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QUALIDADE DE ENERGIA APLICADA ÀS PLANTAS DAS INDÚSTRIAS

NUCLEARES DO BRASIL S.A.

ISRAEL OTTONI SIMAS

MONOGRAFIA SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA


ELÉTRICA DA FACULDADE DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO
RIO DE JANEIRO, COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA OBTENÇÃO
DE TÍTULO DE PÓS GRADUAÇÃO LATO SENSU EM ELÉTRICA E ELETRÔNICA NA
ÁREA NUCLEAR.

Aprovado Por:

_______________________________________________
Prof. Walter Suemitsu , D. Ing.
Orientador

_______________________________________________
Prof. José Luiz da Silva Neto, Ph D

_______________________________________________
Prof. Luís Guilherme Barbosa Rolim, D. Ing.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL


JUNHO DE 2005
ii

Resumo

O avanço da eletrônica industrial proporcionou um grande


desenvolvimento para novas tecnologias, além de baratear o custo de equipamentos,
antes não acessíveis à uma grande parcela da sociedade. Porém o crescimento do
uso de alguns equipamentos eletrônicos acabou trazendo preocupações, antes, não
tão observadas. Então surgiu um novo tópico de discussão no mundo acadêmico: a
Qualidade de Energia. A preocupação com a qualidade de energia atinge tanto a
concessionária quanto consumidor, que devem compartilhar a responsabilidade de
manter os limites aceitáveis para os indicadores de qualidade.

A empresa foco deste trabalho é a INB, que é a empresa responsável pelas


etapas do ciclo nuclear no Brasil, desde a mineração até o transporte do elemento
combustível às usinas nucleares de Angra I e II.

Uma planta nuclear exige uma preocupação ainda mais rígida quanto à
segurança, reduzindo os riscos de operação que são inerentes do processo industrial
realizado. Muitos dos sensores, alarmes e sistemas de salvaguarda são acionados
eletronicamente, ou dependem da confiabilidade atribuída à medição de alguma
variável de campo, que pode estar sujeita a algum tipo de interferência. Por isso a
garantia da qualidade de energia do sistema de suprimento passa ser um fator
importante à segurança de toda a instalação nuclear.

Para eliminação dos problemas relacionados à qualidade de energia o passo


inicial é conhecer as fontes geradoras destes distúrbios. Somente após um estudo
minucioso, levando em consideração as normas de segurança e os limites aceitáveis,
deve-se então aplicar o método de mitigação mais adequado.
iii

Agradecimentos

A Deus, pois acredito que sem ele não estaria aqui desenvolvendo este
trabalho.

Ao professor Walter Suemitsu, por sua colaboração me orientando neste


trabalho e sugestões que foram de grande proveito.

A minha esposa Aline, pela compreensão em dividir com este trabalho horas da
minha atenção, sempre estando ao meu lado nos momentos mais difíceis.

Aos meus pais, que sempre fizeram de tudo para garantir meus estudos e
continuam torcendo pelo meu sucesso.

À INB pela estrutura e informações necessárias para o desenvolvimento deste


trabalho.
iv

Índice

CAPÍTULO 1

1.1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................ 5


1.2 – OBJETIVO ............................................................................................................................................. 7

CAPÍTULO 2

2.1 - A INB E O CICLO DO COMBUSTÍVEL NUCLEAR ....................................................................................... 8


2.2 - UNIDADES DA INB ................................................................................................................................ 9

CAPÍTULO 3 - QUALIDADE DE ENERGIA

3.1 - QUALIDADE DE ENERGIA .................................................................................................................... 14


3.2 - PERTURBAÇÕES RELACIONADAS À QUALIDADE DE ENERGIA ............................................................. 16
3.2.1 - PERTURBAÇÕES NA AMPLITUDE DA TENSÃO..................................................................................... 16
3.2.2 - PERTURBAÇÕES NA FREQÜÊNCIA DO SINAL ...................................................................................... 18
3.2.3 – DESEQUILÍBRIOS DE TENSÃO OU CORRENTE EM SISTEMAS TRIFÁSICOS ............................................ 19
3.2.4 - PERTURBAÇÕES NA FORMA DE ONDA ............................................................................................... 19
3.2.5 - CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS DISTÚRBIOS..................................................................................... 22

CAPÍTULO 4 - HARMÔNICOS

4.1 – ESPECTRO HARMÔNICO ...................................................................................................................... 23


4.2 – DISTORÇÃO HARMÔNICA TOTAL (THD) ............................................................................................ 24
4.3 – INFLUÊNCIA DOS HARMÔNICOS NO FATOR DE POTÊNCIA..................................................................... 26

CAPÍTULO 5 - FONTES PERTURBADORAS DO SISTEMA

5.1 – RETIFICADORES .................................................................................................................................. 28


5.2 – FONTE DE ALIMENTAÇÃO CHAVEADA ................................................................................................. 28
5.3 – INVERSORES ....................................................................................................................................... 29

CAPÍTULO 6 - EFEITOS NOCIVOS A EQUIPAMENTOS

6.1 – AQUECIMENTO EXCESSIVO ................................................................................................................. 31


6.2 – AUMENTO DA QUEDA DE TENSÃO E DIMINUIÇÃO DO FATOR DE POTÊNCIA .......................................... 31
6.3 – RESSONÂNCIA .................................................................................................................................... 33
v

CAPÍTULO 7 - ESTRATÉGIAS DE MITIGAÇÃO DE HARMÔNICOS

7.1 – ADIÇÃO DE INDUTÂNCIA .................................................................................................................... 34


7.2 - TRANSFORMADORES ∆-Y.................................................................................................................... 34
7.3 - USO DE FILTRO PASSIVO (SINTONIZADO) ............................................................................................. 35
7.4 - USO DE FILTRO ATIVO ......................................................................................................................... 35

CAPÍTULO 8 - CONCLUSÃO

REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................................... 38
vi

Lista de Figuras

Figura 2.1 - Diagrama do processo de reconversão ................................................... 10


Figura 2.2- Diagrama de fabricação das pastilhas ...................................................... 11
Figura 2.3 – Elemento combustível............................................................................. 12
Figura 2.4 – Montagem do elemento .......................................................................... 12
Figura 2.5 – Centrífuga ............................................................................................... 13
Figura 3.1 – Curva CBEMA......................................................................................... 14
Figura 3.2 – Curva ITIC .............................................................................................. 15
Figura 3.3 – Desligamento (Interrupção transitória) .................................................... 17
Figura 3.4 – Mergulho de tensão ................................................................................ 17
Figura 3.5 – Salto de tensão ....................................................................................... 18
Figura 3.6 – Variação de freqüência ........................................................................... 19
Figura 3.7 – Surto de tensão....................................................................................... 19
Figura 3.8 – Distorções harmônicas........................................................................... 20
Figura 3.9 – Cortes ..................................................................................................... 20
Figura 3.10 – Cintilação (“Flicker”) .............................................................................. 21
Figura 3.11 – Ruído .................................................................................................... 21
Figura 4.1 – Espectro harmônico de um sinal de corrente qualquer............................ 24
Figura 4.8 – Representação das potências em um sistema com harmônicos ............. 27
Figura 7.1 – Filtro ativo ............................................................................................... 35
vii

Lista de Tabelas

Tabela 3.1 – Características de distúrbio .................................................................... 22


Tabela 4.1 – Classificação de harmônicos.................................................................. 23
Tabela 4.2 – Tabela 10.3 da IEEE 519-2 .................................................................... 25
CAPÍTULO 1

1.1 – Introdução

A energia nuclear sempre foi encarada como um assunto polêmico pela


sociedade, pelo fato da dimensão e velocidade com que os efeitos danosos
produzidos pelas radiações se propagam. Infelizmente, o temor causado pelas
conseqüências trágicas decorrentes do mau uso das fontes nucleares abafa os
benefícios trazidos pelo uso correto da radiação e da energia nuclear.

As radiações são caracterizadas pela propriedade que alguns núcleos instáveis


possuem de decair, emitindo neste decaimento, partículas (α-alfa, β-beta, nêutrons) ou
radiações eletromagnéticas (γ-gama e fótons). O risco aos organismos vivos está
associado à interação desta radiação com a matéria, principalmente pelo fenômeno da
radiólise da água, que é a separação das moléculas de água em íons H+ e OH-,
tornando propícia a formação de radicais livres. Estes radicais livres, como são de
conhecimento da medicina atual, trazem conseqüências maléficas ao organismo,
dentre elas deformações genéticas e o câncer. Vale ressaltar que para pequenas
doses as radiações possuem características cumulativas, podendo causar efeitos
maléficos considerado o número de exposições. Porém, para doses elevadas os
efeitos são praticamente determinísticos, causando graves lesões e podendo levar à
morte em curto período.

Outro risco associado à utilização de materiais radiativos é o de contaminação,


isto se dá pela incorporação do material, que na maioria dos casos se aloja em
determinados órgãos causando um efeito ainda mais prejudicial que a exposição à
radiação.

Quando utilizada de forma consciente, obedecendo aos padrões de segurança


exigidos para evitar a contaminação ou exposição a doses prejudiciais ao indivíduo, a
radiação tem aplicações muito importantes. Na medicina, onde é mais conhecida, para
diagnósticos através de Raios-X e também para o tratamento por radioisótopos de
algumas doenças como o câncer. Na indústria, possui um grande leque de aplicação;
na metalurgia, em detecção de trincas; na indústria química, em análise de elementos
por Raios-X; na indústria de alimentos, com esterilização, etc.
A produção de energia nuclear, sem dúvida, é a mais criticada em relação às outras
fontes geradoras de energia. Um fato histórico que contribuiu imensamente para o
combate da energia nuclear nos dias atuais foi o acidente nuclear ocorrido em
Chernobyl, que produziu um número considerável de vítimas causado pelos efeitos
cumulativos da radiação. Outra aplicação polêmica da energia nuclear está no uso em
bombas de destruição em massa como as que foram lançadas sobre as cidades
japonesas de Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.

Atualmente existem no mundo 440 usinas em operação, somando um total de


capacidade de geração de energia elétrica de 366.821GW e 24 plantas nucleares em
construção (IAEA – International Atomic Energy Agency, Maio de 2005). A produção
de energia nuclear corresponde a uma parcela de aproximadamente 18% de toda a
energia produzida no mundo, ficando atrás somente da geração hidrelétrica e a
carvão.

Como o carvão é uma forma de energia altamente poluidora e o impacto


causado pela construção das hidrelétricas também é um assunto muito discutido pelas
organizações ambientais, existe uma busca freqüente pela descoberta de novas fontes
de energia menos poluidoras. Por esta análise, a energia nuclear possui um aspecto
positivo, já que não libera monóxido de carbono e enxofre na atmosfera como as
termoelétricas a carvão. Além disso, energia nuclear pode ser encarada como uma
energia mais concentrada do que as demais fontes, onde 1kg de urânio natural é
capaz de produzir 50.000kWh de energia elétrica, enquanto 1kg de carvão produz
cerca de apenas 1kWh de energia elétrica.

No Brasil, existem duas usinas nucleares, Angra I e II, com capacidade


respectivamente de 657 e 1.309 MW, administradas pela ELETRONUCLEAR S.A.,
que é a empresa responsável por toda a operação das usinas nucleares no país. A
empresa responsável pelo combustível nuclear no Brasil é a INB – Indústrias
Nucleares do Brasil S.A., sendo encarregada de todas as etapas de fabricação do
elemento combustível utilizado pelas usinas nucleares de Angra I e II.

Essas empresas trabalham para a constante manutenção da segurança em


suas unidades, desde a mineração do urânio até a produção de energia elétrica nas
usinas nucleares. A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), uma entidade
estatal responsável pela regulamentação e fiscalização das instalações nucleares e
outras atividades envolvendo radiação, exerce um papel muito importante ao exigir
dessas empresas o respeito aos limites e padrões necessários à segurança.
Como o bom funcionamento dos equipamentos de alarme e controle dessas
instalações nucleares é um fator primordial para a segurança, a qualidade da energia
que alimenta esses sistemas deve também receber uma atenção especial, a fim de se
evitar possíveis falhas de operação.

1.2 – Objetivo

Este trabalho tem como objetivo demonstrar a importância que deve ser
depositada na qualidade do suprimento de energia elétrica para as plantas
operacionais da INB, que fazem parte de todas as etapas do ciclo do combustível
nuclear no Brasil antes de entrar nas usinas.

As plantas da INB são basicamente plantas químicas, com processos que


exigem um elevado grau de proteção quanto à contaminação dos trabalhadores, com
constante monitoração do processo, visando aumentar sua segurança. Genericamente
esta monitoração é feita através de sistemas supervisórios, que recolhem informações
da planta por meio de vários tipos de sensores e processando esta operação em
CLPs.

Não só a monitoração, mas diversos processos possuem algum tipo de


controle eletrônico que depende de uma rede de suprimento de energia elétrica
confiável; portanto, a qualidade desta rede torna-se imprescindível para a garantia da
segurança e o bom funcionamento dos processos da produção.
CAPÍTULO 2

2.1 - A INB e o ciclo do combustível nuclear

A INB - Indústrias Nucleares do Brasil S.A. é a empresa responsável pelas seis


etapas que compõem o ciclo do combustível nuclear, que é o nome dado às etapas
industriais pelas quais o Urânio passa desde a mineração até a entrada na usina
nuclear.

A primeira etapa do ciclo do combustível nuclear é a mineração e a produção


do concentrado de urânio na forma de diuranato de amônio (DUA), conhecido também
como yellowcake, por apresentar como característica uma massa de cor amarelada.

Após ser produzido, o concentrado é enviado ao exterior, onde acontece a


segunda etapa do ciclo do combustível: sua conversão em hexafluoreto de urânio
(UF6). Esta etapa é a única que ainda não pode ser feita no Brasil; apesar de sermos
possuidores da tecnologia, o custo do empreendimento não é viável para o volume de
produção. Para essa etapa se tornar vantajosa seria necessário a construção de pelo
menos oito usinas como Angra II no país.

À conversão se segue a mais importante etapa, o enriquecimento isotópico,


que corresponde a 36% do valor do ciclo do combustível. Este processo é
absolutamente essencial, pois os reatores de Angra I e II utilizam urânio enriquecido a
3,5%. Apenas oito países no mundo realizam o enriquecimento em escala industrial.

Até o momento, esta etapa é contratada pela INB no exterior, sendo realizada
pelo consórcio Urenco - constituído por Holanda, Alemanha e Inglaterra - que
desenvolveu uma tecnologia de enriquecimento por ultracentrifugação.

Após a conversão e o enriquecimento, o urânio retorna ao Brasil na forma de


hexafluoreto de urânio (UF6) e passa pelo processo de reconversão, onde o UF6
retorna a dióxido de urânio (UO2) e é colocado sob a forma de pastilhas cilíndricas,
sinterizadas, onde adquirem aspecto cerâmico, aumentando sua resistência mecânica.

Estas pastilhas vão finalmente para a etapa de montagem do elemento


combustível, onde são colocadas no interior das varetas de zircalloy (uma liga especial
de zircônio que resiste a temperaturas de até 1400°C) que são partes constituintes do
elemento combustível.

2.2 - Unidades da INB

 INB Caetité – Mineração e beneficiamento do Urânio

Localizada no sudoeste do estado da Bahia, próximo aos municípios de


Caetité e Lagoa Real, está uma das principais províncias uraníferas brasileiras.
Sua característica é de monopólio da INB, comprovado que não existe nenhum
outro mineral de interesse associado, e reserva estimada de 100.000 toneladas de
Urânio.

A produção nominal atual é de 400 toneladas/ano de concentrado de


Urânio, sendo que a meta da INB para os próximos anos é a sua duplicação para
800 toneladas/ano de concentrado.

O processo de beneficiamento é de lixiviação em pilhas (estática). Após ser


extraído o minério pelo método de lavra a céu aberto, ele é britado e disposto no
pátio de lixiviação, onde as pilhas de minério são irrigadas por uma solução ácida
em ácido sulfúrico para retirada do urânio. As etapas de concentração do urânio
são seguidas da clarificação do licor, extração por solventes orgânicos,
precipitação, filtração, secagem e entamboramento.

No aspecto do sistema elétrico desta unidade, a confiabilidade e


estabilidade do sistema da concessionária não são muito satisfatórias. A unidade é
alimentada por uma única linha de 34kV e potência de 2.500 MVA, sendo que a
potencia nominal da planta está muito próxima da potência fornecida pela
concessionária. A necessidade de acionamento de máquinas de grande porte,
como os britadores e carregadeiras, colabora ainda mais para a geração de
problemas associados à qualidade de energia.
 INB Resende – Fábrica do Elemento Combustível (FEC)

Na cidade de Resende, no estado do Rio de Janeiro, está situada a FCN


(Fábrica de Combustível Nuclear), subdivida em unidades com atividades
específicas de produção como segue:

Reconversão:

Na unidade de reconversão o hexafluoreto de urânio (UF6) enriquecido


retorna ao estado sólido, sob a forma de pó de dióxido de urânio (UO2). A figura
2.1 mostra o diagrama simplificado do processo de reconversão.

Figura 2.1 - Diagrama do processo de reconversão

Observando o diagrama de processo acima, podemos verificar que esta


unidade é basicamente uma planta química, onde é exigido um controle
bastante eficiente do processo, dado o risco de contaminação com o urânio e
principalmente com o ácido fluorídrico, altamente tóxico, que é subproduto da
reação de quebra do UF6 no precipitador de TCAU.

O controle de variáveis das etapas de processo, como pressão e


temperatura, é realizado por um sistema supervisório projetado pela Siemens e
depende do bom funcionamento da rede de distribuição de energia. A precisão
e confiabilidade das medições das variáveis estão sujeitas a interferências
causadas por ruídos indesejados, que devem ser levados em consideração
quando do projeto.
Pastilhas

Nesta unidade, o pó de dióxido de urânio (UO2) é transformado em


pastilhas na forma de cilindro, com comprimento e diâmetro de
aproximadamente um centímetro, para serem acondicionadas no interior das
varetas do elemento combustível. A figura 2.2 apresenta o diagrama de
fabricação das pastilhas.

Figura 2.2- Diagrama de fabricação das pastilhas

Em relação aos cuidados quanto à qualidade de energia na fábrica de


pastilhas, a automação do processo, assim como na reconversão, é o sistema
mais sensível às perturbações na rede elétrica. O forno de sinterização,
embora sendo de elevada potência, por ser um forno de resistência, não gera
perturbações ao sistema como observado nos fornos a arco.

Elemento Combustível

A unidade do elemento combustível é responsável pela fabricação das


partes integrantes do elemento e pela montagem do mesmo, obedecendo
elevados padrões de qualidade e precisão mecânica. Além disso, esta unidade
produz pequenos elementos para reatores de outros países com a tecnologia
Siemens.
Figura 2.3 – Elemento combustível Figura 2.4 – Montagem do elemento

A fábrica de montagem do elemento combustível possui equipamentos


bem sofisticados de precisão mecânica. Nesta unidade a preocupação com a
qualidade do suprimento de energia é ainda maior, pelo fato de contribuir para
a injeção de perturbações e defeitos no sistema de distribuição de energia.

São utilizados inversores para controle de partida e de velocidade de


máquinas de alta potência, máquinas de solda, máquinas de solda a laser, alto-
forno e outros equipamentos geradores de perturbações harmônicas.

Enriquecimento

O enriquecimento, dentre as etapas do ciclo do urânio, sempre foi visto


como um assunto polêmico devido ao emprego de urânio altamente
enriquecido (98% U235) na produção de ogivas nucleares. Uma das etapas que
apresenta maior consumo de energia é o enriquecimento, isto explica a disputa
existente entre os países que dominam esta tecnologia, para a obtenção de um
processo ainda mais eficiente.

Existem alguns métodos que são utilizados para a separação isotópica,


como: Espectrógrafo de Massa, Difusão Gasosa, Centrifugação Gasosa e
Separação a Laser. Dentre estes métodos, aquele que obteve melhor aplicação
em escala industrial e apresenta melhores rendimentos é o método de
Centrifugação Gasosa (MURRAY, RAYMOND L - 2004). Este método também
é conhecido como ultra-centrifugação por causa da alta velocidade de rotação
envolvida, e é conhecido desde 1940. Porém, durante a Segunda Guerra
Mundial as pesquisas para a aplicação industrial deste método não foram
continuadas, por carência de material e tecnologia para trabalhar com tão
elevada rotação.

Após a Segunda Guerra, e principalmente com o avanço da eletrônica


de potência, este método de separação atingiu a escala industrial, mantendo-
se em constante processo de pesquisa e desenvolvimento para a construção
de centrífugas ainda mais práticas e econômicas.

A centrífuga consiste de uma caçamba cilíndrica e um rotor concêntrico


que gira em alta velocidade, sustentado por um mancal magnético como
mostrado na Figura 2.5:

ímã

Rotor

Motor
ímã
Figura 2.5 – Centrífuga

A Marinha brasileira também desenvolveu esta tecnologia, cedida à


INB, que está presente nas cascatas de ultra-centrífugas em fase de instalação
na unidade de Resende. Muitas informações quanto ao projeto são
confidenciais e restritas aos técnicos da Marinha envolvidos no projeto, porém
algumas informações básicas são de fundamental importância para o projeto
da rede de distribuição de energia e já devem ser previstas para o correto
dimensionamento do circuito. A velocidade de rotação é muito elevada e o uso
de eletrônica de potência para acionamento e controle dos motores
proporciona melhor desempenho às centrífugas. No entanto o uso desta
eletrônica deve ser analisado de forma minuciosa quanto à injeção de
harmônicos no sistema e também como as perturbações no sistema
influenciam estes dispositivos eletrônicos.
CAPÍTULO 3

3.1 - Qualidade de Energia

Nos últimos anos a utilização de conversores eletrônicos cada vez mais


sofisticados vem crescendo vertiginosamente, porém da mesma maneira que estes
equipamentos trazem benefícios ao usuário, podem também trazer problemas
referentes à qualidade do suprimento de energia. Os problemas na sua maioria
ocorrem porque estes conversores apresentam características não lineares que
produzem componentes harmônicas poluidoras do sistema (DIAS, GUILHERME -
2002).
As distorções harmônicas que surgem nos circuitos de suprimento de energia
são encaradas como uma das maiores preocupações no projeto de proteção de
sistemas elétricos. Porém, outros fatores que influenciam na qualidade do suprimento
de energia também devem ser observados, como será visto a seguir.

Em função da observância dos preceitos associados à Qualidade de Energia


Elétrica, seja por parte das agências regulamentadoras, ou seja, por maiores
exigências dos consumidores, no ano de 1980 a “Computer and Business Equipament
Manufactorers Association” (CBEMA), hoje ITIC, “Information Technology Industry
Council”, estabeleceu uma curva de suportabilidade (tensões toleráveis com dadas
durações) de equipamentos eletro-eletrônicos sensíveis. A Figura 3.1 apresenta a
curva CBEMA com indicação dos distúrbios mais frequentes e a região convencionada
segura para operação de equipamentos eletrônicos.

Figura 3.1 – Curva CBEMA


Posteriormente foi proposta uma nova curva, então conhecida como curva
ITIC, que amplia a escala de tensão em relação à curva CBEMA a valores
equivalentes às sobretensões atmosféricas, na faixa de µs e da ordem de 500%,
enquanto que em regime permanente a tensão de 60 Hz pode variar na faixa de 90 a
110%. Na Figura 3.2 pode-se identificar as regiões toleráveis para os níveis de tensão
em função do ciclo de operação.

Figura 3.2 – Curva ITIC


3.2 - Perturbações Relacionadas à Qualidade de Energia

Um problema de qualidade de energia é identificado quando parâmetros que


caracterizam um sinal de tensão ou corrente podem ser alterados em função de
alguns fatores, como: partida de motores, utilização de equipamentos eletrônicos,
fornos a arco e etc.

Genericamente, quatro tipos de perturbações elétricas básicas de um sinal de


tensão ou corrente podem ser produzidos em um sistema de suprimento:

• Perturbações na amplitude da tensão


• Perturbações na freqüência do sinal
• Desequilíbrios de tensão ou corrente em sistemas trifásicos
• Perturbações na forma de onda do sinal

3.2.1 - Perturbações na amplitude da tensão

Perturbações na amplitude de tensão são verificadas quando são produzidas


variações de tensão sobre sinais perfeitamente senoidais. A seguir serão
apresentadas algumas convenções adotadas (IEEE Std 1159 -1995):

INTERRUPÇÕES TRANSITÓRIAS (“OUTAGE”): São definidas como a perda


de potência durante 0,5 ciclos ou mais. Uma subdivisão é dada por:

Interrupção momentânea: perda de potência completa menor que 2


segundos;

Interrupção temporária: perda de potência completa, com duração


maior que 2 segundos e menor que 1 minuto;

Interrupção sustentada: perda de potência com duração maior que 1


minuto.
Figura 3.3 – Desligamento (Interrupção transitória)

VARIAÇÕES DE TENSÃO: Entende-se por qualquer variação na amplitude da


forma de onda senoidal de tensão e da freqüência 60Hz de duração maior que 0,5
ciclo. Estas variações podem se desenvolver ainda como variações de curta duração e
longa duração.

Variação de curta duração:

Afundamento de tensão (“SAG”): É um estado de subtensão, uma redução


da magnitude do valor eficaz de tensão de 10% a 90%, com duração entre 0,5
ciclo a 1 minuto. Segundo a IEEE Std 1159, a magnitude do afundamento deve
ser definida pelo seu valor final, tomando por base seu valor final. Exemplo: Se
a redução é de 30%, deve-se dizer “afundamento a 70%”.

Figura 3.4 – Mergulho de tensão


Salto de tensão (“SWELL”): É definido como um estado de sobretensão, um
aumento no valor eficaz da tensão, de duração entre 0,5 ciclo a 1 minuto.

Figura 3.5 – Salto de tensão

Variações de tensão de longa duração:

As variações aqui compreendidas são aquelas que ocorrem no valor


eficaz de tensão com duração superior a 1 minuto.

DISTÚRBIOS DE CURTÍSSIMA DURAÇÃO: Os transitórios de tensão são


caracterizados por serem unidirecionais, por terem duração na faixa ou inferior a
microssegundos e por afetarem a forma de onda das grandezas elétricas.

3.2.2 - Perturbações na freqüência do sinal

As perturbações na freqüência do sinal são variações em torno do valor


nominal e são causadas, geralmente, por problemas nos sistemas de geração e
transmissão de energia elétrica. Podem ocorrer também em sistemas que possuam
grupo gerador ou cogeração.

DISTÚRBIOS OSCILATÓRIOS: São caracterizados por terem duração menor


que 30 ciclos, podendo ser de alta freqüência até 5 kHz ou baixa freqüência, menor do
que 300Hz.
Figura 3.6 – Variação de freqüência

3.2.3 – Desequilíbrios de tensão ou corrente em sistemas trifásicos

Havendo diferenças significativas entre os valores eficazes de tensão em pelo


menos uma das fases do sistema gera-se um desequilíbrio de tensão. Um
desequilíbrio de corrente ocorre quando as intensidades de corrente que circulam
pelas três fases possuem valores diferentes, provocando uma corrente diferente de
zero no condutor neutro em circuitos conectados em Y a quatro fios.

3.2.4 - Perturbações na forma de onda

SURTOS: São transitórios de origem atmosférica (descargas elétricas) e são


chamados também de impulsos atmosféricos. São caracterizados por serem de
freqüência normalmente maior que 5 kHz e de duração menor que 200µs.

Figura 3.7 – Surto de tensão


DISTÚRBIOS PERIÓDICOS: São distúrbios que se repetem ao longo do
tempo. Podem ser estacionários ou não-estacionários.

DISTORÇÕES HARMÔNICAS: As distorções harmônicas são caracterizadas


por serem periódicas e ocorrem quando existe uma combinação das componentes da
forma de onda senoidal, a fundamental e suas componentes de ordem superior.

Figura 3.8 – Distorções harmônicas

CORTE (“NOTCH”): É uma distorção na forma de onda devido a curto-cicuitos


momentâneos na rede elétrica durante a comutação de chaves de conversores
estáticos. A amplitude do corte será determinada pelo tempo de comutação da chave
que é uma função da reatância da fonte vista pelo retificador no ponto em que ocorre a
condição.

Figura 3.9 – Cortes


CINTILAÇÃO (“FLICKER”): A cintilação luminosa pode ser definida como a
sensação visual das variações do fluxo luminoso das lâmpadas (principalmente as
incandescentes), quando ocorrem variações de tensão, ou seja, quando o valor eficaz
de tensão de suprimento do sistema elétrico sofre variações rápidas e repetitivas em
torno do seu valor nominal. Geralmente essas variações são de baixa amplitude e
freqüência de até 30Hz. A existência deste fenômeno é caracterizada pela percepção
desta variação de luminosidade pelo olho humano. Embora varie de pessoa para
pessoa, é mais comumente percebido para freqüência de 8 a 10 Hz e de amplitude de
0,8 a 1% do fluxo luminoso total.

Figura 3.10 – Cintilação (“Flicker”)

RUÍDO: O ruído é uma perturbação do tipo aleatória superposta à forma de


onda da grandeza elétrica fundamental, genericamente compreendido entre 0 a 2MHz.
Pode ser causado por uma operação defeituosa ou defeitos em componentes do
sistema ou consumidores. Máquinas de solda ou outro dispositivo a arco elétrico são
exemplos de produtores de ruídos no sistema.

Figura 3.11 – Ruído


3.2.5 - Características gerais dos distúrbios

A tabela 3.1 faz um resumo dos principais distúrbios relacionados à Qualidade


de Energia:

Distúrbios Espectro Duração típica Magnitude


típica
Interrupções transitórias - ≥ 3 ciclos 0
Interrupções momentâneas - < 2 segundos 0
Interrupções temporárias - 2 s – 1 min 0
Interrupções sustentadas - > 1 min 0
Mergulho de tensão (Sag) - 0,5 ciclo – 1 min 0,1 – 0,9 pu
Salto de tensão (Swell) - 0,5 ciclo – 1 min 1,1 – 1,8 pu
Variações de tensão de
- > 1 min 0,8 – 1,2 pu
longa duração
Surtos (Surges) 5 kHz < 200 µs -
Oscilatórios < 5 kHz < 0,5 ciclo -
< 300 Hz < 30 ciclos -
Distorções harmônicas 0 – 20 %
0 – 100º Estacionária
0 – 100%
Corte (Notch) 0 – 200
Estacionária -
kHz
Cintilação (Flicker) < 30 Hz Estacionária -
Ruído 0 – 2 MHz Intermitente -
Rádio-interferência 0,5 – 100
Intermitente -
MHz
Tabela 3.1 – Características de distúrbio
CAPÍTULO 4

Harmônicos

Uma ferramenta matemática bem aplicada ao estudo dos componentes


harmônicos que influenciam o problema de qualidade de energia é a série de Fourier,
que permite representar qualquer função não-senoidal periódica como a soma de uma
componente contínua e uma série (se necessário, infinitamente longa) de funções
senoidais.

Um componente harmônico de um sinal pode ser definido como um


componente de ordem superior a um da série de Fourier de uma medida periódica
(IEEE Std 1159-1995).

Quanto à ordem, freqüência e seqüência para um sistema trifásico a 60Hz, os


componentes harmônicos se classificam da seguinte maneira:

Ordem Freqüência Seqüência


1 60 +
2 120 -
3 180 0
4 240 +
5 300 -
6 360 0
n n*60 ...
Tabela 4.1 – Classificação de harmônicos

Uma situação ideal para a garantia da qualidade do suprimento de energia


seria aquela onde houvesse apenas o sinal de 60Hz, existindo apenas o harmônico de
primeira ordem, conhecido como fundamental.

4.1 – Espectro harmônico

A análise do espectro harmônico é uma ferramenta muito útil na identificação


das perturbações causadas pelas distorções harmônicas no sistema, permitindo
decompor um sinal em seus componentes harmônicos e representar na forma de um
gráfico de barras, em que cada barra refere-se a um componente com seu valor em
RMS. Alternativamente, as intensidades dos harmônicos podem ser mostradas como
porcentagem da componente fundamental, como ilustrado na Figura 4.1.

Figura 4.1 – Espectro harmônico de um sinal de corrente qualquer

O exemplo gráfico do espectro harmônico da Figura 4.1 foi obtido da medição


de um sinal por um equipamento de análise de qualidade de energia, o FLUKE 43,
mod. monofásico com capacidades nominais para 600V e 500A, capaz de decompor
um sinal até o seu harmônico de 51a ordem.

4.2 – Distorção Harmônica Total (THD)

Com o crescimento do interesse pela qualidade de energia e observada a


influência dos componentes harmônicos que contribuem para o mau funcionamento do
sistema, houve a necessidade de expressar numericamente os harmônicos que
compõem um sinal, definindo-se então, a THD ou Total Harmonic Distortion (AHMED,
ASHFAQ - 2000).

Existem duas maneiras de representar a THD de um sinal, conforme os


padrões internacionais utilizados: a THDf que indica a distorção harmônica total em
relação à componente fundamental do sinal, e a THDr que representa a relação entre
a distorção harmônica total e o sinal total (RMS).
2 2 2 2
( h 2 ) + ( h3 ) + ( h 4 ) + ... + ( h n )
(4.1)
THDf = × 100%
h1

2 2 2 2
( h 2 ) + ( h 3 ) + ( h 4 ) + ... + ( h n )
THD r = × 100% (4.2)
2 2 2 2 2
( h1 ) + ( h 2 ) + ( h 3 ) + ( h 4 ) + ... + ( h n )

h1, h2, h3,..., hn representam o valor eficaz dos harmônicos de ordem 1 a n.

Ainda não há no Brasil valores normalizados para THDf nas instalações


elétricas, porem existem valores assumidos por órgãos normatizadores internacionais
que podem servir de referência para projeto (DIAS, GUILHERME A. D. – 2002). A
IEEE Std 519 sugere os seguintes valores máximos de THDf de corrente para
sistemas de distribuição na faixa de tensão de 120V a 69kV:

Máxima distorção de corrente harmônica em % IB


Ordem harmônica individual (harmônicos ímpares)
ISC/IB < 11 11≤
≤h<17 17≤
≤h<23 23≤
≤h<35 35≤
≤h THD
< 20* 4,0 2,0 1,5 0,6 0,3 5,0
20 – 50 7,0 3,5 2,5 1,0 0,5 8,0
50 – 100 10,0 4,5 4,0 1,5 0,7 12,0
100 – 1000 12,0 5,5 5,0 2,0 1,0 15,0
< 1000 15,0 7,0 6,0 2,5 1,4 20,0
Os harmônicos pares são limitados a 25% dos limites dos harmônicos ímpares indicados
acima
* Todo equipamento de geração está limitado a esses valores de distorção de corrente
independentemente da relação ISC/IB
Onde:
ISC = máxima corrente de curto-circuito no ponto de conexão
IB = máxima corrente de projeto (componente na freqüência fundamental) no ponto de
conexão

Tabela 4.2 – Tabela 10.3 da IEEE 519-2


4.3 – Influência dos harmônicos no fator de potência.

Normalmente é utilizado o termo fator de potência e cos ϕ como sinônimos, o


que é somente apropriado no caso de não existirem harmônicos no circuito, ou seja,
se os sinais forem puramente senoidais.

O fator de potência é a relação entre a potência ativa e a potência aparente


definido para um sinal periódico não senoidal:

P (w)
FP = (4.3)
S (VA)

O cos ϕ é a relação entre a potência ativa e a potência aparente definido para


cada uma das componentes harmônicas (senoidais):

Phn (W)
cos ϕ n = (4.4)
Shn (VA)

Supondo uma tensão senoidal pura e uma corrente contendo harmônicos, tem-
se a seguinte relação entre FP, cos ϕ e THDi:

P VI1 cos ϕ1 cos ϕ1 cos ϕ1


FP = = = =
(4.4)
S V I12 + ... + I n2
1+
∑I 2
n 1 + THDi2
I12

O triângulo de potência sofre uma alteração em função das correntes


harmônicas, recebendo uma terceira dimensão H (MOHAN, NED - 2000), conforme
equacionado em 4.3 e ilustrado na Figura 4.8.
S = V ⋅ I ef
S = V ⋅ ( I1 ) 2 + ( I3 ) 2 + ... + ( I n )2
S 2 = V 2 ⋅ I12 + V 2 ⋅ ( I 32 + ... + I n 2 )
   
P2 +Q 2 H2 (4.3)

Q
S

Figura 4.8 – Representação das potências em um sistema com


harmônicos
CAPÍTULO 5

Fontes perturbadoras do sistema

A seguir são descritos os principais equipamentos presentes nas indústrias que


são produtores de harmônicos no sistema elétrico. Com a finalidade de proporcionar
melhor entendimento é necessário compreender quando e onde os harmônicos são
gerados.

5.1 – Retificadores

Na conversão de potência CA para CC, um conversor de potência corta a onda


de corrente CA, permitindo que a corrente circule somente durante uma fração do
ciclo; estes conversores são conhecidos como retificadores. Se a indutância do lado
CC for grande, o retificador pode operar em regime de condução contínua, i.e. conduz
durante todo o ciclo. O efeito que nos interessa nesta análise é a forma de onda CA da
corrente na entrada do conversor quando o retificador alimenta uma carga altamente
indutiva. A corrente CA apresenta uma forma distorcida, rica em conteúdo harmônico,
que pode refletir negativamente no sistema, devido às impedâncias presentes na linha.
Devido a essas impedâncias, os harmônicos de corrente produzem distorções na
tensão do sistema de distribuição.

5.2 – Fonte de alimentação chaveada

A fonte de alimentação chaveada foi um avanço da eletrônica de potência que


possibilitou reduzir o tamanho das fontes de alimentação monofásicas convencionais,
onde era utilizado um transformador abaixador para reduzir o nível de tensão no
secundário até um ponto desejado. Em contrapartida, o circuito de entrada composto
por chaves semicondutoras pode gerar perturbações harmônicas prejudiciais ao
sistema elétrico.
5.3 – Inversores

Os inversores de freqüência são utilizados largamente em acionamentos de


máquinas CA, principalmente no controle de velocidade de motores de indução. Os
conversores podem ser classificados em tipo fonte de tensão (VSI – Voltage Source
Inverter) e tipo fonte de corrente (CSI – Current Source Inverter). Os inversores VSI
têm grande aplicação na INB, como apresentado a seguir:

Mineração:
• Acionamento de máquinas de grande porte ( > 50HP)
• Controle de velocidade das esteiras transportadoras de minério
• Controle de velocidade dos ventiladores em mina subterrânea para
controle do fluxo de ar
• Controle de velocidade em misturadores de solução

Fábrica do elemento
• Controle de velocidade em diversos processos
• Controle de velocidade da bomba de vácuo do sistema de transporte de
pó (100HP)
• Acionamento e controle de velocidade de diversas máquinas

Enriquecimento
• Controle de rotação e partida das ultra-centrífugas
• Sistema de transporte do UF6

O método de modulação por largura de pulso (Pulse Width Modulation - PWM)


é uma configuração popular utilizada em inversores de freqüência, que consiste no
emprego de uma forma de onda como um trem de pulso de largura variável, gerada na
faixa de rádio freqüência, para o chaveamento das chaves eletrônicas (IGBT,
MOSFET, SCR, etc.). Este método de chaveamento possibilita sintetizar diferentes
formas de onda de saída na freqüência de operação desejada, a partir de uma tensão
CC. (RASHID, MUHAMMAD H -1995).

Uma característica da operação dos inversores é que a distorção harmônica


não é constante, em função da variação da forma de onda de maneira significativa
para diferentes valores de torque e velocidade. Por isso, a escolha de um inversor
para acionamento de uma máquina de elevada potência, que opera em diferentes
velocidades, deve levar em consideração a distorção harmônica refletida no sistema.
CAPÍTULO 6

Efeitos nocivos a equipamentos

Quando equipamentos projetados para serem alimentados por uma fonte


senoidal são alimentados por um sinal de corrente ou tensão não-senoidal, poderão
apresentar mau funcionamento ou defeitos decorrentes da má qualidade de energia
fornecida.

Serão demonstrados a seguir os principais efeitos observados em instalações e


componentes submetidos à presença de harmônicos:

6.1 – Aquecimento excessivo

Um dos efeitos mais notados pela presença dos harmônicos é o


sobreaquecimento em condutores, nos enrolamento de motores, transformadores, etc.
Isto se deve ao “efeito pelicular”, pois à medida que a freqüência da componente
harmônica aumenta, ela passa circular pela periferia do condutor, o que significa
aumento da sua resistência elétrica em função da redução da seção transversal,
consequentemente, aumentam as perdas por efeito Joule. Outro efeito conhecido que
cresce de forma proporcional ao aumento da freqüência das correntes harmônicas são
as “correntes parasitas” ou “correntes de Foucault”, sendo mais observado em núcleos
de transformadores, motores e geradores.

6.2 – Aumento da queda de tensão e diminuição do fator de potência

A seguir será citado um exemplo ilustrativo do que ocorre em sistemas


percorridos por correntes harmônicas. Tratando-se de baixa tensão, consideramos
somente a resistência e a indutância do circuito.
Para simplificar os cálculos, consideramos que o circuito do exemplo é poluído apenas
pelos harmônicos de 3a e 5a ordem e desprezamos o efeito pelicular e de proximidade
sobre a resistência. Observamos que a reatância (XL) varia diretamente com a
freqüência (XL = 2πfL), logo XL3 = 3XL1 e XL5 = 5XL1.
Assumindo o valor de 60Hz para freqüência da componente fundamental, a
freqüência do 3° e 5° componentes harmônicos são respectivamente 180Hz e 300Hz.

Harmônico Freqüência Irms


(ordem) (Hz) (A)
1 60 10
2 180 5
3 300 2

a) Aumento de queda de tensão

Aplicando o princípio da superposição, calculamos a impedância equivalente


para cada harmônico, onde R1= XL1 = 1Ω:

Z1 = 12 + 12 = 1, 4Ω
U1 = 1, 4 ⋅10 = 14, 0V
2 2
Z3 = 1 + 3 = 3, 2Ω U 3 = 3, 2 ⋅ 5 = 16, 0V
Z5 = 12 + 52 = 5,1Ω U1 = 5.1 ⋅ 2 = 10, 2V

U total = 142 + 162 + 10, 22 = 23, 6V

Para o caso acima há um acréscimo de aproximadamente 50% em relação à


queda de tensão no circuito sem a presença de harmônicos (15,9V).

b) Redução do fator de potência

A redução do fator de potência é facilmente observada quando vemos que o


valor da reatância XL é diretamente proporcional à freqüência do harmônico que circula
no circuito, resultando em uma potência reativa equivalente que é o somatório das
potências para cada componente harmônico.

n
QTOTAL = ∑ X n .I n 2 (6.1)
1
n
PTOTAL = ∑ R.I n 2 (6.2)
1

 P 
FP = cos  tgϕ −1 TOTAL  (6.3)
 QTOTAL 

6.3 – Ressonância

Um problema potencial que deve ser observado na utilização de bancos de


capacitores para correção de fator de potência, é o efeito ressonante. Para a
freqüência fundamental (60Hz) o efeito ressonante já é considerado para o projeto dos
bancos capacitores, porém em sistemas contendo corrente harmônica com valor de
intensidade (RMS) considerável, novos valores de freqüência ressonante devem ser
previstos, quando não houver a possibilidade de eliminação destas componentes
harmônicas.
CAPÍTULO 7

Estratégias de mitigação de harmônicos

O desafio da mitigação dos harmônicos é projetar a solução de melhor custo


efetivo que ajudará o sistema a restringir-se aos limites impostos. Veremos algumas
estratégias que podem, ou não alcançar este objetivo.

7.1 – Adição de Indutância

A mais antiga bem como mais efetiva e econômica estratégia de mitigação de


harmônicos é a adição de indutância (tipicamente 3% a 5% na base do acionamento)
no circuito de acionamento individual. Esta adição de indutância (na forma de reator ou
transformador) reduz diretamente uma quantidade de corrente harmônica produzida
pelo acionamento. Reatores são robustos, duráveis, e econômicos, e sua introdução
pode ser suficiente para reduzir a distorção harmônica no centro de controle de
máquinas (CCM) a níveis aceitáveis. Como desvantagem do uso de indutância, pode-
se apontar o aumento do volume do circuito.

7.2 - Transformadores ∆-Y

Este é o segundo caminho mais conhecido para mitigação de harmônicos, se o


projeto do sistema é tal que opere com acionamento de 6-pulsos CA com equilíbrio de
fases. Contudo, esta estratégia não é eficiente quando os diferentes tipos de
acionamento tiverem ciclo de on-off individuais em circuitos monofásicos ou bifásicos,
causando desiquílíbrio do sistema (TJALI, P.E. - 2005). O transformador em ∆-Y
produz defasagem na corrente tal que o 5° e 7° harmônicos são deslocados de 180°.
Com uma combinação de transformador ∆-Y e reatores, é possível cancelar o 5° e 7°
componente harmônico da corrente no sistema.
7.3 - Uso de filtro passivo (sintonizado)

Individualmente, filtros sintonizados eliminam harmônicos em suas freqüências


ajustadas, mas injetam potência reativa no sistema em um nível de freqüência de 60
Hz. Entretanto, acionamentos com fontes de tensão bem dimensionadas funcionam
próximo aos 100% do fator de potência de deslocamento e o barramento do centro de
controle de máquinas pode não necessitar de correção do fator de potência. Para a
rede, o efeito é que o sistema de filtro pode nunca estar ligado, porque a potência
reativa solicitada pode não crescer o suficiente para acoplar o filtro de controle do
sistema, em geral funciona apenas para eliminação de harmônicos. Além disso,
perdas de capacitância devido a fusíveis fundidos ou células capacitivas danificadas
podem deslocar a freqüência ajustada do filtro, colocando o mesmo em condição
ressonante com o sistema de potência.

7.4 - Uso de filtro ativo

Se a estratégia do indutor e indutor-tranformador não reduzir o nível harmônico abaixo


dos valores especificados, o uso de filtros ativos para controlar a distorção de corrente
no sistema é uma alternativa eficiente, porém de custo mais elevado, sendo
necessária uma boa avaliação para emprego deste método de mitigação. O filtro ativo
é um dispositivo série ou shunt, composto de transistores de porta isolada (IGBTs)
fazendo o chaveamento. O filtro ativo determina a corrente exata que deve cancelar os
harmônicos presentes no circuito, sintetiza e injeta aquela corrente no sistema, de
modo que a fonte não necessita suprir a corrente distorcida.

Figura 7.1 – Filtro ativo


Por comparação, filtros passivos individualmente ajustados são primariamente
efetivos para as suas freqüências ajustadas. Sua eficiência diminui para outras
freqüências. É possível instalar filtros passivos múltiplos para remover o 5°, 7° e 11°
harmônicos, mas tal estratégia não é sempre operacional ou economicamente efetiva.

Filtros ativos, em contra partida, podem ser projetados para cancelar todos os
harmônicos, com exceção daqueles que possuem a mesma freqüência de
chaveamento do filtro, para correção do fator de potência, ou ambos. Estes filtros
nunca excederão os níveis aceitáveis de reativo ou produzirão condições ressonantes
no sistema de potência.
CAPÍTULO 8

Conclusão

Neste trabalho foram apresentados os principais problemas de qualidade de


energia, típicos de plantas industrial, demonstrando que estão presentes também nas
instalações nucleares da INB. Deu-se maior ênfase à eliminação de harmônicos de
corrente, devido às características das instalações de apresentarem diversos
acionamentos eletrônicos, mas os problemas de distúrbios na tensão também devem
ser analisados cuidadosamente.

A preservação da qualidade de energia se alia à preocupação constante que


há de se manter a segurança em uma instalação nuclear, sendo possível concluir que
a confiabilidade dos sistemas de salvaguarda depende, dentre outros fatores, da
garantia de um sistema de suprimento de energia com qualidade.

De uma forma geral, a solução dos problemas dependerá de uma análise


minuciosa das instalações, mas devido à necessidade de segurança das mesmas,
muitas vezes o custo econômico das soluções não deverá ser o fator preponderante
para a escolha do método a ser utilizado para a melhoria da qualidade do sistema de
distribuição de energia elétrica.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AHMED, ASHFAQ (2000) “Eletrônica de Potência”, São Paulo: Prentice Hall.

RASHID, MUHAMMAD H (1995) “Eletrônica de Potência”.

MOHAN, NED (2000) “Power Eletronics: Convertrs, Aplications and Design”

IEEE Std 519 – 1992 “Recommended Practice and Requiriment for Harmonic Control
in Electrical Power System”

IEEE Recommended Practices on Monitoring Electric Power Quality 1995. (IEEE Std.
1159-1995)

MURRAY, RAYMOND L (2004) “Energia Nuclear – Uma introdução aos conceitos,


sistemas e aplicações dos processos nucleares”, 2. ed. – São Paulo: Hemus.

DIAS, GUILHERME A. D. (2002) “Harmônicas em Sistemas Indústrias”, 2. ed. – Porto


Alegre: EDIPUCRS.

TJALI, P.E. (2005) “ Simplifyng Harmonic Mitigation for Industrial Plants “ EC&M
(Electrical Construction and Maintenence) magazine, Janeiro.

IAEA – International Atomic Energy Agency (2005) “ PRIS - Power Reactor


Information System” (www.iaea.org)

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