INTRODUÇÃO À TEOLOGIA
Conceito de teologia
A palavra teologia1 vem da língua grega e significa “estudo sobre Deus”. O
termo foi criado pelo filósofo Platão (428-347 antes da Era comum). Agostinho (354-
430 da Era comum) deu-lhe um sentido cristão. Atualmente, é entendida como a
reflexão sistemática dos fundamentos da revelação. Portanto, o seu objeto de estudo
não é Deus em si. Porque se considerarmos a infinitude divina tal tarefa é
impossibilitada pela finitude da inteligência humana (HARBIN, 2001). Karl Barth
afirma que só é possível falar de Deus de forma comparativa, a partir da experiência do
homem. Às vezes, a teologia é chamada de ciência. Esta classificação só pode ser feita
considerando-a apenas como uma forma de investigação racional da fé. A sua matéria
de estudo não é empírica.
A disciplina estuda a realidade sobre Deus e sua relação com o homem. A
revelação é o ponto de partida e de delimitação da reflexão teológica. A revelação
possui seu lado divino porque é Deus quem se revela, e um lado humano, pois é o
homem que acolhe a verdade revelada. E na história, os homens da cada época refletem
sobre o sentido do que foi revelado limitado pela sua compreensão. Portanto, existe uma
só revelação, mas existem muitas teologias, pois os homens são diversos e diversas são
as culturas.
Objetivo
O objetivo principal do estudo da teologia é o amadurecimento da fé, e
consequentemente, o crescimento espiritual daquele que crê. No mundo contemporâneo
recheado de avanços de toda natureza é necessário que as pessoas tenham consciência
das suas escolhas, dentre elas está a religião. Esta deve ser a primeira a ser bem
fundamentada e esclarecida. O apóstolo Pedro admoesta dizendo que é preciso que o
cristão esteja pronto “a dar as razões da sua esperança a todo aquele que a pedir” (1Pd
3,15). O cristianismo se encontra dividido hoje por herança de uma época deficiente de
conhecimento bíblico e de esclarecimento do que significava essa religião.
Tipos
A teologia baseia sua reflexão na liberdade de pensamento e na experiência de
cada lugar e cada época. Devido a essa flexibilidade existem vários tipos de teologia, às
vezes, chamados de escolas. Dois modos de se fazer teologia são destacados: a teologia
clássica – que se restringe a assuntos estritamente religiosos e confessionais; e a
teologia dinâmica – que se abre à reflexão sobre diversos aspectos da religião, de modo
crítico e ecumênico. No Brasil, destacam-se a teologia pentecostal que se prende ao
1
Na língua grega, theós “Deus”, logos “discurso, razão, palavra”.
2
modelo clássico e a teologia da libertação que une de modo crítico fé e vida, cujo
principal teólogo2 é Leonardo Boff.
Método
Quando se fala de método, estamos dizendo da técnica ou do modo de estudar
teologia para que haja garantia de uma reflexão de qualidade que seja classificada como
teológica. A teologia é uma disciplina baseada no raciocínio, análise e discussão a partir
dos problemas da fé, tendo como base o texto bíblico3 e a tradição eclesial4. Há a
liberdade para se refletir sobre todo assunto, mas o princípio delimitador é a revelação.
A verdade em teologia é o que é consoante ou harmônico com a revelação.
Divisões
A teologia possui muitos séculos de história, e como resultado do esforço dos
teólogos de organizar todo o conhecimento sobre a doutrina cristã chegou a até nós um
esquema de divisões da teologia por áreas. Cada área estuda um aspecto da revelação.
A teologia se divide em dois ramos: especulativo e prático.
O grupo especulativo está subdividido em: Teologia bíblica; Teologia dogmática
e Teologia moral. A teologia bíblica inclui a história, a técnica e a interpretação da
Bíblia. A dogmática sistematiza e explica as principais doutrinas cristãs. A moral estuda
os valores e o comportamento cristão tanto pessoal quanto coletivo.
O conjunto prático se subdivide em: Teologia espiritual, Liturgia, Teologia
pastoral e Direito pastoral. A teologia espiritual estuda o processo de santidade do ser
humano, a sua vida religiosa. A Liturgia estuda os ritos e seus significados. A teologia
pastoral estuda a ação evangelizadora. O Direito pastoral estuda o regimento e as
normas da Igreja enquanto instituição.
Subdivisões
De modo harmônico e organizado, cada divisão da teologia possui outros ramos
internos chamados de tratados. Dentro da área especulativa, temos: A teologia bíblica é
composta de hermenêutica, exegese e teologia. A sistemática possui antropologia,
teontologia, cristologia, pneumatologia, mariologia, cosmologia, protologia,
soteriologia, eclesiologia, sacramentologia, escatologia, patrologia e história da Igreja.
E dentro do âmbito prático, temos: A liturgia se divide em fundamental e
histórica. A pastoral se constitui de teorias e técnicas da evangelização. A espiritual
procura compreender o caminho da santidade (mística) e a prática para crescer nele
(ascética). O Direito pastoral é estudo das normas que organizam a Igreja, contidas no
Direito canônico.
As origens da teologia
2
Dá-se o nome de teólogo ao profissional que se dedica ao estudo dessa ciência.
3
O material recomendado para essa primeira fonte é uma boa tradução da Bíblica auxiliada por bons
comentários bíblicos.
4
A tradição eclesial é conjunto de tudo aquilo que a Igreja ensinou e viveu desde a antiguidade. Para se
conhecer a tradição é bom ter em mãos: Catecismo da Igreja Católica e Compêndio do Vaticano II.
3
Problemas teológicos
Sempre quando resolvemos estudar um assunto, estamos em busca de algumas
respostas. A teologia possui suas principais perguntas nas quais se inserem os ramos da
teologia. Temos as perguntas: Quem somos? De onde viemos? Qual o sentido da vida?
Para onde vamos? No caso da teologia, essas respostas são iluminadas pela fé. Esses são
os problemas primários. Os secundários provêm da investigação sobre a segurança que
o cristianismo nos dá ao responder essas questões.
5
Apologista ou apologeta significa “defensor”, nesse caso, defensor da fé cristã.
4
6
Dalai Lama é título do líder do budismo tibetano, cujo nome é Tenzin Gyatso.
5
Inquisição, dizendo que era falsa a idéia de que a Terra girava em torno do seu eixo e
em torno do sol.
Com a modernidade, a ciência desenvolveu métodos próprios de investigação e
se tornou laica, isto é, independente da religião. Mas este processo foi lento e até hoje
muitas pessoas ainda têm dificuldade em conciliar ciência e fé. Augusto Comte (1798-
1856) defendia que o conhecimento humano passa por três estágios: o religioso, o
filosófico e o científico. Na época religiosa, o homem explica os fenômenos recorrendo
a causas sobrenaturais; na época filosófica, explica recorrendo a princípios racionais; na
época científica, explica por meio das leis naturais, as quais explicam por si só os
fenômenos. Porém, na prática as pessoas continuam vivendo esses estágios de maneira
desigual.
As três grandes religiões do planeta, judaísmo, cristianismo e islamismo,
passaram por resistência à ciência, mas seus segmentos mais esclarecidos atualmente
aceitam as explicações da ciência e separam textos sagrados e teorias científicas. Os
mulçumanos tiveram bons matemáticos e filósofos como Avicena e Averróis; os judeus
nos deram nada menos que Albert Einstein, os cristãos nos deram Mendel, Hegel etc.
Muitos homens de fé estudaram ciência sem criar conflitos.
No século XIX, até a Bíblia passou a ser lida cientificamente. Os pastores
alemães Karl Bath, Paul Tilich e Rudolf Bultmann desenvolveram métodos para uma
leitura crítica da Bíblia. A partir deste período os teólogos passaram a seguir semelhante
visão. No século XX, a relação melhorou ainda, o arqueólogo jesuíta Teilhard de
Chardin conciliou cristianismo e teoria da evolução. Na década de 90, muitos cientistas
cristãos defendem a teoria do Design Inteligente.
Definição de Papéis
O ser humano é dado a exageros. Na Idade Média, a fé era considerada superior
à razão (a verdade estava com a religião), na Idade Moderna, a ciência passou a ser
considerada superior à religião, muitos cientistas se tornaram ateus (a verdade estava
com a ciência), atualmente, é mais aceito que fé e religião são conhecimentos
complementares do mundo (a verdade está com as duas).
Antes de qualquer debate que compare religião e ciência, é sensato observar. A
ciência e a religião são duas formas de o homem se relacionar com o mundo. São duas
maneiras de responder às suas indagações internas. Elas são complementares e não
opostas. Seus papéis não podem ser tomados um pelo outro devido a diferença da
natureza do conhecimento que há entre as duas. A religião é um conhecimento
simbólico-místico, explica o mundo através de causas sobrenaturais. A ciência é um
conhecimento racional-empírico, explica o mundo através das leis da natureza e da
experiência. São duas respostas válidas. A religião deve se ocupar de questões relativas
à fé ( “como se vai ao céu”) e a ciência da explicação da natureza e de seus fenômenos
(“como vai o céu”).
Epistemologia da fé
O ser humano realiza sua faculdade de conhecer por diversos modos. Houve períodos
na história que se priorizou ora um, ora outro. O homem é conhecido como um ser
racional desde antiguidade. Hoje, porém, sabemos que a definição de homem é
complexa: ele pensa e sente. Existe uma dimensão lógica, formal e real e existe outra
sensível, simbólica e transcendental. A nossa mente conhece de forma conjunta usando
sentimentos e pensamentos.
Os dois modos de conhecer que procedem da complexidade humana são a razão e a
sensibilidade. A razão procura entender o mundo através da lógica e da ciência. A
sensibilidade usa a intuição, os sentimentos, portanto, a fé. Mas conhecimento lúcido
exige a participação das duas faculdades. A fé genuína tem de ser razoável, assim como
a razão prudente tem de ser intuitiva.
Conceito de fé
Em hebreus 11, 1, lemos que “a fé é a substância das coisas que se esperam e o
argumento das coisas que não se veem”. Tomás de Aquino7 considerava essa afirmação
como a mais completa definição bíblica da fé. É a vivência antecipada do que se espera,
é a convicção sobre o invisível.
Segundo Libânio (2000, p.213), o ato de crer é graça de Deus, liberdade humana e
tem uma racionalidade profunda. Aqueles que creem sem esforço da razão caem no
fideísmo. Aqueles que procuram a razão em tudo caem no racionalismo. Outros
transformam a questão em mera vontade, é o voluntarismo. Além disso, a fé tem uma
base pessoal, mas também a influência da cultura, do espaço e da época.
A fé se relaciona com as duas outras virtudes: a esperança e o amor. Muitos
procuram na fé uma certeza que passa por cima dos fatos. As características da fé são
justamente uma experiência humana que mescla certeza e dúvida. A fé e a esperança
andam juntas, quando se diz ter fé, quer dizer que se tem uma esperança dada por Cristo
que ultrapassa todo desânimo e falta de sentido do mundo. Quando Pedro fala das
razões da esperança, isso alcança também as razões da fé (BENTO XVI, Spe Salvi8, 2).
O conteúdo da fé
Em que cremos? O conteúdo da fé é a revelação. (LAMBIASI, 1997). Segundo o
Evangelho, crer em Jesus significa aceitar a pessoa e não meramente os seus
ensinamentos. Portanto, a fé é em alguém e não em algo. A salvação provém da fé, ou
seja, da aceitação dessa pessoa como um todo. A salvação é sempre salvação de algum
perigo, nesse caso, é a preservação da grande esperança de que a vida possui um sentido
pleno. A fé tem forma bíblica na expressão “Jesus é o Senhor”(Fl 2, 9-11).
7
Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi o maior teólogo da Idade Média.
8
Spe salvi é latim e significa “Salvos pela esperança”.
7
A Igreja tomando essa revelação sintetizou todo o mistério de Cristo nas profissões
de fé. A mais conhecida delas é o Credo apostólico recitado atualmente nas missas. A fé
é pessoal, mas ao mesmo tempo eclesial. Ninguém crer sozinho (LIBÂNIO,2000).
Inicialmente, os cristãos viveram e celebraram aquilo que acreditavam. Somente no
século II, houve a necessidade de escrever uma fórmula que contivesse os princípios da
fé. O texto mais antigo que se conhece é a Carta aos Apóstolos, entre 160 a 170 da Era
comum, que possui artigos professando a fé na Trindade, na Igreja e no perdão dos
pecados. Em 3259, aparece uma versão definida em concílio, e depois completada em
381:
A inspiração divina
9
Nessa data aconteceu o Concílio de Niceia, o primeiro que envolveu toda a Igreja.
10
Crer em grego se diz pistéuo e o sentido é “acreditar, confiar, ser convencido”.
8
A autoridade dos textos bíblicos reside na ideia de que eles foram inspirados
pelo Espírito Santo. Portanto, neles contém a Palavra de Deus. O evento da inspiração já
foi entendido de diversos modos: Teorias da intuição, da iluminação, do ditado e teoria
dinâmica. A inspiração é a profunda comunicação entre Deus e o homem, que faz
segundo perceber a presença e o apelo de Deus. Acima de tudo, é um acontecimento
humano, pois o autor sagrado usa a sua inteligência, sua reflexão para transmitir a
experiência de Deus. Não se pode entender o evento como um ditado direto de Deus ou
uma “possessão” do Espírito Santo.
A transmissão e a interpretação
A transmissão foi através da sucessão apostólica. Ou seja, uma cadeia de pessoas
que copiaram, conservaram e interpretaram os textos bíblicos ao longo da história. A
Igreja possui quase dois mil anos de ação. A interpretação é feita primeiramente pelo
Magistério, depois pela teologia. O magistério é a faculdade que os bispos reunidos e
em consenso têm de interpretar a fé cristã. A assistência do Espírito Santo é
compreendida no sentido de comunhão.
Historicidade da transmissão
O processo de registro e de transmissão da Revelação acontece dentro da
realidade humana, dentro dos limites da cultura. A Bíblia gastou 1.100 anos para ser
escrita. Os livros foram escritos bem depois dos fatos. Somente no século IV é que se
decidiu quais livros eram inspirados. Os textos foram recopiados ao longo de 1.900
anos. Hoje restam 5.700 manuscritos repletos de divergências textuais. Portanto, a
Bíblia é histórica, de difícil interpretação, motivo de muitos desentendimentos
(EHRMAN, 2008, pp. 51-78).
Consequências da fé
A fé deve ser vivencial. Sem a prática ela perde o sentido de ser e se torna teoria
sobre Deus, pois “a fé sem obras é morta” (Tg 2, 14-17). Mas antes de tudo é necessário
ter uma clareza sobre que tipo de fé é sustentada. Ela deve ser bíblica e eclesial. Não ter
medo de ser humana e se defrontar com a dúvida e o sofrimento. Por fim. Ela deve
apontar para a vida e a felicidade e nunca justificar estruturas violentas. Porque as
virtudes andam sempre juntas: “a fé, a esperança e o amor. A maior delas, porém, é o
amor” (1 Cor 13, 13).
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
VOCABULÁRIO TEOLÓGICO
SUGESTÃO DE PESQUISA
MÓDULO 01
COLETIVO
Problemas da fé:
Eu creio?
Em que creio?
Qual a garantia do que eu creio?
O que a minha fé muda em minha vida?
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Problemas do conhecimento:
A origem do mundo: criacionismo x Big bang
A origem da vida: criacionismo x evolução
A existência de Deus: crença, ateísmo e agnosticismo
A identidade do homem: criatura, animal
O sentido da vida: vida espiritual, felicidade
O destino do ser humano: eternidade, natureza
Resposta pessoal...
Resposta cristã
QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES TEOLÓGICAS
Quem somos? Somos filhos de Deus em Cristo
De onde viemos? Deus é o princípio de tudo
Qual o sentido da vida? A vida sincera no Espírito
Para onde vamos? Esperamos pela comunhão eterna com Deus
Resposta científica
QUESTÕES EXISTENCIAIS QUESTÕES CIENTÍFICAS
Quem somos? Organismo complexo, racional, homo sapiens
De onde viemos? Dos elementos da natureza/Big Bang
Qual o sentido da vida? O sentido é construído individual/coletivamente
Para onde vamos? Retorno indistinto à natureza
Leituras e anotações:
a) Hebreus 10, 19-39;11-12, 1-4. Refletir sobre o significado da fé e seu alcance, a sua
presença na história da salvação.
b) Tiago 1, 16-26; 2. Refletir sobre a responsabilidade de quem tem fé e a relação entre
fé e obras.
c) Credo Apostólico. Ler e refletir sobre cada artigo de fé contido na profissão.
d) As virtudes teologais. Refletir sobre elas a partir de 1 Cor 13.