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Ao ler o tema proposto para este "Carnaval Educando en Familia”, a primeira coisa

que me veio à cabeça foi uma citação de E E Cummings, onde ele diz mais ou menos o
seguinte:

“Não ser ninguém excepto você mesmo, num mundo que se esforça dia e noite para
torná-lo igual a todos os outros, é lutar uma das mais difíceis batalhas que todo
ser humano poderia enfrentar, e que nunca deveria deixar de lutar.”

Para nós, viver a diferença é algo muito positivo e, na verdade, a única opção que
nos parece possível, pois “viver o igual” seria uma espécie de morte, uma vez que
implicaria sermos “outro” e, portanto, vivermos alienados de nós próprios.

Lembro-me de uma conversa, já faz uns 3 anos, em que às tantas alguém perguntou:

“Achas que deveríamos fingir ser como os outros?”


O meu filho imediatamente perguntou: “Para quê?”
Depois de um silêncio, retorquiram:
“Para nos juntarmos ao rebanho?”
Ao que o meu filho respondeu:
“Mas a respeito de quê é que eu quereria fazer isso?”

Viver a diferença, ou seja, ser quem realmente somos e viver a vida que realmente
queremos viver, é algo absolutamente essencial para o bem estar emocional e saúde
mental de todos nós, independentemente da idade que tenhamos.

O ensino doméstico oferece às crianças e jovens o espaço que tanto necessitam para
crescer, um espaço relativamente livre da constante pressão de grupo típica da
“socialização” escolar. Digo "relativamente livre" porque essa pressão não existe
apenas nas escolas; ela permeia a sociedade em que vivemos, e as famílias que
optam pela educação em família, ao contrário do que muitos possam pensar, são
parte integral dessa sociedade.

Viver a diferença é essencial não só para o bem estar do indivíduo como também
para o da sociedade. Assim como a nossa saúde depende do bom funcionamento de
todas as partes - se eu tiver um problema nos rins toda eu me sinto mal -, o
estado da sociedade em que vivemos depende do estado de cada um de nós. E em que
triste estado estaríamos se não tivéssemos a liberdade de ser quem somos! Viver a
diferença torna-se, assim, um dever.

Porque tal como a biodiversidade é uma das maiores riquezas do planeta e a melhor
medida da saúde dos sistemas biológicos, a maior riqueza da humanidade é a nossa
unicidade. Viver o igual seria então não só cometer uma espécie de suicídio
psicológico, emocional e espiritual como também contribuir para a propagação da
normose, essa patologia da normalidade que está encaminhando a humanidade à sua
auto destruição e à destruição do planeta.

Voltando então à questão inicial, como é que nós vivemos a diferença? O meu filho
vive-a como se fosse a coisa mais natural do mundo. Está bem consigo e sente-se
bem na sua pele. O ensino doméstico proporciona-lhe o tempo necessário para se
conhecer a si próprio, para se "aprender" a si mesmo, e uma atmosfera de aceitação
em que pode expressar todas as facetas do seu ser, ou melhor, do seu "sendo" em
constante transformação.

Quanto a mim, eu vivo a diferença com gratidão, apreciação e um certo sentido de


responsibilidade universal, de "ser a mudança que quero ver no mundo", como dizia
Gandhi. Vivo-a consciente da inter-dependência de tudo e todos, e de que a
sociedade somos nós pois somos nós que a co-criamos. Vivo-a também consciente da
importância da "edu-diversidade" e da liberdade de educação para a
sustentabilidade da humanidade.

Estou cada vez mais convencida de que, assim como todas as monoculturas acabam
produzindo enormes desiquilíbrios ambientais, a escolarização das mentes através
de um currículo global será um verdadeiro desastre para a humanidade. Talvez seja
por isso que o ensino doméstico está incluido na flôr da permacultura...

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