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A seguinte monografia recebeu o Prêmio Mário Barata, instituído pelo ICOM-BR como

parte das comemorações dos 60 anos de fundação do Comitê Brasileiro do ICOM.

________________________________________________________________________

Henrique de Vasconcelos Cruz

Era uma vez, há 60 anos atrás...: O Brasil e a criação do Conselho

Internacional de Museus

2008
Era uma vez, há 60 anos atrás... Henrique de Vasconcelos Cruz

Era uma vez, há 60 anos atrás...: O Brasil e a criação do Conselho

Internacional de Museus

Em 2 de agosto de 1946, Mário Barata, envia de Paris um cartão postal para seu

amigo, Américo Jacobina Lacombe. No cartão uma fotografia da cidade, onde aparece o

Museu do Louvre. No texto que escreve no verso do cartão, Barata informa o amigo sobre

seu curso na Universidade de Sorbone e os livros raros brasileiros que comprou. Também

conta com felicidade que irá participar da “Conferência de Paz, como membro da

Delegação Jornalística”. 1 Mal sabia Mário Barata que meses depois estaria participando,

no Museu do Louvre, da primeira reunião da maior organização de museus do mundo, o

Conselho Internacional de Museus, e que seu amigo, Américo Lacombe, participaria da

implantação do Conselho no Brasil.

O presente artigo pretende abordar aspectos históricos da criação do Conselho

Internacional de Museus e sua implantação no Brasil. Até hoje poucos trabalhos foram

escritos sobre a atuação do ICOM no Brasil. Em 1954, Regina Monteiro Real, então

secretária do Comitê Nacional do ICOM, escreveu um pequeno texto, intitulado Que é o

ICOM, que foi distribuído para alguns membros da organização. Em 1996, para as

comemorações dos cinqüenta anos do ICOM, Fernanda Camargo-Moro e Lourdes

Novaes, ex-presidentes do Comitê Brasileiro do ICOM, escreveram ICOM & Brésil: um

dialogue, que é uma cronologia das atividades do ICOM e de seu Comitê Brasileiro.

O artigo abordará dois assuntos principais. No primeiro, as ações das organizações

museológicas internacionais anteriores ao ICOM, principalmente a atuação do Escritório

Internacional de Museus da Sociedade das Nações. No segundo, a criação do ICOM na

Europa e a atuação dos brasileiros neste processo.

1
Cartão postal de Mário Barata para Américo Jacobina Lacombe, em 2 de agosto de 1946. Fundação Casa
de Rui Barbosa, Fundo Américo Jacobina Lacombe, pasta 127.

2
Era uma vez, há 60 anos atrás... Henrique de Vasconcelos Cruz

Uma Pré-História do ICOM 2

Entre o final do século 19 e primeiras décadas do século 20, é considerado o

período em que há a profissionalização e institucionalização da Museologia no mundo.

Nesta época surge o primeiro periódico abordando questões museológicas, Zeitschrift für

Museologie und Antiquitätenkunde (Alemanha, 1878), inicia o ensino em Museologia, na

École du Louvre (França, 1882), surge o primeiro código de ética museológico (Alemanha,

1918) e é fundada a primeira entidade nacional de profissionais de museus, a Museums

Associaton (Inglaterra, 1889). Nesta mesma época surgiu a American Association of

Museums (Estados Unidos da América, 1906), que desenvolverá importante papel na

disseminação de conhecimentos museológicos. Surgem outros periódicos nacionais

abordando assuntos museológicos, na Inglaterra Museums Jornal (1902), Alemanha,

Museumskunde (1905), nos Estados Unidos da América, Museum Work (1919). 3

Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), foi criada a Sociedade das

Nações. Em 1922 foi criado no âmbito da Sociedade, o Comitê Internacional de

Cooperação Intelectual (CICI) 4 e o filósofo francês Henri Bergson foi eleito seu primeiro

presidente. Anos depois, em 16 de janeiro de 1926, o governo francês cria o Instituto

Internacional de Cooperação Intelectual (IICI) 5 , com o intuito de organizar as reuniões da

CICI e executar suas decisões, bem como agir em prol do desenvolvimento intelectual no

mundo. 6

2
A expressão “Pré-história do ICOM” foi usada pela primeira vez em Boylan, 1996a.
3
Boylan, 1996a, p. 4; Mairesse, 1998, p. 25; Mensch, 2004.
4
Francês: Commision Internationale de Coopération Intellectuelle; Inglês: International Committee on
Intelectual Co-operation.
5
Francês: Institut International de Coopération Intellectuelle; Inglês: International Institute of Intellectual Co-
operation.
6
UNESCO, s.d., p.7-10; Valderrama, 1995, p. 1-18; Renoliet, 2007.

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Numa das primeiras reuniões da Subcomissão de Letras e Artes do IICI, o

historiador de arte Henri Focillon propõe a criação de uma entidade que tratasse

exclusivamente dos museus. Em julho de 1926 é criado o Escritório Internacional dos

Museus (OIM) 7 , cujos objetivos eram “o estabelecimento de vínculos entre todos os

museus do mundo, a organização de intercâmbios e congressos, assim como a unificação

dos catálogos” 8 . É a primeira tentativa de se criar uma entidade internacional que reunisse

os museus e seus profissionais de todo o mundo.

A atividade de maior destaque da OIM foi a edição da revista Mouseion. Esta

revista publicava trabalhos relacionados à prática museológica em museus de vários

países, porém havia uma predominância de artigos de cinco grandes países: França,

Itália, Alemanha, Estados Unidos e Grã-Bretanha. A revista era publicada apenas no

idioma francês. 9

Outra publicação que se tornou uma referência na área museológica na época

foram os dois volumes do livro Muséographie: architecture et aménagement dês musées

d’art, publicado em 1935. Neles estão trabalhos apresentados em congresso realizado na

cidade de Madrid, Espanha, entre 28 de outubro e 4 de novembro de 1934.

Vale lembrar que no período de atuação do OIM, foi criado no Brasil o Curso de

Museus do Museu Histórico Nacional, primeira instituição de ensino de Museologia do

país, que formou a primeira geração de conservadores de museus brasileiros. 10 O curso

iniciou suas atividades em maio de 1932, tendo formado a primeira turma no ano

seguinte. Entre os anos 1945 e 1946, Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico,

publicou dois volumes da obra Introdução à Técnica de Museus, que se tornaram

7
Francês: Office International des Musées; Inglês: International Office of Museums.
8
Mairesse, 1998, p. 25. Ainda não foi escrito um trabalho tratando exclusivamente da atuação do Escritório
Internacional de Museus. Além do trabalho de Mairesse (1998), existem algumas referências em UNESCO
(s.d.) e Boylan (1996a). Os arquivos do OIM estão sob guarda da UNESCO.
9
Para uma análise crítica da revista Mouseion, ver Mairesse (1998, p. 25-28).
10
O uso da expressão “conservador de museus” no Brasil, seguiu o modelo francês conservateurs,
equivalente ao curator inglês ou norte americano. Cf. Costa (2002, p. 66).

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referência para os alunos do Curso de Museus até os anos 1970. Além de sua

experiência prática no Museu Histórico desde a década de 1920, Barroso utilizou artigos

publicados em Mouseion e dos volumes de Muséographie, para escrever o livro.

A Segunda Guerra Mundial (1939-1945) faz com que as atividades da Sociedade

das Nações, bem como dos organismos sob sua subordinação, entre eles o Escritório

Internacional de Museus, parem de atuar. A publicação de Mouseion foi interrompida por

cinco anos (1941-1945), tendo seu último número editado em 1946.

A criação do Conselho Internacional de Museus e sua implantação no Brasil

Mesmo com a interrupção das atividades do Instituto Internacional de Cooperação

Intelectual, o sentimento de cooperação intelectual continuava em seus países membros.

Nos últimos anos de guerra, representantes dos países aliados realizaram reuniões com o

intuito de criar uma nova instituição nos moldes do IICI. Foi criada a Conferência dos

Ministros de Educação Aliados (CAME), que se reuniram entre 1942 e 1945. Em junho de

1945, foi criada a Organização das Nações Unidas (ONU), em substituição à Sociedade

das Nações. Em 4 de novembro de 1946, foi instituída a Organização das Nações Unidas

para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO). 11

Com relação aos museus, também o sentimento de cooperação internacional não

encerrou. Com a interrupção das atividades do Escritório Internacional de Museus durante

o período de beligerância, alguns diretores de museus da França, Suíça, Holanda,

Bélgica, Inglaterra e membros da comissão preparatória da UNESCO, liderados pelo

norte americano Chauncey J. Hamlin, presidente do comitê político da American

Association of Museum, reuniram-se em Londres, Inglaterra, em agosto de 1946, e

11
Sobre a criação da UNESCO, ver UNESCO (1987) e Valderrama (1995, p. 19-28)

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decidiram criar um Conselho Internacional de Museus (ICOM) 12 . Hamlin foi escolhido

presidente temporário do ICOM e em 4 de setembro do mesmo ano, enviou cartas para

diretores de museus de diversos países, comunicando a proposta de criação do Conselho

e solicitou que fossem criados em seus respectivos países comitês de diretores de

museus, para estabelecer uma cooperação internacional entre os museus. Também

informa que estará seguindo para Paris, França para participar de reunião da UNESCO

no mês de novembro. Aqui no Brasil um dos museus que receberam esta convocação

para se integrarem ao ICOM foi o Museu Nacional de Belas Artes. 13 Quem recebeu esta

correspondência foram as conservadoras de museus Regina Monteiro Real e Lygia

Martins Costa. Mais de cinqüenta anos depois, Lygia descreve este episódio:

A minha relação com o Icom foi a mais imediata possível. Eu e a Regina Real
éramos as mais ligadas ao Museu. Ela era a secretária do Museu, embora fosse
técnica. Então chegou uma correspondência e ela disse: ‘Lygia, chegou aquilo que
a gente sonhava’. Pois sempre conversávamos sobre a necessidade de termos
acesso aos museus lá de fora; dizíamos que não podíamos continuar a não saber
o que eles estavam estudando, o que eles tinham... essa falta de contato... presos
aqui no nosso mundinho... Quando ela me mostrou aquela correspondência, eu
disse: ‘Regina, era isso que nós estávamos buscando. Vamos ter a oportunidade
de viajar, de ver os museus, mas que bom! Vamos levar isso a Oswaldo Teixeira
já mastigado.’ E fomos... Naturalmente Oswaldo era um artista... 14

Regina e Lygia foram formadas pelo Curso de Museus do Museu Histórico

Nacional e haviam prestado concurso para o cargo de conservador de museus do

Ministério de Educação e Saúde em 1939-1940. Neste concurso Regina apresentou a

tese O papel dos museus na vida moderna, usando principalmente o livro Muséographie,

editado pelo OIM, como referência. 15

Hamlin esteve no Brasil no início dos anos 1940, quando realizou alguns trabalhos

de consultoria para o Museu Nacional, então dirigido por Heloísa Alberto Torres. Nesta

mesma ocasião, conheceu o diretor do Museu Nacional de Belas Artes, o pintor Oswaldo

12
Inglês: International Council of Museums.
13
Cópia de carta de Chauncey J. Hamlin para Oswaldo Teixeira, em 4 de setembro de 1946. Arquivo
Histórico do Museu Nacional, Fundo Direção do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
14
Costa, 2005, p. 282.
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Um resumo desta tese foi apresentado em palestra realizada no Instituto de Estudos Brasileiros, em fins
de 1940. Ver Regina (1941).

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Teixeira. 16 Por este motivo é que Oswaldo deve ter recebido convite para participar do

ICOM.

A carta convite de participação no ICOM foi imediatamente respondida pelo

pessoal do Museu Nacional de Belas Artes. 17

No dia 16 de novembro de 1946, às 10 horas da manhã teve início, numa sala do

Museu do Louvre, em Paris, França, a primeira reunião do Conselho Internacional de

Museus. 18 Estiveram presentes trinta e quatro pessoas, representando quinze países,

além de representantes da ONU, UNESCO e do Escritório Internacional de Museus da

Sociedade das Nações. 19

Nesta primeira reunião do ICOM, o Brasil foi representado pelo conservador de

museus Mário Antônio Barata, que estava estudando em Paris, com uma bolsa do

governo francês, e foi convidado a participar da reunião. Neste tempo trabalhava no

Museu Nacional de Belas Artes e também lecionava no Curso de Museus. Num

depoimento realizado em comemoração aos seus cinqüenta anos de carreira profissional,

Barata lembrou este período que esteve na França:

Nomeado, antes do concurso, para Conservador-auxiliar, no Museu Nacional de


Belas Artes, passei ali, após as provas, a Conservador efetivo, recebendo, pouco
após o término da Guerra Mundial, uma bolsa de estudos do Governo da França,
onde fiquei mais tempo do que o subsidiado, devido à ajuda que recebi de meu pai
e ao fato da vida estar então barata na Europa, podendo completar cursos em
Paris e fazer viagens à Itália. Entre meus professores de História da Arte na
Sorbonne, estava o saudoso André Chastel, falecido no ano passado. E no curso

16
Segundo Camargo-Moro (2007, p. 1-2), Chauncey Hamlin e Oswaldo Teixeira se conheceram na
residência de seus pais durante recepção realizada com antigos colegas da Escola Nacional de Belas Artes.
17
Não foi localizada a correspondência de Oswaldo Teixeira aceitando o convite para participar do ICOM.
Entretanto foi encontrada a carta de Heloísa Alberto Torres, também aceitando o convite de participação na
entidade. Carta de Heloísa Alberto Torres para Chauncey Hamlin, em 18 de novembro de 1946. Arquivo
Histórico do Museu Nacional, Fundo Direção do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
18
Proces verbal de la premiere reunion du Conseil International des Musées. Arquivo da UNESCO,
C.I.M./1/1947. Disponível em <http://unesdoc.unesco.org/ulis/>. Acesso em 10 de novembro de 2007.
19
Estiveram presentes na reunião: Y. Bizardel, E. Bourdelle, J. Cain, G. Coedes, P. Erlanger, R. Grouset, A.
Leveille, J. Loiseau, Georges-Henri Rivière, Georges Salles, A. L. Urbain, J. Vernet-Ruiz (França); Leigh B.
Ashton (Grã-Bretanha); C. de Bonnault, K. Fenwick (Canadá); J. Cilbulka (Tchecoslováquia); W. Deonna, F.
Gysin (Suíça); R. A. Falla (Austrália e Nova Zelândia); G. L. Greenway, Chauncey J. Hamlin (Estados
Unidos da América); G. W. Lundberg, E. Wettergren (Suécia); S. F. Markham (Grã-Bretanha e África do
Sul); F. M. Olbrechts (Bélgica); V. Slomann (Dinamarca); Sommerfelt (Noruega); H. F. E. Visser (Holanda);
Mário Barata (Brasil); Dorothy Osborne (ONU); E. J. Carter, Grace Morley (UNESCO); E. Foundoukidis, A.
D. Leroy (Escritório Internacional dos Museus).

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do Louvre figurou Jean Cassou – diretor do Museu Nacional de Arte Moderna –


ligado à cultura ibérica e à renovação da crítica de arte, com aspectos
sociológicos. Em novembro de 1946, fui um dos cinco ou seis especialistas do
mundo que participaram, em sala de Georges Salles, no Museu do Louvre, da
fundação do ICOM. Foi o lançamento da notável instituição internacional. 20

Nos dias 18, 19 e 20 de novembro, realizaram-se mais três reuniões no Museu do

Louvre para as primeiras providências de organizar o ICOM. 21 Na reunião do dia 18, foi

discutida a constituição da direção do ICOM e Oswaldo Teixeira foi escolhido para

representar o Brasil no Conselho Executivo.

Chauncey J. Hamlin e o Museu do Louvre na década de 1940

20
Barata, 1991, p. 556.
21
Os assuntos abordados nestas reuniões estão descritas em Boylan (1996b, p.47).

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Entre 20 de novembro e 10 de dezembro de 1946, foi realizada em Paris a Primeira

Conferência Geral da UNESCO, onde houve reuniões para discutir questões relacionadas

a museus e bibliotecas. 22 Participantes das primeiras reuniões do ICOM estiveram na

conferência. Em maio de 1947, foi assinado um convênio de cooperação mútua entre o

ICOM e a UNESCO. 23

O Museu Nacional de Belas Artes nos anos 1940 e os conservadores de museus


Mário Antônio Barata, Regina Monteiro Real e Lygia Martins Costa

22
Morley, 1949, p. 11.
23
International Council of Museums, summary reporto f meetings hold at UNESCO House, on 18 and 19
July, 1947. Arquivo da UNESCO, CIM/S.R. Disponível em <http://unesdoc.unesco.org/ulis/>. Acesso em 10
de novembro de 2007.

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Por ter sido o primeiro diretor de museu brasileiro a responder o convite de Hamlin,

Oswaldo Teixeira também foi escolhido para presidente do Comitê Nacional do ICOM e

começou a convidar outros diretores de museus para comporem a direção do comitê. 24

Após a realização dos convites, a direção do Comitê Nacional do ICOM ficou assim

constituída 25 :

Presidente: Oswaldo Teixeira, diretor do Museu Nacional de Belas Artes


Vice-Presidentes: Gustavo Barroso, diretor do Museu Histórico Nacional
Heloísa Alberto Torres, diretora do Museu Nacional
Alcindo Sodré, diretor do Museu Imperial
Tesoureiro: Américo Jacobina Lacombe, diretor da Casa de Rui Barbosa
Secretária-correspondente: Regina Monteiro Real, conservadora do Museu Nacional de Belas Artes
Secretária-arquivista: Lygia Martins Costa, conservadora do Museu Nacional de Belas Artes
Membros: José Valadares, diretor do Museu do Estado, Salvador, Bahia
Sérgio Buarque de Holanda, diretor do Museu Paulista do Ipiranga, São Paulo
Inocêncio Machado Coelho, diretor do Museu Goeldi, Pará
Dante de Layano, diretor do Museu Júlio de Castilhos, Rio Grande do Sul
Cônego Trindade, diretor do Museu da Incofidência, Ouro Preto, Minas
João Geraldo Kuman, diretor do Jardim Botânico, Rio de Janeiro
Geralda Ferreira Armond, diretor do Museu Mariano Procópio, Juiz de Fora
Simoens da Silva, diretor do Museu Simoens Silva, Rio de Janeiro

A primeira reunião do Comitê Nacional do ICOM ocorreu em 9 de janeiro de 1948,

no Museu Nacional de Belas Artes. Estiveram presentes nesta reunião Oswaldo Teixeira,

Gustavo Barroso, Heloísa Alberto Torres, Américo Jacobina Lacombe, Regina Monteiro

Real e Lygia Martins Costa. Foi discutido na reunião o programa do Conselho Executivo

Oswaldo Teixeira, Heloisa Alberto Torres, Gustavo Barroso e Américo Jacobina Lacombe

24
Foi encontrado o convite para Heloisa Alberto Torres participar do Comitê Nacional do ICOM como vice-
presidente. No verso da carta Heloisa escreveu: “Em entendimento telefônico com dona Regina, secretária
do Comitê Brasileiro, declarei aceitar a vice-presidência. Julho 1947”. Cf. Carta de Oswaldo Teixeira para
Heloisa Alberto Torres, em 8 de maio de 1947. Arquivo Histórico do Museu Nacional, Fundo Direção do
Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
25
Cf. Boletim n. 8 do ICOM, de 1º. de abril de 1948. Arquivo Histórico do Museu Nacional, Fundo Direção
do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.

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do ICOM, ficou acordado o envio de um relatório sobre a realidade dos museus brasileiros

para o ICOM e foi acertada a organização de uma publicação brasileira de museus, para

abordar as principais atividades e problemas dos museus brasileiros. Fixou-se a próxima

reunião do Comitê para o mês de março do mesmo ano. 26

Em fins de janeiro de 1948, Hamlin divulga a lista final dos integrantes da direção

do ICOM. Nesta lista Heloísa Alberto Torres aparece como membro do Conselho

Executivo. Houve dúvidas da direção do Comitê Nacional do ICOM sobre esta alteração.

Porém foi uma decisão da direção do ICOM para que o Brasil tivesse dois representantes

distintos: um no Conselho Executivo e outro na presidência do Comitê Nacional. 27

Novos tempos no Comitê Nacional do ICOM

Com a viagem de Chauncey Hamlin para o Brasil 28 , em maio de 1953 foi eleita a

nova direção do Comitê Nacional do ICOM. A presidência passou para Rodrigo Mello

Franco de Andrade, presidente da Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, e

Lourival Gomes Machado passou a representar o Brasil no Conselho Executivo do ICOM.

Durante a presidência de Oswaldo Teixeira não houve muitas atividades do Comitê

Nacional do ICOM. Praticamente houve apenas a participação de brasileiros nas

Conferências Gerais do ICOM: Pietro Maria Bardi, no México (1947), Mário Barata, na

26
Esta primeira reunião era para ser realizada em outubro de 1947, porém devido a ausência de Gustavo
Barroso, por estar representando o Brasil nas comemorações do centenário de Cervantes, foi adiada para
janeiro do ano seguinte. Cf. Carta de Oswaldo Teixeira para Chauncey J. Hamlin, em 12 de fevereiro de
1948; Carta de Chauncey J. Hamlin para Oswaldo Teixeira, em 26 de março de 1948. Arquivo Histórico do
Museu Nacional, Fundo Direção do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
27
Carta de Regina Monteiro Real para Chauncey J. Hamlin, em 12 de fevereiro de 1948; Carta de
Chauncey J. Hamlin para Regina Monteiro Real, em 19 de março de 1948. Arquivo Histórico do Museu
Nacional, Fundo Direção do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
28
Ver entrevista de Chauncey Hamlin no Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 6 de junho de 1953. Arquivo
Central do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Série Personalidades, módulo 34, caixa 48,
pasta 167.03.

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França (1948), Regina Real, na Inglaterra (1950) e Lourival Gomes Machado, na Itália

(1953). 29

Anos mais tarde, as duas secretárias do Comitê Nacional expõem seu

descontentamento com a gestão de Oswaldo Teixeira. Regina Real, em carta de 1956,

para José Lacerda de Araújo Feio, naturalista do Museu Nacional, que tinha acabado de

entrar para o ICOM:

sob a presidência de Oswaldo Teixeira, contrário a qualquer atividade de


conservadores, a instituição deixou praticamente de funcionar. Existiu porque
mantive regularmente a todo questionário que me chegava às mãos e bem assim
solicitando constantemente as publicações da UNESCO.
Mais de uma vez tentei dar vida ao Comitê Nacional: quando fui a Londres e
quando aqui esteve Paulo Carneiro (afinal nosso representante na UNESCO).
Somente com a vinda e a autoridade do Hamlin, meu velho amigo, foi possível
resolver o caso, com a eleição de Dr. Rodrigo que recebeu o cargo com noção de
responsabilidade. O Comitê começou a funcionar.
[...]
É preciso prosseguir e não desanimar. Sabemos que as coisas de espírito, neste
país, são postas de lado, mas aqueles que delas e para elas vivem, tem a
responsabilidade de trazê-las à tona. 30

Agora Lygia Costa, em entrevista realizada em 2005: “o Oswaldo então foi eleito

presidente, mas não ligava muito para ser presidente daquilo. Porque Oswaldo Teixeira

era um estudioso, um artista e, sobretudo, protetor dos artistas” 31 .

Durante a presidência de Rodrigo Mello Franco de Andrade, houve mais trocas de

idéias entre profissionais de museus brasileiros através de reuniões mensais, que

resultaram na organização do Primeiro Congresso Nacional de Museus, na cidade de

Ouro Preto, em 1956. Mas estas são histórias para serem contadas em outro momento...

29
Carta de Heloísa Alberto Torres para o diretor do Museu Nacional, em 8 de março de 1957. Arquivo
Histórico do Museu Nacional, Fundo Direção do Museu Nacional, Classe 32, Referência 79 - ICOM.
30
Carta de Regina Monteiro Real para José Lacerda de Araújo Feio, em 7 de novembro de 1956. Arquivo
Histórico do Museu Nacional, Fundo José Feio, JF 0.ON.20/5.
31
Costa, 2005, p. 283.

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REFERÊNCIAS

A) Fontes manuscritas e impressas

Arquivo da UNESCO

Documentos disponíveis no site <http://unesdoc.unesco.org/ulis/>.

Arquivo Central do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

Série Personalidades

Arquivo Histórico da Fundação Casa de Rui Barbosa

Fundo Américo Jacobina Lacombe

Arquivo Histórico do Museu Nacional / UFRJ

Fundo José Feio

Fundo Direção do Museu Nacional

B) Bibliografia

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Histórico e Geográfico Brasileiro, Rio de Janeiro, ano 152, n. 371, p. 554-561,

abril/junho 1991.

BOYLAN, Patrick J. La préhistoire de l’ICOM. Nouvelles de l’ICOM, Paris, v. 49, n. 1, p.

4-5, 1996a.

13
Era uma vez, há 60 anos atrás... Henrique de Vasconcelos Cruz

BOYLAN, Patrick J. Cincuenta años del ICOM. Museum Internacional, Paris, v. 48, n. 3,

p. 47-50, 1996b.

CAMARGO-MORO, Fernanda. Por que a Revolução de 1971 foi esquecida?: uma

reflexão. Disponível em <http://www.icom.org.br>. Acesso em 10 de novembro de 2007.

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s.n., [1996].

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14
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REAL, Regina Monteiro. Que é o ICOM. [S.l.: s.n.], 1954.

RENOLIET, Jean-Jacques. L’UNESCO oubliée: l’Organisation de Coopération

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