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Raciocinar exige a universalidade humana da razão.

A razão está sempre à


frente de tudo, de todos os sistemas sociais.
Nem todas as opiniões são igualmente válidas, valem mais as que possuem melhores
argumentos a seu favor e as que melhor resistem à prova de fogo do debate com as
objecções que lhe são colocadas.

Raciocínio - é a operação pela qual a inteligência, partindo de duas ou mais relações


conhecidas, afirmadas ou negadas, conclui uma nova relação que nelas estava
implicitamente contida e delas deriva logicamente. É a operação mental que infere
conhecimentos novos a partir de conhecimentos dados.

A lógica formal tem por objecto a técnica do raciocínio e a validade das conclusões
não depende do conteúdo das proposições, da sua matéria especial, mas unicamente
da sua forma.

A lógica contribui para a consciência da necessidade da exigência de rigor, coerência


e clareza dos nossos raciocínios em particular e dos pensamentos em geral.

A lógica formal tornou-se cada vez mais abstracta e simbólica permitindo a sua
aplicação na tecnologia de que são expoentes máximos a electrónica, a informática,
as linguagens de programação.

Todos os raciocínios são constituídos por um certo número de proposições dispostas de


tal modo que a conclusão resulta das premissas.

A lógica formal estuda as diferentes formas que podem ter os raciocínios abstraindo-
se do conteúdo material (o que é expresso verbalmente) referidos nas proposições
que compõem os raciocínios, preocupando-se com o respectivo valor de verdade.

Os raciocínios são avaliados como válidos ou não válidos e não como verdadeiros ou
falsos. A verdade ou falsidade da conclusão dependem dos conteúdo do raciocínio.
A validade lógica depende exclusivamente da relação entre os valores de verdade
das premissas e da conclusão.
Um raciocínio é válido quando as premissas são verdadeiras e a conclusão também.
Um raciocínio em que as premissas são verdadeiras e se obtenha uma conclusão falsa
não pode ser válido.

Sendo o Conceito Universal, ele aplica-se a um conjunto de objectos ou indivíduos


que reúnam as mesmas características essenciais comuns.
A extensão ( ou denotação) de um conceito é o conjunto de objectos aos quais o
conceito se aplica. Por exemplo, o conceito de mamífero aplica-se a todos os
indivíduos que se alimentam de leite materno durante determinado período da sua
vida.

Sendo o conceito abstracto, ele compreende um determinado conjunto de


características que o constituem.
A compreensão (ou intensão) de um conceito é o número ou o conjunto de
características ou qualidades essenciais que formam o conceito. Por exemplo, a
animalidade e a racionalidade são características essenciais que formam o conceito
de Homem.
1. Classifica o seguinte juízo :
a) ―O círculo é redondo‖ quanto à: Modalidade – É um juízo Apodíctico (dedução) -
enuncia uma relação entre o sujeito e o predicado. É universal e afirmativo, tipo A.

b) ―O triângulo tem três lados‖ quanto à Matéria – É um juízo a priori - cuja verdade
pode ser conhecida independentemente da experiência.

c) ―Alguns homens são músicos‖ quanto à Quantidade: - É um juízo particular –


aquele em que o predicado atribui-se a uma parte da extensão do sujeito. Particular
afirmativo.

d) ―Os homens são mortais‖, quanto à Qualidade – É um juízo afirmativo - quando


se estabelece uma relação de compatibilidade entre o sujeito e predicado. É universal
e afirmativo.

2. Elabora um juízo que seja simultaneamente: Universal, Categórico e Apodíctico.


Vários exemplos: o fogo queima; todos os homens são mortais; todas as bolas são
esféricas; todos os homens são racionais.

3. Tendo em conta a quantidade e a qualidade de um juízo (Tipo A, E, I e O),


classifica-os e representa-os segundo Diagramas de Euler:
a) ―Todo o homem é justo‖
b) ―Algum homem é justo‖
c) ―Nenhum homem é justo‖
d) ―Algum homem não é justo‖
R:

a) Tipo A

b) Tipo I

c) Tipo E

d)Tipo O

4. Define Dedução da forma mais correcta.


R: Dedução é o processo de raciocínio que nos permite, de premissas gerais, concluir
implicações particulares. Realiza-se no plano do inteligível, assume várias formas, a
mais conhecida é o silogismo. A dedução é uma industria mental que trabalha sobre
proposições; não acrescenta nada à sua significação, mas torna esta susceptível de
uma utilização nova.

5. Estabelece a diferença entre um raciocínio dedutivo e um raciocínio indutivo.


R: O raciocínio é uma operação discursiva mediante a qual concluímos que uma ou
várias proposições (premissas) implicam a verdade, a probabilidade, ou a falsidade
de uma outra proposição (conclusão). Podemos ter raciocínios dedutivos e indutivos:
Raciocínio dedutivo - define-se tradicionalmente como a passagem do geral ao
particular, da lei à aplicação; não se aplica à dedução matemática; une vários juízos
entre si, passa de um juízo a outro. Ex. de raciocínios dedutivos: dedução imediata
(inferência imediata), a dedução silogística;
Raciocínio Indutivo - consiste em enumerar todos os indivíduos definidos pela posse
duma mesma propriedade, e se realmente eles possuem todos, tomados
individualmente, esta mesma propriedade, pode-se concluir que o conjunto dos
indivíduos a possui. Exemplo: ‗Os vegetais, os animais e os homens respiram. Os
vegetais, os animais e os homens são todos os seres vivos conhecidos. Portanto os seres
vivos respiram. A indução amplificante, generaliza o conjunto dos casos análogos, a
partir de um facto observado ou experimentado num certo número de casos. Por
exemplo, tendo constatado que alguns raios luminosos se reflectem no seu plano
segundo um ângulo igual, conclui-se que todos os raios luminosos se reflectem
segundo esta lei. Caminha-se do particular para o universal.

6. Indica a regra referente aos termos do silogismo que é violada. Justifica.

a). Todos os políticos são homens.


Alguns políticos são corruptos.
Logo, todos os homens são corruptos.
R: Este silogismo não cumpre a Segunda regra que diz: ‗Nenhum termo deve ter
maior extensão na conclusão do que nas premissas‘. Ora o sujeito da conclusão,
‗homens‘, está tomado em uma parte da sua extensão na premissa (dizer ‗Todos os
políticos são homens‘ é dizer ‗Todos os políticos são alguns dos homens‘) e na conclusão
aparece quantificado universalmente (‗Todos os homens...). Assim, o predicado
‗corruptos‘ que na Segunda premissa qualifica alguns-políticos aparece na conclusão
a qualificar todos os homens. Isso foi concluir mais do que permitiam as premissas: não
se pode deduzir o mais do menos.
Eis o silogismo corrigido:
Todos os políticos são homens.
Alguns políticos são corruptos.
Logo, alguns homens são corruptos.

b) O leão é animal.
Ora, o lobo é animal.
Logo, o lobo é leão.
R: Este silogismo viola a 3ª regra que diz ‗O termo médio deve ser universal em pelo
menos uma das premissas‘. Neste silogismo o termo médio - comum às premissas - é
‗animal‘. Ora, ‗animal‘ é particular nas duas premissas. Com efeito, dizer ‗O leão é
animal‘ e ‗O lobo é animal‘ é dizer, respectivamente: ‗Alguns animais são leões‘ e
‗Alguns animais são lobos‘. Assim, o conceito ‗animal‘ está a ser tomado numa parte
da sua extensão na primeira premissa e em outra parte na Segunda premissa (o que
como sabemos, é o caso de ‗leões‘ e ‗lobos‘). Assim nada nas premissas justifica a
conclusão de que lobos e leões sejam idênticos ou os leões se incluam na classe dos
lobos.

7. Constrói silogismos de forma válida a partir dos elementos indicados em cada uma
das alíneas.
a) Conclusão: ‗Logo, todos os prémios Nobel são inteligentes‘
termo médio: ‗sábio‘

Todo o sábio é inteligente


Todos os prémios Nobel são sábios.
Logo, todos os prémios Nobel são inteligentes.

b) Conclusão: ‗Nenhum hipopótamo é músico‘


Termo médio: ‗artista‘.

Todos os músicos são artistas.


Nenhum hipopótamo é artista.
Logo, nenhum hipopótamo é músico.

8. Esclarece a forma de oposição que se verifica entre as seguintes proposições:


a) Nenhum político é honesto - Os políticos são honestos
São proposições da forma E e A - São contrárias.

b)Todos os estudantes são trabalhadores - Alguns estudantes são trabalhadores.


São da forma A e I - Proposições subalternas.

9. Tendo em conta o seguinte paradoxo, responde à questão:

Paradoxo de Sancho pança ou Paradoxo da Forca


Quando Sancho Pança era governador, o seguinte caso foi posto à sua consideração:
Certo feudo estava dividido por um rio sobre o qual estava uma ponte. O senhor do
feudo ergueu uma forca numa das saídas da ponte e decretou uma lei, segundo a
qual quem quisesse atravessar a ponte tinha que declarar sob juramento para onde
ia e o que ia fazer. Se o juramento da pessoa fosse verdadeiro, seria autorizada a
passar; se o seu juramento fosse falso e atravessasse a ponte, seria imediatamente
enforcada. Os juízes ficaram perplexos. ―Se o deixamos passar, ele mentiu no
juramento e, de acordo com a lei, deve morrer‖. ―Se o enforcamos, ele jurou que ia
morrer naquela forca e, tendo jurado a verdade, pela mesma lei, deve ser livre‖.

a). Examina criticamente o argumento tendo em conta a importância da


argumentação.

R: Atendendo ao argumento exposto no paradoxo, onde se pretende iludibriar o


outro, a importância da argumentação aqui oferece caminhos, tentativas de
sustentar certos pontos de vista com razões válidas. O argumento aqui é essencial, ele
é uma forma de investigação. Pode-se acrescentar que o argumento é a arma da
defesa. Segundo podemos analisar, argumentar não é para qualquer, mas sim para
quem possui habilidade para tal. Todo o argumento passa por uma compreensão, há
como que uma dialéctica subjacente. Vejamos as premissas do próprio paradoxo, é
pelo argumento utilizado que se ganha a vida ou a morte. O argumento tenta
sempre mostrar o quer que seja, independentemente de que seja verdadeiro ou falso,
ou até contraditório, como é este caso. O argumento é o motor, o explicar de forma
inteligível. A argumentação é comunicação, é diálogo.
É importante destacar que a argumentação visa justificar ou refutar opiniões, então,
é uma actividade social, intelectual e verbal. A saber, a argumentação tem como
finalidade o justificar ou refutar opiniões, constituindo assim inúmeros enunciados e
dirigidos à obtenção da aprovação de um auditório. A argumentação mostra ou
tenta mostrar os pontos válidos ou não válidos de um esquema dado, o que pode ser
mostrado no respectivo paradoxo; aqui pretende-se alcançar uma finalidade. A ter
em conta que os utilizadores da própria linguagem tomando parte na
argumentação fazem-no voluntariamente e de forma séria. Há um compromisso
com aquilo que se disse, um assentimento da acção. Neste excerto há um limite de
opinião, mas como o próprio texto é um paradoxo, a própria conclusão é uma
contradição.

TESTE DE FILOSOFIA

1 – a) Verifique a validade dos seguintes silogismos e, nos casos em que o silogismo


não for válido, identifique as regras que foram infringidas.

a) O Luís é arquitecto
O Luís é humano
Os humanos são arquitectos

b) Nenhum cão é peixe


Todos os cães são animais
Todos os animais são peixes

b) Identifique os elementos do primeiro silogismo.

c) Identifique a que figura pertence o primeiro silogismo.

2 – Converta as seguintes proposições e identifique o tipo de conversão que realizou.

a) ―Nenhum animal é pedra.‖

b) ―Todos os mamíferos são vertebrados.‖

c) ―Alguns mamíferos não são homens.‖

d) ―Alguns mamíferos são animais racionais.‖

3 –Construa o quadrado lógico de oposição de proposições, tendo em consideração a


seguinte proposição:
―Alguns homens não são crentes.‖

4 – Nos pares de proposições a seguir indicados, identifique aqueles que traduzem


inferências por conversão válidas:
a) ―Alguns jovens são peritos em navegação / Todos os peritos em navegação
são jovens‖

b) ―Os alemães são nórdicos‖ / ―Alguns nórdicos são alemães‖

c) ―Algumas plantas são carnívoras‖/ ―Todas as carnívoras são plantas‖

d) ―Alguns homens não são desportistas‖ / ―Todos os não desportistas são


homens‖

e) ―Todos os cães são mamíferos‖ / ―Todos os mamíferos são cães‖

5 – Identifique as relações de oposição presentes nos seguintes pares de proposições:

a) ―Nenhum homem é corajoso‖/ ―Os homens são corajosos‖

b) ―Alguns Homens não são crentes‖/ ―Alguns Homens são crentes‖

c) ―Todos os jovens gostam de ler‖ / ―Alguns jovens gostam de ler‖

d) ―Nenhum jovem gosta de ler‖ / Alguns jovens gostam de ler‖

6 – Relacione as duas proposições de forma a determinar o processo de inferência


imediata que permitiu passar da proposição antecedente à proposição consequente:

a) ―Certos políticos são ambiciosos‖ /‖Certos homens ambiciosos são políticos‖

b) ―Nenhum homem é corajoso‖ / ―Os homens são corajosos‖

c) ―Nenhum político é desonesto‖ / ―Nenhum homem desonesto é político‖

d) ―Alguns homens não são crentes‖ / ―Todos os homens são crentes‖

7 – Considere a seguinte afirmação: ―visto que no passado o sol sempre se ergueu no


horizonte no início de cada novo dia, então, amanhã e sempre o sol erguer-se-á,
como habitualmente no horizonte.‖

Identifique a inferência mediata aqui presente e caracterize-a.

O silogismo é, como Aristóteles disse, um raciocínio formado de três proposições de tal


modo dispostas que, expressas as duas primeiras, chamadas premissas, se segue
necessariamente a terceira, denominada conclusão. Por outras palavras, podemos
dizer que o silogismo é um argumento pelo qual, de um antecedente que liga dois
termos a um terceiro, se tira um consequente que une esses dois termos entre si.
Todo o silogismo regular é formado por três proposições, sendo as duas primeiras as
premissas e a última a conclusão, e por três termos comparados dois a dois.
Exemplos:

Toda a ciência normativa é prática


A lógica é uma ciência normativa
A lógica é prática.

Nenhum hortelão é juiz


Pedro é juiz
Pedro não é hortelão

O português é homem
O algarvio é português
O algarvio é português

Os termos no silogismos são a expressão verbal das ideias que entram em cada juízo
e, portanto, os elementos da proposição e classificam-se da seguinte forma:

Termo maior - é aquele que tem maior extensão e é o predicado da conclusão.


Designado pelas letras P ou T

Termo menor - é aquele que tem menor extensão e é o sujeito da conclusão.


Designado pelas letras S ou t

Termo médio - é aquele cuja extensão é intermediária entre o maior e o menor ou


aquele que serve de comparação entre os termos maior e menor e, por isso, se repete
nas premissas. Designado pela letra M

As três proposições que entram no silogismo, chamadas premissas e conclusão,


classificam-se da seguinte maneira:

1 - Premissa maior - é a proposição que contém o termo maior ou predicado da


conclusão e o termo médio, geralmente é a primeira.

2 - Premissa menor - é a proposição que contém o termo menor ou sujeito da


conclusão e o termo médio; em geral é a segunda.

3 - Conclusão - a proposição que contém os termos menor e maior. O sujeito da


conclusão é o termo menor; o seu predicado é o termo maior. O termo médio não
entra na conclusão, mas repete-se nas premissas.

Os termos e as proposições que entram no silogismo constituem a sua matéria: os


termos, a matéria remota e as proposições, a matéria próxima; a disposição desses
termos e dessas proposições, segundo as 8 regras, a sua forma.

Figuras do silogismo - As figuras do silogismo são os aspectos que ele


toma consoante a função exercida pelo termo médio nas premissas, quer como
sujeito, quer como predicado. Como o termo médio pode exercer a função de sujeito
ou predicado em ambas as premissas ou sujeito de uma e predicado da outra, são
quatro os aspectos possíveis.
1ª Figura - O termo médio é sujeito da primeira premissa ou premissa maior e
predicado da segunda ou premissa menor
(Sub - Prae)
Todo o homem é mortal
António é homem
António é mortal
Termo maior - mortal
Termo menor - António
Termo médio - homem
Premissa maior - Todo o homem é mortal
Premissa menor - António é homem

2ª Figura - O termo médio é predicado nas duas premissas.


(Prae - Prae)
Todo o homem é racional
O gato não é racional
O gato não é homem
Termo maior - homem
Termo menor - gato
Termo médio - racional
Premissa maior - Todo o homem é racional
Premissa menor - O gato não é racional

3ª Figura - O termo médio é sujeito nas duas premissas.


(Sub - Sub)
Os portugueses são europeus
Os portugueses são homens
Alguns homens são europeus
Termo maior - europeus
Termo menor - homens
Termo médio - portugueses
Premissa maior - Os portugueses são europeus
Premissa menor - Os portugueses são homens

4ª Figura - Esta figura é um modo indirecto da primeira; O termo médio é predicado


na primeira premissa e sujeito na segunda.
(Prae-Sub)
Os portugueses são homens
Os homens são mortais
Alguns mortais são portugueses
Termo maior - portugueses
Termo menor - mortais
Termo médio - homens
Premissa maior - Os portugueses são mortais
Premissa menor - Os homens são mortais
A CONSTRUÇÃO DO SILOGISMO
Silogismo categórico:

Para construir um silogismo é necessário definir previamente a matéria com que se


constrói – termos – e a forma como se constrói – modo e figura.

Suponhamos que queremos um silogismo que obedeça às seguintes condições:

Termo maior – Vertebrados


Termo menor – Animais
Termo médio – Mamíferos
Modo – A I I
Figura – 1ª

Como proceder?

1 – Começa-se pelo modo, escrevendo, por ordem, o tipo de proposições e a


respectiva designação da forma típica. Neste caso:

A – Todos … são…
I – Alguns … são…
I – Alguns … são…

2 – Escreve-se o termo médio no lugar indicado pela figura. Neste caso, como se trata
da primeira figura, é sujeito na premissa maior e predicado na menor:

A – Todos os mamíferos são…


I – Alguns … são mamíferos.
I – Alguns … são…

3 – Escreve-se o termo maior. Sabemos que é o predicado da conclusão e que entra


na premissa maior. Logo:

A – Todos os mamíferos são vertebrados.


I – Alguns… são mamíferos.
I – Alguns … são vertebrados

4 - Por último, escreve-se o termo menor que é sujeito da conclusão e tem o seu lugar
em aberto na premissa menor:

A – Todos os mamíferos são vertebrados.


I – Alguns animais são mamíferos.
I – Alguns animais são vertebrados.

COMO VERIFICAR A VALIDADE DE UM SILOGISMO

Consideremos o seguinte raciocínio:

Todos os cães são mamíferos.


Todos os gatos são mamíferos.
Logo: Todos os gatos são cães.
1. Apliquemos aquilo que sabemos sobre a distribuição dos termos ao sujeito e ao
predicado das três proposições:

Sujeito Predicado
Premissa Maior Distribuído Não distribuído
Premissa Menor Distribuído Não distribuído
CONCLUSÃO Distribuído Não distribuído

2. Apliquemos, agora, cada uma das regras:

1ª regra – Foi respeitada, pois apresenta três termos: o maior – cães; o menor – gatos;
o médio – mamíferos.

2ª regra – Foi violada, pois, embora não entre na conclusão, o termo médio –
mamíferos – não está distribuído em nenhuma premissa.

3ª – regra – Foi respeitada, pois o termo menor – gatos – está distribuído na


conclusão, mas também na premissa.

4ª, 5ª, 6ª e 7ª regras – Não se aplicam a este silogismo.

8ª – regra – Foi respeitada, pois a conclusão não é negativa.

Mal deparámos com o desrespeito da 2ª regra, concluímos que se tratava de um


silogismo inválido, pelo que não era necessário continuar a analisá-lo. Se o fizemos, foi
por motivos meramente didácticos.

SILOGISMO HIPOTÉTICO OU CATEGÓRICO

O Silogismo hipotético é também designado por silogismo condicional, uma vez que a
primeira premissa ocupa uma posição condicional. Exemplo:

Se chove, não posso sair de casa. - proposição condicional


Saio de casa.
Logo: não chove.

São silogismos em que a premissa maior não afirma nem nega de


modo absoluto, mas a título condicional (Se S, então P).

Há duas categorias de silogismo hipotético: Silogismo hipotético puro e


Silogismo hipotético misto.
O Silogismo hipotético puro é aquele que é formado exclusivamente por
proposições condicionais, ou seja, por proposições que estabelecem uma
relação de implicação entre o antecedente e consequente.
A sequência válida desta forma de silogismo baseia-se na seguinte regra:

Se uma proposição implica uma segunda a esta uma terceira, então a


primeira implica a terceira.

Tome-se atenção ao seguinte exemplo:

Se chove, não posso sair de casa.


Se não saio de casa, fico a ajudar o meu pai.
Se fico a ajudar o meu pai, não vejo os meus amigos.
Logo: Se chove, não vejo os meus amigos.

Aplicam-se-lhe uma de entre duas regras:

Exemplo:
Condição ou hipótese: Se |estiver bom tempo |, então |irei passear|
Facto: Está bom tempo
Conclusão: Logo, vou passear.

Regra do Modus Ponens (ponendo ponens): afirmando na segunda premissa o


antecedente da hipótese (aceitando o conteúdo do antecedente), afirma-se o
consequente (aceita-se o conteúdo expresso no consequente da premissa condicional)

Exemplo:

Condição ou hipótese: Se tiver teste, faço serão


Facto: Ora, não fiz serão
Conclusão: Logo, não fiz teste.

Regra do Modus Tollens (Tollendo Tollens): negando-se na segunda premissa o


consequente da condição, nega-se o antecedente dessa mesma condição.

Muito cuidado com as negações e duplas negações, não nos esquecendo o


princípio da dupla negação (DN): uma dupla negação equivale a uma afirmação.
Exemplo: negar que não é verdade que o Rui esteja a fumar é afirmar que o Rui está
a fumar.
Introdução

Todas as disciplinas têm um objecto de estudo. O objecto de estudo de uma disciplina


é aquilo que essa disciplina estuda. Então, qual é o objecto de estudo da lógica? O
que é que a lógica estuda? A lógica estuda e sistematiza a validade ou invalidade da
argumentação. Também se diz que estuda inferências ou raciocínios. Podes
considerar que argumentos, inferências e raciocínios são termos equivalentes.

Muito bem, a lógica estuda argumentos. Mas qual é o interesse disso para a filosofia?
Bem, tenho de te lembrar que a argumentação é o coração da filosofia. Em filosofia
temos a liberdade de defender as nossas ideias, mas temos de sustentar o que
defendemos com bons argumentos e, é claro, também temos de aceitar discutir os
nossos argumentos.

Os argumentos constituem um dos três elementos centrais da filosofia. Os outros dois


são os problemas e as teorias. Com efeito, ao longo dos séculos, os filósofos têm
procurado resolver problemas, criando teorias que se apoiam em argumentos.

Estás a ver por que é que o estudo dos argumentos é importante, isto é, por que é
que a lógica é importante. É importante, porque nos ajuda a distinguir os
argumentos válidos dos inválidos, permite-nos compreender por que razão uns são
válidos e outros não e ensina-nos a argumentar correctamente. E isto é fundamental
para a filosofia.

O que é um argumento?

Um argumento é um conjunto de proposições que utilizamos para justificar (provar,


dar razão, suportar) algo. A proposição que queremos justificar tem o nome de
conclusão; as proposições que pretendem apoiar a conclusão ou a justificam têm o
nome de premissas.

Supõe que queres pedir aos teus pais um aumento da "mesada". Como justificas este
aumento? Recorrendo a razões, não é? Dirás qualquer coisa como:

Os preços no bar da escola subiram; como eu lancho no bar da escola, o lanche fica
me mais caro. Portanto, preciso de um aumento da "mesada".

Temos aqui um argumento, cuja conclusão é: "preciso de um aumento da 'mesada'".


E como justificas esta conclusão? Com a subida dos preços no bar da escola e com o
facto de lanchares no bar. Então, estas são as premissas do teu argumento, são as
razões que utilizas para defender a conclusão.

Este exemplo permite-nos esclarecer outro aspecto dos argumentos, que é o seguinte:
embora um argumento seja um conjunto de proposições, nem todos os conjuntos de
proposições são argumentos. Por exemplo, o seguinte conjunto de proposições não é
um argumento:

Eu lancho no bar da escola, mas o João não.


A Joana come pipocas no cinema.
O Rui foi ao museu.
Neste caso, não temos um argumento, porque não há nenhuma pretensão de
justificar uma proposição com base nas outras. Nem há nenhuma pretensão de
apresentar um conjunto de proposições com alguma relação entre si. Há apenas uma
sequência de afirmações. E um argumento é, como já vimos, um conjunto de
proposições em que se pretende que uma delas seja sustentada ou justificada pelas
outras — o que não acontece no exemplo anterior.

Um argumento pode ter uma ou mais premissas, mas só pode ter uma conclusão.

Exemplos de argumentos com uma só premissa:

Exemplo 1
Premissa: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Logo, alguns europeus são portugueses.
Exemplo 2
Premissa: O João e o José são alunos do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.

Exemplos de argumentos com duas premissas:

Exemplo 1
Premissa 1: Se o João é um aluno do 11.º ano, então estuda filosofia.
Premissa 2: O João é um aluno do 11.º ano.
Conclusão: Logo, o João estuda filosofia.
Exemplo 2
Premissa 1: Se não houvesse vida para além da morte, então a vida não faria sentido.
Premissa 2: Mas a vida faz sentido.
Conclusão: Logo, há vida para além da morte.
Exemplo 3:
Premissa 1: Todos os minhotos são portugueses.
Premissa 2: Todos os portugueses são europeus.
Conclusão: Todos os minhotos são europeus.

É claro que a maior parte das vezes os argumentos não se apresentam nesta forma.
Repara, por exemplo, no argumento de Kant a favor do valor objectivo da
felicidade, tal como é apresentado por Aires Almeida et al. (2003b) no site de apoio
ao manual A Arte de Pensar:

"De um ponto de vista imparcial, cada pessoa é um fim em si. Mas se cada pessoa é
um fim em si, a felicidade de cada pessoa tem valor de um ponto de vista imparcial e
não apenas do ponto de vista de cada pessoa. Dado que cada pessoa é realmente
um fim em si, podemos concluir que a felicidade tem valor de um ponto de vista
imparcial."

Neste argumento, a conclusão está claramente identificada ("podemos concluir


que…"), mas nem sempre isto acontece. Contudo, há certas expressões que nos
ajudam a perceber qual é a conclusão do argumento e quais são as premissas.
Repara, no argumento anterior, na expressão "dado que". Esta expressão é um
indicador de premissa: ficamos a saber que o que se segue a esta expressão é uma
premissa do argumento. Também há indicadores de conclusão: dois dos mais
utilizados são "logo" e "portanto".
Um indicador é um articulador do discurso, é uma palavra ou expressão que
utilizamos para introduzir uma razão (uma premissa) ou uma conclusão. O quadro
seguinte apresenta alguns indicadores de premissa e de conclusão:

Indicadores de premissa Indicadores de conclusão

pois por isso


porque por conseguinte
dado que implica que
como foi dito logo
visto que portanto
devido a então
a razão é que daí que
admitindo que segue-se que
sabendo-se que pode-se inferir que
assumindo que consequentemente

É claro que nem sempre as premissas e a conclusão são precedidas por indicadores.
Por exemplo, no argumento:

O Mourinho é treinador de futebol e ganha mais de 100000 euros por mês. Portanto,
há treinadores de futebol que ganham mais de 100000 euros por mês.

A conclusão é precedida do indicador "Portanto", mas as premissas não têm nenhum


indicador.

Por outro lado, aqueles indicadores (palavras e expressões) podem aparecer em


frases sem que essas frases sejam premissas ou conclusões de argumentos. Por
exemplo, se eu disser:

Depois de se separar do dono, o cão nunca mais foi o mesmo. Então, um dia ele
partiu e nunca mais foi visto. Admitindo que não morreu, onde estará?

O que se segue à palavra "Então" não é conclusão de nenhum argumento, e o que


segue a "Admitindo que" não é premissa, pois nem sequer tenho aqui um argumento.
Por isso, embora seja útil, deves usar a informação do quadro de indicadores de
premissa e de conclusão criticamente e não de forma automática.

Proposições e frases

Um argumento é um conjunto de proposições. Quer as premissas quer a conclusão de


um argumento são proposições. Mas o que é uma proposição?

 Uma proposição é o pensamento que uma frase declarativa exprime literalmente.

Não deves confundir proposições com frases. Uma frase é uma entidade linguística, é
a unidade gramatical mínima de sentido. Por exemplo, o conjunto de palavras
"Braga é uma" não é uma frase. Mas o conjunto de palavras "Braga é uma cidade" é
uma frase, pois já se apresenta com sentido gramatical.
Há vários tipos de frases: declarativas, interrogativas, imperativas e exclamativas.
Mas só as frases declarativas exprimem proposições. Uma frase só exprime uma
proposição quando o que ela afirma tem valor de verdade.

Por exemplo, as seguintes frases não exprimem proposições, porque não têm valor de
verdade, isto é, não são verdadeiras nem falsas:

1. Que horas são?


2. Traz o livro.
3. Prometo ir contigo ao cinema.
4. Quem me dera gostar de Matemática.

Mas as frases seguintes exprimem proposições, porque têm valor de verdade, isto é,
são verdadeiras ou falsas, ainda que, acerca de algumas, não saibamos, neste
momento, se são verdadeiras ou falsas:

1. Braga é a capital de Portugal.


2. Braga é uma cidade minhota.
3. A neve é branca.
4. Há seres extraterrestres inteligentes.

A frase 1 é falsa, a 2 e a 3 são verdadeiras. E a 4? Bem, não sabemos qual é o seu


valor de verdade, não sabemos se é verdadeira ou falsa, mas sabemos que tem de ser
verdadeira ou falsa. Por isso, também exprime uma proposição.

Uma proposição é uma entidade abstracta, é o pensamento que uma frase


declarativa exprime literalmente. Ora, um mesmo pensamento pode ser expresso por
diferentes frases. Por isso, a mesma proposição pode ser expressa por diferentes frases.
Por exemplo, as frases "O governo demitiu o presidente da TAP" e "O presidente da
TAP foi demitido pelo governo" exprimem a mesma proposição. As frases seguintes
também exprimem a mesma proposição: "A neve é branca" e "Snow is white".

Ambiguidade e vagueza

Para além de podermos ter a mesma proposição expressa por diferentes frases,
também pode acontecer que a mesma frase exprima mais do que uma proposição.
Neste caso dizemos que a frase é ambígua. A frase "Em cada dez minutos, um
homem português pega numa mulher ao colo" é ambígua, porque exprime mais do
que uma proposição: tanto pode querer dizer que existe um homem português
(sempre o mesmo) que, em cada dez minutos, pega numa mulher ao colo, como
pode querer dizer que, em cada dez minutos, um homem português (diferente) pega
numa mulher ao colo (a sua).

Por vezes, deparamo-nos com frases que não sabemos com exactidão o que
significam. São as frases vagas. Uma frase vaga é uma frase que dá origem a casos de
fronteira indecidíveis. Por exemplo, "O professor de Filosofia é calvo" é uma frase
vaga, porque não sabemos a partir de quantos cabelos é que podemos considerar
que alguém é calvo. Quinhentos? Cem? Dez? Outro exemplo de frase vaga é o
seguinte: "Muitos alunos tiveram negativa no teste de Filosofia". Muitos, mas quantos?
Dez? Vinte? Em filosofia devemos evitar as frases vagas, pois, se não comunicarmos
com exactidão o nosso pensamento, como é que podemos esperar que os outros nos
compreendam?
Validade e verdade

A verdade é uma propriedade das proposições. A validade é uma propriedade dos


argumentos. É incorrecto falar em proposições válidas. As proposições não são válidas
nem inválidas. As proposições só podem ser verdadeiras ou falsas. Também é
incorrecto dizer que os argumentos são verdadeiros ou que são falsos. Os argumentos
não são verdadeiros nem falsos. Os argumentos dizem-se válidos ou inválidos.

Quando é que um argumento é válido? Por agora, referirei apenas a validade


dedutiva. Diz-se que um argumento dedutivo é válido quando é impossível que as
suas premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. Repara que, para um
argumento ser válido, não basta que as premissas e a conclusão sejam verdadeiras. É
preciso que seja impossível que sendo as premissas verdadeiras, a conclusão seja falsa.

Considera o seguinte argumento:

Premissa 1: Alguns treinadores de futebol ganham mais de 100000 euros por mês.
Premissa 2: O Mourinho é um treinador de futebol.
Conclusão: Logo, o Mourinho ganha mais de 100000 euros por mês.

Neste momento (Julho de 2004), em que o Mourinho é treinador do Chelsea e os


jornais nos informam que ganha muito acima de 100000 euros por mês, este
argumento tem premissas verdadeiras e conclusão verdadeira e, contudo, não é
válido. Não é válido, porque não é impossível que as premissas sejam verdadeiras e a
conclusão falsa. Podemos perfeitamente imaginar uma circunstância em que o
Mourinho ganhasse menos de 100000 euros por mês (por exemplo, o Mourinho como
treinador de um clube do campeonato regional de futebol, a ganhar 1000 euros por
mês), e, neste caso, a conclusão já seria falsa, apesar de as premissas serem
verdadeiras. Portanto, o argumento é inválido.

Considera, agora, o seguinte argumento, anteriormente apresentado:

Premissa: O João e o José são alunos do 11.º ano.


Conclusão: Logo, o João é aluno do 11.º ano.

Este argumento é válido, pois é impossível que a premissa seja verdadeira e a


conclusão falsa. Ao contrário do argumento que envolve o Mourinho, neste não
podemos imaginar nenhuma circunstância em que a premissa seja verdadeira e a
conclusão falsa. Podes imaginar o caso em que o João não é aluno do 11.º ano. Bem,
isto significa que a conclusão é falsa, mas a premissa também é falsa.

Repara, agora, no seguinte argumento:

Premissa 1: Todos os números primos são pares.


Premissa 2: Nove é um número primo.
Conclusão: Logo, nove é um número par.

Este argumento é válido, apesar de quer as premissas quer a conclusão serem falsas.
Continua a aplicar-se a noção de validade dedutiva anteriormente apresentada: é
impossível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa. A validade de um
argumento dedutivo depende da conexão lógica entre as premissas e a conclusão do
argumento e não do valor de verdade das proposições que constituem o argumento.
Como vês, a validade é uma propriedade diferente da verdade. A verdade é uma
propriedade das proposições que constituem os argumentos (mas não dos
argumentos) e a validade é uma propriedade dos argumentos (mas não das
proposições).

Então, repara que podemos ter:

 Argumentos válidos, com premissas verdadeiras e conclusão verdadeira;


 Argumentos válidos, com premissas falsas e conclusão falsa;
 Argumentos válidos, com premissas falsas e conclusão verdadeira;
 Argumentos inválidos, com premissas verdadeiras e conclusão verdadeira;
 Argumentos inválidos, com premissas verdadeiras e conclusão falsa;
 Argumentos inválidos, com premissas falsas e conclusão falsa; e
 Argumentos inválidos, com premissas falsas e conclusão verdadeira.
Mas não podemos ter:
 Argumentos válidos, com premissas verdadeiras e conclusão falsa.

Como podes determinar se um argumento dedutivo é válido? Podes seguir esta


regra:

Mesmo que as premissas do argumento não sejam verdadeiras, imagina que são
verdadeiras. Consegues imaginar alguma circunstância em que, considerando as
premissas verdadeiras, a conclusão é falsa? Se sim, então o argumento não é válido.
Se não, então o argumento é válido.
Lembra-te: num argumento válido, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão
não pode ser falsa.

Argumentos sólidos e argumentos bons

Em filosofia não é suficiente termos argumentos válidos, pois, como viste, podemos ter
argumentos válidos com conclusão falsa (se pelo menos uma das premissas for falsa).
Em filosofia pretendemos chegar a conclusões verdadeiras. Por isso, precisamos de
argumentos sólidos.

 Um argumento sólido é um argumento válido com premissas verdadeiras.

Um argumento sólido não pode ter conclusão falsa, pois, por definição, é válido e tem
premissas verdadeiras; ora, a validade exclui a possibilidade de se ter premissas
verdadeiras e conclusão falsa.

O seguinte argumento é válido, mas não é sólido:

Todos os minhotos são alentejanos.


Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são alentejanos.

Este argumento não é sólido, porque a primeira premissa é falsa (os minhotos não são
alentejanos). E é porque tem uma premissa falsa que a conclusão é falsa, apesar de o
argumento ser válido.

O seguinte argumento é sólido (é válido e tem premissas verdadeiras):


Todos os minhotos são portugueses.
Todos os bracarenses são minhotos.
Logo, todos os bracarenses são portugueses.
Também podemos ter argumentos sólidos deste tipo:
Sócrates era grego.
Logo, Sócrates era grego.

(É claro que me estou a referir ao Sócrates, filósofo grego e mestre de Platão, e não
ao Sócrates, candidato a secretário geral do Partido Socialista. Por isso, a premissa e a
conclusão são verdadeiras.)

Este argumento é sólido, porque tem premissa verdadeira e é impossível que, sendo a
premissa verdadeira, a conclusão seja falsa. É sólido, mas não é um bom argumento,
porque a conclusão se limita a repetir a premissa.

 Um argumento bom (ou forte) é um argumento válido persuasivo (persuasivo, do


ponto de vista racional).

Fica agora claro por que é que o argumento "Sócrates era grego; logo, Sócrates era
grego", apesar de sólido, não é um bom argumento: a razão que apresentamos a
favor da conclusão não é mais plausível do que a conclusão e, por isso, o argumento
não é persuasivo.

Talvez recorras a argumentos deste tipo, isto é, argumentos que não são bons (apesar
de sólidos), mais vezes do que imaginas. Com certeza, já viveste situações semelhantes
a esta:

— Pai, preciso de um aumento da "mesada".


— Porquê?
— Porque sim.

O que temos aqui? O seguinte argumento:

Preciso de um aumento da "mesada".


Logo, preciso de um aumento da "mesada".

Afinal, querias justificar o aumento da "mesada" (conclusão) e não conseguiste dar


nenhuma razão plausível para esse aumento. Limitaste-te a dizer "Porque sim", ou
seja, "Preciso de um aumento da 'mesada', porque preciso de um aumento da
'mesada'". Como vês, trata-se de um argumento muito mau, pois com um
argumento deste tipo não consegues persuadir ninguém.

Mas não penses que só os argumentos em que a conclusão repete a premissa é que
são maus. Um argumento é mau (ou fraco) se as premissas não forem mais plausíveis
do que a conclusão. É o que acontece com o seguinte argumento:

Se a vida não faz sentido, então Deus não existe.


Mas Deus existe.
Logo, a vida faz sentido.

Este argumento é válido, mas não é um bom argumento, porque as premissas não
são menos discutíveis do que a conclusão.
Para que um argumento seja bom (ou forte), as premissas têm de ser mais plausíveis
do que a conclusão, como acontece no seguinte exemplo:

Se não se aumentarem os níveis de exigência de estudo e de trabalho dos alunos no


ensino básico, então os alunos continuarão a enfrentar dificuldades quando
chegarem ao ensino secundário.
Ora, não se aumentaram os níveis de exigência de estudo e de trabalho dos alunos no
ensino básico.
Logo, os alunos continuarão a enfrentar dificuldades quando chegarem ao ensino
secundário.

Este argumento pode ser considerado bom (ou forte), porque, além de ser válido,
tem premissas menos discutíveis do que a conclusão.

As noções de lógica que acabei de apresentar são elementares, é certo, mas, se as


dominares, ajudar-te-ão a fazer um melhor trabalho na disciplina de Filosofia e,
porventura, noutras.
A lógica é uma criação de Aristóteles (séc. IV a. C.). O seu objecto principal foi o
de estabelecer as condições da validade do pensamento científico. Ao expor uma
teoria da demonstração e ao distinguir e classificar existem erros de raciocínio,
pretendia eliminar as dificuldades que alguns sábios tinham levantado e que tinham
posto em causa a própria possibilidade de um saber seguro e incontroverso. A
corrente estóica rivalizou, na Antiguidade, com a escola aristotélica. A rivalidade
impediu os partidários de uma e outra escola de verificarem que os sistemas
desenvolvidos não eram alternativos, mas sim complementares - enquanto os
aristotélicos desenvolviam a lógica das proposições categóricas, actualmente
desenvolvida pelo cálculo de classes ou pelo cálculo de predicados, os estóicos
interessaram-se pelos argumentos condicionais e criaram algumas regras hoje
integradas no chamado "calculo proposicional". Até ao século XIX, a lógica limitou-se
a desenvolver alguns aspectos das teorias aristotélica e estóica.

A lógica dita aristotélica é conhecida como "teoria do silogismo" e atribui-se-lhe o


estudo de três formas silogísticas: o silogismo categórico e os silogismos condicional e
disjuntivo.

A lógica formal estuda argumentos procurando estabelecer qual a relação entre


a forma de um argumento e a sua validade. O princípio em que se baseia é
aparentemente muito simples: um argumento é válido se tiver forma válida.

A validade de um argumento é, no âmbito da lógica formal, garantida pela sua


forma e não depende do seu conteúdo.

A lógica formal estuda argumentos dedutivos, isto é, argumentos cuja validade


depende inteiramente da sua forma e não do conteúdo das proposições do
argumento.

Recorrendo à linguagem matemática podemos dizer que a Compreensão


serve para delimitar um subconjunto dentro do conjunto universal ou,
simplesmente, dentro de outro conjunto (subconjunto), enquanto a Extensão
indica o número de objectos do subconjunto.

A figura ao lado apresenta a relação


entre a Compreensão e a Extensão de
um Conceito. Podemos concluir que
Compreensão e Extensão variam
inversamente, ou seja, quanto maior é a
Extensão, menor é a Compreensão e vice-
versa.
ACERCA DOS
SILOGISMOS
Figuras e modos do Silogismo
As figuras e os modos do silogismo são critérios de classificação dos silogismos.
As figuras resultam da posição do termo médio nas premissas. Os modos resultam da
qualidade (afirmativa ou negativa) e da quantidade (universal ou particular) das
proposições, por isso, para cada proposição são quatro as variações possíveis - A, E, I e O.
No que se refere ao lugar ocupado pelo termo médio (M) nas premissas podemos
encontrar as seguintes alternativas:

1ª figura 2ª figura 3ª figura 4ª figura


M P P M M P P M
S M S M M S M S
S P S P S P S P

Como para cada uma das três proposições do silogismo existem quatro
possibilidades de combinação qualidade /quantidade (A; E, E; O) temos por cada
figura 4X4X4=64 modos possíveis e, para as 4 figuras, 64X4=256 modos possíveis. De
todos estes modos, apenas 19 são modos válidos, isto é, respeitam as oito regras (ou as
três de Lukasiewics).

Os lógicos medievais inventaram um sistema mnemónico - um conjunto de


palavras em língua latina - para designar estes modos válidos. Para designar os
quatro modos da 1ª figura, tomaram-se as quatro primeiras consoantes do
alfabeto latino (B, C, D e F) e todos os outros modos das restantes figuras começam
por uma dessas consoantes. Nestas palavras mnemónicas, as vogais indicam a
qualidade e a quantidade das três proposições que constituem o silogismo, como por
exemplo BArbArA, que traduz um dos modos válidos da 1ª figura, constituído por
três proposições todas afirmativas e universais.

SILOGISMO
O silogismo exprime o raciocínio dedutivo. O silogismo apresenta-nos um
percurso que vai do geral ao particular, do antecedente, para o consequente, isto é,
das premissas para a conclusão. Recorde-se que a conclusão é extraída
exclusivamente das premissas, o que significa que está contida, compreendida nelas.
SILOGISMO
CATEGÓRICO
O silogismo categórico é constituído pelas duas proposições que compõem o
antecedente, as premissas, e pela proposição que constitui o consequente, a
conclusão. Esta é deduzida do antecedente e é constituída por dois termos – sujeito e
o predicado – e pela cópula. Aos termos da conclusão chamamos extremos. Ao
sujeito chamamos extremo menor (t); ao predicado chamamos extremo ou Termo
maior (T). A designação de Termo maior ao predicado da conclusão deve-se a que
tenha uma extensão maior do que o sujeito. No antecedente há um termo que une
entre si os dois extremos: a este chamamos Termo médio (M). O Termo médio tem
que ser universal, tem que ser comunicável ao sujeito da conclusão. Considere-se o
seguinte exemplo do silogismo clássico:

Todo o homem é mortal


Sócrates é homem (M)
Sócrates (t) é mortal (T)

O Termo maior (T) é mais extenso do que o Termo menor (t). Estes estão unidos
entre si pelo Termo médio (M) do antecedente: homem. É a ligação pelo termo
homem que comunica mortal da primeira premissa a Sócrates (na conclusão).

A premissa que contém o Termo maior (T) (o predicado da conclusão) chama-se


premissa maior; a premissa que contém o termo menor (t) (o sujeito da conclusão)
chama-se premissa menor. Alguns lógicos substituem a designação de termo médio
por m, a do termo maior por a e a do termo menor por b. Na sua construção, deve
começar-se sempre pela premissa maior, uma vez que contém o termo maior, o que
permite ligar o termo maior ao termo menor. Este está contido na extensão do
termo maior.

O silogismo – a extensão, a compreensão e a


validade
O termo maior, o termo menor, a premissa maior e a premissa menor, remetem-
nos para a extensão e para a compreensão dos conceitos. Com efeito, quando
formulamos um juízo (que exprimimos na proposição), incluímos o sujeito na
extensão do predicado ou o predicado na compreensão do sujeito.

O juízo tem uma função lógica: a de afirmar a inerência do predicado na


compreensão do sujeito. Mais do que dizer A é B, diz-se que B pertence a A. Daí que
a correcção formal e a validade do silogismo esteja exclusivamente dependente da
relação entre os termos e ainda da ligação necessária entre as premissas e a
conclusão através dos termos.
EXERCÍCIOS PRÁTICOS
1. O que é o silogismo?
R:

2. Como é constituído o silogismo?


R:

3. qual a relação entre as premissas e a conclusão?


R:

4. O que são os termos maior, menor e médio?


R:

5. Qual a relação entre os termos maior, menor e médio?


R:

6. O que é o silogismo categórico?


R:

7. De que depende a validade do silogismo?


R:

8. Explique a natureza da relação entre as premissas e a conclusão.


R:

9. Explique em que consiste o carácter formal do silogismo.


R:

10. Distinga a ―matéria‖ da ―forma‖ do silogismo.


R:

O silogismo é a expressão simbólica ou sinal externo do raciocínio. O raciocínio


faz a síntese de dois ou n-juízos para inferir um novo juízo. O silogismo faz a síntese
de duas ou n-proposições para inferir uma nova proposição. Os silogismos dividem-
se em: categóricos, condicionais e disjuntivos. O silogismo categórico é uma relação
entre três termos (m, a, b): se m é a e b é m, então b é a. Só condiciona termos. O
silogismo categórico é pois a implicação entre a conjunção de duas proposições e a
nova proposição que se gerais: se (m-a) e (b-m), então (b-a). As proposições do
silogismo categórico são gerais e particulares: A, E, I, O.

A estrutura do silogismo categórico: é formado por dois elementos: matéria e


forma.
A matéria do silogismo são três proposições, três termos. A proposições representam-
se por variáveis do quadrado lógico: A, E, I, O. Os termos (sujeito e predicado) de
cada proposição e representam-se por variáveis: m, a, b. m= termo médio, porque
deve ser geral e comum às duas proposições (premissas); a= termo maior porque é
sempre o predicado da conclusão; b= termo menor porque é sempre o sujeito da
conclusão.
A forma do silogismo é a implicação (nexo) entre a conjunção (e) das duas premissas
e a conclusão: se m é a e b é m, então b é a. Exemplo, se todas as ciências (m) são
belas (a) e algumas lógicas (b) são ciências (m), então algumas lógicas (b) são belas
(a).
O sistema formal de Aristóteles é restrito, porque as variáveis-termos só podem ser
substituídas por conceitos universais ou particulares e não singulares.

O SILOGISMO E OS PRINCÍPIOS
LÓGICOS
Enquanto expressão do raciocínio dedutivo, o silogismo assenta nos princípios
lógicos da identidade e da não contradição. Vejamos o primeiro caso: se, no juízo e
na proposição que o exprime a relação entre os conceitos é de inerência, afirmamos
a identidade do sujeito e aquilo que é sua propriedade. Ao afirmarmos ―Todo o
Homem é mortal‖, estamos, através da atribuição do predicado mortal ao sujeito
homem, a dizer o que é próprio do Homem. Afirmamos assim a sua identidade. Por
outro lado, ao afirmarmos ―Todo o Homem é Mortal‖ estamos logicamente
impedidos de dizer: ―Todo o Homem não é mortal‖. Não podemos simultaneamente
afirmar e negar a mortalidade do Homem.

O primeiro princípio do Silogismo, princípio da identidade, só pode ser aplicado


por intermédio do princípio da extensionalidade. Atenda-se que tudo o que é
universalmente afirmado de um sujeito é afirmado de tudo o que está contido nesse
sujeito. Por exemplo, se do Homem se afirma que é Mortal, esta afirmação é válida
para todo o indivíduo humano. Tudo o que é universalmente negado de um sujeito
é negado também de tudo o que está contido nesse sujeito. Por exemplo, se
negamos que todo o Homem seja vegetal, isso é negado para todo o indivíduo
humano.

As regras do silogismo
O princípio da extensionalidade é aplicado segundo três regras gerais, que,
posteriormente a Aristóteles, os escolásticos sistematizaram em oito. Vamos centrar a
nossa atenção apenas nas três regras gerais:

1 – O silogismo só pode ter três termos;

2 – De duas premissas negativas nada se pode concluir;

3 – De duas premissas particulares nada se pode concluir.


Para que o silogismo possa ser considerado válido ou não-válido, basta apenas que
não respeite uma destas três regras.

As figuras e os modos do
silogismo
Os silogismo agrupam-se em quatro classes ou figuras, segundo o papel que o
termo médio ocupa nas premissas. Aristóteles só definiu três figuras. Posteriormente,
os escolásticos, e por influência do judeu Albalag (século XIII), definiram a quarta
figura. Na primeira figura, o termo médio é sujeito na premissa maior e
predicado na premissa menor; na segunda figura, o termo médio é predicado nas
duas premissas; na terceira figura, o termo médio é sujeito nas duas premissas; na
quarta figura, o termo médio é predicado na premissa maior e sujeito na premissa
menor.
A quantidade e a qualidade das proposições que exprimem as premissas pode
variar. Constituem-se desta forma, os modos das figuras dos silogismos. As variáveis
das proposições podem ser do tipo A, E, I, O. Se fizermos todas as combinações
possíveis, obteremos 64 modos para cada figura dos silogismos. As combinações das
quatro letras serão feitas em grupos de três.

Se combinarmos as 4 figuras com os 64 modos do silogismo, o número total de


silogismos é de 256, mas só 19 são válidos. Com efeito, alguns modos são repetidos ou
equivalentes e outros infringem as regras do silogismo. Por exemplo, o modo AEE
equivale a EAE e o modo IIO infringe a 3ª regra do silogismo.

AS REGRAS DO SILOGISMO

1 – O silogismo tem três termos e só três termos.

2 – Nenhum termo pode ser mais extenso na conclusão do que nas premissas.

3 – A conclusão não deve conter nunca o termo médio.

4 – O termo médio deve ser tomado pelo menos uma vez universalmente.

5 – De duas premissas negativas nada se pode concluir.

6 – De duas premissas afirmativas não se pode tirar uma conclusão negativa.

7 – A conclusão segue sempre a parte mais fraca.

8 – De duas premissas particulares nada se pode concluir.


(Estas regras reduzem-se às três regras que Aristóteles definiu. O que se entende por
―parte mais fraca‖ são as seguintes situações: entre uma premissa universal e uma
particular, a ―parte mais fraca‖ é a particular; entre uma premissa afirmativa e
outra negativa, a ―parte mais fraca‖ é a negativa.)

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