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FITORREMEDIAÇÃO

Ana Ligia Dinardi; Vanessa Moraes Formagi; Cassiana M. R. Coneglian; Núbia Natália
de Brito; Geraldo Dragoni Sobrinho; Sandro Tonso e Ronaldo Pelegrini.
Centro Superior de Educação Tecnológica (CESET) – UNICAMP
Rua Paschoal Marmo, 1888 - CEP:13484-370 - Limeira - SP
Curso de Tecnologia em Saneamento Ambiental
Laboratório de Pesquisas Ambientais – LAPA
lapa@ceset.unicamp.br

RESUMO

A fitorremediação utiliza sistemas vegetais para recuperar águas e solos contaminados


por poluentes orgânicos ou inorgânicos. Esta área de estudo, embora não seja nova,
tomou impulso nos últimos dez anos, quando se verificou que a zona radicular das
plantas apresenta a capacidade de biotransformar moléculas orgânicas exógenas. A
rizosfera, como é denominada esta zona, tem sido desde então estudada por sua
importante função de utilizar moléculas poluentes como fonte de nutrientes para os
diversos microrganismos que cohabitam nesta região. Este artigo, apresenta uma das
alternativas para a despoluição ambiental que utiliza os sistemas vegetais e sua
microbiota com o fim de remover, capturar ou degradar substâncias tóxicas do ambiente.

Palavras-chave: Fitorremediação, fitodegradação, rizofiltração, aguapé, macrófitas.

INTRODUÇÃO degradados ou poluídos [1].


As substâncias alvos da fitorreme-
diação incluem metais (Pb, Zn, Cu, Ni,
A recuperação de áreas Hg, Se), compostos inorgânicos (NO3-
contaminadas, pelas atividades humanas, NH4+, PO4 3-), elementos químicos
pode ser feita através de vários métodos, radioativos (U, Cs, Sr), hidrocarbonetos
tais como escavação, incineração, derivados de petróleo (BTEX),
extração com solvente, oxidoredução e pesticidas e herbicidas (atrazine,
outros que são bastante dispendiosos. bentazona, compostos clorados e nitro-
Alguns processos deslocam a matéria aromáticos), explosivos (TNT, DNT),
contaminada para local distante, solventes clorados (TCE, PCE) e
causando riscos de contaminação resíduos orgânicos industriais (PCPs,
secundária e aumentando ainda mais os PAHs), entre outros [1].
custos com tratamento [1]. Por isso, em A fitorremediação oferece várias
anos recentes passou-se a dar vantagens que devem ser levadas em
preferência por métodos in situ que
conta. Grandes áreas podem ser tratadas
perturbem menos o ambiente e sejam de diversas maneiras, a baixo custo,
mais econômicos. Dentro deste contexto,
com possibilidades de remediar águas
a biotecnologia oferece a contaminadas, o solo e subsolo e ao
fitorremediação como alternativa capaz
mesmo tempo embelezar o ambiente.
de empregar sistemas vegetais Entretanto, o tempo para se obter
fotossintetizantes e sua microbiota com
resultados satisfatório pode ser longo
o fim de desintoxicar ambientes [1]. A concentração do poluente e a

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presença de toxinas devem estar dentro instituições acadêmicas (Unicamp, por
dos limites de tolerância da planta usada exemplo) pesquisam e exploram
para não comprometer o tratamento. métodos de biorremediação através da
Riscos como a possibilidade dos fitoremediação [3].
vegetais entrarem na cadeia alimentar, O sucesso do tratamento
devem ser considerados quando empregando plantas aquáticas vai além
empregar esta tecnologia [1] do baixo custo, há muitas possibilidades
de reciclagem da biomassa produzida
que pode ser utilizada como fertilizante,
ração animal, geração de energia
DESENVOLVIMENTO (biogás ou queima direta), fabricação de
papel, extração de proteínas pra uso em
Potencial econômico da rações, extração de substâncias
fitorremediação quimicamente ativas de suas raízes para
uso como estimulante de crescimento de
A estimativa mundial para os plantas, etc. [2].
gastos anuais com a despoluição
ambiental gira em torno de 25 - 30
Fitorremediação — Denominações
bilhões de dólares. Este mercado, que já
estável nos Estados Unidos (7 - 8
A fitorremediação pode ser
bilhões), tende a crescer no Brasil uma
classificada dependendo da técnica a ser
vez que os investimentos para
empregada, da natureza química ou da
tratamento dos rejeitos humanos,
propriedade do poluente. Assim, a
agrícola e industrial crescem à medida
fitoremediação pode ser compreendida
que aumentam as exigências da
em:
sociedade e leis mais rígidas são
aplicadas. Apesar das pressões, são as
tecnologias mais baratas com •Fitoextração: envolve a absorção dos
capacidade de atender uma maior contaminantes pelas raízes, os quais são
demanda e que apresentam mais nelas armazenados ou são transportados
capacidade de desenvolvimento que e acumulados nas partes aéreas (Figura
tendem a obter maior sucesso no futuro. 1a/b). É aplicada principalmente para
Nos últimos 10 anos, surgiram nos metais (Cd, Ni, Cu, Zn, Pb) podendo ser
EUA e Europa inúmeras companhias usada também para outros compostos
que exploram a fitorremediação para inorgânicos (Se) e compostos orgânicos
fins lucrativos, como a norte americana [4]. Esta técnica utiliza plantas chama-
Phytotech e a alemã BioPlanta, e das hiperacumuladoras, que tem a
indústrias multinacionais, como Union capacidade de armazenar altas
Carbide, Monsanto e Rhone-Poulanc, concentrações de metais específicos
que empregam fitoremediação em seus (0,1% a 1% do peso seco, dependendo
próprios sítios contaminados [2]. Várias do metal). As espécies de Brassica
universidades desenvolvem projetos juncea, Aeolanthus biformifolius,
ligados a esta área, como a Alyssum bertolonii e Thlaspi
Universidade da Califórnia e a caerulescens são exemplos de plantas
Universidade de Glasgow [2]. No acumuladoras de Pb, Cu/Co, Ni e Zn
Brasil, sabe-se que algumas empresas respectivamente [4].
estatais e privadas, bem como
a b

Figura 1 – Esquema dos mecanismos de Plantas Hiperacumuladoras: (a) contaminantes no solo; (b)
contaminantes adsorvidos pela planta.

•Fitoestabilização: os contaminantes absorvidos pelas raízes, convertidos em


orgânicos ou inorgânicos são incorpo- formas não tóxicas e depois liberados
rados à lignina da parede vegetal ou ao na atmosfera [6]. Este mecanismo é
húmus do solo precipitando os metais empregado também para compostos
são sob formas insolúveis, sendo orgânicos [6].
posteriormente aprisionados na matriz
[1]. Objetiva evitar a mobilização do •Fitodegradação: os contaminantes
conta-minante e limitar sua difusão no orgânicos são degradados ou minerali-
solo, através de uma cobertura vegetal zados dentro das células vegetais por
[1]. Exem-plos de plantas cultivadas enzimas específicas (Figura 2). Entre
com este fim são as espécies de essas enzimas destacam-se as nitrore-
Haumaniastrum, Eragrostis, Ascolepis, dutases (degradação de nitroaromáti-
Gladiolus e Alyssum [5]. cos), desalogenases (degradação de
solventes clorados e pesticidas) e laca-
•Fitoestimulação: as raízes em ses (degradação de anilinas) [1].
crescimento (extremidades e ramifica- Populus sp. e Myriophyllium spicatum
ções laterais) promovem a proliferação são exemplos de plantas que possuem
de microrganismos degradativos na tais sistemas enzimáticos [1].
rizosfera, que usam os metabólitos
exudados da planta como fonte de •Rizofiltração: é a técnica que emprega
carbono e energia [5]. Além disso, as plantas terrestres para absorver,
plantas podem secretar elas próprias concentrar e/ou precipitar os
enzimas biodegradativas [5]. A contaminantes de um meio aquoso,
aplicação da fitoestimulação limita-se particularmente metais pesados ou
aos conta-minantes orgânicos [6]. A elementos radiativos, através do seu
comunidade microbiana na rizosfera é sistema radicular [2]. As plantas são
heterogênea devido à distribuição mantidas num reator sistema hidro-
espacial variável dos nutrientes nesta pônico, através do qual os efluentes
zona, porém os Pseudomonas são os passam e são absorvidos pelas raizes,
organismos predominantes associados que concentram os contaminantes [2].
as raízes [6]. Plantas com grande biomassa radicular
(hiperacumuladores aquáticos) são as
•Fitovolatilização: alguns íons de mais satisfatórias, como Helianthus
elementos dos subgrupos II, V e VI da annus e Brassica juncea, as quais
Tabela periódica, mais especificamente, provaram ter potencial para esta
mercúrio, selênio e arsênio, são tecnologia [2].
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Figura 2 – Esquema da Fitodegradação de Poluentes.

•Rizofiltração: é a técnica que emprega metabolisados pelas enzimas vegetais,


plantas terrestres para absorver, vaporizados junto com a água ou
concentrar e/ou precipitar os simplesmente aprisionados nos tecidos
contaminantes de um meio aquoso, vegetais [8].
particularmente metais pesados ou
elementos radiativos, através do seu •Capas vegetativas: são coberturas
sistema radicular [2]. As plantas são vegetais, constituidas de capins ou
mantidas num reator sistema árvores, feitas sobre aterros sanitários
hidropônico, através do qual os (industriais e municipais), usadas para
efluentes passam e são absorvidos pelas minimizar a infiltração de água da
raizes, que concentram os chuva e conter a disseminação dos
contaminantes [7]. Plantas com grande resíduos poluentes, evitando que o lixo
biomassa radicular (hiperacumuladores fique a céu aberto [8]. As raízes
aquáticos) são as mais satisfatórias, incrementam a aeração do solo,
como Helianthus annus e Brassica promovendo a biodegradação, evapo-
juncea, as quais provaram ter potencial ração e transpiração [2].
para esta tecnologia [2].
•Açudes artificiais: são ecossistemas
•Barreiras hidráulicas: algumas formados por solos orgânicos,
árvores de grande porte, particularmente microrganismos, algas e plantas
aquelas com raízes profundas (Ex: aquáticas vasculares que trabalham
Populus sp.), removem grandes conjunta-mente no tratamento dos
quantidades de água do subsolo ou dos efluentes, através das ações combinadas
lençóis aquáticos subterrâneos a qual é de filtração, troca iônica, adsorção e
evaporada através das folhas [8]. Os precipitação [9]. É o mais antigo
contaminantes presentes na água são método de tratamento dos esgotos

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municipais e industriais e não é se baseia nas contribuições de todo
considerado como fitorremediação, pois sistema [2].

FITORREMEDIAÇÃO [10]. Além disso, podem ser cultivadas


Utilização de plantas aquáticas para plantas visando a produção de alimentos
tratamento de água: que podem ser aproveitados tanto por
animais como pelo próprio homem [11].
A utilização de plantas aquáticas Plantas aquáticas, hidrófitas, como
como “agente purificador” em as macrófitas providas de rizomas, têm
hidroponia, justifica-se pela sua intensa sido utilizadas visando à melhoria da
absorção de nutrientes e pelo seu rápido qualidade de efluentes e no tratamento
crescimento, como também por oferecer de águas residuais, principalmente no
facilidades de sua retirada das lagoas e que diz respeito à redução das
ainda pelas amplas possibilidades de concentrações de nitrogênio e fósforo
aproveitamento da biomassa escolhida [5] (Figuras 3a – 3f).

(a) Typha angustifólia (b) Scirpus holoschoenus (c) Cyperus longus - junça-
(Taboa) longa

(d) Juncus acutus - junco (e) Iris pseudacorus - (f) Phragmites australis-
agudo lírio amarelo caniço
Figura 3 - Plantas aquáticas (hidrófitas) providas de rizomas [8]

Um exemplo de plantação de Água (E.T.A.R.) de Bodiosa – Portugal


macrófitas feita em pequenas lagoas, (Figura 4), onde as lagoas são
realizada pela Estação de Tratamento de designadas por leitos de macrófitas [5]:

Figura 4 – E.T.A.R. de Bodiosa – Viseu – Portugal (lagoa de macrófitas emergentes com plantas
previamente enraizadas em viveiro)

Sistemas de Tratamento com •Sistemas baseados em macrófitas


Macrófitas. aquáticas flutuantes (enraizadas ou
livres). Trata-se de plantas com seus
Diversos sistemas de lagoas para tecidos fotossintéticos flutuantes e com
aplicação das macrófitas podem ser raízes longas livres ou enraizadas,
constituídos dependendo das caracterís- dependendo da profundidade do meio a
ticas de cada planta ou do sistema de ser tratado (Figuras 5).
lagoa que se deseja empreender.
Figura 5 - Representação esquemática de um sistema de tratamento de águas residuais baseado em
macrófitas aquáticas livremente flutuantes. Ilustra-se a espécie Eichhornia crassipes
(aguapé) [12].

• Sistemas baseados em macrófitas Egeria densa, Ceratophyllum


submersas; Tratam-se de plantas com demersum, Hydrilla verticillata,
os seus tecidos fotossintéticos Cabomba caroliniana, Miriophyllum
completamente imersos [5]. As princi- hetrophyllum, Potamoge-ton spp [5],
pais espécies que integram este tipo são: (Figura 6).
Elodea canadensis, Elodea nuttali,

Figura 6 - Representação esquemática de um sistema de tratamento de águas residuais baseado em


macrófitas aquáticas submersas. Ilustra-se a espécie Elodea canadensis [12]

referentes a Eichhornia crassipes; o


•Sistemas baseados em macrófitas
aquáticas emergentes. Na concepção de aguapé é muitas vezes apresentado
como “praga” e outras como agente
um sistema de tratamento é possível
optar por um destes tipos, isoladamente, despoluidor [13]
ou combiná-los, seja entre si, seja com Quando o aguapé é cultivado de
órgãos de sistemas convencionais de forma correta do ponto de vista técnico-
depuração [5], (Figura 7). científico, ele pode ser um agente de
despoluição (Figura 9). Quando, no
O aguapé
entanto, a planta cresce de forma
Fitotratamento com aguapé: descontrolada e sem manejo adequado,
pode se transformar num problema
Todas as macrófitas exercem ambiental [13].
importante papel na remoção de
substâncias dissolvidas, assimilando-as Para entender a problemática do
e incorporando-as à sua biomassa, aguapé é necessário, considerar que:
porém a espécie Eichhornia crassipes, o
•O aguapé é uma planta aquática
aguapé, tem sido a hidrófita mais
estudada para o tratamento de água com flutuante que se desenvolve muito bem
nas regiões de clima quente seu
plantas [5,12], (Figura 8).
desenvolvimento é acelerado quando
Embora exista farta literatura sobre não existem limitações nutricionais,
plantas aquáticas, especialmente do como é o caso das águas das lagoas e
aguapé; segundo [13]. Há mais de 1000 represas que são poluídas por esgoto
artigos, os mais diversos possíveis,
urbano e alguns tipos de efluentes industriais [14, 15].

Figura 7 - Representação esquemática de um sistema de tratamento de águas residuais baseado em


macrófitas aquáticas emergentes: (a) fluxo superficial, ilustra-se a espécie Scirpus lacustris;
(b) fluxo sub-superficial horizontal, ilustra-se a espécie Phragmites australis; (c) fluxo sub-
superficial vertical (percolação), ilustra-se a espécie Phragmites australis [12]

• A biomassa de uma plantação de toneladas de biomassa úmida por dia


aguapé varia bastante (média para o por hectare [5].
Brasil da ordem de 250 a 300 •O sistema radicular do aguapé
toneladas por hectare). A taxa de funciona como um filtro mecânico e
crescimento também é variável [5]. retém (adsorve) material particulado
Em condições ótimas chega em média (orgânico e mineral) existentes na
a 5% ao dia. Assim, se o crescimento água, e cria um ambiente rico em
estiver nas condições ótimas, a atividades de fungos e bactérias,
produção será de aproximadamente 15 passando a ser um agente de
despoluição, reduzindo a DBO, a taxa poluídas [5].
de coliformes e a turbidez das águas

da lagoa deve ser suficiente para que as


raízes não se agarrem ao fundo, de tal
forma que o fluxo da lagoa seja filtrado
através da zona radicular [11].
O aguapé é capaz de retirar
quantidades consideráveis de fenóis,
metais pesados e outras substâncias tais
como 0,7 mg de Cd/Os (peso seco) e
0,5 mg de Ni/g de peso seco (PS) [6],
Figura 8 - Eichhornia crassipes (agupe) [8]. Eichhornia azurea absorve ortofosfatos
na ordem de 14,56 a 58,58 mg/g/h e de
60,65 a 239,92 mg/g/h de nitrogênio.
Pode-se considerar uma boa estimativa
1,33 a 3,33 porcentagem de PS de
nitrogênio, 0,14 a 0,80 % PS de fósforo
e de 1,60 a 6,70 % PS de potássio
presentes na biomassa de E. crassipes
[6]. Como em uma unidade de
fitodepuração de 1500 m2 é provável
uma retirada mensal de biomassa do
aguapé da ordem de 0,45 a 0,65 tPS
[16], utilizando-se dos valores
estimados é possível uma remoção de
Figura 9 - Lagoa de aguapé (cultivo) [8].
0,6 a 5,2 kg de fósforo, 0,6 a 216,4 kg
de nitrogênio de 7,2 a 43,5 kg de
•Além da diminuição da carga orgânica, potássio [6]. Através dos resultados
o aguapé retira da água (adsorve) apresentados [17], pode-se também
elementos químicos minerais dos quais viabilizar a utilização de plantas
se nutre, diminuindo suas concentra- aquáticas visando à depuração de
ções, especialmente, de nitrogênio e efluentes contendo herbicidas como
fósforo. atrazine, 2,4-D, trifluralin e glyfosate.
Apesar de não ter obtido uma solução
Os poluentes são removidos numa apta para o descarte, GRANATO
lagoa com aguapé por vários (1995) [10], comenta que o aguapé pode
mecanismos físicos químicos e ser utilizado para tratar efluente
biológicos característicos do sistema. A contendo cianetos.
sedimentação que ocorre na lagoa é
mais eficiente pela proteção ao Fitotratamento com Beterraba (Beta
movimento das águas oferecida pela Vulgaris L.)
cobertura compacta de aguapé [16]. Já a
A beterraba é uma hortaliça que
filtração dos sólidos suspensos pelas
requer alta concentração de macro-
raízes do aguapé, é um dos mais nutrientes (especialmente P, K e Mg),
importantes processos para o polimento
principalmente em sua parte aérea,
porém sua concentração de micro- Tratamento de chorume por
nutrientes é ainda maior tanto em sua Fitorremediação:
parte aérea quanto na raiz [18]. Estes
dados indicam que a beterraba irá O chorume é o nome dado ao
absorver grande quantidades desses líquido escuro e turvo proveniente do
componentes presentes no solo ou águas armazenamento e repouso do lixo.
residuárias empregadas em irrigações Resultado da passagem da água através
[19]. dos resíduos em processo de decompo-
sição que arrasta todo tipo de material
Fitotratamento com Rabanetes sendo um dos mais sérios problemas
(Raphanus sativus L.) ambientais dos aterros sanitários [24].

As concentrações em macro e O chorume pode ser tratado por


micronutrientes no rabanete são processo de fitorremediação tanto na
elevadas, tanto na raiz como na parte sua parte líquida, através do aguapé
aérea, sendo considerada uma planta (Figura 10) quanto por meio da
exigente em nutrientes. Esta planta é irrigação, empregando fitotratamento
empregada principalmente na extração com tubérculos (beterraba, cenoura e
de Fe, Mg, Zn e Cu [18,20]. rabanete) e espécies folhosas (alface)
[18].
Fitotratamento com Cenoura (Dacus
Carota L) Para crescer, as plantas necessitam
de 16 elementos químicos, considerados
A cenoura exige solos férteis e bem essenciais, e de outros que embora não
estruturados para sua produção, fazendo essenciais, tem efeitos positivos sobre o
da matéria orgânica um fator importante desenvolvimento dos vegetais. Dos 16
em sua cultura. Estudos constataram elementos químicos, os macronutrientes
maior presença de β caroteno em (N, P, K, Ca, Mg e S) e os
cenouras cultivadas organicamente. micronutrientes (Cu, Fe, Mn, Zn, Mo, B
Este tipo de fitotratamento é recomen- e Cl) são retirados do solo; o C, o H e o
dado para áreas que apresentarem O são retirados do ar na forma de gás
contaminação com matéria orgânica carbônico e água. Estes nutrientes
[18, 21]. podem ser encontrados em grandes
concentrações no chorume [7].
Fitotratamento com Alface (Lactuca
sativa) O Co, o Ni, o Si, o V e o Cd são
considerados benéficos ao crescimento
As espécies olerícolas possuem
das plantas e também podem ser
grande capacidade de extração do solo
encontrado no chorume [24].
e, dentre elas, a alface é considerada a
principal acumuladora de metais A remoção dos metais pesados
pesados (principalmente Zn, Cu, e Pb). pode ser eficientemente realizada
Este acúmulo ocorre basicamente na através da fitorremediação [5]. Após a
parte aérea da planta [22,23]. saturação, os metais podem ser
recuperados na biomassa regenerada
Estudos têm comprovado que a
[24]. Vários ciclos de minerais
alface pode também apresentar acúmulo
poderiam ser obtidos por meio de
significativo de metais pesados Cd e Na
sorção/dessorção empregando plantas
[18].
[24].
Exemplos de Aplicações da
Esta técnica apresentaria custos
Fitorremediação
reduzidos devido empregar recursos
naturais e disponíveis. As macrófitas
após secagem apresentam massa muito
baixa facilitando a recuperação de
metais.

Figura 10 - Lagoa de aguapés para tratamento de chorume

Controle de erosão e disseminação de uma camada superficial de toda a área e


Metais Pesados no solo: substituí-la por solo não-contaminado
para implantar dois tipos de vegetação:
Depois de várias tentativas arbórea sobre as valas e herbácea
frustradas para conter as erosões e a (gramíneas) nos três metros que
disseminação de metais pesados separam uma da outra. Na superfície do
oriundos dos rejeitos do processo solo contaminado entre as valas, é
industrial, foram feitos vários estudos e utilizado um "filtro químico" – uma
a fitorremediação passou a ser estudada camada de calcário de aproxima-
como alternativa [7], (Figura 11). damente 2 cm de espessura, que evita
que o metal passe para o solo sem
Especialistas em Química e contaminação, preservando, assim, a
Biologia do Solo e Nutrição Vegetal da vegetação implantada [7].
Ufla uniram esforços para diagnosticar
o nível de contaminação de 18 hectares Para chegar ao tratamento ideal,
degradados e estudar uma estratégia de várias etapas foram desenvolvidas ao
reabilitação. Depois de cinco anos de longo da pesquisa. O primeiro passo foi
pesquisa nos laboratórios da Ufla e selecionar e delimitar os locais de
testes de campo na CMM, chegou-sea estudo. Em seguida, os pesquisadores
conclusão de que o melhor meio seria o fizeram a coleta, o transporte e o
tratamento com plantas e substituição preparo do solo, para realizar as análises
do solo contaminado. O processo químicas e os testes microbiológicos e
consiste basicamente em retirar a terra da flora [7].
contaminada de valas paralelas e de
A partir daí, foi determinado o grau para tornar o metal solúvel (não
de toxidez do solo e, só então, iniciados disponível no solo) [6]. Os metais não
os testes de campo. A calagem alteram suas propriedades químicas,
(amenização com uso de calcário) foi apenas variam entre as formas insolúvel
escolhida de acordo com as e solúvel, esta última, a ideal para
características da terra – que apresentou absorção pela vegetação. Dois fatores
altos teores de metais pesados, são determinantes na seleção das
principalmente zinco e cádmio – e pelo plantas para ocupar a área contaminada:
fato do calcário ser um insumo barato, a capacidade de absorção e tolerância
muito utilizado no Brasil. O filtro aos metais pesados [6].
químico de calcário atua elevando o pH

Figura 11 – Aplicação da Fitorremediação em recuperação de solo contaminado.

Ao analisar diversas espécies de mineração da Companhia em vazante.


árvores, os pesquisadores escolheram Essa descoberta foi um dos grandes
aquelas que conseguiam crescer e se méritos das análises em laboratório, A
desenvolver mesmo acumulando metal mesma espécie poderá ser utilizada na
em suas partes. Destacaram-se duas recuperação de outros solos contami-
espécies de eucalipto, (Figura 12) a nados por cádmio. Dessa forma, a
herbacea Pfaffia (nome comum erosão e a disseminação dos metais no
calaminácea) e uma crucífera, a solo são contidas, mas a área recuperada
Brassica sp. A Pfaffia é uma planta jamais será própria para uso agrícola
selvagem, rara, hiperacumuladora de [7].
cádmio, encontrada nas áreas de
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Figura 12 - Eucalipto em solo contaminado sem filtro de calcário (esquerda) e com o filtro (direita).

Conclusão Ou seja, valer-se dos próprios meios


A fitorremediação mostra-se como que a natureza idealizou para defender-
o avanço da biotecnologia para se.
tratamento de solo e água que vem Atualmente dá-se preferência as
sofrendo agressões antropogênicas. A técnicas de descontaminação in situ, por
técnica já sofreu avanços significativos perturbar menos o meio ambiente,
quanto à natureza dos agentes técnicas que sejam mais econômicas e
poluidores surgindo assim uma gama de que apresentam facilidades de
métodos de fitorremediação como aplicação. Estas são as principais
demonstrado neste artigo. vantagens da Fitorremediação, além de
O tema abordado cresce em poder ser aplicada a grandes áreas pode-
dificuldade na medida que visa não só se também tratar diversos poluentes
reconstruir, remediar, mas fazê-lo orgânicos e inorgânicos.
segundo as leis naturais da construção.

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Experimento-piloto da lagoa de aguapé
para tratamento de esgoto bruto.

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