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Carta à população do ISA

Começo com uma declaração de princípios: não sou imparcial, nem acredito
que haja intervenientes no processo eleitoral que, neste momento, o sejam. Todos
estivemos de um ou outro modo envolvidos no processo e, ao longo dele, fomos
retirando as nossas impressões e formando a nossa opinião. A partir do momento em
que o Presidente do CD me convidou para Presidente da Comissão Eleitoral tive o
cuidado de me abster de qualquer intervenção ou tomada de posição pública que
pudesse ser interpretada como apoio a qualquer das tendências que se desenharam, no
que respeita ao processo eleitoral nas suas múltiplas dimensões. Hoje, todavia,
terminadas as minhas funções, sinto-me impelido a comunicar-vos as minhas reflexões
e preocupações, lembrando que não fui nem sou candidato a qualquer posição no
Conselho de Escola, Conselho Científico e, muito menos, a presidente do ISA.
As razões que me levam a escrever esta carta prendem-se tão-somente com um
imperativo moral de reconhecimento e uma reflexão suscitada pela forma como
decorreu o processo eleitoral.
O reconhecimento vai para o Professor Raul Jorge, alvo de uma agressividade
que, em certos momentos, roçou o insulto, configurando uma tentativa de demolição de
carácter. O Professor Raul Jorge terá certamente razões para ficar magoado com essas
atitudes, sobretudo as que vieram dos que, publicamente, se declararam seus amigos. Se
a mim certas afirmações e as diferentes formas de insinuação me chocaram, imagino
qual o sentimento que provocaram ao Professor Raul Jorge!
Do choque passei a um sentimento de indignação a partir do momento em que
verifiquei que essa agressividade não era apenas uma manifestação deselegante da parte
de alguns colegas, despeitados pelo facto de a solução que defenderam ter sido
derrotada pelo voto maioritário do corpo dos docentes e investigadores. Correspondia
sim à existência de uma estratégia concertada de inviabilização da única candidatura
existente, destinada a adiar a decisão para Setembro. A intervenção do Professor Gomes
da Silva foi aliás bem clara tendo, na altura, suscitado a preocupação pública da Vice-
reitora, Professora Helena Pereira, que secundei no momento em que encerrei a sessão.
A leitura da votação dos representantes no Conselho de Escola acabou por
confirmar a existência de uma estratégia concertada de inviabilização da única
candidatura que, democraticamente, se apresentou à votação. Iniciou-se assim, de uma
forma enviesada, o procedimento de eleição do Presidente do ISA.
Como interpretar essa estratégia? Quem alguma vez se interessou pela ciência
política sabe que, muitas vezes por razões tácticas, interessa a alguns evitar o confronto
democrático directo e optar por estratégias negativas de inviabilização de soluções
maioritárias.
No caso concreto perfila-se exactamente uma situação deste tipo. Tornou-se
transparente o sentido da coligação negativa. Em primeiro lugar, na incapacidade de
construir uma alternativa para a Escola, havia que inviabilizar a candidatura existente.

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Lá para Setembro, uma vez afastado o Professor Raul Jorge e enfatizados os legítimos
receios dos colegas realmente preocupados com a Escola, perante uma situação de vazio
do poder, os estrategas desta coligação negativa promoveriam a solução que mais lhes
agrade. Quero crer que o Professor Carlos Noéme, depois das suas reiteradas
declarações de que, em nome da sua honorabilidade pessoal, não seria candidato, não
será conivente com esta estratégia.
Note-se ainda que esta estratégia, simples mas extremamente eficaz, foi levada
a cabo exactamente por quem não se coibiu de questionar a legitimidade ética da
candidatura do professor Raul Jorge!
Termino com a expressão de uma profunda preocupação sobre o futuro do
ISA. Preocupação quanto aos resultados desta estratégia concertada de inviabilização da
única candidatura apresentada a votação no Conselho de Escola – candidatura esta
suportada pela maioria do corpo dos docentes e investigadores –, sem que tivesse
havido a frontalidade nem a capacidade de, no momento próprio, apresentar ao
Conselho de Escola uma solução alternativa.
Triste exemplo transmitido aos alunos por parte de alguns colegas, que, no
calor do debate eleitoral, parecem esquecer a sua nobre missão de formar os futuros
cidadãos deste País.
Para além da imagem externa do ISA, que não deixa de ser afectada, antevejo
problemas a nível interno. É para mim evidente que a crispação e as feridas abertas
serão difíceis de ultrapassar. Quando se vai entrar numa nova fase da vida da escola, é
obvio que estratégias de conquista de poder à margem da ética democrática e
contrariando o sentido do voto da maioria dos docentes e investigadores, não ajudam à
constituição de equipas alargadas e multidisciplinares, sem as quais muitas das
potencialidades da escola continuarão por explorar.
Estou, contudo, convicto que o sentir maioritário da nossa Escola, baseado na
responsabilidade e no discernimento dos verdadeiros interesses que a norteiam, acabará
por prevalecer sobre as atitudes e episódios pouco democráticos a que acabamos de
assistir.

Lisboa, 27 de Julho de 2009


As minhas mais cordiais saudações e votos de boas férias
Manuel Belo Moreira

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