilhões, 2,2%),
Taiwan (US$ 17 bilhões, 2,2%) e Rússia (US$ 13 bilhões, 1,7%). 8,0 7,4

Embora ainda pequena, a participação do Brasil no comércio 6,0


exterior chinês cresceu significativamente nos últimos anos. Em 4,6

2000, o Brasil foi responsável por somente 0,5% das importa- 4,0 3,0
2,5 2,4 2,4 2,1
ções e 0,5% das exportações chinesas. Já, em 2005, o Brasil 2,0
forneceu 1,0% das importações da China, situando-se como o
0,0
14º maior fornecedor. Por outro lado, o mercado brasileiro foi o
ão

Sul

an

ra

ia
ásia
Uni stados

sia

ndia
anh

trál
apu
Jap

Taiw

Rús
do

Mal
dos

â
Alem

24º maior comprador e participou com 0,7% do total das expor-


Aus
Cing

Tail
E
éia
Cor

tações chinesas.

Exportações da China Participação do Brasil no comércio exterior da China


Principais países de destino – 2005 – participação % 2000 – 2005

24,0 Fonte: MDIC/SECEX e OMC


Fonte: Global Trade Atlas
21,4
20,0

16,3 0,5% 0,7%


0,6%
16,0
0,5%
0,5%
12,0 11,0

0,5%
8,0
1,1%
4,6 4,3 1,0% 1,0%
3,4 0,8% 0,9%
4,0 2,5 2,2 2,2 1,7 0,5%

0,0
ng

ão

Sul

an
nido
Uni stados

sia
aixo
anh

r
apu

2000 2001 2002 2003 2004 2005


g Ko

Jap

Taiw

Rús
do
dos

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Alem

es B

Cing
E

Hon

éia

Rein

Importação de China Exportação de China


País
Cor

66 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


Intercâmbio comercial entre Brasil e China – 2005
De janeiro a dezembro de 2005, as exportações brasileiras Intercâmbio comercial Brasil/China
para a China acumularam US$ 6,834 bilhões, valor 25,6% acima 2005/2004 – US$ milhões FOB
do registrado no mesmo período do ano anterior, de US$ 5,440
bilhões, e recorde histórico no comércio bilateral. O desempe- Fonte: MDIC/SECEX
Variação % 2004/2005: 12.187
Exportação: 25,6%
nho assinalado foi superior às exportações brasileiras globais, de Importação: 44,3%
22,6%. Assim, a China ampliou sua presença na pauta brasileira, Corrente de comércio: 33,2%
9.150
passando de 5,6% em 2004 para 5,8% em 2005.
As importações brasileiras de produtos chineses atingiram 6.834
US$ 5,353 bilhões, significando aumento de 44,3% em relação a
5.440 5.353
2004, cuja cifra foi de US$ 3,710 bilhões. A taxa de expansão das
compras de produtos chineses foi cerca de duas vezes e meia 3.710

maior do que a taxa de crescimento das importações globais


1.730 1.481
brasileiras, de 17,1%, no mesmo período comparativo. O adici-
onal das compras provenientes da China (+US$ 1,643 bilhão)
representou 15,3% do acréscimo contabilizado nas importações Exportação Importação Saldo Corrente de
totais do País (+US$ 10,732 bilhões), no comparativo janeiro/ 2004 2005
Comércio

dezembro-2005/2004. A participação chinesa nas importações


totais do Brasil evoluiu de 5,9% em 2004 para 7,3% em 2005.
De janeiro a dezembro de 2005, o Brasil registrou superávit Evolução do intercâmbio comercial Brasil/China
de US$ 1,481 bilhão, abaixo do saldo anotado nos dois anos 1996/2005 – US$ milhões FOB
imediatamente anteriores (US$ 1,730 bilhão em 2004 e US$
7.000
2,386 bilhões em 2003).
Exportação Importação Saldo Comercial
A corrente de comércio entre os dois países apresentou in- 6.000

cremento de 33,2%, de US$ 9,150 bilhões, em 2004, para US$


5.000
12,187 bilhões, em 2005. Ademais de estabelecer um novo re-
corde, esse número ratifica o intenso ritmo do comércio bilate- 4.000

ral entre os dois países, que a partir de 2000 registra uma taxa de
3.000
crescimento média anual de 41,1%.
A contribuição mais significativa para a ampliação da corrente 2.000
de comércio, que cresceu US$ 3,0 bilhões no comparativo janei-
ro-dezembro/2005-2004, adveio da elevação das importações 1.000

(+US$ 1,643 bilhão), que representou cerca de 54% do aumen- 0


to total. O adicional em exportações foi de US$ 1,394 bilhão.
Cabe, no entanto, destacar que, considerando a taxa de cresci- -1.000
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Fonte: MDIC/SECEX
mento média anual a partir de 2000, o desempenho das exporta-
ções mostra-se mais intenso que o das importações, com uma
taxa anual de 47,0% contra 35,5% por parte das importações, alizados. No comparativo 2005/2004, a categoria que mais cresceu
embora as taxas de expansão das exportações apresentem-se de- foi a de básicos, +44,6%, seguida de manufaturados, +18,1%. Os
crescentes e as das importações, crescentes. produtos semimanufaturados apresentaram retração de 18,6%.
No ano, o mercado chinês ocupou a terceira posição no ranking Em 2005, os principais produtos que compuseram as vendas
de destinos das exportações nacionais. A China superou os Paí- brasileiras ao mercado chinês foram: minério de ferro (participa-
ses Baixos e foi responsável pela aquisição de 5,8% das vendas ção de 26,1% no total exportado), soja em grão (25,1%), petró-
brasileiras. Nas exportações destinadas à Ásia, a participação chi- leo bruto (7,9%), laminados planos de ferro ou aço (4,9%),
nesa foi de 36,8%, de um total de US$ 18,6 bilhões. celulose (4,0%), fumo em folhas (3,6%), couros e peles (3,6%),
Quanto às importações do Brasil, a China foi o 4º maior for- óleo bruto de soja (2,1%), madeira serrada (2,0%), algodão em
necedor. A participação chinesa no total da pauta importadora foi bruto (1,3%), carne de frango (1,2%), ferro-ligas (1,1%),
de 7,3%. O país é também responsável por 31,7% das compras polímeros de etileno, propileno e estireno (1,0%), produtos
brasileiras da região, que alcançam US$ 16,9 bilhões. semimanufaturados de ferro/aço (0,9%), motores para veículos
A pauta brasileira de exportação para a China, em 2005, foi com- (0,8%), minério de manganês (0,7%), máquinas-ferramentas para
posta por 68,4% de produtos básicos e 32,6% de produtos industri- forjar metais (0,7%) e mármores e granitos (0,7%).

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 67


RELAÇÕES BILATERAIS

Ranking da China nas exportações brasileiras Ranking da China nas importações brasileiras
2005/2004 – US$ milhões FOB 2005/2004 – US$ milhões FOB

Ordem País Valor '% Part% Ordem País Valor '% Part%

2004 2005 2005/04 2004 2005 2005/04


1 1 Estados Unidos 22.741 11,8 19,2 1 1 Estados Unidos 12.851 11,6 17,5
2 2 Argentina 9.915 34,5 8,4 2 2 Argentina 6.239 12,0 8,5
4 3 China 6.834 25,6 5,8 3 3 Alemanha 6.144 21,1 8,4
3 4 Países Baixos 5.283 -10,7 4,5 4 4 China 5.353 44,3 7,3
5 5 Alemanha 5.023 24,5 4,2 6 5 Japão 3.407 18,8 4,6
6 6 México 4.064 2,9 3,4 9 6 Argélia 2.838 45,9 3,9
9 7 Chile 3.612 41,9 3,1 7 7 França 2.700 18,0 3,7
8 8 Japão 3.476 25,6 2,9 5 8 Nigéria 2.652 -24,3 3,6
7 9 Itália 3.224 11,0 2,7 10 9 Coréia do Sul 2.327 34,5 3,2
14 10 Rússia 2.917 76,0 2,58 8 10 Itália 2.276 11,1 3,1
Fonte: MDIC/SECEX

A evolução nas vendas de produtos básicos, passando de US$ Exportações brasileiras para a China por fator agregado
3,232 bilhões para US$ 4,674 bilhões, decorreu, especialmente, 2005/2004 – US$ milhões FOB
dos expressivos crescimentos das exportações de algodão em bruto
(+370,5%, para US$ 90,2 milhões); petróleo (+157,8%, para 4.674 Variação % 2004/2005:
Básicos: + 44,6%
US$ 541,6 milhões), fumo em folhas (+144,3%, para US$ 248,8 Semimanfaturados: - 18,6%
milhões); carne de frango (+132,6%, para US$ 78,8 milhões); Manufaturados: + 18,1%
3.232
minério de manganês (+92,0%, para US$ 49,4 milhões) e miné-
rio de ferro (+60,1%, para US$ 1,78 bilhão).
Já o acréscimo de 18,1% nas vendas de produtos manufaturados,
passando de US$ 964,8 milhões para US$ 1,139 bilhão, resultou,
principalmente, dos avanços nas exportações de máquinas-ferra- 1.234
1.005 1.139
965
mentas para forjar metais (de US$ 203 mil para US$ 49,1 milhões);
fio-máquina e barras de ferro ou aço (+1.323,0%, para US$ 35,5
milhões); cobre em barras (+1.035,7%, para US$ 4,1 milhões),
ferramentas de uso manual (+994,5%, para US$ 14,1 milhões); Básicos Semimanufaturados Manufaturados
poliamidas em formas primárias (+870,9%, para US$ 9,0 milhões); 2004 2005 Fonte: MDIC/SECEX
polímeros de etileno (+344,2%, para US$ 69,5 milhões); tubos de
ferro fundido (+317,9%, para US$ 5,6 milhões); turbinas hidráuli-
cas (+250,4%, para US$ 16,6 milhões); compostos heterocíclicos sintéticas/artificiais (2,8%), compostos heterocíclicos (2,5%),
(+244,7%, para US$ 26,0 milhões); máquinas e aparelhos para aparelhos videofônicos (2,3%), aparelhos transmissores ou re-
terraplanagem (+229,0%, para US$ 13,5 milhões) e laminados pla- ceptores de telefonia celular (2,2%), partes e acessórios de apa-
nos (+54,1%, para US$ 333,7 milhões). relhos de som (1,8%), brinquedos (1,8%), pilhas e baterias
No que toca às importações brasileiras de produtos originári- (1,7%), calçados (1,5%), microfones e alto-falantes (1,5%), cir-
os da China, observa-se que a pauta foi formada preponderante- cuitos impressos (1,3%), aparelhos de rádio (1,1%) e partes e
mente por produtos manufaturados, de alto valor agregado, os acessórios de motocicletas e bicicletas (1,1%).
quais representaram 94,1% das compras totais efetuadas entre Entre os produtos que apresentaram maiores crescimentos re-
janeiro e dezembro de 2005. Os principais itens que compuse- lativos nas compras oriundas da China em 2005, destacam-se: apa-
ram as compras nacionais foram: partes de aparelhos transmis- relhos transmissores e receptores de telefonia celular (+282,9%,
sores e/ou receptores (principal item, com participação de para US$ 119,5 milhões), pneumáticos (+268,7%, para US$ 43,7
10,6% da pauta total), dispositivos de cristais líquidos (4,8%), milhões), circuito-impresso e outras partes para aparelhos de tele-
máquinas automáticas para processamento de dados (4,1%), cir- fonia (+206,9%, para US$ 42,8 milhões), alho fresco ou refrige-
cuitos integrados (4,0%), partes e acessórios de máquinas auto- rado (+180,1%, para US$ 31,1 milhões), aparelhos elétricos para
máticas para processamento de dados (3,9%), carvão mineral telecomunicações (+146,3%, para US$ 35,9 milhões), vídeo-cas-
(3,5%), motores e geradores elétricos (2,9%), tecidos de fibras sete (+133,3%, para US$ 121,4 milhões), outros aparelhos trans-

68 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


missores ou receptores (+116,0% para US$ 58,8 milhões), bom- Principais produtos exportados pelo Brasil para a China
bas e compressores (+112,6%, para US$ 39,3 milhões), máqui- 2005/2004 – US$ milhões FOB
nas de costura (+86,5%, para US$ 25,6 milhões), partes e acessó-
1.785 Fonte: MDIC/SECEX
rios para motocicletas (+86,2%, para US$ 59,2 milhões), ferro- 1.717
ligas (+85,5%, para US$ 41,1 milhões) e máquinas automáticas
para processamento de dados (+83,0%, para US$ 218,4 milhões).
A exportação brasileira para a China é desconcentrada entre
os estados exportadores. Minas Gerais é o principal exportador
em decorrência das vendas de minério de ferro. Em 2005, 55,6%
(US$ 970 milhões) das exportações mineiras para a China foram 542
de minério de ferro. No ano, Minas Gerais foi responsável por
334
22,1% das exportações brasileiras destinadas à China, e apresen- 270 249 249
144 138
tou um incremento de 50,3% sobre 2004. 90

As demais principais unidades da federação que realizaram vendas

Laminados
Planos de
Ferro e Aço
Petróleo
em bruto

Fumo em
Folhas

Couros e
Peles

Óleo de Soja
em Bruto

Madeira
Serrada

Algodão
em Bruto
Soja em Grão

Celulose
Minério
de Ferro
ao mercado Chinês foram: São Paulo (participação de 11,6% no
total), Mato Grosso (11,2%), Rio de Janeiro (10,1%), Paraná (8,9%),
Rio Grande do Sul (7,7%), Espírito Santo (7,5%), Pará (6,4%),
Bahia (3,6%) e Goiás (2,9%). Os demais estados brasileiros foram
responsáveis por 7,9% das exportações nacionais para a China. Estados brasileiros que mais exportaram para a China
Apenas três unidades da federação são responsáveis pela mai- 2005 – US$ milhões FOB
oria – 72,9% – das importações de produtos Chineses: São Pau-
Fonte: MDIC/SECEX
lo, Amazonas e Espírito Santo. No ano, São Paulo foi responsável 1.509

por 35,3% da pauta, Amazonas, por 23,0%, Espírito Santo, por


14,6%; os demais principais estados importadores são: Rio de
Janeiro (4,3%), Rio Grande do Sul (4,2%), Minas Gerais (4,1%),
Paraná (3,4%), Santa Catarina (3,2%), Bahia (2,7%) e 795 765
Pernambuco (1,2%). Os demais estados foram responsáveis por 687
608
4,1% das importações nacionais de produtos chineses. 527 516
440
Na análise por empresa, 1.953 exportadores realizaram ven-
das para a China em janeiro-dezembro/2005, contra 1.835 em 246
201
janeiro-dezembro/2004, representando aumento de 6,4%
(+118 empresas). Do lado da importação, 7.161 empresas com-
Rio Grande
do Sul
Paraná

Espírito
Santo
São Paulo

Mato Grosso

Bahia
Rio de
Janeiro
Minas
Gerais

Pará

Goiás
praram produtos chineses, ante 5.816, representando aumento
de 23,1% (+1.345 empresas), na comparação janeiro-dezem-
bro/2005-2004.

Principais produtos importados pelo Brasil da China Número de empresas brasileiras exportadoras e
2005/2004 – US$ milhões FOB importadoras no comércio com a China

565 Fonte: MDIC/SECEX Fonte: MDIC/SECEX


5.816
7.161

1.953 1.835
256
218 213 211
164 154 149
133 121
Dispositivos de
Cristais Líquidos

Compostos
Heterocíclicos

Aparelhos
Videofônicos
Partes de Apars.
Transmissores
ou Receptores

Máqs. Automáts.
para Processa-
mento de Dados
Circ. Integrados
e Microconjun-
tos Eletrônicos
Partes/Peças de
Máqs. Autom. p/
Proces. Dados

Motores e Gera-
dores Elétricos
Tecidos de Fibras
Têxteis Sintéti-
cas ou Artificiais
Carvão Mineral

2004 2005
Exportadores Importadores

Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A 69


CURTAS

Vendas asiáticas meses acumulados, até junho Numa escala de 0 a 7, em


z A Ásia tornou-se a região de 2006, as compras que o maior risco de crédito
que mais vende produtos brasileiras de produtos é 7, o Brasil passou de 5 para
para o Brasil, superando a chineses aumentaram 46,4% 4, a partir de 29 de junho de
União Européia – UE. De e chegaram a US$ 6,6 bilhões. 2006, no seu melhor
julho de 2005 ao final de Os analistas de comércio desempenho desde que o
junho de 2006, o Brasil exterior acreditam que, a índice foi criado, em 1999.
importou US$ 20 bilhões curto prazo, a China vai Hoje, a Argentina tem nível
dos países asiáticos e US$ superar a Argentina e se tornar 7; o Paraguai 6; o Uruguai 5;
18,7 bilhões da UE. Neste a segunda origem dos a Costa Rica 3; o Chile, o
período, as compras de produtos de importação México e a China 2; os Glorisabel G. Thompson-Flores
produtos asiáticos cresceram vindos para o Brasil. O país Estados Unidos e Cingapura
37%, enquanto as de que mais exporta para o Brasil 0. Este índice ajuda a Embaixador Plenipotenciário
produtos europeus subiram ainda são os Estados Unidos. determinar o prêmio mínimo do Panamá, Juan Bosco
apenas 6,8%. No total, a que as agências Bernal no evento. Uma
participação asiática saltou de Brasil em alta governamentais cobram nos curiosidade: a empresa
21,2% para 24,7%. A da UE, z A Organização para seguros às exportações de Panama Ports Company –
por sua vez, diminuiu de Cooperação e máquinas e equipamentos de que administra os portos de
25,5% para 23,1%. Desenvolvimento seus países. A nova Balboa (no Pacífico) e
A China foi uma das Econômico – OCDE, classificação deverá ter um Cristobal (no Atlântico) do
grandes responsáveis por esta alterou a classificação de impacto imediato nos Canal do Panamá – é uma
mudança de cenário. Nos 12 risco de crédito do Brasil. financiamentos às subsidiaria do Hutchison Port
importações brasileiras de Holding, um grupo chinês de
máquinas e equipamentos Hong Kong.
com seguro ou empréstimo
direto de agências Visita 2
governamentais. Com isso, z O Seminário Bilateral de
calcula-se que pode haver Comércio Exterior e
uma redução de 20% no Investimentos Brasil-China
custo total dos empréstimos. recebeu a visita de Hélio
Julio Marchi, Presidente da
Visita 1 Câmara Oficial de Comércio
z O Seminário Bilateral de Brasil-Austrália e Diretor-
Comércio Exterior e Superintendente da empresa
A Revista dos Seminários Bilaterais de Investimentos Brasil-China Partner – Tecnologia de
recebeu a visita de Glorisabel Informação. A Austrália será
Comércio Exterior e Investimento, Garrido Thompson-Flores, objeto de seminário a ser
organizados pela FCCE, é distribuída entre Cônsul-Geral da República promovido pela Federação
as mais destacadas personalidades, do do Panamá. A presença de das Câmaras de Comércio
Glorisabel deveu-se aos Exterior — FCCE, em
Brasil e do exterior, que atuam no preparativos para o seminário princípio, em abril de 2007.
comércio internacional. dedicado a seu país, que vai Além do comércio bilateral
ocorrer em 21 de agosto de entre os dois países, os temas
2006. Os principais temas a discutidos deverão abordar
Anunciar aqui é fazer chegar o seu serem discutidos na ocasião educação, minérios e
produto a quem realmente interessa, a serão: balança comercial; tecnologia, principalmente
investimentos em infra- na área de polímeros. Uma
quem decide.
estrutura (principalmente no curiosidade: a Austrália é o
Procure-nos. Canal do Panamá); único país que detém
saneamento da Baía do tecnologia para a produção
Tel.: 55 21 2221 9638 Panamá; energia; turismo e de notas de plástico. A atual
eduardo.teixeira@abrapress.com.br infra-estrutura portuária. Já cédula de 10 reais, lançada
está confirmada a presença do para comemorar os 500 anos

70 Seminário Bilateral de Comércio Exterior e Investimentos B R A S I L • C H I N A


da chegada dos portugueses óticos; brinquedos; artigos calculada em US$ 2,7 bilhões garantem a identificação e a
ao Brasil, foi confeccionada de papelaria e escritório. (cerca de R$ 5,7 bilhões) foi o exploração de oportunidades
com este material. A maior negócio fechado em de investimento, colaboração e
vantagem é que o dinheiro de Repercussão 2006 pela empresa brasileira. negociação.
plástico pode durar quatro a z O Seminário Bilateral de Serão 50 aviões do modelo ERJ “Na China e na Índia houve
cinco vezes, em média, mais Comércio Exterior e 145 e mais 50 do Embraer 190, controle, seleção e exigência
do que o dinheiro de papel. Investimentos Brasil-China que deverão ser entregues nos de contrapartidas nos
Outra curiosidade: tem teve uma grande repercussão. próximos cinco anos. O ERJ processos de abertura e
crescido significativamente o O auditório da Confederação 145 é um jato de 50 assentos e transnacionalização de capitais
número de estudantes Nacional de Comércio esteve será produzido pela joint-venture produtivos e financeiros. Esses
brasileiros que estão indo lotado e estiveram presentes Harbin Embraer Aircraft países abriram mão de
estudar na Austrália, entre repórteres de vários jornais, Industry na cidade de Harbin, modelos autóctones, sem
outros motivos, porque este além de uma equipe da TV na região chinesa de perder o compromisso com a
país concede visto a quem Educativa. O tradicional Heilongjiang. Ele começará a autonomia do Estado nacional
deseja, ao mesmo tempo, Jornal do Commercio deu a ser entregue em setembro de e de suas elites. Eles focaram
estudar e trabalhar. seguinte chamada de 2007. O Embraer 190, que no longo prazo e organizaram
primeira página: “Déficit na tem 106 lugares, será sua adesão à ordem global.”
Feira chinesa balança com a China depois produzido em São José dos Segundo o professor, os
z Com o objetivo de de seis anos”. Na página 3, Campos. A previsão é que dois países romperam com a
estimular o comércio e uma outra manchete sobre o comece a ser entregue a partir dependência colonial e, em
estreitar relações entre os mesmo tema, com a de dezembro de 2007. menos de 50 anos,
dois países, a Câmara de explicação: “para a Associação Segundo o Presidente da conseguiram dominar a
Comércio e Indústria Brasil- de Comércio Exterior do Embraer, Mauricio Botelho, a tecnologia nuclear e a
China está articulando uma Brasil, o aumento das empresa mantém 20 aviões em eletroeletrônica.
missão empresarial brasileira importações de operações na China, o que Gilson Schwartz considera,
para visitar a China. Os manufaturados pelo Brasil significa menos de 2% do seu ainda, que o sucesso de Índia e
brasileiros irão participar da explica a mudança”. O texto mercado. Os principais China mostra a força crescente
“Canton Fair”, que acontece da reportagem, apurada compradores de aviões da dos “espíritos nacionais” que
duas vezes por ano e reúne durante o seminário, cita Embraer são os Estados animam projetos de Estados e
cerca de 210 países e 1.300 declarações de José Augusto Unidos, que concentram 70% nações. No entanto, ele
expositores, numa área de de Castro, Vice-Presidente da dos negócios. A Europa fica adverte: China, Índia e Brasil se
560.000 metros quadrados Associação de Comércio com 25% aproximam quando o assunto
com 26 mil estandes. É Exterior do Brasil — AEB, é a violência e a exclusão.
considerada uma das maiores informando que os 132 China, Brasil e Índia Apenas cerca de um milhão
feiras de negócios da China e principais produtos z Quando se considera o PIB de indianos (numa população
gera em torno de US$ 29,2 importados da China pelo anual, em dólares, a preços de um bilhão de habitantes) se
bilhões em transações Brasil são manufaturados, correntes, a China é vista beneficiam do boom das
comerciais. Ela se realizará enquanto que as exportações como a segunda maior tecnologias de informação. Na
entre 25 e 29 de outubro de brasileiras ainda se economia do mundo, com China, as estatísticas mostram
2006, e os principais itens concentram em três US$ 2 trilhões de PIB. A que o crescimento econômico
exibidos e negociados serão commodities: soja, minério de primeira são os Estados acelerado das últimas duas
móveis e cerâmicas; ferro e petróleo. O jornal Unidos, com US$ 12 trilhões. décadas ameaça sair de
produtos naturais, animais e Valor Econômico publicou O Brasil é a décima primeira, controle, entre outros
de horticultura; chás e manchete sobre o mesmo com US$ 792 bilhões e a motivos, porque as reformas
alimentos típicos; artigos tema e citou, também, o Índia a décima segunda, com têm sido tímidas e lentas. Já o
para cama, mesa e banho; Embaixador Chen Duqing. US$ 775,4 bilhões. Brasil, se, por um lado, padece
bolsas e assessórios; Segundo o professor Gilson de uma distribuição de renda
produtos em pedra e ferro; Aviões Schwartz, em artigo no jornal injusta, por outro lado, é um
presentes e artefatos de z A Embraer assinou um Folha de São Paulo, as redes exemplo de sucesso da receita
decoração, artigos contrato de venda de 100 aviões produtivas e de de estabilização ortodoxa,
esportivos; artesanato em com o grupo HNA, a quarta relacionamento criadas por com uma aplicação de ajuste
bambu, rattan e palha; amaior empresa aérea da China. chineses e indianos na Ásia e externo eficiente associado a
relógios e instrumentos A transação comercial, no Ocidente anglo-saxão, reformas de longo prazo.

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