Objetivo: A dengue é considerada uma grave doença infecciosa emergente. Casos
graves, com sinais de perda plasmática, foram mais comuns nos últimos anos. O derrame pleural é um desses sinais. Portanto, um maior entendimento de sua fisiopatologia, apresentação clínica e manejo, é necessário para profissionais de saúde que cuidam de crianças. O objetivo deste estudo foi o de revisar a literatura sobre derrame pleural em crianças com dengue. Fontes: Revisão não sistemática da literatura nas bases de dados MEDLINE e LILACS, usando os termos dengue, febre hemorrágica da dengue e derrame pleural como descritores e / ou como palavras do título ou resumo, em diferentes combinações. Foram selecionados artigos publicados nos últimos dez anos, de acordo com sua relevância para os objetivos do estudo. Síntese dos dados: Derrame pleural é mais comum em febre hemorrágica da dengue (FHD) do que no dengue. É um sinal de extravasamento de plasma e merece rigorosa observação. Na maioria dos doentes, é detectado logo após a defervescência, principalmente entre o terceiro e sétimo dias. Ultra-sonografia e radiografia do tórax em decúbito lateral direito são ferramentas úteis para o diagnóstico e o acompanhamento. O tamanho dos derrames correlaciona-se bem com gravidade. Drenagem torácica não é indicada. Não existe nenhum tratamento específico para o derrame pleural da dengue. O manejo cuidadoso dos sinais e sintomas clínicos e os cuidados de suporte adequados devem ser suficientes para a sua resolução. Conclusões: Compreender a fisiopatologia e o curso de derrame pleural na dengue pode contribuir para o manejo mais adequado de crianças com este problema, reduzindo o risco de mau prognóstico.
Unitermos: dengue; febre hemorrágica da dengue, derrame pleural
direito e comumente é bilateral, taquipnéia, retrações torácicas, macicez
principalmente em pacientes com à percussão do tórax, diminuição ou choque (Srikiatkhachorn, et al., 2007). abolição do frêmito tóraco-vocal e, à Outros mecanismos, como ausculta, diminuição ou abolição do hipoalbuminemia e disfunção murmúrio vesicular e da ressonância cardiocirculatória, podem contribuir vocal. Na dengue, no entanto, estas para o acúmulo de líquido pleural. manifestações mais clássicas são mais comuns nas formas mais graves da doença, principalmente na FHD/síndrome do choque da dengue (SCD) (Balasubramanian, et al., 2006).
detectados pelos métodos de imagem no (Ministério da Saúde, 2007). Vale
início do curso da doença em alguns ressaltar ainda que a dengue é uma casos, na maioria dos pacientes esta doença de notificação compulsória, detecção ocorreu após a defervescência, mesmo quando o caso é apenas conforme o já esperado. suspeito.
Como a dengue é muito MANIFESTAÇÕES RADIOLÓGICAS
dinâmica, todo paciente com derrame pleural deve ser rigorosamente A radiografia de tórax e a observado devido à possibilidade de ultrassonografia são exames da grande agravamento do quadro. utilidade na busca de derrame pleural.
A classificação das formas Alguns estudos em pacientes
8) Srikiatkhachorn A, KrautrachueA, 16) Gomber S, Ramachandran VG,
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Objective: Dengue is considered a serious emerging infectious disease. Severe
cases, with signs of plasma leakage, have been more common in recent years. Pleural effusion is one of these signs. So, an increased understanding of its pathophysiology, clinical presentation and management is needed for health professionals who care for children. The objective of this study was to review the literature about pleural effusion in children with dengue. Sources: A non-systematic review of literature in the MEDLINE and LILACS databases, using the terms dengue, dengue hemorrhagic fever and pleural effusion as descriptors and/or as words in the title or abstract in different combinations. It was selected articles published in the last ten years, according to their relevance to the study objectives. Summary of the findings: Pleural effusion is more common in dengue hemorrhagic fever (DHF) than in dengue fever. It is a sign of plasma leakage and deserves rigorous observation. In most patients, it is detected around the time of defervescence, mainly between the third and seventh days. Ultrasonography and chest roentgenogram in right lateral decubitus are useful tools for the diagnosis and follow- up. The size of the effusions correlates well with disease severity. Chest tube drainage is not indicated. No specific treatment for dengue´s pleural effusion exists. Careful management of clinical symptoms and appropriate supportive care should be enough for its resolution. Conclusions: Understanding the pathophysiology and course of pleural effusion in dengue can contribute to the most adequate management of children with this problem, reducing the risk for poor prognosis.