Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
MARCELO RICCI
1. INTRODUÇÃO
Trata-se de uma apresentação teatral, livremente inspirada no conto Os olhos dos pobres, de Charles
Baudelaire, montada aos moldes da ópera-cômica, com todo o texto falado e não cantado.
A direção concentrar-se-á em desenvolver nos atores uma consciência de grupo, de forma que
eles possam criar e coordenar suas ações em cena, de maneira livre, espontânea e coletiva.
2. OBJETIVOS
Em relação a quem participa passivamente do projeto, ou seja, a quem assiste, tem-se por
objetivo provocar uma reflexão sobre a constituição da sociedade que vivemos, questionando
seus valores, os papéis sociais e a discriminação. É intenção causar estranheza ou mesmo mal-
estar, incômodo, à esse público.
Aos participantes ativos do projeto – leia-se atores – reservam-se intenções muito maiores do que
simplesmente encenar uma peça. Pretende-se criar uma linha de discussão sobre os temas
abordados de forma a provocar uma reflexão e que esta crie condições para que cada ator
desenvolva o discurso de seu personagem.
3. METODOLOGIA
Alguns parâmetros-chave norteiam o projeto. Em primeiro lugar, não há texto escrito; a
dramaturgia baseia-se em um roteiro (item 7.3) e cada ator toma a si o encargo de desenvolver o
discurso de seu personagem, durante as fases de Preparação (item 3.1) e Ensaio (item 3.2).
Os atores deverão ter especial atenção para o fato de que cada personagem é narrador de si; é
como se eles contassem a história deles mesmos. Os personagens também nunca se referem a si
como “eu”, mas sempre pelo seu próprio nome.
Mesmo depois de desenvolvido o discurso dos personagens, este não deverá ser fixo e repetido
ao longo das apresentações; seu desenvolvimento em cada espetáculo será em função do
resultado específico de cada improvisação.
Entenda-se por improvisação as falas e acontecimentos fortuitos que ocorrerão no transcurso do
desenvolvimento do roteiro dramatúrgico (item 7.3).
O projeto divide-se em três fases distintas, na ordem cronológica que ocorrerão: Preparação,
Ensaio e Execução.
3.1 PREPARAÇÃO
É chamado de Preparação o período inicial da preparação dos atores para assumir o projeto. Ela
tem por objetivo fornecer instrumentos e técnicas para que os objetivos coletivos possam ser
alcançados. A Preparação por sua vez ramifica-se em três linhas, que ocorrerão paralelamente:
Psicológica, Técnica e Corporal.
3.2 ENSAIO
Esta fase inicia-se quando as bases psicológicas, técnicas e corporais já estão suficientemente
solidificadas. Aqui o grupo passa a frequentar o espaço cênico onde será
exibido o espetáculo, toma contato com o figurino, adereços, objetos de cena, cenários e músicas
do espetáculo. O elenco passa a respirar a atmosfera do momento cênico.
Além de toda essa orientação cinestésico-espacial, os atores aqui têm um trabalho
particularmente importante: dar voz aos personagens, construir seus discursos. Evidentemente
que esses discursos não serão decorados, mas serão treinados e aperfeiçoados do ponto-de-vista
da consistência psicológica e do efeito cênico.
3.3 EXECUÇÃO
Consiste na apresentação propriamente dita do espetáculo, em locais e horários de acordo com a
programação constante no Anexo I∗.
O trabalho do grupo não acabou aqui, uma vez que a execução dos espetáculos está baseada no
conceito da improvisação. Cada espetáculo será único, e fórmulas experimentadas serão avaliadas
e substituídas de acordo com a reação que causaram ao público. O texto, por ser dinâmico,
continuará por se desenvolver indefinidamente. O grupo encontrará uma linguagem não oral de
comunicação para discutir o rumo que cada momento cênico deverá tomar.
∗
Os Anexos não foram juntados à documentação deste projeto. Estão listados apenas com objetivos didáticos.
4. CRONOGRAMA
Item Descrição Duração Frequência Carga Horária
5. ORÇAMENTO
Item Descrição Valor R$
6.4 ILUMINAÇÃO
Conforme mapa de iluminação constante no Anexo II∗.
6.5 CENÁRIO
Conforme desenhos constantes no Anexo III*.
6.6 FIGURINO
Conforme pranchas constantes no Anexo IV*.
6.8 MAQUIAGEM
Conforme pranchas constantes no Anexo VI* e relação no Anexo VII*.
6.9 MÚSICA
Conforme lista de execução constante no Anexo VIII* e partituras do Anexo IX*.
∗
Os Anexos não foram juntados à documentação deste projeto. Estão listados apenas com objetivos didáticos.
7. DRAMATURGIA
7.1 SINOPSE
D’Argent é um andarilho sujo e maltrapilho, que revela um gênio brilhantemente lúcido. Vagueia
por Paris acompanhado de um roto animal de pelúcia e um menino deslumbrado e estúpido. No
momento em que se passa a cena eles encontram-se do lado de fora de um finíssimo café, onde
D’Argent serve a ceia aos três enquanto discorre sobre o valor do dinheiro e do status.
Enquanto isso, do lado de dentro do café, Hebe e Ganimedes têm um diálogo incomum; ele fala
com ela de outro tempo, do passado, ao passo que ela vive no presente, acompanhada de sua
amiga Anatole.
Um buraco por onde é despejado o lixo (do qual D’Argent dignamente se apropria) atrai a
atenção do menino, que por ele atravessa e é confundido com um rato. Hebe entra em pânico e o
mêtre caça o “rato” com uma vassoura.
7.2 PERSONAGENS
Ganimedes – nobre que vive em uma defasagem de vinte anos em relação ao tempo da história.
Vestido como tal, pecando um pouco pelo exagero.
Hebe – esposa de Ganimedes, anda apoiada sobre uma estrutura aramada com rodas; ricamente
vestida do pescoço para cima, revela por baixo da estrutura uma pobreza de espírito
personificada na vestimenta.
Anatole – faz a função dos braços de Hebe. Alienada, moralmente desatenta, insinua-se para
Ganimedes.
D’Argent – andarilho sujo e maltrapilho, revela nos gestos e dizeres uma educação aristocrática.
Menino – menino feio e sujo, com olhar estúpido e deslumbrado.
Coro de cegos – sete cegos sujos e esfarrapados, portando cada um canecas de lata com moedas
dentro. Um dos cegos desloca-se para atuar como mêtre durante a cena final.
7.3 ROTEIRO
Cegos vêm de trás da platéia apregoando suas súplicas. Reúnem-se no espaço cênico e um deles
recita seu texto introdutório.
Os atores estão imóveis, como congelados, nas suas marcas no espaço cênico; este representa
uma cafeteria. Há a introdução de Hebe e Anatole. Logo em seguida o diálogo atemporal entre
Hebe e Ganimedes. O mêtre – que é um dos cegos – entra em cena e passa a servir o chá. Hebe
despreza algumas iguarias, que são imediatamente descartadas pelo mêtre através de um aparelho
instalado no centro do espaço cênico em formato de trave, que passaremos a chamar de janela.
Do outro lado da janela há uma pilha de lixo. Assim que o que Hebe desprezou atravessa a janela,
emerge do lixo D’Argent, com seu bicho de pelúcia, que passa a selecionar o que o interessa.
Minuciosamente ele vai compondo, com elementos presentes na pilha de lixo, um fac-simile do
ambiente da cafeteria. Do meio do lixo ele tira o menino e o põe sentado à mesa.
Na cafeteria prossegue o diálogo entre Ganimedes e Hebe. Ganimedes fala sempre no passado, e
Hebe no presente; eles nunca se encontram no tempo, tampouco se tocam em cena. Cada fala e
cada ação de Ganimedes, Hebe e Anatole é parodiada em seguida por D’Argent, o bicho de
pelúcia e o menino, respectivamente. O bicho de pelúcia evidentemente não fala, mas D’Argent
algumas vezes falará por ele. O menino só emite grunhidos, interjeições e ruídos bestiais.
A determinado momento o mêtre torna a despejar lixo pela janela; isso atrai a atenção do menino,
que vai até ela, a estuda e decide atravessá-la. Uma vez chegado ao outro lado, a cafeteria, segue
rastejando por ela quando é visto por Hebe, que dispara em um ataque de pavor gritando “rato,
rato, rato” repetidas vezes até que o mêtre resolva espantá-lo. Este toma uma vassoura e, em
gestos lentos, passa a desferir golpes na direção do menino, que, sempre engatinhando, esquiva-
se deles, correndo por toda a cafeteria. Anatole continua impassível, como se não enxergasse o
menino ou o rato. Ganimedes fita espantado Hebe. O mêtre termina por finalmente expulsar o
menino pela janela.
Segue-se a última fala de Ganimedes, que define o abismo entre ele e Hebe. Imediatamente após
vem o monólogo final de D’Argent. O grupo de cegos levanta-se e passa a mendigar no espaço
cênico e deste em direção à plateia, atravessando-a até sumir no escuro, chacoalhando canecas de
lata com moedas dentro.
Este trabalho está licenciado sob uma Licença Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Partilha nos termos da mesma Licença
2.5 Brasil. Para ver uma cópia desta licença, visite http://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/2.5/br/ ou envie uma carta para
Creative Commons, 171 Second Street, Suite 300, San Francisco, California 94105, USA.