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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CARLOS GLEUDSTTON VASCONCELOS DE MORAES


DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO - MANHÃ.
PROF: MACHIDOVEL TRIGUEIRO.

OS PRINCÍPIOS QUE REGEM O PROCESSO DO TRABALHO E AS SUAS


CONTRIBUIÇÕES PARA AS SIGNIFICATIVAS DIFERENÇAS ENTRE A
JUSTIÇA DO TRABALHO E A JUSTIÇA COMUM.

FORTALEZA, 31 DE MARÇO DE 2009.


Com a Revolução Industrial, no século XVIII, a burguesia entrou em ascensão,
fazendo emergir com ela uma nova classe social: o proletariado. Entretanto, os entes integrantes
dessa classe, para propiciar o lucro almejado pelos "donos do capital", não possuíam direitos que
assegurassem, sequer, sua saúde. Ao revés, eram incessantemente explorados, tendo, talvez, como
seu único direito, o de trabalhar.

No seio dessas circunstâncias, nasceu o Direito do Trabalho. Sendo fruto dessa


relação capital-trabalho, seu objetivo-mor era tentar equilibrar as forças, a fim de reduzir as
desigualdades até então existentes entre patrão e empregado. É bem verdade que já muito se logrou
ao longo dos tempos, porém muitos degraus ainda devem ser galgados, pois quem tem o poder
econômico em suas mãos ainda continua a explorar quem dele necessita.

O Direito do Trabalho no Brasil ganhou relevância em 1943, com a aprovação da


conhecida Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), ocasião em que vários direitos, até então,
esparsos, foram agrupados e outros foram criados, de forma que o trabalhador passou, ao menos,
em tese, a ter mais garantias contra os abusos do empregador.

Todavia, as regras materiais necessitavam de um meio para, caso violadas, terem


sua efetividade garantida. Nesse contexto, surge o Direito Processual do Trabalho, corolário da
consolidação do Direito do Trabalho, como um conjunto de normas jurídicas, de natureza
preponderantemente processual, destinadas a regular os conflitos oriundos das relações de trabalho
e de emprego.

Feita essa sintética introdução, passemos a discorrer sobre o foco principal do


presente trabalho, qual seja, uma abordagem sobre os princípios que orientam essa parte da ciência
jurídica, como fatores relevantes para tornar a Justiça Trabalhista distinta da Justiça Comum.

No Brasil, as regras atinentes ao processo do trabalho estão dispostas,


principalmente, na CLT - arts. 763 a 910 - e na Lei nº 5.584/70. O Código de Processo Civil se
aplica subsidiariamente, seja com conceitos ou seja com normas inexistentes na legislação
trabalhista, mas compatíveis com a natureza da demanda.

A Emenda Constitucional 45/2004, alcunhada de "Reforma do Judiciário", deu


nova redação ao art. 114 da Constituição Federal de 1988, estabelecendo a competência da Justiça
do Trabalho, o qual pedimos permissão para transcrever parte dele:
"Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de


direito público externo e da administração pública direta e indireta da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios." (grifo
nosso)

Consoante se verifica, o constituinte reformador dispôs que as ações decorrentes


da relação de trabalho eram de competência da Justiça do Trabalho. É cediço que esse termo é
bem distinto do conceito de relação de emprego. Aquele é bem mais amplo, inclusive englobando
este último.

Contudo, e, afirme-se, por oportuno, erroneamente, o Supremo Tribunal Federal,


ao se pronunciar em várias ADIN's interpostas, vem firmando o entendimento de que o art. 114
somente abrange a apreciação de demandas provenientes da relação de emprego, contrariando a
verdadeira intenção do legislador constituinte. E aqui, a título de ilustração, citamos uma frase, de
autoria a qual não recordamos, uma vez lida em uma peça processual: "A decisão do Supremo não é
definitiva porque certa, mas antes certa porque definitiva."

As conseqüências de tal interpretação somente serão sofridas por aqueles que


necessitam socorrer-se ao Judiciário, ou seja, os jurisdicionados. Estes, por sua vez, terão de
enfrentar toda a morosidade que assola a Justiça Comum, seja no âmbito federal ou no estadual. A
Justiça do Trabalho não é isenta de problemas. No entanto, ainda é bem mais célere que as demais,
proporcionando um pouco de credibilidade aos que nela militam.

Essa celeridade se deve, em grande parte, aos princípios que norteiam tanto o
Direito do Trabalho como o Direito Processual do Trabalho, conforme veremos adiante.

Princípios são normas genéricas, abstratas, que buscam harmonizar todo o


ordenamento jurídico de um Estado. Ainda que implícita, trazem uma sanção em seu conteúdo.
Exemplificando, ao se atentar contra um princípio constitucional, essa afronta terá como sanção a
inconstitucionalidade do ato violador.
As regras, outra espécie de norma jurídica, aplicam-se mediante subsunção do fato
aos preceitos nela contidos. Havendo antinomias, uma será excluída do sistema, para que a outra
tenha sua aplicação plena. Diversamente, os princípios, na esteira de pensamento de Ronald
Dworkin, grande filósofo jurista, têm sua aplicação por "sopesamento", ponderação. Diante de um
aparente conflito, vez que os princípios se harmonizam, coadunam, um deles terá prevalência no
caso concreto em que se verificar o choque de interesses.

Nesse ínterim, surgem princípios que regem toda a atividade dos ramos do Direito
objeto desse estudo. Há uma cizânia doutrinária no que pertine à existência de princípios peculiares
ao Direito Processual do Trabalho. Alguns sustentam que os princípios aplicáveis ao processo civil
são os mesmos do processo do trabalho. Outros defendem que apenas alguns são inerentes a este
último.

Em que pese o entendimento da doutrina contrária, firmamos o posicionamento de


de que não há princípios peculiares ao processo do trabalho. O que se revela é a aplicação mais
acentuada de determinados princípios nesse segmento do Direito, consoante exposto a seguir. E é
exatamente essa incidência mais enfática que torna a Justiça do Trabalho diferenciada em relação à
Justiça Comum.

O ilustre jurista Carlos Henrique Bezerra Leite1 elenca como princípios peculiares
ao processo do trabalho os seguintes: princípio da proteção, da finalidade social, da busca da
verdade real, da indisponibilidade, da conciliação e da normatização coletiva. Todavia, malgrado a
lata sapiência que reveste esse nobre doutrinador, ousamos dissentir, data vênia, desse
posicionamento, conforme aludido supra. Ademais, ainda incluímos alguns princípios que, assim
como os acima, não são exclusivos do Direito Processual do Trabalho, mas possuem profunda
relevância, como o da celeridade, da informalidade e oralidade.

Por fim, ainda são princípios orientadores desse ramo os de direito individual do
trabalho, tendo em vista que, uma vez lesados, tais direitos somente serão reparados através de uma
lide trabalhista, que deverá nortear-se por tais normas. É no processo trabalhista que o juiz
averiguará a primazia da realidade e observará a continuidade da relação empregatícia, por
exemplo. Destarte, temos que todos esses princípios regem a atividade processual trabalhista, mas
entendemos que não peculiares a ela.

1
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo. LTr, 2005. p.70-76
Analisemos, a partir de então, sob uma visão crítica, alguns desses princípios.
Deter-nos-emos aqueles que propiciam uma maior contribuição para a efetividade da Justiça do
Trabalho.

Princípio da Proteção: Essa norma oriunda da própria ratio essendi do Direito do


Trabalho. Como ele foi criado com fito de atenuar a discrepância existente entre empregador e
empregado, várias garantias foram conferidas a este, consubstanciando-se através de normas que
concedem uma tratamento distinto.

O princípio da proteção é corolário do método aristotélico que aduz que os


desiguais devem ser tratados desigualmente, na medida de suas desigualdades. O trabalhador é o
lado mais fraco da relação, necessitando, portanto, de um tratamento diverso, que o possa colocar
em igualdade jurídica de condições frente ao patrão.

Com esteio nos escólios de Maurício Godinho Delgado, "na verdade, pode-se
afirmar que sem essa idéia protetivo-retificadora, o Direito Individual do Trabalho não se
justificaria histórica e cientificamente."2

No processo trabalhista brasileiro, encontramos várias manifestações desse


princípio protetivo. Nesse jaez, temos: a isenção de pagamentos e custas somente para os
empregados; a inversão do ônus da prova; o art. 844 da CLT, que confere distinção entre
empregador e empregado em caso de não comparecimento à audiência; e o art. 899, §4º, do mesmo
diploma normativo, que dispõe sobre a obrigatoriedade de depósito recursal apenas para o
empregador3.

No que toca ao ônus da prova, o Código de Processo Civil, no art. 333, prescreve,
em outros termos, que a prova cabe a quem alega, ou seja, normalmente ao autor. No Processo do
Trabalho, diferentemente, as presunções referentes ao fato constitutivo do direito favorecem ao
trabalhador, tendo o patrão que demonstrar prova em contrário. Isso se deve ao fato de o empregado
possuir dificuldades para constituir provas, como documentos ou testemunhas, haja vista quase tudo
encontrar-se em poder daquele que emprega.

Todavia, de acordo com os termos que frisamos anteriormente, constata-se que tal

2
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed. São Paulo. LTr, 2008. p. 197.
3
Esses exemplos foram retirados da obra Curso de Direito Processual do trabalho, de Carlos Henrique Bezerra Leite,
já citada acima.
princípio não é de aplicação exclusiva no processo do trabalho. Em todos os ramos do Direito
haverá sempre uma parte hipossuficiente, que dispensará tratamento diferenciado, como o Direito
do Consumidor, em que este se revela com menos condições.

Esse princípio tutelar se afigura mais marcante no Direito Processual do Trabalho,


tornando as decisões judiciais proferidas nas lides trabalhistas mais eficazes, de forma a satisfazer a
pretensão do jurisdicionado com maior efetividade. Em decorrência disso, discute-se no Brasil que
não há uma Justiça do Trabalho, mas, sim, uma "Justiça do Trabalhador". Não sei se podemos dizer
que, no caso concreto, será justa, porém tal proteção se fará sempre necessária, pois, caso não haja
essas distinções a seu favor, o operário jamais digladiará igualmente com o dono dos meios de
produção.

Princípio da Celeridade Processual: O art. 5º da nossa Lei Maior teve o inciso


LXXVIII acrescentado pela Emenda Constitucional 45/2004, que elevou à categoria de princípio
constitucional a garantia do devido processo legal e da celeridade processual. Mencionado
dispositivo foi conseqüência de uma cultura brasileira de só pensar em cumprir aquilo que tiver
prescrição escrita.

O Judiciário não foi criado com a função de passar anos ou décadas para
solucionar um determinado conflito de interesses. Não é imprescindível que haja uma norma escrita
para se saber dessa simples lição. E o pior é que, mesmo existindo normas dessa espécie, ainda que
elevada ao patamar constitucional, são raras as oportunidades em que se constata o cumprimento de
dispositivos assim.

Não é necessário muito esforço para se comprovar tal circunstância. Basta, para
tanto, analisar perfunctoriamente a atual situação do Judiciário brasileiro, desde a menor comarca à
uma qualquer da cidade de São Paulo. Varas com excessiva quantidade de processos, falta de
contingente pessoal e, na vasta maioria delas, descaso total com o cidadão que necessita recorrer à
via judicial para ter seu problema solucionado, haja vista as Organizações Tabajara ser,
lamentavelmente, uma ficção televisiva.

Logo, conforme se depreende, o princípio da celeridade é uma norma


constitucional fundamental, inerente a todos os ramos do Direito. Porém, no contemporâneo
contexto social, onde melhor se vê a sua aplicação é na Justiça do Trabalho, em virtude das normas
processuais trabalhistas serem bastante diferenciadas. Ressalte-se, contudo, que, para toda regra, há
as exceções.

Em uma reclamação trabalhista simples, por exemplo, em que o reclamante


(empregado) pleiteia o recebimento de verbas devidas, a primeira audiência e, às vezes, única,

realiza-se em um prazo médio de três meses após a distribuição do processo, a depender da Vara
competente para apreciar o feito.

Na Justiça Comum, ao contrário, por mais simplória que seja a demanda, não se
transcorre tempo inferior a um ano para o juiz, ao menos, designar a data para a realização da
audiência. Avulta assinalar a grande quantidade de acordos celebrados nas ações trabalhistas, o que
põe termo, mais rapidamente, ao processo.

Com a instituição dos Juizados Especiais (Lei 9.099/95 e 10.259/2001) - veja-se,


anterior à EC 45/2004 - objetivou-se amenizar o grave problema crônico do Judiciário no Brasil: a
morosidade processual. No entanto, por falta de adoção de outras medidas, os juizados acabaram
por perder a sua função. Hodiernamente, tanto quanto as Varas comuns, encontram-se abarrotados
de processos e não conseguem satisfazer o jurisdicionado a tempo razoável. Em muitas situações,
quando a decisão judicial é prolatada, a ação já perdeu seu objeto, tornando aquela ineficaz.

Ademais, por influência de outros princípios, as normas processuais trabalhistas


tendem a inibir a morosidade processual. Um exemplo disso é a obrigatoriedade do depósito
recursal para o empregador (art. 899, §4º, CLT). Não tendo celebrado acordo e tendo sido
condenado por ocasião da sentença, o empregador, não raras vezes, prefere pagar as verbas devidas
a ter que dispender uma elevada quantia para recorrer, ainda que possa recebê-la novamente.

Portanto, a celeridade processual, embora um princípio constitucional


fundamental, tem sua aplicação com maior veemência no processo do trabalho, distinguindo-o dos
demais pelo tempo em que as lides são definidas. O processo do trabalho não teria sentido se assim
não o fosse, considerando a natureza das partes e das ações intentadas. Há uma extrema necessidade
do trabalhador de ter seus direitos efetivados judicialmente.

O trabalhador, que se não estiver desempregado quando da reclamação, certamente


o ficará, não pode ficar desamparado, a mercê da boa vontade do Judiciário. Como normalmente as
reclamações trabalhistas são intentadas após a dispensa pelo empregador, as verbas devidas terão
um caráter indenizatório. Destarte, em muitos casos, são essas verbas que o trabalhador faz jus que
ajudarão a prover o sustento de sua família, enquanto não encontrar um novo labor. Nesse
diapasão, concluindo, destaque-se o recebimento do Seguro-Desemprego, que somente ocorrerá
após o empregador fornecer as guias para que o operário proceda à habilitação junto ao Ministério
do Trabalho e Emprego.

Princípios da Informalidade e da Oralidade: Normas intimamente ligadas,


traduzem efetividade à Justiça do Trabalho. Isso porque a simplicidade das formas, a não exigência
de tamanhas solenidades bem como o maior tratamento oral dispensado às causas fazem com que a
decisão do magistrado se coadune com a pretensão autoral.

Como o próprio nome sugere, o princípio da informalidade se caracteriza pela


maior abertura conferida às partes litigantes, mormente aos trabalhadores, pessoas tendentes a
serem mais leigas e hipossuficientes financeiramente. Tem-se, no processo do trabalho, diversas
normas garantidoras desses princípio.

Uma delas consiste no jus postulandi, que confere a possibilidade de empregados e


empregadores reclamarem pessoalmente perante a Justiça do Trabalho, prescindindo de advogado,
conforme previsão expressa no art. 791 da CLT. Malgrado pensamentos diversos, não qualificamos
o jus postulandi como um princípio. Entendemos tratar-se de uma faculdade, um direito conferido
às partes que vierem a litigar na seara trabalhista. Caso a parte opte por constituir um causídico, em
nada estará infringindo a norma supracitada. Por conseguinte, não sofrerá penalidades por essa
conduta. Diferentemente ocorre quando se atenta contra um princípio.

Diversos juristas se insurgiram contra este artigo, após a promulgação da


Constituição de 1988, em virtude do art. 133 prever expressamente ser o advogado indispensável à
administração da Justiça. Logo, somente o advogado possuiria capacidade postulatória. Entretanto,
o Tribunal Superior do Trabalho já pacificou o entendimento de que o art. 791 da CLT foi
recepcionado pela Carta Democrática.

Aliás, impende acrescentar que esse direito foi conferido, inclusive, nas leis que
instituíram os juizados especiais no âmbito estadual e federal, com duas pequenas peculiaridades:
limitada a atuação em causas até vinte (Juizados estaduais) ou sessenta (Juizados federais) salários
mínimos e somente até a sentença, imprescindindo de advogado para atuar na instância recursal. E
para os que, além de aduzirem ser um princípio, dizem o ser peculiar ao processo do trabalho,
vemos que tal situação não condiz com a realidade4.

Nesse mesmo sentido, entendemos não ser um princípio a conciliação. Ao revés,


consiste em uma orientação dada às partes, com o fito de se resolver a demanda judicial com mais
celeridade. Todavia, conforme já exposto, trata-se de uma faculdade. Nenhuma das partes está
obrigada a conciliar. Já no que toca à norma-princípio, esta deve ser observada em todos os seus
termos, sob pena de se aplicar uma sanção a quem a violou.

Dentro desse contexto, para quem defende ser a conciliação um princípio, o


máximo que se poderia dizer, muito forçosamente, que é uma norma dirigida ao magistrado e, não,
aos litigantes, haja vista o disposto nos arts. 764, 831, 846 e 850 da CLT.

Contudo, informalidade não deve ser confundida com balbúrdia ou desrespeito.


Também não significa inobservar determinados ditames legais. Sob a alegativa de estar fulcrado no
princípio da informalidade, vemos, no cotidiano, algumas situações fáticas que desvirtuam o sentido
da norma. Um exemplo é a tamanha bagunça que se instala nos arredores das salas de audiência
trabalhistas. Pessoas entrando e saindo constantemente, despidas de qualquer educação, afora o
barulho ensurdecedor do lado externo. Infelizmente, de igual sorte, os magistrados também
incorrem em exageros com base nesse princípio.

Consectário do princípio supra, temos o da oralidade, que, a nosso modo, também,


não é um princípio exclusivo do processo do trabalho, verificando-se em muitos ramos da ciência
jurídica. Entretanto, havemos de declarar que, na Justiça do Trabalho, sua aplicação é bem mais
latente.
A CLT, no art. 840, vaticina que a reclamação trabalhista poderá ser escrita ou
verbal. Neste caso, a parte reclamante se dirige a um setor específico do Forum, onde um servidor
especializado reduzirá a reclamação a termo em duas vias. Esse princípio tem uma aplicação prática
importantíssima, tendo em vista que normalmente os reclamantes são trabalhadores leigos.

Por fim, outra manifestação desse princípio é a forma como as partes se dirigem ao
magistrado por ocasião das audiências: diretamente, sem maiores embaraços. Freqüentemente, os
juízes funcionam como verdadeiros conciliadores, mormente quando o trabalhador - reclamante -
não possui um patrono ao seu lado. No entanto, devemos assinalar que essa "intervenção" do
magistrado não pode ser parcial, sob pena de se estar infringindo o princípio básico da

4
Contrário ao nosso entendimento, SARAIVA, Renato. Processo do Trabalho. Ed. Método.
imparcialidade do juiz.

Conclusão: Ao longo de todo este trabalho, almejamos trazer a lume a


importância de determinados princípios no âmbito da Justiça laboral, os quais entendemos serem
determinantes para que esta se destaque perante as demais, mormente por conferir um pouco mais
de efetividade social quando invocada.

O processo trabalhista não está livre das mazelas que atacam o Poder Judiciário
brasileiro, mas, mesmo diante de tais circunstâncias catastróficas, ainda possui um caráter mais
satisfativo ao autor (empregado), considerando, é óbvio, que, no caso concreto, sua pretensão seja
legítima. Pois, lembre-se que o empregador, também, pode ser o reclamante de uma ação
trabalhista, embora isso ocorra com menor freqüência.

O Direito Processual Civil, no transcorrer dos anos, vem tentando incorporar


conceitos e institutos que nasceram no Direito Processual do Trabalho, com o fito de resgatar o
sentido da prestação jurisdicional estatal. A título de ilustração, vê-se a criação dos Juizados
Especiais Estaduais e Federais, a citação pelos correios para qualquer comarca do país e a previsão
de realização de uma audiência de conciliação anteriormente à fase de saneamento.

Talvez o mais demagógico e ilusório de todos eles foi a criação da Semana da


Conciliação em todas as esferas do Judiciário, no desejo incessante de diminuir a quantidade de
demandas com a celebração de acordos. O desenvolvimento dessa idéia nada mais reflete senão a
falência do modelo de justiça adotado no país, demonstrando, de forma explícita a ineficiência do
aparelho estatal no que toca ao atendimento de quem precisa recorrer à via judicial. Ademais,
ressalte-se que essa prática é regra na Justiça trabalhista há anos. Entretanto, funciona.

Os princípios sobre os quais foram discorridos acima contribuem sobremaneira


para existência de tal discrepância entre a Justiça do Trabalho e Justiça Comum. Todavia, conforme
bem salientamos, entendemos os mesmos não serem exclusivos ao Processo do Trabalho.

Aplicam-se, apenas, com bem mais ênfase e constância naquela seara, mas são
inerentes a vários outros segmentos do Direito. Nesse azo, diversos autores ainda elencam outros
princípios – promotor e juiz natural; finalidade social; indisponibilidade; impulso oficial etc - como
sendo peculiares ao Direito Processual do Trabalho, o que discordamos pelas mesmas razões
susoexpostas.
Concluindo, temos que inexistem princípios exclusivos a essa álea. Ademais,
expusemos que a influência de tais princípios torna a Justiça laboral mais eficaz, circunstância
sentida por todos que atuam nas diversas áreas jurídicas, mormente por autores e advogados, que
dependem diretamente de uma prestação jurisdicional efetiva. Aqueles por terem seus direitos
garantidos; estes, por receberem seus honorários mais rapidamente. Despida de tantas solenidades e
imbuída de celeridade, a Justiça do Trabalho ainda anima o jurisdicionado a exercer sua cidadania.

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