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Exame Nacional História

A RE VOLUÇÃO INDUSTR IAL

A Revolução Industrial iniciou-se em finais do século XVIII e foi considerada, pela grandeza
e importância dos processos envolvidos, o ponto de viragem para a idade contemporânea.
Deu-se primeiramente na Ing lat er ra que reunia um conjunto de condições favoráveis a tal
acontecimento. Elas foram:

• A abundânc ia de capi tal - que provinha principalmente do Império colonial,


onde a metrópole obtinha matérias primas a custos mínimos;

• O suc es so da Revo lução Ag rícola que permitiu dispensar mão-de-obra para o


sector industrial;

• A ex is tê nc ia de vas tas re se rvas de carvão e ferro - as duas matérias primas


fundamentais para a maquinaria;

• A viv ên cia da Paz , proporcionada pela estabilidade política;

• A ex is tê nc ia de numerosas e especializadas unive rs idad es donde saiu a grande


parte dos inventores do século XIX.

• A to poní mia favoráv el , que permitiu a construção de estradas, linhas de ferro e a


abertura de canais.

Assim, a Revolução Industrial arrancou facilmente, incidindo, sobretudo, nos sectores da


indú st ria têx ti l, de fácil adaptação á maquinofactura, e da me talur gia , comandada pelo
es pír ito capi tal is ta dos empresários, a quem interessava produzir em grandes
quantidades, a baixo preço e com boa qualidade.
Das inúmeras descobertas e novidades que esta revolução trouxe, enumeremos as
mais importantes:

• A inv enção da máqui na a vapor - inicialmente usada para bombear água das
minas e, mais tarde, aplicada aos teares e aos meios de transporte. Surge-nos a
locomotiva, que dá origem ao comboio, ao barco a vapor, aos tractores, ás
debulhadoras automáticas, enfim, todo um conjunto de engenhos que permitiu a
redução da mão-de-obra e esforço humano.

• A cons trução de es trada s (macadamização), po nt es, cana is e via s fér rea s-


que vieram a facilitar a comunicação inter. regional/continental e a proporcionar
uma deslocação mais rápida e eficaz de pessoas e bens. Cite-se os canais do Suez
(Mediterrâneo - Índico) e do Panamá (Pacifico-Atlântico) e as linhas férreas do
Canadian-Pacific e do Transiberiano pela sua enorme importância.

• A descob er ta de nova s téc ni cas de tracção - com o sistema de rodas motrizes


ou através do uso de novos meios de tracção animal- que vieram a dar origem á
bicicleta ou á diligência/mala-posta- carruagem que transportava pessoas, bens e
correio, puxada por 2 parelhas de cavalos.

Ana Seara 1
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• A des cober ta de novas forma s de ene rg ia , como o petróleo e os seus


derivados, que possibilitaram a inv enção dos mo tore s de
exp lo são/combu stão int er na - donde resultaram os automóveis e os aviões;

• A d escob er ta da el ec tr ici dade que viabilizou novo s me ios de comun icação


como o telégrafo, o telefone, o rádio, o cinema etc.

Todas estas inovações, especialmente a evolução dos meios de transporte e de comunicação,


resultaram numa profunda alteração da fis io nomia das cidades e regiões:

Crescimen to - uniu e expandiu os mercados;


- aumentou a circulação dos produtos;
De mográfico
- ajudou a consolidar a produção em série/consumo de massa;
- diminuiu os preços;
- favoreceu o aparecimento de especializações regionais;
Qual idad e de - criou novos empregos,
vida - possibilitou a fundação de novas indústrias;
- Estimulou o crescimento de Companhias e o enriquecimento
dos bancos.

Ana Seara 2
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O COM ÉRCI O INTERNA CIONAL

O Crescimento do comércio, do século XIX, substanciava-se no aume nto da var ieda de,
do volu me e do valor da s me rcador ias transaccionadas, como também no maior
núme ro de paí se s e re giõ es envol vido s nessas trocas de carácter mundial e
multilateral.

• A maior parte dos tráfegos estava nas mãos dos europeus que desenvolveram o
comércio mundial ao procurarem mercados externos para escoamento da sua
produção excedentária e ao aumentarem a procura de matérias-primas e produtos
alimentares juntos dos outros continentes.

• Os países europeus mais industrializados exportavam produtos manufacturados,


maquinarias e capitais, e importavam produtos agrícolas e matérias primas dos países
menos desenvolvidos e trocavam, entre si, maquinarias e combustíveis. Os principais
exportadores eram a Inglaterra, os EUA, França, Holanda, Alemanha...

Des en volv im en to por Ar ras tam en to

As necessidades europeias no que respeita aos produtos alimentares básicos exerceram uma
tal procura nos outros continentes que impulsionaram, por arra sta me nto , o
desenvolvimento da economia agrícola nos Estados Unidos, no Canadá, na austrália e na
Argentina. Ou seja, os países menos desenvolvidos procuraram adequar as suas economias ás
necessidades e ás pressões dos mercados, atenuando a sua dependência em relação aos países
industrializados e catapultando-se para o sucesso económico.

Repa rt ição Mund ial de Traba lho

Estes factos acentuam outra característica do comércio internacional desta época: a


tendência para fomentar a for mação de zo nas econó mica s esp ec ial iz adas e
complementares. Ou seja, a ad equação das pot en cia lida de s naturai s de cada reg ião
á procura exi st en te nos me rcados e ás lei s da livr e conco rrê nc ia . Assim, com os
lucros obtidos da exportação do produto, as nações equilibravam a sua balança comercial.
Assim, a Europa industrializada procurava matérias-primas, que os países menos
industrializados forneciam (Zonas coloniais, África, Ásia etc.) vendendo-lhes produtos
transformados.

Surgem as práticas proteccionistas!

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A HEG EMONI A INGLESA E O ARRAN QUE DE NO VAS POT ÊNCIA S

A Inglaterra exerceu, durante quase todo o século XIX, um papel hegemónico sobre a
economia europeia e mundial. Foi, aliás, o seu si st em a eco nómi co lib era l-cap ita li st a
que estimulou a concorrência de outros países que, ao se modernizarem, expandiram
mundialmente a industrialização.
Com efeito, esta hegemonia económica da Inglaterra resultou dos seguintes factores:

• Do pioneirismo da ace itação do libe ral is mo , que permitiu a instalação de


estruturas político-económicas e sociais modernas e avançadas;

• Da antecipação do seu de se nvol vi me nto téc nico- cie ntíf ico , marcado pela
mecanização das suas fábricas e na exploração dos sectores primeiramente
industrializados (indústria têxtil, metalurgia, construção naval, indústrias química e
eléctrica);

• Da rac iona li zação e or gani zação do traba lho indus tr ial , o que rendeu altos
níveis de produtividade;

• De ter iniciado em primeiro lugar a mod er ni zação dos tran spo rt es e da


agricultura;

• Da expa nsão do seu com érc io internacional;

• Da mod er ni zação e eficácia do seu apare lho fina nce iro , que foi o primeiro a
criar associações capitalistas.

Não esqueçamos, no entanto, que a permanência da hegemonia britânica ao longo deste


século resultou, também, da versatilidade da sua economia ao se adaptar ás novas pressões e
exigências dos mercados, através de uma contínua inovação e renovação tecnológicas.

As Novas Potê ncia s Indu str iai s

O êxito económico da Inglaterra incentivou outros países a rivalizarem com ela,


industrializando-se e emancipando-se. Os primeiros a iniciarem estes processos foram os
países mais evoluídos como os da Europa Ocidental e de Noroeste e os Estados Unidos da
América. Em cada um destes países, o processo de industrialização obedeceu a fases:

• Fase de Ar ranque - aquela em que o país reúne as condições estruturais básicas


para o seu desenvolvimento industrial- aumento da produtividade agrícola,
crescimento demográfico, burguesias activas e empreendedoras, expansão dos
mercados, exploração de novas fontes de energia, desenvolvimento dos transportes e
das indústrias de grande consumo como os têxteis.

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• Fase de Ma turida de - caracteriza-se pela intensificação dos investimentos na


renovação técnico-científica e na racionalização e mecanização dos processos
produtivos. Aparecem os novos sectores de ponta como a siderurgia.

• Fase do “Con sumo em Mas sa ”- estádio de desenvolvimento económico em que


se procura incentivar a produção de bens supérfluos ou de luxo, cujo consumo se
incentiva através da publicidade e se favorece pelo desenvolvimento do crédito.

A França: Um arranque tardio

• A última década do século XVIII e as primeiras do século XIX foram para a França
um período agitado por revo luçõe s polí ti co-soc iai s e por guerras civis e
externas que remeteram para segundo plano as preocupações económicas dos
franceses;

• As con diçõ es es tru turais era m rudim en tar es - o sector agrário era
largamente dominante mas evoluía muito lentamente, não havia mercado interno e
o estímulo á inovação técnica desaparecia com o excesso de mão-de-obra.

Assim, a França, apesar de possuir abundantes fontes de energia, avançou tardia e


lentamente para a industrialização, notando-se apenas na década de 20 do século XIX, nos
sectores têxteis, os primeiros sinais de desenvolvimento. Na década de 40 surgem as
siderurgias e a metalurgia, em 1860 as linhas-férreas expandem-se possibilitando o mercado
interno e as instituições financeiras desenvolvem-se. No principio do século XX surgem as
primeiras indústrias automóveis.

A Al ema nha: Um desenvolvimento rápido

Apesar dos problemas advenientes da unificação dos Estados alemães, o arranque da


Alemanha, embora só em 1840, foi rápido e eficaz. Os factores para isto foram:

• O elevado crescimento demográfico;


• O proteccionismo aduaneiro do Zollverein;
• O forte sistema financeiro;
• O alargamento dos mercados externos, resultante da expansão colonial;
• A existência de abundantes jazidas minerais.

Assim, tirando partido destas potencialidades e aproveitando as descobertas já efectuadas


noutros países, as industrias alemãs promoveram uma industrialização moderna, apoiada nas
indústrias do ferro, aço, carvão, construção naval e transportes. No final do século as
indústrias químicas e eléctricas já estavam consolidadas.

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Os Esta dos Unido s da Am ér ica: Principal Potência Mundial

A fase de arranque da economia industrial norte-americana situa-se por meados do século


XIX (1840) e elevou os E.U.A ao primeiro lugar na produção industrial mundial em 1900.
este crescimento acelerado resultou dos seguintes factores:

• Da existência de um território com abundantes recursos naturais;


• De um acelerado crescimento demográfico resultante da imigração europeia, de
gentes qualificadas;

• De uma agricultura moderna e mecanizada virada para a produção em massa e para a


exportação;

• De um clima social livre e dinâmico;


• De um mercado interno e em constante expansão.

Os primeiros sectores industriais a arrancarem foram os têxteis (algodão), as siderurgias e


metalurgias, a exploração mineira e os transportes. Em seguida desenvolveram-se as
indústrias químicas e eléctricas.

O J apão: Uma industrialização acelerada

Com estruturas arcaicas e quase feudais até meados do século XIX, o país conseguiu
ultrapassar estas limitações subordinando a aristocracia e unificando-se, iniciando uma nova
época de liberalização. As condições para o seu desenvolvimento industrial foram:

• O forte crescimento demográfico, que proporcionou o alargamento dos mercados e


os estímulos à grande produção;

• A politica cultural e económica que incentivava ao contacto com o Ocidente,


cativando investimentos e atraindo técnicos ocidentais e formando bolseiros
japoneses em Universidades europeias.

A industrialização japonesa iniciou-se pelo sector têxtil (sedas e algodão) cujas empresas se
mecanizaram e racionalizaram prontamente. Na última década do século XIX surgiram a
construção naval, a siderurgia, a indústria de armamento e de químicos.

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PRODUÇ ÃO CAPI TALIS TA E ORGANIZA ÇÃO DO TRA BALHO

A indus tria li zação acarre tou impo rtan te s alt eraçõ es pa ra a vi da económ ica e
para o proc es so produt ivo. As pr in ci pai s inovaçõ es foram:

• A evolução da oficina para a fábr ica - de maiores dimensões e instalações, as fábricas


concentram todos os meios de produção: as matérias-primas, as máquinas e outros
instrumentos. Além disso adequam-se ás necessidades do trabalhador, sendo
iluminadas, electrificadas, dispondo de cantina etc.;

• A implantação de uma disc ip li na labora l, que introduziu horários rígidos e


capatazes para vigiar o ritmo de actividades e que racionalizou o processo do
trabalho fabril através de cad eia s de monta ge m em que os operários, auxiliados
por tapetes rolantes e divididos em grupo, efectuavam tarefas diferenciadas do
processo produtivo;

• O incentivo á automa ti zação , que visava a rentabilização do trabalho fabril pela


me cani zação das diferentes tarefas e pela redução do esfo rço físico e psíquico,
bem como das distracções dos operários. Uma das doutrinas de racionalização foi o
Taylorismo que visava a maximização do rendimento técnico do binómio operário-
máquina pela mecanização e automatização que eliminavam os tempos mortos e
gestos inúteis bem como promoviam uma adequação das diferentes tarefas á
aptidão dos trabalhadores. Em troca e como estímulo, o trabalhador receberia uma
remuneração proporcional ao rendimento obtido por si;

• A est andar di zação -produção de certos artigos ou peças em série e em grande


quantidade mas apenas em determinados tamanhos preestabelecidos.

Tudo isto veio a incentivar o consumo de massas, uma vez que a população dispunha agora
de um maior poder de compra, resultante dos baixos preços dos produtos fabris.

AS CON CEN TRAÇ ÕES INDUSTRI AIS

As empresas industriais surgiram no último quartel do século XIX e resultaram do núme ro


cre sc en te de op erár ios , da ne ce ss idad e da cr iação de nova s in sta laçõ es e
departamentos (escritórios, pessoal, vendas etc.) e da con corr ênc ia que as obrigava ao seu
fortalecimento. Para além disto, face a crises, muitas destas fábricas necessitavam recorrer ao
crédito o que deu origem ás sociedades por acções e ás sociedades anónimas:

• Soci edad e por acçõ es - em que se reúne o capital através da emissão de acções
compradas por particulares que se tornavam sócios da empresa (accionistas).

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• Soci edad es anóni mas - organismo económico com individualidade jurídica que
representa um grupo de accionistas cuja identidade se desconhece.

Todavia, o processo de concentração industrial não se faz apenas pelo alargamento da


produção na mesma empresa, faz-se também pela anexação de outras indústrias, sob a
forma de:

• Conc en traçõ es Ve rt icai s: associação de indústrias cujas produções, sendo


distintas, visam o mesmo produto acabado e contribuem para a monopolização da
produção e a comercialização nacional ou regional desses mesmo produto. Dividem-
se em dois tipos:

-Trust s - quando formam uma única gestão e uma única sociedade; Hold in gs - quando cada
uma mantém a sua autonomia, sendo controladas superiormente por uma gestão comum.

• Conc en traçõ es Horizo nta is - associação de indústrias que têm em comum a


mesma fase de produção. Dão origem aos Carteis, em que as empresas associadas são
independentes mas possuem uma gerência comum. Têm como objectivo anular a
concorrência entre si e estabilizar os mercados.

• Con glo me rados - aglomerados industriais que têm origem num banco que compra
empresas que, por sua vez, compram outras empresas que nada têm em comum.

AS CRIS ES CAPI TALISTA S

Ao contrário do que aconteceu no Antigo Regime, as crises do século XIX têm origem na
produção excedentária- su pe rpro dução - e no caráct er exc es si vam en te lib era l de que
a economia parecia beneficiar. Os produtores desta época incrementaram, sempre, novas
técnicas de produção (modernização dos modelos, redução dos custos) que vieram a originar
uma série de problemas como:

• A de sci da dos p re ços- devido á abundância da oferta em relação á procura, o que


não traz lucro e põem em perigo o próprio funcionamento da empresa. Para evitar a
descida dos preços a níveis incompatíveis com os gastos de produção, os industriais
chegaram mesmo ao ponto de destruir os excedentes!

• O dec ré sc imo da s ven das e dos preço s impedia o retorno do capital, o que
obrigava a cortes nas despesas. Assim, reduzia-se a mão-de-obra, o valor dos salários
e a compra de matérias-primas, o que originou o desemprego e a crise noutros
sectores;

Estas cri se s eram, assim, cíc lica s e perigosas ás economias uma vez que ora os preços
baixavam, o desemprego crescia, as fábricas paravam a produção (Fase depressiva), ora as
empresas aumentavam a produção e empregavam novo pessoal conduzindo novamente, á
superprodução.

Os Meca ni smo s de Res po sta ás Cri se s

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Para evitar as crises, as principais medidas tomadas foram:

• O lock out temporário das fábricas;


• A destruição dos excedentes;
• A multiplicação das concentrações industriais monopolistas;
• O Desenvolvimento do crédito (moeda fiduciária);
• A intervenção dos governos na vida económica e a moderação do liberalismo;
• O proteccionismo económico e fiscal contra a concorrência dos países mais ricos.
O NO VO CO MPOR TAM ENT O DEMO GRÁFICO EUROPE U: CONSEQU ÊNCIA
DO DESEN VOL VIMEN TO

Entre os anos de 1800 e 1914, a população mundial duplicou dando origem a uma intensa e
rápida “explosão demográfica” que podemos caracterizar em dois momentos:

1º Mo me nto - Recuo da Mor tal idad e e Aum en to da Fecund idad e e Nata li dade ,
resultantes das melhores condições de vida, originadas:

• Pelo des envo lv im en to eco nómi co, do s tra ns por te s e do s mercado s


in te rnac ionai s e nacionais que trouxeram a abastança financeira e generalizaram o
poder de compra, evitando a fome;

• Pela melho ria das di eta s alim en tar es que fortaleceram o organismo humano
contra as doenças e epidemias;

• Pela inovação téc nico- cie nt if ica que permitiu o avanço da Med ici na , com a
descoberta das vacinas, da esterilização etc., que contribuíram para o recuo da taxa
de mortalidade infantil e juvenil;

• Pela preocu pação do Estado para com a saúde públ ica e ass is tê nc ia socia l,
construindo mais escolas, asilos e hospitais;

• Pelas melho re s con diçõ es de trabalho, ha bi tação e ves tuário ;

• Pelos pro gre ss os da higi en e ind ividua l e col ec tiva , com o uso do são e a
legislação de regras se saneamento público.

2º Mom en to - Redução da Natal idad e, devido:

• Ao dec ré sc imo da mor tal idad e infan ti l e juven il e, consequentemente, ao


aumento da esperança média de vida para os recém-nascidos;

• Á at enuação do s es tímu los natal is ta s por parte dos Estados que se


aperceberam de que muitos problemas sociais, como o superpovoamento, derivavam
da elevada taxa de natalidade. Stuart Mill, anti-natalista, culpava as famílias pobres e
numerosas da sua própria miséria.

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• Á redução do fervo r re li gio so - uma vez que a Igreja apoiava a politica natalista;

• Ao iso lam en to da famí lia que leva os jovens casais a não arriscarem a ter muito
filhos;

• Ao em pr ego mac iço da s mu lher es que deixaram de ter tempo para os filhos e,
assim, preferiam o celibato;

• Á ace itação da “procr iação res pon sáv el ”, que aumentou as obrigações dos pais
quanto ao futuro dos filhos, tornando-se preferível ter poucos filhos e assegurar-lhes
uma conveniente formação.
Assim, o crescimento demográfico do século XIX exerceu um importante papel no
progresso da vida no mundo ocidental: estimulou o desenvolvimento técnico-científico,
accionou o crescimento económico, despoletou movimentos migratórios á escala
mundial e favoreceu a aglomeração urbana.

A EXPANS ÃO URBAN A
Factor es

No século XIX, após 1850, surgem giga nt es cas aglo me raçõe s popu lacio nai s que
coincidem com as zonas mais industrializadas e capitalistas como a Europa, Japão e
algumas cidades do continente americano. Este crescimento foi de tal modo grande que a
taxa de natalidade foi, pela primeira vez, maior na cidade que no campo. Isto deveu-se a
factores como:

• O ma ior cr esc im en to natura l das populações;

• As al te raçõe s eco nóm icas e soc iai s provocadas pelas industriais que se
instalavam nas cidades por aí se encontrarem os organismos de administração
pública, os bancos, mercados e feiras, mão-de-obra e de se situarem em zonas de
cruzamento de redes de transportes;

• A imi gração vi nda das zo nas rurais circunda nt es , visto que os camponeses
eram atraídos pelos salários, empregos e serviços existentes nas cidades;

• A imi gração e st ran ge ira - que vinha como forma de mão-de-obra excedentária de
países mais pobres. Paris e Londres eram as cidades mais procuradas.

• O fascí nio que as mod ern idad es e comod idad es da vida citadina exerciam
sobre as populações. Com efeito, estas cidades eram símbolos de progresso cultural,
recreativo, técnico e económico.

Probl ema s Urbaní st icos

O rápido crescimento populacional das cidades transformou os espaços urbanos de modo


quase caótico, uma vez que fa ltavam os pla nea me nto s da di st ribui ção das infra-
es tru turas . Os principais problemas sentidos foram:

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• A fal ta de e sp aço e d e habi tação - que levou á construção em altura, em prédios


cujo arrendamento era caro e tendia sempre a aumentar;

• A de sor gani zação dos subúrbios - originada pela construção ao acaso e sem
regras de novos bairros pobres, normalmente junto ás indústrias e ás centrais de
transportes (bairros operários);

• A de gradação e pr ecar ie dade de st es bai rros , com ruas sem pavimento,


lamacentas e porcas, sem conforto, estética ou esgotos e iluminação;

• Os probl ema s de circu lação para fora e dentro da cidade, originados no


superpovoamento que atarracou as ruas;

• Os prob le mas de abas tec im en to no que concerne aos bens alimentares, água e
combustíveis

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AS CLASS ES BURGU ESAS

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A EVOLUÇÃ O DO MO VIM ENTO OPERÁRIO

Com a gravidade desta situação surgem as primeiras formas de organização social e as


primeiras formas de organização política. O poder político acaba por intervir na
regulamentação das condições de trabalho – acaba com os abusos de maior e institui um
esquema de protecção social.
Os intelectuais românticos e a Igreja, conscientes da “questão operária”, denunciavam-na. As
instituições para a protecção social dos pobres e oprimidos tentaram apoiar, mas com o
número de pessoas que se pretendia ajudar, os resultados não eram grandes.

As primeiras formas de solidariedade operária surgem da reactivação de práticas de


associativismo artesanal, agora com formas particulares de mutualismo e cooperação.

• Caixas Mutuár ias ou As socia çõe s de Socorros Mútuo s – sociedades


fraternas de trabalhadores que se ajudavam numa altura de crise económica. Os
associados pagavam uma quota determinada em valor e em prazo, e eram obrigados a
seguir regras de comportamento e conduta.

• Coop era tiva s – procuravam dar resposta ás necessidades de consumo dos


operários, produzindo e comercializando bens a preços competitivos sem lucros, ou
distribuindo-os por todos os cooperantes quando este existia.

Alguns patrões apercebendo-se que trabalhadores mais realizados eram menos


reivindicativos e mais produtivos, promoveram e financiaram formas de associativismo e
aceitaram negociar as primeiras concessões ao crescente movimento reivindicativo.

Mas a grande maioria dos patrões insistia na exploração brutal dos seus trabalhadores.
Assim, aumentam os movimentos de protesto e a luta operária sai à rua. A luta era
desorganizada, pelo que facilmente as autoridades policiais do estado Burguês as reprimiam,
prendendo os agitadores que eram então encarcerados, condenados a trabalhos forçados e até
à morte.
Era necessária organização a nível dos complexos industriais e depois, a nível nacional.
O sindicalismo, originário da Inglaterra, estende-se por toda a Europa e restantes
continentes do mundo. Vencido o medo, a ignorância, a desconfiança, a falta de
solidariedade e a ausência de consciência de classe, os sindicatos organizavam-se em
federações laborais e são reconhecidos como parceiros sociais pelos governos.
As acções de luta passam a ser conscientes e organizadas, e assim conseguem-se alguns
resultados importantes:

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• Direito à negociação e à celebração dos primeiros contratos colectivos de trabalho,


podendo negociar condições de trabalho, salários, horários, pausas, descanso e férias,
assistência na doença ou em acidente. O poder político reconhecia e conferia
carácter institucional a estes acordos;

• Be ne fício s de trabalho : redução de horas de trabalho para 10 e depois para 8


hora diárias; melhoria dos salários; proibição do trabalho de menores; um dia de
descanso semanal e férias; subsídios de carácter social; assistência na doença e na
velhice; direito a condições de higiene e salubridade no trabalho;
• Direito à greve, legitimamente fundamentada e organizada.

Na maioria das vezes estas conquistas não passavam do papel, já que as inspecções eram
anuladas pela corrupção generalizada.

Marx defendia que o movimento operário devia ser internacional e único. É sob a sua acção
que, em 1884, se reúnem em Londres trabalhadores e sindicalistas de vários países para o 1º
grande congresso operário. Formou-se a Associação de Trabalhadores, a I Internacional.
Marx pretendia unir partidos socialistas e forças sindicalistas à escala do globo e lançar o
operariado na luta política. Os progressos do movimento operário resultaram numa maior
consciencialização dos problemas laborais e na extensão e intensificação da luta sindical.
Ex. Importante – 1º de Maio de 1890 (defesa da jornada de 8 horas)

A DIFICIL E TARDIA INDUSTRI ALIZAÇÃ O EM POR TUGAL

O Fracasso da Polí tica Industria lizadora Se tembrista

No geral, na Europa do Sul, o arranque da Revolução Industrial foi mais lento. No nosso país,
devido à dependência dos produtos coloniais, ás invasões francesas (1807) e a independência
do Brasil, o arranque industrial foi ainda mais retardado. O fim da Guerra Civil (1834) e o
triunfo do Liberalismo foram o marco do início do processo de modernização.

Mas a instabilidade política causada pelas divisões entre Vintistas (Constituição de 1822) e
Cartistas (Carta Constitucional de 1826) não permitia que primeiros tempos do Liberalismo
triunfante fossem pacíficos.
A 9 de Setembro de 1836, depois de novas eleições, os deputados do porto chegam a Lisboa e
são recebidos com vivas à Constituição de 1822, pelo que causou constrangimento suficiente
para se proceder à demissão do governo cartista.
Nomeado outro, pelos princípios vintistas, foi elaborada uma nova Constituição em 1838.
Este governo foi apelidado de Se te mbri sta, e o termo Setembrismo designa os tempos
vividos entre 1836 e 1842.
Durante os seis anos de setembrismo, o Governo adoptou e praticou uma política económica
de doutrinas proteccionistas, especialmente visando o desenvolvimento industrial. Pass os
Manue l foi a imagem desta tentativa.

• Adoptaram-se práticas proteccionistas (Pauta Aduaneira de 1837) na tentativa de


travar a concorrência estrangeira e estimular os empresários portugueses;

Ana Seara 14
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• Lançou-se uma política de instalação de novas unidades industriais e de


desenvolvimento de sectores em decadência, com benefícios fiscais e subsídios
financeiros;

• Promoveu-se a exploração das colónias e o comércio colonial foi fomentado;

• Reformou-se a educação, abrindo liceus em todas as capitais de distrito e instituições


para a formação de operários especializados e técnicos fabris;

• Fomentou-se o associativismo entre os industriais para que fossem discutidos e


resolvidos problemas, trocadas experiências e definidas políticas de actuação;

• Facilitou-se a entrada de técnicos e tecnologia estrangeira e estimulou-se o espírito


inventivo português;

• Realizou-se a 1ª Exposição Industrial Portuguesa (1838) para divulgar


internacionalmente a produção nacional e promover a exportação.

Estas medidas fizeram desenvolver-se o sector de produção nacional. No entanto, o


Setembrismo acabou por fracassar já que em Portugal fa ltavam as cond içõe s
fundam en tai s para qualquer processo de modernização económica:

⋅ Não existia um forte núcleo empresarial, com suficiente capital acumulado e


mentalidade capitalista;
⋅ Não se investiu nas comunicações;
⋅ Não havia poderosas instituições de crédito;
⋅ A qualidade dos produtos era fraca, pelo que não conseguia impor-se no mercado
internacional, e mesmo no mercado nacional havia contrabando de produtos
estrangeiros a preços baixo devido à alta procura;
⋅ Algumas medidas proteccionistas não agradaram os grandes investidores, que
também não viam com bons olhos o patrocínio do poder político. Preferiam a
abertura comercial que consideravam ser mais lucrativa;
⋅ A crise da Superprodução (1836-37) levou as economias capitalistas a intervir com
maior agressividade na conquista e alargamento dos mercados, e Portugal não
resistiu;
⋅ A crise política que conduz à cisão do Setembrismo e abre o triunfo ao Cartismo, em
1842.

O Governo de Co sta Cabra l levou as tentativas industrializadores setembristas adiante e


solidificou-as. O novo Governo resolve então suspender o proteccionismo setembrista e
adoptar o modelo livre-cambista. Portugal abre-se à entrada de capitais estrangeiros. Podia
ter sido o início de um novo surto de desenvolvimento se as crises do capitalismo
internacional não afectassem o nosso país.
A crise sentiu-se a partir de 1846-47, e quase lançou Portugal numa nova Guerra Civil.

Ana Seara 15
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A Reg en eração: Af irmação do Ca pi tal is mo e m Portuga l?

Em 1851, após mais um golpe de Estado, Portugal vê que é altura de haver um entendimento
na governação.
É o período da Regeneração, o reconhecer da necessidade de instaurar a paz, a fraternidade e
a tranquilidade indispensáveis ao bom funcionamento das instituições capazes de lançar o
reino no progresso. É um período de menor vitalidade ideológica e de acalmia partidária. Os
dois partidos existentes alternavam no poder em consequência de eleições pouco claras. Era
um rotativismo monárquico que se manteve até à crise e derrube da monarquia, em 1910.

O rotativismo conferiu um certo triunfo à burguesia, que estando dividida pelos dois
partidos, estava sempre instalada no poder, gerindo o país de acordo com os seus interesses
económicos. Defendia-se o mod el o livr e-camb is ta como única forma de promover o
fomento da indústria, protegendo, ao mesmo tempo, o comércio.
Font es Per ei ra de M el o, que detinha a pasta das obras públicas, comércio e indústria, era
a imagem da Regeneração. Aproveitou a política de fomento de Passos Manuel, mas deu-lhe
um novo alento abrindo as fronteiras ao capital estrangeiro.
Assistiu-se:

⋅ Incremento da mecanização, com a importação de máquinas industriais e técnicas


para as fabricar no nosso país, e a incentivos aos inventores nacionais;
⋅ Aumento do vapor e da electricidade;
⋅ Aumento da produtividade industrial e assim, ao estimulo do consumo;
⋅ Crescimento das importações de matérias-primas;
⋅ Afirmação de novos sectores industriais (tabaco, moagem, cerâmica, vidro, cortiça,
fósforos, produtos químicos, conserva de peixe);
⋅ Crescimento do operariado em Aveiro, Braga, Castelo Branco, Leiria e Portalegre,
que se confirmam como centros industriais;
⋅ Promoção de exposições;
⋅ Lançamento de serviços de estatística, para previsão e planeamento;
⋅ Adesão ao sistema métrico decimal.

Também a educação era importante e foi tida em conta segundo o princípio liberal de
instruir e formar civicamente o Homem para o desenvolvimento imposto pelos novos
tempos. Assim:

⋅ Generaliza-se o ensino de novas áreas técnicas e científicas;


⋅ Reorganiza-se e reforça-se o ensino da agricultura (Inst. Agronomia e Veterinária,
Lisboa);

Ana Seara 16
Exame Nacional História

⋅ Reorganiza-se o ensino industrial com escolas de formação superior (Inst. Indust. Em


Lisboa e no Porto), e com escolas locais adequadas aos interesses económicos
específicos de cada região.

Na agr icul tura , as primeiras tentativas de introdução de práticas capitalistas passaram pela
modernização de algumas produções. Foi este o sector que mais suscitou o interesse do
conservador capitalismo português.
A grande novidade foi o facto do governo de F. Pereira de Melo perceber que não poderia
haver um verdadeiro mercado nacional, se não houvesse uma revolução nas comunicações.
Assim, ficou conhecida a política de fome nto das via s de co municação , na 2ª metade
do século XIX, como Fontismo:

⋅ A era do comboio teve início em 1856, ficando Portugal coberto por uma extensa
rede de vias-férreas;
⋅ A rede de circulação interna é melhorada com a construção de estradas
macadamizadas, complementada com a intensificação da navegação fluvial;
⋅ Foram levantadas pontes metálicas para que não houvesse obstáculos que
levantassem problemas;
⋅ Foram construídos novos portos, e os já existentes foram renovados;
⋅ Foi organizado o serviço regular de correios, o telégrafo eléctrico é aberto ao público
(1857) e a rede telefónica arranca (1882).

Ainda assim, o projecto regenerador não se cumpriu:

⋅ O baixo poder de compra da população mantinha o mercado interno no seu estado


débil;
⋅ As matérias-primas e as máquinas mais importantes tinham de ser importantes;
⋅ Foram construídos novos portos, e os já existentes foram renovados;
⋅ Dependia-se das práticas livre-cambistas para fazer entrar os produtos nacionais no
reino da produção estrangeira, onde os produtos eram de maior qualidade e menor
preço – só assim se garantia a exportação de produtos portugueses (agrícolas);
⋅ A burguesia preferia ainda apostar nos investimentos nas actividades agro-mercantil
e especulativa, ficando assim o sector agrícola em desenvolvimento, mas não ao nível
do resto da Europa;
⋅ As populações rurais não se deixavam atrair pelos centros industriais;
⋅ O Governo não contava com capitais nacionais, pelo que tinha de recorrer aos
capitais estrangeiros e pagar altos juros.

Portugal caía na de pe nd ênc ia do cap ita li smo int er nacio nal , aumentando os
investimentos estrangeiros e a dívida externa. A importação de capitais estrangeiros
implicava a importação das crises do capitalismo, como se sentiu entre 1873 e 1896 devido:

⋅ À quebra de remessas dos emigrantes brasileiros, cuja moeda desvalorizou com a


crise politica respeitante à proclamação da república;
⋅ À falência da Baring and Brothers, a instituição financeira de que dependia o sistema
financeiro nacional.

Ana Seara 17
Exame Nacional História

As receitas diminuíram, as despesas não eram cobertas e a dívida externa tornou-se


insolvente – o Estado português entrava em processo de falência. Uma vez que a exposição
ao capital estrangeiro se mostrava um risco forte, o Governo volta ao modelo proteccionista
para relançar a produção nacional com recursos nacionais. Assim:

⋅ Foram introduzidas novidades tecnológicas para modernizar unidades produtivas


existentes e criar outras (têxteis algodoeiros e industrias do vidro);
⋅ A população urbana cresce;
⋅ Criam-se regiões industriais (Lisboa – Barreiro – Setúbal e Porto – Guimarães –
Braga);
⋅ Desenvolvem-se grandes companhias.

Assistia-se ao fomento económico ao mesmo tempo que a uma actividade financeira intensa
que favorecia as actividades financeiras. A liberalização da criação de sociedades anónimas,
em 1867, garantiu a proliferação de bancos e casas bancárias, sociedade de capitais.
No final do século, os investimentos são canalizados para as áreas coloniais (transportes
ultramarinos e exploração agrícola). Constituem-se grandes companhias coloniais.
O sector industrial, em segundo lugar, motivou a criação da exploração (Companhia dos
Tabacos e Companhia União fabril).
Em terceiro lugar, o sector dos transportes e comunicações, o sector dos seguros, serviço de
abastecimento de água, electricidade e gás, originaram a formação de companhias para a
exploração dos respectivos sectores económicos.

A Socie dad e Libe ral Por tugue sa

A burguesia foi de facto o grupo social que mais vantagem teve no século XIX. Politicamente
pela instituição de um regime parlamentar e com a publicação da constituição;
economicamente com a apropriação da maioria dos bens nacionalizados e outras medidas
legislativas favoráveis aos seus interesses; e socialmente pela construção de uma burguesia
activa e empreendedora. O triunfo do Liberalismo deixou transparecer o seu carácter
conservador, com a formação de uma elite de burgueses donos de propriedades rurais que
lhes garantiam títulos de nobreza. Eram a nova aristocracia, uma oligarquia de barões do
liberalismo que o estado incentivava através da concessão de títulos nobiliárquicos.
Concorria com a nobreza tradicional, chegando a mesmo a se impor devido à transferências
políticas. A Regeneração também alentou a criação desta elite, concedendo-lhe novas áreas
de investimento. O caciquismo era frequente entre esta aristocracia, mais no mundo rural,
onde os proprietários dominavam o poder local e se aproveitavam da população pobre e
analfabeta para conseguir votos que garantissem lugares políticos de maior relevância.

O Êxodo Rural foi lento. A partir da década de 70, verificou-se algum crescimento em
cidades como Lisboa ou Porto, mas nada a que se possa chamar “explosão demográfica”.
A classe média tinha as mesmas características e modos de vida das classes médias europeias
– um grupo social urbano, acomodado em tempos de prosperidade, e reivindicativos em
tempos de dificuldades económicas.

O operariado, em finais de século não tinha muita expressão na sociedade portuguesa. Os


seus problemas eram os mesmos dos restantes países europeus, mas só no último quartel do
século se afirma uma consciência de classe. O acelerar do processo industrializador, o

Ana Seara 18
Exame Nacional História

aparecimento do Partido Socialista (base popular) e os movimentos anarquistas de fraca


implantação foram factos que coincidiram com as primeiras manifestações de afirmação. Em
meados do século aparecem as primeiras formas de mutualismo e outras associações de
classe, surgem as primeiras associações sindicais e aumentam as greves e as contestações
sociais. (de 1870 em diante…)

Para a maior parte da população rural, o liberalismo foi mais desvantajoso que vantajoso.
Enquanto a burguesia liberal crescia, os pequenos proprietários e vendedores agrícolas caíam
em declínio. A solução que se apresentava era a emigração, sendo o Brasil o país que se
apresentava mais atraente para lavradores e camponeses, especialmente do norte do país.
Em caso de sucesso, estes emigrantes contribuíam com as suas remessas de capitais para
financiar grande parte dos empréstimos contraídos no estrangeiro e compensar os défices da
balança comercial.

Ana Seara 19
Exame Nacional História

O AP ERFEIÇ OAM ENT O DAS DEMO CRACIAS L IB ERAIS DO OCID ENTE

As Co ntra diçõ es das De mocrac ias Lib erai s

Nas primeiras décadas do século XX, os países europeus, principalmente os da Europa


Ocidental, estavam organizados em monarquias constitucionais ou repúblicas graças ao
liberalismo dominante na época. Nestes países, o carácter liberal do regime político que
seguiam foi factor determinante no seu próprio desenvolvimento económico. A
superioridade do sistema político liberal traduzia-se, então, no poder civil que se sobrepôs ao
religioso; no reg im e pa rla me ntar que submetia os actos do governo e da Administração;
na plural idad e do s par tido s po lít ico s e na existência de ele içõ es li vre s.
Contudo, este primeiro liberalismo ostentou um cariz principalmente burguês que
protegia as classes dominantes da sociedade (plu tocrac ia ), e apresentava contradições
como:

• A adopção do voto cen si tár io ma scul ino , que excluía a grande maioria da
população, como as mulheres e aqueles cujo rendimento fosse inferior a uma
determinada verba (operários, burguesia empobrecida, camponeses). Assim, mais de
80% da população ficava impedida de votar;

• As restrições impostas ao exercício de cargos políticos, visto que se exigia a boa


preparação escolar e se obrigava á posse de fortuna pessoal e disponibilidade de
tempo, uma vez que os cargos políticos não eram remunerados;

• A dif iculda de na for mação de part ido s, pois só com o apoio de poderosas
estruturas organizativas e verbas elevadas é que os partidos se poderiam implantar
junto dos eleitorados. Assim, apenas as ideologias dos mais ricos obtinham o apoio á
sua propaganda.

• A existência de uma câmara não ele ct iva , constituída por nomeação real ou
governamental, representativa da Nação e que dominava claramente os deputados
eleitos pela soberania popular.

Uma vez que as classes inferiores estavam privadas da vida politica, a maioria dos regimes
liberais europeus praticava o bi part idar is mo , com uma facção conservadora e outra facção
liberal que alternavam no poder (ro tativ is mo ). No entanto, as ideias provenientes de cada
facção não se opunham verdadeiramente nem estabeleciam grandes alterações em relação
uma á outra pelo que os governos se apresentavam letárgicos e passivos.

Ana Seara 20
Exame Nacional História

Assim se foi originando um descontentamento geral, fruto da crescente desigualdade


económica e social que o liberalismo capitalista fomentava e dos entraves á prática politica
por parte das populações. Surgem então novas forças político-ideológicas, como:

• O anarqui smo - Radical, rejeitava a propriedade, a religião e o Estado, colocando


como base do organismo social apenas o sindicato.

• O so cia li smo - Defendia a ditadura do operariado, a abolição da propriedade


privada e a colectivização dos bens .

• O republicanismo- repousa na igualdade social e na liderança da nação por um


O ape rfe içoa me nto do Si st ema Rep re se nta tivo
titular, individual ou colectivo, cuja magistratura é electiva e temporária.
As primeiras reformas democratizantes do liberalismo ocorreram, de uma maneira geral,
entre 1860 e os primórdios do século XX. Refiram-se as mais importantes:

• A adopção do sufrá gio univ er sal , depois da anulação da franquia censitária, da


diminuição da idade legal para votar e do alargamento do voto ás mulheres, que
estenderam o direito de voto á população em geral;

• A re mune ração do s car gos po lít icos pelo Estado, abrindo ás classes mais pobres
o exercício de mandatos políticos;

• A con st itu ição dos pri me iro s par ti dos de mas sa s (dependem da adesão
popular para se instituir), que substituíram os partidos de quadro (associações de
personalidades para fins eleitorais), e que se sentiam mais comprometidos perante as
populações no cumprimento dos seus programas políticos;

• A abolição das câmara s ele ct iva s, que foram substituídas por câmaras electivas
e assim melhor representativas da vontade da nação;

• A adopção do sis te ma de re pr es en tação prop orcio nal (em detrimento do


sistema maioritário que excluía os partidos menos representados) que permitiu o
assento no Parlamento de todas as tendências políticas;

• A subm is são do po de r exe cutivo á vig il ânc ia e con trol o dos


par lam en tos ;

• A institucionalização do se gr edo d e voto como garantia da sinceridade e liberdade


do acto eleitoral;

• A admissão do jul game nt o po r júr i civ il que tornou as decisões imparciais e


mais justas.

As Reforma s Socia is

Para diminuir e acalmar a agitação social, muitos governos empreenderam algumas reformas
da legislação laboral e da assistência social, tais como:

Ana Seara 21
Exame Nacional História

• A leg al ização da jo rnada de trabalho de oito horas, que permitiu a negociação


de contratos de trabalho; (França)

• Reformaram-se os impostos sobre sucessões e sobre rendimentos, tornando-os


progressivos e mais justos; (Bélgica)

• Formam-se os del ega dos si ndi cais que, em cada empresa, velavam pela qualidade
e justiça no trabalho; (Inglaterra)

• Iniciam-se os se guro s prof is si ona is e o subsíd io d e em pr ego .

• O ens ino pri már io passa a obri gató rio , fundam-se mais universidades e escolas.

A IMPLANT AÇÃ O DA 1ª REPÚBLI CA EM PORTUGAL

Introduzida em meados do século XIX, pelos intelectuais da Geração de 70 e pelas


Conferências do Casino, a ideologia republicana implantou-se na sociedade portuguesa após
a fundação do Part ido Re publi cano , em 1876 . A sua rápida difusão deveu-se aos
seguintes factores:

• Ao cansaço que o país evidenciava em relação á politica dos últimos ministros da


monarquia e ao rotat ivi sm o b ur guês e conservador que vigorava no Parlamento;

• Á vergonha e humilhação, causada pelos episódios do Mapa Cor-d e-rosa e do


ultimato inglês, associadas á monarquia;

• Á incapac idad e de ge st ão econó mi ca do Governo que originou um perigoso


atraso produtivo com um défice orçamental crónico, uma continua inflação dos
preços e a alta dos impostos.

• Á car es tia e má q ual idad e d e vida das populações.

Assim, o regime republicano implantou-se em Portugal com o gol pe de Esta do de 5 de


Outubro de 191 0, após o assassinato do rei D. Carlos, que tentara reger em ditadura, e do
príncipe herdeiro D. Luís Filipe. O 5 de Outubro foi planeado pelo Partido Republicano
Português que teve o apoio de associações secretas como a Maçonar ia e a Carbo nária e
também das forças armadas, lideradas pelo al mi rant e Când ido Rei s, e de largas camadas
de populares, encabeçadas pelo médico Mi gue l Bo mbarda , que obtiveram fraca resistência
por parte das forças monárquicas.

Em 1911 aprova-se uma nova Con st itui ção , cujas ideias principais são:

• O direito á liberdade, á segurança á propriedade e á igualdade pela negação de todos


os privilégios de nascimento, como por exemplo os títulos;

• A la ic ização do E stado que determinou o direito á liberdade e igualdade religiosa


e resultou na expulsão das ordens monásticas, cujos bens foram nacionalizados, na

Ana Seara 22
Exame Nacional História

determinação do ensino laico e do casamento e divórcio civis, bem como na


obrigatoriedade do registo civil.

• A repar ti ção do pode r ex ecut ivo pe lo Gov erno e pe lo pre si de nt e da


Repúb lica e do judicial pelos tribunais, que decidiam sobre os crimes políticos.

• A atribu ição do pod er le gi sl at ivo ao Co ngr es so da Repúbl ica , dividido em


duas câmaras eleitas por sufrágio directo: O Sena do , constituído por senadores
maiores de 35 anos e com mandatos de seis anos e a Câma ra do s De putado s,
formada por deputados maiores de 25 anos, eleitos por três anos. As competências do
Congresso eram: a elaboração da legislação geral e a sua votação, a decisão sobre
matérias governativas e administrativas, a eleição ou destituição do Presidente da
República, e a supervisão do Governo constituído, sendo os ministros obrigados a
comparecerem ás suas sessões.
- O pre si de nt e da Re publi ca era eleito pelo congresso por um período de 4 anos, sem
possibilidade de reeleição imediata. Ele não sancionava as leis nem as vetava; não podia
dissolver o Congresso nem adiar as suas sessões. Competia-lhe apenas a promulgação das leis,
a nomeação do Ministério e a representação do Estado.

- O Min is té rio era formado pelos ministros nomeados pelo presidente da República e
responsáveis perante o Congresso pela gestão da sua pasta política. O Ministério era chefiado
por um primeiro-ministro, igualmente nomeado pelo presidente da República, e que
respondia pela politica global dos seus ministros.

As dificu ldad es gove rnat ivas

O Part ido repub lica no po rtugu ês apresentou, logo nos primeiros anos de república,
divergências resultantes de questões entres seus dirigentes e a dificuldade em cumprir o seu
programa. Destes desentendimentos resultou a desagregação do Partido republicano
português em novos partidos rivais:

• Part ido de mocrá tico - Afonso Costa- mais esquerdista


• Part ido Prog re ss is ta - António José de Almeida
• Part ido Uniu ni sta - Brito Camacho- mais conservador

Para além da desagregação ideológica, a Republica portuguesa também sofreu com:

• A entrada de Portugal na Iª guerra que originou várias dificuldades políticas,


económicas e sociais, como o crescente déf ic e na Bala nça Com erc ial , o atraso
industrial e a resistência agrícola á modernização, que levaram o país ao
endividamento externo.

• A oposição ao regime ia crescendo, constituída pela Igreja, pelos descendentes da


antiga nobreza, pelos monárquicos e pela alta burguesia- das finanças, do comércio e
da indústria- que se rebelavam contra o carácter demasiado popular e social da nova
legislação. Em 1917 vamos assistir a uma revolta militar comandada por Si dón io

Ana Seara 23
Exame Nacional História

Pais que assume o Governo sob a forma de uma ditadura que faz grandes restrições
ás liberdades individuais.

• Os militares intervieram na vida política ocupando cargos de ministros e de 1º


ministros até. São estes militares que provocam as mudanças de governo, e de 1910 a
1925 houve em Portugal 8 pre si de nt es e 45 gov er nos , o que demonstra bem a
instabilidade que se vivia.

Apesar dos aspectos negativos, a 1ª Republica portuguesa realizou importantes reformas


legislativas. Destacamos algumas das mais importantes:

• No campo do Trabalho, estabelece-se o dire ito de c es sação do traba lho (greve),


a obrigatoriedade da semana de 6 dias de trabalho com descanso ao Domingo e a
obrigatoriedade do seguro social para acidentes de trabalho, doença e velhice;

• No campo da assistência e da previdência social, estipulou-se a criação do fundo


Naciona l de As si st ên cia , destinado a socorrer indigentes e a combater a
mendicidade;

• No domínio familiar, a república instituiu a obrigatoriedade do casamento por


celebração civil, legislou sobre os direitos dos filhos e sobre a adopção, concedeu
alimentos e socorros ás mães com filhos ilegítimos e protegeu a condição feminina
(sem, no entanto conceder o direito de voto á mulher);

• No campo da instrução, legislou-se sobre o ensino que se tornou gratuito e


obrigatório até aos 10 anos de idade, promoveu-se a construção de mais escolas e
aumentou-se o vencimento dos professores. Fundam-se novos Institutos Superiores,
Universidades e traduzem-se mais livros.

A QU EDA DOS IMPÉRI OS E A LIBERT AÇÃ O NOS EST ADOS


AU TORIT ÁRIOS

O a uto ri tari smo nos imp ér ios

Apesar da expansão das ideias liberais, alguns Estados e nações europeias, principalmente do
Leste da Europa continuaram no antigo Regime: o Império Austro-húngaro, o Império
Otomano, o Império Russo e o Império Alemão. Todos estes impérios vivem situações
semelhantes em termos políticos, económicos e sociais que levarão, posteriormente, á
Primeira Guerra Mundial:

• Economicamente, a agricultura, o principal sector de actividade, era pouco


modernizada e mercantilista e efectuada em propriedades tradicionais já que os
camponeses se encontravam cheios de impostos, factos que davam origem aos baixos
níveis de produção. A indús tr ia estava muito at rasada e a fraca produção interna
ditava o deficiente comércio exterior e a dep en dê ncia dos fi nanc iame nt os
es tra ng ei ros . O capitalismo era, pois, muito incipiente.

Ana Seara 24
Exame Nacional História

• Socialmente, a maior parte da população era rural e havia poucas cidades e poucos
operários fabris. Predominavam as el it es trad icio nai s- a aristocracia, a nobreza e
o clero que continuavam social e politicamente dominantes.

• Politicamente, os Estados punham dificuldades em aceitar as ideias liberais, que


consideravam radicais, adoptando algumas medidas pouco significativas para se
democratizarem aos olhos do povo. Todavia, o carácter oligárquico/autocrático dos
seus regimes manteve-se, porque:

- As constituições adoptadas favoreceram largamente os poderes reais e concederam ao


poder executivo (reis) a supremacia sobre os parlamentos e os tribunais;

- O acesso ao sufrágio era grandemente limitado (censitário);

- As condições de elegibilidade para cargos políticos e administrativos favoreciam as antigas


elites;

- Os monarcas, apoiados pela Igreja e pela nobreza armada, exerciam uma forte repressão
ideológica e uma apertada fiscalização politica.

Imp ér io Russo

A Rússia mantivera-se uma mo narquia abso luta , fortemente centralizada em torno


do czar, pelo que se encontrava economicamente bastante atrasada, mesmo feudal, em
termos industriais (só iniciou a industrialização em 1870) e agrícolas. Em finais do séc.
XIX havia ainda uma escravatura de 90% da população (os mujiks ou servos da gleba),
pelo que a esperança média de vida rondava os 30 anos. Assim, deram-se alguns conflitos
que contribuíram para a agitação social dentro do império:

• As grand es fom es de 1890- 91 originadas pela crise agrária e insuficiência


agrícola. Mesmo depois da abolição da escravatura (1861) a vida dos camponeses
continuava miserável, resultante do crescimento populacional e das dificuldades na
alimentação;

• A derrota do czar na Guer ra R usso- japo ne sa de 1904-05;

• A entrada na Gran de G ue rra;

• A transformação do regime numa monarquia constitucional representativa, que


funciona com duas câmaras (O Conselho de Estado e a Duma, cujos deputados eram
eleitos pelas classes por sufrágio indirecto e censitário) mas que continuava a
conceder amplos poderes ao monarca.

Posteriormente, crescem as massas burguesas e o operariado urbano que vão constituir a


principal oposição ao regime czarista.

Ana Seara 25
Exame Nacional História

Imp ér io Aust ro-Húngaro

Inicialmente tradicional e atrasado, sob a alçada de uma mo narquia duali sta (1867), o
império Austro-Húngaro iniciou a sua industrialização com ajuda de capitais franceses e
alemães, aumentando o equipamento fabril, construindo bancos e desenvolvendo novos
sectores. Isto fez aparecer as massas burguesas, enriquecidas pelo comércio e indústria, e
também o operariado cujas reivindicações se fizeram sentir de imediato. Contudo, o império
sofria de problemas internos agravados:

• Era composto por checos, romenos, húngaros, polacos, sérvios, croatas, bósnios etc.,
povos unidos pela figura do imperador, mas que queriam a independência e o
reconhecimento da igualdade pela transformação do império numa confederação de
Estados (Congresso de Viena- 1815). As gentes pediam também a institucionalização
da liberdade e da democracia liberal.

• Sofria devido a greves, manifestações terroristas, perseguições policiais, enfim uma


má condição de vida, resultantes da entrada do império na Grande Guerra.

Imp ér io Al emão

Unificado pelo chanceler prussiano Otto Bismarck (1871), o império Alemão constituía-se
numa Co nfe de ração de 22 Esta dos mo nárquico s e 3 cida de s livr es dirigidos pelo
Estado prussiano. Aqui, o imperador e o chanceler, apoiados pela aristocracia, Igreja,
Exército e pela alta burguesia, exerciam o poder executivo controlando a vida pública,
fiscalizando a acção politico-partidária, censurando a imprensa e a oposição, mesmo apesar
da existência da Re ich sta g (Assembleia de deputados federais) e do Rei chsra t (Conselho
do Estado Federal). O império tornara-se na segunda potência mundial, munindo-se do
crescimento do sector dos serviços e da modernização industrial/comercial que
condicionaram o aparecimento de um proletariado numeroso e de uma numerosa população
urbana mas, em 1909, eclodem os problemas:

• As populações exigiam o es tab el ec im en to do sufrág io univ er sal e directo, a


suavização dos impostos e uma nova divisão das circunscrições eleitorais;

• Verificava-se um forte nacio nal is mo que se pretendia numa tendência


expansionista, com a formação de colónias e mesmo o domínio mundial
(weltpolitik);

• Viviam-se inúmeras grev es e ten sõe s pol ít icas violentas resultantes do avanço
da esquerda socialista.

A Pr ime ira Gue rra Mund ial (1914- 1918)

A grande responsável pela Guerra será a Áustria, visto que a família Austro- húngara será
assassinada. Desconfiou-se que o responsável pelo atentado fosse um sérvio e a Áustria
apresentou á Sérvia um Ultimato que resultou numa guerra que seria fácil de ganhar se não

Ana Seara 26
Exame Nacional História

fosse o sistema de alianças. E o que parecia um problema de fronteiras tornara-se numa


guerra alargada á escala mundial que, no final, causa mais de 15 mil milhões de mortos.
Assim, podemos distinguir 2 alianças económicas ou de protecção, que se vão revelar os
principais blocos guerreantes:

• Trí pl ice Al iança - Alemanha, Austro- Hungria e Itália.

• Trí pl ice En te nt e - França, Rússia(sai em 1917) e Inglaterra


(aderem á causa, Portugal, Irlanda, Holanda, Bélgica, Sérvia e E.U.A, que aderem em
1917).

Em 1917 os E.U.A, juntamente com as tropas francesas e inglesas, conseguem a rendição da


Alemanha, da Turquia (império Otomano) e da Áustria que se vêem obrigados a cumprir o
Trata do de Ver salh es , assinado em 1919, cujas cláusulas principais exigiam a destruição
dos impérios autocráticos e ditatoriais e o reconhecimento do direito dos povos á
autodeterminação e á sua formação em novos Estados.
Assim, surgem novos países como a Hungria, a Áustria, a Lituânia, a Checoslováquia, a
Jugoslávia, a Estónia, a Letónia, a Polónia e a Sérvia, Roménia e Bulgária (saídas do império
otomano), a Bélgica e a Holanda (saídas dos países baixos); desaparecem várias monarquias
dando lugar a mais republicas; a Grécia e a Irlanda tornam-se independentes bem como
algumas colónias de África; muitas monarquias dão origem a repúblicas.
O EXPANS ÃO DO SOCI ALISMO

O socialismo surge no século XIX como uma ideologia politica em resposta aos problemas
sociais surgidos com a industrialização: os excessos capitalistas, o poder burguês e o
liberalismo económico que dificultavam a vida dos trabalhadores. Assim, o socialismo tinha
como principais inovações:

• O princípio de que a lib er dade ind ividua l não se deve sobrepor ao bem comum,
o que significa submeter o individuo á sociedade;

• A abol ição da pro pr ieda de privada e a col ec tiv ização do s ben s como meio
de obter uma distribuição das riquezas mais justa e estabelecer uma sociedade mais
igual;

O Socia li smo Utó pi co

As primeiras ideias socialistas foram designadas de utópicas por constituírem apenas um


conjunto de reflexões pessoais éticas. Os principais socialistas utópicos foram:

• Sain t-Si mon - nobre e liberal francês que propões uma sociedade sem exploradores
nem explorados e em que a hierarquização se fizesse de acordo com as capacidades
de cada trabalhador. “O Estado deve ser o regulador da economia”.

• Rober t Ow en - industrial inglês que incentivava á colectivização do trabalho


através da associação dos trabalhadores em cooperativas, a fim de conseguir melhor
produção e distribuição mais justa dos lucros. Defendeu a abolição da propriedade

Ana Seara 27
Exame Nacional História

privada. “O Estado deve abolir o lucro e redistribuir a riqueza através das


corporações”.

• Charl es Fouri er - burguês francês, propôs a transformação da sociedade numa


federação de pequenas comunidades fechadas (falanstérios) em que empregados e
patrões viveriam em harmonia, produzindo e consumindo igualmente.

• Proudhon - fundador do anarquismo, propôs a eliminação da grande propriedade


capitalista e a formação das associações Mútuas. Cada trabalhador deveria ter a sua
propriedade, na qual seria patrão de si mesmo. O poder político estaria nas mãos dos
trabalhadores associados, pelo que o Estado não existiria.

Desenraizado da realidade económica e política vivida na época, e demasiado teórico para ser
entendido pelos operários, o socialismo utópico não teve grande adesão juntos dos
trabalhadores e as experiências concretizadas falharam ou acabaram na falência.

O Socia li smo Cie nt ifi co

O Socialismo cientifico teve como principais teorizadores Karl Marx , filósofo, político e
historiador, e Fri edr ich En ge ls que reuniram as suas ideias na obra O Manifesto do
Partido Comunista, em 1895 . Denomina-se de socialismo científico porque as suas bases são
racionais e os seus objectivos e meios de luta são claros.
As suas ideias partem do principio a que chamou de ma te ria li smo dial éc tico , cuja
principal conclusão é a de que a sobrevivência humana depende sobretudo da economia
(motor da História) e que é ela que determina as relações sociais e politicas de determinada
sociedade, pelo que a melhor maneira de manter as classes em harmonia, assegurando a
sobrevivência de todos, seria a abolição do ca pi tal is mo (pela ditadura do proletariado) e
a ado pção do comuni smo que, através da concentração dos meios de produção no Estado,
asseguraria a boa relação sistema produtivo-politico. Só assim o Homem seria finalmente
livre e todas as diferenças e antagonismos sociais se extinguiriam.

Porém, haviam alguns entraves á identificação entre socialismo e movimento operário que
atrasaram muito o processo:

• Os movimentos operários actuavam unicamente em torno de reivindicações salariais


e profissionais, não se expressando em termos políticos;

• A fraca pre paração esco lar e in te le ctual das camadas operárias limitava a
compreensão e adesão dos trabalhadores;

• A mul ti pl ici dade da s ten dê ncia s socia li st as fraccionava as camadas


populares, pelo que era difícil angariar pessoas.

Mesmo assim, o socialismo conseguiu avançar, fornecendo ao movimento operário uma


ideologia estruturada, um sistema rigoroso de análise da realidade sociopolítica-económica e
uma metodologia de acção bem como ajudou a reforçar a união entre os trabalhadores. Os
principais focos das ideias socialistas foram as Int er nacio nais Ope rária s onde se

Ana Seara 28
Exame Nacional História

procurava a consciencialização dos trabalhadores para os seus objectivos. No entanto, foi


também nestas reuniões que o movimento socialista encontrou a sua cissão.

• Na I In te rnac iona l (1864) registaram-se violentas disputas entre o marxismo


(Marx), que considerava a luta politica indissociável da luta económica e incentivava
á imediata revolta das classes proletárias, e o anarquismo (Bakunine) que incentivava
á luta económica directa.

• Na II In te rnac iona l (1889), surgiram diferentes interpretações das políticas


marxistas e a opinião de que o proletariado ainda não estava preparado para a
imediata luta de classes. Surge também a te nd ênc ia re form is ta que apenas
pretendia a elaboração de reformas (alargamento do sufrágio, oficialização do
movimento operário, legalização dos partidos operários) não considerando necessário
a total reformulação do sistema politico-económico vigente e rejeitando a violência e
radicalismo das soluções marxistas. Jea n Jauré s e Eduar do Be rns te in foram os
principais revisionistas/reformistas que defenderam posições mais democráticas.

• Na III In te rnac iona l (1919) estão consolidadas as duas novas correntes do


socialismo: o marxismo-leninismo, que defendia a via radical e violenta da luta de
classes e da ditadura do proletariado para a construção da sociedade socialista, e a do
socialismo democrático que aceita a critica marxista á sociedade capitalista, mas que
rejeita os meios violentos e acredita na obtenção de reformas sucessivas e graduais,
no quadro democrático parlamentar.
O MODELO SO VIÉ TICO
As Revoluçõ es Social is tas

As causas que levaram á revolução socialista na Rússia foram, principalmente:

• A participação na Grande Guerra e o elevado número de mortos;


• A inflacção e a carestia;
• A baixa da produção agrícola e industrial, resultante da mobilização das tropas;
• As restrições materiais e os sofrimentos morais infligidos pela guerra
• A violenta resposta do czar ás massas populares suplicantes (Domingo Sangrento), a
Fevereiro de 1917, e a sua decisão em encerrar a Duma.

1ª fas e- A 22 de Fevereiro de 1917 alguns burgueses apoiados por parte das forças do
czar e pelo povo, tomaram a cidade de Petrogrado e forçaram Nicolau II a abdicar da
coroa- Revo lução Burgu esa . Criou-se um governo provisório liberal parlamentar
constituído por deputados dos soldados e operários da cidade, e por um comité
Executivo, eleito entre eles, liderado por um menchevique e um socialista- o Soviete. As
principais medidas tomadas foram a separação do Estado em relação á Igreja, a
introdução do júri nos tribunais, a eleição por sufrágio universal, a adopção da jornada de
8 horas para o operariado.

Entretanto os sovietes opuseram-se ao governo provisório, exigindo a paz imediata, a


liberdade para as nacionalidades, a nacionalização das terras, bancos e das grandes
indústrias e o controlo da produção pelos operários. Assim, o Soviete de Petrogrado,

Ana Seara 29
Exame Nacional História

liderado pelos bolcheviques Lenine, Trotsky e Estaline (membros da ala esquerda do


Partido Social Democrata), fez concorrência á Duma o que originou um clima
revolucionário, visto que as decisões eram morosas: as actividades económicas
paralisaram e a miséria instalou-se dando origem a guerras civis.

2ª fas e- A 24 de Outubro de 1917 os bolcheviques enviam os Guardas Vermelhos


(milícia popular comandada por Trotsky) para ocupar as instalações do governo e tomar
o Poder- Revo lução Bo lchev ique . Mais tarde instaurou-se o marxismo- lenismo
(Revolução Socialista) cujos objectivos eram: a ditadura do proletariado, transição do
capitalismo para o comunismo, criação de uma sociedade sem classes cujo poder
económico residisse num Estado centralizado e ditatorial.

3ª fas e- No final de 1917 o Con gre ss o do s Sovie te s assumiu o poder legislativo e a


Rússia torna-se numa República Soviética. Negociou-se a paz com a Alemanha e
tomaram-se medidas para combater o clima de guerra interna:

• A destruição do sistema capitalista e a colectivização de toda a economia, pela


nacionalização de todos os meios de produção;

• O Estabelecimento dos “Dir ei to s do Povo Russ o”, que procurava acalmar as


nacionalidades do Império;

• A adopção de um único part ido pol ít ico o Partido Comunista russo (ex-
bolchevista), e a constituição da policia e da censura politica;

• A organização dos vários sovietes numa hierarquização em pirâmide. No topo estaria


a Assembleia do Congresso dos sovietes, de onde saía por eleição, o Conselho dos
Comissários do Povo, supremo órgão executivo cuja presidência foi entregue a
Lenine, tendo Trotsky como comissário da Guerra e Estaline o das Nacionalidades.

O Progr es so R us so na era Es tal in is ta

Em 1924 Lenine morre e Estaline, beneficiando dos poderes que os cargos de Comissário das
Nacionalidades, da Fiscalização do Estado e Secretário-geral do Comité Central do Partido
Comunista lhe conferiam, ascende e afasta os seus opositores políticos. Em 1927 controla
sozinho o Partido Comunista da União Soviética (PCUS) e acumula mais poderes. Ainda que
de modo repressivo e autoritário, Estaline vai ser o responsável pelo progresso russo:

• Coube-lhe a concretização social e económica da revolução comunista;

• Presencia a industrialização rápida do seu país, e a sua ascensão a potência mundial;

• Alargou a solidariedade entre as nações soviéticas;

• Organizou o partido e burocratizou o Estado;

• Aboliu a propriedade privada e organizou as terras agrícolas em cooperativas de


exploração (kol khoz es ) e organizou as terras abandonadas em sovkho ze s-

Ana Seara 30
Exame Nacional História

propriedades estatais exploradas por camponeses assalariados, de modo a colectivizar


a agricultura;

• Na área da Indústria, elaborou os Planos Quinque nai s (5 anos): o 1º que


privilegiou a indústria pesada, os transportes e a produção agrícola, o 2º que deu
prioridade á indústria ligeira (têxteis e alimentos) e á criação de gado de modo a
proporcionar á população produtos de consumo a baixos preços e uma melhor
qualidade de vida e o 3º plano que incidia sobre as indústrias químicas e a produção
energética.

O Tota li tar is mo Es tal in is ta

O centralismo económico do Governo estalinista correspondeu a um igual centralismo


político que se efectuou através do poder crescente do partido único sobre as instituições do
Estado e da administração. Assim, gerou-se um regime que se organizava sobre 2 linhas de
actuação politica e virtualmente contraditórias:

• A li nha de mocrát ica - que atribui o sufrágio universal á população da URSS e


instituía os órgãos do poder politico e administrativo (os Sovietes) de acordo com a
vontade da maioria, expressa em eleições que permitiam que cada estádio de poder
elegesse o que lhe estava imediatamente acima;

• A li nha auto ri tária e centralizadora, que obrigava todos os órgãos políticos a


obedecerem á rigorosa hierarquização das instituições, o que colocava todos os
órgãos locais de todas as repúblicas soviéticas e de todas as nacionalidades da URSS
sob o poder do PCUS.

AS CONSE QUÊN CIAS DA GRANDE GUERRA

Finda a guerra de 1914-18, a economia mundial entrou num período de grande instabilidade
que se deveu á difíc il recon st rução e reco nve rsão eco nóm icas , que trouxeram o
en div idam en to , a desva lor ização mon etá ria e a infla ção . A conjugação destes
factores gerou graves crises nos países que entraram na guerra e levou também á
de sor gani zação do com érc io int er nacio nal atingindo, assim, mesmos os países
neutros.

A cri se bols is ta d e 1929

Nos Estados Unidos da América, a economia sofreu quando os países da Europa deixaram de
importar produtos para se regenerarem da guerra. Então, conjugando a subida dos preços
Cri se

com as ajudas monetária dos E.U.A á Europa, a diminuição do consumo gerou, logo em
1920-21 , uma pr im eira cri se mo ne tár ia (acumulação de stocks, falências, desemprego,
deflação…).

Seguiu-se um período de recuperação pela es tabi li zação das moe das (Conferência
Internacional de Génova), pelo abandono do esta lão-ouro (convertibilidade da moeda
Recup eraçã

em ouro) e pelo paga me nto esca lona do das dívi das de guerra. Assim, na segunda
o

Ana Seara 31
Exame Nacional História

metade da década de 20, acentuou-se o crescimento e o desenvolvimento económico através:


do desenvolvimento técnico, exploração de novas fontes de energia, aperfeiçoamento do
processo produtivo (taylorismo), exploração de novos ramos industriais, relançamento da
agricultura, incentivo ao consumo em massa pelo aumento das vendas a crédito e da
publicidade e incremento das operações bolsistas.

Contudo, o crescimento industrial não fora acompanhado por um aumento do poder de


compra e que alguns sectores, como a agricultura, permaneciam em crise gerando o êxodo
Mun dial
Depressã

rural e a acumulação de desempregados nas cidades. Dá-se, então, a crise bolsista de 1929
o

(“Quinta-Feira Negra”), devido á sobr eaval iação da s acçõ es , que deu início á Gran de
Dep re ss ão do s ano s 30 , afectando todo o globo devido ás ligações comerciais e
dependências económicas entre os países.

A mi sé ria e a ag itação so cio polí ti ca

As consequências da crise de 1929 foram drásticas:

• Os preço s des ce m ver ti gi nosa me nt e, as empresas deixam de lucrar, não há


inv es ti me nt o na produção , muitas fábrica s abr em fal ênc ia , o de se mp re go
atinge níveis elevadíssimos diminuindo o poder de compra e a qualidade de vida das
populações, instala-se a de scon fian ça relativamente ao sistema bancário, o que
conduziu á diminuição dos créditos e dos investimentos, as famíl ias
em pobr ece m, surge a fome, a mi sé ria e a cr im ina li dade ;
• Formam-se inúmeras revol tas socia is , organizadas pelos sindicatos,
desempregados, de agricultores e de operários grevistas que tomam fábricas, terras e
instituições governativas recorrendo á violência;

• Surgem nova s for ças pol ít icas radi cal is tas que se implantam junto do
eleitorado: os novos partidos comunistas ocidentais que, no poder, conseguem
concessões para os sindicatos e trabalhadores; e os novos partidos de direita,
constituídos pelas clas se s mé dia s des con te nt es pelas regalias concedidas ás
classes menores e pela ruína dos seus negócios comerciais/industriais, que temem o
radicalismo de esquerda por pôr em causa o direito á propriedade privada, bem como
o avanço do comunismo.

O SURGIMEN TO DOS REGI MES FASCIST AS

O Fasc is mo Ital iano de Mus sol in i

Foi a conjuntura vivida neste século que levou a que a Itália monárquica parlamentar, bem
como outros países, sucumbissem ao fascismo. De facto:

• Suportou grandes pre juízo s mat er iai s e humano s agravados pela recu sa das
ind em ni zaçõ es e compensações territoriais pedidas aquando dos tratados de paz,
que geraram um clima de nacionalismo humilhado;

Ana Seara 32
Exame Nacional História

• Viu-se a braços com uma grav e cr is e econó mi ca marcada pela volu mosa
dívida ext er na , pela queb ra da produção e pela inca paci dade de
inv es ti me nt o na reconstrução e reconversão económica, que condicionaram o
aparecimento da miséria social e da agitação interna;

• Sofreu com a incursão, no Sul do país, de desempregados, socialistas e comunistas,


que pilharam os grandes latifúndios e provocaram a viol ên cia , e a Norte com a
revolta dos operários fabris.

Assim, instala-se o medo e as classes médias, desfavorecidas pela crise económica e temendo
o avanço do socialismo-comunismo, aliam-se ás populações católicas, que condenavam o
anticlericalismo esquerdista, constituindo-se na grande força radicalista de direita. Então, em
1921 , Ben ito Mu sso li ni forma o Par tido Nac ional- Fasc is ta , derivante dos ex-
combatentes da Primeira Guerra, que se propôs a restaurar a ordem e afastar o comunismo-
socialismo. Depois, em Outubro de 1922 , vendo-se impossibilitado de resolver a crise, o
rei Vítor Emanuel III convida Mussolini a formar governo, acto consagrado pela “Marcha
sobr e Roma ” das forças fascistas. Uma vez no poder, Mussolini toma algumas medidas que
ditarão o carácter ditatorial do seu regime:

• Cria os Fas ci (“Camisas Negras”) que constituíam a milícia armada do Partido e que
tinham como função reprimir as manifestações e puniras organizações sindicais;

• Decreta a su pre ss ão de todos os par ti dos po lí tico s, institui a cen sura e a


pol ícia po lí tica;

• Inicia um capitalismo do Estado, o cor porat ivi sm o, que sendo anti-individualista e


antimarxista, aceitava a propriedade privada mas abolia os sindicatos, tornando-os
em associações mistas de operários e patrões de determinada profissão (corporações).
Proibia as greves, os lock-outs e submetia as relações entre os sindicatos da mesma
corporação ao Estado, controlador de toda a economia. Em 1939, a Câmara dos
Deputados foi substituída pela Câmara dos Fasci e Corporações, composta pelos altos
representantes do partido único e pelos representantes das corporações mistas,
ambos designados por Mussolini;

• Celebra a Concor data , com o Vaticano, que reconhecia o cristianismo como a


única religião da Itália;

• Inicia um programa de regeneração da economia e uma gigantesca operação de obras


públicas (remodelação urbana, construção de Estradas e vias-férreas, habitações
sociais etc.) de modo a manter o emprego, diminuir a dívida comercial e estabilizar a
moeda.

O Nazi smo Ale mão d e Hit le r

Tal como na Itália, são os problemas sociais e económicos que fazem com que este partido
chegue ao poder. Tudo começa com a crise de 1929, altura em que o Par tido Naz i começa
a ganhar adeptos e a tornar-se bastante poderoso devido:

Ana Seara 33
Exame Nacional História

• Ao elevado de se mp re go e á hi pe r-i nfla ção . Esta última mede-se ao minuto e o


banco alemão até retira notas de circulação para as repor com mais zeros. Morre-se
de fome em 1932/33…

• Á fúria e decepção provenientes do Tratado de Ve rsa lhe s, no qual se exigia á


Alemanha o pagamento de elevadas somas monetárias, que recaíram sob o Governo
democrático da República de Weimar, acusada de impotência governativa e de
cobardia;

• Ao medo proveniente do avanço do comunismo;

Adol fo Hit le r, ex-combatente na 1ª Guerra Mundial, era chefe do Part ido Naciona l
Socia li sta do s Traba lhadore s Ale mãe s , mais tarde Par tido Naz i Ale mão , cuja
proposta era “Trabalho, Liberdade, Pão, Ordem e Segurança” mas também a garantia de
propriedade para os camponeses, a defesa dos pequenos comerciantes, a luta contra o
socialismo-comunismo, o controlo do grande capital e a expansão territorial da Alemanha.
Hitler chega ao poder em 1933 , a convite do presidente Hinderburg, e logo toma medidas
radicais: em vez de convocar eleições, declara-se pr es id en te e chance le r da Alemanha,
dissolvendo o Parlamento e incendiando o Palácio da Assembleia, de modo a culpar os
comunistas, principais opositores políticos, de quem se tentou libertar com o sangrento golpe
de Estado da “Noit e das facas lo nga s ” (30 de Junho).

Uma vez no poder Hitler procede á realização dos ideais expostos na sua obra “Mein Kampf”
(“A Minha Luta”), auxiliado pelas suas forças privadas- as SS (Secções de Segurança) que se
distinguiram do fascismo italiano nas seguintes medidas:
• O inc en tivo ao sen ti me nto raci st a- que se baseava na convicção da
superioridade da raça ariana, de que os alemães eram os mais perfeitos
representantes. Para esta tese recorreu á teoria da selecção natural das espécies de
Darwin e ao mito do super-homem proposto pelo filósofo Nietzsche. Daqui resultou
a vio le nta pe rs egu ição dos jud eus nos campos de concentração, a rigoro sa
se le cção da po pulação segundo os cânones arianos, pelos quais se pretendia o
cruzamento de indivíduos com os melhores genes (eugenismo) e a esterilização dos
“degenerados”, bem como a eutanásia no caso de doentes incuráveis e deficientes, a
cargo do Instituto de Raça Superior.

[GEN ERALIDADES AC ERCA DOS REGI MES FASCIST AS]

• Baseiam-se no To tal ita ri smo - vêem o Estado como representante da Nação e não
apenas da maioria, como um único corpo que incorpora todos os indivíduos, todos os
interesses e absorve todos os conflitos. Como tal, o Estado sobrepõe-se a todos os
interesses privados (negação dos direitos individuais) e a todos os particularismos e
regionalismos, daí que proíbam as lutas sindicais livres.

• Defendem o “Culto do Ch ef e” - figura que simboliza o poder e a integridade


nacionais, com uma espécie de cunho divino e detentora da Razão. O chefe é um

Ana Seara 34
Exame Nacional História

predestinado dotado de dons especiais, cuja palavra tem força de lei, pelo que as
populações têm que lhe obedecer acima de qualquer outra fé.

• Apoiam o ul tra-nac iona li smo/ im pe ria li sm o- Para os chefes fascistas deve-se


sacrificar tudo pela pátria e ela deve expandir-se. A guerra é o estado normal dos
países e a paz deve apenas existir como preparação para a guerra seguinte.

• Servem o cul to da viol ên cia - a violência era saudável, útil e justifica a História.
Afirma-se a desigualdade entre as pessoas e aceita-se a ideia de que os melhores
devem dominar os fracos.

• Utilizam a ce nsura, a propa ganda e a pol ic ia po li ti ca ( Gestapo e OVRA) para


controlar as populações e divulgar as ideias do Regime. Censura-se tudo o que
questione o regime em vigor e perseguem-se todos aqueles que de alguma maneira o
comprometam.

• Instituem as Or gani zaçõ es da Juven tude , resultantes da ideia da superioridade


que se atribuía ás elites. Assim, preparavam-se os jovens desde tenra idade (7 anos)
para a obediência ao regime.

O ES TADO NO VO POR TUGUÊS (1926- 1974)

Descontentes com a incapacidade governativa da República, as greves, o avanço do


comunismo e o depauperamento da economia económica interna resultantes dos gastos na
guerra e do endividamento externo, as forças armadas, com o apoio de republicanos
moderados, monárquicos e católicos, empreendem o golpe de 28 de Maio de 1926 que
veio dar lugar a uma ditadura militar. Em 1928, o Gene ral Óscar Carmona convida
Antó nio de Oliv ei ra Salazar para ministro das Finanças, que conseguiu equilibrar o
orçamento público e solucionar a dívida externa (aumento dos impostos, redução das
despesas públicas, aumento das receitas).
O sucesso da sua política financeira deu imenso prestigio a Salazar que rapidamente se
tornou no “ Salvador de Portugal” chegando a controlar até os 12 ministérios e fundando, em
1933 , o seu próprio partido de apoio- o Parti do d e Un ião Nac iona l , que lhe valeu a sua
ascensão a primeiro-ministro. Assim, funda um novo regime que apelida de Estado Novo,
definido como autoritário, dirigista, nacionalista, colonial e corporativo cujas primeiras
medidas, saídas da Constituição de 1933, são:

• A su pre ss ão da lib er dade de reunião, de associação e de expressão;

Ana Seara 35
Exame Nacional História

• A instituição da ce nsura prév ia e da Po lícia In te rnac iona l e de Defe sa do


Es tado (PIDE);

• A criação da Moci dade Portugu esa ;

• A adopção do cato li ci smo como re li gião ofic ial dos portugueses, proibindo-
se o casamento e divórcio civis e instruindo-se os mais jovens de acordo com os
ideais da Igreja: “Deus, Pátria e Família”.

• A formação dos Tribunai s Pl enár ios - específicos para crimes políticos com juízes
escolhidos pela policia política;

• A exa ltação da Hi st ória da pá tria e dos seus heróis e a pre se rvação das
trad içõe s cultura is e artí st icas de cada re gião do país- através do SPN
(Secretariado da Propaganda Nacional) que organizava numerosas exposições,
concursos e prémios públicos que promoviam a arquitectura portuguesa regional, as
“aldeias portuguesas”, o folclore, o fado e todas as artes e letras que exprimissem e
valorizassem o “sentir português”.

• A instituição do Cor pora tiv is mo - em que os trabalhadores de diversos sectores de


actividade se agrupavam em sindicatos nacionais, superintendidos pelo Estado, que
seria o intermediário nas negociações com os grémios (associações do patronato).
Cabia assim ao Estado encontrar o equilíbrio entre os interesses do capital e da
economia nacional e os dos trabalhadores: o direito ao trabalho e ao salário justo, a
protecção no desemprego, a ajuda na doença e na velhice. Ta mbé m as famí lia s
cons ti tuíam corpora çõe s na medida em que, durante o Estado Novo, cabia aos
pais (chefes da família) a eleição das juntas de freguesia que, por sua vez elegiam os
municípios que elegiam a Câmara corporativa. Esta era formada pelos representantes
de todos os municípios e de todas as associações de carácter económico, cultural ou
moral que detinham funções consultivas junta da Assembleia Nacional.

O for te cunho int erv en tivo do Esta do verificava-se, assim, na econom ia , onde
fomentou o lançamento de novas infra- estruturas, dinamizou os meios de transporte e
aumentou a produção de energia; na famíl ia , onde se ocupou da educação e preparação das
mulheres para a sua função de esposas dedicadas e mães extremosas; na educação e no
en si no , onde seleccionou os programas a leccionar, fiscalizou a acção dos professores, e
organizou a Mocidade Portuguesa, e na vida socia l e cultura l, onde promovia
actividades para os tempos livres e entretenimento de modo a cativar os cidadãos e a tornar o
trabalho feliz.

Enquanto que os outros regimes fascistas se caracterizaram pela movimentação de


multidões, o estado Novo recorreu ao excesso de burocracia.

O RO MPIM ENTO PÓS-GUERRA DOS VALORES TR ADICIONAI S DA


SO CIEDADE

Ana Seara 36
Exame Nacional História

O cre sc im en to dos núc le os urbano s e a anom ia socia l

O crescimento dos núcleos urbanos foi de tal ordem, ao longo da segunda metade do século
XIX e na primeira do século XX, que teve consequências irreversíveis até hoje:

• A cidade passou a situar-se no primeiro lugar da vida social, absorvendo grandes


quantidades de massas populares em detrimento das zonas rurais mas também
constituindo-se no ce ntro de act ivida de s pod ero sas e fundamentais (política,
administrativas, bancárias, comerciais, industriais, serviços, etc.).

• Surgem as me tró pol es e mega lópo le s, primeiro na Europa e depois em todo o


Mundo, com casario denso, ritmo agitado, tráfego caótico, poluição, etc., que
derivam do anexamento de centros urbanos vizinhos, tomando assim dezenas de
quilómetros de extensão e tendo como centro agregador os grandes edifícios públicos
ou comerciais. Exemplos são Nova Iorque e Paris.

• “O equilíbrio milenar entre a cidade e o campo é rompido como consequência do


crescimento rápido e contínuo das cidades, o que veio a perturbar as relações
naturais que existiam entre o lar e os locais de trabalho e a desorganizar as condições
de vida, opondo-se á satisfacção das necessidades fundamentais. As habitações
abrigam mal as famílias, as pessoas são amontoadas e os campos abandonados”. (Le
Corbusier)

Os grandes agregados populacionais transformaram-se em amon toados humano s, em que


os ritmos de vida se alteraram e as relações sociais se desumanizaram, dando origem á
massificação da vida urbana:

• Mas si ficação : Termos ligado ao desenvolvimento da produtividade em série do


consumo de massas e dos meios de comunicação de massa. Traduz-se no facto de as
pessoas serem levadas a um género de vida e de comportamento estandardizados
ditados por forças de pressão colectiva.
A sociedade passa, assim, a ser uma so ci edad e de mas sas que se caracteriza pelo gran de
núme ro de pes soas , pela dis pe rsão esp acia l e pelo anon imato em que se encontram,
agindo e reagindo individualmente sem consideração umas pelas outras, conduzindo á
de sag re gação da s sol idar ie dade s, ao de se nra iza me nto ind ivi dual e á anom ia
soc ial , favorecida, em parte, pelo próprio avanço do sistema industrial:

• Anom ia soc ial - conceito utilizado por Durkheim para caracterizar certos
comportamentos desviantes em relação aos objectivos e ás normas geralmente
aceites; ausência de normas ou leis.
A evolução das técnicas e dos sistemas de produção e de consumo obrigou as pessoas a
conformarem-se maciçamente com as normas, os padrões e as práticas da sociedade
industrial, dando origem á al ie nação do traba lho - separação do produto relativamente ao
produtor: os resultados do trabalho não são obras próprias, mas sim mercadorias estranhas
que escapam ao operário e beneficiam outros (os donos das máquinas).

MODIFIC AÇÕ ES NO CO MPORT AM ENTO SOCIAL

Ana Seara 37
Exame Nacional História

O fim da Primeira Guerra Mundial desencadeou, sobretudo na Europa, uma onde de


desencanto, consequência da convicção de que as instituições politicas e sociais, responsáveis
pela convivência pacífica dos homens, haviam falhado. Apesar disto, as décadas de 1920 e
1930 constituíram um período de profunda evolução soc ial que se traduziu no
de se nvol vi me nto e na te rciar iza ção da econo mia , o que possibilitou a
igua li tari zação dos níve is de vida , tendo como padrão o mod el o das clas se s
bur gues as que, crescendo consideravelmente, influenciam a politica e a economia e trazem
consigo novos códigos sociais e morais, modas, mitos e estilos de vida. Os anos 20 seriam
anos de prosperidade. O “american way of life” invadiu a Europa, intensificando-se a busca
do prazer e da evasão: surgem cinemas, clubes nocturnos, salas de espectáculos e de jogos,
novas bebidas (cocktails), nova música (jazz), novas danças (swing), efectuam-se rallies de
automóveis, corridas de cavalos, etc. No entanto, e paralelamente a este novo estilo de vida,
o período entre as duas guerras mundiais caracterizou-se por uma latente inquietação e
instabilidade nos comportamentos sociais…

A Eman ci pação da mulhe r

Nos princípios do século XIX, com a industrialização, as mulheres passaram a ser utilizadas
como mão-de-obra mais barata, sendo exploradas sobretudo nas fábricas têxteis, não
deixando, além disso, de ter a seu cargo as tarefas domésticas. No entanto, a mulher foi
progressivamente alcançando uma certa ind ep en dê nc ia econó mica que a levou a
reivindicar os mesmos direitos que o homem. Assim, a emancipação da mulher vai fazer-se
através de duas formas distintas:

• Na pol it ica , onde reivindicavam o sufrágio universal e o dir ei to de voto , visto


que também elas eram trabalhadores em quase todos os sectores da actividade
económica. Refiram-se duas sufragistas inglesas que se tornaram célebres: Emmeline
Pankhurst e Emily Davison, a “mártir” que deu origem ao feminismo.

• Na moda , onde adoptou estilos e com por tame nto s mai s ousado s como
símbolo do seu desejo de emancipação: as saias curtas, as calças e a maquilhagem (até
aí destinadas aos homens), o corte de cabelo curto e mesmo actos como sorrir e falar
em voz alta, guiar, montar a cavalo e fumar e, especialmente, o desenvolvimento de
actividades físicas e intelectuais.

Novos valor es fami li are s

A entrada da mulher no mundo do trabalho modificou mentalidades e comportamentos


sexuais que se traduziram numa dim inu ição do núme ro de filho s (controlo da
natalidade) e na al te ração da es tru tura fami liar : o conceito de família passou a ser
entendido na sua dimensão de família nuclear (pai, mãe e filhos a viverem no mesmo lar).
A partir de 1930, o casamento já não se realizava apenas como meio de suporte económico,
mas também por amor, facto que, aliado á crescente laicização das sociedades ocidentais,
ajudou a que a Igreja e a família perdessem as suas tradicionais influências como agentes de
regulação social.

A CRISE DO PENSA MEN TO RACI ONALIST A

Ana Seara 38
Exame Nacional História

O ant ipo si tiv is mo

Na segunda metade do século XIX, o positivismo (doutrina do filósofo Augusto


Comte) pr et en dia fundam en tar to do o conhec im en to cie ntíf ico , ap li cando a
me todo log ia das ciê ncia s ex pe rim en tai s a toda a es pé ci e de prob le mas e área s
como a História, a Literatura e a Arte, que os positivistas acreditavam poderem-se explicar
“testando-se as hipóteses em referência aos factos”.
Mas, em 1893 um filósofo italiano, Benedetto Croce, contestou as teorias positivistas
aplicada à história, negando a possibilidade de uma visão objectiva do passado e defendendo
que a nossa compreensão dos factos humanos do passado depende do grau em que nós fomos
capazes de recriar o pensamento dos agentes históricos através de um esforço imaginativo
para nos identificarmos com ele - “todo o conhecimento histórico é sempre um
conhecimento relativo e subjectivo”. Desta maneira surge-nos, nos princípios do século XX
com a Teoria da Relatividade (Einstein), o relativismo.

• Rel at ivi smo -doutrina filosófica segundo a qual o conhecimento humano é


impotente na sua pretensão a uma verdade absoluta; o conhecimento é sempre
relativo, condicionado pelas suas leis próprias, pelos limites do sujeito que conhece e
pelo contexto sociocultural que o rodeia.

A Psi canál is e de Fr eud

Considerando a hipnose e a sugestão como métodos limitados, Sigmund Freud (1856),


neurologista vienense, elaborou um novo método de tratamento de doentes - a psicanálise -
que assenta na análise dos sonhos e pensamentos relacionados por uma associação livre.
Freud concebeu três conclusões importantes:

• Que as recordações e pensamentos desagradáveis são reprimidos para o


subconsciente da vida mental, onde permanecem recalcados, criando neuroses que
podem ser sanadas através da consciencialização pelo próprio sujeito, pelo método
psicanalítico;
• Que a força vital mais importante do Homem é a sexualidade (libido) que dirige o
homem para a realização de certas motivações;

• Que a personalidade humana se decompunha em três níveis diferentes: o id ou


inconsciente onde se situam as tendências e os impulsos; o su pe re go - entidade
censória que controla os nossos comportamentos “imorais” e favorece os mais éticos;
o eg o- parte superficial do id que sofre a acção do superego e se torna consciente,
funcionando como a nossa Razão interior.

As concepções psicanalíticas, além de causarem impacto na cultura, influenciaram também


os comportamentos, possibilitando uma maior lib er tação dos cons tran gi me nto s
soc iai s. De facto, escritores e artistas do século XX encontraram na psicanálise freudiana
uma inspiração frutuosa e uma influência libertadora que transmitem nas suas obras.

AS INOVA ÇÕE S NA ARTE

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Exame Nacional História

As teorias do relativismo, da psicanálise e do desmantelamento da ordem clássica do espaço


visual constituíram os principais vectores de mudança cultural, caracterizada pela exaltação
da cor e a reacção contra a noção de perspectiva (possibilitada pela fotografia) que ajudaram
á construção de um novo universo plástico.

O exp re ss io ni smo (g er mân ico)

O expressionismo surge em 1905 como reacção ao academismo (tendência estética que


privilegia os modelos clássicos) e ao impressionismo e tem como principais figuras de proa
Edward Munch, Van Gogh e Rouault. Os exp re ss io ni sta s procuravam rev el ar o seu
mundo int er ior bem como o drama do Home m, numa busca da verdade através da
emoção, defor mando in te ncio nal me nt e as imag en s visua is para melhor retractarem
os seus dramas: o trabalho, a miséria, a infância infeliz, os vícios e as injustiças. Rouault
utiliza traços fortes e negros para mostrar o grotesco e a fealdade humana e Kirchner serve-
se do uso violento da cor para denunciar uma sociedade mundana e vazia.

O fauvis mo (franc ês )

O fauvismo surge em Paris, em 1905, e opõe-se, em termos ideológicos, ao expressionismo.


Os expressionistas pretendiam dedicar-se á pintura pura recu sando pen et rar em
que st õe s profunda s de índol e ps íquica ou so cia l. Como o expressionismo,
caracteriza-se pelo abando no da s regra s trad icio nai s da pintura mais académica, como
o desenho em pormenor, a técnica do claro-escuro, passando a usar cores de uma forma
anárquica e realçando os contornos com traços negros. “A tendência dominante da cor deve
ser a de servir, da melhor maneira possível a expressão (…) Eu pretendo simplesmente
aplicar as cores que proporcionem a minha sensação”, Henri Matisse.

O cubis mo

O cubismo surge em 1907, em França, e teve como figuras principais Pablo Picasso e Georges
Braque. O grande objectivo dos cubistas era o de dar prioridade á forma em detrimento da
cor, de modo a sim pl if icar a re pr es en tação da s coisa s e in troduz ir uma quar ta
dim en são (o espaço-tempo), por meio de visões simultâneas dos objectos, reduzindo-se o
pormenor e cingindo a pintura a sólidos comuns. Pablo Picasso, por exemplo, destrói a
realidade e substitui-a por outra inteiramente subjectiva, em que os quadros não conservam
qualquer relação com o mundo visível.

O futuri smo (ma is revo lucioná rio)

Por volta de 1909 surge, com o Manifesto futurista, o futurismo artístico e literário, que
recusava a harmonia e o bom gosto convencionais, o geometrismo intelectual dos cubistas e
o sensualismo cromático dos fauvistas, defendendo a or ig inal idad e, a força, o
dina mi smo, a vel oci dade, a té cn ica, o maquin is mo , ou seja, tudo aq ui lo que

Ana Seara 40
Exame Nacional História

exp ri ma a vida mod er na . Na pintura futurista, as imagens aparecem com formas e cores
dinamizadas pela repetição, numa tentativa de representação do movimento através das suas
consequências: “representar as diversas posições estáticas de um corpo em movimento”. Teve
como principais impulsionadores Marcel Duchamp e Umberto Boccioni.

O abst raccio ni smo

Continuação do cubismo/futurismo, o abstraccionismo teve início em 1910 sob as influências


de Kandinsky, que acreditava que a pin tura deve ria re trata r um est ado de es pír ito
pe la força da s cor es. Os abstraccionistas propõem-se não man ife sta r a real idad e
se ns íve l, obje ct iva ou a sua ilu são , mas s im abstra ir d es sa real idad e uma outra
produ zida pe lo espí ri to . O objecto desaparece, sendo substituído por linhas e cores
conjugadas numa unidade que vale por si própria, descobrindo-se uma realidade oculta e
mais profunda.

O Dadaísmo (ide oló gico )

Surgido de dentro do cubismo, por volta de 1916, o movimento Dada insurge-se contra os
conceitos de arte e de objectos e técnicas artísticas, apoiando a ant i-art e, ou seja,
procuravam desva lor izar al go a que norma lm en te se atribui valor, exal tando
um obje cto comum que não te m valo r, como um chafariz em forma de urinol. Assim,
segundo o movimento Dada, o que det er mina o valo r es té ti co de algo já não é um
proc ed im en to t éc nico mas s im um acto me nta l. Exemplos disto são os “ready made”,
como a Fonte, de Marcel Duchamp, e a Gioconda com bigodes, do mesmo autor.

O surr eal is mo

Ligado á teoria do irracional e do inconsciente na arte, fruto da doutrina psicanalítica de


Freud, o surrealismo surge em 1925 e tem como principais artistas Ernst, Salvador Dali, Miró
e Chagall. No surrealismo, o pintor subs ti tui a visão racio nal do mun do po r uma
in te rpr et ação ori en tada pe lo i ncon sc ie nt e estabelecendo relações semelhantes ás que
aparecem nos sonhos. Tinha por objectivo atingir uma realidade mais autêntica.

O FUNCIONALIS MO ARQUI TE CTÓNI CO

O Funcionalismo é a tendência artística do século XX que parte do principio de que tanto na


arquitectura, na urbanização como no mobiliário, a forma dev e re sul tar da pe rfe it a
adequação á função . É fruto dos problemas urbanísticos advenientes da Primeira Guerra
Mundial. Assim, as tendências gerais do funcionalismo são:

• A prior idad e do p lan eam en to urbanís tico sobre o projecto arquitectónico;

• A re ntabi li zação do terr en o para a con st rução habitac iona l, procurando


conciliar a quantidade com a qualidade;

• A rac iona lida de da s forma s arquit ectó ni cas ;

Ana Seara 41
Exame Nacional História

• O recurso á tec nolo gia indus tr ial , á est andar di zação e á prefab ricação em
série, ou seja, á progressiva industrialização da produção de objectos da vida diária
(de si gn industrial);

• A concepção da arquitectura e da produção industrial qualificada como


cond icio nan te s do pro gr es so so cia l e da educação democrática da comunidade.

O funcio nal is mo racio nal is ta (euro peu)

Le Corbus ie r, arquitecto suíço radicado na França, é o pai do funcionalismo europeu.


Tendo adoptado o axioma do funcionalismo, “cada ele me nt o dev e cump rir uma
função ”, defendeu que a casa deve ter uma planta livre, nascer de um rectângulo rígido e
apresentar uma fachada elevada para mostrar os seus interiores funcionais. Para Le
Corbusier, a arquit ec tura é o po nto de encon tro en tre a act ivi dade do
en ge nhe iro e a po es ia plá st ica do es cul tor , daí ter-se preocupado em conciliar o
geométrico e o humano (Cite Radieuse)

Na mesma época, na Alemanha, surge outro movimento de renovação arquitectónico


iniciado por Walter Gropius, fundador da escola de arquitectura Bauhaus (1919). Ao
contrário de Corbusier, Gropius afirma que a planta da obra não se deve circunscrever a um
rectângulo rígido. Privilegia as paredes e os ângulos de vidro, que revelam o interior do
edifício e a consequente ligação do edifício ao terreno natural circundante. Exemplo de
significativa renovação em todos os ramos da criação artística, a Bahaus foi uma esco la
vei culadora de uma nova me nsa ge m á soci eda de, encarna ndo novo s id eai s e
novas es pera nças : “Um objecto define-se pela sua natureza. Para o desenhar de modo a
funcionar correctamente, devemos estudar a sua natureza. Ele deve servir a sua finalidade
perfeitamente, isto é, cumprir a sua função, ser duradouro, económico e belo.”

O funcio nal is mo orgâ nico (am er icano)

O funcionalismo orgânico surge nos E.U.A com Frank Loyd Wright, arquitecto que defendia
que a construção deveria partir de dentro para fora, ou seja, que pe lo es paço in te rio r da
casa é que se deve ria de te rmi nar a sua for ma ex te rior . Wright preocupava-se com
o jogo das alturas, as divisões do espaço interno e com os vidros, que deveriam filtrar a luz e
abrir a casa para o exterior sem contudo quebrar a sua intimidade. Para ele, a casa deve ser
um abrigo e local de meditação inserindo-se perfeitamente no ambiente que a rodeia.

ES TANDARDIZAÇ ÃO DOS MOD ELOS E PADRÕ ES CULTURAIS

A ge ne ral ização do ens in o como im po sição de uma nova dis ci pl ina socia l

A generalização do ensino, através da gradual implementação da obrigatoriedade, da


gratuitidade e da laicização do mesmo, contribuiu para a inculcação de valor es e pa ra a
im pos ição de uma nova dis ci pl ina soc ial . De facto, os valores sociais são constituídos
por modelos gerais de conduta, por escolhas colectivas, por normas de comportamento
geralmente aceites e exigidas pela sociedade. Na verdade, alguns regimes políticos utilizaram
o desenvolvimento da escolaridade de massas com finalidades diversas:

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• Durante a 1ª Re públ ica por tugue sa (1910-1926), registou-se um grande esforço


de alfabetização no nosso país com vista á melhoria de qualificação dos trabalhadores
e á disciplina social.

• No Esta do Novo de Salazar, a al fabe ti zação serv ia de pre te xto para


incu lcar aos jov en s as dir ect ri ze s do novo reg im e a se guir : o respeito à
família, a Fé, o Princípio da autoridade, a firmeza do Governo, o respeito á
hierarquia etc. Para este fim, cria-se a junta Nacional de Educação, a mocidade
Portuguesa, Reforma-se o ensino primário, adopta-se a politica do “livro único” e
exige-se a declaração anticomunista a todos os que queiram fazer parte do ensino.

Os med ia e a ge ne ral iza ção dos mod el os socio cultura is

Actualmente, a opinião pública encontra-se muito condicionada pelos mass media que
utilizam técnicas poderosas, recorrendo a mitos, símbolos, temas passionais e técnicas
psicológicas de persuasão para tocar as grandes massas constituindo-se, assim, em
in st rume nto s d e gran de influ ên cia po lít ica, indu st ria l, finan ce ira e rel ig ios a.

• Me dia - conjunto dos meios de comunicação de massa, isto é, capazes de difusão


maciça de informação por grande número de pessoa, simultaneamente e a grande
distância - rádio, televisão, cinema, imprensa etc.

Assim, ao dirigirem-se a toda a gente, os media dimi nue m o nív el da me nsa ge m


uniformizando e provocando uma esta ndar di zação de com por tam en tos , ou seja,
sugerindo ás pessoas padrões de comportamento. “As culturas burguesa e escolar propõem
preceitos. A cultura de massas contenta-se em propor modelos (…) a tónica é posta sobre os
valores do prazer. (…) uma felicidade muito material.”

Destinada, essencialmente, à ocupação dos tem po s li vre s das grandes massas, esta
“indústria cultural” foi criada para “compensar” as multidões trabalhadoras da monotonia e
da solidão características das sociedades desenvolvidas. Ao contrário da cultura elitista, a
cultura de massas:
• É elaborada e pensada tendo e vista as grandes massas;
• Direcciona-se para a acção, compreensão e transmissão dinâmicas do presente, para o
“cul to da novida de ”, para a “fuga” aos prob le mas do quot idia no (cultura de
evasão)
• É de duração efé me ra e aborda os temas de modo sup erf ic ial ;
• Tende a formar um tipo de pes soa méd ia , através de modelos de
comportamento, atitudes, valores, crenças, para que se integrem passivamente no
sistema económico, social e cultural vigente.

• Recor re á publ ic idade e á propaganda com uma dupla função: económica


(inculca necessidades de consumo) e sociocultural (impõe códigos de
comportamentos e escalas de valores), através das estrelas artísticas - sta r sy st em .

A im pre ns a popu lar

Ana Seara 43
Exame Nacional História

A grande difusão e importância dos jornais do século XIX, deve-se a factores como:

• Os progressos das técnicas de impressão, que permitem a produção maciça de jornais;


• A melhoria relativa do nível de vida das pessoas;
• A generalização do ensino obrigatório, que aumenta os motivos de interesse pela
leitura.

Em Portugal, por exemplo, a imprensa escrita aumentou consideravelmente no século XIX


com a distribuição de jornais como o Jornal do Comércio (1853) e o jornal de notícias (1889).
Decresceu, no entanto, condicionada pelo regime Salazarista.

A Rádio

Em 1896 Marconi descobre o princípio da comunicação via ondas de rádio, que possibilitou a
difusão cultural de forma audível. Em 1908, por exemplo, instalou-se em Paris um grande
emissor que transmitia para toda a Europa. Foi também muito utilizada pelos regimes
ditatoriais da década de 1930 que, assim, impunham as suas ideologias. Esta inovação
possibilitou ainda mais a adesão de um público cada vez mais vasto e permitia, de certo
modo, circundar o problema do analfabetismo.

O cin ema

A primeira câmara de filmar e máquina projectora foram concebidas pelos irmãos Lumiére
em 1895 e vieram a possibilitar o cinema. A principio, constituía-se como um divertimento
análogo ao circo e era dirigido a um público popular, andando de feira em feira. No entanto,
as várias descobertas que se foram fazendo possibilitaram ao cinema o es ta tuto de ar te e
revestiram-no de extrema importância enquanto ent idad e di fusora de cultura . Em 1920
iniciou-se a produção de filmes dirigidos ás massas como os filmes de Charlie Chaplin que já
exprimiam criticas sociais. Posteriormente, o cinema foi também utilizado com função de
pro pagan da e im pr eg nação ideo lóg ica , centrando-se em temas como a
sentimentalidade, o erotismo e a violência, transformando-se num poderoso meio de difusão
de modelos socioculturais.

• A literatura policial, a banda desenhada, os espectáculos de música ligeira e os


espectáculos desportivos constituem também importantes manifestações da cultura
de massas.

• Numa sociedade em que se acumulam as tensões sociais, as alternativas são a


canalização dos conflitos para os espectáculos de massas (futebol).

O FIM DA GUERRA E OS AC ORDOS DE PAZ

A concertação da paz começou em 1943, muito antes de a guerra acabar, quando se começou
a esboçar a vitória dos Aliados. Os Três Grandes (EUA, URSS e Inglaterra), representados
pelo presidente americano Roosevelt, o dirigente soviético Estaline e o primeiro-ministro
inglês Churchill, começaram a preparar o pós-guerra, reunindo-se em sucessivas
conferências.

Ana Seara 44
Exame Nacional História

As con fe rê ncia s dos Trê s Gra nde s

Em 1943 deu-se uma das mais decisivas conferências- a Co nfe rê ncia d e T ee rão - em que
se decidiu o futuro desmembramento da Alemanha, se debateu a questão das fronteiras da
Polónia e se formulou o propósito de criar uma organização internacional de todas as
Nações.
Em 1945, na Co nfe rê ncia de Ial ta , os Três Grandes acordaram, basicamente, a divisão do
Mundo em áreas de influência dos EUA e da URSS, através:

• O desmembramento da Alemanha;
• A convocação de uma conferência em São Francisco, fixando-se as directrizes
essenciais da futura Carta das Nações Unidas;
• O reconhecimento de Tito como legítimo governante da Jugoslávia;
• A fixação das fronteiras da Polónia;
• A obrigatoriedade dos países libertados de formarem governos democráticos;
• A divisão da Coreia em duas zonas de influência (O Norte com a URSS e o Sul com
os EUA);
• A subtracção da Indochina á França, para confiá-la á tutela da china.

Após a capitulação da Alemanha, foi convocada uma nova conferência de paz- a


Conf er ênc ia de Pots dam (1945), em que Harry Truman substitui Roosevelt e se tomam
mais algumas medidas importantes:

• A “de sna zif icação ” da Ale manha ;

• A criação de um tribuna l i nt er nacio nal para julgar os crimes de guerra (Tribunal


de Nuremberga);

• A des mi li tar ização e dis so lução das indús tr ias bé li cas ale mãs , bem como
de todos os grandes trusts que haviam financiado o nazismo;

• Reparações e inde mn iza çõe s da Al ema nha aos Al iado s;

• A div isão da Ale manha e m 4 zo nas de ocupação (norte-americana, soviética,


inglesa e francesa);

• Divisão de Berlim e da Viena em quatro zonas de influência;

• Entrega da cidade de Danzig á Polónia e divisão da Prússia Oriental entre a URSS e a


Polónia.

A nova geo graf ia da Europa

Em Maio de 1945, no momento de rendição da Alemanha, a Europa encontrava-se dividida


em duas áreas pelo meridiano 12, a ár ea orie nta l ocupada pelas tropas soviéticas e a ár ea
ocid en tal onde estavam as tropas aliadas, que irão corresponder aos limites das duas

Ana Seara 45
Exame Nacional História

zona s de inf luê ncia . Deste modo, verificaram-se também algumas alterações de
fronteiras (acompanhadas de deslocações de populações), sendo as mais significativas:

- A cedência italiana da península da Ístria á Jugoslávia e Rodes á Grécia;


- A privação romena da Bessarábia a favor da Rússia e a recuperação da Transilvânia;
- A perda Búlgara do acesso ao mar Egeu;
- O anexamento de alguns territórios Checoslovacos e finlandeses por parte da URSS;
- A cedência polaca da Bielorrúsia e da Ucrânia á União Soviética mas anexando, em
contrapartida, parte da Prússia oriental, Danzig, a Pomerânia e a Silésia;
- A integração da Estónia, Letónia e Lituânia na URSS.

A Orga ni zação das Naçõ es Un ida s (ONU)

A ideia da fundação da ONU, encabeçada pelos EUA , URSS , In gla te rra e China , nasceu
ainda em plena Segunda Guerra Mundial, em 1942, e reunia os propósitos de prosseguir a
luta contra os países do Eixo, bem como o de encontrar um “sistema mais amplo e
permanente de segurança geral”. Assim, a ONU nasce a 26 de Junho de 194 5, na
conferência da cidade de S. Francisco, e assenta nos seguintes organismos e instituições
especializadas:

• A Ass emb le ia Gera l, composta pelos representantes de todos os países aderentes,


é o foco onde são tomadas todas as resoluções da ONU. É um órgão democrático uma
vez que todos são tratados e representados de igual maneira. Para se ser membro da
ONU é preciso que o país se candidate e que os já membros votem na sua admissão.
A Assembleia Geral tem a responsabilidade de eleger quatro órgãos:

• O Tribuna l Int er nacio nal de Jus ti ça - julga crimes internacionais e assuntos


entre países, composto por 15 juízes eleitos pelo Conselho de Segurança e pela
Assembleia Geral;

• O Secr et ariado - parte administrativa das ONU que garante o funcionamento desta
instituição através do controlo de equipamento e de pessoal. O secretário-geral é
eleito pelo período de 5 anos, com direito a reeleição, cabendo-lhe a chefia de toda a
ONU.

• Con se lho de Segura nça -. Integrado pelos “5 Grand es ”- 5 países que desde a
fundação até hoje, fizeram parte da ONU e têm direito a estar presentes (Rússia,
E.U.A, França, China, Inglaterra). Estes 5 países vencedores da Guerra são os Estados
permanentes e são os únicos que têm poder de veto sobre as decisões de outros países
não fundadores. Fazem também parte deste órgão mais 10 países eleitos por 2 anos.
O objectivo é manter a paz.

• Con se lho Econó mico e Social - é por este órgão que passa toda a cooperação
internacional, desde o sistema de correios até ao de viagens. Há 6 organismos ligados
a este conselho constituído por 27 membros, eleitos para um mandato de 3 anos:

Ana Seara 46
Exame Nacional História

- OIT (Organização Internacional do Trabalho): direito ao sistema sindical/ ordenados/


proibição do trabalho infantil;

- OMS (Organização Mundial de Saúde)- Prevenção e tentativa de controlo do


alastramento de doenças;

- UNESC O (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura):


Património da humanidade/ apoio a museus;

- FAO (Organização para a Alimentação e a Agricultura): ajuda os países subalimentados/


ajuda de emergência;

- FMI (Fundo mone tár io Int er nacio nal)- ajuda o desenvolvimento dos países mais
pobres;

- GA TT (Acordo Geral de Tarifas e Comércio) …

Aquilo que principalmente distingue a ONU da sua antecessora (Sociedade das Nações) é,
por um lado, o maior universalismo geográfico da ONU (a SDN era formada por nações
europeias) e, por outro, uma maior eficácia. Para além da ajuda a nações carenciadas, a
actuação da ONU tem sido muito importante, sobretudo na criação de zonas livres de armas
nucleares e no impulso ao desarmamento, no apoio ao processo de descolonização e na
defesa das liberdades sem qualquer discriminação.

A DEFINIÇ ÃO DAS ÁREAS GEOPOLÍ TICAS: A GUERRA- FRIA

Apesar de durante a guerra, países comunistas e capitalistas terem reunido esforços, o fim do
conflito mundial significou uma nova “antagonização”, resultante na diferença da forma,
natureza e interesses das sociedades capitalista e socialista, que resultou no bipo lar is mo , ou
seja, na divisão do mundo em dois pólos de influência, um americano e outro soviético.
A “Guerra Fria”, expressão que designou o confro nto pol ít ico, id eo lóg ico, mil itar e
eco nómi co ent re os EUA e a URSS , teve início em 1947 quando Truman recusa a
tentativa de tomada do poder da Grécia e da Turquia por Estaline, que visava expandir os
ideais comunistas:”Os EUA comprometem-se a prestar auxílio económico e militar á Grécia
e á Turquia e a todos os Estados que estão a resistir ás tentativas de subjugação promovidas
por minorias armadas e por pressões externas”.Deste modo, os EUA converteram-se em
líderes da oposição dos Estados ocidentais á política soviética, recorrendo a alguns
mecanismos que alargassem e consolidassem a sua influência norte-americana no mundo,
como foi o caso do Plano Marsha ll (1947), ajudas económicas aos países atingidos pela
guerra, e do Pacto do Atlâ nt ico Nort e em 1949 (OTAN).
Na sequência, a URSS respondeu com duas medidas:

• A fundação do KOMINFORM (1947), organização que englobava os partidos


comunistas da URSS e das democracias populares, e que visava coordenar a acção
desses partidos contra o Plano Marshall;
• A fundação do COMECON (Conselho para Assistência Económica Mútua) em 1949,
que visava a integração económica dos países do bloco socialista, através de acordos
bilaterais entre países e a URSS.

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1º Mo me nto

A part il ha da Ale manha e o Bloque io a Ber li m

En tre 1948 e 1949 , a Alemanha tornou-se um foco de tensão internacional. Em resposta á


uniformização administrativa e monetária, reunindo as três zonas ocupadas pelas potenciais
ocidentais, os soviéticos estabeleceram o bloque io de Ber li m (vetando a acção da ONU),
cortando as comunicações fluviais e terrestres á cidade. No mesmo ano os EUA, a Inglaterra
e a França criam a Re públ ica Fed era l da Al ema nha (RFA) beneficiária do Plano
Marshall. Em resposta, os soviéticos transformam a sua zona de ocupação na Re públ ica
Democ rát ica Al emã (RDA), integrada no COMECON.

A OEA e a prol ife ração dos Es tados comuni sta s

Posteriormente, Os EUA decidem montar um sistema de alianças militares multilaterais -


Orga ni zação dos Es tados Ame rica nos (OEA), que constitui um organismo regional
que tem como propósitos garantir a paz e a segurança continentais, organizar a acção
solidária dos Estados membros em caso de agressão e promover o desenvolvimento
económico, social e cultural das Américas. Esta medida, bem como a in sta lação de
inúm era s base s mil ita re s no Pacífico e no Médio Oriente, funcionavam como medidas
de prevenção ao alastramento do comunismo. A resposta da URSS traduziu-se no
alar game nto das sua s fron te iras bem ao centro da Europa instalando, em apenas 2
anos, vários partidos comunistas na Polónia, Hungria, Checoslováquia, Jugoslávia, Bulgária,
Roménia, Albânia, RDA (Democracias Populares do Leste), cujas estruturas políticas,
económicas e sociais passaram a ser decalcadas da União soviética. Assim, em 1947- 48, a
Europa Or ie nta l tor nou-se num mo saico de país es -sa té li te da URSS , que
também ajudou a consolidar regimes comunistas na China, na Mongólia, na Coreia do Norte
e na Indochina.

2ª Mo me nto
A OTAN e o Pac to de Va rsóv ia

Para preservar as suas influências na Europa Ocidental a nível militar, os EUA criaram a
Orga ni zação do Tra tado do At lân tico Nor te , em 1949 , que previa que uma agressão
armada contra um ou mais signatários seria considerada como uma agressão a todos.
Aderiram a Grécia, a Turquia, a América do Norte, a Europa Ocidental e do Norte, as ilhas
do Mediterrâneo e do Atlântico Norte. A resposta dos soviéticos consistiu numa aliança com
os mesmos fins militares- o Pacto de Var sóv ia - em 1955 , que englobava a URSS e as
democracias populares do Leste.
A partir daqui verificou-se uma corr ida aos armame nt os nuc lea re s (bomba atómica e
de hidrogénio) que iria acentuar a desconfiança e ameaçar ainda mais a paz global. Para além
disto, a “Guerra-fria” manifestou-se de várias formas: interferências nas políticas internas de
outros países, espionagem, manobras diplomáticas hostis, interferências nas organizações
internacionais, mundiais ou regionais. Estava criada a “co rt ina de fer ro” que dividiria a
Europa em duas e que, mais tarde, teria repercussões a nível global.

O Conf li to i srae lo- árabe

Ana Seara 48
Exame Nacional História

A perseguição dos judeus pelos nazis, durante a guerra, acarretou uma crise que envolveu a
Inglaterra, a Palestina e as nações árabes do Próximo Oriente.
A Inglaterra, que dominava então a Palestina, viu-se obrigada a receber centenas de milhar
de judeus para essa região que a consideravam a “te rra pro me ti da” , desencadeando a
oposição das populações árabes e palestinianas sob a forma de acçõ es ter rori st as e
violentos conflitos. O problema foi levado á ONU que acordou em 1947 um plano de
partilha da Palestina em dois Estados. Mas, assim que a Inglaterra abandonou a região, os
judeus proclamaram-na a sua nova Nação-Estado: Isra el .

Porém, Israel ficaria com dois grandes problemas que ainda hoje subsistem: a difícil
convivência com os Palestinianos no interior do Estado judaico e a difícil convivência com
os países árabes vizinhos, o Egipto e a Síria, pelo que, mais tarde, ainda se deram alguns
conflitos como a Guerra do Sue z (1956), a Guerra do s Se is Dia s (1967), a Guer ra do
Yon Kip pur (1973) em que americanos apoiavam israelitas e soviéticos ajudavam os estados
árabes.

A Repúb lica popula r da China

A derrota do Japão, em 1945, contribuiu para a vitória da revolução comunista na China.


Durante a guerra, as forças nac iona li sta s de Kay-Che k e o Part ido Co muni sta
Chin ês de Mao Ts é- Tung , tinham cooperado na luta contra os japoneses, mas mal o
Japão foi derrotado, o próximo passo constituiu-se numa luta entre nacionalistas (apoiados
pelos EUA) e comunistas (com a ajuda da URSS), numa gu erra civ il que durou 3 ano s. Os
partidários de Mao vencem o conflito e a Re públ ica Popu lar da China é proclamada em
1949 , lançando o país para uma posição de gigante, interveniente na guerra da Coreia e nas
guerras da Indochina tornando-se, posteriormente, uma pot ên cia nuc lear .

• Maoís mo - regime marxista-leninista instaurado na China por Mao Tsé-Tung.


Diferencia-se pelo seu carácter rural (colectivização das grandes propriedades rurais)
e pela Revolução Cultural.
3º Mo me nto

A guer ra da In dochi na

A guerra da Indochina foi uma das mais longas e violentas lutas de libertação de povos
asiáticos, relativamente a potências coloniais (1953 ). Os comunistas chefiados por Ho Chi
Min tiveram um papel importante na derrota da França, pelo que constituíram o primeiro
regime comunista num dos novos Estados independentes da Indochina: O Vi et nam e do
Nort e (os outros Estados passaram a ser o Vietname do Sul, o Laos e o Camboja). Os EUA
iriam, mais tarde, apoiar o Vietname do Sul na luta contra o do Norte, apoiado pelos
soviéticos e chineses, donde saem derrotados em 1973, numa das mais sangrentas guerras da
história.

A G uerra da Cor eia

Em 1945, as forças de ocupação soviética e americanas haviam dividido a Coreia entre si.
Quando estas se retiraram, formaram-se do is gove rno s coreano s: um comun is ta , na
Core ia do Nort e, e outro an tico muni sta , na Core ia do Sul . Em 1950 a Coreia do

Ana Seara 49
Exame Nacional História

Norte atacou a Coreia do Sul e as forças americanas regressaram imediatamente ao combate,


fazendo desta guerra um dos episódios mais graves da “guerra-fria”.
A intervenção da China, ao lado da Coreia do Norte, aumentou a tensão, pelo que o general
MacArthur estava tentado a utilizar a bomba atómica. Enfim, o equilíbrio das forças
militares, após avanços e recuos, levou á assinatura do armi st ício (1953) , que fixou o
paralelo 38 como fronteira entre as duas Coreias.

A REP ERCURSSÃ O DAS TENS ÕES INT ERNACI ONAIS NA POLÍTI CA


INT ERNA DOS ES TADOS OCID ENTAIS

Os países da Europa Ocidental experimentaram, no imediato pós-guerra, situações políticas


diversificadas sendo que, de grosso modo, no imediato do pós guer ra se tenha verificado a
asc en são dos pa rt idos de esque rda e, na década de 50 , se tenha assistido a um
re torno da po lí tica con se rvadora.

• Na Grã-Bretanha, em Julho de 1945, o Poder passou dos conservadores para os


trabalhistas;

• Na França, as instituições da IV República entraram em vigor em 1947, tendo sido


substituídas pelas da V República, iniciada pelo general De Gaulle, em 1958.

• Na Itália, o pós-guerra passou pelos partidos da Democracia-Cristã, mas com um


Partido Comunista Italiano forte a governar municípios importantes.

• Na Alemanha Federal passou a verificar-se a preferência para os partidos moderados:


Democrata-cristão, Liberal e Social-Democrata.

No entanto, estes países iriam empreender refo rma s pol it ica s e so cio econó mica s que
evi de nciava m pr eocupaçõ es com a pla nif icação , a pa rt ici pação e a se gura nça
soc ial . Mesmo os Estados capitalistas adoptaram algumas me dida s soc ial iz ant es , que
faziam do Estado um Es tado-p rovid ên cia , que deveria assumir três funções:

- Ass egura r o ple no emp re go;


- Li mi tar a inf lação;
- Ma nt er o equi líbrio do co mér cio ex te rno .
As políticas de inspiração keynesiana foram, então, aplicadas em toda a Europa Ocidental:

• A França, enfrentando graves problemas coloniais, conseguiu recuperar-se pois, além


do Plano Marshall, os franceses elaboraram o seu próprio plano de recuperação
económica, o Plano Mon ne t, visando disciplinar os investimentos e sanear a sua
moeda.
• A Inglaterra, á custa de sacrifícios e férrea disciplina, também conseguiu restaurar-
se, mas perdeu a importância política e económica que possuía antes da guerra.

• Na Itália, outra nação favorecida pelo Plano Marshall, o atraso tradicional do Sul do
país e a carência de energia foram atacados conseguindo-se, em pouco tempo,
superar os problemas criados pela devastação da guerra.

Ana Seara 50
Exame Nacional História

A reacção co ns ervado ra: Mac carth is mo

Entre os anos de 1951 e 195 4, surge nos EUA um movi me nto de pro paga nda
nacio nal is ta e an tico muni sta, gerado pela vitória de Mao Tsé Tung na China, pela
explosão da primeira bomba atómica soviética e pelos problemas da guerra da Coreia, ou
seja, o avanço soviético, incentivado pelo Sena dor do Estado do Wisconsin- Jose ph
MacCar thy . Este senador empreendia movimentos de ce nsura aos escritos comunistas
bem como per se guiçõ es a membros do partido comunistas e seus simpatizantes. A situação
tendeu a agravar-se de 1957 a 58 com o aum en to do de se mp re go e do déf ic e
orçam en tal . Os probl ema s soc iai s e rac iai s agravaram-se: a segregação dos negros e a
perseguição levada a cabo pela Ku-Klux-Klan originaram uma atmo sfe ra de pâni co e de
repressão nos EUA pelo que, invocando motivos de segurança, os dir ei tos, lib er dade s e
garan tia s dos cidadão s foram sen do l im itado s.

O APAZIGU AM ENTO ENTRE MOSC OVO E WASHINGT ON

No período entre 1955- 1973 , as grandes potências (EUA e URSS) empreenderam uma
pol ít ica de d is te nsão (détente), entendimento e cooperação, com o objectivo de aliviar as
tensões e os conflitos da “guerra-fria”. Os principais factores que contribuíram para esta
mudança foram:

• O equi líbr io das for ças militares que se enfrentaram na guerra da Coreia;

• A reacção de alguns países da Europa Ocidental, que adoptaram posições


ind ep en de nt es , recusando o estatuto de satélites dos EUA (como a França que saiu
da NATO);

• A mort e de Es tal in e (1953) e a posterior as ce nsão de Kruch ev (1955) ao


poder, na URSS;

• A reacção do presidente Eisenhower (eleito em 1952) contra o movimento ultra


conservador do senador MacCarthy;

• O conflito entre a China e a URSS, que provocou a divi são nos part ido s
comuni st as , retirando assim á URSS a condição de dirigente único do movimento
comunista internacional (1962);

• O movi me nto de de sco lon ização que, a partir da Co nfe rê ncia de Ban dung
(1955), projectou o Terceiro Mundo na cena da política mundial, desenvolvendo-se
no seu seio o “Movimento dos Não-Alinhados” que procuravam primeiramente a
coexistência pacífica.

A ameaça á coex is tê nc ia pacif ica

Ana Seara 51
Exame Nacional História

No entanto, alguns conflitos permaneceram mesmo após a eleição dos Presidentes


Ke nn edy e Kruch ev , que procuravam a paz, como foi o caso da cons trução do
Muro de Ber li m (196 1) separando Berlim Oriental de Berlim Ocidental, do abate de
um avião espião americano sobre território soviético.
No entanto, o pior destes episódios foi o dos “Mi ss eí s de Cub a” ( de fabrico soviético),
que Fidel Castro, líder da revolta socialista cubana, instalou na sua ilha tendo como alvo
os EUA. Kennedy reagiu com firmeza alertando as forças armadas e exigindo o
desmantelamento das bases, pelo que Kruchev compreendeu que uma hesitação da sua
parte poderia desencadear um conflito nuclear; por isso, cedeu pondo fim a esta crise.

O RE TORNO Á COEXIST ÊNCIA PACÍFICA

A partir do início da década de 60 numerosas foram as estratégias das super potências


com vista á paz. Em 1963 , os EUA e a URSS firmaram dois acordos:

• Estabeleceram o “te le fon e ve rme lho ” directo entre o Kremlin e a Casa Branca;
• Proib iram as exp er iê ncia s nucl ear es na atmosfera;
• Efectuaram o acordo para diminuir o risco de uma guerra nuclear por acidente- NAA
(1971);
• O tratado para li mi tação dos si st ema s de mís se is (SALT-ABM Treaty, 1972 );
• O tratado para a lim itação de ex pe ri ênc ias subte rrân eas com arma s
nucl ear es (1974 );
• O tratado de Moscovo, que proibiu explosões que pudessem afectar outros países que
não possuíssem experiência nuclear (1963);
• O Tratado do Espaço Exte rio r, que proibiu a colocação de qualquer tipo de
armas na órbita da Terra (1967 );
• O Trata do de Não-Pro lif eração de Arma s Nuc lear es , em que os signatários
se comprometeram a não transferir armas para qualquer outro país (1968).

Na Reunião do XXIII Con gr es so do Part ido Co muni sta da URSS (1966) reafirmaram-
se os princípios da “coexistência pacífica”: recur so a ne gocia çõe s para soluc ionar
div erg ên cia s; recusa da gue rra, de se nvo lvi me nto da coo pe ração económ ica e
cultura l em pé de igualdad e e prove it o mútuo.

Posteriormente, a Co nfe rê ncia sobr e a Segura nça e a Coo pe ração na Europa


(1975 ), vem a enumerar um conjunto de princípios com vista á paz:

1- Igualdade soberana entre os Estados.


2- Não- recurso á ameaça ou ao emprego da força.
3- Inviolabilidade das fronteiras.
4- Integridade territorial dos Estados.
5- Regulação pacífica dos diferendos.
6- Não-intervenção nas questões internas.
7- Respeito pelos direitos humanos e liberdades fundamentais: de pensamento,
consciência, religião ou convicção.
8- Igualdade de direitos dos povos e direito dos povos a disporem de si mesmos.
9- Cooperação entre os Estados.

Ana Seara 52
Exame Nacional História

Os mov im en tos juven is de con te st ação: “O Maio de 68”

A déca da de 60 trouxe uma série de transformações que envolveram modificações de


comportamento em vários meios sociais. Especialmente na Europa e nos EUA, ocorreram
movi me nto s de cont es tação . A revolta da juventude resultava de numerosos problemas
de natureza diversa: política, económica e social, religiosa porque, apesar dos múltiplos
acordos de paz efectuados, o que na prát ica se ver ifi cava era o im pe ria li smo, a
di scr im inação racia l, a ex pl oração do s povos do Ter ce iro Mun do e a
in tol erâ ncia ideo lóg ica .
O primeiro grande surto de contestação ocorreu por volta de 1965 , nos EUA, onde os
problemas sociais e o início da guerra do Vietname abalaram profundamente a confiança da
juventude na política dos seus governantes. A contestação alargou-se da América á Europa:

- Na França, contestava-se o “gaullismo” estático;


- Na Itália, a letargia política;
- Na Inglaterra, o conservadorismo retrógrado;
- Na Alemanha, o anticomunismo militante;

- Em Portugal, os movimentos juvenis da década de 60 reflectiram-se na “c ri se acad émi ca


de 69 ”- uma luta “por uma Universidade nova, livre e democrática, num Portugal Novo” e
um movimento que de certo modo foi alertando a opinião pública para a problemática da
guerra colonial.

Assim, a juventude sentia a contradição existente entre as necessidades de produção


impostas pela sociedade e o desejo de auto-realização, pelo que ao princípio da eficácia, os
jovens opunham o princípio do prazer. Deste modo, os jov en s re cusavam o s ref er en te s
cultura is e id eoló gi cos im pos to s pel as duas sup er pot ên cia s e sen tia m-s e na
obriga ção de denunc iar as var iadas for mas de man ipu lação da opi nião
públ ica . Este idealismo revolucionário traduziu-se em dois tios de manifestações:

• As revo lta s viol en tas como o “Maio de 68” , em Paris, em que os jovens
académicos franceses exigiam uma melhor formação e oportunidade de emprego e
propunham uma sociedade assente na Igualdade de direitos para todos.

• Os mov im en tos paci fi sta s como os hi pp ie s, nos EUA que, marcadamente


pacifistas e antiracistas, defendiam o regresso á natureza, á vida comunitária e ao
amor, apagados pela sociedade de consumo.

A AFIRM AÇÃ O DE NOVAS POTÊN CIAS

O TER CEIRO MUNDO

Ana Seara 53
Exame Nacional História

Outro factor ainda que contribuiu para o enfraquecimento do bipolarismo foi a


ind ep en dê nc ia do s paí se s do Ter ce iro Mundo, e o mov im en to do s não-
ali nhados .
O Terceiro mundo nasce de todo o longo processo de descolonização. Primeiro há a
contestação ao colonialismo, impulsionada pelo impacto exercido pela II Guerra Mundial:

1. A guerra abalou a solidez dos impérios: o Japão, antes de ter sido derrotado, ocupou a
Indochina, a Malásia, as Índias Ocidentais Holandesas (Indonésia), a Birmânia, sem
reacção eficaz dos colonizadores europeus – era o desprestígio da Europa na região;

2. A guerra “acordou” os dominados: 2 milhões de indianos, 275.000 norte-africanos e


175.000 soldados da África Negra foram incorporados nos exércitos aliados; soldados
estes que lutavam pelos direitos humanos e pela liberdade (dos outros), e que tomaram
consciência assim, da injustiça do sistema colonial e desejaram também a sua liberdade e
independência, crescendo o descontentamento das populações relativamente aos
colonizadores, por causa dos sacrifícios exigidos às populações das colónias;

3. A guerra enfraqueceu, em termos políticos e económicos, os Estados europeus, que não


conseguem contrariar a contestação anticolonialista;

4. As duas superpotências eram favoráveis à descolonização: os EUA, porque tinham sido


uma antiga colónia, e a URSS, porque apoiava a revolta dos povos contra os interesses
capitalistas e queria alargar a sua influência aos países recém-formados;

5. A ONU, fundada sob o signo da igualdade entre todos os povos, recomenda a abolição de
todas as políticas discriminatórias nas colónias e, em 1960, aprova a Resolução 1514, que
consagra o direito à autodeterminação dos territórios dominados e condena as potências
que continuam a reprimir os movimentos independentistas.

6. Nas metrópoles europeias, a opinião pública reconhece a justiça das reivindicações


independentistas e está contra guerras em defesa das colónias.

Depois, surgem os mov im en tos nac ional is ta s, que visam a recuperação da identidade
cultural e nacional dos povos colonizados. Estes movimentos adquirem rapidamente uma
dimensão política, constituem-se em partidos que, quer por via negocial, quer pela força das
armas, lutam pela autodeterminação dos territórios coloniais. Os seus líderes, muitos deles
educados nas metrópoles, lutam pela independência política, mas também contra o
subdesenvolvimento económico, visto como uma consequência da dominação colonial,
como foi o exemplo de Mohandas Gandhi, ou Mahatma (alma grande). Muitos deixam-se
seduzir pelo socialismo soviético ou pelo maoísmo, como foi o exemplo de Kwame
Nkrumah, responsável pelo primeiro Estado independente da África Negra, o gana, em 1957,
que, depois da revolução, adoptou um regime totalitário, marcado por um forte culto da
personalidade e por uma corrupção generalizada.

As vias de descolonização foram múltiplas, dependendo das especificidades dos territórios


e da atitude das potências colonizadoras. Pode-se distinguir a de sco lon ização ace it e p el a
me tró pol e, em que a transferência de poderes foi gradual e por etapas, e a
de sco lon ização vio le nt a, resultante de uma luta armada, mais ou menos longa.

Ana Seara 54
Exame Nacional História

* A Ing lat erra foi a potência que melhor aceitou a independência das suas colónias,
graças, em grande parte, à qualidade do trabalho dos seus administradores, conseguindo
reunir grande parte dos seus antigos territórios na Commonwealth, uma comunidade de
Estados ligados pelo símbolo comum da Rainha Isabel II, e por laços económicos, culturais,
de amizade...

* A Fra nça só aceitou a independência dos seus territórios da Indochina e da Argélia


depois de guerras. O mesmo se passa com a Holanda em relação à Indonésia, a Bélgica, em
relação ao Congo, e Portugal, em relação a Angola, Moçambique, Guiné e Cabo Verde.

A pr im eira vaga ind ep en de nt is ta verifica-se entre 1945 e 1959 : na Ásia, a


Indochina francesa, a Índia, de que depois se separou o Paquistão; no Médio Oriente, a
Jordânia, a Síria e o Líbano; no Norte de África, a Tunísia e Marrocos.

A segu nda vaga ocorre entre 1960 e 198 0, e significa o despertar da África, com o
surgimento de 17 novo s Es tados inde pe nd en te s no continente, como consequência da
Resolução 1514. Em 1963 , constitui-se a Or gan ização de Un idade Afr icana (OUA),
com o objectivo de reforçar os laços entre os novos Estados, numa perspectiva pan-
africanista, e de lutar contra as potências colonialistas que teimavam em não descolonizar,
como era o caso de Portugal, contra o qual a OUA desenvolveu uma intensa actividade
diplomática.

Portuga l e a po lít ica ult ramar ina

Portuga l viu-se obri gado a alt erar a sua polí tica ult ramar ina e a sua imagem,
tendo em conta que até a sua velha aliada britânica se preparava para a transferência pacífica
de poderes nas suas colónias. No entanto, para Portugal, não havia possibilidade de abdicar
dos seus territórios. Então, opta-se por uma “operação de cosmética” que elimina as
expressões colónia e império colonial, revogando-se o Ac to Co lon ial em 1951. Deste
modo, Portugal deixa legalmente de ter colónias, que a partir de então passam a ser
chamadas Proví ncia s Ul tramar ina s.

Na prática, o novo quadro jurídico apenas reforçava a autonomia das autoridades


portuguesas nos territórios, sendo que mesmo o estatuto das populações pouco se alterou: a
condição inferior de indígena foi regulamentada pelo novo Estatuto do Indigenato,
publicado em 1954. Nele se definiam as condições requeridas aos nativos para se elevarem à
categoria de assimilados, equiparada à de cidadão português; condições essas que deixavam
99% da população nativa de fora da cidadania portuguesa pois exigiam, para além da
maioridade (18 anos), a expressão correcta em português, o exercício de uma profissão, o
poder satisfazer as suas próprias necessidades e as da família a seu cargo, e não ser desertor
nem refractário ao serviço militar.

Dado o movimento de garantias de independência noutras colónias pertencentes a outros


países, as Províncias Ultramarinas portuguesas também desejaram a sua autonomia total.

Ana Seara 55
Exame Nacional História

Nas décadas de 50 e 60, após vários anos de preparação de múltiplas organizações políticas e
sindicais clandestinas, organizaram-se os movimentos que, pela via da luta armada, mais
contribuíram para a independência dos nossos territórios, como a UNITA (União para a
Independência Total de Angola), que surge pela mão de Jonas Savimbi; a FRELIMO (Frente
de Libertação de Moçambique), criada por Eduardo Mondlane; como o PAIGC (Partido
para a Independência da Guiné e Cabo Verde), fundado por Amílcar Cabral.

Os confrontos iniciaram-se no Nort e d e A ngo la , em Março de 1961 , e “rapidamente e em


força” marchou o primeiro contingente português, para Angola. Assim começa a guer ra
colo nia l por tugue sa . Portugal resistiu, ultrapassando, em muito, os prognósticos da
comunidade internacional, tendo o conflito durado 13 anos . Recusou-se sempre a via do
diálogo e da negociação, pois as autoridades portuguesas nunca reconheceram a guerrilhas
como movimentos e libertação nacionalista, mas sim como terroristas infiltrados por Estados
vizinhos, tendo o conflito chegado a um impasse.

A Rodé sia e a Áfr ica do Sul

Contrariando igualmente o movimento descolonizador dos anos 60, temos os caso s da


Rodé sia e da Áfr ica do Sul , dominadas também por minorias brancas que
institucionalizaram políticas de apertada segregação racial em favor dos brancos.

• Na Rodé sia do Sul , os colonos brancos, liderados por Ian Smith, proclamam, em
1965, a independência desta colónia inglesa, contra a vontade da Inglaterra e da
ONU, que se recusam a reconhecê-la como um Estado, dado o seu carácter
segregacionista, mas com o apoio dos EUA, da vizinha África do Sul e de Portugal,
que vê nela um aliado contra a transferência de poderes. São estas as forças que
permitem a Ian Smith resistir contra a pressão internacional e às guerrilhas de
libertação negras.

• Na Áfri ca do Sul, desde 1948 se reforçavam as barreiras legais que separavam os


brancos do resto dos cidadãos, constituindo um sistema fortemente segregacionista,
denominado de aparth ei d , que consistia no “desenvolvimento separado das raças”,
sob a supremacia da raça branca (europeus) que, no país, representava apenas 17% da
população.

O sistema incluía a separação territorial (criação de 10 bantus tõe s, os “Estados negros”,


pretensamente autónomos, mas, na realidade, completamente dependentes da República da
África do Sul, onde habitavam cerca de metade dos negros do país, em condições de extrema
miséria) e a discriminação jurídica que, ano após ano, foi afastando os não-brancos dos
lugares públicos, transportes, hospitais, escolas, zonas residenciais, empregos, jardins, praias
e escadas destinados à minoria europeia. Os não-brancos eram detidos por desrespeito às leis
do apartheid pela mínima infracção e, segundo as Nações Unidas, cerca de mil condenados
foram executados, por todo Mundo, entre 1961 e 1965, sendo que metade deles era de
nacionalidade sul-africana.

O movi me nto do s Não-Al inhado s

Ana Seara 56
Exame Nacional História

De to do est e pro ce ss o na sce o Terc ei ro Mundo . O conceito designa os países


excluídos do desenvolvimento económico, estendendo-se pelo Sul do Globo, abrangendo a
América Latina, a África e a Ásia do Sul e sudeste (com a excepção do Japão). Inclui as
regiões mais pobres e mais populosas do mundo, economicamente dependentes das nações
industrializadas.
Cientes dos seus interesses comuns, esforçam-se por estreitar laços e por adoptar uma
posição comum na política internacional, independente dos dois blocos hegemónicos. É o
que acontece na Co nfe rê ncia de Ban dung , na Indonésia, em 1955 , que condena o
colonialismo, rejeita a política de blocos e apela à solução pacífica dos conflitos
internacionais.
O Mov im en to do s Não-A li nhados na sce ofic ial me nt e na Co nfe rê ncia de
Be lg rado, em 1961 . Teve como principais promotores Nehru , da Índia, Tito , da
Jugoslávia e Nass er , do Egipto, e tornou-se a expressão do sonho de independência e
liberdade das nações mais frágeis face às pressões das superpotências e do mundo
desenvolvido em geral. O Movimento foi eficaz na luta contra o colonialismo, mas não
consegue a independência efectiva em relação aos dois blocos, revelando a partir do final da
década de 60, uma aproximação em relação à União Soviética, que se sentia mais descansada
com mais território para exercer a sua influência.
O MILAGRE JAPONÊS

Derrotado na II Guerra Mundial, o Japão é ocupado pelos EUA até 1950, que lhe concede
ajuda financeira e apoio no sentido de se democratizar: dá-se uma reforma no ensino, de
modo a preparar os cidadãos para vida democrática e assiste-se à distribuição da terra pelos
camponeses (70% tornam-se proprietários). Os resultados económicos foram de tal modo
surpreendentes que deram origem à expressão “milagre económico japonês”, que resultaram:

• Da mão-de- obra abundan te , com trabalhadores disciplinados e de ele vada


formação téc nica ;

• Das empresas adoptarem um tipo de orga ni zação pa te rna li sta onde os


trabalhadores encontram um emprego para toda a vida, salários altos e uma protecção
social tranquila. Em troca, aqueles identificam-se inteiramente com os objectivos da
empresa, com a qual criam relações quase familiares;

• Da im por tação de tec nolo gia s es tra ng ei ras , em especial, para a indústria eléctrica
e electrónica, que forma aperfeiçoadas pelos japoneses, possibilitando um elevado ritmo
de produção;

• Da recusa da po lít ica de rear mam en to em grand e es cala , o que favoreceu o


desenvolvimento económico e canalizou capitais para a educação.

No final da década de 70, o Japão não tem analfabetos, 75% da população terminou o
ensino secundário, tornando o Japão na 3ª potência mundial, em directa concorrência pela
liderança da economia mundial, com os EUA.

A CE E

Ana Seara 57
Exame Nacional História

Depois de, na primeira metade do século, quase se autodestruir em duas guerras


fratricidas, a Europa reconheceu a sua herança cultural comum e a necessidade de se unir
para reencontrar a prosperidade económica e a sua influência política.
Churchill lança o apelo ao renascimento europeu alicerçado numa «espécie de
Estados Unidos da Europa».
O primeiro passo para a cooperação europeia resultou da Declaração Shuman que previa a
cooperação entre a França e a Alemanha na produção de carvão e aço, acabando com a
rivalidade entre os dois países. Desta iniciativa resultou a CEC A (Comunidade Europeia do
Carvão e do Aço) a que aderiram além da Alemanha e da França, a Itália, a Bélgica, a
Holanda e o Luxemburgo.
Ainda que de índole estritamente económica e limitada aos sectores referidos, a
CECA foi o início de uma união mais ampla, a CEE (Comunidade Económica Europeia)-,
criada em 1957 pelo Trata do de Roma .
Firmado pelos mesmos seis países que integravam a CECA, o Tratado de Roma, pelo
qual os países signatários se comprometiam a permitir, entre si, a livr e ci rculação de
me rcador ias, de capi tai s e trabalhador es e a livr e pre st ação de se rviço s, é
considerado o ponto de partida da actual União Europeia.
A união aduaneira, prevista no Tratado de Roma, traduziu-se num forte aumento das
trocas internacionais e foi este sucesso que conduziu ao alargamento da CEE, à qual aderiram
o Reino Unido, a Irlanda e a Dinamarca e posteriormente, as recentes democracias do Sul,
Grécia, Portugal e Espanha.
Através da afirmação da CEE como nova potência e novo grupo económico
poderoso, reforçado por organismos políticos comuns, há a fragilização do bipolarismo
político institucionalizado. De então para cá, a Europa comunitária não só alargou o seu
âmbito geográfico como fortaleceu os laços que a unem, continuando a funcionar como uma
federação de Estados soberanos sob o signo da liberdade, da cooperação e do respeito mútuo.

Con strução da CE E e m fas es:

• Em 1957, núcleo inicial, Europa dos seis – faixa do Mar do Norte ao Mediterrâneo –
prioridade na integração aos países com elevada taxa de emprego nos sectores de
serviços e indústria, e reduzida na agricultura;

• Segunda vaga de adesões em 1973 – Reino Unido, Irlanda e Dinamarca;

• Terceira vaga nos anos 80 – países da Europa do Sul, progressivamente menos


dependentes da agricultura.

Pedido de entrada de Portugal para a CEE em 1977 – “opção europeia”: integração do país no
concerto das nações democráticas; afastamento da tradicional relação privilegiada com áreas
extra-europeias; tentativa de aproximação ao processo de desenvolvimento comum à Europa
Ocidental.

O PROGRESSI VO APAZIGU AM ENTO A PARTIR DOS ANOS 70

Ana Seara 58
Exame Nacional História

As Dif icul dade s do s anos 70

A partir de 1975, inesperadamente, pois até aí, o modelo capitalista imperava em toda a sua
plenitude, abate-se uma cr is e no s país es indus tria li zado s, com acentuadas descidas dos
respectivos PIBs, encerramentos de empresas, afectando, em especial os sectores siderúrgico,
da construção naval e automóvel, e o têxtil, subindo em flecha o desemprego. Paralelamente,
e ao contrário do que se verificou nas crises anteriores, a inflação tornou-se galopante. Este
fenómeno inédito recebeu o nome de estagflação, termo que aglutina as palavras estagnação
(da produção) e inflação. Esta crise económica nos anos 70 deu-se, sobretudo, à conjugação
de dois factores:

• A cri se en er gé tica – nos finais da década de 60, o petróleo era a fonte de energia
básica de que dependiam os países industrializados. Em 1973, os países do Médio
Oriente, membros da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), que
até aí tinham mantido baixo o custo do barril de crude, fazem deste recurso natural
uma arma política, quadruplicando os preços, como retaliação à ajuda ocidental a
Israel na Guerra do Yon Kipur, impondo-se mesmo um boicote total aos EUA, à
Holanda e à Dinamarca, “inimigos da causa árabe”. Em 1979, a situação agravar-se-ia
ainda mais com novas subidas de preço devido à crise política no Irão (segundo
maior exportador mundial) e à posterior Guerra Irão-Iraque.

Estes “choques petrolíferos” provocaram um acentuado aumento dos custos de produção dos
artigos industriais, e consequentemente, o encarecimento dos artigos junto do consumidor,
gerando uma quebra no consumo.

• A ins tabi li dade mon etá ria , provocada pela suspensão, em Agosto de 1971, da
convertibilidade do dólar em ouro. A excessiva quantidade de moeda posta em
circulação pelos Estados Unidos, cujo dólar se tinha tornado numa espécie de moeda-
padrão, em virtude da hegemonia económica americana, obrigou o presidente Nixon
a decretar a suspensão da sua convertibilidade em ouro, o que desregulou o sistema
monetário internacional dando origem a um fenómeno de inflação galopante.

A agi tação soc ial do s anos 70 é caracterizada pelos prob le mas polí tico s do
Te rce iro Mu ndo .

• Em Áfr ica , o problema são as graves rivalidades étnicas. Os novos Estados


herdaram fronteiras artificiais traçadas a “régua e esquadro” pelos europeus, que
tanto integram, num mesmo território, etnias diferentes, como separam grupos
coesos, como os somalis, desmembrados entre a Somália, o Quénia e a Etiópia. As
rivalidades étnicas são, muitas vezes, reforçadas por antagonismos religiosos. Assim
sendo, não admira que, em grande parte dos Estados africanos, as lutas de libertação
se tenham prolongado, no período pós-independência, em violentas guerras civis e
em tentativas separatistas. Por vezes, as questões políticas fazem explodir ódios
ancestrais que resultam em massacres interétnicos, como acontece no Ruanda, entre
tutsis e hutus, entre 1963-64, que vitimou 150.000 pessoas e, novamente, em 1994,
desta vez com um saldo de 500.000 mortos e dois milhões de fugitivos.

Ana Seara 59
Exame Nacional História

Num tal contexto, os regimes políticos tendem para a ditadura, porque mesmo os reputados
líderes nacionalistas, que orientam a sua luta sob o signo da liberdade política, se acabam por
tornar, uma vez no poder, chefes de um Estado totalitário. Mas, em muitos países, os líderes
carismáticos das lutas de libertação não se conseguiram manter no poder, sendo rapidamente
derrubados por golpes militares que estabeleceram regimes ainda mais tirânicos e corruptos e
que, por sua vez, foram também vítimas de novos golpes de força: só entre 1960 e 1980
ocorrem 60 golpes de Estado na África Negra, 2/3 dos quais foram bem sucedidos.

• Na Amér ica Lati na , a situação de clivagem social (20% da população encontrava-


se subalimentada, a agricultura virava-se para as culturas de exportação e imensos
latifúndios coexistiam com milhões de camponeses sem terra) oferecia campo aberto
às ideologias de esquerda, que os americanos tentavam, a todo custo, contrariar,
através do patrocínio da luta contra essas mesmas, quer frontalmente, quer por
intermédio da CIA, e através do apoio ás ditaduras de sentido contrário, que quase
cobriram o subcontinente. Exemplo paradigmático foi o violento golpe chileno que,
em 1973, derrubou o presidente Salvador Allende, legitimamente eleito, e instaurou
um regime fortemente repressivo, liderado pelo general Augusto Pinochet, um dos
líderes mais violentos da História da América Latina.

Neste contexto, a guerrilha alastra, patrocinada ora pelos soviéticos, ora pelos americanos
e, com ela, alastra a instabilidade e a violência política.

• No mun do is lâ mico , o orgulho de tempos passados renova-se, com a expulsão dos


povos estrangeiros. Ocupando uma vasta área geográfica que se estende do Médio
Oriente ao Norte de África, os muçulmanos partilham o respeito pelos princípios do
Corão, do qual emana um vasto conjunto de normas que serve de base aos mais
variados aspectos da vida: religiosos, familiares, sociais, judiciais, etc., sendo que, no
mundo muçulmano, a religião invade todos os domínios e nada se pode entender
sem ela.

No entanto, há profundas diferenças neste mundo, pois, há semelhança do cristianismo, a


religião muçulmana sofreu divisões, opondo-se dois grandes grupos: os sunitas, maioritários e
que representam uma facção mais tolerante e aberta, que admite a coexistência entre o poder
religioso e o poder civil; e os xiitas, minoritários, mas extremamente activos, que rejeitam
toda a autoridade laica, reconhecendo como único poder o dos guias espirituais, os
ayatollahs, que representam, simultaneamente, a autoridade civil e religiosa. É este grupo
que identificamos com os fundamentalistas islâmicos.
Em 1979, um revolução xiita, sob a orientação do ayatollah Khomeini, tomou o poder no
irão, derrubando o Xá Reza Pahlevi (pró-ocidental), e repondo em vigor castigos bárbaros,
há muito caídos em desuso, iniciando uma rápida islamização de toda a vida social e política,
rejeitando limiarmente os valores e influências do mundo ocidental. Esta subida ao poder
dos ayatollahs reavivou o conceito de guerra santa, fomentando acções violentas contra o
Ocidente e contra os governos dos países árabes mais moderados, sob os quais pesa a
acusação de colaborarem com o “grande Satã” americano.

Ana Seara 60
Exame Nacional História

A QUEDA DOS ÚLTI MOS REGI MES AU TORI TÁRIOS NA EUR OPA
OCID ENTAL

A cri se polí ti ca de 1958- 62 , em Portugal, marca o princípio do fim do regime


autoritário de Salazar.

Apesar de ter recuperado do abalo que foi a queda dos regimes fascistas europeus após a 2ª
Guerra Mundial, a mesma recuperação não foi conseguida face ao “terramoto” provocado
pela candidatura de Humberto Delgado às eleições presidenciais de 1958.
A campanha do “General Sem Medo” superou, em impacto e apoio, todas as previsões, quer
do Governo quer da Oposição.
A “vitória” do candidato do regime, o almirante Américo Tomás, permite a Salazar
sobreviver à crise, que procura extinguir com uma severa repressão: o general Humberto
Delgado, demitido das suas funções, parte a caminho do exílio, logo seguido do bispo do
Porto (pela carta de críticas que enviou a Salazar, no rescaldo das eleições); a PIDE
desencadeia uma ofensiva de grande envergadura contra o Partido Comunista (na
clandestinidade) que perde, num ano, 2/3 dos seus militantes; reprimem-se com feridos e
mortos, as manifestações do 5 de Outubro, do 1º de Maio e do 31 de Janeiro.
Em 1962, agudiza-se uma crise estudantil que põe em pé de greve as universidade de
Lisboa e Coimbra.
Toda esta agitação rompeu a apatia dos media internacionais face à ditadura portuguesa,
até aí considerada um regime paternalista e quase benévolo. A projecção internacional vai
reforçar-se com o célebre “caso do Santa Maria”: um navio português no mar das Caraíbas é
tomado de assalto, a 22 de Janeiro de 1960, pelo exilado capitão Henrique Galvão, à frente de
um comando do DRIL (Directório Revolucionário Ibérico de Libertação) Esta sua acção é
considerada pelas potências estrangeiras como um acto de protesto contra um regime
repressivo e, aquando da descoberta do navio pelos americanos, estes entregam os rebeldes,
são e salvos, ao exílio que o Brasil lhes oferece.
A grave crise interna que o regime enfrenta complica-se com a eclosão da guerra colonial,
em 1961, mas o velho ditador a tudo resiste. Só a inevitável morte de Salazar parece ser a
solução.

• A 18 de Dezembro de 1968, dada a “incapacidade permanente” de Salazar, operado a


um hematoma alguns dias antes, o Conselho de Estado inicia o processo institucional
para a sua substituição. O Prof. Marc el lo Ca eta no é o escolhido, sobre quem
convergem as esperanças de uma mudança política, e que, de imediato, tomou
algumas medidas que pareceram atenuar o cariz totalitário do regime:

• Regresso do exílio de algumas personalidades como o bispo do Porto e Mário Soares;


• Moderação da actuação da polícia política (que se passa a chamar Direcção Geral de
Segurança – DGS);
• Abrandamento da censura (mais tarde designada Exame Prévio);
• Abertura da União Nacional (rebaptizada, em 1970, de Acção Nacional Popular – ANP) a
sensibilidades políticas mais liberais.

Dava-se aos portugueses a “liberdade possível”, com o intuito de progressivamente se


evoluir para um Estado menos autoritário, dentro de uma “evolução na continuidade”. Este

Ana Seara 61
Exame Nacional História

conjunto de medidas, que gerou um clima de optimismo e esperança num real liberalização
do regime, ficou conhecido por “Pri mavera ma rce li st a”.
No entanto, o teor destas medidas chocava com a continuação da guerra colonial,
defendida pelo novo governante, um claro apoiante dos interesses das populações brancas no
ultramar. Isto provocou uma forte contestação, por parte do Exército e dos portugueses, que
Marcello Caetano viu necessidade de reprimir, desencadeando uma vaga de prisões e
remetendo para o exílio personalidades ainda agora de regresso ao país, como foi o caso de
Mário Soares.
A partir de 1970, a credibilidade do marcellismo deteriora-se rapidamente:

• No plano externo, reacendendo-se as críticas da ONU à política colonial e aumentando a


credibilidade dos movimentos de libertação;

• No plano interno, sendo que os deputados liberais abandonam a Assembleia Nacional,


recrudescem as acções dos grupos de extrema-esquerda, alarga-se a contestação dos
católicos progressistas e cresce, a olhos vistos, o descontentamento nas Forças Armadas,
donde veio o mais duro golpe: um prestigiado general Spínola, herói da guerra da Guiné,
publica um livro onde afirma abertamente que a guerra nas colónias está perdida.
Marcello Caetano, após a leitura do livro, percebe “que o golpe militar [...] era
inevitável”.

O 25 de Abr il de 1974

Desde há alguns meses que se vinha formando, um movimento contra o regime


encabeçado maioritariamente por capitães.
O livro de António de Spínola e a sua destruição deram aos capitães a certeza de que, em
caso de golpe, teriam apoio não só por parte da população mas também dos seus chefes
militares.
Depois de uma primeira tentativa falhada, a 16 de Ma rço , é uma operação militar planeada
e executada quase sem falhas que, no dia 25 de Abril de 1974 põe fim ao Estado Novo.
A operação “Fim-Regime” do Mov im en to Das Força s Ar madas – MFA, decorreu sob a
coordenação do Ma jor Ot el o de Carvalho de acordo com o plano previamente definido:
depois da transmissão, pela rádio, das canções senha “E Depois do Adeus” e “Grândola, Vila
Morena”, as unidades militares saem dos quartéis e : ocupam as estações de rádio e da RTP,
controlam o aeroporto e os quartéis-generais, cercam os ministérios do Terreiro do Paço, etc.
O presidente do Conselho, refugiado no Quartel da GNR no Carmo, rendeu-se ao
general Spínola. No fim do dia o “movimento dos capitães” sagrava-se vitorioso e a multidão
ocorrera às ruas em apoio dos militares a quem distribuía cravos vermelhos – “revolução dos
cravos”.

Portuga l a cami nho da democ racia

Após a revolução portuguesa de 25 de Abril de 1974 há o desmantelamento do


aparelho de suporte do Estado Novo e o estabelecimento de medidas tendentes a
institucionalizar a democracia – abolição dos órgãos políticos e policiais de repressão. No
próprio dia da revolução, Portugal viu-se sob a autoridade de uma Jun ta de Salva ção
Naciona l, constituída por acordo entre o MFA e a hierarquia das Forças Ar mada s.

Ana Seara 62
Exame Nacional História

A ins tauração da de mocrac ia em 197 4, garantiu o exercício efectivo da liberdade


política dos cidadãos, eleições livres para a Assembleia Constituinte, nova legislação social e
laboral, intervenção em sectores vitais da economia – nacionalizações e reforma agrária. Por
outro lado, há o alargamento e diversificação das relações externas e o reconhecimento da
independência das colónias portuguesas. Há também a nacionalização da banca, decretada na
fase aguda do processo revolucionário português, entendida, como via aberta ao
desenvolvimento e ao progresso do país.
Após a deposição do regime verifica-se um conturbado período de luta política
subjacente ao processo de estabelecimento de uma nova ordem económica e social,
vencendo as forças moderadas. Elaboração, por uma assembleia constituinte, pluralista,
democraticamente eleita, de uma Constituição que evidencia a tendência de esquerda,
dominante na altura em que o novo regime se institucionalizou.
E em 1976 , dá-se a con sa gração, na Cons ti tuição de 1976, da nova ordem,
política, social e económica do país e da devolução do poder político à sociedade civil.
Integração do País na comunidade democrática internacional.
O 1º de Ma io é assim, o acontecimento-símbolo, da unidade nacional no imediato
pós-25 de Abril, havendo a consagração popular do acto revolucionário e a afirmação das
liberdades e dos direitos cívicos.

TR ANSFORM AÇÕ ES IDEOLÓGI CAS E LINHAS ES TRAT ÉGICA S DOS ANOS


80

A cr is e econó mica dos ano s 70 pôs em evid ên cia as debi li dade s do sis te ma
eco nómi co e soc ial do Ocid en te : ao mesmo tempo que diminui o investimento privado
e abranda o crescimento produtivo, as finanças públicas acusam um enorme défice
orçamental gerado, em grande parte, pelos pesados encargos que lhes impõe o Estado-
Providência.
Para ultrapassar a crise, os Estados optaram por uma via pragmática que os conduziu a uma
menor interferência do Estado nas questões económicas e sociais, sendo esta uma inversão do
modelo keynesiano, à qual chamamos neo lib era li sm o, em vigor durante os anos 80. O
neoliberalismo caracteriza-se:

• Em termos económicos, pelo inc en tivo ao inve st im en to pr ivado através da


redução dos en cargo s que pesavam sobre as empresas e de uma revi são da s lei s
laborai s no sentido de facilitar, quer a contratação quer o despedimento de
trabalhadores;

• No comércio externo, pela manutenção por parte dos estados de taxas aduan eira s
redu zida s, capazes de evitar a retracção do comércio mundial que se verificou nos anos
30;

• No campo social, pelo retro ce ss o do Es tado-Prov idê nc ia , assumindo-se como


inevitável a redução das comparticipações do Estado em matéria de protecção social, pois
a elevada taxa de desemprego e de envelhecimento da população provocaram um
desequilíbrio entre as receitas e os encargos da Segurança Social. (Margaret Thatcher,
chefe do Governo britânico [Partido Conservador], e Ronald Reagan, presidente dos

Ana Seara 63
Exame Nacional História

EUA [Partido Republicano], foram, nesta época, os mais decididos defensores desta
política neoliberal).

A tendência neoliberal dos anos 80 contribuiu para refo rçar a onda de cont es tação
que, no s paí se s de Les te, se diri gia à eco nom ia col ec tiv izada e ao Esta do
soc ial is ta em ge ral .

Razões do descontentamento social e sinais da decadência do regime:


 marasmo económico;
 falta de bens de consumo;
 salários muito baixos;
 corrupção generalizada;
 falta de liberdade de expressão e informação;
 brutalidade das forças de segurança;
 aumento da criminalidade e do consumo de álcool.

Como tentativa de resolução da situação, o novo secretário-geral do PCUS, Mikhail


Gorbatchev lança, entre 1985 e 1986, as bases da pe re st roi ka (“reestruturação”) e da
gla sno t (“transparência”), um con junto de reforma s po lít ico-e conó mica s cujo
objectivo era reanimar o sector produtivo e, simultaneamente, liberalizar o regime. Tratava-
se, nas palavras do seu autor, de realizar o “enlace do socialismo com a liberdade”. Reformas
essas que gozaram de uma grande popularidade, quer na União Soviética, quer no
estrangeiro. No entanto, o fracasso económico da perestroika e a liberdade de
expressão/manifestação trazida ela glasnot rapidamente se conjugaram numa avalancha de
críticas e reivindicações que Moscovo não conseguiu controlar.

A crise do modelo marxista e o afrouxamento da linha totalitária conduziram,


rapidamente, à desagregação do bloco soviético. Em 27 de Outubro de 1989, o Pacto de
Varsóvia reconhece “o direito de cada nação decidir livremente a sua política”; poucos dias
depois, a 9 de Novembro, perante o mundo estarrecido, cai o muro de Berlim; alguns meses
passados, todos os países que gravitavam na esfera soviética se abrem ao multipartidarismo, o
que levou à ex ti nção do Pacto de Vars óvia , a 1 de Julho de 199 1. Em Dezembro,
depois da secessão das Repúblicas Bálticas e da Moldávia, desa par ece a própr ia Un ião
Sovié ti ca , que dá lugar à CEI (Comunidade de Estados Independentes), estrutura
federativa que agrupa as antigas repúblicas (agora Estados de direito) da ex-URSS (à excepção
das Repúblicas Bálticas).
Nos anos 90 desenha-se, assim, uma nova ordem mundial. Os Estados Unidos, privados do
seu único rival, gozam, agora, de uma hegemonia incontestada.

Uma segu nda vaga pac ifi sta sucedeu na Europa e dá-se o re iníc io das neg ociaçõ es
sobr e armam en to porque:

• A invasão soviética do Afeganistão, em 1979, e o consequente malogro dos acordos de


SALT II levaram a mais uma “corrida aos armamentos”;

Ana Seara 64
Exame Nacional História

• O fantasma da guerra nuclear ressuscita na Europa, e dão-se gigantescas manifestações,


sobretudo entre 1982 e 1983, na Alemanha e na Inglaterra, onde os manifestantes, sob o
slogan “antes vermelhos que mortos”, protestavam directamente contra a decisão da
NATO de instalar, na Europa, mísseis Pershing II e mísseis Cruise.

Depois de um primeiro encontro “de boa vontade”, em 1985:

• Os dois países aceitam a suspensão de todos os mísseis de médio alcance estacionados na


Europa (INF – Intermediate Range Nuclear Forces), acordo considerado o primeiro passo
concreto para um futuro desarmamento (1987);
• Novo tratado, em 1990, para a redução de armas convencionais.

• Os esforços para o desarmamento prosseguem ao longo da nova década, sobretudo no


âmbito das armas nucleares e químicas.

No entanto, a recusa de alguns países em assinarem as convenções internacionais, o seu


desrespeito, bem como o enorme potencial destruidor do armamento “no activo” não
permitiram afastar, de vez, a hipótese de uma destruição maciça.

Ana Seara 65

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