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Essa celeridade se deve, em grande parte, aos princípios que norteiam tanto o
Direito do Trabalho como o Direito Processual do Trabalho, conforme veremos adiante.
Nesse ínterim, surgem princípios que regem toda a atividade dos ramos do Direito
objeto desse estudo. Há uma cizânia doutrinária no que pertine à existência de princípios peculiares
ao Direito Processual do Trabalho. Alguns sustentam que os princípios aplicáveis ao processo civil
são os mesmos do processo do trabalho. Outros defendem que apenas alguns são inerentes a este
último.
O ilustre jurista Carlos Henrique Bezerra Leite1 elenca como princípios peculiares
ao processo do trabalho os seguintes: princípio da proteção, da finalidade social, da busca da
verdade real, da indisponibilidade, da conciliação e da normatização coletiva. Todavia, malgrado a
lata sapiência que reveste esse nobre doutrinador, ousamos dissentir, data vênia, desse
posicionamento, conforme aludido supra. Ademais, ainda incluímos alguns princípios que, assim
como os acima, não são exclusivos do Direito Processual do Trabalho, mas possuem profunda
relevância, como o da celeridade, da informalidade e oralidade.
Por fim, ainda são princípios orientadores desse ramo os de direito individual do
trabalho, tendo em vista que, uma vez lesados, tais direitos somente serão reparados através de uma
lide trabalhista, que deverá nortear-se por tais normas. É no processo trabalhista que o juiz
averiguará a primazia da realidade e observará a continuidade da relação empregatícia, por
exemplo. Destarte, temos que todos esses princípios regem a atividade processual trabalhista, mas
entendemos que não peculiares a ela.
1
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5ª Ed. São Paulo. LTr, 2005. p.70-76
Analisemos, a partir de então, sob uma visão crítica, alguns desses princípios.
Deter-nos-emos aqueles que propiciam uma maior contribuição para a efetividade da Justiça do
Trabalho.
Com esteio nos escólios de Maurício Godinho Delgado, "na verdade, pode-se
afirmar que sem essa idéia protetivo-retificadora, o Direito Individual do Trabalho não se
justificaria histórica e cientificamente."2
No que toca ao ônus da prova, o Código de Processo Civil, no art. 333, prescreve,
em outros termos, que a prova cabe a quem alega, ou seja, normalmente ao autor. No Processo do
Trabalho, diferentemente, as presunções referentes ao fato constitutivo do direito favorecem ao
trabalhador, tendo o patrão que demonstrar prova em contrário. Isso se deve ao fato de o empregado
possuir dificuldades para constituir provas, como documentos ou testemunhas, haja vista quase tudo
encontrar-se em poder daquele que emprega.
Todavia, de acordo com os termos que frisamos anteriormente, constata-se que tal
2
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 7ª Ed. São Paulo. LTr, 2008. p. 197.
3
Esses exemplos foram retirados da obra Curso de Direito Processual do trabalho, de Carlos Henrique Bezerra Leite,
já citada acima.
princípio não é de aplicação exclusiva no processo do trabalho. Em todos os ramos do Direito
haverá sempre uma parte hipossuficiente, que dispensará tratamento diferenciado, como o Direito
do Consumidor, em que este se revela com menos condições.
O Judiciário não foi criado com a função de passar anos ou décadas para
solucionar um determinado conflito de interesses. Não é imprescindível que haja uma norma escrita
para se saber dessa simples lição. E o pior é que, mesmo existindo normas dessa espécie, ainda que
elevada ao patamar constitucional, são raras as oportunidades em que se constata o cumprimento de
dispositivos assim.
Não é necessário muito esforço para se comprovar tal circunstância. Basta, para
tanto, analisar perfunctoriamente a atual situação do Judiciário brasileiro, desde a menor comarca à
uma qualquer da cidade de São Paulo. Varas com excessiva quantidade de processos, falta de
contingente pessoal e, na vasta maioria delas, descaso total com o cidadão que necessita recorrer à
via judicial para ter seu problema solucionado, haja vista as Organizações Tabajara ser,
lamentavelmente, uma ficção televisiva.
realiza-se em um prazo médio de três meses após a distribuição do processo, a depender da Vara
competente para apreciar o feito.
Na Justiça Comum, ao contrário, por mais simplória que seja a demanda, não se
transcorre tempo inferior a um ano para o juiz, ao menos, designar a data para a realização da
audiência. Avulta assinalar a grande quantidade de acordos celebrados nas ações trabalhistas, o que
põe termo, mais rapidamente, ao processo.
Aliás, impende acrescentar que esse direito foi conferido, inclusive, nas leis que
instituíram os juizados especiais no âmbito estadual e federal, com duas pequenas peculiaridades:
limitada a atuação em causas até vinte (Juizados estaduais) ou sessenta (Juizados federais) salários
mínimos e somente até a sentença, imprescindindo de advogado para atuar na instância recursal. E
para os que, além de aduzirem ser um princípio, dizem o ser peculiar ao processo do trabalho,
vemos que tal situação não condiz com a realidade4.
Por fim, outra manifestação desse princípio é a forma como as partes se dirigem ao
magistrado por ocasião das audiências: diretamente, sem maiores embaraços. Freqüentemente, os
juízes funcionam como verdadeiros conciliadores, mormente quando o trabalhador - reclamante -
não possui um patrono ao seu lado. No entanto, devemos assinalar que essa "intervenção" do
magistrado não pode ser parcial, sob pena de se estar infringindo o princípio básico da
4
Contrário ao nosso entendimento, SARAIVA, Renato. Processo do Trabalho. Ed. Método.
imparcialidade do juiz.
O processo trabalhista não está livre das mazelas que atacam o Poder Judiciário
brasileiro, mas, mesmo diante de tais circunstâncias catastróficas, ainda possui um caráter mais
satisfativo ao autor (empregado), considerando, é óbvio, que, no caso concreto, sua pretensão seja
legítima. Pois, lembre-se que o empregador, também, pode ser o reclamante de uma ação
trabalhista, embora isso ocorra com menor freqüência.
Aplicam-se, apenas, com bem mais ênfase e constância naquela seara, mas são
inerentes a vários outros segmentos do Direito. Nesse azo, diversos autores ainda elencam outros
princípios – promotor e juiz natural; finalidade social; indisponibilidade; impulso oficial etc - como
sendo peculiares ao Direito Processual do Trabalho, o que discordamos pelas mesmas razões
susoexpostas.
Concluindo, temos que inexistem princípios exclusivos a essa álea. Ademais,
expusemos que a influência de tais princípios torna a Justiça laboral mais eficaz, circunstância
sentida por todos que atuam nas diversas áreas jurídicas, mormente por autores e advogados, que
dependem diretamente de uma prestação jurisdicional efetiva. Aqueles por terem seus direitos
garantidos; estes, por receberem seus honorários mais rapidamente. Despida de tantas solenidades e
imbuída de celeridade, a Justiça do Trabalho ainda anima o jurisdicionado a exercer sua cidadania.