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TERR A DA GENTE
M ais uma carga de açúcar or-
gânico chegava ao destino
sem condições de consu-
mo. O gerente de produtos
da Native, Fernando Alonso, lembra a
sequência de prejuízos causada pela
menina dos olhos da Usina São Francis-
para a Europa. Mas na exportação para
a Ásia não resistiram: embarcadas por
mais tempo em navios, não isolavam
a umidade do ar e esta empedrava o
produto.
O enorme prejuízo obrigou a em-
presa a encontrar outra solução. Por en-
co: a embalagem que recebeu um dos quanto, a embalagem é de polietileno
maiores prêmios de sustentabilidade comum, porém reciclável e impresso
da indústria paulista ‘naufragava’ nas com tintas que não prejudicam o meio

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viagens de exportação para a Ásia. Fei- ambiente. A experiência amarga ser-
ta com papel-cartão e tintas biodegra- viu de alerta sobre as dificuldades colo-
dáveis, era bonita pela simplicidade e cadas diante da empresa na busca pela
transmitia a mensagem de respeito ao embalagem sustentável. Mas não foi
meio ambiente. No comércio interno, um ponto final. Até porque esta é uma
funcionou muito bem. As caixinhas forte tendência seguida por indústrias 65
receberam o prêmio Ecodesign da Fe- em todo o mundo.
deração das Indústrias do Estado de Apesar de a maioria das embala-
São Paulo (Fiesp). No comércio inter- gens ser descartada ao chegar às mãos
nacional, suportaram até as viagens do consumidor, não há como tirá-las de
lixo reduzido
A redução de 2 gramas em cada tampinha de Coca-Cola pode parecer insignificante
quando vista isoladamente, mas no cômputo total do mercado brasileiro significa re-
duzir o uso de plástico em 240 toneladas por ano. Isso é equivalente ao material
usado para produzir 120 milhões de garrafas de 2 litros, que, enfileiradas, cobri-
riam 12.000 quilômetros, completando a distância entre todas as capitais dos
Estados localizados entre Santa Catarina e Amazonas.
T E R R A D A G E N T E | u s o su s t en tável
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FLORIANÓPOLIS

Plástico de cana longa vida


Por enquanto, o PHB serve apenas para em- Sem poder reduzir matérias-primas, devido aos
balagens rígidas, como frascos de xampu, mas padrões rígidos de qualidade das embalagens
a expectativa é de produzir filmes flexíveis, de alimento, a Tetra Pak investiu pesado na
recicláveis e biodegradáveis. tecnologia de reciclagem.
a matéria-prima – ainda mais importante. Tarefa que depende de dese-
nhos e projetos inteligentes e do desenvolvimento de materiais.
Recentemente, diversos produtos adotaram embalagens de plás-
tico biorientado. O material permite a fabricação de folhas bem fi-
nas e flexíveis com boa capacidade de proteção. Este tipo de plástico
– que tem invadido as prateleiras de chocolates, biscoitos e até de
sabonetes – é derivado de petróleo. Sua vantagem ambiental está na
circulação. “Os consumidores redução da espessura, que pode ser 40% menor que a do produto
são muito numerosos e estão tradicional, reduzindo o volume final descartado.
longe dos locais de produção”, José Ricardo Roriz, presidente da Associação Brasileira de Filmes
observa Luciana Pellegrino, Biorientados, observa que este material se tornou viável somente
diretora da Associação Brasi- com o desenvolvimento de máquinas capazes de fazer filmes cada

u s o su s t en tável
leira de Embalagens (Abre). vez mais finos em larga escala. Elas esticam as lâminas de plástico
“Cada região se especializou várias vezes, nos 2 sentidos, comprimento e largura (daí o nome
em um produto, que precisa biorientado = orientado em dois sentidos).
estar acessível a todos. Sem A redução do volume de plástico é fundamental, segundo Roriz,

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uma boa embalagem isso é pois é o material mais usado em embalagens no Brasil. Representa
impossível”. 36% do total, seguido pelo papel, metais e vidro, sendo este bem
E qualidade, aqui, não reduzido. Nos últimos 18 anos, o uso de alumínio em embalagens
significa apenas proteção do cresceu mais de 900%; o de plástico, 270% e o de papelão, 150%.
conteúdo. Para não entupir Enquanto isso, o vidro teve um crescimento de apenas 16%.
os aterros, é preciso seguir à Tal índice preocupa, principalmente no setor de bebidas, pois o 67
risca a regra dos 3 Rs – re- vidro retornável é substituído por alumínio e PET (sigla
duzir, reutilizar e em inglês de politereftalato de estireno).
reciclar. Mas aí também há esforços
para a redu-

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Apesar tem mais de 20 anos de
deste último ‘R’ idade recorda das primeiras em-
ser motivo de mui- balagens plásticas de refrigerantes: tinham
tas campanhas, no Brasil uma base colorida para a garrafa parar em pé. Um
apenas 8% das embalagens bom design aliado a um novo processo de moldagem eliminou
descartadas voltam à esse resíduo extra e reduziu o volume de PET empregado.
indústria. O índice A evolução é contínua e mesmo detalhes quase insignifi-
baixo torna o cantes em uma embalagem podem representar
primeiro ‘R’ grandes avanços no cômputo geral.
– redu- Em 2008, a Coca-Cola ado-
zir tou tampinhas
4 mi-
límetros mais curtas, uma redução em 2 gramas por garrafa. A im-
plantação é gradativa, porém, até 2012, só esta medida passará a evi-
tar a fabricação de 120 milhões de garrafas PET por ano no País. “Essa
operação, que também é positiva para a economia financeira da em-
presa, é um sinal de como as iniciativas de sustentabilidade podem
ser viáveis para o negócio”, comenta o diretor de meio ambiente da
Coca-Cola, José Mauro Moraes.
O tipo de material usado também é um desafio. Em especial dução de matéria-prima tam-
quando se procuram fontes renováveis para produção em escala in- bém exige cuidado extra. O
dustrial. No Brasil, algumas empresas fabricam plástico derivado da que não deve ser empecilho
cana, por enquanto, em escala experimental. Uma delas é a própria para a busca de soluções. “Esta
Native Produtos Orgânicos, cujo ramo principal de atuação é o de é uma exigência da socieda-
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alimentos. A aposta é no PHB (polihidroxibutirato), um plástico re- de”, diz o diretor de meio am-
ciclável e biodegradável processado por microorganismos. Com o biente da Tetra Pak, Fernando
trabalho das bactérias, cada 3 quilos de biomassa de cana resultam von Zuben. “Hoje, investir em
em 1 kg de plástico. sustentabilidade é fator de so-
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O processo de produção também é limpo, os efluentes são basi- brevivência para a empresa”.
camente água e matéria orgânica, esta usada como fertilizante. E Nas embalagens tipo lon-
a sobra de bagaço da cana é usada para produzir energia. O resul- ga vida, nos últimos 15 anos
tado é um plástico rígido moldável. Não dá para embalar o açúcar a quantidade de alumínio
orgânico, por ser rígido demais, mas serve para frascos de cosméti- por unidade caiu 20%. E se a
68 cos, iogurtes e sorvete, entre outras aplicações. Segun- redução é um trabalho com-
do Sylvio Ortega, diretor executivo plexo, a reciclagem não
da divisão fica atrás. Para
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pelo plástico – cujo o alumí-
nome comercial é Biocycle – o nio do plásti-
lançamento no mercado deve acontecer co, usado na parte
em 2011. interna das caixas,
As embalagens de alimentos sempre exigem atenção espe- foram gastos R$ 17
cial por envolver a saúde da população. As regras da Agência Na- milhões. O inves-
cional de Vigilância Sanitária não permitem, por exemplo, timento gerou
o uso de papel reciclado. Fibras contaminadas uma nova
podem comprometer a qualidade tecnolo-
do produto. Pelo mesmo gia e
motivo, a re-
mais tempo. Eles foram selecionados pela viabilidade comercial e efi-
cácia na proteção de produtos, que é o principal objetivo das embala-
gens. “É ingenuidade achar que embalagem sustentável é feita só de
materiais orgânicos e naturais”, afirma o designer inglês, Martin Bun-
ce. Para ele, a eficiência do processo está nos caminhos de retorno
desses produtos. Isso precisa estar bem definido e pode acontecer de
diversas formas. Para algumas embalagens, o melhor é a reciclagem;
permitiu construir um centro para outras, é a limpeza e a reutilização. E a geração de energia atra-
de reciclagem, viabilizando a vés da incineração também deve ser considerada, como acontece em
recuperação tanto do plástico vários países. Este é o destino de 52% dos resíduos sólidos da Suécia,
separado do alumínio e do por exemplo.
papel, que é a camada exter- Bunce diz ainda que a educação do consumidor é fundamental

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na das caixas, como o uso do para se ter embalagens verdadeiramente sustentáveis. O uso e a des-
alumínio fundido ao plástico, tinação inadequados das embalagens podem comprometer toda a
uma boa opção para a fabri- busca por sustentabilidade, mesmo se a fabricação seguir à risca
cação de telhas, por exemplo. todas as regras ambientais.

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A possibilidade de separar os A conscientização também ajuda o consumidor a reconhecer o
três materiais aumentou em que é realmente sustentável. Na onda ecológica, é comum encon-
25% o valor das caixinhas des- trar produtos classificados como greenwashing (lavagem verde). De
cartadas. E o índice de recicla- acordo com a designer brasileira Elisa Quartim Barbosa, o termo
gem vem subindo, tendo atin- pejorativo se aplica a produtos apenas com a aparência de susten-
gido 26,6% no ano passado. táveis, mas que, na verdade, não incorporam valores ambientais. 69
Além de aliviar os Ela ainda observa que precisamos ter responsabilida-
aterros sanitários, de econômica, ambiental e social. “Não
sa há outro adianta manter árvores em
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reduzir: dimi- Sustentabilidade é um com-
nuir os impactos da promisso que deve permitir às próximas
extração de matérias-pri- gerações o mesmo acesso que nós temos hoje aos re-
mas e manter metais, de- cursos naturais. Quando falamos em produtos descartáveis,
rivados de petróleo, como as embalagens, é ainda mais importante pensar desta
papelão e outros forma. E tal postura deve ser adotada por todos, não apenas
materiais no por quem deseja ocupar um espaço no nicho de
mercado mercado ecológico.
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