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A primeira coisa a ressaltarmos é que sem Israel e, portanto, sem Jesus, não
conheceríamos o Deus Altíssimo. Saberíamos de Sua existência, “porque os atributos
invisíveis de Deus, assim o Seu eterno poder, como também a Sua própria divindade,
claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das
coisas que foram criadas” (Rm 1.20a), porém não teríamos acesso a Ele.
Jesus, no entanto, foi o instrumento de Deus para firmar nova e eterna aliança com
Seu povo escolhido e, a partir daí, com todos os outros que quisessem ouvi-Lo, tornando-Se
o Caminho único para a vida eterna com Deus. E, quando se diz Nova Aliança (Jr 31.31),
torna-se antiquada a primeira (Hb 8.13). Porque “o fim da Lei é Cristo, para justiça de todo
aquele que crê” (Rm 10.4) e “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que
constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o
na cruz”(Cl 2.14).
Dessa forma, nós cristãos, devemos seguir o exemplo e as palavras do Senhor Jesus,
“edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo Ele mesmo, Cristo Jesus, a
pedra angular” (Ef 2.20). “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa
de sua fraqueza e inutilidade (pois a Lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado,
se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” (Hb 7.18-19).
Ora, o Senhor Jesus nunca determinou que recolhêssemos dízimos. Nas duas únicas
vezes que Ele mencionou o dízimo – Mt 23.23/Lc 11.42; e Lc 18.12 – foi em tom de crítica
aos fariseus, que o davam para justificarem-se, sem, no entanto, atentarem para os
profetas, que anunciavam a nova e superior Aliança, e sem ouvirem a Moisés, posto que
“toda a Lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo”
(Gl 5.14).
A necessidade dessas colocações está no fato de que o dízimo era um dos 613
preceitos da Lei (ver Lv 27.30ss, Nm 18.21ss, Dt 14.22-29), da Antiga Aliança de Deus com
Seu povo e, não, da Nova Aliança. É de suma importância estabelecermos a diferença entre
a Igreja de Cristo (santuário de Deus), onde o Espírito Santo orienta o indivíduo a fazer a
vontade de Deus, e a Lei de Deus dada através de Moisés, onde “aquele que observar os
seus preceitos por eles viverá" (Gl 3.12b), já que “a Lei não procede de fé” (12a).
É impressionante que esses líderes da Igreja, até então cumpridores da Lei, não
tenham mencionado a ingestão de animais imundos, a guarda do sábado, as festas, os
dízimos, todos preceitos importantíssimos da Lei, no entanto, desconhecidos dos outros
povos. Se eles, judeus que eram, não determinaram a observância desses preceitos pela
Igreja, por que nós, agora, deveríamos fazê-lo? Recebemos nova orientação de Deus que,
“por descuido” Dele, não consta das Escrituras, ou estamos seguindo opiniões de homens
que não têm o Espírito?
É evidente que Deus não errou e não mandou nova orientação, portanto devemos
examinar o que tem levado muitos de nossos líderes cristãos a pregarem algo que não é
verdadeiro: primeiramente, nessa pregação temos ouvido o que é o dízimo, ou só temos
ouvido sobre os benefícios de dá-lo e os problemas por não dá-lo? Temos ouvido que ele é
um preceito da Lei? E, como tal, sua verdadeira destinação e motivação?
Essas coisas não têm sido mencionadas nas atuais pregações sobre dízimo. O
dizimista não é orientado a consumir seu dízimo diante do Senhor. O temor de Deus tem sido
estimulado pelo medo de não receber Suas bênçãos, não por Ele ser o Deus Criador, o Todo-
Poderoso. E o Templo do Senhor, hoje, o Seu Santuário, é o corpo de cada cristão (1Co 3.16;
6.19), não os prédios das diversas instituições religiosas. Estes só têm a vantagem de
poderem abrigar um maior número de cristãos, em um lugar definido, para desfrutarem da
comunhão com Deus. Só que esta comunhão é pela reunião dos crentes (Mt 18.20), não pelo
lugar.
O Espírito de Deus ainda diz, através de Moisés, que as coisas referentes ao dízimo
poderiam ser convertidas em dinheiro (v.25), se o lugar escolhido por Deus fosse longe
(v.24), e que, “esse dinheiro, da-lo-ás por tudo o que deseja a tua alma, por vacas, ou
ovelhas, ou vinho, ou bebida forte, ou qualquer coisa que te pedir a tua alma; come-o ali
perante o Senhor, teu Deus, e te alegrarás, tu e a tua casa; porém não desampararás o
levita que está dentro da tua cidade, pois não tem parte nem herança contigo. Ao fim de
cada três anos, tirarás todos os dízimos do fruto do terceiro ano e os recolherás na tua
cidade. Então, virão o levita (pois não tem parte nem herança contigo), o estrangeiro, o
órfão e a viúva que estão dentro da tua cidade, e comerão, e se fartarão, para que o Senhor,
teu Deus, te abençoe em todas as obras que as tuas mãos fizerem” (vs. 26-29).
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plantar ou criar animais, porque o Senhor os separou para serem Seus sacerdotes santos,
não podendo envolver-se em negócios deste mundo. E, completando a obra, Deus usa Sua
misericórdia e Sua justiça para sustentar aqueles que não têm como fazê-lo sozinhos. No
atual uso do dízimo, somente os sacerdotes (pastores, bispos, presbíteros) têm sido
contemplados conforme a Lei, pois, para os pobres e desvalidos, são feitas campanhas
específicas de arrecadação.
Em segundo lugar, se essa pregação não é feita de forma correta, se ela não obedece
às determinações legais de Deus, se ela não instrui de acordo com a vontade do Senhor,
seria correto as igrejas (instituições humanas) apoiarem boa parte de sua administração
sobre a arrecadação de dízimos? Será que seus orçamentos ficariam comprometidos sem
isso? Ou será que, baseando-se na Lei, estejam negligenciando, também, os preceitos mais
importantes dela, conforme o “ai de vós” do Senhor Jesus, registrado em Mateus 23.23? Um
desses preceitos é a fé, que também é, junto com o amor, um dos principais fundamentos do
cristianismo.
Se Ele sabe dessas coisas de nossa vida pessoal, também sabe de nossas
necessidades institucionais. Quando o Espírito de Deus disse que “devem ser considerados
merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os
que se afadigam na palavra e no ensino” (1Tm 5.17), é evidente que Ele sabia que a Igreja
se organizaria e, assim, teria despesas a serem cobertas. Ainda assim, Ele não abriu uma
exceção para que essa organização lançasse mão de um preceito da Lei a fim de prover seu
sustento. Pelo contrário, o Senhor nos indicou o cumprimento da essência da Lei – fé, amor,
justiça, misericórdia – através de uma vida piedosa, “pois o exercício físico para pouco é
proveitoso, mas a piedade para tudo é proveitosa, porque tem a promessa da vida que agora
é e da que há de ser” (1Tm 4.8).
Mas, quando nos sujeitamos ao senhorio de Cristo, fazemos Sua vontade e somos
abundantes nas boas obras que, providencialmente, Ele colocou em nosso caminho. Aí, como
sabemos que são muitos os membros de Cristo e que todos devem cooperar em favor uns
dos outros, buscamos ter comunhão uns com os outros. Assim, forma-se a Igreja local com
pessoas unidas por um mesmo pensar e um mesmo proceder. Com essa atitude e cientes da
Palavra de Deus, trazemos todas nossas ofertas aos líderes da Igreja (At 4.32-35) que, junto
com os diáconos (At 6.2-3), cumprirão a vontade de Deus. Essas ofertas é que devem ser a
base da administração das igrejas, tomando-se o extremo cuidado com os supérfluos que
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têm se tornado gêneros de primeira necessidade, apesar de não terem apoio bíblico para
tanto. E, quando nos afastamos da Palavra, nos afastamos de Deus.
Se, ali mesmo, Deus diz: “eu, o Senhor, não mudo” (Ml 3.6a), e está descontente
com os ramos naturais, nós, que somos oliveira brava enxertados na boa oliveira (ver Rm
11.11-24), e andamos como eles, não deveríamos estar possuídos de muito maior temor?
Não deveríamos viver todos os princípios cristãos ao invés de nos justificarmos e nos
ensoberbecermos através do cumprimento de um preceito da Lei? Se sabemos que “a letra
mata, mas o espírito vivifica”(2Co 3.6b), é fácil decidirmos. E com esta decisão, rechaçamos
esse erro doutrinário a despeito da tradição e dos títulos que seus defensores detenham.
Lembremos que aqueles bens não pertenciam a Abrão e ele tinha consciência disto,
porque, depois, o rei de Sodoma ofereceu-lhe tudo e ele recusou, em nome Daquele que
possui os céus e a terra. Talvez Abrão tivesse ofertado até mais se os bens fossem seus,
porque, nesse capítulo 14 de Gênesis, é mostrado, pela primeira vez, Deus abençoando aos
gentios através de Abraão. Ele entendeu, e queria que todos entendessem, que, se não
houvesse a intervenção do Senhor, todo aquele povo teria sido escravizado e todos os bens
estariam perdidos.
Tamanha foi a importância desse fato, que esta foi a única vez que Abraão entregou
dízimos ao Senhor. Ali ficou claro que a salvação do povo pertence ao Senhor, anunciada e
consumada através do que é “sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”
(Sl 110.4b), evidenciada e confirmada no pão e no vinho trazidos pelo sacerdote, ou seja, a
carne e o sangue do Senhor Jesus. Hoje, o Senhor está conosco todos os dias até a
consumação do século (Mt 28.20) e chamamos atenção para isto seguindo Seus passos e
sendo tais como Ele foi.
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Na segunda passagem anterior à Lei em que o dízimo é mencionado, Gênesis 28.22,
vemos que Jacó faz um voto a Deus, condicionando-o ao sucesso na jornada que ele iniciara,
até a volta em paz para a casa de seu pai. Além de constatarmos que Abraão não ensinou
aos de sua casa o costume de entregar dízimos a Deus, também percebemos que Jacó
estava fazendo um acordo específico com o Senhor, caso Ele fosse com Jacó, já que ele
sentia-se culpado por ter recebido a benção de Isaque no lugar de Esaú.
Aquele que não limita sua oferta para a obra do Senhor será abundante naquilo que
faz, compreendendo e testemunhando que Deus é dono de tudo (Sl 50.12) e que está aqui
aprendendo a ser Seu adorador em verdade e em espírito (Jo 4.23) e, por isto, enquanto
tem oportunidade, faz o bem a todos (Gl 6.10), trabalha “fazendo com as próprias mãos o
que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef 4.28) e aprende “também a
distinguir-se nas boas obras a favor dos necessitados, para não se tornar infrutífero” (Tt
3.14).
Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como o Senhor Jesus nos amou é o
que deve nortear a nossa vida e não uma lei ou conjunto de leis. “Para a liberdade foi que
Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais de novo a jugo de
escravidão” (Gl 5.1). Amém!