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FACULDADE DE ECONOMIA
GREMIMT
Grupo de Estudo sobre Economia
Mundial, Integração
Regional &
Mercado de Trabalho
“Crises Econômicas e
Ondas Longas na
Economia Mundial”
Este texto é encontrado também no site da Cátedra e Rede UNESCO – UNU sobre Economia Global e
Desenvolvimento Sustentável – www.reggen.org.br
Entre os temas que preocupam o mundo contemporâneo desde o século XIX, dos
formuladores de política aos analistas econômicos, está a questão do ciclo econômico, das
flutuações econômicas e das crises econômicas que se manifestam em períodos mais ou menos
sucessivos e identificáveis nas economias nacionais e na economia mundial, seja nos países mais
desenvolvidos ou seja no conjunto da economia mundial. Na medida em que a economia
neoclássica se orientou para a preocupação com o equilíbrio geral, a flutuação econômica
passava a ser uma anormalidade, conseqüência de alguma forma de rompimento desse equilíbrio
que só pode encontrar sua explicação em fatores externos aos fenômenos econômicos analisados
pela teoria. Não se pode afirmar, então, que exista uma teoria do ciclo econômico produzida pela
economia neoclássica, na medida em que as flutuações econômicas seriam explicadas por
fenômenos externos ao modelo econômico e, portanto, relativamente aleatórios. Alguns
economistas se dedicaram, contudo, a análise dos ciclos ou flutuações dos negócios, na medida
em que era impossível negar sua existência que, como dissemos, é uma parte muito central da
vida econômica contemporânea.
GRUPO DE ESTUDOS SOBRE ECONOMIA MUNDIAL, INTEGRAÇÃO REGIONAL & MERCADO DE TRABALHO 2
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Nosso objetivo neste capítulo será o de analisar a questão dos ciclos e das crises
econômicas, com uma ênfase particular nos ciclos longos. Estes devem ser analisados a nível
internacional, na medida em que eles se manifestam em conjuntos de países, permitindo inclusive
propor um mapeamento da sua trajetória a nível planetário. Neste sentido, a análise dos ciclos ou
ondas longas ultrapassa o marco nacional no qual os próprios teóricos marxistas tinham situado
as oscilações do ciclo econômico e a problemática da crise econômica.
A questão das ondas longas se articula com uma visão mais global do
funcionamento da economia mundial. Na sucessão dessas ondas longas identifica-se cada vez
mais os períodos de retomada e crescimento econômico como períodos de incorporação maciça de
inovações tecnológicas, em geral, introduzidas no período de depressão e de recuperação, e que se
encontram em fase de difusão e expansão no período do crescimento. As teorias dos ciclos
econômicos longos ou ondas longas nos mostra que há mudanças estruturais no final de cada
ciclo longo, dando às crises dessa fase final um caráter estrutural, que as vinculam também com
a introdução de novos paradigmas tecnológicos que se identificam não somente pela
predominância de novos setores e ramos de produção dentro da economia, como também por
mudanças no próprio processo de trabalho, no próprio sistema de produção.
GRUPO DE ESTUDOS SOBRE ECONOMIA MUNDIAL, INTEGRAÇÃO REGIONAL & MERCADO DE TRABALHO 3
TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Apesar do tema ter sido objeto de muitas referência históricas poderíamos dizer
que a primeira tentativa de uma análise sistemática do mesmo do ponto de vista econômico tenha
sido realizada por Jean de Sismondi, um economista suíço que identificou, em 1919, o fenômeno
das crises econômicas, chegando a concebê-las como "uma sucessão de círculos". Na sua obra
Novos Princípio da Economia Política ele identifica a idéia de crise econômica com o rompimento
das proporções necessárias para a circulação da produção, da renda e do consumo. Como este
depende dos salários dos trabalhadores, que tendem a ser reduzidos pelos capitalistas ou
simplesmente podem desaparecer devido ao desemprego, encontramos aí uma razão permanente
para a criação de desproporções entre os elementos chaves da circulação econômica, o que
conduz à crise sob a forma da superprodução. Daí sua conclusão de que "somente o crescimento
do consumo pode prescindir o crescimento da reprodução" e que, por sua vez, "o consumo não
pode ser regulado senão pela renda dos consumidores". Mas, apesar de encontrar a causa das
crises ele não tenta explicar a regularidade das mesmas. Fica em aberto a identificação do
princípio regulador dos movimentos cíclicos.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
esse produtor viver do mercado (ou seja, viver de produzir para que outros comprem) mais ele
será sensível à crise e à possibilidade da crise.
Essa visão nos permite pensar o próprio movimento do capital como aquele que
traz no seu interior as possibilidades da crise. Ao nos aproximarmos para ver o movimento do
capital concluiremos que o problema da rotação do capital está associado à produção. Quando o
capital se liga ao sistema produtivo ele tem de seguir as regras e as leis da organização, do
trabalho, da tecnologia e do processo produtivo real. O tempo e o número de rotações do capital
vão depender do tipo de produto e da sua circulação como bem útil. Se ele vai diretamente ao
mercado e não consome capital fixo suas rotações serão imediatas. Enquanto o capital fixo tem
um processo de rotação de longo prazo, o capital circulante tem uma rotação de curto prazo.
Quanto mais a produção se aproxima do consumo final maior será a rotatividade do capital
circulante e, portanto, os ciclos de rotação serão muito mais rápidos e dependentes dos estoques e
de seu financiamento.
importância da rotação e dos estoques dentro do processo de reprodução do sistema. Foi Kitchin
quem descobriu esse ciclo ligado à renovação dos estoques, com um ritmo de 3 a 5 anos que se
apresenta quase sempre durante um longo período do funcionamento do sistema capitalista.
Vemos assim a tendência da composição orgânica do capital a ser cada vez mais
intensiva em capital constante, em relação ao capital variável. Ou seja, em relação ao salário
(composição orgânica crescente do capital) está associada à tendência da acumulação capitalista
a buscar produtos de custo inferior, que ocupem um tempo de trabalho socialmente necessário
cada vez menor. Esta tendência tem no desenvolvimento tecnológico os meios para lograr essa
maior produtividade do trabalho e, portanto, baixar o custo dos produtos. Essa lógica intrínseca
na acumulação capitalista é que leva ao desenvolvimento científico e tecnológico como alguns
dos recursos de que dispõe o capital para conseguir o aumento da mais-valia. Trata-se de ampliar
a taxa de mais-valia pela diminuição do valor do capital constante, ou mais-valia relativa,
solução que tende a ser progressista e leva ao avanço das forças produtivas da humanidade.
conjunto dos capitalistas vai ter uma taxa de lucro mais baixa. Em resumo: a taxa média de lucro
baixará.
Essa tendência secular à queda da taxa de lucro leva a uma busca por prolongar
a lucratividade do capital através da especulação financeira. O capital se retira dos setores onde
as taxas de lucro tendem a cair, para concentrar-se em atividades especulativas, particularmente
no setor financeiro. O Estado intervém novamente como criador desse setor financeiro pela via
clássica da dívida pública. A dívida pública é uma das fontes principais de criação do setor
financeiro. O pagamento de juros pelo Estado sobre a sua própria dívida é uma transferência de
recursos da população, no seu conjunto, daqueles que pagam os impostos ao Estado, para um
setor econômico específico, em geral o setor financeiro. Este está ligado às outras formas do
capital, através da tendência da evolução do sistema capitalista na direção de uma situação em
que o capital dinheiro (que se faz também capital crédito, financeiro, bancário, etc.) vá
hegemonizando o conjunto do capital. Ele submete o capital produtivo e o capital mercantil, na
medida em que o sistema capitalista vai se convertendo num sistema dominante a nível nacional e
internacional.
O outro tipo de crise que Marx analisou foram as de reprodução, que estão
ligadas à relação entre as partes que a compõem e a proporção em que estes setores se
intercambiem entre si. Cada setor vende aos demais setores, numa antecipação do que seria a
matriz de insumo produto de Leontief. Nesta situação, as proporções passam a ser essenciais. É
preciso que os setores que compõem o conjunto do sistema produtivo intercambiem seus produtos
entre si em proporções corretas. Para analisar tais relações, Marx distinguiu entre o setor I,
produtor de bens de produção, e o setor 2, produtor de bens de consumo, e dentro do setor I, o
capital constante (C), o capital variável (V), e a mais-valia (M). Todo seu esforço teórico,
constante do segundo volume de O Capital, será no sentido de provar que é possível haver um
equilíbrio entre esses setores. Na sua análise do esquema de reprodução, ele demonstra que este
equilíbrio é possível porque o setor de bens de produção produz, em parte, para sua própria
reprodução. (Uma parte se destina ao consumo de C1, e outra parte produz para o setor C2 - o
componente C, capital constante, dos meios de consumo). Dessa forma, toda a produção do setor
I, de meios de produção, será consumida por C1 e C2.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
investimentos no setor I. Neste caso, o crescimento dos gastos militares tendiam a ser uma forma
de restabelecer as proporções necessárias dos esquemas de reprodução. Isto porque a maior
dificuldade que o sistema encontra é lograr que a demanda de consumo final acompanhe a
tendência ao crescimento do setor I, determinado pelo avanço da tecnologia.
A S C R I S E S D E R E AL I Z A Ç Ã O
capital constante, entre o capital constante e a mais-valia) que tornará inviável o consumo final
crescer de acordo com as necessidades da reprodução global do sistema. Isto impedirá que ele
seja a mola dinâmica do sistema capitalista. O consumo final está associado a V e M, mas
acontece que a mais-valia se desdobra entre consumo de produtos de luxo e poupança para novos
investimentos. Na medida em que o sistema tende a criar uma poupança crescente para novos
investimentos e entra num processo de acumulação forte, a demanda de bens de consumo tende a
decair, aumentando a demanda de bens de produção. Mas, como a criação desses bens de
produção segue certa leis técnicas, haverá dificuldade de estabelecer as proporções entre os
vários elementos. Não podemos, portanto, assimilar Rosa Luxemburgo a um subconsumismo
primitivo, mas sim a uma visão das dificuldades da reprodução capitalista ser movida
basicamente pelo setor de consumo final. Quando se chama Rosa Luxemburgo de a rainha do
subconsumismo estamos fazendo-lhe uma injustiça.
longas agregará uma realidade nova dentro da teoria marxista, mas extrapolará do campo do
marxismo para a economia ortodoxa, quando a combinação da crise do pós-guerra e a crise de
1929 colocaram na ordem do dia não só o problema das crises econômicas mas também o seu
caráter de longo prazo. Schumpeter (1939) integrou essa problemática de maneira muito rica na
sua análise definitiva dos ciclos econômicos.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Não é o lugar aqui para fazermos uma história desses enfoques e dessas
contribuições teóricas, mas simplesmente quero apontar as grandes direções de interpretação que
vão marcar o pensamento marxista. Havia que assinalar, contudo, uma outra linha teórica que vai
desembocar em Ernest Mandel (1964), que produziu o seu Traité de Économie Marxiste, e que
vai escrever, na década de 70, Capitalismo Tardio, onde tentará articular a visão marxista da
acumulação e da tendência decrescente da taxa de lucro como elemento-chave para a
compreensão das crises econômicas com as contribuições de Kondratiev e das ondas longas. No
meu estudo A Crise do Capitalismo Norte-Americano e América Latina (1970) vou também
retomar o ciclo longo de Kondratiev, articulando-o com outras modalidade de análise do ciclo
econômico para tentar compreender a evolução do capitalismo de pós-guerra e particularmente
daquele período histórico. André Gunder Frank também busca nos ciclos longos um caminho
para a análise da economia mundial. Na sua visão da acumulação mundial, Samir Amin
aproxima-se dessa visão. Immanuel Wallerstein, no seu Centro de Estudos Fernand Braudel, dará
uma das mais rigorosas contribuições ao estudo das ondas longas.
Faz-se necessário, portanto, que analisemos com cuidado essa outra maneira de
enfocar a crise econômica. A análise das ondas longas ou dos possíveis ciclos longos, como
veremos, permitirá articular grande parte dos estudos sobre o ciclo econômico realizados durante
a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século XX, tendo em Schumpeter um
dos seus primeiros grandes sistematizadores. Na década de 70 e 80 encontram-se novos
elementos para a compreensão das ondas longas que procuraremos transmitir aqui.
Os dados de Kondratiev são até hoje objeto de ampla discussão, seja porque haja
propostas de diferentes datas para estabelecer os limites dos ciclos, seja porque haja discussões
metodológicas sobre o conceito mesmo dessas ondas longas. Mas a verdade é que os dados
parecem confirmar a existência destes períodos de ascenso e declínio de cerca de 25 anos cada
um, sobretudo quando se utiliza uma metodologia adequada, abarcando vários setores e não
somente aqueles que Kondratiev estudou originalmente. Há evidências suficientes para
comprovar não somente a existência dos ciclos longos por ele detectados, como, além disto
produziu-se uma confirmação desses ciclos no período posterior a seus estudos.
Dentro desta linha de aceitação dos dados como ponto de partida para a reflexão
teórica, foram vários os autores que confirmaram as constatações de Kondratiev. Entre eles será
exatamente Joseph Schumpeter, no seu livro Business Cycles, dois volumes, editado pela Mc
Graw Hill em Nova Iorque, em 1939, o economista que vai produzir a reflexão mais sistemática
sobre as ondas longas de Kondratiev. Ele vai inclusive demonstrar a existência de uma
combinação dos ciclos longos de 40 a 60 anos com dois outros ciclos menores. São eles, os
ciclos de investimentos, que se sucedem de 4 (quatro) em 4 (quatro) anos, determinados pelos
movimentos de estoques, que Kitchin havia encontrado em 1900, e os ciclos de nove a onze anos,
estudados por Juglar, no século passado, em torno de 1860.
combinaria com os ciclos anteriormente destacados, não em todas ocasiões nem em todos os
paises (pois haveria alterações dos mesmos, que foram encontrados sobretudo nos Estados
Unidos, particularmente quando descobertos em outros paises), pois eles estão muito ligados à
construção de casas e à instalação de transportes, devido à imigração nos períodos de ascenso
econômico, e formam um ciclo um pouco atípico.
Na década de 70, a temática dos ciclos longos foi retomada depois de um longo
abandono, devido ao crescimento econômico sutentado que ocorreu após a segunda Guerra
Mundial, e que parecia haver eliminado os ciclos econômicos. Este longo período de crescimento
deu origem inclusive a várias interpretações de que as economias nacionais já teriam chegado a
um estágio pós-cíclico, depois da segunda Guerra Mundial. Em outros estudos analisamos com
detalhes as características do período pós-Segunda Guerra. A verdade, porém, é que o
pensamento econômico só veio a redescobrir Kondratiev e os ciclos longos quando a crise de 66-
67 começou a gerar grandes questionamentos do sistema capitalista, que se expressaram
fundamentalmente nos grande movimentos de massa de 1968, que ocorreram no mundo inteiro.
Logo depois, em 1973, a ofensiva da OPEP para reajustar drasticamente os preços do petróleo,
não somente confirmou a tendência para o declínio das taxas de crescimento já verificadas desde
1967, como apresentou uma grave depressão entre 1973-75. O aumento do preço do petróleo
colocava em cheque todo um modelo econômico baseado numa fonte energética barata apesar de
seu caráter não renovável. Tudo indicava que não seria possível manter esta situação que passava
pela subjugação dos povos coloniais. No mesmo período apresentavam-se fenômenos políticos e
militares que pareciam confirmar esta tendência do Terceiro Mundo sacudir em definitivo esta
tutela , como a derrota militar dos Estados Unidos no Vietnam e a queda do fascismo em
Portugual, sucedida pelas revoluções em todo o seu império.
É fácil entender portanto por que foi na década de 70 que o modelo das ondas
longas de Kondratiev voltou a ser estudado. Eu destacaria em primeiro lugar o meu próprio
trabalho no livro de 1970 sobre A Crise Norte-americana e a América Latina e em artigos
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Em 1972, Ernest Mandel vai publicar seu excelente livro sobre O Capitalismo
Tardio, no qual retomou a temática dos ciclos longos, logo seguido por André Frank nos seus
estudos sobre as ondas longas, a acumulação e a crise, nos quais tentou prolongar o fenômeno
dos ciclos longos até o período que vai da conquista da América até a Revolução Francesa, numa
análise de acumulação de longo prazo. Ele aplicou também o conceito aos estudos da crise
capitalista dos anos 70 . Como já assinalamos, foi nesta mesma época que Immanuel Wallerstein
iniciou seu estudo da formação do sistema-mundo formado pelo capitalismo contemporâneo,
utilizando o conceito das ondas longas de Kondratiev. Fernand Braudel recupera em grande
estilo as ondas longas propondo sua extensão não somente a períodos anteriores como
encontrando ondas de 200 anos. W.W.Rostow vai reencontrar Kondratiev no seu The World
Economy: History and Prospect, editado pela Universidade do Texas, em 1978., Daí em diante,
foram milhares de artigos na imprensa especializada do mundo, chegando inclusive ao grande
público as exotéricas ondas longas de Kondratiev.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Nos meus estudos da década de 70, sustentei a tese de que o ciclo econômico
adota diferentes formas no centro e na periferia, e apresentei alguns elementos chaves para a
análise dessas diferenças. Entre elas deve-se ressaltar o papel das economias de subsistência
como amortecedoras dos efeitos mais dramáticos das depressões econômicas, a importância da
queda das iportações para a realização do mecanismo da substituição de importações durante os
períodos de crise do comércio internacional. Ao mesmo tempo, procurei distinguir as tipologias
dentro da periferia, separando aqueles países que haviam alcançado um desenvolvimento
industrial, a partir de uma nova divisão internacional do trabalho, e cujos elementos centrais se
esboçaram na crise de 67-68. A partir deste momento foi necessário distinguir os países
dependentes que se articulavam com a economia mundial como exportadores industriais, numa
posição subordinada à política das empresas transnacionais dos países da semiperiferia
propriamente dita do sistema mundo, apesar da aparente similitude de situações econômicas que
apresentavam e ainda apresentam em parte. Na semiperiferia deve-se incluir aqueles países
desenvolvidos que decaíram e/ou perderam sua posição relativa no sistema capitalista mundial,
como é o caso das economias do Sul da Europa.
existência dos ciclos longos. A base para estes ciclos seriam exatamente as mudanças no estoque
total de capital social, ou o capital social total disponíve. Este aumentaria ou diminuiria sob a
ação dos três elementos que analisaremos em seguida.
Assim, segundo Trotsky, não existe um ritmo ou lei rígida ligando as épocas
entre si. Ademais, ele chama muito a atenção para o impacto dessas mudanças do ponto de vista
ideológico e superestrutural, reconhecendo que esses movimentos econômicos desencadeiam
mudanças na super-estrutura. Esta identificação das fases do ciclo com épocas históricas
sucessivas, nos conduz à idéia de uma transformação histórica global, à idéia de um processo
evolutivo em contraposição a um enfoque de tipo cíclico. Não devemos desprezar estas críticas de
Trotsky, porque realmente o enfoque dos ciclos longos não deve ignorar que estes movimentos
estão associados a estruturas econômicas e sociais que passam por mudanças exatamente nos
vários momentos dos ciclos. Eles estão associados a guerras, a revoluções e a profundas
mudanças institucionais, que ocorrem, em geral nas fases de depressão ou de auge dos ciclos
longos. Trotsky vai propor um quadro sintético desses elementos estruturais e superestruturais
que, como ele mesmo reconhece, ainda se mostrava bastante informal, e que necessitaria de muita
pesquisa empírica e histórica para ganhar contornos de uma hipótese científica..
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
1929, cuja tarefa é a de desvalorizar os ativos existentes e pressionar por um declínio radical das
taxas de juros.
Como vimos, Schumpeter integrou os três tipos de ciclos. Duijn (1983) integrará
num modelo mais complexo os quatro tipos de ciclo. Mais do que Schumpeter, Duijn insistiu
muito sobre a base dos ciclos em movimentos de estoques, de reposição de maquinárias, de
investimentos em construção e em inovações significativas. Como vários economistas e
estudiosos contemporâneos da mudança tecnológica, ele segue a linha de Schumpeter, segundo a
qual a inovação é apresentada como elemento-chave para os ciclos longos. A literatura sobre o
tema insiste cada vez mais no conceito de cachos de inovações, segundo o qual as inovações mais
importantes arrastam consigo não só a introdução de novos produtos ou novos processos no seu
próprio setor, mas elas provocam também outras inovações em outros setores com os quais têm
relações de complementariedade.
realmente revolucionárias e que marcam época, mas talvez principalmente pelo longo período de
destruição do capital instalado, de desvalorização de enormes massas de investimento, de
derrubada das resistências às novas tecnologias, que depende sobretudo da capacidade de
negociação, sobretudo da força de trabalho, que tende a aumentar durante a fase A do ciclo,
quando ocorre um grande crescimento do produto baseado num mesmo patamar tecnológico e
portanto acompanhado de um crescimento do emprego, gerando uma situação de pleno emprego,
que favorece a organização sindical, favorece a capacidade de pressão do movimento trabalhista
e a obtenção de salários mais elevados, que vão também pesar de alguma forma sobre a taxa
média de lucro
Vemos assim que é possível explicar o movimento ascendente do ciclo longo por
um conjunto de cachos de inovações que vão se sucedendo, dentro de uma visão do processo de
acumulação capitalista que nos permita associar esses cachos de inovações à taxa de lucro média
dentro do sistema, considerando inclusive com muito mais clareza a tendência decrescente da
taxa de lucro. Na medida em que essas inovações vão se instalando, sobretudo na medida em que
elas vão se difundindo - e aqui o conceito de difusão é central, porque é exatamente a difusão que
cria a situação em que o monopólio tecnológico vai desaparecer. A única forma de evitar isso
seria então uma situação monopólica que prolongasse o ciclo do produto no interior do capital da
própria empresa inovadora. Isto garantiria o monopólio tecnológico e a renda que dele deriva
durante o processo de difusão do produto da sua região de origem para o resto do país e do
mundo. Esta situação nem sempre é possível, já que, quando o produto está alcançando uma certa
maturidade, com grandes investimentos já feitos, a introdução de novas empresas começam a ser
mais fácil, desde que as barreiras de entrada começam a cair, na medida em que as tecnologias
necessárias para a criação de uma nova empresa já tenderão a estar relativamente mais
disponíveis a preços mais baixos. Ademais, como os custos de inovação já foram quase que
totalmente cobertos pela empresa líder, aumentam as possibilidades de surgimento de empresas
rivais incorporando novas tecnologias e rompendo com o monopólio da empresa inovadora.
É pois lógico esperar que no ponto mais baixo do seno, haja uma tendência do
sistema capitalista a um forte aumento de competitividade. E não é difícil explicar por que nesses
momentos inclusive há uma tendência ao liberalismo econômico como forma de reconhecimento
dessa situação de competitividade aguda, onde as formas de protecionismo tradicionais do
Estado, as formas de subsídios estatais, etc., tornam-se obsoletas e tornam-se débeis diante das
grande forças de competitividade que se estão confrontando a nível tecnológico. Na realidade,
depois de um longo período de estagnação existem um estoque de novas tecnologias muito
significativo a ser incorporado na economia. Sua incorporação depende em primeiro lugar da
desvalorização da capacidade instalada, que se realiza através da deflação e dos mecanismos já
assinalados. Em seguida, ela depende da existência de excedentes de capital que se interessem em
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
utilizar esta nova vantagem. Somente em terceiro lugar, faz-se necessário a existência do agente
deste processo. Isto é uma nova geração com vontade de inovar e conhecedora das novas
tecnologias que pode ser um grupo de empresários inovadores ou de tecnocratas audazes ou de
líderes revolucionários.
Vemos assim que a visão de Kondratiev nos leva a uma riqueza muito grande na
análise dos ciclos econômicos. Os ciclos longos são tanto uma possibilidade de enfoque, nos dão
portanto uma possibilidade de enfoque da dinâmica econômica extremamente rica. Isso se dá em
grande parte na obra de Ernest Mandel (1972), no seu estudo sobre o capitalismo tardio, onde ele
vai retomar o conceito das ondas longas e vai fundamentar seu movimento apelando para o
conceito das revoluções tecnológicas. Aqui há evidentemente um defeito no seu enfoque, por não
compreender que nos últimos anos a parte científica vai entrar também dentro das revoluções
tecnológicas, para fazer uma revolução própria, uma revolução científico-técnica.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Isso faz com que caiam os preços em geral, permitindo a entrada no mercado de
empresas de fora do monopólio, ou pelo menos a ameaça dessa entrada já é suficiente para fazer
cair os preços e fazer com que então a composição orgânica do capital se oriente no sentido de
uma baixa da taxa média de mais-valia. Também os custos das matérias-primas tendem a elevar-
se em conseqüência do aumento da demanda de matérias-primas durante o auge, e a
disponibilidade do capital investido também fica comprometida gerrando uma escassês de capital.
É bom destacar que Mandel chama a atenção muito particularmente para o aspecto político-
institucional e para o efeito da luta de classes, como um fator muito decisivo no comportamento
da taxa de mais-valia. Nos períodos de auge da fase A trava-se uma luta muito forte entre as
classes pela hegemonia do sistema político e pelo domínio da distribuição da renda e, enfim, do
processo de acumulação em seu conjunto. A posiçao e força dos trabalhadores nas fases de
ascenso permitem que obtenham importantes conquistas salariais, nas concições de trabalho e
outros aspectos, as quais levam a uma queda da taxa de lucro. A queda da taxa de lucro leva à
queda da acumulação e da taxa de crescimento que, por sua vez leva a uma desvalorização do
capital e portanto a uma situação de depressão.
capacidade de negociação dos trabalhadores. Como resultado tem-se uma tendência à queda dos
salários, o que também favorece uma recuperação da taxa de lucro. Todo essa situação é
extremamente dura socialmente mas cria condições para que o capitalismo volte a florescer e se
inicie, com a introdução das revoluções tecnológicas, uma nova fase de crescimento.
seria assim repetir a bem sucedida experiência das economias capitalistas (claro que estas
experiências foram devidamente depuradas para retirar-se delas os Cromwel, as revoluções como
a francesa, as guerras, as revoluções anti-coloniais, o fascismo e o nazismo).
Nem Rostow, nem nenhum economista que parta das premissas neoclássicas
poderá jamais produzir um legítimo conceito de um sistema econômico mundial, um sistema que
se faz e se organiza a nível mundial. Também é impossível produzir uma história econômica dos
ciclos longos que encontre uma explicação científica adequada.
parte do século XIX, mostrando a tendência a uma longa baixa dos preços no último quarto
deste século, a existência de uma nova modalidade de concorrência, uma transformação das
estruturas produtivas na direção de uma economia monopólica, e a desestruturação conseqüente
dos espaços dos sistemas produtivos e aparecimento do investimento direto no exterior, cojunto
de transformações que vão mudar o processo de regulação, afetando o comércio, a relação
metrópole-colônia e a estabilidade estrutural do processo de acumulação e do sistema monetário
internacional, que leva então a uma nova crise do processo de regulação entre as duas guerras
mundiais.
Tudo isso nos leva à idéia de uma economia mundial, que se aproxima do
conceito de sistema do mundo. E à tentativa de analisar a crise dessa economia mundial dentro
da teoria da regulação, como transição de um equilíbrio internacional a outro. Desta maneira, a
crise se inscreve no movimento geral do capital, no qual as empresas multinacionais ocupam um
papel fundamental. Contudo, De Bernis será muito contundente em afirmar que a crise mundial
ainda está apoiada nos níveis nacionais. Para ele, as contradições da tecnologia
transnacionalizada mostram os limites desse processo de transnacionalização. A
multinacionalização e a transnacionalização bancárias, por outro lado, procuram impulsar mais
ainda esse processo, mas a integração das economias nacionais e da economia internacional
continua a ser um processo complexo e contraditório. A internacionalização do capital é o
instrumento mais importante dessa economia mundial, mas é também uma das razões
fundamentais da sua crise, que se vê como sobretudo uma transição de um modo de extração da
mais-valia a outro.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Minha posição sobre essas questões deve ficar bastante clara ao finalizar este
balanço teórico. Parto da constatação empírica das ondas longas e proponho como explicação
dessas ondas longas o mecanismo das inovações, distinguidas entre as inovações primárias,
secundárias e terciárias, e coloco o processo de difusão ao lado do processo de inovação para
explicar o mercanismo das ondas longas e seus vínculo com os fatores micro-econômicos. Nesta
altura devo chamar a atenção para um excelente texto Nathan Rosenberg em que crítica a
Schumpeter por não considerar o processo de difusão como parte da formação do ciclo de
expansão capitalista a longo prazo.
A S C R I S E S E C O N Ô M I C A S E S T R U T U R A I S . A FA S E b D A S O N D A S L O N G A S D E K O N D R AT I E V
Como vimos, Marx e outros autores do século XIX trabalharam sobretudo sobre
os ciclos de 10 anos, que foram estudados mais em detalhe por Juglar.
A saída das crises e o início dos auges estão associados a profundas mudanças
nesta base tecnológica. Trata-se, em primeiro lugar, da incorporação de novas tecnologias para a
produção que mudam as maquinárias e obrigam a substituir as anteriores, criando uma onda de
investimentos.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
A tese de Kondratiev foi retomada por Schumpeter após a crise de 1929. Ele
desenvolveu uma associação mais clara entre a crise e os novos investimentos. Para ele, a
destruição das antigas tecnologias, ocorrida nos períodos de crise, abre caminho às novas
tecnologias, que se introduzem nos vários ramos produtivos, impactando o resto da economia e
dando origem a um novo auge.
Esta constatação de Van Duijn é confirmada por outros estudos e pela lógica
econômica que descrevemos acima. São os períodos de depressão e recuperação que mais
estimulam a introdução de mudanças tecnológicas, enquanto os períodos de prosperidade se
caracterizam pela difusão destas inovações e a introdução de um menor número de inovações, em
geral secundárias e terciárias.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Desta forma, cada nova onda tecnológica leva, de início, a uma desconcentração
mas finalmente a uma concentração tecnológica. Esta se expressa, porém, numa complexidade
crescente de elementos (partes e peças) que compõem os produtos e na interdependência crescente
dos setores e ramos de produção. Ela leva também a uma concentração econômica e empresarial
que, como foi mencionado, nem sempre se manifesta numa concentração das unidades de
produção, mas numa hierarquia e subordinação entre pequenas, médias e grandes empresas.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
administrados das empresas estatais, os subsídios e os efeitos das taxas de juros artificiais
passam a violar constantemente a lei do valor como instrumento do intercâmbio capitalista. A
concentração da produção, o monopólio e a intervenção estatal rompem o funcionamento normal
do mercado. Dessa forma, o Estado tem que intervir cada vez mais para regular o intercâmbio na
economia.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
Vemos, assim, que a análise dos períodos longos, com predominância das
depressões, consideradas a fase b dos ciclos longos de Kondratiev, exige um aparato analítico que
logre articular elementos micro e macroeconômicos. Ao mesmo tempo, na fase atual do
capitalismo monopolista de Estado, temos que considerar sempre a relação dos mecanismos
econômicos puros com a ação consciente dos homens através dos seus meios de ação sobre a
economia, que são cada vez mais sofisticados.
globais para os setores em que atuam, antecipando-se às tomadas de decisão estatais. Estas se
baseiam, na maioria dos casos, em dossiês e propostas de política e legislação emanadas
diretamente das empresas ou dos órgãos de classe do empresariado.
É assim que as políticas estatais passam a dirigir os fenômenos típicos das etapas
recessivas. É através da ação do Estado que se organiza a desativação de setores inteiros. O
Estado assume os custos da desativação do setor, entende-se com os sindicatos para reorientar a
mão-de-obra afetada e promove a transferência destas indústrias para outros países através dos
ajustes econômicos, das políticas cambiais e tecnológicas e das ajudas econômicas.
mais nas décadas de 80 e 90, não havendo uma reversão radical à vista, apesar do consenso sobre
a necessidade de sua eliminação ou diminuição). Junto ao crescimento da dívida pública, deu-se a
entrada do Estado na definição das taxas de juros nos Estados Unidos e na Europa, ao lado dos
países devedores do Terceiro Mundo. Na verdade, apesar do clima neoliberal que terminou
triunfando nos anos 80, aumentou-se a intervenção estatal nos mecanismos econômicos em áreas
antes consideradas livres do controle público. Tudo isso vinha somar-se ao crescimento da
intervenção pública nos anos da pós-guerra até a década de 60, sob a égide da formação do
Estado do bem-estar e do planejamento indicativo.
sob a forma da compra de títulos da dívida pública norte-americana. A partir de 1987, contudo,
foram abandonando esta política suicida e passaram a comprar ativos reais nos Estados Unidos,
gerando uma onda anti-japonesa naquele país. No conjunto, Japão e Alemanha mantiveram, a
duras penas, uma austeridade econômica no contexto de uma explosão financeira exportada
desde os Estados Unidos, para onde dirigiram os excedentes financeiros obtidos no comércio, ao
lado de algumas outras praças financeiras artificiais, como Londres e vários paraísos fiscais.
Como os anos 80 se caracterizaram também pela consolidação do tráfico de drogas, os seus
gigantescos resultados financeiros também convergiram para o sistema financeiro internacional,
que criou mecanismos de "lavagem" de dinheiro da droga.
A partir deste ponto, faz-se necessária uma incursão nas novas direções da
revolução científico-técnica, nas suas repercussões sobre a economia internacional e sobre a nova
divisão internacional do trabalho. O avanço dos estudos sobre a relação das novas tecnologias
com o ciclo longo e os períodos de ascenso, ou fase a dos ciclos longos de Kondratiev, têm sido
objeto de um grande avanço nos últimos vinte anos, que se concentrou nos trabalhos que já
citamos, além dos quais, gostaria de mencionar aqui o grupo que trabalhou comigo no 'Seminário
de Ciência e Tecnologia', bem como nos vários estudos que produzimos. Ainda na América
Latina, uma especial atenção deve ser dada ao estudo sobre 'As Novas Tecnologias e o Futuro da
América Latina', dirigido por Amílcar Herrera, do qual participei, com outros cientistas sociais
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
latino-americanos, nas discussões da sua orientação geral, e também na pesquisa junto com
Leonel Corona.
De tal forma que temos aí um conjunto de estudos que levam a uma visão
bastante consolidada sobre o papel das inovações no funcionamento da economia mundial, e
particularmente a sua articulação com as ondas longas. O aparelho conceitual que vem sendo
desenvolvido neste sentido consta de alguns elementos-chave que vou desenvolver em seguida,
para aplicar parte desse aparelho à análise histórica, relacionando a evolução da economia
mundial ao fenômeno da dependência econômica, particularmente o caso das novas economias
industriais. Com isto tentarei demonstrar até que ponto há uma confluência entre os esforços que
estavam na origem da problemática da teoria da dependência, da qual participamos, e os esforços
posteriores por uma teoria do sistema mundial e das ondas longas, que vão nos conduzindo a
conclusões comuns que devem ser objeto de uma articulação nesta oportunidade.
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
E selecionadas pelos atores sociais de acordo com interesses que são culturais e que estão
vinculados ao processo civilizatório no seu conjunto. Temos que concordar então com estes
autores quando afirmam que o progresso tecnológico não é uma questão de inovação e difusão,
mas sim de aceitação social. É claro que a ação das empresas e dos interesses econômicos pode
tentar deter a aceitação social de certos produtos e orientar a sociedade através dos instrumentos
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
da publicidade, mas a verdade é que, em última instância, serão os fatores sociais globais que
determinarão a tendência à adoção de tal ou tal tecnologia.
Este conjunto de instrumentais teóricos nos leva a repensar o papel das novas
tecnologias na sociedade contemporânea, onde as novas estratégias de desenvolvimento, baseadas
em estratégias sócio-econômicas e em uma visão cultural do espaço social. No período
contemporâneo o que assistimos é o aparecimento de novas tecnologias, que na fase final que
estamos vivendo, da fase b de Kondratiev, poderão ser absorvidas para um novo período de
crescimento econômico. Como já assinalamos, as características principais dessas novas
tecnologias são dadas pelo sistema produtivo, que se fundamenta cada vez mais na automação.
Esta automação é resultado da aplicação da informática e da eletrônica ao sistema produtivo
contemporâneo, que vai liberando este sistema da ação do trabalhador direto, que vai sendo
substituído pelos sistemas complexos de produção automatizados, onde a ajuda da robotização
tem representado também um papel cada vez mais decisivo. Como são os novos materiais que
vão sendo incorporados e permitindo uma organização da produção cada vez mais em termos de
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
uma produção mais voltada para os princípios da química do que propriamente mecânicos, o que
fortalece as possibilidades da automação ao criar modelos e produtos cada vez mais focados para
demandas específicas.
É assim também que, neste contexto das novas tecnologias, coloca-se o papel da
biotecnologia. Ela rompe os marcos de produção tradicionais, não só da agricultura, como da
indústria alimentícia e farmacêutica, produzindo mudanças significativas nas condições
biológicas da humanidade, podendo até ser aplicada no campo da criação de materiais novos. O
avanço da biotecnologia representa uma potencialidade que os países do Terceiro Mundo,
particularmente os países das zonas tropicais, poderiam seguramente explorar. O exemplo de
Cuba é muito significativo nesse sentido, onde uma política científica, uma orientação firme e
muito poucos recursos, além de um bloqueio internacional muito sério, vem permitindo
conquistas importantes e inovações significativas no plano dessas biotecnologias. Também o
Brasil apresenta na sua política do pró-álcool a demonstração das grandes potencialidades da
biomassa, que poderão se desenvolver muito com o avanço da biotecnologia, indicando assim que
nosso país pode dar saltos revolucionários para a configuração de um novo paradigma
tecnológico do mundo.
Neste plano, nos cabe assinalar que, ao lado do hardware promovido pela
microeletrônica, está sobretudo o software ligado às matemáticas, à teoria do sistema, à teoria do
caos, à matemática louca e novos campos teóricos ligados à inteligência artificial. Isto mostra que
o campo propriamente científico e a evolução do conhecimento científico em si mesmo devem
constituir os elementos-chave do novo paradigma tecnológico. Também aí podemos encontrar um
campo muito interessante para a superação do povos do Terceiro Mundo, pois os investimentos
em educação e em transformação educacional podem ser feitos por nações novas na estrutura
econômica mundial, que saibam aproveitar ao máximo as suas capacidades através de programas
educacionais ambiciosos, como fizeram os coreanos e os japoneses, se bem que não estiveram
nessa condição de subdesenvolvimento. Aliás, por isso mesmo estão diante de um dos pontos
mais dramáticos da condição dependente ou subdesenvolvida, porque uma política deste tipo
supõe uma elite política extremamente consciente, voltada para a distribuição da renda, para a
criação de uma sociedade e uma cultura novas, com conteúdo extremamente cooperativo,
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TEXTOS PARA DISCUSSÃO
coletivizante. E essa visão coletivizante deve, ao mesmo tempo, estar apoiada sobre o uso da
coletividade e a colocação da coletividade a serviço dos indivíduos. Desenvolvimento é, então,
cada vez mais, neste contexto, um fato cultural, social, político e só nessa proporção e nessa
medida um fato econômico.
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