Inspire.
Não é uma cobra. É meu intestino grosso e meu cólon sendo puxados para fora de mim.
O que os médicos chamam de prolapso de reto. São minhas entranhas sendo sugadas
pelo duto.
Os médicos de plantão de emergência podem confirmar que uma bomba de piscina pode
puxar 300 litros de água por minuto. Isso corresponde a 180 quilos de pressão. O grande
problema é que somos todos interconectados por dentro. Seu traseiro é apenas o término
da sua boca. Se eu deixasse, a bomba continuaria a puxar minhas entranhas até que
chegasse na minha língua. Imagine dar uma cagada de 180 quilos e você vai perceber
como isso pode acontecer.
O que eu posso dizer é que suas entranhas não sentem tanta dor. Não da forma que sua
pele sente dor. As coisas que você digere, os médicos chamam de matéria fecal. No
meio disso tudo está o suco gástrico, com pedaços de milho, amendoins e ervilhas.
Essa sopa de sangue, milho, merda, esperma e amendoim flutua ao meu redor. Mesmo
com minhas entranhas saindo pelo meu traseiro, eu tentando segurar o que restou,
mesmo assim, minha vontade é de colocar meu calção de alguma forma.
Com uma mão seguro a saída do meu rabo, com a outra mão puxo o calção amarelo-
listrado do meu pescoço. Mesmo assim, é impossível puxar de volta.
Se você quer sentir como seria tocar seus intestinos, compre um camisinha feita com
intestino de carneiro. Pegue uma e desenrole. Encha de manteiga de amendoim.
Lubrifique e coloque debaixo d'água. Então tente rasgá-la. Tente partir em duas. É firme
e ao mesmo tempo macia. É tão escorregadia que não dá para segurar.
O que meus pais vão encontrar depois do trabalho é um feto grande e pelado, todo
curvado. Mergulhado na árgua turva da piscina de casa. Preso ao fundo por uma larga
corda de veias e entranhas retorcidas. O oposto do garoto que se estrangula enquanto
bate uma. Esse é o bebê que trouxeram para casa do hospital há 13 anos. Esse é o garoto
que esperavam conseguir uma bolsa de jogador de futebol e eventualmente um
mestrado. Que cuidaria deles quando estivessem velhinhos. Seus sonhos e esperanças.
Flutuando aqui, pelado e morto. Em volta dele, gotas gordas de esperma.
Aquele irmão mais velho na Marinha, ele ensinou uma outra expressão bacana. Uma
expressão russa. Do jeito que nós falamos "Preciso disso como preciso de um buraco na
cabeça...," os russos dizem, "Preciso disso como preciso de dentes no meu cú......
Essas histórias de como animais presos em armadilhas roem a própria perna fora, bem,
qualquer coiote poderá te confirmar que algumas mordidas são melhores que morrer.
Droga... mesmo se você for russo, um dia vai querer esses dentes.
Senão, o que você pode fazer é se curvar todo. Você coloca um cotovelo por baixo do
joelho e puxa essa perna para o seu rosto. Você morde e rói seu próprio cú. Se você ficar
sem ar você consegue roer qualquer coisa para poder respirar de novo.
Não é algo que seja bom contar a uma garota no primeiro encontro. Não se você espera
por um beijinho de despedida. Se eu contasse como é o gosto, vocês não comeriam mais
frutos do mar.
É difícil dizer o que enojaria mais meus pais: como entrei nessa situação, ou como me
salvei. Depois do hospital, minha mãe dizia, "Você não sabia o que estava fazendo,
querido. Você estava em choque." E ela teve que aprender a cozinhar ovos pochê.
Hoje em dia, as pessoas sempre me dizem que eu sou magrinho demais. As pessoas em
jantares ficam quietas ou bravas quando não como o cozido que fizeram. Cozidos
podem me matar. Presuntadas. Qualquer coisa que fique mais que algumas horas dentro
de mim, sai ainda como comida. Feijões caseiros ou atum, eu levanto e encontro aquilo
intacto na privada.
Depois que você passa por uma lavagem estomacal super-radical como essa, você não
digere carne tão bem. A maioria das pessoas tem um metro e meio de intestino grosso.
Eu tenho sorte de ainda ter meus quinze centímetros. Então nunca consegui minha bolsa
de jogador de futebol. Nunca consegui meu mestrado. Meus dois amigos, o da cera e o
da cenoura, eles cresceram, ficaram grandes, mas eu nunca pesei mais do que pesava
aos 13 anos.
Outro problema foi que meus pais pagaram muita grana naquela piscina. No fim meu
pai teve que falar para o cara da limpeza da piscina que era um cachorro. O cachorro da
família caiu e se afogou. O corpo sugado pelo duto. Mesmo depois que o cara da
limpeza abriu o filtro e removeu um tubo pegajoso, um pedaço molhado de intestino
com uma grande vitamina laranja dentro, mesmo assim meu pai dizia, "Aquela porra
daquele cachorro era maluco."
Mesmo do meu quarto no segundo andar, podia ouvir meu pai falar, "Não dava para
deixar aquele cachorro sozinho por um segundo...."
E então a menstruação da minha irmã atrasou.
Mesmo depois que trocaram a água da piscina, depois que vendemos a casa e mudamos
para outro estado, depois do aborto da minha irmã, mesmo depois de tudo isso meus
pais nunca mencionaram mais isso novamente.
Nunca.
Eu ainda não.